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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS


FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

Odilon Francisco Gomide Amaral

MINERAÇÃO E MEIO AMBIENTE: NEM TUDO PRECISA TERMINAR EM


DEVASTAÇÃO OU DESASTRE
A teoria e a prática: o caso do Parque das Mangabeiras, em Belo Horizonte

Trabalho final da disciplina Tópicos em Desenvolvimento Econômico e Regional - Mineração e


Desenvolvimento: Bonança, Estagnação, Desastre

Professores: Anderson Cavalcante e Bernardo Campolina

Belo Horizonte
Fevereiro de 2022
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RESUMO

Mais notadamente a partir dos anos 1970, um representativa parte das preocupações da Teoria
Econômica voltou-se para as questões ambientais. De fonte gratuita de recursos, a natureza passou a
ser vista como um ativo, valorizada monetariamente, para, em seguida, ser encarada como um
sistema maior até que a própria economia. Suas urgências tornaram-se foco não só de economistas,
como dos já atuantes ecologistas, ambientalistas, ganhando uma necessária transdisciplinaridade
entre outras ciências, inclusive sociais, para chamar a atenção de todo o planeta para o risco que
representa o esgotamento de recursos essenciais. E não só pela óptica econômica, como fonte de
matéria prima, mas de sobrevivência. Uma das atividades econômicas mais agressivas é a
mineração, que destrói paisagens de forma avassaladora de maneira direta e representa um perigo
latente na forma de uma assombrosa e iminente fonte de desastres de imensas proporções. Mas nem
tudo precisa terminar em tragédia. Áreas mineradas podem se transformar em refúgios ecológicos e
de preservação, como foi o destino dado à Mina das Mangabeiras, em Belo Horizonte, que foi
transformada no Parque Municipal das Mangabeiras. Mas não sem gerar ou mesmo ser fruto de
conflitos. Atualmente, mesmo representando a maior área verde de visitação pública da capital
mineira, está cercada de ameaças e desperta a necessidade de uma vigilância constante.
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1. INTRODUÇÃO

A mineração se tornou uma pauta importante quanto às suas consequências no presente milênio, não
só pela elevação da relevância do estudo e das providências ligados às questões ambientais
-suscitados pela emergência climática representada pelo aquecimento global-, mas também pelos
acontecimentos que viraram as atenções do mundo para os problemas causados pela mineração em
Minas Gerais de 2015 para cá.

O presente estudo, procura situar as questões em torno dos estudo dos recursos naturais na teoria
econômica, sua relação com o desenvolvimento até estreitar o assunto rumo à mineração e seus
impactos econômicos e, fundamentalmente, ambientais. Numa primeira parte, é analisado o
(necessário) desenvolvimento de uma consciência ambiental, para, em seguida, serem abordadas as
diversas versões do assunto na Teoria Econômica, desde a visão predominante, a Neoclássica à da
Economia Verde, passando pelas da Economia dos Recursos Naturais, Economia Ambiental e
Economia Ecológica. Numa segunda parte, é analisada a relação entre recursos naturais e
desenvolvimento, se a riqueza nesse setor é uma dádiva ou uma maldição, passando pelos modelos
tradicionais de desenvolvimento e novas propostas que, inclusive, apontam para rumos mais
radicais, como o decrescimento econômico.

Em seguida, são estudados os impactos da mineração que, além de uma importante fonte de recurso
para a economia de diversos países -seja com produção local ou importada-, traz severas
consequências ambientais, em suas diversas etapas, da abertura ao encerramento das atividades. A
mais nefasta e imediata vem dos desastres, como os testemunhados e sofridos recentemente em
Minas Gerais. Em 2015, a Barragem do Fundão, da mineradora Samarco (que tem a Vale como um
das controladoras) rompeu-se em Mariana. Foi o maior desastre ambiental da história do país. No
início de 2019, a Barragem do Córrego do Feijão, mineração operada pela Vale em Brumadinho,
rompeu-se deixando um saldo de 270 mortos, sendo que o Corpo de Bombeiros procurava, ainda
em fevereiro de 2022, por corpos desaparecidos, soterrados pela lama dos rejeitos.

Por fim, encerra-se mostrando um final da história que teve um mina dentro de Belo Horizonte, que
foi transformada na maior área verde aberta ao público da cidade: o Parque das Mangabeiras.
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2. RECURSOS NATURAIS NA TEORIA ECONÔMICA

A conscientização quanto aos problemas envolvendo a exploração de recursos naturais e suas


consequências no meio ambiente desenvolveu-se acompanhada de um amadurecimento no
background teórico das ciências econômicas. De fonte gratuita de recursos, a natureza passou a ser
vista como um ativo, valorizada monetariamente, para, em seguida, ser encarada como um sistema
maior até que a própria economia. Suas urgências (de consequências nem tão imediatas assim)
tornaram-se foco não só de economistas (quanto à sua exploração, conservação e renovação), como
dos já atuantes ecologistas, ambientalistas, ganhando uma necessária transdisciplinaridade entre
outras ciências, inclusive sociais, para chamar a atenção de todo o planeta para o risco que
representa o esgotamento de recursos essenciais. E não só pela óptica econômica, como fonte de
matéria prima, mas de sobrevivência. Nesta parte do estudo, analisamos o desenrolar do tratamento
dado aos recursos naturais pelo ponto de vista da ciência econômica, na visão de vários autores,
que, por sua vez, também beberam na fonte de muitos outros estudiosos e especialistas.

2.1 Consciência ambiental

Em seu ensaio teórico, Pereira & Curi (2012) refletem sobre a problemática ambiental e como a
humanidade despertou para a questão nas últimas décadas do século XX, principalmente com o
advento da globalização. É lembrado que ecologia e meio ambiente não são a mesma coisa: o objeto
de estudo da ecologia são “as relações entre o organismo e o seu habitat. Meio ambiente, por sua
vez – ou, mais elegantemente, o ecossistema -, vem a ser a própria morada” (KLOETZEL, 2009,
apud PEREIRA & CURI, 2012, p. 38). Mas a conceituação de meio ambiente como ecossistema é
considerada reducionista e simplista. Ao contrário do ecossistema, o meio ambiente inclui a
humanidade e tudo que a envolve, além de ser um processo dinâmico, em constante transformação
(PEREIRA & CURI, 2012, p. 39).

A preocupação entre meio ambiente e desenvolvimento deu origem ao termo ecodesenvolvimento


que, por sua vez, passou a ser denominado de desenvolvimento sustentável. Antes (e ainda)
frequentemente associado ao processo de industrialização, o desenvolvimento nesses moldes passou
a ser questionado pelas demonstrações cada vez mais visíveis e - sensíveis à flor da pele - de que o
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planeta passa por um perigoso processo de deterioração ambiental. Veiga (1993, p. 13) se questiona
se “o avanço do conhecimento científico provocará, em tempo útil, uma nova ‘onda’ que supere o
industrialismo”. Mas destaca: “enquanto não conseguirmos acabar com a tragédia da fome, será
ridículo pensar que estaremos conseguindo nos desenvolver de forma ecologicamente sustentável”
(VEIGA, 1993, p. 11-12).

Na década 1960, o Clube de Roma foi criado chamando a atenção para a crise ambiental e o futuro
da humanidade. Nos anos 1970, surgiram diversas organizações internacionais (o Greenpeace, por
exemplo), a defesa do “crescimento zero”, e a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) (PEREIRA & CURI, 2012, p. 48-49). A década de 1980, acompanhada pela
globalização, trouxe a preocupação com os resíduos e com as causas dos problemas
socioeconômicos e ecológicos da sociedade global, pautando um desenvolvimento baseado na
sustentabilidade dos recursos. Os anos 1990 foram os que trouxeram um “grande impulso com
relação à consciência ambiental na maioria dos países, principalmente no que concerne as mudanças
climáticas e ao aquecimento global” (PEREIRA & CURI, 2012, p. 50), como na Rio-92 e seu
produto, a Agenda 21, que conciliava métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência
econômica. A emissão de gases de efeito estufa foi tratada pelo G-8 no protocolo de Kyoto,
assinado em 1997. O novo milênio foi aberto ainda com discussões acerca do desenvolvimento
sustentável, previsões alarmantes sobre as consequências do aquecimento global sobre os
ecossistemas e a qualidade de vida do homem. Por ser de 2012, o texto não aborda o chamado
“Acordo de Paris”, firmado durante a COP 21 entre 195 países, visando a redução da emissão de
gases do efeito estufa, que entrou em vigor em 4 de novembro de 2016. A principal meta é manter o
aumento da temperatura do planeta abaixo dos 2ºC e evitar as trágicas consequências que se
anunciam com um aquecimento global descontrolado (MEIRELES, 2020).

