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Camila Lorenz,
Flávia Virginio e
Gabriel Correia Lima
NO
AINDA TEM
CLIMA PRA ISSO?
Aquecimento global, seus impactos
e a revolução dos artrópodes
FUTURO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-00-19779-2
21-60567 CDD-595.2
Índices para catálogo sistemático:
NO
AINDA TEM
CLIMA PRA ISSO?
Aquecimento global, seus impactos
e a revolução dos artrópodes
FUTURO
AUTORES
Amanda de Oliveira Luisa Maria Diele-Viegas
Ana Fontenelle Luiz Felipe Moretti Iniesta
André Luis Dias Arratia Marcely Silva
Bruno Zilberman Márcio Martins
Camila Lorenz Paulo André M. Goldoni
Carolina Almeida de Moura Rafael Sousa
Denise Maria Candido Rodrigo Salvador Bouzan
Eliane Campos de Oliveira Rubens Antônio Silva
Eloá Pires Barbosa Sandra Nagaki
Flávia Virginio Tamara Nunes de Lima-Camara
Fredy Galvis Tarcísio George
Gabriel Correia Lima Thiago Salomão
Gabrielle Ribeiro de Andrade Valeria Castilho Onofrio
Guilherme da Silva Lopes Vitor Moreira Lima
Heitor Fernandes Leme Vivian Petersen
Ivy Sá
Jessica Carolina Fernandes Moraes
Leonardo Yoshiaki Kamigauti
4|
ILUSTRADORES REVISÃO ORTOGRÁFICA
Anne Teixeira Dayane Fernandes
Ariel Guedes Farfan
Availdo Praxedes
Bruno Begha
Carine Araújo Cavalcante DIAGRAMAÇÃO
Filipe Menezes Júlia Parente
Gabriela Luiza
Heitor Fernandes Leme
Joana Dias Ho
João Garcia CAPA
Jonas Pedroso
Júlia Parente Júlia Parente
Kimberlly Caroline Brito da Silva
Lucas Andrade
Lucas Ferreira
Marcely Silva
Mariana Chernaki Leffer
Matheus Vaz Camargo
Paula Ambrosio
Samantha Marx de Castro
Tacylla Kaline Gomes de Oliveira
Vivian Petersen
|5
VIVER
Prefácio | 8
Apresentação | 10
Agradecimentos | 12
NO
1Por que é importante ouvir cientistas sobre este assunto? | 13
2Mudanças climáticas: o que são afinal? | 16
2.1 Como podemos tratar as incertezas quando o tema é o clima? | 22
2.2 Tá! Mas cadê as evidências científicas? | 25
2.3 Mudanças climáticas na era das fake news | 30
2.4 Viver no futuro: ainda tem clima pra isso? | 33
FUTURO
4Doenças vetorizadas por artrópodes e cenários futuros | 50
4.1 Mosquitos e seu potencial para grandes epidemias | 52
4.2 Percevejos também são perigosos? | 58
4.3 Os mosquitos-palha: pequenos insetos que transmitem as leishmanioses | 64
4.4 Carrapatos: devemos nos preocupar com eles? | 68
4.5 Pulgas e piolhos: só de pensar já dá coceira! | 72
SUMÁRIO
5Acidentes por contato e cenários futuros | 79
5.1 Escorpiões no bolso e no bueiro! | 81
5.2 Aranhas: elas podem ser nossas aliadas? | 86
5.3 Lagartas urticantes: o que te contam sobre elas pode ser uma mentira cabeluda | 93
5.4 Centopeias e piolhos-de-cobra: pernas pra que te quero! | 98
5.5 Abelhas: quando o néctar é bom elas voltam! | 104
5.6 Vespas e marimbondos: seria o fim da picada? | 113
5.7 Formigas: uns docinhos de insetos! | 119
5.8 Besouros: eita bichos durões! | 124
O
5.9 Percevejos: torce, retorce, procuro mas não vejo | 133
AINDA
por exemplo, do senso comum usado no nosso dia global é um dos principais desafios da Ciência e
a dia. Graças à Ciência pudemos atingir o atual grau dos cientistas, se não o principal. Isso em função
de desenvolvimento de nossa sociedade. Em todas dos interesses econômicos dos setores produtivos
as coisas que fazemos, por mínimas que sejam, há envolvidos, emissores das maiores quantidades de
ligações íntimas com a Ciência. A busca da verda- gases de efeito estufa. Também é desafiador pelas
de é um problema para aqueles que não querem suas consequências, possivelmente as mais nefas-
encará-la, mas, ao contrário, intencionam adaptar tas para os seres humanos.
