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02 a 05 de julho de 2018
Universidade Federal do Oeste do Pará
Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas
Bacharelado em Gestão Ambiental
Seção: Artigos
Tópico: Zooartesanatos
INTRODUÇÃO
A produção dos primeiros artesanatos data do período neolítico, (COSTA, 2012) onde o homem
começava a desenvolver objetos para atender suas necessidades, transformando pedras, ossos, fibras de
vegetais e cerâmicas em utensílios e adornos.
No Brasil o artesanato já era produzido pelos índios antes da chegada dos portugueses, sendo que
eles confeccionavam cocares, cestos, colares e cerâmicas. A diversidade cultural no Brasil é representada
pela dança, fauna, flora, comidas típicas, vestuários, religiosidade, pelo folclore e também através da arte e
do artesanato dentre outras coisas (TROMBONI, 2009).
Artesão pode ser definido como aquele indivíduo que fabrica peças utilizando matéria prima local
e/ou regional e não utiliza um molde repetitivo para confecção do artesanato (VAINSENCHER, 2006).
O artesanato é classificado como sendo qualquer produto doméstico comercializado e fabricado de
maneira manual, podendo utilizar ferramentas simples e algumas máquinas rudimentares, utilizando
matéria prima local ou regional, fabricado por um ou mais artesãos podendo esses participar de
associações ou cooperativas (VAINSENCHER, 2006). Enquanto para Tedesco (2006), o artesanato é uma
atividade transmitida de pai para filho acompanhando a evolução dos desenvolvimentos socioeconômicos
e culturais.
O artesanato ressalta a criatividade do artesão de se expressar através de sua arte, independente
do material utilizado para confecciona-lo, geralmente passando seu conhecimento e técnica a seus filhos.
Essa arte varia conforme a região do país, tornando a peça única e evidenciando a cultura dessa região.
Um dos traços mais marcantes na cultura paraense é o artesanato, as peças produzidas guardam
tradições que ganham com o passar do tempo formatos diversificados, novos detalhes sem perder suas
marcas originais. No Pará, são utilizados para confecção de artesanatos, produtos extraídos da própria
região, sendo eles, fibras, barro, palha, pedras, variados tipos de sementes, argila, peixes e escamas de
algumas espécies de peixe também são utilizadas para fabricação dessa arte.
O termo zooartesanato é dado a todo e qualquer objeto fabricado através de animais ou partes de
animais (ALVES et al., 2006). Essa atividade consiste na utilização de penas, ossos, dentes, pele ou o próprio
animal inteiro para confecção de objetos decorativos, utilitários, brincos, anéis, cordões, chaveiros, etc.
Evidenciando os traços culturais da região representados pela diversidade de objetos, cores, formas e
representações.
Nas grandes cidades paraenses como Belém, Santarém, entre outras, há artesãos profissionais
especializados em zooartesanato produzindo objetos voltados para economia turística, por possuírem uma
diversidade de paisagens naturais que atraem uma grande quantidade de turistas para a região. A
produção do zooartesanato vem se destacando na geração de empregos no estado, sendo uma atividade
importante para a economia local dessas cidades.
Ressalta-se que a confecção do zooartesanato é uma atividade exploratória, gerando pressões a
biodiversidade, e não há conhecimento sobre a produção, comércio e consumo desses produtos, não tendo
conhecimento sobre qual o grau de impacto que a exploração desses organismos gera no ambiente (ALVES
et al., 2006).
Animais aquáticos marinhos ou de ambientes dulciáquicolas são muito utilizados para a
fabricação de zooartesanatos, tanto o animal inteiro como parte destes em outras peças, tendo o turista
como principal consumidor, o turista possui interesse em adquirir um souvenir que retrate a natureza
local.( Alves et al. (2010)).
