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INTRODUÇÃO..................................................................................................00
Considerações Finais/Conclusão
Referências Bibliográficas................................................................................00
1
Rússia: A busca pelo poder através de seus recursos energéticos
1
Heartland é um conceito geopolítico do poder terrestre, formulado por Mackinder. Corresponde a uma
enorme massa terrestre onde se localiza a Eurásia, uma região rica em recursos. Quem a controla, de
acordo com Mackinder, chegará a todos os pontos da Eurásia (MACKINDER, 1904).
2
extração e da refinação. Em 1940, com o Pacto Nazi-Soviético 2, a Alemanha
passa utilizar 75% das exportações de petróleo da URSS.
Santos (2008), afirma que no final dos anos 60, o gás na URSS era
considerado um produto secundário de extração do petróleo, com isso, foi, por
muitos anos, queimado. Não havia uma preocupação de utilizá-lo e de construir
gasodutos para exportá-lo.
Após a Guerra de Yom Kippur 3 em 1973, houve um embargo petrolífero 4
árabe decorrente da guerra contra Estados Unidos e Europa. A partir deste
embargo, os soviéticos mantiveram os preços do petróleo em um alto nível
para aumentar os lucros do país. Essa guerra, fez com que os países
importadores de petróleo do Oriente Médio vissem uma nova realidade, na qual
concluíram que continuar importando desta região era um negócio muito
arriscado e seria melhor reduzir sua dependência na região (GOLDMAN,
2008).
Por não participar da OPEP5 (Organização dos Países Exportadores de
Petróleo) e nem do jogo das grandes companhias ocidentais, a URSS
aumentou seu poder de influência política e também suas reservas monetárias
(SANTOS, 2008).
De acordo com Goldman (2008), importar energia da Rússia tornou-se
atrativo para países que queriam diminuir sua dependência do Oriente Médio.
Com relação aos países europeus - a Rússia, que se encontra no mesmo
continente - seria mais vantajoso transportar o gás e o petróleo através de
gasodutos e oleodutos, trem ou estradas. Ou seja, o transporte seria mais curto
e menos vulnerável ao terrorismo, aos desmandos da OPEP e também a
embargos políticos como o que a Guerra de Yom Kippur causou.
2
Tratado de não agressão assinado pela Alemanha e pela URSS em 1939.
3
Conflito militar entre uma coalizão de Estados Árabes liberada por Egito e Síria contra Israel.
4
O conflito entre árabes e israelenses, marcados pela Guerra dos Seis Dias, em 1967, e pela Guerra do
Yom Kippur, em 1973, em que os árabes sofreram derrotas e humilhações indeléveis, foi o principal fator
que fez do petróleo uma arma econômica. Para pressionar os Estados Unidos e a Europa, que apoiaram
Israel nos conflitos, os árabes uniram-se, reduzindo a produção do petróleo, forçando o aumento drástico
no preço do barril, originando a maior crise do petróleo, que afetou toda a economia mundial. A Europa e
o Japão foram os que mais sofreram, sendo obrigados a racionar energia. Os Estados Unidos travaram o
consumo e investiu nas suas reservas. Os países em desenvolvimento como o Brasil, foram os mais
afetados, pois o encarecimento desta fonte de energia gerou um desequilíbrio nas suas frágeis economias.
5
A OPEP é uma organização que foi criada em 1960, que tem como objetivo coordenar de maneira
centralizada a política petrolífera dos países membros, centralizando a administração da atividade,
controlando preço, volume de produção e estabelecendo pressões no mercado - pode restringir a oferta de
petróleo no mercado internacional e impulsionar os preços.
3
A construção do gasoduto que ligava a URSS à Europa foi concluída em
1985. A partir deste momento, os países da Europa Ocidental passaram a
utilizar gás importado da URSS em suas casas e indústrias. Este
empreendimento envolvia riscos geopolíticos, pois caso ocorresse algum
problema que cortasse o fluxo de gás, isso seria perturbador, mas nem por isso
os países da Europa, como a Alemanha, deixaram de continuar com o projeto
(SANTOS, 2008).
Ainda em 1985, os EUA pressionaram a Arábia Saudita para aumentar a
produção e exportação de petróleo. Nessa época, a URSS produzia mais
petróleo que os EUA e, além disso, era o maior produtor mundial deste
hidrocarboneto (GOLDMAN, 2008, SANTOS, 2008).
De acordo com Goldman (2008), o aumento da produção e exportação de
petróleo da Arábia Saudita faria com que os preços caíssem e isso beneficiaria
a economia americana, porém prejudicaria a economia soviética. Esse período
na história coincidiu com a subida de Gorbachev ao poder (1985 - 1991), este
que teve de enfrentar a queda dos preços do barril de petróleo que desceram
para metade do preço do ano interior, e em 1988, o preço chegou a
US$25/barril.
A queda dos preços do barril de petróleo custou à URSS 20 bilhões de
dólares por ano. Isso desestabilizou a URSS e foi um dos fatores que
contribuíram para o fim do sistema socialista do país (GOLDMAN, 2008).
Nos anos finais da URSS, Gorbatchev, o último presidente da União
Soviética, havia iniciado um processo que buscava modernizar e incitar o
crescimento do país. Suas políticas de reestruturação (perestroika), aceleração
(uskorenie) e abertura (glasnost), que tinham como objetivo transformar a
política e desenvolver a economia, tanto interna quanto externamente, não
obtiveram sucesso na hora de modificar práticas que estavam profundamente
enraizadas, e isso levou a um distanciamento dos objetivos iniciais. De acordo
com Segrillo (2007), foram estas políticas que influenciaram as transformações
e moldaram as condições para o nascimento da Federação Russa.
Gorbachev, segundo Volkogonov (2008), queria reestruturar tudo sem
tocar nas fundações socialistas da propriedade do estado e dos objetivos do
regime comunista, porém isso não aconteceu e Gorbachev se tornou o
4
iniciador de um dos maiores movimentos reformistas do século, onde se iniciou
um processo de reformas democráticas e acabou perdendo o controle sobre
elas, causando a desintegração do sistema comunista.
5
houve uma procura de integração em instituições ocidentais (FREIRE, 2009,
TEIXEIRA, 2011).
E para se enquadrar neste cenário internacional capitalista, a política
externa russa em relação ao Ocidente foi pautada pela cooperação
internacional e priorizava temas não militares. (HAAS, 2010).
A partir desta decisão, a Rússia passou a cooperar com os países da
União Europeia (UE), com isso, em 1994, assinou o Acordo de Parceria e
Cooperação6 entre a UE e as antigas repúblicas da URSS; no ano seguinte,
entrou no projeto Parceria para a Paz7 da Organização do Tratado do Atlântico
Norte8 (OTAN); em 1996, solicitou a participação no Conselho da Europa9 e,
também, aproximou suas relações com os EUA (FREIRE, 2008).
