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08-10-2022

Unidade Curricular de
Direito do Consumo

4 .º Ano
Licenciatura em Direito

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 1

Cláusulas Contratuais Gerais

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 DL 446/85, de 25/10 (Lei das Cláusulas


Contratuais Gerais - LCCG)

 É um regime que se desvia do princípio da


autonomia da vontade e que prevê uma
proteção especial da parte contratual mais
fraca.

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 Lei da Defesa do Consumidor – artigo 9.º, n.ºs 2 e 3:

 Com vista à prevenção de abusos resultantes de contratos pré-


elaborados, o fornecedor de bens e o prestador de serviços estão
obrigados:

 a) À redação clara e precisa, em caracteres facilmente legíveis, das


cláusulas contratuais gerais, incluindo as inseridas em contratos
singulares;
 b) À não inclusão de cláusulas em contratos singulares que originem
significativo desequilíbrio em detrimento do consumidor.

 A inobservância destes requisitos ficam sujeitos ao regime das cláusulas


contratuais gerais. Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 4

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 No iter (caminho) ou processo negocial (Entende-se


por processo um encadeamento de atos que conduz a
determinado fim ou finalidade) verificam-se em regra
duas fases distintas:

 1.ª - uma fase negociatória, que vai desde o início das


negociações até à formulação da proposta de contrato, e

 2.ª - uma fase decisória que é integrada por duas


declarações de vontade que se conjugam com vista à
formação do contrato. Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 5

 A 1.ª fase - fase negociatória - é constituída por


atos sem intenção vinculativa que têm como
conteúdo a elaboração dum projeto de contrato
que depois será transformado em proposta
negocial. É uma fase preparatória dos elementos
do contrato, uma fase de negociações
propriamente ditas.

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 A 2.ª fase - fase decisória - é constituída por duas


(ou mais) declarações determinadas pela
intenção de formar um contrato: o elemento
volitivo dessas declarações já não é tão somente
dirigido à preparação mas sim, de claro modo, à
formação dum contrato; já não tão só se negoceia:
decide-se a celebração do contrato.

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 Nos denominados contratos de adesão - compostos


no todo ou em parte por cláusulas contratuais
gerais, a 1.ª fase – negociatória - da formação do
contrato, em termos práticos, desaparece. A
proposta está pré-elaborada e o aderente aceita ou
não! São aqueles em que “é só assinar”.

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 Como adiantado no n.º 3 do preâmbulo do DL


446/85, de 25/10 (Lei das Cláusulas Contratuais
Gerais - LCCG), a massificação do comércio jurídico
própria das atuais sociedades técnicas e
industrializadas obrigou à admissão de alterações de
vulto nos parâmetros tradicionais da liberdade
contratual.

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 Condições Gerais – estipulações que, de um modo


genérico, regulam determinado tipo de contrato, e
que, previamente elaboradas e aprovadas, são
idênticas para todos os contratos desse género e se
revestem de carácter imperativo para o aderente.

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 Condições particulares – enunciado dos elementos


individuais necessários à elaboração do contrato
singular; cláusulas manuscritas ou dactilografadas
que permitem adaptar o contrato a cada espécie -
identificação das partes, objeto do contrato, preço,
riscos, data da subscrição, duração do contrato, etc...
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 Condições especiais – meramente facultativas, são as


estipulações que modificam, no caso concreto, condições
normalmente adotadas pela proponente relativamente ao
tipo de negócio celebrado, a ter em consideração
apenas quando se encontrem discriminadamente
referenciadas nas condições particulares.
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 É contrato de adesão aquele em que um dos


contraentes, o cliente ou aderente, não tem qualquer
participação na preparação e redação das respetivas
cláusulas, limitando-se a aceitar o texto que o outro
contraente oferece, em massa, ao público
interessado.
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Ac. STJ de 15/1/2013, Proc.600/06.5TCGMR.G1.S1


(rel. Fonseca Ramos) considerou-se que “para que se
considere a existência de um contrato de adesão não
é bastante que algumas cláusulas sejam pré-
ordenadas unilateralmente pelo proponente: importa
que o núcleo essencial modelador do regime
jurídico contratualmente acordado constitua um
bloco que o aderente aceita ou repudia, sem qualquer
possibilidade de negociação”.

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 No âmbito dos contratos de adesão colocam-se três


ordens de questões, a saber:
 no plano da formação do contrato, a do aumento
considerável do risco de o aderente desconhecer
cláusulas que vão fazer parte do contrato;
 no plano do conteúdo, a do favorecimento da inserção
de cláusulas abusivas; e
 no plano processual, a da insuficiência e inadequação
do controlo judiciário normal, que atua a posteriori,
depende da iniciativa processual do lesado e tem efeitos
circunscritos ao caso concreto.
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 Características:

 As cláusulas contratuais gerais caracterizam-se pela sua:

 pré-formulação (unilateralidade da conformação; pré-redação


das condições negociais pelo proponente);

 imodificabilidade (rigidez; as condições predispostas são para


ser aceites tal como formuladas, sem negociação individual);

 generalidade ou indeterminação dos destinatários (são


elaboradas para utilização geral numa série ou pluralidade de
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contratos).
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As cláusulas contratuais gerais são:

Cláusulas pré-formuladas, com vista à disciplina


uniforme duma série em regra indeterminada de
contratos de certo tipo a celebrar pelo predisponente ou
por terceiro ,ou seja, estipulações predispostas em vista
duma pluralidade de contratos ou de uma generalidade
de pessoas, para serem aceites em bloco, sem
negociação individualizada ou possibilidade de alterações
singulares.

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Artigo 1.º, n.º 1, do DL 446/85, de 25/10: - “As


cláusulas contratuais gerais elaboradas sem prévia
negociação individual que proponentes ou destinatários
indeterminados se limitem, respetivamente a subscrever
ou aceitar, regem-se pelo presente diploma”.

 DL 446/85, de 25/10

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 Artigo 1.º - DL 446/85, de 25/10:

 2 - O presente diploma aplica-se igualmente às


cláusulas inseridas em contratos individualizados,
mas cujo conteúdo previamente elaborado o
destinatário não pode influenciar.

 3 - O ónus da prova de que uma cláusula contratual


resultou de negociação prévia entre as partes recai
sobre quem pretenda prevalecer-se do seu conteúdo.
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O âmbito de aplicação do regime jurídico das


cláusulas contratuais gerais acha-se definido nos artigos
2.º e 3.º.

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As cláusulas contratuais gerais, independentemente


da forma da sua comunicação ao público, da extensão
que assumam ou que venham a apresentar nos
contratos a que se destinem, do conteúdo que as
informe ou de terem sido elaboradas pelo proponente,
pelo destinatário ou por terceiros - artigos 2.º.

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 As cláusulas contratuais gerais não se aplica – artigo


3.º:
a) A cláusulas típicas aprovadas pelo legislador;
b) A cláusulas que resultem de tratados ou convenções
internacionais vigentes em Portugal;
c) A contratos submetidos a normas de direito público;
d) A atos do direito da família ou do direito das
sucessões;
e) A cláusulas de instrumentos de regulamentação
coletiva de trabalho.
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 Inclusão em Contratos Singulares – artigo 4.º:


 As cláusulas contratuais gerais inseridas nos
contratos por via da aceitação do aderente.

Ficam excluídas as não aceites especificamente,


mesmo que usadas pelo proponente relativamente a
todos os outros destinatários, bem como as que
tenham sido negociadas pelas partes - artigo 7.º.
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A proteção procedimental

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Artigo 5.º Artigo 6.º

1 - As cláusulas contratuais gerais devem ser 1 - O contratante que recorra a


comunicadas na íntegra aos aderentes que se
cláusulas contratuais gerais deve
limitem a subscrevê-las ou a aceitá-las.
informar, de acordo com as
2 - A comunicação deve ser realizada de modo

adequado e com a antecedência necessária circunstâncias, a outra parte dos


para que, tendo em conta a importância do aspetos nelas compreendidos cuja
contrato e a extensão e complexidade das
aclaração se justifique.
cláusulas, se torne possível o seu

conhecimento completo e efetivo por quem use

de comum diligência. 2 - Devem ainda ser prestados


3 - O ónus da prova da comunicação adequada
todos os esclarecimentos razoáveis
e efetiva cabe ao contratante que submeta a
solicitados.
outrem as cláusulas contratuais gerais.

