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A economia planificada foi bem-sucedida no período em que o mundo se organizou segundo os padrões
tecnológicos da Segunda Revolução Industrial. Enquanto a produção e, portanto, a tecnologia e os índices de
produtividade tiveram como referência aqueles padrões, a União Soviética esteve em pé de igualdade com os Estados
Unidos e outros países capitalistas desenvolvidos. Em alguns momentos até esteve à frente, como ao lançar, em 1957,
o primeiro satélite artificial (Sputnik), ou quando colocou o primeiro cosmonauta (Iúri Gagárin) em órbita ao redor da
Terra, em 1961.
Os planejadores soviéticos priorizaram as indústrias intermediárias e de bens de capital, com o objetivo de
propiciar autonomia ao país, além de investir na infraestrutura necessária para sustentar o processo de
industrialização. Indústrias como a siderúrgica, a petrolífera, a bélica e a de máquinas e equipamentos tiveram um
crescimento explosivo. Foram construídas barragens e hidrelétricas, ferrovias, redes de transmissão de energia,
portos, aeroportos etc.
O quarto plano quinquenal (l946-1950) foi direcionado à recuperação da economia e à reconstrução das fábricas
e das obras de infraestrutura destruídas pela guerra. Os planos seguintes continuaram enfatizando o setor industrial de
base e o bélico, já no contexto da Guerra Fria e da corrida armamentista. Tudo isso possibilitou um elevado
crescimento econômico.
Gorbatchev, rompendo com o imobilismo da era Brejnev, logo que assumiu o poder propôs a perestroika
(“reestruturação”, em russo), um conjunto de reformas voltadas para a modernização da economia soviética, visando
à superação de suas profundas contradições. Planejava criar condições para atrair investimentos estrangeiros: facilitar
a formação de empresas mistas (joint ventures), assegurando o acesso a novas tecnologias da Terceira Revolução
Industrial; introduzir processos produtivos e métodos de controle de qualidade inovadores, a fim de modernizar as
empresas estatais; entre outras medidas, que visavam ao aumento da produtividade. Outra necessidade urgente era
frear a corrida armamentista. Esperava-se com isso diminuir os gastos militares e obter os recursos necessários a
essas mudanças. Desde que chegou ao poder, Gorbatchev sempre tomou a iniciativa para a assinatura de acordos de
paz com os Estados Unidos, o que lhe valeu o prêmio Nobel da Paz em 1990.
A implantação dessas mudanças econômicas também envolveu reformas no sistema político-administrativo. Era
preciso pôr fim à ditadura, desmontando o aparelho repressor erigido na era Stálin, assegurando liberdade de
imprensa e direitos democráticos mínimos. Com a implantação da glasnost ("transparência política", em russo), teve
início uma abertura política na União Soviética. Entretanto, a desmontagem do aparelho repressor liberou forças
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contidas há muito tempo. Nacionalistas de várias repúblicas da União começaram a reivindicar autonomia em relação
a Moscou. Durante a existência da União Soviética, muitas minorias étnicas foram oprimidas pelos russos, a etnia
majoritária e que de fato detinha o poder no país. As repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia), anexadas à
União Soviética após a Segunda Guerra, foram pioneiras, declarando sua independência. Em seguida, o separatismo
ganhou força nas demais regiões do país, levando à completa fragmentação política da antiga superpotência.
A CEI foi criada como uma tentativa de gerir a interdependência econômica que existia entre as repúblicas da
União Soviética e continuou existindo após se tornarem países politicamente independentes. Por exemplo, a Ucrânia
depende de petróleo e gás natural russo, e a Rússia depende dos cereais produzidos nas férteis terras negras
ucranianas. O Casaquistão tem importante produção de petróleo e carvão, mas como possui extensas áreas de
desertos depende da importação de alimentos das outras repúblicas. Praticamente todas as ex-repúblicas soviéticas
dependiam, e em grande medida ainda dependem, da importação de produtos da indústria russa. Embora os países
almejem diversificar seu comércio, o peso da história comum e da proximidade geográfica faz com que ainda haja
considerável dependência em relação à Rússia, o país mais industrializado e a maior economia da região.
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A Rússia ocupou o espaço da antiga União Soviética no cenário internacional, como o assento de membro
permanente do Conselho de Segurança da ONU. No entanto, perdeu influência no mundo, mesmo na região em que
influenciava diretamente, o Leste Europeu, onde viu vários de seus antigos satélites ingressarem na Otan e na União
Europeia. O fracasso da perestroika e a conturbada transição para a economia de mercado lançaram o país em uma
profunda recessão. Segundo o Banco Mundial e o FMI, no período 1990-2000 o PIB russo encolheu 4,7% na média
anual: o recorde foi em 1992, quando encolheu 19.4%. A economia russa encolheu constantemente até 1996; em
1997 esboçou uma reação (teve um crescimento de 1.4%), quando veio a crise russa de 1998 e o PIB encolheu 5,3%
naquele ano. Obtenha mais informações na tabela.