O Brasil possui uma grande riqueza de diversidade de fauna aquática, principalmente a de peixes,
havendo um elevado número de espécies (BUCKUP et al., 2007). Essa grande quantidade de espécies
resulta pela presença de amplos sistemas hidrográficos (MACHADO et al., 2010), como a bacia hidrográfica
Amazônica, do São Francisco, entre outras, sendo a bacia Amazônica a mais rica com aproximadamente
1400 espécies (REIS et al., 2003).
Os peixes constituem uma importante fonte de alimento para o homem, sendo considerado como
um alimento saudável. Vários produtos podem ser feitos a partir dos peixes, utilizando partes que muitas
vezes não são comestíveis, como espinhas, couro e escamas. A utilização desses derivados diminui a
geração de resíduos e gera renda para os artesãos.
Assim como os peixes os moluscos de ambientes dulciáquicolas e marinho compõe um grupo
bastante utilizado como matéria prima para a confecção de zooartesanato, isso se deve ao fato dos
moluscos possuírem valvas de calcário popularmente chamado de conchas para revestimento de seu corpo
mole, e estas possuírem formatos variados e possuírem uma beleza única. Moluscos bivalves produzem o
nácar (material orgânico brilhante) (DEBACHER et al., 2010), também conhecido como madrepérola muito
utilizado na fabricação de botões.
Os moluscos são capturados casualmente ou encomendados para a produção de cordões, colares,
cortinas, entre outras (ALVES apud TENÓRIO et al., 2002). Alves et al., 2010 comenta que essas conchas são
capturadas de forma expressiva e a baixo custo financeiro, e que na maioria das vezes estão vazias quando
capturadas, entretanto podem ser encontrados com o animal vivo, sendo que as partes moles são
descartadas, comercializando somente sua concha.
Muitas espécies bivalves utilizadas no zooartesanato são capturadas no mar ou oriunda de descarte
proveniente de outra atividade, sendo que dessa forma reduz os impactos a fauna aquática, contudo a
constante exploração pode ocasionar desiquilíbrio para determinadas espécies endêmicas (SILVA et al.,
2007).
O presente trabalho foi realizado no intuído de identificar espécies de pescados utilizados para
fabricação de artigos artesanais e comercializados em feiras artesanais, pois, o principal problema
encontrado é que se tem pouco material com abordagem deste assunto e este levantamento pode auxiliar
na identificação dos espécimes utilizados na produção de zooartesanato e seu enquadramento na lista
vermelha de espécies ameaçadas de acordo com a IUNC - União Internacional para a Conservação da
Natureza e dos Recursos Naturais.
Tendo em vista que a prática do zooartesanato consiste em atividade e implica em pressões à
biodiversidade, este trabalho tem como objetivo realizar um levantamento das espécies de animais
O estudo foi desenvolvido no município de Santarém cuja extensão total de sua área é de
17.898,389 km² (IBGE, 2015) e em um de seus distritos (Alter-do-Chão). Santarém situa-se no oeste do
estado do Pará, Brasil, e compreendem as coordenadas de latitude 02°26’22”S e longitude 54°41’55”W,
com precipitação pluviométrica um pouco mais elevada, em média de 1.920mm/ano, temperatura média
anual de 25 ºC e umidade relativa do ar de 86% (NEPSTAD et al., 2002). Santarém situa-se no rio Tapajós, o
principal curso d’água em uma extensão de 132 km, (PREFEITURA DE SANTARÉM) e segundo dados do IBGE
a população estimada em 2016 é de 294.447 habitantes (Figura 1).
[...] considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números
opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de recursos e de
técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de
correlação, análise de regressão etc.).
As pesquisas deste tipo caracterizam-se pela interrogação direta das pessoas cujo
comportamento se deseja conhecerem. Basicamente, procede-se à solicitação de informações a um
grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise
quantitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados.
A observação sempre deve ser utilizada juntamente com outra técnica de pesquisa, pois, do ponto
de vista científico, essa técnica possui vantagens e limitações que podem ser administradas com o uso
concorrente de outras técnicas de pesquisa (MARCONI e LAKATOS, 1996). Utilizou-se essa técnica no
estudo para observar quais artesanatos possuíam partes ou animais inteiros no âmbito da pesquisa.