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Artigos 5.º e 6.º – instituem regras pré-negociais


que devem ser entendidas à luz da exigência de boa fé
nas negociações preliminares dos contratos
estabelecida no artigo 227.º, n.º 1, Código Civil, que
engloba dever de informação (completa) sobre os
elementos essenciais do contrato que se vai celebrar ou
concluir.

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 Dever de comunicação – artigo 5.º:


 As cláusulas contratuais gerais devem ser comunicadas na
íntegra aos aderentes que se limitem a subscrevê-las ou a
aceitá-las.
 A comunicação deve ser realizada de modo adequado e com a
antecedência necessária para que, tendo em conta a
importância do contrato e a extensão e complexidade das
cláusulas, se torne possível o seu conhecimento completo e
efetivo por quem use de comum diligência.

 Incumprimento do dever de comunicação – artigo 8.º, al. a).

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O ónus da prova da comunicação adequada e efetiva


cabe ao contratante que submeta a outrem as cláusulas
contratuais gerais - artigo 5.º, n.º 3.

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Dever de informação – artigo 6.º:


 O contratante que recorra a cláusulas contratuais
gerais deve informar, de acordo com as
circunstâncias, a outra parte dos aspetos nelas
compreendidos cuja aclaração se justifique.

Devem ainda ser prestados todos os esclarecimentos


razoáveis solicitados.

 Ver: artigo 60.º da CRP e 8.º da LDC.


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O artigo 7.º estabelece a prevalência das cláusulas


que tenham sido objeto de acordo específico.

 (especificamente acordadas) sobre as cláusulas ou


condições gerais.

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 O artigo 8.º exclui dos contratos singulares as


cláusulas não comunicadas previamente, ou seja:

a) antes da celebração do contrato - ver artigo 5.º;


 b) as que o forem com violação do dever de informação,
ou seja, sem cabal esclarecimento de dúvida justificada, isto
é, que efetivamente tal possam suscitar - ver artigo 6.º;
c) as que passem despercebidas: cláusulas-surpresa;
d) e as inseridas em formulários após a assinatura destes
por algum dos contraentes.

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 A consequência do não cumprimento dos deveres de


comunicação (artigo 5.º), informação (artigo 6.º, n.º1)
e esclarecimento (artigo 6.º, n.º2), com as
especialidades das als. c) (cláusulas surpresa) e d)
(cláusulas que figurem após a assinatura) do artigo
8.º - controlo de inclusão, é, conforme proémio:

 a exclusão das cláusulas em questão, ou seja, a sua


ineficácia.
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Por sua vez, a consequência da inclusão de


cláusulas proibidas por contrárias à boa fé é:

 a nulidade - artigo 12.º.

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O artigo 9.º, n.º1, consagra o princípio da conservação


dos contratos singulares, determinando que nos casos
previstos no artigo 8.º, os contratos singulares subsistem
sem as cláusulas invalidadas, que são substituídas pelas
normas supletivas aplicáveis, integrando-se, se necessário,
o contrato nos termos do artigo 239.º Código Civil.

Caso tal se mostre insuficiente, esses contratos são nulos


por indeterminação insuprível de aspetos essenciais do
contrato ou desequilíbrio nas prestações gravemente
atentatório da boa fé – artigo 9.º, n.º 2.
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Jurisprudência ilustrativa

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Acórdão do STJ, de 4 de Maio de 2017


[Processo: 1961/13.5TVLSB.L1.S1]

• IV. Atenta a natureza jurídica dos negócios em causa, situados no cerne da atividade bancária e de

intermediação financeira, exercida pelo Banco/R., o âmbito do dever de informação do proponente de

cláusulas contratuais gerais não pode deixar de ter-se por moldado em função do que está previsto no

CVM, na versão em vigor à data da celebração do negócio.

• V. Não pode ter-se por cumprido tal dever de informação e esclarecimento da contraparte,

vigente no campo das cláusulas contratuais gerais, quando (…)

• VI. A inserção no documento de confirmação do contrato de permuta de taxa de juro, antes da respetiva

assinatura, de uma cláusula de feição manifestamente pré determinada e padronizada, segundo a qual

o aderente declara estar plenamente conhecedor do conteúdo e do risco da operação, confessando

terem sido prestados pelo banco todas as informações e esclarecimentos solicitados para tomada

consciente da decisão de contratar, nomeadamente o facto de o aderente , no caso de evolução

desfavorável das condições de mercado, poder registar uma perda financeira líquida com a operação

não pode ter o efeito de desvincular o Banco do ónus de demonstrar o cumprimento adequado do

dever de informação, cominado imperativamente pela norma do nº. 3 do art. 5º do DL446/85 – valendo

apenas (…) como elemento sujeito a livre apreciação das instâncias.


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Acórdão do STJ, de 4 de Maio de 2017


(cont ).
• VII. Tendo em consideração a amplitude e extensão das cláusulas contratuais gerais não informadas inseridas

nos contratos – integrando a totalidade do contrato quadro para realização de operações bancárias e a maior

parte das inseridas no contrato de permuta da taxa de juro, deixando, na prática, apenas fora do seu âmbito a

cláusula em que as partes acordaram na taxa fixa a pagar pelo cliente – deve funcionar o regime de nulidade

total, previsto no art. 9º, nº2, desse diploma, por o afastamento ou exclusão da quase totalidade das cláusulas

que integravam a disciplina contratual gerar uma indeterminação insuprível dos termos e conteúdo essencial

do negócio ou originar um desequilíbrio das prestações gravemente lesivo da boa fé.

• VIII. Na verdade, o objecto de tal dever de informação, legalmente imposto com base no respeito pelo

princípio da boa fé, não é propriamente cada uma das cláusulas inseridas no negócio concreto,

atomisticamente considerada, pressupondo antes uma explicação consistente acerca da funcionalidade do

negócio, como um todo, e o devido esclarecimento da contraparte acerca dos riscos financeiros em que

incorre, perante uma alteração significativa do quadro económico, desfazendo o eventual equívoco do outro

contraente acerca da real natureza do negócio, face à globalidade do conteúdo respectivo”.

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Ac. STJ, de 13 de Setembro de 2016


[Processo: 1262/14.1T8VCT-B.G1.S1]

• I - É aplicável o regime das cláusulas contratuais gerais ao clausulado inserido no corpo contratual

individualizado cujo conteúdo, previamente elaborado, o destinatário não pode influenciar.

• II - O cumprimento das prestações impostas pelos arts. 5.º e 6.º da LCCG – cuja prova onera o

predisponente – convoca deveres pré-contratuais de comunicação das cláusulas (a inserir no negócio) e de

informação (prestação de todos os esclarecimentos que possibilitem ao aderente conhecer o significado e as

implicações dessas cláusulas), enquanto meios que radicam no princípio da autonomia privada, cujo

exercício efectivo pressupõe que se encontre bem formada a vontade do aderente ao contrato e, para tanto,

que este tenha um antecipado e cabal conhecimento das cláusulas a que se vai vincular, sob pena de não

ser autêntica a sua aceitação.

• III - Por isso, esse cumprimento deve ser assumido na fase de negociação e feito com antecedência

necessária ao conhecimento completo e efectivo do aderente, tendo em conta as circunstâncias (objectivas e

subjectivas) presentes na negociação e na conclusão do contrato – a importância deste, a extensão e a

complexidade (maior ou menor) das cláusulas e o nível de instrução ou conhecimento daquele –, para que o

mesmo, usando da diligência própria do cidadão médio ou comum, as possa analisar e, assim, aceder ao

seu conhecimento completo e efectivo, para além de poder pedir algum esclarecimento ou sugerir qualquer
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alteração.