A ajuda europeia tinha como objetivo auxiliar na recuperação e
desenvolvimento econômico russo. A ideia era de que, ao ajudar a Rússia, que
sofreria com transformações e reformas internas, a UE condicionaria sua
expansão até as fronteiras russas (ALMEIDA, 2008).
A relação da Rússia com a UE tem importância para ambas, porém seus
interesses divergem, como, por exemplo, o conceito de democracia 10 ou a
concepção do que é a soberania do Estado. Nota-se que a integração
regional11 diverge, pois a Rússia acredita que os Estados devem ser
absolutamente autônomos; o nacionalismo russo tende a querer uma Europa
com Estados independentes onde às identidades nacionais se imponham as
identidades políticas. Já os países membros da UE, nações que durante
6
Este acordo visa consolidar a democracia e desenvolver a economia dos países membros através de uma
cooperação e de um diálogo político. Para a Rússia, o acordo visa também criar condições para, no futuro,
instituir-se uma zona de comércio livre. (EUROPA - Sínteses da Legislação da UE).
7
Criada em 1994, é baseada em relações bilaterais individuais entre cada país parceiro e a OTAN, além
disso, cada país pode escolher a extensão da sua participação. Os membros da também CEI participam
desta parceria.
8
Criada no contexto da Guerra Fria tinha como objetivo defender seus Estados-membros de qualquer
ataque externo feito pelo bloco socialista, hoje, a OTAN tem como propósito assegurar a liberdade e a
segurança de seus membros através de meios políticos e militares (NATO, 2013).
9
Organização Internacional criada em 1949, que tem como propósito a defesa dos direitos humanos,
desenvolvimento democrático e a estabilidade político-social na Europa. A Rússia se tornou membro em
1996.
10
Regime de governo em que o poder de tomar as decisões políticas está nas mãos dos cidadãos, que
através do voto, elegem um representante. Na União Europeia, os Estados-membros permitem grande
interação dos cidadãos com as instituições. Já na Rússia, a democracia não é plena, pois o país possui um
governo autoritário.
11
Integração regional é um processo que implica medidas destinadas à abolição de discriminações entre
unidades econômicas de diferentes Estados, podendo corresponder à ausência de várias formas de
discriminação entre economias nacionais. (BALASSA, 1964)
6
séculos lutaram por sua independência, abriram mão de parte de sua
soberania para ingressarem em uma integração, adotando medidas
econômicas, políticas e sociais estabelecidas por outros países (BULAHMAH,
2006; TRENIN, 2007).
No entanto, Freire (2009), afirma que a ajuda do Ocidente, que deveria
trazer benefícios, chegou tarde e revelou-se insuficiente e isso gerou um
sentimento antiocidental na Rússia, onde grupos nacionalistas e comunistas
não queriam a ingerência ocidental nos assuntos russos, desta maneira, a
Rússia passou a utilizar uma política mais interventiva em relação aos países
da UE, ou seja, a vizinhança tornou-se foco de atenção da Rússia, o que se
mantém até hoje.
Ademais, esse apoio não correspondia aos interesses russos, pois a
Rússia tinha preferência em consolidar o domínio de seus recursos naturais e
atrair investimento direto estrangeiro. Este apoio que demorou a acontecer,
ainda possuía condições12 que a Rússia não estava disposta a ceder, como dar
acesso a seus oleodutos e gasodutos a outros países, pontuados na Carta
Europeia de Energia13. No âmbito geopolítico, a Rússia se contrapôs às ações 14
da OTAN e, também, a sua expansão em direção aos países do leste europeu
(HAAS, 2010; MEDEIROS, 2011; KRAMER, 2007).
Devido à falha da relação com a UE e aos baixos benefícios que esta
relação trouxe, Yeltsin, em 1993, focou a atenção da Rússia no antigo espaço
de influência soviética, onde estes países tornaram-se parte da agenda de
política externa russa. Além do mais, a Rússia tornou-se responsável pela
criação de um novo sistema de relações positivas com estes novos Estados
(FREIRE, 2009).
"A Federação Russa, apesar da crise que atravessa, permanece
uma grande potência em termos do seu potencial, da sua influência
12
Mesmo a Rússia tendo assinado a Carta Europeia da Energia, não a ratificou, pois teria que dar acesso
de outros países em seus oleodutos e gasodutos e isso não era do interesse das autoridades russas
(DEMPSEY, 2006).
13
A Carta Europeia de Energia cria um quadro de cooperação internacional entre os países da Europa e
outros países industrializados com o objetivo de desenvolver o potencial energético dos países da Europa
Central e Oriental e garantir a segurança do abastecimento de energia da União Europeia, promovendo as
políticas de eficiência energética compatíveis com o desenvolvimento sustentável e o incentivo da
cooperação no domínio da eficácia energética. (EUROPA - Sínteses da Legislação da UE).
14
Rússia se contrapôs a intervenção da OTAN na Guerra da Bósnia em 1995, em Kosovo em 1999 e
também foi contra o direito garantido pela OTAN de assegurar a segurança na região Europeia. (HAAS,
2010; NATO, 2012).
7
no curso dos acontecimentos mundiais e da responsabilidade que
assume como resultado disso. É responsável não só pela nova
ordem mundial que emergiu após o colapso do campo socialista,
mas especialmente pela criação de um novo sistema de relações
positivas entre os estados que faziam parte da União Soviética,
oferecendo a garantia de estabilidade nestas relações." Foreign
Policy Concept, Russian Federation, 1993.
17
O preço do petróleo no mercado internacional subiu devido a recuperação da Europa e dos EUA e pela
maior procura de petróleo e gás na Índia e China (GOLDMAN, 2008).
10
a economia capitalista russa continuava desregulada e politicamente
subordinada.
Com o intuito de melhorar suas condições e graças ao crescimento de
sua economia gerados pelo aumento da demanda de petróleo no mercado
internacional, a Rússia mudou sua postura no Sistema Internacional
(MEDEIROS, 2011).
Nos anos 2000, com a entrada de Putin na presidência, de acordo com
Haas (2010), muda-se o poder - que deixa de ser ideológico e passa a ser
nacionalista - e retoma-se o projeto nacional de potência do país, que faz com
que a economia russa se torne regulada (MEDEIROS, 2011).
20
Poder Vertical: Putin sancionou um decreto que dividiu as 89 (atualmente são 83 subdivisões)
subdivisões da Rússia em sete distritos. Cada distrito é comandado por um representante nomeado pelo
próprio Presidente. Este poder tem o intuito de facilitar a administração federal.