o mundo aos seus interesses e convicções. Reflexo O livro “Viver no futuro: tem clima pra isso?”,
disso, o negacionismo científico visa desacreditar organizado pelas Doutoras Camila Lorenz, Flávia
a Ciência e prega a destruição de Universidades e Virginio e pelo estudante de Ciências Moleculares
Institutos de pesquisa. Gabriel Correia Lima, enfrenta com sucesso esse
A Ciência não produz verdades absolutas e desafio. Ao dirigirem seu livro ao público não téc-
imutáveis. Ela nos fornece apenas a melhor explica- nico e, especialmente, para os jovens do ensino
ção possível em determinado momento histórico. médio, seus autores e autoras vão direto ao ponto:
Novas observações podem tanto confirmar como é o mundo dos jovens que está em jogo. É o mun-
descartar essas verdades. Para pessoas que não são do deles que pode se tornar distópico ou mesmo
da área, as diferentes explicações para determina- inviável para a sobrevivência da espécie humana
do fenômeno podem parecer falta de objetividade devido às ações que os antecederam e que ocor-
da atividade científica. Diante disso, o papel dos rem até hoje. Em meio ao público a que se dirige
cientistas não termina, infelizmente ou felizmente, o livro estão os mais interessados em preservar o
na produção de conhecimentos. Atualmente, tam- futuro e também os menos envolvidos em interes-
bém é sua tarefa realizar a divulgação científica que ses econômicos contrários às políticas de mitiga-
é traduzir o conhecimento científico para os não ção do aquecimento global. Se nada mudar são os
cientistas. Entretanto, essa não é uma missão fácil jovens que poderão sentir seus efeitos drásticos e
como poderia nos parecer à primeira vista. terão que lidar diretamente com isso.
A divulgação científica pode encontrar bar- Os autores reuniram um grande time de
reiras em assuntos que ameacem interesses eco- pesquisadores e pesquisadoras reconhecidos em
8|
suas áreas de atuação para abordar as mudan- Destacam os possíveis prejuízos relacionados à ex-
ças climáticas e sua relação com os artrópodes tinção de espécies responsáveis por importantes
A TEM
e as doenças. Obtiveram, como resultado, um li- serviços ecológicos, como as abelhas.
vro muito bem estruturado, profundo e rigoroso Por fim, como atores e atrizes da sociedade e
do ponto de vista científico. Também é didático e como seres políticos que são, discutem o que po-
acessível aos mais diversos públicos e, em espe- demos fazer para mudar/evitar a calamidade que
cial, aos jovens. Chama a atenção que metade do se anuncia. Nos relembram que também fazemos
time é composto por pesquisadoras, apontando parte do reino animal e que as mudanças climáti-
para o papel cada vez mais importante das mu- cas podem ser devastadoras para nossa espécie.
lheres na Ciência. O livro nos deixa um importante ponto para refle-
Após apresentarem questões relacionadas xão: o sistema econômico atual, que tem bases no
às mudanças climáticas, os autores e as autoras individualismo, na competição e na acumulação é,
descrevem, de forma didática e utilizando conhe- do ponto de vista ambiental, desastroso e precisa
cimentos científicos atualizados, os efeitos atuais ser repensado.
e possíveis efeitos futuros do aquecimento global Boa leitura!
nos artrópodes. Relatam sobre aqueles insetos
que já são caracterizados como importantes pro- Prof. Dr. Francisco Chiaravalloti-Neto
blemas de saúde pública e também sobre os que Pesquisador Científico da Faculdade de
têm potencial para causarem prejuízos no futuro. Saúde Pública da Universidade de São Paulo
Destacam que o aumento das temperaturas au- Departamento de Epidemiologia
menta a taxa metabólica dos insetos fazendo com
que seus ciclos de desenvolvimento se tornem
mais curtos.
Descrevem as doenças veiculadas atualmente
por esses artrópodes e que problemas futuros po-
derão ocorrer a partir do aumento da densidade
desses insetos. Tratam dos acidentes que podem
ser causados pelos artrópodes e como isso pode-
rá se intensificar com o aumento da temperatura.
|9
CLIMA
APRESENTAÇÃO
DISCUTIDA INTENSAMENTE NAS últimas déca- Essas ações têm interferido sobre o ambiente em
das pela comunidade científica, a mudança do cli- um ritmo muito acelerado.
ma é ainda um dos temas globais mais carentes Estudos indicam, por exemplo, que enquanto
de informação por parte da população. Durante a temperatura média da superfície subiu aproxi-
os anos nós cientistas temos enfrentado o desa- madamente 5 °C em 10 mil anos, pode-se elevar
fio de divulgar essas informações e vimos neste os mesmos 5 °C em apenas 200 anos caso o rit-
livro a oportunidade ideal. Os textos que apre- mo de aquecimento global das últimas décadas
sentamos nesta coletânea foram elaborados por seja mantido. Infelizmente, alguns limites já estão
pesquisadores das mais diversas áreas do conhe- sendo atingidos. Por exemplo, a extensão do gelo
cimento, tendo como fio condutor que une todos flutuante no Oceano Ártico diminui a cada verão
eles a busca incessante que nos move, seja como e em poucas décadas não haverá mais gelo sobre
ISS
pesquisadores ou cidadãos, pela compreensão aquele oceano, alterando radicalmente a vida ma-
dos fenômenos relacionados às mudanças cli- rinha da região.
máticas. Esperamos que a reunião dessas infor-
mações em um livro como este possa contribuir A cada hora a humanidade injeta na
com a popularização da ciência, facilitar o acesso
atmosfera milhões de toneladas de dióxido de
e instigar a construção de um pensamento crí-
tico do leitor, especialmente para o público não carbono (CO2), metano e nitrogênio e destrói
técnico e alunos do ensino médio, público-alvo áreas consideráveis de florestas tropicais.
desta publicação.