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Ac. STJ, de 13 de Setembro de 2016


[Processo: 1262/14.1T8VCT-B.G1.S1]

• V - É certo que as exigências especiais da promoção do efectivo conhecimento das cláusulas contratuais gerais e da sua

precedente comunicação, que oneram o predisponente, têm como contrapartida, também por imposição do princípio da boa-fé, o

aludido dever de diligência média por banda do aderente e destinatário da informação – com intensidade e grau dependentes da

importância do contrato, da extensão e da complexidade (maior ou menor) das cláusulas e do nível de instrução ou conhecimento

daquele –, de quem se espera um comportamento leal e correcto, nomeadamente pedindo esclarecimentos, depois de

materializado que seja o seu efectivo conhecimento e informação sobre o conteúdo de tais cláusulas.

• V - Porém, essa constatação, em caso algum, poderá levar a admitir que o predisponente fique eximido dos deveres que o

oneram, ou a conceber como legítimas uma sua completa passividade na promoção do efectivo conhecimento das cláusulas

contratuais gerais e, sobretudo, uma ausência de comunicação destas ao aderente com a antecedência necessária ao

conhecimento completo e efectivo, até para que o mesmo possa exercitar aquele seu dever de diligência, nos apontados termos.

Uma tal concepção conduziria à inversão não consentida da hierarquia legalmente estatuída entre os deveres do predisponente e

do aderente.

• VI - No caso em apreço, apenas no circunstancialismo da subscrição ou outorga do contrato foram dadas a conhecer à aderente

a cláusula contratual geral em discussão, quando, por tudo o exposto, a mesma não teria, para o efeito, de desenvolver mais do

que uma diligência comum e era à proponente que caberia propiciar-lhe o antecipado e efectivo conhecimento daquela cláusula.

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Ac. STJ, de 13 de Setembro de 2016


[Processo: 1262/14.1T8VCT-B.G1.S1]

• VII - Por outro lado, o dever de atempada comunicação, face à sua identificada ratio, também não fica
preenchido com as declarações constantes na escritura de que, no dia da sua celebração, esta foi lida aos
outorgantes e feita a explicação do seu conteúdo, questão cuja pertinência mais se realça atentando na
significativa complexidade do clausulado alusivo à «renúncia ao benefício da excussão prévia» e à sua elevada
repercussão (importância) para a embargante, para quem, sendo uma funcionária administrativa, aquela é uma
expressão de alcance jurídico dificilmente inteligível.

• VIII - O «factum proprium» apto a violar a boa-fé ou a confiança da recorrente e a constituir o aqui invocado
exercício abusivo do direito pela embargante pressuporia, enquanto facto voluntário, a ciência e a vontade
dessa violação. Ora, no caso, a exequente não provou ter propiciado à embargante o efectivo conhecimento da
discutida cláusula, pelo que, no contexto, assim configurado, do incumprimento dos deveres de comunicação e
de informação que sobre ela impendiam, não podem ser avocados os (inverificados) pressupostos cognitivos
da liberdade de contratar por parte da embargante, que integrariam, simultaneamente, o elemento subjectivo
da putativa violação da confiança.

• IX - Por consequência, não podendo ser subjectivamente imputado à embargante o alegado comportamento
anterior, ou a referida conduta voluntária, fica arredada a invocada violação da expectativa ou confiança
supostamente gerada na recorrente.

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Conforme artigo 10.º, valem as regras de


interpretação e integração dos negócios jurídicos
estabelecidas nos artigo 236.º a 239.º do Código Civil.

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 Acórdão STJ de 24/4/2012, Proc. 718/06.4TVPRT.P1.S1- 1ª (rel. Paulo Sá):

I – No contrato de seguro por acidentes e doença, em causa estabeleceu-se


uma exclusão de cobertura em relação aos “acidentes resultantes de crimes e
outros actos intencionais da pessoa segura, bem como o suicídio”, sendo que,
em consonância com a definição constante no capítulo I das condições gerais
do contrato, se entende por acidente “qualquer acontecimento fortuito, súbito e
anormal, devido a causa exterior e alheia à vontade da pessoa segura que lhe
provoque uma lesão corporal, desde que requeira tratamento de urgência em
hospital quer em regime de internamento quer em regime ambulatório”.
II – A interpretação da referida definição de acidente inclui o homicídio
perpetrado por terceiro sobre o segurado, porquanto este acto se apresenta
como fortuito, súbito e anormal, para o qual não contribuiu voluntariamente a
vítima.
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 Acórdão STJ de 24/4/2012, Proc. 718/06.4TVPRT.P1.S1- 1ª (rel. Paulo Sá)


cont.:
III – Por outro lado, a redacção da referida cláusula de exclusão aponta apenas para
acidentes resultantes de actos perpetrados voluntariamente pelo tomador do seguro: crimes
e outros actos intencionais da pessoa segura, ou em que ele interveio voluntariamente, daí a
especificação dos crimes e do suicídio, uma vez que, no primeiro caso, o segurado pode ter
sido abatido para obstar ao cometimento de um crime e no suicídio ele pode ocorrer sem ser
o segurado o executor da acção, em consequência da qual a morte ocorreu, sem embargo
de ter havido, por parte da vítima, expressão dessa vontade.
IV – O artigo 3 do capítulo 2 das condições gerais do referido seguro estipula que:
1 – O seguro só é válido para doentes tratados em Portugal”.
2 – O contrato pode, todavia, abranger as despesas médicas realizadas ou a realizar no
estrangeiro nos seguintes casos: al. a) acidente ou doença súbita verificada durante
permanência não superior a 45 dias, se a estadia for de natureza profissional ou turística,
mediante a apresentação do comprovativos da viagem; al. b) “tratamentos realizados no
estrangeiro, conforme prescrição médica (…)”.
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Acórdão STJ de 24/4/2012, Proc. 718/06.4TVPRT.P1.S1- 1ª (rel.


Paulo Sá), cont.:
V – Terá de entender-se que esta cláusula não é aplicável ao caso
em apreço, porquanto a mesma está apenas referida às situações
de doença e ao pagamento das despesas médicas resultantes de
doença ou de acidente, como se extrai do seu texto, de forma clara.
VI – Mesmo que assim se não entendesse, sempre haveria de
reconhecer-se que o sentido útil da cláusula é de que a seguradora
não se responsabiliza por ocorrências no estrangeiro, se essa
permanência exceder 45 dias, o que não se verifica por estar
demonstrado que o tomador do seguro viajou para Angola em 4 de
Janeiro de 2005, vindo a falecer em 20 desse mesmo mês e ano.
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Em relação as cláusulas ambíguas – artigo 11.º:


As cláusulas contratuais gerais ambíguas têm o sentido que
lhes daria o contratante indeterminado normal que se limitasse a
subscrevê-las ou a aceitá-las, quando colocado na posição de
aderente real.

 (onde se lê de aderente real deve ler-se do aderente real).

 As CCG ambíguas terão o sentido que o destinatário normal


lhe daria se colocado na posição de destinatário normal lhe
daria se colocado na posição de destinatário real (artigo 236.º,
n.º 1 do Código Civil).
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 Em relação as cláusulas ambíguas – artigo 11.º:

em caso de dúvida, vale, nos termos do artigo 11.º, n.º


2, o princípio da proteção da parte mais fraca,
prevalecendo a interpretação contrária aos interesses
do predisponente, autor das cláusulas contratuais gerias
e mais favorável ao aderente.

Não assim em ação inibitória, diz o n.º 3, artigo 11.º.

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 Conforme artigo 14.º, essa redução terá igualmente


lugar no caso de o aderente optar pela manutenção
do negócio sem as cláusulas nulas, quando a
manutenção do contrato sem as cláusulas proibidas
(substituídas por normas supletivas, consoante artigo
13.º) conduza “a um desequilíbrio de prestações
gravemente atentatório da boa fé”.

