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FACULDADE DE DIREITO

Direito Do Comércio Internacional

III. A Convenção de Viena 1980


(CISG)

•Precedentes Históricos (a)


•Âmbito de aplicação (b)
•Disposições Gerais (c)
•Formação e modificação do Contrato (d)
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A. Precedentes Históricos
• A CNUCVM (sigla Inglesa CISG) foi aprovada em 11/04/80 em
Vienna;
• Processo de unificação legislativa do Direito da venda
internacional, iniciado em 1929, com a criação, pelo UNIDROIT –
Instituto Internacional para a Unificação do Direito Privado;
(interrompido com a 2ª GM)
• Teve por base dois projectos (retomados em 1951):
• Convenções de Haia;
• Projecto da CNUDCI;

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Convenções da Haia (1964)
▪ LUVI - Lei Uniforme sobra a Compra e Venda Internacional de
Mercadorias;

▪ LUF - Lei Uniforme sobre a Formação dos Contratos de Compra e


Venda Internacional de Mercadorias;

▪ Aceitação muito limitada, (7 Estados europeus e 2 extraeuropeus);


• A CNUDCI, (1966) procurou promover uma ampla
adesão às Convenções da Haia. Esta iniciativa, não
teve sucesso, o número de países que tinham
participado na redacção era limitado e as soluções
consagradas não obtinham o acordo de muitos dos
países não participantes. (entrou em vigor 1972)
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Projecto da CNUDCI
• Grupo de trabalho encarregado de proceder à
reelaboração dos dois textos (CT de compra e venda e
sobre a sua formação);
• A junção dos dois textos: a CNUDCI adoptou em 1978
um projecto de convenção sobre os CT de venda
internacional de mercadorias.

• O texto final da Convenção de Viena teve por base o


projecto da CNUDCI com o envolvimento de países de
todos os tipos e vasto acolhimento na comunidade
internacional.

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Conferência Diplomática em Viena 1980

• A actividade desenvolvida pela CNUDCI


culminou com a aprovação da Convenção

• Entrou em vigor em 1/01/1988;

• 62 Estados membros

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Características da Convenção de Viena
I. Representa um compromisso entre sistemas
jurídicos diferentes: Os sistemas romanogermânicos e
Anglosaxónicos (Common Law):

• Formulação de conceitos novos ou;


• Utilização de conceitos (próprios de certa cultura
jurídica), são estranhos a outras culturas jurídicas;

• O intérprete deve ter uma atitude de especial


abertura e livre dos condicionamentos da sua
própria cultura jurídica.
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Características da Convenção de Viena (2)
II. Recurso frequente a conceitos indeterminados para a
definição dos direitos e obrigações das partes:

▪ Utilização do critério de razoabilidade. Ex: art. 25.º


o conceito de “pessoa razoável” para a determinação
do carácter “fundamental” de uma violação do
contrato.

▪ No art. 39.º nº 1, é utilizado o conceito de “prazo


razoável”, para definir o prazo em que o comprador
deve denunciar ao vendedor a falta de conformidade
da mercadoria com o contrato.
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Conceitos Indeterminados (Cont...)
• Abertura à individualização de soluções;

• Nem sempre as regras rígidas e precisas


comportam soluções adequadas a todas as
relações de venda.

• Permite que a jurisprudência desenvolva


soluções diferenciadas, que poderão
representar um desenvolvimento concretizador
do regime convencional
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Características da Convenção de Viena (3)
III. Favorecimento do comprador:

• Soluções mais favoráveis ao adquirente que as


geralmente adoptadas pelas legislações nacionais.

• Representa um compromisso aceitável entre países


industrializados e PVD.

• Compensado pela faculdade das partes poderem afastar


o regime da convenção, na sua globalidade, ou de
qualquer das suas disposições (art. 6.º).

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Características da Convenção de Viena (4)
❑A Convenção contém apenas o regime
específico da formação do contrato de venda
e dos direitos e obrigações por ele gerados.
Art.4

❑ Este regime não abrange todas as matérias


disciplinadas pelas regras gerais sobre o
negócio jurídico-

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Características da Convenção de Viena (5)
▪ Estados contratantes podem vincular-se
parcialmente à Convenção – afastando a Parte II ou
III– declaração feita no momento da ratificação ou da
adesão (art. 92.º nº1).
• As lacunas devem em primeira linha ser integradas por
aplicação dos princípios gerais que inspiram a
convenção (art. 7).
• A jurisprudência pode desenvolver soluções uniformes
para os casos omissos na convenção.
• Só há lugar ao recurso à lex contractus no caso de não
ser possível obter a solução por via da concretização de
princípios gerais (art. 7/2)
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Sistematização da Convenção
• Parte I - Delimita o campo de aplicação da
Convenção e as disposições gerais.

• Parte II – Formação do contrato

• Parte III – Regime do contrato de compra e


venda internacional;

• Parte IV – Disposições Finais.