No planeta Terra teríamos tudo para sermos O caminho do progresso econômico nos
autossustentáveis e mantermos um ciclo sem fim. levou a uma crise ambiental sem precedentes,
O problema é que a conta não fecha há muito gigantesca e há claros limites da capacidade de
tempo: a cada hora a humanidade injeta na at- adaptação do planeta à magnitude das mudanças
mosfera milhões de toneladas de dióxido de car- ambientais previstas. A maioria dos efeitos destas
bono (CO2), metano e nitrogênio e destrói áreas mudanças pode até ser a longo prazo e alguns dos
consideráveis de florestas tropicais. No mesmo adultos de hoje talvez não se importem com um
intervalo nascem milhares de pessoas no mundo futuro no qual eles não viverão, mas os jovens já
e diversas espécies da fauna e flora são extintas. estão vivendo e ainda viverão consequências mui-
10 |
A PRA
to ruins das mudanças climáticas como aumento
na temperatura, incidência e intensidade de chu-
vas, derretimento das calotas polares, aumento do
nível do mar e acidificação dos oceanos. Está em
suas mãos a oportunidade de minimizar ao máxi-
mo esses efeitos, já que não é possível voltar no
tempo e recomeçar do zero.
Este livro é fruto da colaboração entre mais
de 30 autores pesquisadores que estudam mudan-
ças climáticas, artrópodes ou doenças, ou todas
essas coisas juntas. Além disso, ainda contamos
SO?
com um time de mais de 20 ilustradores que gen-
tilmente ajudaram a embelezar esta obra. Nós e
todos aqueles que contribuíram para a confecção
deste livro desejamos a você, leitor, uma instigan-
te caminhada por um dos temas mais debatidos
internacionalmente nos últimos anos. Nosso desa-
fio é desmistificar esse assunto, disseminar infor-
mações, estimular o debate e aguçar a percepção
dos futuros tomadores de decisão para buscarem
soluções para o nosso planeta.
Os Autores
| 11
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a todos aqueles que nos deram su-
porte para que este livro se materializasse, espe-
cialmente aos autores e ilustradores. Um agradeci-
mento especial à Júlia Parente, que foi solícita em
realizar também a diagramação desta obra.
12 |
1 POR QUE É IMPORTANTE OUVIR
CIENTISTAS SOBRE ESTE ASSUNTO?
Flávia Virginio - @flavia.virginio
Você já deve ter reparado que todo filme de de- nham acesso à informação e poderiam, então, obter
sastre começa com um cientista sendo ignorado. o conhecimento, eram eles os grandes detentores
O mais assustador é que isso vem acontecendo na do saber. Isso se perpetuou até o mundo moderno,
vida real, o que é muito perigoso! E mesmo que no qual, por mais que a informação estivesse muito
seguidamente isso aconteça e o desastre - que mais acessível - o que fazia com que mais pessoas
poderia ser evitado, ou pelo menos ter seu efei- pudessem adquirir conhecimento - o egocentrismo
to amenizado - ocorra, parece que a humanidade imperou na Academia1, separando ainda mais os
não aprende. cientistas da população. Essa separação entre pro-
Mas qual é a razão disso? Como que as pesso- dução de informação e sociedade rompeu um elo
as ainda não se deram conta? Seriam os cientistas, de confiança que, ao longo dos anos, a depender
então, um bando de sem noção que só quer fazer dos interesses econômicos e políticos do país, ora
alarde? Na verdade, não! Se você leu o prefácio - ficava mais, ora menos fortalecido entre as partes.
se não leu, volta lá no comecinho e lê, feito gentil- Vale ressaltar que a ciência brasileira é feita com
mente pelo Prof. Dr. Francisco Chiaravalloti-Neto, dinheiro público e que, de forma óbvia, devemos
vale a pena! - perceberá que os cientistas sabem um retorno à sociedade, ou seja, é para resolver
o que sabem, falam o que falam, porque em sua problemas do povo que trabalhamos diariamente.
maioria são pessoas éticas que levam o seu traba- Acontece que com o enfraquecimento dessa rela-
lho muito a sério. São profissionais que se baseiam ção de confiabilidade surgiram movimentos cha-
em fatos e não em achismos/opinião. Trabalhamos mados de negacionistas que têm se fortalecido nos
duro para obter os resultados que dão embasa- últimos anos.
mento para afirmar as coisas que afirmamos. A gente sabe que pessoas mal-intencionadas
A questão é que durante muitos anos, antes
mesmo de os cientistas serem chamados por esse 1 Academia: Termo utilizado para se referir ao ambiente univer-
sitário, onde geralmente são desenvolvidas as atividades científi-
nome, em uma época em que poucas pessoas ti- cas e intelectuais.
Crédito: PIXABAY
O clima na Terra está sempre mudando. Numa Na verdade, o que vivenciamos hoje é o tempo.
mesma região podemos ver como as pessoas e os Ele é o que está acontecendo agora: a chuva, o
lugares são retratados de formas diferentes ao lon- frio, o calor. Já o clima é uma média das condi-
go da história. Sempre existiram períodos natural- ções do tempo em um determinado lugar, ou seja,
mente mais quentes e mais frios, e essa variação se chove quase todo dia, e muito, em um certo
foi responsável por moldar as sociedades ao longo
dos séculos. Por serem resultado de fenômenos
incontroláveis e naturais, essas alterações climáti-
cas levavam até centenas de milhões de anos para
acontecer, facilitando a adaptação, bem lenta, de
todos os seres vivos. Porém, nas últimas décadas, o
clima da Terra tem mudado de forma muito rápida.
Essa variação não é considerada natural, mas sim
resultado da ação dos seres humanos no planeta.
Antes de conhecer quais são as ações que cau-
sam essa aceleração das mudanças do clima da
Terra é necessário entender alguns conceitos. O
Crédito: PIXABAY
20 | Mudanças climáticas: o que são afinal?