Em 2019, o UN Environment Programme (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em
português) publicou um relatório em que destacava que os modelos de consumo tiveram impactos
devastadores em nosso planeta, que 90% da perda de biodiversidade e do estresse hídrico eram
causados pela extração e processamento de recursos naturais. Os países que concentravam mais
renda eram os responsáveis por “pegadas” 60% maiores que as dos de média renda e mais de 13
vezes superiores às dos mais pobres. E alertava que o crescimento econômico às custas do planeta
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simplesmente não era sustentável (OBERLE, 2019, p. 7). O desequilíbrio entre nações ricas e
pobres sempre se manteve (e se mantém) presente e, em termos ambientais, de forma extremamente
perversa. De acordo com o relatório, em base per capita, o grupo de alta renda em 2017 dependia de
9,8 toneladas de matéria prima mobilizada em outras partes do mundo. Essa dependência de
material externo vinha aumentando a uma taxa de 1,6% ao ano desde 2000. Tal comércio se
traduziu no deslocamento de todos os tipos de impactos ambientais e de saúde dos países
consumidores, de alta renda, para os países de renda média e baixa, os fornecedores (OBERLE,
2019, p. 24-25).

O relatório prega que as ações devem ser urgentes e coordenadas e confia num cenário rumo à
sustentabilidade, em que a dissociação do uso de recursos naturais e dos impactos ambientais da
atividade econômica e do bem-estar humano é um elemento essencial na transição para um futuro
sustentável (OBERLE, 2019, p. 27-28). Uma desaceleração no uso de recursos naturais em países
de alta renda compensaria um uso crescente entre economias emergentes e em desenvolvimento,
incluindo reduções dramáticas nas emissões de gases de efeito estufa e restauração substancial de
orestas e habitats nativos em relação aos níveis de 2015 (OBERLE, 2019, p. 29).

Segundo Jared Diamond (2012), a propagação de problemas pelo planeta atende pelo mesmo nome
dado ao processo que, pretensamente, levaria à expansão das benesses do primeiro mundo ao
terceiro e já citado aqui: a globalização. O autor lembra que não vivemos em “polderes”1
individuais. Ações em qualquer parte do planeta têm consequências em outra: “Se não fizermos um
esforço decidido para resolvê-los, e se não formos bem-sucedidos neste esforço, o mundo como um
todo enfrentará um declínio de padrão de vida, ou talvez coisa pior, nas próximas décadas”.

2.2 Teorias

Daniel Caixeta Andrade apresenta duas vertentes do pensamento econômico que tratam das
questões ambientais. De uma lado, a economia ambiental neoclássica e suas duas ramificações
principais: a economia da poluição e a economia dos recursos naturais. O autor discute ainda a
valoração econômica ambiental como principal aplicação prática do instrumental neoclássico para o

1Regiões baixas e planas, pantanosas ou conquistadas ao mar e protegidas por diques, características dos
Países Baixos (DICIONÁRIO PRIBERAM DA LÍNGUA PORTUGUESA, 2008-2021)
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tratamento das questões relacionadas à degradação do meio ambiente. Do outro, a economia


ecológica, que analisa o sistema econômico com base em seus fundamentos biofísicos-ecológicos e
propõe a integração de conceitos provenientes das ciências sociais (economia) e naturais (biologia e
ecologia), numa tentativa de superar o reducionismo das análises de cunho neoclássico
(ANDRADE, 2008, p. 1).

A preocupação com as relações entre crescimento econômico e meio ambiente já estava presente no
pensamento dos clássicos, como Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill, que defendiam a
necessidade de um “estado-estacionário”, por causa da finitude dos recursos naturais. A vertente
neoclássica negou essa limitação, defendendo que o crescimento extra seria o bastante para
compensar a degradação ambiental. Um alerta quanto ao cenário catastrófico devido à perpetuação
do aumento na exaustão dos recursos ambientais fomentou a proposta do “crescimento zero”, nos
anos 1960-70. Do outro lado, estavam as posições desenvolvimentistas de “direito do crescimento”
e dos “otimistas tecnológicos”, que defendiam que era possível a substituição de recursos naturais
por outros fatores de produção, associados ao progresso tecnológico, para contornar os problemas
de escassez e esgotamento dos ecossistemas e recursos naturais (ANDRADE, 2008, p. 8). Um
instrumento usado com frequência para analisar crescimento econômico e degradação ambiental é a
chamada Curva Ambiental de Kuznets. Ela sugere que as economias passam de um estágio agrícola
para uma fase de industrialização, havendo “uma correlação positiva entre o aumento da renda per
capita e a emissão de poluente e degradação ambiental no geral”. A partir de determinado ponto,
“fatores como mudanças na composição da produção e consumo, aumento do nível educacional e
de consciência ambiental, bem como sistemas políticos mais abertos, amorteceriam o processo
anterior, levando a uma reversão da relação encontrada no início”, desenhando o “U” invertido da
curva (ANDRADE, 2008, p. 9). O autor, porém, ressalta que não há um consenso quanto à
sustentação das relações sugeridas pela teoria descrita acima, restando uma “grande lacuna”.

2.2.1 A vertente neoclássica

Pressionado a incorporar problemas ambientais ao modelo, o chamado mainstream se viu


compelido a dar respostas nesse sentido. Admitiu-se a finitude dos recursos naturais e que o
ambiente, além de fornecedor de material, é receptor de resíduos. Daí surgiram duas ramificações. A
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primeira, a teoria da poluição, considerada a mais importante, “foca o meio ambiente – um bem
público – na sua função de receptor de rejeitos, considerando a poluição como uma externalidade
negativa” e busca “entender quais são os danos da poluição causada pelo meio ambiente e os custos
e benefícios envolvidos na adoção de mecanismos de controle da poluição”. Segundo Andrade
(2008, p. 10), “[a] existência das externalidades faz com que os custos sociais marginais sejam
diferentes dos custos privados marginais, o que leva a uma distinção entre a quantidade socialmente
ótima e a quantidade privada ótima”. Pindyck & Rubinfeld (2010, p. 582) apontam três medidas
como formas de corrigir essas externalidades de mercado e incentivar as empresas a reduzirem a
emissão de poluentes: a fixação de um padrão para a emissão, a imposição de taxas sobre essa
emissão e a criação de permissões transferíveis de emissão, em que cada empresa deve receber
determinada permissão para sua emissão, caso contrário, estará sujeita a multa. Tais permissões
podem ser negociadas entre as empresas, ou seja, compradas ou vendidas: empresas menos capazes
de reduzir emissão se tornam compradoras e vice-versa.

Já a teoria da economia dos recursos naturais apontada por Andrade considera o meio ambiente sob
a ótica de provedor de recursos ao sistema econômico e o seu caráter finito pode se tornar um
obstáculo à expansão. A principal diretriz para se estabelecer a taxa ótima de extração de um
recurso é a “Regra de Hotelling”: “em equilíbrio, o valor de uma reserva de determinado recurso
(minério, por exemplo) deve crescer a uma taxa igual à taxa de juros”. O autor destaca que a regra
de Hotelling “apenas seria verificada em casos em que não houvesse imperfeições de mercado e
existência de mercados futuros bem-estabelecidos” (ANDRADE, 2008, p. 11-12).

Como a economia ambiental neoclássica tenta atribuir valores com base em seus princípios de
utilidade e disposição a pagar, o autor considerou necessária uma análise (crítica) da valoração
aplicada pela teoria. Em princípio, ela já partiria de hipóteses consideradas irreais, como a
suposição de concorrência perfeita, equilíbrio e racionalidade substantiva dos agentes (ANDRADE,
2008, p.17).

Maria Amélia Enríquez (2010, p.49) considera que a abordagem da economia neoclássica (também
chamada de economia convencional) ainda é a dominante, devido aos pressupostos simplificadores,
além dos sedutores instrumentos matemáticos e aos recursos da modelagem que adota. Para a teoria
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convencional, os fatores (função) de produção (Y) eram o capital produzido pelo ser humano (K), o
trabalho (L) e os recursos naturais (R), oferecidos gratuitamente pela natureza. Com isso, a função
de produção Y = f(K,L,R) suprimiu o “R”, sendo traduzida apenas por Y = f(K,L) (ENRÍQUEZ,
2010, p.50). De Oliveira (2017) reforça que, nessa teoria, meio ambiente é uma mera externalidade.

