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A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL PROMOVIDA PELA AGROPECUARIA: UM

ESTUDO DE CASO SOBRE O MUNICÍPIO DE MONTE ALEGRE – RN

Rodrigo Quirambú da Silva


Bacharel em Geografia e aluno do 7° período de Licenciatura Plena em Geografia da UFRN
quirambusilva@gmail.com

Ivaniza Sales Batista


Aluna do mestrado do PPGE e do 5° período de Licenciatura Plena em Geografia da UFRN
ivanizas@ymail.com

Zuleide Maria Carvalho Lima


Professora Adjunta do departamento de geografia da UFRN
zmclima@hotmail.com

GT 3: GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE

RESUMO
A degradação ambiental tem sido, nos últimos anos, motivo de muita discussão no cenário
mundial, sobretudo, no que diz respeito às atitudes comportamentais do homem com relação
ao uso irracional e abusivo dos limitados recursos disponíveis na natureza. A interferência
antrópica sobre o meio ambiente vem acarretando sérios danos aos compartimentos do meio
geográficos e as atividades econômicas são apontadas como as principais causadoras dos
impactos. Nessa perspectiva insere-se a atividade agropecuária como uma das principais
atividades econômicas responsáveis pela atual situação do problema. Este trabalho
problematiza a degradação ambiental, tendo como base empírica o município de Monte
Alegre – RN, onde objetiva-se evidenciar esse problema, sobretudo pela ação intensiva da
atividade agropecuária. A metodologia adotada pautou-se na efetivação de pesquisas
bibliográfica e de campo, produções cartográficas, análises das legislações vigentes e dos
impactos ambientais negativos atrelados ao intenso desmatamento. A agropecuária foi uma
das responsáveis pelo processo inicial da ocupação do território brasileiro, tornando-se uma
das principais atividades econômicas do país. Em Monte Alegre/RN ela caracteriza-se como
uma atividade de base, pautada na produção bovina e de grãos, principalmente. Por possuir
terrenos propícios ao desenvolvimento da atividade, a sua ação tornou-se danosa ao meio
ambiente, pelo manejo inadequado e pelo intenso processo de desmatamento. A degradação,
hoje, configura-se como um problema relevante ao município, que está sofrendo com as
adversidades desse problema.

PALAVRAS-CHAVE: Atividade Agropecuária, Degradação Ambiental, Monte Alegre-RN


1 INTRODUÇÃO

A degradação ambiental tem sido, nos últimos anos, motivo de muita discussão no
cenário mundial, sobretudo, no que diz respeito às atitudes comportamentais do homem com
relação ao uso irracional e abusivo dos limitados recursos disponíveis na natureza. A mudança
do padrão de vida humana, possibilitada pela aquisição de novas formas de produzir,
tecnologias e técnicas, impulsionou o desenvolvimento econômico e a melhoria do bem-estar
social da maior parte da população. O homem, como componente complementar do meio,
tornou-se predominante sobre os sistemas, caminhando no sentido contrário à manutenção do
equilíbrio natural. A crescente demanda de matéria prima e por espaço para produção
industrial e agrícola é uma tendência perigosa dos tempos modernos. Essa tendência é
observada em todo o mundo, com mais intensidade nos países em desenvolvimento e
industrializados.

O crescimento econômico, motivado pelo bom desempenho tecnológico das indústrias


e pelo desenvolvimento dos setores de base, proporcionou um aumento significativo nos
suprimentos alimentares, produtos industrializados e tecnológicos. Essa lógica, do capitalismo
moderno, da branda oferta e do consumo desenfreado, vem ocasionando uma avalanche de
problemas na natureza. Entre eles está à degradação ambiental, que é gerada por um conjunto
de causas antrópicas, mas, podendo em alguns casos isolados, ser gerada por razões naturais
(GUERRA, 2005). Entre as causas antrópicas estão as intervenções humanas, o crescimento
populacional, a indústria e a agropecuária. Elas são apontadas como as principais
responsáveis pelo processo de degradação que afligem o mundo.

A atividade agropecuária, por ser um setor econômico de base, caracteriza-se como


fornecedora de matéria prima para muitas indústrias, principalmente as indústrias
alimentícias. Ela é constituída por todas as atividades primárias, tais como: a pecuária,
agricultura, aquicultura, avicultura etc. A pecuária desponta como o principal negócio do setor
no mercado nacional e internacional, seguido pela agricultura. Alinhadas a esse crescimento
está a indústria de alimentação, a indústria de maquinários e variados tipos de serviços. É um
dos setores produtivos que se beneficia com os avanços técnico-científicos no campo, sendo
delegado a ela o título de grande consumidora de insumos industriais e tecnológicos,
provindos dos setores dos maquinários e agroquímicos. Seu mercado movimento bilhões no
Brasil, graças aos incentivos dados pelo governo, para que o setor cresça e se torne mais
competitivo no mercado internacional.

A agropecuária, dada à sua maneira atual de manejo, coloca-se como um ramo de


atividade potencialmente impactante, pois é sustentada por ações incoerentes e por práticas
inadequadas. Com sua modernização, adotou variados métodos de produção, que se
mostraram ineficazes e prejudiciais ao meio. Essa atividade vem ocasionando, a longo prazo,
a depreciação das áreas vegetadas, das pastagens naturais, das margens de afluentes, dos solos
e da biodiversidade. São variadas as formas de impactos via agropecuária, podendo ser desde
a contaminação por meios químicos, como agrotóxicos e fertilizantes até ações extremas
como queimadas e desmatamento.