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B. Âmbito de Aplicação da Convenção
A Convenção apresenta dois tipos de disposições:

• Âmbito de aplicação (material e espacial)

• Critérios de interpretação (Estes critérios


deverão ser próprios e não dependentes de
ordens jurídicas nacionais com vista a
regulamentar especialmente certas
situações internacionais)

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Âmbito Material de Aplicação
• Quais os tipos ou categorias de contratos
aplicáveis;

• Quais os aspectos jurídicos da sua


disciplina de que ela se ocupa;

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Tipos ou categorias de CT aplicáveis (1)
• Art. 1/1 – Aplica-se aos CT de compra e venda –
conforme art. 30 e 53 onde se setabelecem
obrigações do vendedor e do comprador;
• Mercadorias (bens móveis corpóreos) cfr. Art. 2
d) afasta a venda de valores mobiliários;
• O carácter Internacional do CT- cfr art. 10 a)
• A venda de programas informáticos incorporados
em suportes materiais (CD ou Disquetes) e até
pela internet são considerados pela CISG
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Tipos ou categorias de CT aplicáveis (2)
❑C. De Fornecimento de mercadorias a
fabricar ou produzir art. 3 (1)

❑Excepção: se a Pessoa que encomendou


as mercadorias tiver de fornecer parte
essencial dos elementos necessários para
o fabrico ou mão de obra; (art. 3/2); (caso
de Prestação de Serviços (CPS) ou CT de Trabalho)
a CISG não é aplicável;
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Tipos ou categorias de Contratos aplicáveis (3)

• Não se aplica a CT combinados com elementos de


CPS e C.Trabalho, quando a prestação de serviço
ou Trabalho for elemento preponderante – art. 3/2

• A CISG não se aplica à: venda a consumidores,


leilão ou proc. Executivos; valores mobiliários,
aeronaves, etc art. 2 a)

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Exemplos de situações- art. 3 (2)
CT de reparação de 1 máquina, em que o custo
das peças de substituição é inferior a mão-de-
obra. Quid Juris?

Resposta:
Está excluído do Âmbito da CISG, porque o
elemento preponderante é a mão-de-obra

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Aspectos jurídicos da Convenção
1. Formação do Contrato - Parte II - arts. 14-24;
2. Direitos e Obrigações resultantes do CT- Parte IIIart. 25-88;
Qualquer Parte Contratante pode declarar que não ficará
vinculado por uma dessas partes – art. 92 nº1
A Convenção não regula os seguintes aspectos:
❑ Validade do CT ou dos usos (art. 4/a);
❑ Vícios do consentimento, representação voluntária,
transmissão da posição contratual, cessão de créditos,
prescrição e efeitos reais do contrato;

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Exclusões CISG– art. 5

• É excluida da CISG a responsabilidade por morte


ou lesões corporais causadas pelas mercadorias;

• Abrange Vendedor fabricante e vendedor


intemediário;

• A CISG aplicar-se-á a danos causados a coisas,


fundadas em responsabilidade do produtor.

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Âmbito Espacial da CISG art. 1 nº1
i. A convenção pretende reger Contratos
internacionais de CVM celebrados entre Partes
que tenham o seu estabelecimento em
Estados diferentes que tenham aderido a
convenção (alínea a).

ii. Se este não for o caso, quando as regras do


DIP do Estado do foro mandarem aplicar a lei
de um Estado contratante da CISG (alínea b).

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Estabelecimento em Estados diferentes
• A circunstância só é relevante quando resultar do CT,
transações anteriores, informações fornecidas quer
antes ou durante a conclusão do CT. (art. 1 nº 2).;
• Este elemento embora essencial (necessário) não é
suficiente para determinar o âmbito de aplicação da
Convenção. São exigidas outras duas condições:

1. Que os Estados se encontrem vinculados a Convenção


(art. 1 nº 1 a) ou
2. Que as regras de conflitos do foro (DIP) conduzam à
aplicação da lei de um Estado contratante. (art. 1 nº 1 b)
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Ambito espacial Reduzido – Cont...
• O Estado pode no momento da ratificação convenção,
declarar que não ficará vinculado a alínea b) do art. 1,
(Possibilidade de estabelecer uma reserva - art. 95

• Esta reserva constitui uma forma de restringir o âmbito


de aplicação da Convenção, por via das regras do DIP.

• A nacionalidade das partes é indiferente. O mesmo se


diga do carácter civil ou comercial das partes ou do
contrato (art. 1.º nº3).