2.2.2 A economia dos recursos naturais

A partir dos anos de 1970, os recursos naturais voltaram a figurar como variável importante. Na
economia dos recursos naturais, os instrumentos são os mesmos da microeconomia neoclássica,
baseados em modelos matemáticos de otimização (ENRÍQUEZ, 2010, p.50). Os recursos naturais
são classificados em renováveis (reprodutíveis), e não renováveis, (exauríveis, esgotáveis ou não
reprodutíveis). Os recursos exauríveis têm a gestão baseada no modelo de Hotelling, apresentado
acima, que indica que, para explorar, por exemplo, uma jazida de modo “ótimo”, o preço líquido do
minério deve evoluir ao ritmo da taxa de desconto. Assim como Andrade (2008), Enríquez afirma
que o modelo de Hotelling sofre questionamentos em função das “falhas de mercado” (mercados
imperfeitos) -muito mais uma regra que uma exceção- e externalidades -uma constante.

Por outro lado, os recursos renováveis possuem a particularidade de serem governados por
fenômenos biológicos. No entanto, eles também podem se esgotar e serem transformados em não
renováveis, quando há incompatibilidade entre as dinâmicas que determinam sua evolução/
reprodução e a econômica, que determina o ritmo da exploração. Segundo Enríquez, (2010, p. 69),
“o principal desafio de teoria econômica convencional dos recursos renováveis é identificar qual a
trajetória de exploração de uma população animal ou vegetal, submetida a um dado nível de
extração”.

2.2.3 A economia ambiental

De Oliveira (2017) acrescenta o estudo da economia ambiental na discussão sobre as preocupações


sobre as questões ambientais, por volta das décadas de 1960 e 1970. Sua prioridade seria alcançar
um crescimento econômico que vise o bem-estar social e simultaneamente preservar a quantidade
de recursos naturais suficientes para manter a economia, ou pelo menos, manter de forma constante
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estes recursos para que a economia possa se perpetuar (Pearce & Turner, 1995, apud DE
OLIVEIRA, 2017, p. 96). Para a economia ambiental, a privatização dos recursos naturais poderia
ser uma solução para a problemática do valor atribuído aos bens naturais, já que, com “a fixação de
valores e de proprietários, a tendência é ocorrer uma maior valorização do meio ecológico”
(BALLESTERO, 2008, apud DE OLIVEIRA, 2017, p. 97-98). A solidariedade que as gerações
atuais deveriam ter em relação às gerações futuras é inexistente na economia ambiental, apesar de
sua ideia central de sustentabilidade. Para a economia ambiental, os elementos naturais só possuem
algum valor se tiverem alguma utilidade para o ser humano. Ecossistemas, destaca o autor, “são
espécies de ‘dispensas’ para o capital, no qual quando esse precisa de recursos é só ir lá e retirar”
(DE OLIVEIRA, 2017, p. 98).

Em termos macroeconômicos, a economia ambiental prestigia o desenvolvimento econômico e


social, com a perspectiva também de proteção dos recursos ambientais. As unidades de produção
agem perante o meio ambiente, ou seja, quem causa poluição paga, e uma forma de internalizar
esses custos e evitar prejuízos ambientais é por meio de inovações tecnológicas. No âmbito global,
preocupação é com impactos ambientais, que não possuem fronteiras. (BALLESTERO, 2008, apud
DE OLIVEIRA, 2017, p. 98-99).

2.2.4 A economia ecológica

Formalmente, esta vertente foi estruturada no m da década de 1980, partindo da premissa de que
“a complexidade inerente aos problemas ambientais […] exige uma integração analítica de várias
perspectivas” (ANDRADE, 2008, p. 17). A economia ecológica tenta reunir ciências econômicas
(além de outras ciências sociais e políticas) a ciências naturais (ecologia, notadamente), para
compor uma agenda transdisciplinar, visando o desenvolvimento sustentável, “entendido como a
equidade intra e intergeracional”. A economia ecológica é um subsistema de um ecossistema global
nito e fechado que impõe limites ao crescimento físico do sistema econômico. A economia
ecológica aplica duas leis da termodinâmica na sua análise. A da conservação da matéria e da
energia, recursos escassos e constantes, não podendo ser criados ou destruídos (primeira lei) e a da
entropia (segunda), em que “a energia do universo, embora constante, sofre um processo de
irreversível mudança de um estado disponível para um estado indisponível”. A perspectiva é
pessimista, em contraponto ao otimismo neoclássico. Segundo Andrade (2008, p. 21), “a prioridade
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à sustentabilidade é, por assim dizer, o marco da economia ecológica. Alguns autores a chamam de
‘economia da sustentabilidade’ ou ‘economia da sobrevivência’, justamente por ter seu foco na
preservação das oportunidades das gerações futuras” (ANDRADE, 2008, p. 24).

Quanto à valoração, o grade desa o é desenvolver um sistema “multicritério, em que o valor


monetário é ponderado com os valores não-monetários” (ANDRADE, 2008, p. 25). Enríquez,
(2010, p. 4-55) lembra que a economia ecológica trata de três questões centrais: a escala no uso dos
recursos naturais; a equidade na distribuição desses recursos; e a e ciência na alocação dos recursos
-enquanto a visão convencional, neoclássica, enfoca apenas a e ciência alocativa (ENRÍQUEZ,
2010, p.55).

Um dos fundadores da economia ecológica, Herman Daly, usa uma simbologia para delimitar a era
histórica em que o planeta apresentava baixa densidade populacional e padrões de consumo
restritos, e a atual, de superpovoamento e padrões de consumo incompatíveis com a integridade
ecossistêmica. A primeira é o “mundo vazio”, em que “a escala de produção de bens e serviços
econômicos era pequena, o elemento escasso e o fator limitante da produção era o capital
manufaturado, ao passo que os recursos naturais e ambientais (capital natural) eram abundantes”.
Na segunda, a atual, o “mundo cheio”, “o tamanho da economia passou a sufocar a capacidade do
capital natural gerar os seus serviços ambientais necessários para o bem-estar humano, o custo de
oportunidade no uso dos recursos naturais e ambiental é alto e o conceito de externalidade adquire
importância crescente”. Segundo Enríquez, Daly propõe uma regra tributária ecológica: taxar
progressivamente atividades intensivas em emissões de carbono e aliviar os impostos sobre o
trabalho. O recurso obtido a partir desse eco-imposto poderia ir para um Fundo Mundial de
Desenvolvimento Sustentável, por exemplo.

Uma das maiores referências dessa escola de pensamento é o romeno Georgescu-Roegen, autor da
teoria em que a economia é um sistema dentro do ecossistema, uma parte do todo. Porque os
recursos do planeta são finitos e o fator limitante da economia é a natureza, o romeno defendeu um
“decrescimento” da economia. De Oliveira também cita Herman Daly e sua defesa, não do
decrescimento, mas de um estado estacionário da economia, com desenvolvimento (qualitativo)
sem crescimento material (CECHIN; VEIGA, 2010, apud DE OLIVEIRA, 2017, p. 94).
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2.2.5 A economia verde

Em meio à crise nanceira de 2008, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) lançou o conceito da economia verde, com os objetivos de enfatizar novas oportunidades
para a adesão de práticas mais sustentáveis e de desenvolver um plano global para realizar a
transição da economia convencional para a economia verde (PNUMA, 2011, apud DE OLIVEIRA,
207, p. 91). A economia verde envolveria a diminuição do uso de combustíveis fósseis, a
importância do uso de produtos e serviços que provêm da biodiversidade e a redução da poluição e
dos resíduos provenientes do processo produtivo (ABRAMOVAY, 2012, apud DE OLIVEIRA,
2017, p. 91). Ela também se baseia na pouca intensidade de carbono, uso mais eficiente dos bens
naturais e inclusão social. Almeida (2012, apud DE OLIVEIRA, 2017, p. 92) critica a economia
verde, atribuindo a ela a pecha de ser apenas um novo conceito que concentra ideias antigas
correlacionadas com o desenvolvimento sustentável, sob uma nova roupagem. De Oliveira destaca
que Misoczky e Böhm (2012, apud DE OLIVEIRA, 2017, p. 92) afirmam que o desenvolvimento
sustentável foi um conceito paliativo para que o capital continuasse a dilapidar o meio ambiente. Já
a economia verde nem paliativo seria, mas, sim, um ataque à natureza de forma clara e radical.