As plantações e criações de animais aumenta- criação de animais), apesar de terem contribuído
ram junto com o crescimento da população. Elas para o desenvolvimento econômico e qualidade
também geram gases de efeito estufa por dois de vida de muitas pessoas pelo mundo, causa-
principais motivos. O primeiro é que, antes de ram um rápido aumento na temperatura média
plantar ou criar animais, os latifundiários (gran- no clima da Terra (veja o box). Isso caracterizou
des empresários da agricultura) queimam a mata o que chamamos de aquecimento global. Esse
local para abrir espaço para seu negócio. O segun- fenômeno foi o primeiro que os cientistas iden-
do trata-se do metano liberado pelos processos tificaram. Entretanto, conforme os anos foram
digestivos de animais, principalmente do gado. passando, eles foram percebendo que o aque-
Todos esses fatores (fábricas, aumento do cimento global faz parte de um fenômeno ain-
uso de eletricidade e transportes, plantações e da mais amplo, que são as mudanças climáticas
2.2 TÁ! MAS CADÊ AS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS? aí gravadas em rochas ou depositadas no fundo
Luisa Maria Diele-Viegas - @dieleviegaslm dos oceanos. Os vestígios são, basicamente, mo-
léculas de elementos químicos, como o carbono
Desde a origem da Terra, há aproximadamente e o oxigênio, guardadas há milhares ou milhões
4,6 bilhões de anos atrás, o clima do planeta já va- de anos e que carregam consigo um pouco de in-
riou muito, passando por períodos extremos de formação sobre o ambiente da época. Muita coi-
frio e de calor. Isso acompanhou a variação natu- sa aconteceu na Terra desde a sua origem e, por-
ral de gases na atmosfera, com os períodos mais tanto, muitos desses rastros foram alterados ou
quentes sempre relacionados ao aumento na con- perdidos, tornando a tarefa de encontrar pistas
centração dos gases e consequente efeito estufa. muito antigas bastante árdua. Por isso, quanto
Mas como é possível saber isso, uma vez que o ser mais recente o período que se quer reconstruir,
humano não existia nessa época? mais fácil é, pois mais sinais estão disponíveis.
Para reconstruir o clima do passado os cien- Por exemplo, muitas pistas foram encontradas
tistas utilizam algumas pistas deixadas pelos or- para os últimos 800 mil anos, o que permitiu
ganismos e fenômenos físicos da época. Embora uma reconstrução precisa da quantidade de CO₂
bastante difíceis de se encontrar, elas estão por dissolvido na atmosfera e da temperatura média
mento de períodos de seca. Basicamente o aque- da Terra, que começará a apresentar mudanças em
cimento do planeta irá intensificar os eventos de escala global, como redução significativa de pesca-
chuva/seca nas regiões em que eles já ocorrem, do e aumento da frequência de ondas de calor. Re-
criando temporadas cada vez mais extremas. latórios anteriores consideravam esse valor como
Dados mais recentes apontam que o aqueci- uma meta otimista para o fim do século (imagina!),
mento do planeta já atingiu um aumento de mais de enquanto atualmente temos este cenário como
1 °C em relação ao período pré-industrial, a um rit- possível para 2040. Sendo assim, a previsão para
mo de 0,2 °C por década. Esta variação, que talvez 2100 é de mudanças ainda mais graves para o clima.
pareça pequena para muita gente, já foi suficiente As mudanças climáticas já são consideradas
para extinguir algumas espécies de animais ao redor pela ciência como crise climática devido à proxi-
do mundo, e também para causar um aumento na midade do ponto de virada de 1,5 °C. Essa crise
ocorrência de eventos extremos como tufões, tor- trará uma série de impactos em diversos setores,
nados, tempestades tropicais e períodos de seca. como nos recursos hídricos, na geração e distri-
Seguindo esse ritmo, por volta de 2040, o aqueci- buição de energia, na agricultura, na ocorrência
mento global deve atingir a marca de 1,5 °C. Essa de epidemias e na perda de biodiversidade.
marca representa um ponto de virada para o clima
Crédito: PIXABAY
| 41
3.1 E QUEM SÃO OS ARTRÓPODES? de Arthropoda (com origem no grego arthros =
Sandra Nagaki - @ssnagaki articulação, podos = pés), um filo usado para agru-
Ivy Sá - @ivylsa par um grande número de organismos com certas
características em comum como, por exemplo, o
Como já vimos no capítulo anterior, os artró- corpo segmentado, órgãos sensoriais e sistema
podes podem ser encontrados em diversos luga- nervoso desenvolvidos e, talvez a principal delas, a
res e habitats do planeta, em ambientes aquáticos presença de exoesqueleto quitinoso2 que lhes en-
ou terrestres, em altas e baixas temperaturas, em volve o corpo.