12
Figura 2 - Produto Interno Bruno da Rússia de 2004 a 2012
Pelo fato de os hidrocarbonetos serem tão importantes para a economia
do país, a Rússia foi intensificando e desenvolvendo sua rede de oleodutos e
gasodutos com o objetivo de aumentar seu poder na região (TEIXEIRA, 2011).
Putin redefiniu os pilares da política externa russa e no mesmo ano em
que chegou ao poder, foi publicado o Conceito da Política Externa da
Federação Russa21, que pontuava quais eram as principais áreas de interesse
dessa nova Rússia. Além da defesa dos interesses geopolíticos, este
documento discorre sobre os principais objetivos22 do país, sendo eles voltados
para um bom funcionamento da economia russa. (NYGREN, 2008,
SHEVTSOVA, 2007).
Segundo Segrillo (2007), o crescimento obtido por Putin durante seu
governo ainda não representa uma melhoria acima do nível da URSS, é
apenas uma recuperação do que foi perdido na troca do regime socialista para
o capitalista.
21
O Conceito da Política Externa da Federação Russa é um sistema de percepções sobre o conteúdo,
princípios e diretrizes básicas da política externa do país, sua base é composta pela Constituição Federal,
pelas leis federais, princípios e normas do direito internacional, tratados internacionais firmados, atos
normativos jurídicos que regem as ações dos órgãos federais russos na área da política externa, concepção
de segurança nacional, doutrina militar e outros documentos análogos (CER-UNB).
22
Os objetivos do Conceito da Política Externa da Federação Russa são a criação de condições externas
que favorecem o desenvolvimento russo, a formação de uma zona de boa vizinhança em torno de suas
fronteiras, com o intuito de prevenir tensões e conflitos na região e também a utilização de mecanismos
coletivos para resolver conflitos no Sistema Internacional (RUSSIA, 2000).
13
Para Haas (2010), a cooperação econômica foi o foco principal da política
externa de Putin, pois este acreditava que uma condição econômica aceitável,
ajudaria na criação de uma boa política internacional. Desta maneira, Putin
priorizou uma relação com a UE para impulsionar sua economia e como
resultado houve um aumento da relação comercial entre UE e Rússia.
Democracia soberana é como se intitula o sistema político russo. Esse
conceito foi criado pelo vice-primeiro-ministro russo, Vladislav Surkov23, pois a
Rússia atua em consonância com seus objetivos, delimitando os métodos que
utilizará para alcançá-los, interna ou externamente, na base do interesse
nacional e não através de pressões externas que querem condicionar suas
condutas (MANKOFF, 2009).
De acordo com Freire (2009), a política externa da Rússia se assenta em
uma ordem interna estável de crescimento econômico, que é carregado pelos
rendimentos obtidos pela exportação de petróleo e gás. Estes hidrocarbonetos
deram à Rússia mais independência e autoconfiança do seu papel e lugar no
mundo.
Eles são os responsáveis pelo aumento das exportações russas e vêm
sustentando a economia desde a crise dos anos 90. E ainda hoje, durante o
governo de Putin, as exportações destes hidrocarbonetos continuam sendo o
motor de desenvolvimento da economia russa, sendo responsáveis por cerca
de 70% do crescimento industrial do país (SEGRILLO, 2007).
O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov afirma que: "a
política externa russa hoje é tal que, pela primeira vez na sua história, a Rússia
está começando a proteger o seu interesse nacional usando suas vantagens
comparativas [geopolítica energética]".
Portanto, a globalização, o aumento da demanda e alta dos preços no
mercado mundial fizeram com que a energia se tornasse o esteio da economia
russa e a ferramenta mais potente em sua política externa na década de 2000
(OLDBERG, 2010).
23
Vice-primeiro-ministro russo que criou o conceito de democracia soberana e foi o principal ideólogo do
regime Putin.
14
Medvedev foi nomeado vice-primeiro-ministro em 2005 e nessas
condições, foi escolhido por Putin para ser seu sucessor nas eleições
presidenciais de 2008 - pois na Rússia há uma lei que proíbe a execução de
três mandatos consecutivos (SEGRILLO, 2011).
Dmitri Medvedev assumiu a presidência da Rússia em 2008, esta que
depois de um período conturbado, agora possuía capacidade competitiva no
Sistema Internacional e estabilidade interna. Ao assumir a presidência, nomeou
o antigo presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, como seu Primeiro-
Ministro. E procurou desenvolver, durante seu governo, ideias de
modernização e de maior abertura e liberalização, pois tinha como objetivo
reformar o sistema político russo. Porém, suas declarações na política externa
se mantiveram cautelosas e ele pouco as mudou durante seu mandato.
(FREIRE, 2008; KRUMM, 2010; SIMÃO, 2008).
Contudo, por ter uma característica mais liberal na política externa,
Medvedev quis cultivar contatos com Estados do Ocidente, como os países da
UE, com o propósito de abrir e modernizar a Rússia.
Medvedev tinha como objetivo construir alianças de modernização
especiais com os principais parceiros russos - Alemanha, França, Itália, a UE
em geral e também os EUA, ou seja, queria criar uma forte parceria, em
especial com a UE, com isso, tentou passar uma imagem positiva da Rússia
para o mundo, a fim de atrair investimento direto estrangeiro (FIGUEIREDO,
2012).
Em um de seus discursos em 2010, Medvedev afirmou que é necessária
uma nova perspectiva na Rússia, ou seja, para ele era essencial assumir uma
abordagem analítica profunda na previsão das tendências do desenvolvimento,
tanto nas relações bilaterais quanto nas multilaterais.
Segundo Figueiredo (2012), o estilo conciliador de Medvedev
desempenhou um papel importante na definição da política externa russa com
maior proximidade com o Ocidente, mesmo tendo que enfrentar alguns
desafios durante seu governo, como o conflito com a Geórgia.
Em 2010, a Rússia sofreu com uma queda em seu PIB decorrente da
crise econômica de 2008, e com o intuito de desenvolver o país, Medvedev
abriu a Rússia ao capital estrangeiro. Além disso, utilizou uma abordagem
15
diferente no setor econômico onde diversificou investimentos e desenvolveu
outras áreas setoriais para diminuir a concentração excessiva nos recursos
energéticos, e, consequentemente, diminuir a vulnerabilidade e dependência
russa neste setor (FREIRE, 2009; SEGRILLO, 2011).
De acordo com Freire (2009), ao investir em novos setores, Medvedev fez
ajustes estruturais com o intuito de evitar flutuações inesperadas nos preços de
gás e petróleo. A partir desta decisão, a economia russa tornou-se mais sólida
e a política externa ficou mais afirmativa e efetiva.