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A proteção substancial
contra o abuso

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 49

49

 São nulas também, conforme artigo 15.º, as


cláusulas contratuais gerais contrárias à boa fé, ou
seja, à consideração razoável e equilibrada dos
interesses da contraparte.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 50

50

25
08-10-2022

 O artigo 16.º assenta na boa-fé de tal modo que apela:


 Aos valores fundamentais do direito, relevantes em face da
situação considerada, e, especialmente:

 a) A confiança suscitada, nas partes, pelo sentido global das


cláusulas contratuais em causa, pelo processo de formação do
contrato singular celebrado, pelo teor deste e ainda por
quaisquer outros elementos atendíveis;

 b) O objetivo que as partes visam atingir negocialmente,


procurando-se a sua efetivação à luz do tipo de contrato
utilizado. Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 51

51

 Os artigos15.º e 16.º - este último concretização do


anterior, como a sua própria epígrafe logo revela -
estabelecem disposições comuns, cuja abstração e
generalidade é concretizada exemplificativamente,
numa enunciação casuística, em cláusulas que
representam – artigos 18.º e 21.º - ou podem
representar – artigos 19.º e 22-º - atentados ao
princípio fundamental da boa fé adiantado naquelas
disposições primeiro referidas.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 52

52

26
08-10-2022

 O artigo 17.º esclarece que as proibições constantes


dessa secção (I do Capítulo V subordinado à rubrica CCG
PROIBIDAS), ou seja, dos artigos 18.º, relativo às
cláusulas absolutamente proibidas e 19.º, em que se
referem as cláusulas relativamente proibidas, se aplicam,
de harmonia com a epígrafe da predita secção, às
relações entre empresários ou entidades equiparadas,
que, como se vê desse mesmo artigo17.º, são os que
exerçam profissões liberais - uns e outros quando
intervenham apenas nessa qualidade e no âmbito da sua
atividade específica. Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 53

53

 Quanto às relações com consumidores finais e


todos os não abrangidos pelo artigo 17.º- ou seja,
quem não seja empresário, nem exerça profissão
liberal - e mesmo estes quando não intervenham
apenas nessa qualidade e no âmbito da sua atividade
específica, vale o disposto na secção (II) seguinte
que tem por epígrafe “relações com consumidores
finais” e é composta pelos arts.20.º, 21.º, que refere
cláusulas absolutamente proibidas, e 22.º, em que
se indicam as cláusulas relativamente proibidas.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 54

54

27
08-10-2022

 Por remissão do artigo 20.º, neste âmbito das


relações com consumidores finais, aplicam-se as
proibições constantes dos artigos 18.º e 19.º, e, além
dessas, as determinadas nos artigos 21.º e 22.º.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 55

55

 Em tema de cláusulas abusivas – por isso proibidas –


há que distinguir entre as aplicáveis:

 ( a) - nas relações entre empresários ou entidades


equiparadas;
 ( b ) - nas relações com consumidores;
• e entre:
 ( 1 ) - cláusulas absolutamente proibidas – artigos 18.º
e 21.º , e
 ( 2 ) - cláusulas relativamente proibidas – artigos 19.º
e 22.º. Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 56

56

28
08-10-2022

No que respeita à sua estrutura, as cláusulas


contratuais gerais podem ser absolutamente e
relativamente proibidas:
Cláusulas absolutamente proibidas – não podem, em
qualquer caso, ser incluídas em contratos celebrados
por recurso à adesão de uma das partes (arts. 18.º e
21.º).

Cláusulas relativamente proibidas – não podem regular


contratos com esta natureza em certas circunstâncias,
devendo ser objeto de apreciação e valoração em
concreto (arts. 19.º e 22.º).

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 57

57

 Cláusulas absolutamente proibidas - artigo 18.º:


 São em absoluto proibidas, designadamente, as cláusulas
contratuais gerais que:
 a) Excluam ou limitem, de modo direto ou indireto, a
responsabilidade por danos causados à vida, à integridade
moral ou física ou à saúde das pessoas;

 b) Excluam ou limitem, de modo direto ou indireto, a


responsabilidade por danos patrimoniais extracontratuais,
causados na esfera da contraparte ou de terceiros;

 c) Excluam ou limitem, de modo direto ou indireto, a


responsabilidade por não cumprimento definitivo, mora ou
cumprimento defeituoso, em caso de dolo ou de culpa grave;
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 58

58

29
08-10-2022

 Cláusulas absolutamente proibidas - artigo 18.º:


 São em absoluto proibidas, designadamente, as cláusulas
contratuais gerais que:

 d) Excluam ou limitem, de modo direto ou indireto, a


responsabilidade por atos de representantes ou auxiliares, em
caso de dolo ou de culpa grave;

 e) Confiram, de modo direto ou indireto, a quem as


predisponha, a faculdade exclusiva de interpretar qualquer
cláusula do contrato;

 f) Excluam a exceção de não cumprimento do contrato ou a


resolução por incumprimento;
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 59

59

 Cláusulas absolutamente proibidas - artigo 18.º:


 São em absoluto proibidas, designadamente, as
cláusulas contratuais gerais que:

 g) Excluam ou limitem o direito de retenção;

 h) Excluam a faculdade de compensação, quando


admitida na lei;

 i) Limitem, a qualquer título, a faculdade de


consignação em depósito, nos casos e condições
legalmente previstos; Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 60

60

30
08-10-2022

 Cláusulas absolutamente proibidas - artigo 18.º:


 São em absoluto proibidas, designadamente, as
cláusulas contratuais gerais que:

 j) Estabeleçam obrigações duradouras perpétuas ou


cujo tempo de vigência dependa apenas da vontade
de quem as predisponha;

 l) Consagrem, a favor de quem as predisponha, a


possibilidade de cessão da posição contratual, de
transmissão de dívidas ou de subcontratar, sem o
acordo da contraparte, salvo se a identidade do
terceiro constar do contrato inicial.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 61

61

 Cláusulas relativamente proibidas - artigo 19.º:


 São proibidas, consoante o quadro negocial padronizado,
designadamente, as cláusulas contratuais gerais que:

 a) Estabeleçam, a favor de quem as predisponha, prazos


excessivos para a aceitação ou rejeição de propostas;

 b) Estabeleçam, a favor de quem as predisponha, prazos


excessivos para o cumprimento, sem mora, das
obrigações assumidas;

 c) Consagrem cláusulas penais desproporcionadas aos


danos a ressarcir; Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 62

62

31
08-10-2022

 Cláusulas relativamente proibidas - artigo 19.º:


 São proibidas, consoante o quadro negocial padronizado,
designadamente, as cláusulas contratuais gerais que:

 d) Imponham ficções de receção, de aceitação ou de outras


manifestações de vontade com base em factos para tal
insuficientes;
 e) Façam depender a garantia das qualidades da coisa cedida
ou dos serviços prestados, injustificadamente, do não recurso a
terceiros;
 f) Coloquem na disponibilidade de uma das partes a
possibilidade de denúncia, imediata ou com pré-aviso
insuficiente, sem compensação adequada, do contrato, quando
este tenha exigido à contraparte investimentos ou outros
dispêndios consideráveis;
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 63

63

 Cláusulas relativamente proibidas - artigo 19.º:


 São proibidas, consoante o quadro negocial
padronizado, designadamente, as cláusulas
contratuais gerais que:

 g) Estabeleçam um foro competente que envolva


graves inconvenientes para uma das partes, sem que
os interesses da outra o justifiquem;

 h) Consagrem, a favor de quem as predisponha, a


faculdade de modificar as prestações, sem
compensação correspondente às alterações de valor
verificadas; Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 64

64

32
08-10-2022

 Cláusulas relativamente proibidas - artigo 19.º:


 São proibidas, consoante o quadro negocial
padronizado, designadamente, as cláusulas
contratuais gerais que:
 i) Limitem, sem justificação, a faculdade de interpelar.

 j) Estabeleçam, a favor de quem as predisponha,


comissões remuneratórias excessivas ou que sejam
discriminatórias em função da nacionalidade ou do
local do estabelecimento da contraparte, sem prejuízo
da legislação especificamente aplicável no âmbito dos
serviços financeiros.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 65

65

 Cláusulas absolutamente proibidas - artigo 21.º:


 São em absoluto proibidas, designadamente, as cláusulas
contratuais gerais que:
 a) Limitem ou de qualquer modo alterem obrigações
assumidas, na contratação, diretamente por quem as
predisponha ou pelo seu representante;

 b) Confiram, de modo direto ou indireto, a quem as


predisponha, a faculdade exclusiva de verificar e estabelecer
a qualidade das coisas ou serviços fornecidos;

 c) Permitam a não correspondência entre as prestações a


efetuar e as indicações, especificações ou amostras feitas ou
exibidas na contratação;
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 66

66

33
08-10-2022

 Cláusulas absolutamente proibidas - artigo 21.º:


 São em absoluto proibidas, designadamente, as
cláusulas contratuais gerais que:
 d) Excluam os deveres que recaem sobre o
predisponente, em resultado de vícios da prestação, ou
estabeleçam, nesse âmbito, reparações ou
indemnizações pecuniárias predeterminadas;

 e) Atestem conhecimentos das partes relativos ao


contrato, quer em aspetos jurídicos, quer em questões
materiais;

 f) Alterem as regras respeitantes à distribuição do risco;


Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 67

67

 Cláusulas absolutamente proibidas - artigo 21.º:


 São em absoluto proibidas, designadamente, as
cláusulas contratuais gerais que:

 g) Modifiquem os critérios de repartição do ónus da


prova ou restrinjam a utilização de meios probatórios
legalmente admitidos;

 h) Excluam ou limitem de antemão a possibilidade de


requerer tutela judicial para situações litigiosas que
surjam entre os contratantes ou prevejam
modalidades de arbitragem que não assegurem as
garantias de procedimento estabelecidas na lei.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 68

68

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08-10-2022

 Cláusulas absolutamente proibidas - artigo 21.º:


 São em absoluto proibidas, designadamente, as
cláusulas contratuais gerais que:

 i) Se encontrem redigidas com um tamanho de letra


inferior a 11 ou a 2,5 milímetros, e com um
espaçamento entre linhas inferior a 1,15.

 Introdução pela Lei n.º 32/2021, de 27 de Maio

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 69

69

 Cláusulas relativamente proibidas - artigo 22.º:


 São proibidas, consoante o quadro negocial
padronizado, designadamente, as cláusulas
contratuais gerais que:
 a) Prevejam prazos excessivos para a vigência do
contrato ou para a sua denúncia;
 b) Permitam, a quem as predisponha, denunciar
livremente o contrato, sem pré-aviso adequado, ou
resolvê-lo sem motivo justificativo, fundado na lei ou
em convenção;
 c) Atribuam a quem as predisponha o direito de alterar
unilateralmente os termos do contrato, exceto se
existir razão atendível que as partes tenham
convencionado; Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 70

70

35
08-10-2022

 Cláusulas relativamente proibidas - artigo 22.º:


 São proibidas, consoante o quadro negocial
padronizado, designadamente, as cláusulas
contratuais gerais que:
 d) Estipulem a fixação do preço de bens na data da
entrega, sem que se dê à contraparte o direito de
resolver o contrato, se o preço final for
excessivamente elevado em relação ao valor
subjacente às negociações;
 e) Permitam elevações de preços, em contratos de
prestações sucessivas, dentro de prazos
manifestamente curtos, ou, para além desse limite,
elevações exageradas, sem prejuízo do que dispõe o
artigo 437.º do Código Civil;
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 71

71

 Cláusulas relativamente proibidas - artigo 22.º:


 São proibidas, consoante o quadro negocial padronizado,
designadamente, as cláusulas contratuais gerais que:

 f) Impeçam a denúncia imediata do contrato quando as


elevações dos preços a justifiquem;
 g) Afastem, injustificadamente, as regras relativas ao
cumprimento defeituoso ou aos prazos para o exercício de
direitos emergentes dos vícios da prestação;
 h) Imponham a renovação automática de contratos
através do silêncio da contraparte, sempre que a data
limite fixada para a manifestação de vontade contrária a
essa renovação se encontre excessivamente distante do
termo do contrato; Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 72

72

36
08-10-2022

 Cláusulas relativamente proibidas - artigo 22.º:


 São proibidas, consoante o quadro negocial padronizado,
designadamente, as cláusulas contratuais gerais que:

 i) Confiram a uma das partes o direito de pôr termo a


um contrato de duração indeterminada, sem pré-
aviso razoável, exceto nos casos em que estejam
presentes razões sérias capazes de justificar
semelhante atitude;
 j) Impeçam, injustificadamente, reparações ou
fornecimentos por terceiros;
 l) Imponham antecipações de cumprimento
exageradas;
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 73

73

 Cláusulas relativamente proibidas - artigo 22.º:


 São proibidas, consoante o quadro negocial padronizado,
designadamente, as cláusulas contratuais gerais que:
 m) Estabeleçam garantias demasiado elevadas ou
excessivamente onerosas em face do valor a
assegurar;
 n) Fixem locais, horários ou modos de cumprimento
despropositados ou inconvenientes;
 o) Exijam, para a prática de atos na vigência do
contrato, formalidades que a lei não prevê ou
vinculem as partes a comportamentos supérfluos,
para o exercício dos seus direitos contratuais.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 74

74

37
08-10-2022

Jurisprudência

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 75

75

 Acórdão STJ de 15/5/2008, Proc.08B357 (rel. Mota Miranda):


I - O banco X utiliza no clausulado dos cartões de crédito e de débito uma letra de
dimensão reduzida, com um espaço entre as linhas também muito reduzido,
formando um texto muito compacto que torna a sua leitura difícil e cansativa
mesmo para quem possua uma visão média, dificultando, consequentemente, a
compreensão e apreensão do sentido do texto; daí que tal clausulado tenha de ser
excluído dos contratos singula-res, devendo o banco X abster-se da sua utilização
em futuros contratos - arts.8º e 9º, nºs 2, al. a), e 3, da Lei n 24/96, de 31/7, e
art.8º, al. c), do DL 446/85, de 25/10.

II - Nos contratos de adesão relativos aos cartões de crédito e de débito do banco Y, a


assinatura do aderente localiza-se antes das cláusulas contratuais gerais que se
encontram apostas em folha imediatamente a seguir; porém, consta dos mesmos
contratos em local situado antes da assinatura do aderente, uma declaração em
que o aderente afirma ter tomado conhecimento e aceitar as condições de
utilização do cartão. Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 76

76

38
08-10-2022

 Acórdão STJ de 15/5/2008, Proc.08B357 (rel. Mota Miranda) cont.:


III - A exigência legal de a assinatura se localizar após as cláusulas para que estas sejam
relevantes sobrepõe-se ao conhecimento manifestado pelo aderente; daí que tais
cláusulas, por localizadas após, para além, a seguir à assinatura do aderente, em
violação do art.8º, al. d), do DL 446/85, sejam inválidas e excluídas dos contratos,
devendo o réu banco Y abster-se da sua futura utilização.
IV - Do clausulado dos cartões do banco Y resulta que o banco se exclui de qualquer
responsabilidade que possa resultar das operações realizadas com os cartões entre o
aderente, titular do cartão, e terceiros; ora, dispondo-se no art.18º, al. c), do DL 446/ 85,
que são proibidas as cláusulas que excluam ou limitem de modo directo ou indirecto a
responsabilidade por não cumprimento definitivo, mora ou cumprimento defeituoso em
caso de dolo ou de culpa grave, e determinando-se no art.21º, al. d), do mesmo DL que
são proibidas as cláusulas que excluam os deveres que recaiam sobre o predisponente,
em resultado de vícios da prestação ou estabeleçam nesse âmbito reparações ou
indemnizações pecuniárias pré-determinadas, tem de se concluir pela sua proibição e
consequente nulidade - art.12º do DL 446/85.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 77

77

 Acórdão STJ de 15/5/2008, Proc.08B357 (rel. Mota Miranda) cont.:


V - Naquele clausulado estabelece-se uma confissão de dívida do titular do cartão; tal
responsabilidade está, porém, excluída, nos casos de as ocorrências serem
devidas a culpa ou negligência do banco e nos casos de uso abusivo ou
fraudulento do cartão ocorridos após comunicação ao banco e nos casos de uso
indevido ou fraudulento ocorridos antes dessa comunicação no que ultrapassar o
limite estabelecido na cláusula 22ª; assim, a distribuição de responsabilidade entre
o banco e o titular do cartão obedece aos princípios da boa fé, não ocorrendo
violação do disposto no art. 21.º, als. f) e g), do DL 446/85.