O estudo foi realizado no período de novembro 2016 a fevereiro de 2017. As coletas dos principais
pescados e seus subprodutos comercializados como artesanatos foram realizados em duas feiras artesanais
(Terminal Fluvial de Santarém e Cristo Rei) e três lojas de Santarém, e em seis lojas artesanais na vila
balneária de Alter-do-Chão, as lojas em questão assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido
com termo de confidencialidade, portanto mantem-se sigilo em relação aos seus respectivos nomes. Esses
são pontos tradicionais de venda de artesanato em Santarém e Alter-do-Chão, devido ao grande fluxo de
turistas que circulam nestes locais.
A identificação das peças de artesanato deu-se através de conversas informais com artesãos locais,
donos de comércios, vendedores e alguns turistas. As peças de artesanato oriundas de qualquer pescado
(marinho ou de água doce) ou seu subproduto, disponíveis para venda foram contabilizadas em cada
estabelecimento comercial e, sempre que possível, a matéria-prima animal utilizada para a confecção foi
identificada no próprio local, por se tratarem de espécies bastante conhecidas na região de Santarém.
Algumas peças, quando necessário, foram adquiridas para identificação dos animais até a mais inclusiva
categoria taxonômica possível, com auxílio de especialistas.
As peças foram classificadas em três categorias: utilitário, figurativo e peças zoológicas. As peças
utilizadas para uso doméstico ou para o uso pessoal foi classificado como utilitário; o figurativo são as peças
utilizadas para decoração e quando o próprio animal, inteiro ou parte dele é vendido como uma peça
decorativa, sem que possua adornos inseridos nele, é classificado como peça zoológica (ALVES et al., 2006).
Classificou-se em subproduto todo objeto confeccionado ou com adornos de partes de animais.
RESULTADOS
Os artesanatos de peixes e/ou seus subprodutos são oriundos em sua maioria de água doce
(43,1%), já os moluscos (36,2%) e crustáceo (2%) provêm principalmente de ambientes de água salgada
(Figura 2).
50,00%
Porcentagem por ambiente
45,00%
40,00%
35,00%
30,00%
25,00%
20,00% Ambiente dulciáquicola
15,00% Ambiente marinho
10,00%
5,00%
0,00%
Peixe Mollusco Crustaceo
Figura 2. Porcentagem de Zooartesanatos por tipo de ambiente (dulciáquicola e marinho) amostrados em Santarém e Alter-do-
Chão, Pará, Brasil.
Conforme os relatos dos vendedores e donos das lojas foram observados que os chaveiros e imãs
para geladeira fabricados a partir das escamas de pirarucu possuem maior número de vendas entre todas
as peças artesanais encontradas em Santarém.
Encontrou-se um total de 75 peças artesanais nas 11 lojas visitadas, das quais 51 são provenientes
de Santarém e 24 de Alter-do-Chão. Desse total, os artesanatos foram mais representativos em Santarém,
onde, o maior número de zooartesanato é fabricado com a utilização de peixes na íntegra ou partes deles
(49%) e os objetos confeccionados com a utilização de molusco totalizam 49% dos produtos encontrados e
crustáceo com a menor porcentagem (2%). Em Alter-do-chão observa-se que a percentagem das peças
fabricadas com peixes inteiros ou parte deles é de 37%, enquanto as peças utilizando moluscos totalizam
63%, não foi evidenciada nenhuma peça utilizando crustáceo (Figura 3).