Após o fim do governo de Medvedev, Putin sai vitorioso das eleições
presidenciais de 2012 e, novamente, se torna presidente, com o mandato
válido até 2018.
16
produtores poderão usar seus hidrocarbonetos para fins estratégicos
(FRAZÃO, 2011; SILVA, 2005).
Ribeiro (2011), afirma que o petróleo e o carvão, matérias-primas
utilizadas para a produção de energia, estão em declínio; a energia nuclear é
considerada perigosa; e a energia gerada por hidroelétricas prejudicam o meio
ambiente, com isso, o gás natural é um substituto seguro para a oferta perdida.
O gás é considerado uma fonte de energia correta, pois ele não contribui
para o efeito estufa como outros combustíveis fósseis. Ele é um hidrocarboneto
seguro que tem capacidade de atender a demanda de energia da Europa e do
mundo (RIBEIRO, 2011).
A demanda por gás e petróleo é alta e isso os torna um recurso natural
estratégico. Quem possui esses combustíveis fósseis em um mundo onde
existem poucos países exportadores destas matérias-primas possui um recurso
estratégico que auxilia no aumento do poder perante o Sistema Internacional,
pois os consumidores de gás e petróleo acabam recorrendo à importação
(FRAZÃO, 2011).
O petróleo dá à Rússia menos poder econômico que o gás natural. Por
ser uma commodity, pode ser comprado em outro mercado, como o Oriente
Médio. Desta maneira, o recurso energético analisado neste trabalho será o
gás, pois, diferentemente do petróleo, não pode ser importado facilmente de
outra região, pois seu transporte é custoso e depende da construção de
gasodutos. E caso o fluxo seja interrompido, não há como substituir este
hidrocarboneto, sendo assim, o gás é o que mais dá poder a Rússia.
(FRAZÃO, 2011; NYE, 2006; SCHWARZ, 2007).
De acordo com Silva (2007), a distribuição de gás e petróleo no mundo é
assimétrica, assim como sua concentração nas zonas geográficas. E segundo
dados obtidos pela BP Statistical Review (2011), a Rússia possui uma reserva
comprovada de 44,6 trilhões de metros cúbicos (m³), sendo o maior detentor de
gás do mundo.
17
Fonte: BP Statistical Review
19
As funções adquiridas, pela Rússia, da antiga URSS, como o assento
permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) unido a seu
poder nuclear, são características que mantém a classificação da Rússia de um
grande ator global do século XXI, com capacidade de influenciar na agenda
internacional (BACHKTOV, 2011; FRAZÃO, 2011).
Além do poderio militar que tem ajudado a Rússia a manter seus
interesses políticos e econômicos, o segmento energético passou a ser um
instrumento de poder russo, pois contribui para a influência russa no Sistema
Internacional. Tanto é que esses recursos são considerados uma questão de
segurança nacional, pois caso haja algum projeto que possa criar outros meios
de obter petróleo e gás na Europa, estes serão considerados uma ameaça à
segurança nacional russa (FRAZÃO, 2011).
O fortalecimento de exportação russa foi possível graças à elevação dos
níveis de preços de gás e petróleo arrecadados pelo aumento da demanda
global por essas commodities, que, de acordo com Cavallari (2008), fizeram
com que a Rússia obtivesse 31% das exportações da renda do petróleo em
2006, antes, em 1999, essa renda era de 22%.
Este crescimento ocorreu pelo fato de a demanda global por energia no
Sistema Internacional exercer um papel crucial na dinâmica da geopolítica
mundial. Países produtores de recursos fósseis, como gás e petróleo, utilizam
destes mecanismos para praticar sua política externa, e a Rússia não hesita
em utilizar a energia como uma arma política.
Desta maneira, Putin utilizou estes hidrocarbonetos, sabendo que a
economia russa depende da economia mundial. Os ganhos com as
exportações de petróleo e gás e também produtos oriundos do petróleo
cresceram de US$ 28 bilhões em 1998 para US$ 217 bilhões em 2007.
(OLIKER, 2009; STUERMER, 2008).
24
Catástrofe de Fukushima é decorrente de um acidente nuclear que aconteceu na cidade de Fukushima
no Japão, em 2011, onde um terremoto provocou um maremoto que atingiu a central nuclear de
Fukushima e danificou seu sistema de arrefecimento, obrigando a retirada da população em um raio de 20
km (DN GLOBO, 2011),
25
A Rússia bloqueia a demanda criando acordos bilaterais com os com os países da UE ao invés de
multilaterais.
22
energia, consolidando o fornecimento de petróleo e gás através da assinatura
de contratos de longo prazo com os importadores, assegurando o controle da
infraestrutura energética na UE.
O Kremlin26 tem como política no setor energético a monopolização do
mercado, criando um cartel de gás parecido com a OPEP, desta maneira o
crescimento da Gazprom27 foi o que ajudou a Rússia a se reerguer após um
período conturbado ao final da URSS (COHEN, 2007; STUERMER, 2008).
Segundo Daehnhardt e Freire (2011), a dependência energética da
Alemanha é preocupante, pois são eles os principais importadores mundiais de
gás natural. E uma das preocupações da Alemanha, do ponto de vista
estratégico, é a segurança no abastecimento de combustíveis fósseis para
consumo, além da procura por sustentabilidade e competitividade28.
Nas figuras a seguir é possível ver as importações e exportações de
bilhões de m³ de gás na Europa em 2012, de acordo com dados obtidos pela
BP Statistical Review (2012).
26
Sede do governo russo em Moscou.
27
A Gazprom está a serviço do Kremlin, pois suas políticas e seus preços são determinados pelo governo
russo (STUERMER, 2008).
28
Os objetivos estratégicos de sustentabilidade e vulnerabilidade estão em pauta pelo fato de que tanto a
Alemanha quanto a União Europeia procuram um sistema energético que não necessite de combustíveis
fósseis e que possua infraestruturas flexíveis com o intuito de evitar crises de abastecimento e também
para diminuir a vulnerabilidade destes países.
23
Os níveis de exportação de gás da Rússia atingiram em 2012, 195,9
bilhões de m³.
29
Os outros países com quem a Gazprom negociou contrato de fornecimento de longo prazo foram
Áustria, França e Itália (COHEN, 2007).
24
Além de utilizar seus recursos energéticos como arma política contra
países da UE, como a Alemanha, a Rússia faz o mesmo com os países da CEI,
como Letônia e Lituânia, onde chegou a cortar o fornecimento de gás
(OLDBERG, 2010).