VI - Quanto à 2.ª parte da cláusula 17.ª, cria-se ali um meio de prova bastante - os
registos informáticos -, atribuindo-se-lhe uma força probatória em contrário do que
resultaria da utilização de meios legais de prova admissíveis em direito, excluindo-o
do âmbito do princípio geral de livre apreciação dos meios de prova; quanto a esta
parte da cláusula ocorre nulidade por violação do disposto no art.21º, al. g), do DL
446/85. Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 78

78

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08-10-2022

 Acórdão STJ de 15/5/2008, Proc.08B357 (rel. Mota Miranda) cont.:


VII - Na cláusula 23ª estabelece-se para os casos de violação (com culpa
grosseira ou dolo) daquelas obrigações de cuidado pelo titular do cartão a
exclusão dos benefícios que para esse titular do cartão resultariam de
cláusulas que tenham por finalidade evitar ou reduzir os danos; esta
cláusula não atribui ao banco a faculdade ou o direito de interpretar a
conduta do titular do cartão, por isso tem-se esta cláusula por válida.

VIII - Na cláusula 34.ª estabelece-se que, havendo divergência entre os valores


conferi-ridos por dois empregados do banco quando procederem à
abertura dos envelopes, e os valores digitados pelo depositante, a prova
do valor real e efectivo do depósito cabe ao depositante; não havendo
qualquer inversão do ónus da prova, não ocorre violação do art.21º, al. g),
do DL 446/85.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 79

79

 Acórdão STJ de 15/5/2008, Proc.08B357 (rel. Mota Miranda) cont.:


IX - Nos contratos de adesão relativos aos cartões de crédito e de débito do banco Z,
autorizando-se o banco a proceder a compensação, debitando qualquer conta do titular
do cartão pelas quantias não pagas, permite-se que o banco também debite e proceda
a essa compensação com contas de que o titular do cartão não é o único titular da
conta, com contas conjuntas ou solidárias; daí que, com tal autorização, o banco está a
impor ao titular do cartão a aceitação de débitos e compensação com créditos de
terceiro, com créditos de quem não é titular do cartão, o que não pode aceitar-se, sendo
tal cláusula proibida.

X - Nos contratos de adesão relativos aos cartões de crédito e de débito do banco X,


estabelece-se na cláusula 9ª, para além da obrigação de pagamento, pelo aderente ao
banco, de uma quantia por ano, a possibilidade de alteração unilateral pelo banco,
mediante prévia comunicação ao titular do cartão; nela não se indica o seu montante,
nem o critério para a sua actualização, nem o prazo para que a comunicação de
alteração possa produzir efeitos, nem ainda quais os meios de que dispõe o titular do
cartão para reagir, aceitando ou Sérgio
resolvendo o contrato.
Machado– Ano Letivo 2022/2023 80

80

40
08-10-2022

 Acórdão STJ de 15/5/2008, Proc.08B357 (rel. Mota Miranda) cont.:

XI - Na cláusula 29ª, por sua vez, estabelece-se também a possibilidade de alteração


unilateral do limite de crédito concedido ao titular do cartão; aqui também não se
indica qualquer critério nem se aponta qualquer fundamento para essa alteração,
nem qual o prazo a partir do qual a alteração desse limite produzirá efeitos; tais
cláusulas - 9ª e 29ª - são nulas por violação do disposto no art.22º, al. c), do DL
446/85.

XII - Na cláusula 12ª estabelece-se uma presunção - presunção de uso do cartão,


presunção de que foi utilizado pelo titular quando for correcta a digitação do PIN e
presunção de que o uso foi consentido ou facilitado culposamente pelo titular
quando for utilizado por terceiro; estas presunções encontram-se em consonância
com as regras que estabelecem a distribuição do ónus da prova; esta cláusula é,
portanto, válida.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 81

81

 Acórdão STJ de 15/5/2008, Proc.08B357 (rel. Mota Miranda) cont.:


XIII - De várias cláusulas resulta a atribuição ao banco do poder de cobrar, debitando na
conta-cartão, as quantias por despesas, encargos, taxas de juro e sobretaxas
resultantes da celebração do contrato ou de utilização do cartão; em tais cláusulas não
se indicam os seus montantes nem os critérios para a sua determinação; ora, não é
permitido que o predisponente imponha ao aderente obrigações que não conhece
integralmente e que, por isso, não pode ponderar antes de aderir ao contrato - arts.5º e
8º, al. a), do DL 446/85.

XIV - A cláusula 22ª mantém a responsabilidade do titular do cartão findo o contrato e até à
efectiva devolução do cartão; esta cláusula é nula por violação do disposto no art. 21º,
al. f), do DL 446/85 ( proibição de alteração das regras de distribuição do risco).

XV - É válida a cláusula 23ª que permite ao banco alterar unilateralmente as condições


gerais de utilização, produzindo efeito se o aderente titular do cartão não resolver o
contrato no prazo de 15 dias a contar da informação dessa alteração.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 82

82

41
08-10-2022

 Acórdão STJ de 15/5/2008, Proc.08B357 (rel. Mota Miranda) cont.:


XVI - A cláusula 26ª estabelece a irresponsabilidade do banco nos casos de não aceitação
do cartão e pelo deficiente atendimento ou má qualidade dos bens ou serviços obtidos
com a utilização do cartão pelo seu titular; esta cláusula é nula por violação do disposto
nos arts.18º, al. c), e 21º, al. g), do DL 446/85.

XVII - Na cláusula 30ª estabelece-se a presunção de que o titular do cartão recebeu, na


morada indicada, o extracto e impõe-se ao titular do cartão o reconhecimento da dívida
se não houver reclamação no prazo de 15 dias; esta cláusula é nula por violação do
disposto no art.19º, al. d), do DL 446/85.

XVIII - Na cláusula 45ª estabelece-se a obrigação do titular do cartão de utilizar sempre o


MBNet nas operações em ambientes abertos e determinou-se ainda que, em caso de
incumprimento desta obrigação pelo titular do cartão, o banco pode inviabilizar a
operação, não sendo de imputar ao banco qualquer responsabilidade por eventuais
prejuízos, quer o banco inviabilize ou não inviabilize essa operação realizada sem
utilização de MBNet; esta cláusula
Sérgioé válida.
Machado– Ano Letivo 2022/2023 83

83

Acórdão do STJ, de 27 de Setembro de 2016 [Processo: 240/11.7TBVRM.G1.S1]

• IV. É abusiva (por atentatória do vetor da boa-fé), proibida e nula a cláusula especial
constante das condições de contrato de seguro de grupo destinado ao pagamento do
saldo de um empréstimo por crédito à habitação em caso de invalidez absoluta e
definitiva do aderente, que exige acrescidamente para a caracterização desse estado
de invalidez que o aderente fique na obrigação de recorrer à assistência permanente
de uma terceira pessoa para efetuar os atos ordinários da vida corrente.

• V. Tal cláusula introduz um significativo desequilíbrio contratual entre as partes (na


prática esvazia largamente a utilidade do seguro), na medida em que o fim precípuo
do dito seguro é obrigar o segurador a pagar ao banco mutuante no caso do aderente
ficar impossibilitado de o fazer por si, e esta finalidade satisfaz-se com a própria
impossibilidade e sem necessidade do aderente ficar também dependente da referida
assistência permanente.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 84

84

42
08-10-2022

 Ac. STJ de Uniformização de Jurisprudência n.º 2/2016, de 13.11.2015 : É


proibida, nos termos do preceituado pelo art.º 15.º da LCCG, por contrária
a boa-fé, a cláusula contratual geral que autoriza o banco predisponente a
compensar o seu crédito sobre um cliente com o saldo de conta colectiva
solidária, de que o mesmo cliente seja ou venha a ser contitular. É
proibida, nos termos do preceituado pelo art.º 18.º al. a) da LCCG, a
cláusula contratual geral que autoriza o banco predisponente a ceder total
ou parcialmente a sua posição contratual para outras entidades do
respetivo grupo, sediadas em Portugal ou no estrangeiro. A nulidade da
cláusula de atribuição de competência territorial pode ser apreciada em
acção inibitória, em função da valoração do quadro contratual padronizado
e não apenas no âmbito dos contratos concretos.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 85

85

Acórdão de Uniformização de Jurisprudência,


de 13 de Novembro de 2015

Cláusulas

Da minuta do contrato de abertura do crédito proposto pelo recorrente aos seus

clientes constam as cláusulas seguintes:

A) Cláusula 5.4. da Secção A – Disposições Gerais e Comuns – Ordens, Instruções e

Processamento:

O Banco fica desde já expressamente autorizado a movimentar a conta para os efeitos


Segmento uniformizador
previstos no número anterior, bem como a debitar quaisquer contas junto dos seus
• É proibida, nos termos do preceituado
balcões de que o cliente seja ou venha a ser titular ou contitular, para efectivação do

pagamento de quaisquer dívidas emergentes da execução das operações previstas


pelo artº. 15º da LCCG, por contrária à
nestas Condições Gerais, podendo, ainda, proceder à compensação dessas dívidas boa-fé, a cláusula contratual geral que
com quaisquer saldos credores da cliente e independentemente da verificação dos
autoriza o banco predisponente a
pressupostos da compensação legal.

