Você está na página 1de 6

FACULDADE UNYLEYA

L.L.M. EM DIREITO EMPRESARIAL

EMILY DOS SANTOS

CONTRATO DE COMPRA E VENDA INTERNACIONAL DE MERCADORIAS:


UM PARALELO ENTRE A FORMALIZAÇÃO DO CONTRATO À NORMA
INTERNA DO DIREITO BRASILEIRO E À CONVENÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS

SÃO JOSÉ – SC, 17 DE SETEMBRO DE 2019.


CONTRATO DE COMPRA E VENDA INTERNACIONAL DE MERCADORIAS:
UM PARALELO ENTRE A FORMALIZAÇÃO DO CONTRATO À NORMA
INTERNA DO DIREITO BRASILEIRO E À CONVENÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS

O Contrato é o instrumento pelo qual as partes regulam uma relação, que


no caso em apreço, decorre de uma transação de compra e venda
internacional de mercadorias. Sabe-se que, o Contrato em si, exige zelo e
atenção na sua confecção, para evitar que futuramente haja interpretações
divergentes da ideia passada, causando desentendimento entre as Partes que
venha a prejudicar a relação. Então, antes que chegue às vias de fato, é
necessário esse cuidado prévio, para que o Contrato traduza efetivamente a
relação entre as Partes, e traga alguns pontos básicos como: qual será o direito
aplicável; como resolver um conflito; etc.
No que tange aos Contratos internacionais de compra e venda de
mercadoria, é interessante desenhar um paralelo referente à sua formalização
à luz do direito interno brasileiro antes da CISG (Convenção das Nações
Unidas) e após a sua adesão.
Vale destacar que em abril de 2014 entrou em vigor no ordenamento
jurídico brasileiro a Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra
e Venda Internacional de Mercadorias (doravante “CISG”), por meio do Decreto
nº 8.327/2014, cuja adesão do Brasil se deu em 04/03/2013.
Com a adesão, o Brasil ganhou, além de mais mercado com grandes
potências internacionais que já haviam aderido, como também a segurança
jurídica relacionada a contrato, diminuindo riscos, padronizando regras e a
barreira do desconhecido.
Segundo KUYVEN e PIGNATTA:

“Ao entrar em vigor no Brasil, a Convenção de Viena


inaugura um novo regime jurídico dos contratos, o da
compra e venda internacional de mercadorias[…]Temos
de nos acostumar a ver a compra e venda internacional
de mercadorias segundo os ‘óculos da Convenção’ para
não desnaturar sua aplicação, nem macular seu objetivo.”
(KUYVEN e PIGNATTA, 2015, p.36 e 37).

O objeto da Convenção é estabelecer critérios básicos para evitar conflitos


entre Estados no que diz respeito à formalização de Contrato.
O doutrinador CÁPARROZ ensina que “a Convenção foi erigida sob os
primados da razoabilidade e da boa-fé, que são determinantes para a
interpretação de todos os dispositivos, o que também implica que os
contratantes estão vinculados aos usos, costumes e práticas que tiverem
mutuamente pactuado.” (CÁPARROZ, 2012, p.560).
A CISG traz basicamente questões gerais relacionadas a: campo de
aplicação; interpretação; formação do contrato; obrigações das partes;
transferência do risco contratual; aspectos da formalização, validade e eficácia
da CISG.
Ocorre que em muitos outros países isso também acontece, gerando
conflitos entre os Estados. Daí a necessidade de buscar normas internacionais
de direito contratual para que as partes possam formalizar a relação (ARAUJO,
2004).
Importante trazer à baila que a Lei de Introdução às Normas de Direito
Brasileiro (LINDB), Decreto-lei nº 4.657/1942, não dispõe sobre o princípio da
autonomia da vontade das partes em contratos internacionais. Portanto, antes
da adesão ao CISG, o Brasil deveria aplicar as normas internas, como por
exemplo, o foro no local da constituição do Contrato, o que gerava grande
insegurança jurídica aos países que queriam comercializar com a Brasil.
Alguns juízes, no entanto, aplicavam o artigo 9º da LINDB para analisar se
aplicaria ou não a lei brasileira ou estrangeira, tamanha a insegurança jurídica.
A exemplo, segue jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSO CIVIL. COMPETÊNCIA INTERNACIONAL.