2.3 Alguns modelos em choque

Evandro de Oliveira analisa três modelos em termos comparativos. Economia ambiental, economia
ecológica e economia verde têm, cada uma suas particularidades, segundo o autor. Mais
especificamente, a economia ambiental utiliza as ferramentas da economia tradicional nas soluções
de problemáticas ambientais. A economia ecológica visa o uso sustentável do meio ambiente
(CAVALCANTI, 2010, apud DE OLIVEIRA, 2017, p. 99-100). De Oliveira diferencia a economia
verde dos dois modelos pelos objetivos de diminuição de carbono, erradicação da pobreza e uso
eficiente de recursos, situando-se, no entanto, mais próxima à economia ambiental e,
consequentemente, à tradicional, por ser mais favorável ao crescimento econômico. O
desenvolvimento sustentável orienta as economias verde e ambiental e os três modelos pregam a
substituição de recursos não renováveis pelos renováveis (DE OLIVEIRA, 2017, p. 102-103).
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Sob o prisma das contribuições para o meio ambiente, a economia ambiental prioriza a preservação
dos recursos para a perpetuação da atividade econômica, seja com parcimônia na exploração ou não
sobrecarregando os ecossistemas com lixo e resíduo. Em termos globais, a preocupação está voltada
para a mudança climática. A economia verde luta contra as mudanças climáticas atacando as
emissões de carbono. A troca de fontes de energia não renovável por renovável também é uma das
metas, ao lado da conexão com o desenvolvimento sustentável. Tais mudanças têm origem na
política, e não no mercado. A economia ecológica alerta para os processos de entropia e
esgotamento do capital e prega o decrescimento da economia que, segundo De Oliveira apurou em
Georgesku, "é uma teoria a ser analisada com bastante seriedade, pois poderá ser a única alternativa
da economia com o passar dos anos” (GEORGESKU, 1971, apud DE OLIVEIRA, 2017, p. 105). A
economia estacionária também é uma alternativa, como já observado aqui. A meta é a preservação
ambiental e a utilização de bens naturais de forma sustentável.

Evandro de Oliveira destaca a privatização do meio ambiente como um aspecto bastante criticado
pelos ambientalistas, que não estaria excluído nem da economia verde, onde os problemas
ambientais só serão solucionados se estiverem prejudicando a economia. A economia verde também
está incluída no pacote de críticas quando é acusada de utilizar o conceito de desenvolvimento
sustentável para disfarçar a depredação da natureza (ABRAMOVAY, 2012, apud DE OLIVEIRA,
2017, p. 106). Com relação à economia ambiental, a atribuição de valores monetários aos ativos
naturais também é criticada, ao colocar os bens naturais sob a ótica econômica esbarrando-se na
questão de “comensurar o incomensurável”, ou seja, atribuir valor a bens ecológicos (DE
OLIVEIRA, 2010, p. 106). Mais poupada de críticas, a economia ecológica tem seu calcanhar de
Aquiles na dificuldade de se praticar a economia estacionária. Seria preciso remodelar o que é
importante na vida de cada pessoa e o desenvolvimento perderia seu status, algo considerado fora
da realidade para De Oliveira, sendo o crescimento econômico a principal meta dos estados
nacionais. O modelo de decrescimento, então, seria ainda mais inviável.
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3. RECURSOS NATURAIS E DESENVOLVIMENTO

Para os países produtores e exportadores de matéria prima, o século XXI trouxe uma novidade com
a dimensão de um mercado com 1,4 bilhão de habitantes (em 2020), um PIB de 14,72 trilhões de
dólares e que importa o equivalente a 16% desse montante (WORLD BANK). A China é o maior
exportador e segundo maior importador do mundo, com uma demanda enorme por produtos
primários. Tanto que se fala em mercado “sinocêntrico” e se torna “indispensável considerar a
China em qualquer estratégia de desenvolvimento”, especialmente para a América Latina
(PAMPLONA; CACCIAMALI, 2017, p. 251).

Recursos naturais passam não mais, para muitos autores, a serem considerados como uma dádiva ou
apenas uma dotação da natureza. Se bem trabalhados, são encarados como uma possibilidade de
geração de riqueza. Ainda existe a divisão teórica em se considerar a abundância e a especialização
em recursos naturais uma espécie de maldição, e, por outro lado, enxergar nessa abundância uma
oportunidade de desenvolvimento, como souberam fazer o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia e a
Noruega, por exemplo (PAMPLONA; CACCIAMALI, 2017, p. 252).

A chamada análise estruturalista ou desenvolvimentista “destacou a dimensão prejudicial - a


‘maldição’ - para as economias baseadas no uso intensivo de recursos naturais” por efeitos
“deletérios”, como o baixo crescimento e o distanciamento da industrialização, o caminho
defendido para o desenvolvimento (o “paradoxo da abundância”). Como exemplo, existe o caso da
“doença holandesa”, quando o país europeu viveu as consequências do boom de exportação de gás
-tipo de recurso não renovável, como o petróleo, mais visto como ativo que como uma fonte de
renda. As críticas à dedicação à exploração dos recursos naturais atendem por vários nomes, como o
a “armadilha das matérias primas”, com sua alta volatilidade, ou “armadilha dos produtos básicos”,
pela dificuldade para “amadurecer" para uma economia diversificada e industrializada, a “maldição
dos recursos naturais”, com sua geração de concentração de renda e crescimento menor no longo
prazo (PAMPLONA; CACCIAMALI, 2017, p. 253-255)

Por outro lado, uma outra corrente considera a visão acima preconceituosa. A chave estaria em
completar a abundância de recursos naturais com boas instituições, capital humano e conhecimento,
14

para que, em vez de serem vistos e trabalhados como como dádiva, poderem se tornar uma fonte de
fato de riqueza. Um exemplo é a indústria de bioderivados, que pesquisa biocombustíveis de alto
desempenho e bioprodutos, que substituiriam o petróleo por fontes renováveis, especialmente a
biomassa vegetal. Também é defendida a visão de que a abundância de recursos naturais se trata de
uma “faca de dois gumes”. Alguns países “adotam políticas, financiadas com as receitas oriundas
das exportações de produtos naturais, para dar suporte à diversificação da estrutura produtiva e ao
crescimento de longo prazo, e outros não” (PAMPLONA; CACCIAMALI, 2017, p. 255-257). Na
"Teoria dos Produtos Básicos”, o desenvolvimento econômico se daria com um processo de
diversificação em torno dessa base exportadora. É ela que sustenta a argumentação em torno dos
casos de Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Noruega e Finlândia, que, aliados ao crescimento da
exportações primárias, investiram de forma complementar num amplo leque de indústrias nacionais
(PAMPLONA; CACCIAMALI, 2017, p. 258). Ou seja, em diversificação.

Por sua dificuldade em competir no segmento industrial de montagem, Pamplona e Cicciamali


(2017, p. 259) apontam a versão de que a rica dotação de recursos naturais da América Latina
oferece uma “janela de oportunidade” para a especialização “em indústrias de processo, podendo se
especializar em materiais feitos sob medida, alimentos sofisticados e outros produtos naturais,
enquanto se prepara para ter um bom posicionamento”. A crítica a essa posição é de que “só os
setores que apresentam simultaneamente eficiência keynesiana (incrementando a demanda
agregada) e schumpeteriana (baseada nas inovações) têm possibilidade de impulsionar a mudança
estrutural” (PAMPLONA; CACCIAMALI, 2017, p. 259). A resposta seria encontrar caminhos que
acumulassem capacidade com base nas condições disponíveis, como a “possível
complementaridade da América Latina com a Ásia, que teria demanda crescente para insumos e
alimentos (eficiência keynesiana)”, “o aumento da possibilidade de inovação local nas cadeias de
produção de recursos naturais, por meio das TIC2 e outras tecnologias radicais, como biotecnologia
e nanotecnologia (eficiência schumpeteriana)” e uma “mudança das tendências de preços relativos
entre produtos fabricados e recursos naturais, com a possibilidade dos primeiros caírem
(“commoditização” de produtos industriais) em relação aos segundos” (PAMPLONA;
CACCIAMALI, 2017, p. 259). Mas existem também os alertas para o risco de “uma volta da

2 Tecnologias de Informação e Comunicação


15

especialização das economias latino-americanas em commodities”, com consequente reprimarização


e desindustrialização (PAMPLONA; CACCIAMALI, 2017, p. 263).