Mielniczuk (2006), afirma que algumas disputas fazem com que as
antigas repúblicas soviéticas vejam a Rússia como uma sucessora da URSS
devido à opressão. Por exemplo, o conflito da Rússia com a Bielo-Rússia tem
caráter econômico, pois a maior parte do gás e petróleo consumidos por esta
antiga república soviética é fornecido pela Rússia. A Bielo-Rússia é um país em
precárias condições econômicas e isso impede que o país pague suas dívidas,
porém, essas divergências econômicas não afetam a cooperação em outras
áreas (BURANT, 1995).
Já a relação com a Ucrânia é mais complexa, pois quase todas as
disputas entre ambos geram um ambiente conflituoso, e um dos principais
problemas entre ambos também é econômico. Cerca de 70% do petróleo e
90% do gás consumidos na Ucrânia são importados da Rússia (como pode ser
visto na Figura 4) e a Ucrânia nem sempre consegue efetuar os pagamentos
em dia, com isso a Rússia triunfa nas negociações que envolvem outras
disputas com o país. E caso a Ucrânia não aceite o que for imposto pela
Rússia, esta ameaça cortar o fornecimento de energia (BURANTE, 1995).
O maior medo da Ucrânia é que o país fique em caos econômico caso
haja a interrupção do fornecimento de energia. Desta forma, a Ucrânia tenta
dissuadir a Rússia através de sua localização geográfica, ou seja, ela aumenta
a taxa de passagem do petróleo e gás russo, que passam por seu território
através de dutos e tem como destino a Europa Ocidental. Através dessa
medida, a Ucrânia consegue dialogar com a Rússia, porém não chega a
solucionar o problema (BALMACEDA, 1998, SMOLANSKI, 1995).
Após o corte de abastecimento de gás que a Rússia fez à Ucrânia 30,
Putin, sabendo que a política internacional é uma luta pelo poder, mostrou ao
mundo a precisão do poder russo no momento em que cortou o abastecimento
30
A Rússia queria aumentar o preço do gás natural que vendia a Ucrânia, pois o preço do mercado
internacional havia aumentado nos últimos dois anos, porém a Ucrânia recusou o aumento de quatro
vezes no preço subsidiado, por isso a Rússia cortou o abastecimento de gás, afetando além da Ucrânia os
Estados-membros da União Europeia, pois os gasodutos que abastecem a UE passam pela Ucrânia (NYE,
2006).
25
ucraniano de gás. A partir deste momento, a Rússia cruzou um novo limiar,
pois as ameaças à Ucrânia diminuíram a reputação russa como fornecedora
fiel da UE, fazendo com que estes países - principalmente a Alemanha que
para diminuir sua vulnerabilidade a fim de prevenir outro corte e para que
ficasse menos suscetível à utilização da energia como arma política -
explorassem novas fontes de energia (COHEN, 2007; FRAZÃO, 2011; DAL RI
JÚNIOR; OLIVEIRA, 2003; MOROZOV, 2008).
O corte de abastecimento de gás a Ucrânia foi um aviso à UE, pois com
estes instrumentos energéticos de poder, Putin tem como objetivo restabelecer
o papel da Rússia como grande potência, por isso quer que os países
membros da UE fiquem cada vez mais dependentes das reservas energéticas
russas (SILVA, 2007).
Outro fator da doutrina Putin31 é a de querer dominar totalmente a rede de
distribuição de gasodutos e oleodutos para que possa utilizar estes
instrumentos como arma política, aumentando ainda mais a dependência da
Alemanha e dos outros países da UE. Por isso que a Rússia vem agindo de
forma agressiva no controle dos dutos que abastecem os países europeus e é
totalmente contra os projetos da criação de dutos alternativos que não
possuem ligações com a Rússia, como o oleoduto BTC e o gasoduto Baku-
Erzurum (CAMERON, 2012; COHEN, 2007; FRAZÃO, 2011).
Ou seja, a política externa russa utiliza dos recursos energéticos que o
território possui para obter crescimento econômico e uma maior influência
sobre os países dependentes das exportações na UE. Com isso, a fim de
proteger este seu mercado, a Rússia, utiliza a própria energia como uma arma
política, pois a é ela que ajuda a Rússia a ter mais voz no Sistema
Internacional.
2.2.1 - Os dutos
Outro fator que aumenta de forma considerável o poder de um país
produtor é o transporte do gás, que é um combustível de difícil manipulação,
31
A Doutrina Putin é caracterizada pelo objetivo do presidente russo de querer a recuperação dos ativos
econômicos, políticos e geoestratégicos perdidos pela URSS em 1991 (ARON, 2013).
26
sendo necessária a construção de gasodutos do local de origem até o local de
consumo (FRAZÃO, 2011).
Como visto anteriormente, o mercado europeu importa gás,
principalmente, da Rússia. A produção de gás caminha lado a lado com a
demanda, afirma Ribeiro (2011), e esta só é aumentada se algum consumidor
demandar mais gás. O consumo de gás na Europa vem crescendo a cada ano,
de 1975 até 2009, este aumentou 38,71%, e a tendência é que estas
importações se intensifiquem.
A dependência energética dos países importadores pode ser utilizada
pela Rússia de várias maneiras para que esta obtenha ganhos políticos, como,
por exemplo, reduzir ou interromper o fornecimento de gás, alegando
problemas técnicos; alterar a política de preços negociados anteriormente e
também de dívidas. (OLDBERG, 2010).
Oldberg (2010), afirma que o preço do gás está ligado aos dutos, estes
são regulados por acordos bilaterais - preferência russa. A alteração do preço
obtém melhores resultados na busca por ganhos políticos, pois, mesmo
havendo a interdependência entre importadores e exportador, os consumidores
são mais vulneráveis do que os fornecedores quando o preço de um produto
aumenta.
De acordo com Cohen (2007), ao ter a posse destas infraestruturas, a
Rússia controla a oferta, a venda e a distribuição de gás natural, além do mais,
o país está comprando infraestruturas de energia, como oleodutos, refinarias,
redes elétricas e portos. Deste jeito, caso algum país se recuse a fazer algo
que a Rússia determinar, há a ameaça de cortar o fornecimento de energia dos
países a fim de obter o que deseja, como aconteceu com a Letônia e Lituânia
em 200232.
A Rússia está tentando diminuir a participação dos países do Leste
Europeu no transporte de recursos energéticos para a UE, construindo dutos
que não tenham como rota esses países, a fim de aumentar seu poder sobre
os países membros da UE (CAMERON, 2012; COHEN, 2007; FRAZÃO, 2011).