70%
60%
Porcentagem do total de peças
50%
40%
artesanais
30% Santarém
20% Alter-do-Chão
10%
0%
PEIXE MOLUSCO CRUSTACEO
Grupos utilizados para fabricação de zooartesanato
Figura 3. Porcentagem de peças oriundas de peixes, moluscos e crustáceo encontradas em Santarém e Alter-do-Chão, Pará, Brasil.
de Santarém em contraste com os zooartesanatos oriundos de moluscos que possuem maior quantidade
em Alter-do-Chão e de acordo com os dados adquiridos no balneário de Alter-do-Chão, as peças artesanais
com procura relevante são as fabricadas com madrepérola (Figura 5).
Foram encontrados 58 tipos de zooartesanatos diferentes oriundos de animais aquáticos (Quadro
1).
Quadro 1. Levantamento de zooartesanato e seus subprodutos encontrados em Santarém e Alter-do-Chão.
PRESENTE/AUSENTE
ESPECIES ARTESANATO
Santarém Alter-do-Chão
Tucunaré empalhado 1 1
Piranha Empalhada 1 1
Tamuatá empalhado 1 1
Aruanã empalhado 1 1
Cujuba empalhada 1 1
Acari empalhado 1 1
Cortina 1 1
Colar 1 1
Pingente 1 1
Apito 0 1
Chaveiro 1 1
Apanhador de sonhos 1 0
Chaveiro (ostras) 1 0
Brinco (ostra) 1 0
Brinco (concha) 1 1
Pulseira (concha) 1 1
MOLUSCOS
Chaveiro madrepérola 1 1
Colar madrepérola 1 1
Pingente madrepérola 1 1
Pulseira madrepérola 1 1
Anel conchas 0 1
Anel madrepérola 0 1
Anel abalone 0 1
Pulseira abalone 1 1
Colar abalone 1 1
Pingente abalone 1 0
Dos zooartesanatos disponíveis para comercialização nas 11 lojas visitadas nos dois locais
estudados foram registrado 27 espécies de animais aquáticos, sendo que o numero de espécies mais
representativa se enquadra no Filo Mollusca (Classe Bivalvia e Gastropoda) com um total de 14 espécies
identificadas. O Filo Chordata (Classe Actinopterygii) obteve um total de 12 espécies, Filo Arthropoda
Quadro 2. Espécies de animais aquáticos utilizadas na fabricação de zooartesanatos dispostas em Santarém e Alter-
do-chão e sua classificação nas categorias da Lista Vermelha da IUCN.
FILO CLASSE NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR CATEGORIAS IUCN
serrasalmus sp PIRANHA NE
Olivella sp CONCHA NE
Legenda: Segura ou pouco preocupante ou Least Concern, em inglês (LC), Quase ameaçada ou Near Threatened, em inglês (NT),
Vulnerável ou Vulnerable (VU), Em perigo ou Endangered (EN), Criticamente em Perigo ou Em Perigo Crítico ou Critically
Endangered (CR), Extinta na natureza ou Extinct in the Wild (EW), Extinta ou Extinct, em inglês (EX), Dados Insuficientes ou Data
Deficient (DD); e Não avaliada ou Not Evaluated (NE).
As espécies Arapaima gigas (Schinz, 1822) e Prisodon obliquus (Schumacher, 1817) se enquadram
na categoria dados deficientes ou insuficientes (DD), isso indica que não se têm informações especificas
para avaliar se a espécie corre risco de extinção, essa categoria não pode validar o grau de risco da espécie,
porém mostra que ainda são necessárias informações precisas para uma avaliação adequada (Quadro 2).
A Lutjanus analis (G. Cuvier, 1828) é uma espécie de peixe marinho conhecido como cioba e está
enquadrada na categoria quase ameaçada (NT), pelos critérios de classificação provavelmente será incluída
numa das categorias de ameaça: Vulnerável, Em Perigo ou Criticamente em Perigo. O termo ameaça na
Lista Vermelha significa que a espécie se enquadra em um dos critérios acima descritos, porém não indica
que a espécie está quase em extinção.
Ressalta-se que as espécies Neritina virginea (Linnaeus, 1758) e Castalia ambigua (Lamarck, 1819)
estão enquadradas na categoria seguro ou pouco preocupante (LC), esta categoria demonstra que a
espécie não sofre risco de extinção e é a categoria de risco mais baixo (Quadro 2).