cavernas escuras e em florestas de diversas par- Estamos falando de aranhas, carrapatos, es-
tes do globo. Mas, quem são esses artrópodes de corpiões e ácaros (aracnídeos), mosquitos, abe-
que tanto falamos? O nome artrópode é derivado lhas, besouros e cupins (insetos), caranguejos,
siris, tatuzinhos de jardim - sim, é verdade! -, la-
gostas e camarões (crustáceos), centopeias (qui-
lópodes), piolhos-de-cobra (diplópodes), animais
Como já foi dito, a grande diversidade adap- Crédito: Juan Ramón Martos - FLICKR
tativa dos artrópodes lhes permitiu serem en-
contrados em quase todos os tipos de habitats,
aquáticos ou terrestres. Eles são de imensa im-
portância para a dinâmica da ecologia em todos
os ambientes. Os artrópodes participam da ca-
deia alimentar de inúmeros animais. Também
atuam como polinizadores, sendo de suma im-
portância para a diversidade de plantas. Além
disso, apresentam importância econômica nas
mais diversas áreas, pois servem, direta ou indi-
retamente, para o consumo humano. Exemplo Bicho-da-seda
dessa utilização na área alimentícia são os crus- Crédito: PIXABAY
Crédito: Adaptado de
World Health Organization
(WHO).
aegypti estará presente em cerca de 159 países, máticas poderão afetar a transmissão da malária,
sendo reportado pela primeira vez em pelo me- tanto por influenciarem um aumento ou redução
nos três deles. Para Ae. albopictus é estimada am- dos meses favoráveis para o ciclo da doença em
pla expansão pela Europa, atingindo alguns países países endêmicos, quanto por fazer a distribuição
como França e Alemanha. Também é previsto que de ocorrência desta doença aumentar em alguns
seja registrada nos próximos anos a presença des- locais ou diminuir em outros por todo o mundo.
sa espécie nas áreas ao norte dos Estados Unidos, Adicionalmente, as mudanças climáticas também
bem como em regiões montanhosas da América poderão favorecer um aumento do risco de sur-
do Sul e África Oriental. Assim, ainda segundo o tos em áreas onde a malária já foi erradicada,
referido estudo, até 2080 cerca de 197 países po- mas que ainda contam com a presença de veto-
dem registrar a presença de Ae. albopictus sendo res competentes, como ocorre na Europa e nos
que, destes, aproximadamente 20 relatarão sua Estados Unidos.
presença pela primeira vez. Os estudos mais recentes, como mostrado,
Modelos relacionados à malária indicam para apontam para um consenso de que as mudanças
os próximos anos um aumento na transmissão climáticas estão aumentando os riscos de infec-
dessa doença em áreas como África Oriental, ção nas populações que habitam áreas favorá-
América Central e sul do Brasil. As mudanças cli- veis para a transmissão desses patógenos. Além
Os Cimicidae, grupo no qual se insere o per- Cimex lectularius é uma espécie de percevejo
cevejo de cama, sugam sangue e, devido a esse de cama conhecida por viver em residências hu-
Os carrapatos são artrópodes ectoparasitas, dendo apenas para os mosquitos. Devido aos seus
ou seja, dependem de um hospedeiro vertebrado hábitos alimentares, os carrapatos podem causar
para concluir seu ciclo de vida, mas ao contrário irritação, alergia, paralisia e outras condições tóxi-
dos endoparasitas que se desenvolvem no interior cas graves nos seus hospedeiros.
do corpo, eles vivem na superfície externa do hos- Estima-se que os carrapatos surgiram há mi-
pedeiro se alimentando de seu sangue. São trans- lhões de anos atrás, durante a era Paleozóica,
missores de relevantes agentes patogênicos que como parasitas dos animais ancestrais dos verte-
podem causar doenças em animais e no ser hu- brados que conhecemos hoje. Podem ser encon-
mano, sendo considerado o grupo mais importan- trados em praticamente todo o mundo, prova-
te dentre os vetores de patógenos para animais e velmente devido à migração de seus hospedeiros
o segundo maior transmissor para o homem, per- entre os diferentes continentes.
Crédito: PIXABAY
Doenças vetorizadas por artrópodes e cenários futuros | 71
proteção coletiva, estratégias para reduzir popu- 4.5 PULGAS E PIOLHOS:
lações de carrapatos somente por meio de aplica- SÓ DE PENSAR JÁ DÁ COCEIRA!
ção de produtos químicos ou de seu controle no Eliane Campos de Oliveira - @el1_0liveira
ambiente têm se mostrado eficazes apenas quan- Gabrielle Ribeiro de Andrade - @gabi_rib_andrade
do utilizadas em pequena escala. A utilização de André Luis Dias Arratia - @andre.arratia
diferentes estratégias de prevenção e controle de
maneira integrada tem se mostrado mais eficaz Phthiraptera e Siphonaptera, popularmente
na redução da incidência das doenças transmiti- conhecidos, respectivamente, como piolhos e
das por estes vetores. No entanto, quando fala- pulgas, são insetos ectoparasitas de aves e mamí-
mos de proteção individual, limitar a exposição feros, vivem geralmente na parte externa do cor-
dos animais e do homem aos carrapatos, ainda é po de seus hospedeiros e dependem deles para
o método mais eficiente de prevenção. a conclusão de seu ciclo de vida ou parte dele.
Os Phthiraptera são representados por quase Em relação ao ciclo de vida, piolhos são insetos
5.000 espécies em todo o mundo. Eles têm hospe- hemimetábolos: após o ovo (chamados de lênde-
deiros altamente específicos e são ectoparasitos as) possuem três fases de ninfa e em seguida o
obrigatórios de aves (cerca de 4.000 espécies de estágio adulto. Mesmo existindo variação entre as
piolhos) e mamíferos (cerca de 800 espécies de espécies, o estágio do ovo, em geral, dura de qua-
piolhos), inclusive marinhos. Esses insetos são or- tro a 15 dias, cada ínstar ninfal dura entre três e
ganizados em dois grupos: os piolhos mastigado- oito dias, e a fase adulta dura em torno de 35 dias.
res, anteriormente denominados Mallophaga, in- Medem entre 0,5 mm e 8,0 mm de comprimento,
cluindo as subordens Amblycera, Rhyncophthirina a depender do estágio em que se encontram. A
VOCÊ SABIA?