B) Cláusula 2.2. Débitos em in Subsecção B2 (Depósitos à Ordem) da Secção B compensar o seu crédito sobre um cliente
(Condições Gerais de Abertura e Movimentação de Conta):
com o saldo de conta colectiva solidária,
Caso a conta não se encontre provisionada com saldo suficiente para o lançamento a

débito de qualquer pagamento, poderá o Banco proceder ao débito do montante em


de que o mesmo cliente seja ou venha a
causa em qualquer outra conta da titularidade ou contitularidade do cliente junto do ser contitular.
Banco, ou autorizar o pagamento, ficando neste caso o cliente, independentemente

de interpelação, obrigado a regularizar de imediato qualquer descoberto assim

originado, o qual vencerá juros contados dia a dia à taxa mais alta praticada pelo

Banco para operações activas, acrescida de quaisquer sobretaxas, impostos e outros


Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 86
encargos aplicáveis.

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08-10-2022

Acórdão de Uniformização de Jurisprudência,


de 13 de Novembro de 2015

Cláusulas Segmento uniformizador


• E) Cláusula 12.3. sob a epígrafe Disposições
Diversas inserida na Secção A (Disposições É proibida, nos termos do preceituado pelo
Gerais Comuns): artº. 18º al. a) da LCCG, a cláusula contratual
O cliente desde já autoriza o Banco a ceder total geral que autoriza o banco predisponente a
ou parcialmente a sua posição contratual nestas
ceder total ou parcialmente a sua posição
Condições Gerais para outras entidades do
contratual para outras entidades do respectivo
Grupo ... sediadas em Portugal ou no
grupo, sediadas em Portugal ou no estrangeiro.
estrangeiro com representação em Portugal, a
qual será eficaz a partir da data da sua
comunicação ao cliente mediante carta
registada.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 87

87

Acórdão de Uniformização de Jurisprudência,


de 13 de Novembro de 2015

Cláusulas Segmento uniformizador


• F) Cláusula 14., sob a epígrafe Lei Aplicável e
Foro Competente inserida na Secção A A nulidade da cláusula de atribuição de
(Disposições Gerais e Comuns): competência territorial pode ser apreciada em
Para julgar todas as questões emergentes dos acção inibitória, em função da valoração do
serviços e produtos abrangidos pelas quadro contratual padronizado e não apenas no
presentes Condições Gerais e as operações âmbito dos contratos concretos.
bancárias nos seus termos realizadas, as
partes elegem, ressalvadas as limitações da
lei, o foro do Tribunal da Comarca de Lisboa.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 88

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08-10-2022

Artigo 19.º, alínea g)


• “Ora, o artº. 25º da LCCG dispõe:
• O artº. 19º al. g) da LCCG “As cláusulas contratuais gerais,
elaboradas para utilização futura,
considera proibida, consoante o quando contrariem o disposto nos
artºs. 15º, 16º, 18º, 19º, 21º e 22º,
podem ser proibidas por decisão
quadro negocial padronizado, a judicial, independentemente da sua
inclusão efectiva em contratos
cláusula contratual geral que singulares.
Se este tipo de cláusulas pode ser
proibido por decisão judicial, mesmo
estabeleça um foro competente sem estarem incluídas em qualquer
contrato, significa que o tribunal não
que envolva graves precisa de analisar as circunstâncias
concretas do negócio jurídico em que
inconvenientes para uma das as mesmas foram inseridas para as
declarar proibidas, desde que tome em
consideração o tipo de contrato e o
partes, sem que os interesses da padrão de aderentes”
outra parte o justifiquem.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 89

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Ac. STJ, de 7 de Dezembro de 2016 [Processo: 1776/11.5TVLSB.L1.S1 ]

• I - O seguro de responsabilidade civil do industrial de construção civil, cuja obrigatoriedade foi consagrada nos
termos conjugados dos arts. 15.º, n.º 1, al. e), 21.º, n.º 2 e 70.º, n.º 2, do DL (…)

• .
II - Assumindo a seguradora no âmbito de contrato de seguro sujeito ao regime das cláusulas contratuais gerais,
que consta do DL n.º 446/85, de 25-10, a indemnização pelos danos materiais causados em propriedades
contíguas ao local de trabalho da empreitada – a empreitada que tinha por objeto a demolição de edifício e a
edificação de um novo suportado em alicerces instalados após trabalhos de escavação no subsolo –, danos
devidos à execução dos trabalhos seguros, a inclusão de cláusula limitativa, que pela sua amplitude retira
utilidade prática à cláusula geral de responsabilidade, traduz desrespeito das regras de boa fé e dos deveres de
informação referenciados nos arts. 5.º, 6.º, 15.º, 16.º e 18.º, al. b) daquele diploma, constituindo uma limitação
desproporcionada à responsabilidade assumida de indemnização de terceiros pelos danos resultantes da
execução da empreitada.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 90

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08-10-2022

Ac. STJ, de 7 de Dezembro de 2016 [Processo: 1776/11.5TVLSB.L1.S1


](cont.)

• III - É o que sucede com a cláusula limitativa da responsabilidade por via da qual a
seguradora não se responsabiliza pelos danos causados “por ou em consequência de
vibrações, utilização de explosivos, remoção ou enfraquecimento de fundações,
alterações do nível freático e outros trabalhos que envolvam elementos de suporte ou
subsolo, quando diretamente resultantes da execução destes trabalhos”,
designadamente o invocado “enfraquecimento de fundações”, considerando que o
enfraquecimento de fundações dos prédios vizinhos àquele onde se procedem a
escavações constitui o principal risco que decorre precisamente das escavações em
subsolo.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 91

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Remédios

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08-10-2022

 O artigo 12.º declara nulas as cláusulas proibidas.

 Ficam, pois, sujeitas ao regime dos artigos 286.º a


289.º do Código Civil: - é de conhecimento
oficioso e invocável por qualquer interessado; -
e é insanável pelo decurso do tempo e por
confirmação.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 93

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 Declaração de nulidade - artigo 24.º:

 As nulidades previstas neste diploma são invocáveis


nos termos gerais.

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08-10-2022

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 95

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 Nos artigos 13.º e 14.º o aderente pode optar:


 pela manutenção do negócio sem as cláusulas nulas,
que são substituídas pelas normas supletivas
aplicáveis, com recurso, ainda, se necessário, às
regras da integração do negócio jurídico (artigo 239.º
Código Civil), como previsto no artigo 13.º;

 ou, não exercendo essa faculdade, pela nulidade do


contrato, caso em que, consoante artigo 14.º, pode
haver lugar à redução prevista no artigo 292.º Código
Civil. Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 96

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08-10-2022

 Acão Inibitória – artigo 25.º e ss.