Com ênfase no caso do Brasil que, por sua dimensão e diversidade, pode ser visto como um híbrido
industrial e agrícola, Camila Gramkow, oficial de assuntos econômicos da CEPAL (Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe), discute a ideia-força de um Big Push Ambiental
(Grande Impulso Ambiental) como uma possível resposta para construir um novo estilo de
desenvolvimento. Segundo a autora, o Big Push Ambiental pode ser definido como

um conjunto de investimentos que produzam um ciclo virtuoso de


crescimento econômico, geração de empregos, desenvolvimento de cadeias
produtivas, diminuição da pegada ambiental e dos impactos ambientais, ao
mesmo tempo em que recupera a capacidade produtiva do capital natural,
tudo isso junto e ao mesmo tempo (GRAMKOW, 2019, p. 1).

Gramkow defende que o modelo atual de desenvolvimento é insustentável dos pontos de vista
econômico, social e ambiental e que uma nova geração de políticas para o desenvolvimento
sustentável (que dependeria de um meio ambiente saudável e de uma sociedade construída sobre a
base da igualdade) é necessária, baseada na “nova revolução tecnológica (biotecnologia e
nanotecnologia, a economia digital etc.), a transição demográfica e a nova geopolítica, esta última
que emergiu com a ascensão da China” (GRAMKOW, 2019, p. 9). Em acréscimo ao que foi
discutido acima, o processo envolveria “três eficiências”: a shumpeteriana e d keynesiana seriam
transversais e orientadas para uma terceira eficiência, a ambiental, “que trata de desacoplar o
crescimento econômico das emissões de gases do efeito estufa e favorecer a proteção ambiental”
(GRAMKOW, 2019, p. 13).

O Big Push Ambiental têm o investimento como componente principal para gerar esse
desacoplamento. O pensamento é inspirado na ideia de P. Rosenstein-Rodan “de que é necessário
um conjunto substancial de investimentos complementares – que dê um grande impulso (big push)
– para permitir um salto definitivo de desenvolvimento” (GRAMKOW, 2019, p. 14). Como
exemplo de sucesso, Camila Gramkow (2019, p. 16-17) cita o caso do Uruguai que, com uma
estratégia industrial e energética, tornou sua matriz mais diversificada e menor, a dependência do
petróleo. O Big Push Ambiental é explicitamente voltado para os problemas estruturais em
particular relevantes para a América Latina no longo prazo. Especificamente no Brasil, é estimado
16

que o país “apresente um potencial de investimentos de baixo carbono da ordem de USD 1,3
trilhões até 2030, em setores tais como infraestrutura urbana (transporte, edificações, resíduos etc.),
energias renováveis e indústria”. Segundo Gramkow, esse conjunto de investimentos pode
representar um “Grande Impulso Ambiental” (GRAMKOW, 2019, p. 19).

De toda forma, a atual situação mundial abre uma janela de oportunidade muito estreita para se
enfrentar a crise ambiental com mudanças estruturais orientadas por um Big Push Ambiental, no
sentido de um desenvolvimento mais sustentável. E possível.

3.1 Ideias de novas estratégias de desenvolvimento.

Em seu estudo “Em busca de novas estratégias de desenvolvimento”, Ignacy Sachs3 (1995, p. 39)
faz uma importante reflexão: a de que a renovação do pensamento sobre desenvolvimento [é] o
mais importante desafio intelectual dos anos vindouros”. Um novo panorama mostrava que, 50 anos
depois do fim da II Guerra Mundial, de Bretton Woods e da criação das primeiras instituições da
família ONU, o conceito e as “fórmulas” de desenvolvimento precisavam, no mínimo, de serem
questionados. Os processos de “descolonização”, da queda do socialismo soviético e do fim do
cenário bipolar entre EUA e URSS eram substituídos pela “mundialização” das relações -e de forma
extremamente desigual. Mercadorias, informações e dinheiro, real ou fictício, tiveram sua
movimentação facilitada; as fronteiras ficaram mais tênues. Mas para as “coisas” apenas. Para as
pessoas, não, numa espécie de mobilidade seletiva.

A tecnologia, numa velocidade sem precedentes e com uma força schumpeteriana, destruía e criava.
Mas essa força de destruição manifestou-se também nefastamente sob a forma de degradação
ambiental. As benesses do progresso técnico, por outro lado, não cumpriam a promessa de um bem-
estar generalizado: “a exclusão passou a liderar, superando a exploração. Os ricos já não precisam
dos pobres. É provavelmente a razão por que tentam esquecê-los” (SACHS, 1995, p. 31). O autor
conclui que “estamos aqui no cerne da noção de maldesenvolvimento” [destaque no original]. Por
ocasião da Conferência Social Internacional de Copenhague de Desenvolvimento Social (1995),

3 “Economista polonês, naturalizado francês. Referenciado também como ecossocioeconomista, por sua
concepção de desenvolvimento como uma combinação de crescimento econômico, aumento igualitário do
bem-estar social e preservação ambiental” (BRESSER-PEREIRA, 2013)
17

eram incluídas, na ordem dos dia, a luta contra a pobreza, a integração social e a criação de
empregos produtivos (SACHS, 1995, p. 32). Cinco temas, segundo o autor, deveriam ser tratados
simultaneamente: “paz, economia, meio-ambiente, justiça e democracia, tomando as condições
sociais como ponto de partida dos esforços em prol do desenvolvimento” (SACHS, 1995, p. 33). O
o neoliberalismo messiânico pregado no Consenso de Washington não foi a resposta. A realidade
mostrava que era “simplesmente impensável reproduzir[em]-se nos países do Sul os modelos [de
capitalismo e desenvolvimento] do Norte. […] “Esse porém, é o caminho escolhido pelas elites do
Terceiro Mundo” (SACHS, 1995, p. 39).

Para uma mudança de rumo, Sachs ressalta a necessidade de superar o “economicismo”. Para o
autor, a “pluralidade das vias de desenvolvimento está mais do que nunca na ordem do dia”
(SACHS, 1995, p. 42) -destacando-se os contextos histórico e cultural, ecológico e institucional.
Sachs (1995, p. 43) afirma que “o desenvolvimento, no sentido forte da palavra, deve ter uma
finalidade social justificada pelo postulado ético da solidariedade entre gerações e da equidade
concretizada num contrato social” e que esse processo exigia ser ecologicamente prudente, no
mínimo. Seu conceito passaria por uma nova hierarquização: “o social no comando, o ecológico
enquanto restrição assumida e o econômico recolocado em seu papel instrumental” (SACHS, 1995,
p.44).

À ciência reserva-se um papel fundamental. É preciso combater o desperdício (de água, de recursos
naturais) e prolongar a vida útil de equipamentos, instalações (contra a lucrativa obsolescência
programada, que, hoje, leva o lixo tecnológico a ser uma das piores mazelas do processo de
inovação crescente) e investir na “tecnologização” do campo. Segundo Sachs (1995, p. 52), “a
agricultura constitui, ao mesmo tempo, uma fonte de alimentos e biomassa, e um mercado para
produtos industriais e serviços” e pode se constituir num motor de desenvolvimento em
determinados países.

3.2 Decrescer então?

“O decrescimento não é sexy!” Assim, Serge Latuche (2010, p. 218) resume os impactos que a
palavra “decrescimento”, com sua conotação “ambígua” e “negativa”, provoca numa “sociedade
18

onde é preciso, custe o que custar, ‘positivar’”. Das questões semânticas às práticas, o autor afirma
que romper com a sociedade do crescimento “é sair do crescimento e do desenvolvimento e, logo,
da economia, ou seja, do imperialismo da economia, para reencontrar o social e o político”
(LATOUCHE, 2010, p. 219).

Essa perspectiva chama de “melro branco” o próprio conceito de desenvolvimento sustentável, por
sua impossibilidade (LATOUCHE, 2010, p. 220). O autor descarta os adjetivos (durável e
sustentável) para atribuir um outro às palavras desenvolvimento e crescimento: “tóxicos”
(LATOUCHE, 2010, p. 220). O uso de eufemismos, criação de significados, a exploração infindável
das palavras na era da “Diplomacia Verbal” contrasta com a situação das fontes naturais de
recursos: “[s]e a mina das palavras é inesgotável, seu uso não pode substituir indefinidamente o uso
dos recursos naturais em via de extinção” (LATOUCHE, 2010, p. 221). E, nessa “negociação”
verbal, esconde-se uma batalha de ideias divergentes, mas que convergem quanto ao pensamento de
os “desejados” crescimento ou desenvolvimento serem normais, necessários, de duração indefinida.