8 Fatores abióticos: todas as influências que os seres vivos pos- Pelo fato de cada espécie ter sua faixa “favo-
sam receber em um ecossistema, derivadas de aspectos físicos, rita” de fatores abióticos, ou seja, “preferências”
químicos ou físico-químicos do meio ambiente, tais como a luz e
a radiação solar, a temperatura, o vento, a água, a composição do
por temperatura, umidade, fotoperíodo ideais
solo, a pressão e outros. para sua sobrevivência, alterações na temperatu-
9 Pecilotérmico: animal cuja temperatura varia de acordo com ra e na quantidade de CO₂, por exemplo, influen-
a do meio ambiente. ciam diretamente na sua existência, podendo cau-
10 Interações intra e interespecíficas: relações tanto entre os
indivíduos da mesma espécie (intraespecífica) como entre indiví-
sar até mesmo extinções. Estudos indicam que a
duos de espécies diferentes (interespecíficas). “faixa ótima” de temperatura para a maioria dos
2 Pentes: estrutura corporal localizada na posição ventral (como Mesobuthus martensii se alimentando.
se fosse a barriga) do escorpião, com a qual ele consegue sentir as
alterações do meio ambiente. Créditos: FLICKR
Nephilingis
cruentata
conhecida
como aranha
de telhado ou
Maria Bola.
Crédito: Paulo
A. M. Goldoni.
Crédito: PIXABAY
Borboleta e mariposa
Crédito: Peter Miller e Daniel Spiess - FLICKR
VOCÊ SABIA?
Se os milipedes são referenciados como possuindo Ambas as classes formam o grupo popularmente
mil pernas, os centípedes (centopeias, lacraias e conhecido como os micro-miriápodes, isto
quilópodes) são os representantes de cem pernas. devido não apenas ao pequeno tamanho
De fato, suas espécies apresentam variação entre corpóreo, mas também pela diversidade bem
15 a 191 pares de pernas. São animais tipicamente menor em relação aos milipedes e as centopeias.
predadores, possuindo como característica o Os sínfilos apresentam 160 espécies descritas.
primeiro par de pernas modificado em forcípulas, Os paurópodes, por sua vez, possuem cerca
estrutura semelhante a uma garra, com associação de 500 espécies. Ambos os grupos habitam
de glândulas de veneno. Desta forma, todos os majoritariamente solos úmidos e folhiços.
quilópodes são considerados animais peçonhentos.
O último par de pernas destes animais é
usualmente estendido para trás e não utilizado para
a locomoção. Aproximadamente 3.000 espécies
compõem o grupo.
Crédito: PIXABAY
Crédito: PIXABAY
VOCÊ SABIA?
Rainha de Tetragonisca angustula (abelha Jataí)
Crédito: Guilherme Da Silva Lopes Abelhas africanizadas correspondem a mais
de 90% do apiário brasileiro.
Ao se deparar com um enxame deve-se man- Resultado do cruzamento entre Apis mellifera
ter a calma e afastar-se lentamente, sem movi- mellifera, Apis mellifera linguistica, Apis mellifera
mentos bruscos. As Apis mellifera possuem há- caucasica e Apis mellifera carnica (europeias) e
Apis mellifera adansonii (africana). As abelhas
bito de enxameamento, ou seja, periodicamente
europeias foram trazidas a diversas regiões do
muitas abelhas (podendo chegar a 20 mil indi- Brasil com diferentes motivos e em variados
víduos) saem de suas colônias (colmeias) em períodos. As abelhas africanas são mais
busca de um novo lar. Isso pode acontecer por agressivas, porém apresentam maior resistência
diversos motivos, tais como: ataque de outros e produtividade. Elas foram trazidas para
animais como formigas, mudança brusca de melhorar a produção de mel, cera e própolis no
Brasil. No entanto, o cruzamento acidental deu
temperatura, falta de espaço, envelhecimento
origem à abelha híbrida africanizada, altamente
da colônia, oferta abundante de alimento dispo- produtiva e equivalentemente agressiva, a qual
nível etc. Durante o enxameamento várias castas se espalhou rapidamente por todo território
saem da colônia, inclusive a rainha, o que inten- sul-americano e tem caminhado ao centro-
sifica a agressividade das demais castas que de- norte da América.
vem proteger sua rainha.