As peças utilitárias totalizaram 32% das peças encontradas nas lojas, enquanto as peças figurativas
correspondem 18% do total. Algumas das peças listadas possuem mais de um tipo de utilização, as peças
zoológica-figurativas correspondem a 38% dos tipos de objetos encontrados, sendo elas feitas com animais
inteiros empalhados e utilizados como decoração. As peças utilitária-zoológicas correspondem a 6% do
total de peças encontradas. E por último também totalizando 6% das peças classificadas estão as peças
figurativo-utilitárias.
Em Alter-do-Chão 43% do total das peças encontradas nas lojas foram peças utilitárias, enquanto as
peças figurativas, zoológicas-figurativas e utilitárias-zoológicas correspondem ambas a 19% do total das
peças e não foi encontrada nenhuma peça figurativa-utilitária no balneário de Alter-do-Chão (Figura 4).
50%
Porcentagem de peças por classificação
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0% Santarém
Alter-do-Chão
Figura 4. Classificação das peças zooartesanais encontradas nas lojas de Santarém e Alter-do-Chão, correspondente a sua
utilização.
Figura 5. Coçador utilizando dentes de peixe cachorra encontrada em uma das lojas de Alter-do-Chão – Pará.
DISCUSSÃO
de odor, a madrepérola (Figura 6) quando beneficiada eleva o valor de suas peças possibilitando aos
artesãos um rendimento maior valorizando o produto final (SILVA et al., 2007).
A representatividade de artigos confeccionados com moluscos e crustáceos são maiores no
ambiente marinho, principalmente porque muitos artigos são importados de regiões litorâneas como do
nordeste Brasileiro, segundo a Secretaria Estadual de Turismo do Espirito Santo, Piúma é uma das principais
cidades brasileiras na fabricação de artesanatos originados de conchas de moluscos.
Estima-se que no Brasil existem cerca de 150 espécies de moluscos bivalves de água doce (SIMONE,
2006). O conhecimento sobre a quantidade de espécies de moluscos dulciáquicolas na região amazônica
não é satisfatório (PIMPÃO, 2016). Contudo no estado do Pará a captura de moluscos bivalves é uma
tradição não somente de moradores litorâneos como também de águas interiores, a captura desses
moluscos auxilia no aumento da renda familiar após o beneficiamento e retirada da madrepérola contida
nas valvas (conchas) dessas ostras sendo posteriormente transformadas em artesanato e biojóias
(FHERREIRA, 2013).
A prática de catação de conchas em praias é comum por todo Brasil e a comercialização de conchas
de moluscos em mercados públicos, feiras livres, feiras típicas de artesanato, facilita a confecção de
artesanatos utilizando esse material (ALVES et al., 2006). No estado do Pará foi criado o programa de
desenvolvimento da coleta produtiva de moluscos como incentivo aos artesãos e pescadores regionais
diante do potencial apresentado.
O artesanato utiliza matéria prima que expressa algo da cultura de sua região, entre os
zooartesanatos encontrados pode-se observar que algumas peças carregam consigo a herança histórica das
tribos tapajônicas (Figura 7). Essas peças não só reproduzem a cultura de um povo como também valoriza o
artesanato deixando um diferencial único restaurando os traços de objetos produzidos há muito tempo no
intuito de transformá-las em referências oficiais da cultura santarena.
A preocupação com o aumento da demanda turística na região nordeste, pois eleva a procura por
artesanatos regionais (ALVES et al., 2007), essa realidade não é diferente na região norte, o que leva a uma
maior exploração das espécies utilizadas para fabricação de zooartesanato.
A B
Figura 7. Artigos indígenas: A) Máscara utilizando como adorno: (1) Escama de pirarucu, (2) Esporão de Cujuba; Remo
contendo (3) Ossos de tambaqui e B) Mascara contendo (4) Ossos de tambaqui; (5) Dente de piranha.