Em termos práticos, Latouche lembra que “[d]iferentemente da economia-ficção dos manuais, a


economia real não pode ser extraída da dependência da biosfera” (LATOUCHE, 2010, p. 223). A
crise financeira de 2007 disparou um alerta para a possibilidade de uma crise cultural e
civilizacional, cuja saída prevista seria “a construção de urna sociedade autônoma democrática e
ecológica, a sociedade do decrescimento” (LATOUCHE, 2010, p. 223), um “pós-desenvolvimento”.
Para isso, seria necessária uma total desconstrução dos padrões humanos atuais: “utilizar
razoavelmente os recursos de seu habitat e os consumir em forma de bens materiais e de serviços
[…] como as sociedades de abundância da idade da pedra”. Adotar uma frugalidade onde os
indivíduos sejam “liberados da escravidão publicitária criadora de necessidades fictícias”
(LATOUCHE, 2010, p. 224).
19

4. IMPACTOS DA MINERAÇÃO

A mineração é uma das atividades produtivas mais antigas exercidas pela humanidade. Mas, além
de movimentar a economia, provoca graves distúrbios ecológicos e sociais onde é explorada. Os
impactos, além de locais, são também de amplo alcance, envolvendo desde as comunidades onde é
exercida aos grandes mercados financeiros internacionais. A indústria da mineração é considerada
“uma das atividades de maior representatividade econômica de países como África do Sul,
Austrália, Brasil, Canadá e Estados Unidos. No Brasil, a mineração está entre as atividades
econômicas mais antigas e tradicionais” (BONFIM, 2017, p. 9).

Segundo a ONU, a mineração é definida como “um processo de extração, elaboração e


beneficiamento de minerais encontrados no estado natural sólido, como o carvão, líquido, como o
petróleo bruto ou gasoso, como o gás natural” (BONFIM, 2017, p. 9). A atividade se dá em etapas:
primeiro a prospecção, depois a exploração, que pode ser na superfície ou subterrânea, segundo
Bonfim (2017, p. 10-13). Algumas consequências são visíveis, como destruição de paisagens, o
desmatamento, erosão, contaminação de solo e água e emissão de partículas (poluição).

O beneficiamento, que se traduz no tratamento, na concentração ou na purificação do minério,


também traz impactos ambientais, como os exemplificados acima. Um exemplo é o tratamento dado
aos resíduos. Os métodos mais comuns utilizados para deposição de rejeitos se dão em reservatórios
criados por diques de contenção ou barragens (BONFIM, 2017, p. 15-19). Eles também podem ser
aproveitados (reuso), por exemplo, em pavimentação de rodovias ou na construção civil (BONFIM,
2017, p. 20-21). Mas ainda há que se considerar os impactos que vão além da instalação e do
desenvolvimento da mineração e o “passivo ambiental decorrente da atividade e suportado na sua
quase totalidade pelas comunidades locais” (AZEVEDO, 2020, p.13). Há que se considerar ainda os
impactos provenientes do encerramento da atividade, com do fechamento de minas.

Bruno Milanez lembra que existe um “certo entendimento de que os danos sociais e ambientais da
mineração tenderiam a se restringir à mudança da paisagem e ao local da mina. A mineração
causaria impactos, porém eles seriam contidos espacialmente à mina” (MILANEZ, 2017, p.93).
Mas o próprio autor ressalta que esse discurso é, na verdade, uma tentativa de o setor mineral
20

minimizar sua imagem negativa. Os impactos socioambientais não são simples, muito menos
limitados -frequentemente são irreversíveis. Por isso o autor defende que esses impactos sejam
identificados de forma precisa, para se recriarem polícias eficazes para conter os danos e não se
aceitarem “legislações cada vez mais frágeis e flexíveis, como as que vêm sendo propostas tanto no
nível federal, quanto no estado de Minas Gerais” (MILANEZ, 2017, p.94).

Tal fantasma começou a assombrar mais efetivamente a partir de 2016, no ano seguinte do
rompimento da barragem da Samarco (que tem a Vale como uma das controladoras) em Mariana,
coma aprovação da Proposta de Emenda à Constituição no 65/2012 (PEC no 65/2012), que torna
desnecessária “a avaliação dos estudos de impacto ambiental, uma vez que a simples apresentação
de um estudo prévio garantiria a autorização. Mais ainda, ela impediria que tais obras fossem
interrompidas, mesmo quando não se adequassem às exigências ambientais” (MILANEZ, 2017,
p.99), ignorando ou deixando passar em brancas nuvens os conflitos de interesses na transferência
para as empresas o monitoramento de seus impactos ambientais.

O rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, em novembro de 2015, foi considerado o


maior desastre ambiental da história do Brasil, causando 19 mortes e deixando mais de 600
desabrigados, “afetando o abastecimento de água a milhares de pessoas e gerando extensos danos
ambientais e socioeconômicos à Bacia do Rio Doce” (AZEVEDO, 2020, p.20). Ao completar 5
anos em 2020,

mais de 1,8 mil dias, os responsáveis pela tragédia não foram julgados. Em 2019, o
crime de homicídio foi retirado do processo. As mortes provocadas pelo rompimento
da barragem foram consideradas pela Justiça como consequência da inundação
causada pelo rompimento. Durante este período, as comunidades destruídas não
foram reconstruídas e ainda faltam respostas para a recuperação do meio ambiente
(FREITAS, 2020).

Três anos, um mês e duas semanas depois do desastre da Samarco, em 25 de janeiro de 2019, a
barragem de rejeitos da Mina do Córrego do Feijão, da Vale se rompeu e matou 270 pessoas. Seis
delas ainda não haviam sido localizadas, três anos depois. É considerado o maior desastre4
trabalhista da história do país (G1, 2022).

4 Grifo meu.
21

Medir os impactos não é simples. Os indicadores carecem de padronização. Mesmo a avaliação e a


gestão dos riscos encontram desafios no tipo de abordagem adotado, que, segundo Azevedo (2020,
p. 33) deveriam reunir a abordagem técnico-científico e uma do ponto de vista das ciências
humanas.

A percepção da barragem na forma de risco tem ocorrido por meio da tragédia, ou seja, tardiamente,
quando esse risco é concretizado por um desastre. (VALENCIO; GONÇALVES; MARCHEZINI,
2007, p. 161, p. 177). Não raro, o evento é chamado de fatalidade pelos responsáveis pela
execução, fiscalização e monitoramento do fator de ameaça. O termo se torna uma conveniência
para diluir a responsabilidade e “dar opacidade à tecnocracia e omissão, que são as causas mais
frequentes de desastres” (VALENCIO; GONÇALVES; MARCHEZINI, 2007, p. 161, p. 181). E é
comum que esses desastres, segundo valência, Gonçalves e Marchezini, sejam compostos pela soma
de diversos riscos ignorados ou mal gerenciados (2007, p. 194). Os que estão relacionados à
mineração são classificados como “riscos inerentes à construção civil”, que envolvem não só
acidentes de trabalho durante a construção, mas também resultantes de colapsos, como a ruptura de
barragens (CARMO, 2015, p. 33).

O rompimento de uma barragem é enquadrado como um desastre, de acordo com a tipologia


proposta por Garcia-Renedo (2008, apud FAVERO; SARRIERA; TRINDADE, 2014, p. 203). Pela
ordem crescente, um acidente localiza-se no extremo de menor estresse, atingindo um grupo muito
específico de vítimas; na emergência, uma situação de crise interferiria nas atividades realizadas por
um determinado grupo de pessoas; o desastre afeta um número maior de pessoas e a ruptura da
maioria das estruturas sociais e da infraestrutura comunitária (como em terremotos ou visivelmente
pudemos observar em Mariana e Brumadinho); já catástrofe envolve a ruptura de todas as estruturas
sociais, como nas bombas atômicas que explodiram em Hiroshima e Nagasaki.