Crédito: PIXABAY
Vespas e marimbondos, assim como as abe- Dentre essa enorme variedade de vespas
lhas, pertencem ao grupo dos himenópteros: in- e marimbondos, mais de 90% são solitárias. A
setos que apresentam asas membranosas. Essa grande maioria atua como parasitoides, princi-
denominação deriva do grego, no qual hymen sig- palmente de lagartas, e são muito úteis nas la-
nifica membrana e ptera significa asa. Dentre eles vouras por realizarem o controle biológico de
há a família Vespidae que corresponde às vespas e pragas agrícolas. Menos de 10% são chamadas
marimbondos, com um total de 5.000 espécies no de vespas sociais, com diferentes níveis de eus-
mundo. No Brasil, até o presente momento foram socialidade12: quanto mais eussocial, mais desen-
catalogadas 1.664 espécies. A projeção é que exis- volvido será seu comportamento, tornando a
tam muito mais espécies, mas fatores como o des- colônia mais forte frente aos ataques de outras
matamento acelerado e uso abusivo de pesticidas espécies e de predadores.
em áreas próximas à mata nativa contribuem para O ciclo de desenvolvimento das vespas e ma-
que elas não sejam encontradas, além de fazerem rimbondos é classificado como completo ou holo-
com que o número de indivíduos das espécies que metábolo. Após a cópula o desenvolvimento total
já são conhecidas diminua a cada dia. A velocidade
12 Eussocialidade: é o mais alto grau de organização social dos
da destruição e modificação do ambiente infeliz- animais presente nas sociedades mais complexas. Como exemplo
mente é maior do que o da pesquisa científica. podem ser citados as formigas, abelhas, vespas e cupins.
Algumas espécies que são frequentemente en- Principais formigas de importância médica: gêneros
contradas em ambientes urbanos e podem oca- Pachycondyla, Odontomachus, Ectatomma, Solenopsis,
sionar acidentes pela ferroada são do grupo das Wasmannia (Myrmicinae) e Formiga-de-correição
Poneromorfas, dos gêneros Pachycondyla, Odon- (Dorylus sp.)
tomachus, Ectatomma e a espécie Paranoponera Crédito: FLICKR e Wikipedia
clavata; Solenopsis e Wasmannia (Myrmicinae); e
Formigas-de-correição, pertencentes à subfamília Devido ao seu tamanho diminuto, poucos
Dorylinae, representadas pelos gêneros Eciton, consideram que as formigas podem transportar
Labidus e Neivamyrmex. Outros acidentes que diferentes micro-organismos em suas pernas ou
podem ocorrer são os causados pelo uso de suas provocar problemas em ambiente hospitalar e na
mandíbulas (“mordidas”), os quais podem ser indústria alimentícia, mas isso é muito mais co-
provocados pelas saúvas e algumas espécies de mum do que as pessoas podem imaginar. Na In-
Camponotus spp. conhecidas como formigas-car- glaterra, na década de 1970, foram realizados os
pinteiras. Estas são as únicas informações que te- primeiros estudos para verificar se as formigas
mos, pois ainda existem poucos dados confiáveis agiam como vetores mecânicos de bactérias em
Crédito: PIXABAY
Doenças vetorizadas por artrópodes e cenários futuros | 125
Crédito: Alex Wild - Assorted Coleoptera in the
University of Texas Insect Collection
VOCÊ SABIA?
Crédito: PIXABAY
130 | Doenças vetorizadas por artrópodes e cenários futuros
- Como os potós são atraídos pela luz, desligue escaravelhos adultos (besouros da família Sca-
as luzes florescentes ou amarre uma rede de su- rabaeidae) de algumas espécies infestam tempo-
porte embaixo da luz, para que os insetos não rariamente o trato gastrointestinal e urinário dos
caiam na cama. seres humanos, e em casos mais severos, o nariz
e os olhos, causando irritação severa, perda de
Outros tipos de acidentes podem ser registra- apetite, vômito, diarreia, câimbras no abdômen
dos por conta das larvas de Dermestidae, as quais e febre contínua.
possuem cerdas em forma de lanças destacáveis Outro fato importante mencionar é sobre
que causam alergias respiratórias ao serem inala- os besouros rola-bostas que são coprófagos17 e
das, dermatites severas ao serem expostas à pele possuem um olfato extraordinário, sendo capa-
e inflamação do sistema digestivo ao serem ingeri- zes de detectar odores de excrementos a gran-
das, ocasionando náusea, febre, diarreia, proctite des distâncias, podendo, ocasionalmente, aden-
e coceira perianal. Ademais, a exposição e inala- trar pelo ânus e invadir o intestino de pessoas
ção frequente dessas cerdas, mesmo na forma de e de outros animais. Isso chama a atenção para
poeira, podem ocasionar rinoconjuntivite e asma. a importância de desenvolvimento de políticas
públicas de saneamento básico nesses países em
desenvolvimento, visando, além de outros obje-
tivos, o imprescindível controle e prevenção de
doenças desse tipo.
Fatores climáticos, há bastante tempo, são
considerados importantes para a dispersão de in-
setos. Em zonas temperadas como o Brasil, meses
de clima quente desencadeiam atividades fisioló-
gicas em insetos e, em condições favoráveis de
Larvas de Dermestidae disponibilidade de alimento, aceleram a taxa de
Crédito: Josh More - FLICKR reprodução aumentando o número populacional.
Portanto, há verdade na afirmação “o inverno é o
Além disso, em países em desenvolvimento, melhor inseticida”.
locais com rede de esgoto inexistente, sanea- Entretanto, por mais que certas condições
mento básico precário, acesso escasso à água climáticas favoreçam o crescimento populacio-
potável e condições de higiene inadequadas, nal dos potós e de outros besouros que podem
casos como “escarabíase” ou cantaríase podem
ocorrer. Essa condição pode acontecer quando 17 Coprófagos: Animais que se alimentam de fezes.