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Ambito espacial
• O contrato em causa deve ter um nexo relevante
com um dos Estados Contratantes;
• A convenção não tem carácater Universal;
• Reserva relativa a uma das Partes II ou III da
Convenção-art.92(1)– O Estado é considerado
não contratante –art. 92 (2)
• Reserva do art. 95 – podem remeter a
aplicação de direito de fonte interna

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Ambito Temporal – art. 100

• Princípio da não retroactividade:


A CISG aplica-se apenas a contratos ou propostas de
contrato concluídos após a entrada em vigor da
Convenção;

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C. DISPOSIÇÕES GERAIS – art. 7 a 13
1. Regras de Interpretação – Carácter internacional do
Contrato, Uniformidade e boa fé;
2. Integração de lacunas (art. 7 (2) – PGD que
inspiram a Convenção e posteriormente a lei
aplicável (regras de conflito);
3. Interpretação da condutas das partes – (art. 8)
• Intenção/vontade do declarante conhecida pela outra
parte ou de conhecimento de uma pessoa razoável;
• O art. 236 C.C faz apenas referência a vontade do
declarante conhecida da outra parte.
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4. Usos e hábitos Relevantes art. 9
• A comunidade Internacional não tem legislador, por isso
os usos tem um lugar destacado, diferente de OJ Interna;
• Vinculação jurídica dos usos que consentidos e
estabelecidos (9/1);
• As partes podem afastar a vinculação aos usos (art.
9/2);
• Ausência de manifestação em contrário significa que as partes
acordaram implicitamente nos usos, conhecidos ou cognoscíveis
pelas partes ou largamente no comércio internacinoal;
• No nosso caso: Apenas se a Lei determinar e não contrariarem a
boa-fé e normas corporativas. Art. 3 C.C

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5. Pluralidade e Ausência de Estabelecimento
1. Pluralidade: art. 10 (1)
• O estabelecimento que possuir relação mais estreita com o
contrato/execução (globalidade);
• Atendendo-se a todas as circunstâncias conhecidas das partes e
tidas em atenção num momento anterior (cfr tb art. 1 nº2)

2. Ausência: art. 10 (2)


• o estabelecimento é substituído pela residência habitual

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Forma do contrato (1)
• Princípio da Consensualidade: o contrato não está
sujeito a nenhum requisito de forma e pode ser
provado por qualquer meio; art. 11

• P/a os sistemas que exigem forma escrita p/a a venda,


a CISG estabelece no art. 12.º, que os Estados
contratantes devem fazer uma declaração que não se
aplica a regra da liberdade de forma desde que uma
das partes tenha o seu estabelecimento nesse Estado
(art. 96.º).

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A Forma do contrato (2)
• A regra do art. 12 tem carácter imperativo. E
isto ainda que a questão se coloque num
Estado contratante que não fez tal declaração
(cfr art. 96 in fine);

• As comunicações enviadas por telegrama ou


telex satisfazem a exigência de forma escrita,
bem como o telefax (art. 13);

• E o e-mail?
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D. A FORMAÇÃO DO CONTRATO
• Proposta contratual dirigida a uma ou várias
pessoas determinadas e sufiicientemente
precisa (art. 14/1);

• Quando dirigida a pessoas indeterminadas é


considerada apenas um convite para contratar
(art. 14/2.

• É um compromisso entre os sistemas jurídicos


(vide no nosso caso art. 230/3 C.C.);
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Eficácia da Proposta
• A proposta é eficaz quando chega ao destinatário (art.
15/1);
• A aceitação quando chega ao proponente (art. 18/2).

Teoria da recepção – Para que a proposta ou aceitação


se torne eficaz não basta que seja expedida, é
necessário o seu conhecimento efectivo pelo
destinatário, o que importa é que a declaração negocial
tenha chegado na esfera jurídica do seu destinatário
(art. 24 CISG e 224 C.C.)

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Revogação da proposta/Aceitação
• Pode ser revogada mediante declaração que chegue ao
destinatário antes ou ao mesmo tempo que a proposta (art.
15/2) ou aceitação (art. 22).
• A proposta contratual é revogável, se a declaração de
revogação chegar ao destinatário antes da emissão da
aceitação ( e não recepção da aceitação) art. 16/1
• Propostas irrevogáveis – art. 16 (2)
• Art. 17 extinção da proposta irrevogável – rejeição da
proposta
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PRAZOS PARA ACEITAÇÃO Art. 18/2 CISG e 228 CC

• Período para o destinatário fazer chegar ao proponente a sua aceitação;


– Automomia da vontade: prazo estipulado pelas partes;

• Ausência de estipulação: Prazo razoável de acordo com as


circunstâncias da transação e rapidez dos meios de comunicação
utilizados pelo proponente;
• Contagem do prazo para aceitação: Soluções variadas art. 20
Data de expedição,
data que figura na carta,
data que consta no envelope ou data em que chega ao destinatário.
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Contraproposta art. 19 & art. 233 C.C

• Resposta/aceitação com aditamentos,


modificações e limitações.

• Rejeição = nova contraproposta


• Conclusão do contrato: art. 23 e 24

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Recomendação Leitura

• BENTO SOARES/MOURA RAMOS, Contratos


Internacioais: Compra e Venda, Cláusulas Penais e
Arbitragem, Almedina, 1986; p. 9-63
• LIMA PINHEIRO, Direito Comercial Internacional,
Almedina Editora, 2005, pág. 259 a 277;
• Dário Moura Vicente, A Convenção de Viena sobre a
Compra e venda Internacional de mercadorias:
Características gerais e âmbito de aplicação, in Estudos
de Direito Comercial Internacional, pág. 271-287
• www. cisg.law.pace.edu
• www.unidroit.org
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