Desastres implicam em muito mais que um conjunto de danos materiais que poderiam ser medidos
e compensados financeiramente. O processo de reabilitação, por si só, pode ser repleto de variadas
dimensões de violência que degradam ainda mais as condições de vida e autonomia daqueles que
sofrem perdas. Os desastres, portanto, não se limitam ao evento catastrófico crítico, mas sim se
desdobram em processos duradouros de crise social, frequentemente intensificados por diretrizes
22

institucionais, que têm o efeito de perpetuar o sofrimento social (ZHOURI et al, 2017, p. 6). Antes
mesmo de Mariana, o rompimento de barragens em Minas já havia causado 16 mortes em 6
eventos, desde 1986 (ZHOURI et al, 2017, p. 7). O rompimento da Barragem da Samarco, em 2015,
sozinho, com 19 superou esse total, que foi multiplicado pouco depois pela Vale, em Brumadinho,
em 2019. Nessas duas últimas ocasiões, violações aos mesmos pressupostos com relação à
fiscalização (precariedade), licenças ambientas (obtidas de atenção aos processos adequados)
podem ser verificadas. E, pior, grande parte (a imensa maioria) das vítimas ainda não obteve a
reparação integral ou mesmo parcial aos danos ocasionados (ATCHABAHIAN; VILLAS BOAS,
2021, p. 33).
23

5. NEM TUDO PRECISA ACABAR EM TRAGÉDIA E DEVASTAÇÃO

Grande parte da literatura dedicada às consequências da mineração discorre sobre a relação


conflituosa entre a conservação dos patrimônios natural e cultural e o desenvolvimento da atividade.
Na maioria das vezes, principalmente no Brasil, a mineração vence. As consequências de desastres
também ficaram muito em evidência, principalmente de 2015 (da barragem da Samarco rompida em
Mariana) para cá. Há exemplos -exceções, infelizmente- de histórias que terminaram bem. Um
deles, fica num dos símbolos da capital de Minas Gerais: O Parque Municipal das Mangabeiras, na
Serra do Curral, em Belo Horizonte. O local, que já foi explorado pela mineração de ferro, é hoje,
segundo Duarte (2012, p. 144), a “maior área de conservação ambiental do município de Belo
Horizonte que permite visitação”.

5.1 O que é o Parque das Mangabeiras

De acordo coma Prefeitura de Belo Horizonte, o Parque das Mangabeiras está numa área de 2,4
milhões de m2, com 59 nascentes do Córrego da Serra, que integra a Bacia do Rio São Francisco
(FUNDAÇÃO DE PARQUES MUNICIPAIS E ZOOBOTÂNICA, 2022). O parque está dentro do
contexto da Unidade Territorial Estratégica (UTE) Ribeirão Arrudas, que se localiza “no Alto Rio
das Velhas e é composta pelos municípios de Belo Horizonte, Contagem e Sabará (COMITÊ DA
VBACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS VELHAS, 2022). É classificado pela Lei do SNUC5
como Unidade de Conservação de Proteção Integral (DE PIERI, 2022. p. 39). De acordo com a
Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica da Prefeitura de BH (2022), o parque possui áreas
de Cerrado e de Mata Atlântica.

O Parque das Mangabeiras tem mais de 160 espécies registradas de aves, 30 de mamíferos, 20 de
répteis e outras 20 de anfíbios, “como a rã Hylodes uai, que tem em seu nome uma homenagem a
Minas Gerias” (FUNDAÇÃO DE PARQUES MUNICIPAIS E ZOOBOTÂNICA, 2022). O nome
vem da Mangabeira (Hancornia speciosa) uma árvore comum na região antigamente, característica
do Cerrado. Segundo Diniz (2022) “os frutos, amarelos e saborosos, são usados para fazer sucos,
picolés e geleias”.

5 SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (BRASIL, 2000)


24

A Serra do Curral, que abriga o parque, pertence ao chamado Quadrilátero Ferrífero, de idade pré-
cambriana (DUARTE et al, 2012, p. 152). Faz parte de uma “pequena extensão de serras que se
estende desde a região de Carmo do Cajuru até as proximidades da cidade de Caeté, a oeste da Serra
do Espinhaço” (BORSAGLY, 2022). O conjunto possui um dos maiores depósitos de minério de
Minas Gerais (DE PIERI, 2022. p. 32).

5.2 A ocupação e a exploração

A área original do Parque das Mangabeiras pertencia à antiga Fazenda do Capão, que foi
desapropriada na construção de Belo Horizonte, no fim do século XIX. A região já era explorada
desde o século anterior, quando era conhecida como Serra das Congonhas, mas ainda em pequena
escala e pontualmente, sem ser alcançada pelas mineradoras que se espalhavam pelo estado -com
exceções do ouro extraído na região do Mutuca e do Taquaril (BORSAGLY, 2022). Tanto que, no
início do século XX, entre as décadas de 30 e de 50, o conjunto da Serra permaneceu praticamente
inalterado. O Pico Belo Horizonte, ponto mais elevado, era local de piquenique dos estudantes,
marco físico e afetivo da paisagem urbana da primeira metade do século XX. A primeira estação de
tratamento de água da capital foi instalada na Serra, em 1941. A Caixa de Areia, como era
conhecida na época, abastecia o bairro Serra e ficava próxima à atual Portaria Norte6 (LOPES,
2022).

As maiores transformações se deram a partir da década de 1960, com a atividade minerária, mais
exatamente em 1961, quando a Ferro Belo Horizonte S. A. (Ferrobel), criada pela Lei Municipal nº
898 (DE PIERI, 2022. p. 32) e comandada pela Prefeitura de Belo Horizonte, instalou-se na área,
para explorar a Mina das Mangabeiras (LEI.A, 2022). A mineradora ocupava os espaços onde hoje
se situam o estacionamento Sul, Praça de Eventos e Praça das Águas do Parque (MULLER, apud.
DAVIN, 2022 p. 28-29). Nessa mesma década, parte da área então gerenciada pela Ferrobel foi
loteada. O empreendimento foi inicialmente denominado de Cidade da Serra e é hoje o bairro das
Mangabeiras (LOPES, 2022).

6 No fim da avenida Bandeirantes, em frente à unidade II do Minas Tênis Clube.


25

5.3 A implantação do Parque

Em 1979, a Mina das Mangabeiras foi desativada para a implantação do Parque. A exploração feita
pela Ferrobel já havia mudado drasticamente as feições da serra no local, que, atualmente,
“apresenta um rebaixamento do relevo que não existia, à direita do Pico Belo Horizonte”
(BORSAGLY, 2022).

Segundo Azevedo (2020, p. 22), a desativação ou fechamento de uma mina se caracteriza pelo fim
das operações, ocorrendo o início da recuperação ambiental, a fim de viabilizar outros usos futuros
para a área explorada, ao menos teoricamente. Inicia-se então o chamado descomissionamento, ou
seja, a desativação da infraestrutura e serviços associados à produção do empreendimento. Em tese,
é o último processo do projeto de exploração minerária. É quando se trata do legado pós-mineração.
No caso da Mina das Mangabeiras, a proposta inicial era de dar lugar a um loteamento (DUARTE et
al, 2012, p. 144).

A história da área pode ser dividida e caracterizada, segundo Lopes (2022), num primeiro momento,
de exploração mineral e, num segundo, de “disputa pela ocupação da serra para uso residencial por
dois setores distintos da população, a favela e o bairro de alto luxo que hoje coexistem como
vizinhos do parque”. A opção pelo parque acabou por consolidar a ocupação da região pela classe
mais abastada. Lopes (2022) defende que o estabelecimento de um espaço público livre, urbano, no
local - um parque - atuou como “uma espécie de cinturão verde que conteve a expansão da favela. A
área pública livre produz uma faixa verde de amortecimento entre os dois processos de densificação
diluindo em sua extensão a fronteira social”.

A efetiva criação do parque data de 14 de outubro de 1966, por meio do decreto nº. 1.466, com a
finalidade de preservar a Serra do Curral, a reserva florestal existente e criar uma nova área de
recreação para a cidade (LOPES, 2022). Em 30 de dezembro de 1974, a Lei 2403 autorizou “a
implantação do Parque das Mangabeiras, a urbanização de terrenos adjacentes”, que, no seu artigo
primeiro dizia que
26

Fica o Executivo autorizado a realizar as obras necessárias à implantação do


Parque das Mangabeiras, em terrenos de propriedade do Município, situados
na Serra do Curral.

Parágrafo Único - As obras referidas no artigo compreendem inicialmente, o


fechamento do contorno da área, a abertura e pavimentação das vias de
acesso, o alargamento e pavimentação do “Anel da Serra”, bem como a
construção de orquidário e instalações próprias para a criação e exposição
de pássaros e adestramento de cães de raça (PLATAFORMA
LEISMUNICIPAIS, 2011).

A Ferrobel só foi realmente desativada em 1979. Em seguida, começaram os estudos elaborados


pela Plambel (Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana), relativos à
implantação do parque. O projeto paisagístico foi elaborado por Roberto Burle Marx e equipe (DE
PIERI, 2022. p. 39). A inauguração e abertura ao público só foram realizadas em 1982. No ano
seguinte, com o Decreto no 4.520, de 08 de setembro de 1983, a Ferrobel transformou-se na
Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte, a Urbel (BEDÊ, 2022, p. 94), hoje, a Companhia
Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte, “responsável pela implementação da Política
Municipal de Habitação Popular” (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE). Em
janeiro de 1999, a Lei estadual nº 13 incorporou uma área do Paredão da Serra do Curral à reserva
do Parque das Mangabeiras (DUARTE et al, 2012, p. 152).