Nada importa que o contrato principal tenha sido ajustado,
em outro país, por pessoas jurídicas estrangeiras; ainda
que lá assumida, a fiança dada em garantia do respectivo
cumprimento por brasileiros aqui residentes, com bens
situados no território nacional, pode ser executada
perante o Judiciário Brasileiro. Recurso especial não
conhecido. (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 3ª
Turma. RESP nº 861.248. Relator: Ministro Ari
Pargendler. Data do julgamento: 12.12.2006)

Em contrapartida, a CISG traz consigo o princípio da autonomia da vontade,


e tudo começa com o fato de as partes poderem ou não aplicar a CISG em
seus Contratos.
A CISG, em seu artigo 90, traz mais uma vez a autonomia da vontade das
partes, dispondo que as partes podem escolher o foro.
A norma interna brasileiro, antes da adesão à CISG, trazia alguns limites ao
principio da autonomia da vontade no que diz respeito ao contrato
internacional, estabelecendo que o Contrato não teria validade se porventura
ofendesse a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes e os
requisitos formais, que deveriam sempre ser relacionados ao local de
constituição da obrigação.
No que diz respeito à interpretação, como o Brasil usa internamente o civil
law, a interpretação do contrato sempre seria direcionado para este tipo de
direito, enquanto o CISG, ao unir o commom law e o civil law, possibilitou ao
países diversos no direito aplicado, facilitar a interpretação adaptável a cada
Estado.
Em suma, o CISG trouxe segurança jurídica aos contratantes,
harmonizando leis internas dos Estados, respeitando os ordenamentos
jurídicos internos e a soberania dos mesmos, e dando liberdade para decidirem
o que aplicarem nos contratos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 ALMEIDA, Ricardo Ramalho. Competência internacional para a ação


anulatória de sentença arbitral e a eleição de foro no Novo Código
de Processo Civil. Revista de Arbitragem v. 47. out.-dez. CBar: São
Paulo. 2015. p 85-103
 ARAUJO, Nadia de. Direito Internacional Privado: Teoria e prática
brasileira. 5. ed. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2011.
 BRASIL. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Decreto
Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, alterada pela Lei nº 12.376,
de 30 de dezembro de 2010, a qual à alterou para LINDB. Disponível
em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm>
. Acesso em 17 de setembro de 2019.
 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº
861.248/RJ – Rio de Janeiro. Relator: Ministro Ari Pargendler. Pesquisa
de Jurisprudência, Acórdãos, 1e de dezembro de 2006. Disponível em:
<https://ww2.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/ITA?
seq=659459&nreg=200600974701&dt=20070319&formato=HTML>.
Acesso em 17 de setembro de 2019.
 CAPARROZ, Roberto. Comércio Internacional esquematizado;
Coordenador Pedro Lenza. São Paulo: Saraiva, 2012.
 CÁRNIO, Thaís Cíntia. Contratos internacionais: teoria e prática. São
Paulo: Atlas, 2009.
 DAMIAN ANTONIO, Terezinha. Lei aplicável aos contratos
internacionais. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/59292/lei-
aplicavel-aos-contratos-internacionais>. Acesso em 17 de setembro de
2019.
 DESCONHECIDO. Compra e Venda Internacional de Mercadorias –
Introdução. Disponível em:
<http://www.normaslegais.com.br/guia/clientes/compra-e-venda-
internacional-1.htm>. Acesso em 17 de setembro de 2019.
 FORGIONI, Paula. A evolução do direito comercial brasileiro: da
mercancia ao mercado. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2016. p 153
 KUYVEN, Fernando e PIGNATTA, Francisco Augusto. Comentários à
Convenção de Viena: compra e venda internacional de
mercadorias. São Paulo: Saraiva, 2015.
 LIMA RIBEIRO, Júlio César de. A obrigação do vendedor de entrega
das mercadorias “em conformidade” nos contratos de compra e
venda internacional (art. 35 da CISG): perspectivas da aplicação da
convenção de Viena de 1980 pelos operadores do direito brasileiro.
Disponível em: <http://www.cisg-brasil.net/downloads/doutrina/Julio
%20Ribeiro.pdf>. Acesso em 17 de setembro de 2019.
 LOPES E SILVA, Beatriz. A Importância e as consequências da
adesão do Brasil à Convenção das Nações Unidas sobre contratos
de compra e venda internacional de mercadorias – CISG. Disponível
em: <https://arbitranet.com.br/a-importancia-e-as-consequencias-da-
adesao-do-brasil-a-convencao-das-nacoes-unidas-sobre-contratos-de-
compra-e-venda-internacional-de-mercadorias-cisg/>. Acesso em 17 de
setembro de 2019.
 ONU. Brasil adere à Convenção da ONU sobre contratos
internacionais de compra e venda de mercadorias. Publicado em:
05/03/2013. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/brasil-
adereaconvencao-da-onu-sobre-contratos-internacionais-de-comprae....
Acesso em 17 de setembro de 2019.
 PINTO RIBEIRO, Rafael. Contratos Comerciais Internacionais: uma
simples visão sob a ótica da Convenção de Viena – 1980. Disponível
em: <https://rafaelpribeiro.jusbrasil.com.br/artigos/534027380/contratos-
comerciais-internacionais>. Acesso em 17 de setembro de 2019.
 RAMOS, Rui Gens Moura. Da lei aplicável ao contrato de trabalho
internacional. Coimbra: Livraria Almedina. 1990. p 110
 TENÓRIO, Oscar. Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro. 2a.
ed., Rio de Janeiro: Ed. Borsai, 1955. In: ARAUJO, Nadia de. Direito
Internacional Privado: Teoria e prática brasileira. 5. ed. atual. e ampl. Rio
de Janeiro: Renovar, 2011. P.395.

Você também pode gostar