32
Letônia e Lituânia sofrem ameaça de corte de fornecimento, pois se recusaram a vender suas
participações na empresa estatal russa Transneft, impedindo que a Rússia ganhasse o controle da refinaria
e Mazeikiu Nafta na Lituânia e no terminal de exportação de petróleo em Ventspils, na Letônia. Após este
ocorrido, Moscou cortou drasticamente o fornecimento de petróleo a Letônia, que foi forçada a obter
petróleo por via férrea (COHEN, 2007).
27
Além disso, a Rússia quer evitar que os países de trânsito exerçam
pressões, como, por exemplo, aumentar o preço das taxas oriundas da cessão
do território para a passagem dos gasodutos ou impedir a transmissão da
passagem de gás pelos dutos (OLDBERG, 2010).
A extensa rede de dutos russa é mais confiável e segura se comparada
às outras opções, como o Oriente Médio e países da África e Ásia, que
possuem caos internamente, e, além disso, são carentes em tecnologia e
infraestrutura (PEDONE, 2013; PEREIRA, 2013).
Mas mesmo assim, de acordo com Baran (2007), para diminuir a
dependência europeia da energia russa, o Ocidente vem tentando diversificar
suas fontes de gás através da construção de dutos que não passem pela
Rússia. Essa manobra diminui também a influência russa na região.
Através dessa mesma tentativa, os EUA em conformidade com países
europeus, tentam reformar as antigas repúblicas soviéticas com o intuito de
enfraquecer o monopólio de gás russo e dar independência econômica e
política a eles, que sofrem grandes pressões de Moscou (BARAN, 2007).
A primeira rota a ser planejada que exclui a Rússia como rota, foi o BTC,
que leva petróleo do Mar Cáspio e passa por três cidades, que dão o nome ao
gasoduto, sendo elas Baku, Tbilisi e Ceyhan, que se encontram no Azerbaijão,
Geórgia e Turquia, respectivamente. O Cazaquistão também se juntou ao
projeto e tem a capacidade de fornecer 75% da capacidade total do oleoduto
até 2016, o que enfraquecerá a posição da Rússia. Outro gasoduto que
seguiria a mesma rota que o BTC, mas terminaria na Turquia, na cidade de
Erzurum, é o BTE (BARAN, 2007).
28
Fonte: Wikimedia Commons
29
De acordo com Paillard (2010), esse projeto também prejudicaria a
Rússia e diminuiria sua influência na área, porém, esse projeto sofre múltiplas
resistências, pois os investidores temem por conflitos geopolíticos, como a
Guerra da Geórgia em 2008 (REIS, 2010).
30
Para o projeto de diversificação de rotas de gás, foi criado o South
Stream, concorrente ao Nabucco, que ligará o Mar Cáspio e a Sibéria a Europa
do Sul e do Leste, passando pela Bulgária, Sérvia, Hungria, Áustria e Itália
(MAZAT, 2012; SERRANO, 2012).
De acordo com Paillard (2010), a Rússia afirma que o projeto Nabucco
não possui gás suficiente para abastecê-lo, e para que isso acontecesse, seria
necessário parte do gás iraniano, o que é improvável no curto prazo, devido a
instabilidade política que a região sofre. Com isso, a Rússia assegura que o
South Strem é mais seguro e está pronto para ser entregue à Europa.
Segundo a Gazprom (2011), o projeto South Stream é destinado a
fortalecer a segurança energética europeia e também diversificará as rotas
naturais de fornecimento de gás da Rússia.
A Rússia já assinou acordos com Sérvia e Bulgária, que incluem o
controle russo na maior parte dos ativos energéticos destes países. Contudo, o
destino do South Strem não está totalmente definido, pois a Rússia - devido as
suas negociações bilaterais com os países dos Bálcãs - muda constantemente
o trajeto do gasoduto.
Recentemente, a Rússia e a Turquia fizeram um acordo onde os turcos
passaram a permitir que os dutos russos atravessassem sua zona econômica
do Mar Negro, tornando possível o fornecimento de petróleo de gás à Europa
até o Mediterrâneo.
31
Fonte: Gazprom
32
Fonte: Gazprom
33
Fonte: Gazprom
34
3.1. - Rússia e os países da Comunidade dos Estados Independentes
Com o fim da URSS houve o desmembramento do território, que se
dividiu em 15 novos Estados. Após esse desmantelamento, no mesmo ano,
houve a fundação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), e a
Rússia encontrava-se neste grupo (ADAM, 2011; FREIRE, 2009).
De acordo com Adam (2011), logo após o desmembramento, a população
russa estava esperançosa, pois acreditava que ao se separar das antigas
repúblicas soviéticas, a Rússia conseguiria avançar, pois estava livre da
responsabilidade de subsidiar economias atrasadas.
A economia que unificava estes países no período soviético foi destruída
a partir do momento em que a URSS deixou de existir e isso fez com que
vários conflitos, relacionados a quem dominaria os campos de hidrocarbonetos
da região, acontecessem. Com isso, a Rússia se viu obrigada a se adaptar a
este novo contorno geopolítico. (RIBEIRO, 2011; OLIVEIRA, 2013).
A CEI foi projetada em 1991, pela Rússia, Ucrânia e Bielorússia, para ser
a Comunidade dos Estados Eslavos. Porém, diante dos pedidos de outras
repúblicas soviéticas que haviam declarado suas independências para
ingressarem na organização, ela aumentou e teve seu nome modificado
(ADAM, 2011).
Seus signatários eram: Rússia, Ucrânia, Bielorússia, Cazaquistão,
Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão, Uzbequistão, Moldávia, Azerbaijão e
Armênia. Os países bálticos (Lituânia, Estônia e Letônia), junto com a Geórgia,
ficaram de fora do acordo (ADAM, 2011).
Adam (2011), afirma que o objetivo da CEI era integrar economicamente
as regiões da antiga URSS a partir de um mercado comum, porém, houve uma
grande resistência por parte das elites destes novos Estados que buscavam
garantir sua independência. Ou seja, eles eram guiados por seu nacionalismo,
queriam ser independentes e eram totalmente contra a Rússia e os russos que
viviam em seus territórios (OLIVEIRA, 2013).
Na visão russa, a organização deste grupo se daria nos moldes da URSS,
onde a Rússia manteria sua influência de poder sobre estes países. Contudo,
durante seu governo, Yeltsin quis firmar laços com os países ocidentais e isso
impactou regionalmente, pois o objetivo de passar a imagem da Rússia, ao
35
sistema internacional, como uma potência normal, acabou minando as
intenções imperialistas que sempre estiveram presentes na história do país
(ADAM, 2011).
Desta forma, as novas repúblicas se estruturaram, seguiram seu caminho,
estabelecendo forças armadas e políticas próprias afastando-se, assim, do
controle direto russo (HAAS, 2010; NYGREN, 2008).