 Independente da inclusão efetiva dessas cláusulas
em contratos singulares, a ação inibitória prevista no
artigo 25.º ss., tem por fim a proibição por decisão
judicial das Cláusulas Contratuais Gerais que
contrariem as proibições estabelecidas na LCCG (DL
446/85, de 25/10) – tanto a proibição geral constante
dos arts.15.º e 16.º, como as específicas
exemplificativamente enumeradas nos arts.18.º, 19.º,
21.º e 22.º.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 97

97

 Legitimidade:

 ATIVA - artigo 26.º

 PASSIVA - artigo 27.º

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 98

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08-10-2022

 Artigos 25.º, 26.º e 27.º ss.:


 Com legitimidade ativa - do Ministério Público e
associações sindicais, profissionais ou de interesses
económicos e associações de defesa dos
consumidores e;

 Legitimidade passiva - do predisponente utilizador de


cláusulas contratuais gerais ou de quem, mesmo não
o sendo, recomende as cláusulas contratuais gerais
em causa a terceiros.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 99

99

 Competência Territorial – artigo 28.º:

 O artigo 28.º regula a competência territorial


estabelecendo a regra da competência da comarca
onde se situa o centro da atividade principal do
demandado, valendo, se situado no estrangeiro, a da
residência ou sede do demandado, e se estas se
situarem no estrangeiro o local da proposta ou
recomendação das cláusulas.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 100

100

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08-10-2022

 Forma de Processo – artigo 29.º, n.º1:

 No seu n.º1, o artigo 29.º determina, por razões de


celeridade e eficácia, que a ação de proibição de
cláusulas contratuais gerais (ação inibitória) segue os
termos do processo sumário de declaração
estabelece para esta ação isenção objetiva de
custas.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 101

101

 Valor da Causa – artigo 29.º, n.º2:

 O n.º2 do artigo 29.º fixa o valor da ação inibitória em


mais € 0,01 que o da alçada da Relação, evitando
controvérsia a esse respeito e permitindo por esse
modo recurso para o Supremo Tribunal de Justiça.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 102

102

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08-10-2022

 Sentença – art. 30.º, n.º1; também n.º2 e arts. 32.º, 34.º e 35.º:

 A finalidade, intenção ou razão de ser da ação inibitória – ação


de defesa do interesse geral - é a de evitar a utilização futura de
cláusulas abusivas, superando os inconvenientes de um controlo
apenas a posteriori, com efeitos circunscritos ao caso concreto e
dependente da iniciativa processual do lesado, vítima frequente
da sua falta de informação ou inércia e da falta de meios para
enfrentar contraparte poderosa.
 Por isso, consoante artigo 30.º, n.º1, nessas ações, a parte
decisória da sentença deverá referir concretamente o teor das
cláusulas proibidas e o tipo de contratos a que a proibição se
reporta. Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 103

103

 Publicidade – artigo 30.º:

 O n.º2 do artigo 30.º possibilita a condenação do


vencido a dar publicidade à proibição pelo modo e
durante o tempo que o tribunal determinar quando o
autor deduza pedido nesse sentido.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 104

104

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08-10-2022

 O artigo 11.º, n.º 3, da Lei de Defesa do Consumidor tornou


obrigatória a publicação da sentença após trânsito e “a expensas
do infrator”, “nos termos fixados pelo juiz”.
 A publicação não constitui sanção: tendo por fim a proteção e
defesa dos consumidores, visa dar publicidade à proibição das
cláusulas em questão em ordem a permitir o efetivo conhecimento
da mesma, alertando os consumidores para essa proibição e
precavendo-os, assim, contra tais cláusulas.
 Exemplo: A esta luz se julgou já que “ainda que os cartões a que
as cláusulas respeitam já não tenham circulação no mercado,
nem por isso deixa de se justificar a condenação do banco a dar
publicidade à condenação”.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 105

105

 Existe um registo nacional de cláusulas contratuais


abusivas julgadas pelos tribunais e que pode ser
acedido em www.dgsi.pt (Registo das Cláusulas
Contratuais Gerais Declaradas Nulas pelos
Tribunais).

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 106

106

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08-10-2022

 Proibição Provisória de CCG – artigo 31.º:

 Quando haja receio fundado de virem a ser incluídas


em contratos singulares cláusulas gerais
incompatíveis com o disposto no regime das
cláusulas contatuais gerais, podem as entidades
referidas no artigo 26.º requerer provisoriamente a
sua proibição.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 107

107

 Consequências do caso julgado em acção


inibitória – artigo 32.º

 O artigo 32.º, n.º1, estabelece que a proibição


definitiva - por decisão com trânsito em julgado – de
cláusulas contatuais gerais em ação inibitória
determina a proibição de inclusão dessas cláusulas
ou doutras substancialmente equiparadas em
contratos que o proponente demandado venha a
celebrar, e a de que continuem a ser recomendadas.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 108

108

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08-10-2022

 Sanção Pecuniária Compulsória – artigo 33.º:

 O artigo 33.º, n.º1, comina sanção pecuniária


compulsória para a infração pelo demandado da
obrigação de abstenção do uso ou recomendação de
cláusulas contatuais gerais imposta por decisão
inibitória (proibição definitiva) transitada em julgado.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 109

109

 Registo das decisões inibitórias – artigos 34.º e 35.º

O artigo 34.º impõe ao tribunal a obrigação de, em 30


dias, enviar cópia das decisões inibitórias transitadas
em julgado ao serviço competente do Ministério da
Justiça.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 110

110

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08-10-2022

Fiscalização e regime
sancionatório

 Aditado pelo : Decreto-Lei n.º 109-G/2021, de 10 de dezembro

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 111

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 Contraordenações – artigo 34.º-A:

1 - Constitui contraordenação muito grave, punível nos termos do Regime Jurídico das
Contraordenações Económicas (RJCE), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 9/2021, de 29 de
janeiro, a utilização de cláusulas absolutamente proibidas nos contratos, incluindo as
previstas nos artigos 18.º e 21.º.

2 - A negligência é punível nos termos do RJCE.

3 - Salvo disposição em contrário, o montante das coimas aplicadas é distribuído nos


termos previstos no RJCE.

4 - O disposto no presente artigo não prejudica a aplicação do regime substantivo e


processual específico do setor em causa, caso este exista.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 112

112

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08-10-2022

 Determinação da medida da coima – artigo 34.º-B:

Na determinação da coima a que se refere o artigo anterior, o decisor deve ter em conta:

a) A natureza, gravidade, dimensão e duração da infração cometida;

b) As medidas eventualmente adotadas pelo infrator para atenuar ou reparar os danos causados
aos consumidores;

c) As eventuais infrações cometidas anteriormente pelo infrator em causa;

d) Os benefícios financeiros obtidos ou os prejuízos evitados pelo infrator em virtude da infração


cometida, se os dados em causa estiverem disponíveis;

e) Outros fatores agravantes ou atenuantes aplicáveis às circunstâncias do caso concreto que


devam ser considerados, de acordo com RJCE.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 113

113

Fiscalização, instrução e aplicação de coimas – artigo 34.º-C:

1 - A fiscalização do cumprimento do disposto no presente decreto-lei, assim


como a instrução dos respetivos processos de contraordenação e a aplicação
das coimas competem à entidade reguladora ou de controlo de mercado
competente nos termos da legislação setorialmente aplicável
.
2 - Na ausência de entidade reguladora ou de controlo de mercado competente
em razão da matéria, compete à Direção-Geral do Consumidor (DGC) fiscalizar
o cumprimento do disposto no presente decreto-lei, instruir os processos de
contraordenação e aplicar coimas.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 114

114

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08-10-2022

 Aplicação no tempo – artigo 36.º:

 O artigo 36.º determina a aplicação da LCCG às


cláusulas já existentes à data da sua entrada em
vigor, mas, em restrição do disposto no art.12.º, n.º2,
Código Civil, exclui da sua aplicação os contratos
singulares já celebrados à data da sua entrada em
vigor.

Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 115

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 Princípio da aplicação da lei mais favorável ao


aderente – artigo 37.º:

 O artigo 37.º ressalva todas as disposições legais –


como é o caso de constantes da Lei n.º23/96, de
26/7 (Lei dos Serviços Essenciais) e da Lei n.º24/96,
de 31/7 (LDC - Lei de Defesa do Consumidor) - que,
em concreto, se mostrem mais favoráveis ao
aderente que subscreva ou aceite propostas que
contenham cláusulas contatuais gerais.
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 116

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08-10-2022

Caso Prático
Anita que sempre teve o desejo de aprofundar os
seus conhecimentos de pintura inscreveu-se numa
prestigiada instituição de artes.
No contrato celebrado entre a instituição de artes
e Anita podia encontrar-se uma cláusula com o
seguinte conteúdo: “A instituição não é responsável
pelos danos causados em virtude da deficiente
qualidade das tintas e telas fornecidas aos clientes”.
Quid Juris?
Sérgio Machado– Ano Letivo 2022/2023 117

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