Atualmente, o Parque das Mangabeiras tem funções ambiental, turística e histórica. Com seus
efeitos ainda preservados de um microclima ameno, traz um (cada vez mais limitado) conforto
térmico a Belo Horizonte e “ameniza os efeitos da urbanização como ruídos e poluição atmosférica”
(DUARTE et al, 2012, p. 152).

5.4 Vizinhança ameaçadora

Hoje, o Parque das Mangabeiras é motivo de preocupação e desperta a atenção de ambientalistas


por causa das ameaças que o cercam. Recentemente, o Projeto Manualzão, da UFMG, alertou para a
instalação de um grande complexo minerário na área da Serra do Curral. O Complexo Minerário
Serra do Taquaril (CMST), que estava em fase de licenciamento ambiental em março de 2021, se
aprovado, traria consequências irreversíveis para a Serra do Curral e para a qualidade de vida de
milhões de pessoas (PROJETO MANUELZÃO, 2021). Entre as áreas de preservação impactadas, o
Manuelzão listou
27

o Parque Florestal Estadual da Baleia, o Parque das Mangabeiras e o Parque


da Serra do Curral em Belo Horizonte, a Mata do Jambreiro, na cidade de
Nova Lima, a zona de amortecimento do Parque Estadual da Serra do Rola-
Moça, que se estende de Sabará e Raposos a Brumadinho e Ibirité, e a APA
Sul (Área de Proteção Ambiental da região sul da RMBH) (PROJETO
MANUELZÃO, 2021).

No início de fevereiro de 2022, a vereadora Duda Salabert (PDT) ajuizou uma ação popular
preventiva com pedido de liminar “contra a Mineração Taquaril, a Vale e o Estado de Minas Gerais,
para suspender o andamento do processo de licenciamento ambiental” de empreendimentos
mineráreis, entre eles o do Complexo Minerário Serra do Taquaril, até que fossem realizados
estudos ambientais (“idôneos”), considerando, em especial, o cenário de emergência climática
(TITO, 2022). O Observatório Lei.a considera que o projeto poderá retirar um volume superior a 1
bilhão de toneladas de minério de ferro numa região cercada por tombamentos históricos, nascentes
e áreas de recarga de água. O empreendimento proposto é da Taquaril Mineração S/A (Tamisa),
pertencente à Construtora Cowan S. A. Segundo o Lei.a, uma de suas cavas fará divisa com a área
explorada pela Mineradora Pau Branco (Empabra), no bairro Taquaril, próxima ao Pico Belo
Horizonte, ponto mais alto da capital, que era tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN), mas, após uma manobra, teve o limite dessa proteção alterado (LEI.A,
2022).

Mesmo antes, em 2028, vereadores da Comissão de Meio Ambiente e Política Urbana da Câmara
Municipal de Belo Horizonte alertaram para outra ameaça, quando receberam denúncias e fizeram
uma visita à divisa do Parque das Mangabeiras, com o Parque Estadual da Baleia, por causa de
suposta exploração de minério na região por parte da Empresa Mineradora Pau Branco (Empabra).
De acordo com a comissão, ambientalistas afirmavam que o processo de licenciamento não
concedia autorização para a atividade no local. O vereador Gilson Lula Reis (PC do B), integrante
da comissão, disse à época que a mineração localizava-se no limite do parque e destruía parte dele e
que a cava, que deveria ser recoberta, estaria sendo ainda mais aprofundada
(SUPERINTENDÊNCIA DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL DA CÂMARA MUNICIPAL
DE BELO HORIZONTE, 2018).
28

Um dos temores é que o Parque seja encarado, inclusive judicialmente, como uma espécie de “terra
de ninguém” e que isso facilite o acesso de mineradoras ou postergue qualquer providência
judiciária a fim de impedir a atuação de empreendimentos predatórios, como os que vêm sido
observados no entorno. Lopes (2022) explicitou tal preocupação, citando objetivamente a dúvida
que existe com relação à posse formal do terreno do parque:

“Embora seja um parque público e administrado atualmente pela Fundação de Parques e Jardins do
Município de Belo Horizonte, não fica claro nos documentos encontrados até o momento, a
propriedade fundiária do imóvel onde se situa o parque, se da administração direta ou da companhia
municipal Ferrobel/Urbel e seus sucessores” (LOPES, 2022).

E, mais uma vez observando pelo ângulo mais prático, apenas o fato de haver uma proteção do
Patrimônio e já se mostrou ineficiente em várias ocasiões na própria capital mineira, onde imóveis
históricos foram demolidos da noite para o dia ou apareciam “incendiados” de forma, no mínimo,
muito suspeita. E, em se tratando de patrimônio, multas, prisões, ou qualquer que seja a providência
(nunca) tomada, ela não restaura o bem à sua condição original, do mesmo jeito que uma área
minerada com atividades encerradas não volta a ser a mesma, ainda que sejam comuns as vazias
promessas de “restituição da flora nativa”. E a fauna? E a flora subterrânea? E as condições de
fertilidade do solo? E as condições hídricas, de nascente que foram sacrificadas em nome da
mineração?
29

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse estudo, procuramos situar as questões em torno dos estudo dos recursos naturais na teoria
econômica, sua relação com o desenvolvimento econômico até estreitarmos o assunto rumo à
mineração e seus impactos econômicos e, fundamentalmente, ambientais. Além de uma importante
fonte de recurso para a economia de diversos países -seja com produção local ou importada-, a
exploração da mineração traz severas consequências ambientais, em suas diversas etapas, da
abertura ao fechamento. A mais nefasta e imediata vem dos desastres, como os testemunhados e
sofridos recentemente em Minas Gerais. Em 2015, a barragem do Fundão, da mineradora Samarco
(que tem a Vale como um das controladoras) rompeu-se em Mariana. Foi o maior desastre
ambiental da história do país. No início de 2019, a Barragem do Córrego do Feijão, mineração
operada pela Vale em Brumadinho, rompeu-se deixando um saldo de 270 mortos, sendo que o
Corpo de Bombeiros procurava, ainda em fevereiro de 2022, por corpos desaparecidos, aterrados
pela lama dos rejeitos.

Tais fatos chamaram a atenção para necessidades ambientais envolvendo a mineração. Segundo
Davin (2022, p. V), “é preciso mitigar os danos ambientais causados por essa atividade, bem como
analisar possíveis alternativas para a recuperação da área mesmo antes do fechamento da mina.
Sawaya ressalta que é preciso implantar “programas de fiscalização/acompanhamento das ações
voltadas para as ações de fechamento de mina, evitando a ocorrência de danos irreparáveis, ou pior,
de passivos órfãos”.

Procuramos mostrar, em seguida, que nem tudo termina necessariamente em devastação ou


destruição. O caso estudado -um exceção, havemos de convir- fica bem na Região Centro-Sul de
Belo Horizonte: o Parque Municipal das Mangabeiras, na Serra do Curral. Antes de ser parque,
fazia parte da Fazenda do Capão, que foi desapropriada para a construção da cidade. Nos anos
1960, teve uma porção cedida à mineração, atividade explorada pela Ferrobel. Na passagem dos
anos de 1970 para os 1980, a área foi incorporada ao que se transformaria no Parque das
Mangabeiras, a maior área verde aberta ao público da capital mineira.
30

Mas o fantasma da mineração parece que jamais vai deixar de assombrar a Serra do Curral, como
mostrado nas recentes denúncias sobre atividades de mineração que ameaçam a região em torno e o
próprio parque. Tal preocupação está estampada de forma muito clara na afirmação do professor
doutor de arquitetura da UFMG Flávio Carsalade:

no caso mineiro (e também no brasileiro!), a questão da mineração corre ao


largo do Estado que, preocupado antes em criar leis e, focado no meio
ambiente, tem se abstido de seu papel de planejador e gestor local e
regional, deixando às mineradoras um campo livre para que as decisões pós-
minas se dêem antes de acordo com seus próprios interesses do que sob a
égide do interesse público coletivo. É por isso que, após a « primeira safra »
da mineração, foi cunhado, pelo dito popular, o termo « segunda safra »
aplicado aos desenvolvimentos imobiliários que ocorrem posteriormente
nessas áreas e que são lucrativos para as mineradoras, mas de pouco
interesse público maior (CARSALADE, 2022, p. 35)
31

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