O resultado da recessão dos anos 1990 e da crise de 1998 foi a elevação do desemprego, que atingiu 11,4% da
população ativa no período 1998-2001; com isso, houve aumento da pobreza e piora dos indicadores de distribuição
de renda. No entanto, a partir de 1999 o PIB da Rússia passou a crescer com taxas anuais elevadas, impulsionado pela
desvalorização de sua moeda, que estimulou suas vendas no exterior, e pela elevação do preço do petróleo, seu
principal produto de exportação. Isso contribuiu para uma melhora nos indicadores de distribuição de renda, como
mostra a tabela.
Depois de um período de profunda crise, houve a retomada do crescimento econômico, e nesse processo
surgiram grandes corporações russas de capital aberto, isto é, com ações cotadas na Bolsa de Valores de Moscou. É o
caso da Gazprom (principal produtora de gás natural do planeta, maior empresa russa e 22ª na lista das 500 maiores
da revista Fortune), da Lukoil e da Ros-eft Oil, ambas também listadas naquela pesquisa. Essas três empresas são
responsáveis por extrair petróleo e gás natural em diversos lugares do território russo e também no exterior. Não é por
acaso que as maiores corporações russas sejam do setor energético: como vimos, o petróleo e o gás são duas das
maiores riquezas naturais do país.
Apesar do avanço do processo de privatização,
diversas empresas, principalmente desses setores
estratégicos, continuam pertencendo, em parte, ao
Estado. Em 2009, a Gazprom ainda tinha 50% de
suas ações nas mãos do governo russo, seu maior
acionista. Do capital da Rosneft Oil, 75% das ações
pertenciam ao Estado russo. A Lukoil começou a ser
privatizada em 1993: o governo foi se desfazendo de
suas ações e em 2004 vendeu o restante que possuía
do capital da empresa.
O presidente Vladimir Putin (governou entre
2000 e 2008, quando foi sucedido por Dmitri
Medvedev) planejava vender, das empresas estatais
que restaram, aquelas que não fossem competitivas
ou estratégicas, a fim de sanear as contas públicas e
garantir um crescimento de 7% ao ano em seu
segundo mandato (2004-2008). Com isso o governo
russo projetava dobrar o PIB do país até o final
daquela década. Ainda há muitas empresas
controladas pelo Estado russo, mas a economia do
país cresceu 7% no segundo governo Putin e,
considerando seus dois mandatos, o tamanho do PIB
quadruplicou. Como mostra o gráfico a seguir, a
economia russa vinha crescendo a taxas elevadas até
que a crise financeira de 2008 a atingisse em cheio,
provocando profunda recessão em 2009. Porém, no
ano seguinte, o crescimento foi retomado (segundo o
FMI, a estimativa de crescimento do PIB em 2010
era de 3,6%).
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Com o rápido crescimento econômico nos anos 2000, ao mesmo tempo em que as empresas russas têm ganhado
importância no mundo, vem crescendo o fluxo de investimentos estrangeiros no país, que atingiu 52 bilhões de
dólares em 2007 e aumentou mais ainda no ano seguinte (observe a tabela). De acordo com a UNCTAD, os capitais
estrangeiros têm sido atraídos pelo crescimento do mercado interno e pela possibilidade de exploração dos recursos
naturais, especialmente no setor energético. Por exemplo, a petrolífera Yukos, que chegou a ser a maior empresa
privada russa, faliu em 2006 e foi comprada pela italiana ENI em associação com a compatriota Enel. Com isso, em
2007 a Itália foi o país que mais investiu na Rússia. Outro exemplo: naquele mesmo ano a petrolífera francesa Total e
a norueguesa StatoilHydro firmaram parceria com a Gazprom para a exploração de gás natural no gigantesco campo
de Shtokman, no Mar de Barents. Compare os dados da Rússia com os números dos Estados Unidos, o maior receptor
de investimentos do mundo, e de outros países do Bric:
INVESTIMEENTO EXTERNO NOS ESTADOS UNIDOS E NOS BRIC (EM MILHÕES DE DÓLARES)
País 1998 2001 2005 2008
Estados Unidos 174.434 124.435 104.773 316.112
Brasil 28.856 22.457 15.066 45.058
Rússia 2.761 2.540 12.886 70.320
Índia 2.633 3.403 7.606 41.554
China 43.751 44.846 72.406 108.312