Algumas peças foram produzidas com escamas de peixes (dulciáquicolas e marinhos), as escamas
possuem baixo custo e é pouco explorada pela comunidade científica, além de se um material
relativamente abundante (SOUZA, 2013). Os zooartesanatos elaborados com a utilização de escama de
peixe foram brincos, imãs de geladeiras, chaveiros, apanhador de sonhos, cortinas, sendo utilizada para
adornar varias outras peças, porém a peça mais interessante fabricada com escamas de peixes foram
arranjos de flores.
A confecção dessas peças é muito simples utilizando apenas cola quente e papel (COSTA, 2016),
enquanto a Secretária de Turismo do Espírito Santo comenta que a pratica deve ser minuciosa requerendo
muito cuidado e capricho, porém o resultado final gera uma peça de aparência delicada com extrema
resistência e de grande durabilidade.
Conforme um estudo publicado por Alves et al. (2006) sobre um levantamento de animais
aquáticos na produção de zooartesanato a espécie Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Figura 8) encontra-se
incluída como sobreexplotada na Lista Nacional das Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes em
Extinção do IBAMA, na instrução Normativa nº 32 de 28 de maio de 2004.
Materiais usados na fabricação dos zooartesanatos como colas, parafusos, epóxi, tinta, sementes
entre outros auxiliam no acabamento das peças (ALVES et al., 2006). O artesanato é importante para o
crescimento turístico, no estado do Pará existe uma riqueza de produtos artesanais e possui grande
influência indígena (Governo do Estado do Pará, 2017) abrangendo o numero de peças artesanais que na
sua maioria retrata essa cultura indígena tão representativa na região.
Um exemplo de zooartesanato Utilitário bem vendido na região devido a essa cultura são os
Muiraquitãs esculpidos em formas de sapo, eram usados pelas mulheres tapajós como amuleto para
prevenir doenças e evitar a infertilidade, são lindas peças presenteáveis, foram encontrados alguns
modelos esculpidos em madrepérola (Figura 8).
Além da cultura indígena, outras peças artesanais procuradas pelos turistas através da cultura
regional são os peixes empalhados, essas peças demonstram a variedade biologia de espécies na região e
são enquadradas como peças Zoológicas-Figurativas, pois além se serem confeccionadas com a
taxidermização do animal inteiro a peça é vendida com suvenir de decoração.
CONCLUSÕES
Observa-se que muitas espécies aquáticas são utilizadas na fabricação de zooartesanato e vale
ressaltar que essa é uma atividade muitas vezes exploratória e não se tem muito conhecimento dos
impactos gerados à fauna regional, esse tipo de pesquisa auxilia na verificação de espécimes utilizados na
produção dessa arte já que não se têm muitos estudos realizados nesse âmbito, podendo contribuir em
análises quantitativas nos tipos de implicações a biodiversidade aquática local com embasamento nesse
estudo preliminar.
Para tal será necessário estudos mais aprofundados neste assunto e considera-se a atuação mais
eficiente dos órgãos governamentais, tanto na assessoria dos artesãos quanto na fiscalização da utilização
de animais aquáticos para a produção do zooartesanato, pois não há registro para comprovar se essas
espécies são oriundas de piscicultura licenciada ou de pesca predatória, considerando que no presente
estudo foram observadas peças artesanais com a utilização de espécies ameaçadas de extinção.
REFERÊNCIAS
ALVES M. S.; SILVA, M. A.; PINTO, S.L. Perfil BUCKUP, P. A.; MENEZES, N. A.; GHAZZI, M. S.
socioeconômico dos atores envolvidos na et al. Catálogo das espécies de peixes de água
produção e comercialização de zooartesanato doce do Brasil. Museu Nacional, Universidade
em Recife, PE – Brasil. Revista Nordestina de Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
Zoologia. V 4. N. 1. p. 97-104, 2009/2010. 2007.