A Rússia deixou de ser um membro ativo na CEI ao invés de retomar sua
posição regional, integrando e evitando que a instabilidade tomasse conta da
região, sem demonstrar uma intenção imperialista. Essa atitude fez com que
nenhuma resolução concreta e efetiva a partir da CEI, fosse realizada (ADAM,
2011).
A falta de sucesso da CEI na primeira metade da década de 90, decorreu
das aspirações russas, que acreditavam que o foco no Ocidente traria maiores
benefícios (NASCIMENTO, 2011).
Ao entrar no G-7, que se tornou G-8 33, a Rússia ganhou mais prestígio
internacional e maior poder de barganha em sua região, principalmente após
se unir aos EUA na luta contra o terrorismo (OLIVEIRA, 2013).
De acordo com Ribeiro (2011), quando Putin se tornou presidente da
Federação Russa pela primeira vez, o cenário econômico do país estava
favorável. Com isso, o presidente pôs em prática aquilo que defendeu em seu
doutorado: fazer com que a Rússia voltasse a exercer influência política e
econômica, por intermédio da retomada do controle sobre os recursos naturais
do país e, também, criar parcerias entre empresas com interesses alinhados ao
interesse nacional russo.
Com isso, a Rússia demonstrou que poderia elaborar um novo modelo de
reintegração no espaço da CEI, aproximando-se de seus vizinhos, regulando
os conflitos e conciliando esses movimentos com a defesa de seus interesses
nacionais. A partir dessas atitudes, a Rússia ganhou a fama de imperialista, o
que dificultou posteriormente a negociação com alguns dos Estados
Independentes, como a Bielo-Rússia, a Geórgia e a Ucrânia (OLIVEIRA, 2013).
33
G-8 é um grupo internacional que reúne os oito países mais ricos e influentes do mundo, sendo eles os
EUA, Japão, Alemanha, Canadá, França, Itália, Reino Unido e Rússia. A Rússia foi convidada para
participar do grupo, até então G-7, em 1997.
36
Além disso, Putin tinha como objetivo da política externa, retomar a
condição de grande potência da Rússia no Sistema Internacional, ou seja,
queria reconquistar o status de potência fundamental e indispensável da
Rússia no jogo político internacional, pois, de acordo com a expressão russa
derzhavnost, os russos tem a sensação de que a Rússia é, por natureza, uma
grande potência e sua percepção está relacionada a uma preocupação
ostensiva quanto esta condição (LEGVOLD, 2007).
De acordo com Adam (2011), um sentimento existente entre as lideranças
russas é a de que uma grande potência precisa ter uma zona de influência para
fazer com que seus interesses prevaleçam.
Há uma explicação histórica para este sentimento. Em seu passado, a
Rússia sofrera com guerras e invasões vindas de todos os lados, com isso, os
russos passaram a acreditar que era necessário ter uma esfera de proteção
que ultrapassasse as fronteiras do país, a fim de manter a segurança interna
(ADAM, 2011).
Durante os anos da União Soviética, as repúblicas socialistas cumpriram
essa função e, atualmente, a Rússia tenta ter domínio e/ou influência sobre
estes mesmos países, o que gera maior estabilidade social na Rússia
(TRENIN, 2001).
38
Turcomenistão permaneceu neutro, mas nem por isso deixou de se aproximar
dos países ocidentais com o intuito de desenvolver seu comércio.
O Uzbequistão foi o único país que tentou contrariar as relações com a
Rússia, e o Tajiquistão não deixou de sofrer com a influência russa, pois
quando sofreram com uma guerra civil, quem a finalizou foram as tropas
russas, com isso, o governo do Tajiquistão teve que confiar sua estabilidade à
Rússia (ADAM, 2011).
Segundo Adam (2011), através da política externa multivetorial e a
oposição do Uzbequistão à Rússia, ficou mais fácil para as potências
ocidentais terem relações com os países da Ásia Central.
A falta de meios russos para ajudar os países da Ásia Central a
explorarem seus recursos energéticos durante a década de 90 somados ao
descaso do governo Yeltsin em relação a estes países que possuem uma
grande quantidade de recursos naturais, fez com que tanto os EUA quando UE
se relacionassem com estes países para ajudá-los a produzir e conduzir suas
riquezas em forma de recursos energéticos e levá-los ao comércio
internacional (ADAM, 2011).
Ao assumir o poder, Putin tentou recuperar a influência sobre esta região,
pois a Ásia Central possui uma grande relevância para os objetivos russos. O
controle desta região permitiria que a Rússia se fortalecesse como um elo entre
os continentes europeu e asiático (ADAM, 2011).
De acordo com Milov e Orcott (2007), reuniões recentes entre Putin e os
líderes da Ásia Central fez com que estes países chegassem à conclusão em
vários negócios que dão a Rússia maior poder sobre o petróleo e o gás da
região da Ásia Central. Contudo, essa relação ainda é definida pela incerteza,
pois a maneira que a Rússia age com os países da Ásia Central demonstra que
os russos querem manter seu monopólio sob os gasodutos que ligam essas
duas regiões.
Adam (2011), afirma que os recursos energéticos que a Ásia Central
possui em seu território constituem a principal disputa por influência na região
por parte das potências ocidentais e a Rússia.
Contudo, a Rússia tenta evitar de todas as maneiras a participação de
terceiros aos recursos da Ásia Central, pois é através do monopólio de gás da
39
Ásia Central que a Rússia avança no mercado internacional. Desta forma, a
Rússia tenta impedir as tentativas da Ásia Central de obter acesso aos
mercados europeus (MILOV, 2007; OLCOTT, 2007).
Ao utilizar essa estratégia que impede a relação entre Ásia Central e
Europa, a política externa russa levou instabilidade permanente nas relações
de energia no espaço pós-soviético onde todos os vizinhos da Rússia já
sofreram com o corte de abastecimento de energia, o que fez com que
levantassem dúvidas sobre a confiabilidade da Rússia como fornecedor de
hidrocarbonetos (MILOV, 2007; OLCOTT, 2007).
Milov e Olcott (2007) afirmam que, os países da Ásia Central estão
utilizando da influência obtida por seus recursos energéticos sobre a Rússia.
Com isso, muitas vezes, mostram relutância em conceder ao Kremlin acesso
aos hidrocarbonetos. Eles passaram a usar do desejo russo para obter
concessões e não sair totalmente prejudicados desta relação bilateral.