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132 | Doenças vetorizadas por artrópodes e cenários futuros
5.9 PERCEVEJOS: TORCE, RETORCE, podem sequestrar algumas substâncias dos seus
PROCURO MAS NÃO VEJO próprios alimentos e também precisam se defen-
Flávia Virginio - @flavia.virginio der contra seus predadores. Apesar disso, estes
insetos foram, em geral, relacionados a algum
acidente por envenenamento e/ou reações alér-
gicas apenas em casos raros. Decidimos mencio-
ná-los aqui porque consideramos que essa rari-
dade nas notificações e/ou registros dos casos
possa se dar pelo desconhecimento das pessoas
Crédito: PIXABAY
136 | Doenças vetorizadas por artrópodes e cenários futuros
com estas matérias-primas podem sofrer a con- taram ao convívio próximo ao humano, capazes de
taminação durante os processos de fabricação e concluir seu ciclo de vida em ambiente urbano).
envase do produto, durante o armazenamento nos Estes insetos se encontram em ambiente urbano
centros de distribuição como hipermercados, ven- graças ao impacto ambiental gerado através da de-
das e mercearias, e também no consumidor final, gradação de seus ambientes naturais e urbanização
como restaurantes, bares e mesmo nas residências. de áreas pelos humanos ao longo das décadas, e o
Dentre as pragas que infestam os produtos es- seu estudo desperta interesse para a saúde pública.
tocados e grãos, podemos destacar as ordens Cole- Aí você pode estar se perguntando: mas qual o
optera (besouros popularmente conhecidos como problema de algumas espécies de insetos estarem
gorgulhos e carunchos dos gêneros Tribolium, Si- adaptadas ao convívio humano? Bom, com a pre-
tophilus, Lasioderma, Rhizopertha e Acanthosceli- sença destas espécies compartilhando o espaço
des) e Lepidoptera (borboletas e mariposas popu- urbano, aumentam-se as chances destes insetos
larmente conhecidas como traça de alimentos). Vale transmitirem direta ou indiretamente micro-or-
ressaltar que geralmente nos alimentos, sobretudo ganismos patogênicos aos humanos e aos animais
nos farináceos infestados, é possível observar a pre- domésticos. Os insetos que transmitem patóge-
sença de fios que se assemelham a “teias de aranha” nos de forma indireta são chamados de vetores
e que na verdade são fios de seda produzidos, prin- mecânicos, potencialmente podem carregar os
cipalmente, pela presença de larvas de lepidópteros agentes causadores de doenças em áreas de con-
dos gêneros Ephestia, Plodia e Corcyra. tato do seu corpo com superfícies contaminadas
(como acontece com baratas, moscas e formigas).
Já os insetos de transmissão direta são chamados
Entomologia forense urbana de vetores biológicos, sendo adaptados a hospe-
dar e transmitir micro-organismos patogênicos
(como acontecem com algumas espécies de mos-
quitos capazes de transmitir doenças causadas
por vírus, bactérias e parasitas).
Há também insetos que podem não causar da-
nos à saúde humana, mas causam danos em bens
Diferentes espécies de cupins (Blattodea) materiais, como em construções civis, acervos
Crédito: Marcely Silva bibliográficos e paisagísticos... Mas como assim?
Insetos derrubando casas, acabando com biblio-
É a área da entomologia responsável pelo estu- tecas e destruindo paisagens? Calma lá! Quando
do dos insetos sinantrópicos (espécies que se adap- falamos de danos nas construções civis, podemos
Crédito: PIXABAY
Doenças vetorizadas por artrópodes e cenários futuros | 145
8 CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Flávia Virginio - @flavia.virginio
Camila Lorenz - @camila_lorenz
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Rafael Sousa
Marcely Silva Biólogo e Mestre, atualmente
Bióloga, Divulgadora científica, é Doutorando em Sistemática,
professora e consultora técnica Taxonomia Animal e Biodiversidade
para empresas de controle de no Museu de Zoologia da
pragas urbanas. Universidade de São Paulo
biologamarcely@gmail.com (MZUSP).
@marcely.silva.18 rafael.souza1988@gmail.com
@biologamarcely
@eseagentefalassesobreinsetos Rodrigo Salvador Bouzan
Biólogo e Mestre, atualmente
é doutorando em Zoologia na
Márcio Martins Universidade de São Paulo (USP).
Biólogo, Especialista em rodrigobouzan@outlook.com
Entomologia Urbana, Mestre em @rodrigobouzan
Ciências, atualmente é Doutorando
em Ciências pela Universidade de Rubens Antônio Silva
São Paulo (USP). Biólogo, Pesquisador Científico e
marcio_araujo@usp.br Coordenador Técnico do Programa
marcio.mda@hotmail.com de Controle da Doença de Chagas
marcio.martins.75685 no estado de São Paulo.
rubensantoniosilva@gmail.com
Vivian Petersen
Thiago Salomão Bióloga, Mestra e Doutora
Geógrafo, Ecólogo, Mestre e Doutor, em Ciências, atualmente é
atualmente é servidor da Secretaria Pesquisadora (pós-doutorado) no
de Saúde da Prefeitura de Santa Instituto de Ciências Biomédicas da
Bárbara d'Oeste, São Paulo. Universidade de São Paulo (USP).
azevedots@gmail.com shonenfire@gmail.com
Joana Dias Ho
Bruno Begha Bióloga, atualmente é mestranda na
Biólogo e Ilustrador, atualmente é Universidade de São Paulo (USP) e
mestrando em Biologia Evolutiva vinculada ao Instituto Butantan.
na Universidade Estadual de Ponta joanadiasho@gmail.com
Grossa. @desen.ho_jdh
bpbegha@gmail.com
bpbegha