3.1.2.2. - Cáucaso
A sub-região do Cáucaso está localizada entre o Mar Negro e o Mar
Cáspio, além disso, é zona de passagem entre o sul da Rússia e o Oriente
Médio de um lado e a Europa e Ásia Central de outro. A região está no centro
das transações econômicas vindas da Ásia Central, por isso que essa região é
palco de diversas disputas desde o desmembramento da URSS. Além disso, o
Cáucaso possui uma das maiores reservas ainda não exploradas de gás e
petróleo (NOGUEIRA, 2006).
O Cáucaso é uma área de conflitos reais e potenciais desde o final da
URSS e é também a região em que a Rússia tem tido maiores dificuldades de
reestabelecer sua influência, e o interesse principal de Moscou nesta região é
também a questão energética (ADAM, 2011).
Esta sub-região é formada por três países, sendo eles: Armênia,
Azerbaijão e a Geórgia (ADAM, 2011).
A Armênia é o único país da região que é aliada a Rússia, e o
posicionamento de ambos nos problemas internacionais são similares (PINTO,
2012).
40
O Azerbaijão, a noroeste, tem ligação com o Mar Cáspio, e isso é de
grande interesse para a Rússia, pois este mar tem uma grande importância
estratégica. Desta forma, o Azerbaijão ganha uma atenção diferenciada por
outros países, devido as suas riquezas energéticas que se encontram nesta
área próxima ao Mar Cáspio, que é o maior mar interior do mundo (PINTO,
2012).
Devido ao descaso do governo Yeltsin com as novas repúblicas vizinhas,
o relacionamento com os países do Cáucaso também não tiveram um bom
início (ADAM, 2011).
Segundo Pinto (2012), o Azerbaijão, que tem uma relação ora próxima
com os EUA, ora próxima a Moscou, dependendo do tema, acabou tornando-
se parceiro estratégico da Turquia, onde conseguiu consolidar sua
independência e, ao mesmo tempo, tentava cortar os vínculos existentes com a
Rússia. Porém, por medo de uma reação negativa vinda de Moscou, não se
alinhou com a OTAN da mesma forma que fez a Geórgia.
34
A luta da Abkhazia pela independência da Geórgia, desde o fim da URSS, reduziu a economia
georgiana em ruínas. Em 1999, a Abkhazia declarou sua independência da Geórgia, porém a Geórgia
considera-a uma região separatista (BBC, 2013).
35
Em 2008, iniciou-se um conflito bélico entre a Ossétia do Sul, que foi apoiada pela Rússia, e a Geórgia,
apoiada pelos EUA. No mesmo ano, a Rússia reconheceu a independência das regiões separatistas da
Ossétia do Sul e da Abhkazia e pediu que outros Estados seguissem seu exemplo.
42
um canal que transporta os recursos energéticos russos para o mercado
europeu.
A Bielorrússia foi um dos países que permaneceram sobre a influência
russa e queria ter permanecido unificada à Rússia, contudo, mesmo não
conseguido a unificação, a relação com a Rússia é muito próxima, e a
economia entre os dois países é estreita, onde a Bielorrússia importa,
aproximadamente, 99% da energia que consome e paga bem abaixo do preço
de mercado (ADAM, 2011).
De acordo com Adam (2011), sem este subsídio, a economia bielorrussa
estaria fadada ao fracasso, pois o país revende a preços mais altos o gás que
recebe a preço baixo, para os países europeus. Desta forma, a Rússia utiliza a
dependência energética da Bielorrússia como um meio de receber apoio
político.
Já a Ucrânia, diferentemente da Bielorrússia, desejava a independência e
acreditava que logo que a obtivesse, se livraria do domínio russo e atingiria o
padrão semelhante a dos países da Europa Ocidental. Contudo, isso não
aconteceu, pois a Rússia tem grande interesse no território ucraniano, pois é
através dele que a Rússia consegue realizar seu objetivo de manutenção da
liderança russa na região e de maximização de poder global (ADAM, 2011).
De acordo com Brzezinski (1997), sem a Ucrânia, a Rússia não
conseguiria retomar seu poder imperial, e caso a Ucrânia conseguisse ser
independente, sem sofrem com nenhum domínio russo, a Rússia perderia as
riquezas naturais e a potencialidade econômica da Ucrânia, além disso,
prejudicaria também a posição russa no Mar Negro.
Setenta e três por cento do gás exportado pela Rússia para o mercado
europeu transita por gasodutos que passam pelo território ucraniano. Além do
mais, a maior parte do lucro obtido pela Rússia vem da exportação de seus
recursos energéticos para a Europa. Sem a Ucrânia, a Rússia não teria o poder
que tem hoje (ADAM, 2011).
Segundo Brzezinski (1997), a Rússia tem uma dependência em relação a
Ucrânia, pois é por este território que passam grande parte dos gasodutos que
transportam o gás russo para a Europa. A Rússia utiliza duas formas para
diminuir sua dependência da Ucrânia, sendo elas a compra de ações das
43
empresas ucranianas de transporte e produção de energia pelas empresas
estatais russas e a construção de gasodutos - Blue Stream e Nord Stream -
que levem os recursos energéticos russos para a Europa sem passar pelo
território ucraniano.
Mesma a Rússia tentando diminuir sua dependência da Ucrânia, ela não
quer perder sua influência sobre este país por questões geopolíticas, onde não
deixará as potências ocidentais se movimentarem em direção ao antigo espaço
soviético russo (ADAM, 2011).
44
45
EUA desde o fim da Guerra Fria quer diminuir o poder russo e
mesmo não possuindo quase nenhuma relação comercial com este
país, atua através de organismos (OTAN) ou através da busca de
fortalecimento de sua relação com países da Europa e/ou países-
membros da CEI. Por isso, desde então, os EUA tentam diminuir a
influência russa nesta região.
Rússia tenta de todas as formas ter uma relação especial com a
Alemanha, - crise. Rússia sabe que não conseguirá ter uma
influência sobre a Alemanha como tem sobre a Ucrânia, por
exemplo, mas vê com bons olhos uma parceria.
Países membros da CEI alinhados aos EUA prejudicam a Rússia -
construção de novos dutos que tirem a Rússia do comércio.
A implementação de países membros da CEI na UE - obrigada pelos
EUA com o intuito de diminuir a força da Rússia na região -, estes
que não possuíam economias sólidas, é um dos fatores que pode
46
ter favorecido a Crise Europeia? - Alemanha revoltada com isso
pode se voltar contra todos e se unir a Rússia.
1. Relação da Rússia com Alemanha
2. Relação da Rússia com a Ucrânia
3. Relação da Rússia com os antigos territórios soviéticos
4. Relação dos EUA com os antigos países da URSS para minar o
crescimento energético russo frente a UE
Como a Rússia pode crescer mais neste meio?
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Independentes no Início do Século XXI. Uma longa transição: Vinte anos de
transformações na Rússia. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2011.
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