O setor da agropecuária brasileira é um dos mais rentáveis e desenvolvidos do mundo,


obtendo ótimos desempenhos na sua cadeia produtiva. Mesmo diante de tantos problemas e
dificuldades que o setor enfrenta, as perspectivas de crescimento são boas. No ano de 2015, o
setor agrário foi o responsável por manter estável o Produto Interno Bruto (PIB) do país em
meio à crise. E foi o único setor produtivo da economia nacional a apresentar crescimento
(IBGE, 2015).

Nesse contexto, insere-se a pequena base produtiva da agropecuária municipal e o


conjunto de elementos que envolvem a produção agrícola e pecuária dos municípios de
pequeno porte. A crescente participação da agropecuária dos pequenos municípios na
economia local e regional se dá pela inserção de novas técnicas de cultivos, novos meios de
produção, expansão da área de cultivo, utilização de insumos e facilidade de crédito.

Concomitante a esse crescimento, que tem gerado renda aos municípios de economia
pautada nas atividades de base, crescem as áreas que estão enfrentando problemas com os
processos erosivos e o número de áreas desmatadas, que aumentam na medida em que as já
exploradas são utilizadas ao máximo. A intensificação desses problemas é mais notória em
locais onde não há fiscalização ou planos de manejo que não visem um desenvolvimento
pautado na sustentabilidade. Garantir a quantidade e qualidade dos recursos naturais
disponíveis são importantes para assegurar o equilíbrio ecológico. E com isso preservar o solo
e os recursos hídricos para usufruir futuramente.

Nessa perspectiva, se abordou como tema de pesquisa a Degradação ambiental promovida


pela exploração agropecuária no município de Monte Alegre – RN.
O município de Monte Alegre integra a Região Metropolitana de Natal – RMN, e pertence
à microrregião e mesorregião do Agreste Potiguar. Limita-se com os municípios de Lagoa
Salgada, Lagoa de Pedras, Brejinho, Vera Cruz e são José de Mipibú. Dos 52.797 km² do RN,
o município abrange uma área de aproximadamente 210,918 km², - representando 0,4 % da
extensão territorial do estado (IBGE, 2015). A sede do município possui uma altitude média
de 52 m, distante da capital cerca de 34 km, sendo seu acesso a partir de Natal, efetuado
através de rodovias pavimentadas BR-101 e RN-116 (IBGE, 2015; CPRM, 2005)
O presente trabalho justifica-se, principalmente, pela necessidade de um conhecimento
mais detalhado sobre a atividade agropecuária e o quadro das condições do ambiente no
município de Monte Alegre – RN. Contribui-se, assim, com uma literatura sobre a temática, e
com um estudo sobre área, que é carente em dados e bibliografia.

2 A ATIVIDADE AGROPECUÁRIA

A agropecuária é a atividade econômica mais antiga da história humana e responsável


por revolucionar o modo de vida do homem primitivo. Segundo a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, “a agropecuária consiste no estudo, teoria e prática da
agricultura e da pecuária, em suas relações recíprocas”. Fundamenta-se na produção de base,
responsabilizando-se pela produção de bens de consumo, mediante o cultivo de plantas e da
criação de animais (MORAIS; BORGES, 2010). Essa atividade passou a ser a norteadora de
uma transformação social e cultural desde aqueles tempos até a atualidade. A agricultura e a
pecuária (atividades que compõem a agropecuária) são as principais atividades do setor
primário. Elas podem ser analisadas, tanto nos moldes tradicionais, quanto nos tecnicamente
avançados, pois traduzem duas realidades distintas no que concernem as formas de produzir e
as técnicas de manejos empregadas.
Agricultura é a atividade que contempla uma ação substancial sobre os meios de
produção de base. Restringe-se à reprodução direcionada ao meio vegetal. Segundo Marion
(2005, p. 55), “é uma atividade que se divide em dois grandes grupos. Sendo eles, os de
culturas hortícolas ou arborícola”. Dependendo do ramo de produção que se segue, ela pode
ser denominada como sazonal ou contínua, apresentando: curto, médio ou longos intervalos
de tempo de cultivo. Há, também, denominações que consideram critérios distintos de cultivo.
Outra definição atrelada à agricultura é observada em Freire e Martins (2003), na qual eles
afirmam que “a agricultura é uma atividade desenvolvida pelo homem, tanto no meio rural
quanto no meio urbano, que consiste na exploração racional do solo para obtenção direta de
produtos vegetais, industriais, e animais, para alimentação ou fornecimento de matéria
prima”. Diniz (1984) reforça que o conceito de agricultura,

(...) não deve ser apenas empregado ao trabalho do campo, pois ela
engloba outras atividades que não apenas a lavoura, tais como arbórea,
silvicultura, pecuária e até a piscicultura [ele agrega em sua definição, assim
como outros autores, elementos pertencentes à pecuária ou a própria
pecuária como sendo parte da agricultura]. (DINIZ, 1984, P. 20)

A EMBRAPA, em suas formulações define, em linhas gerais, a pecuária como “um


elemento constituinte da agropecuária, que abrange a parte da criação e de desenvolvimento
dos animais”. Diferente da agricultura que trata do cultivo vegetal, a pecuária se ocupa
excepcionalmente da criação animal, englobando um conjunto de processos técnicos usados
na criação e domesticação com objetivos econômicos (ORMOND, 2006). Segundo Ormond
(2006, p. 219), “a Pecuária é a atividade que tem por finalidade a criação de gado”. Sendo
este termo [gado], utilizado para a criação de bovinos, e relacionado a outros tipos de animais.
Assim como a agricultura, a pecuária é diversificada e possui múltiplos segmentos na
produção, tais como a criação do gado leiteiro e de corte etc.

3 A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: PONTOS FUNDAMENTAIS ENTRE


AGROPECUÁRIA E MEIO AMBIENTE

Falar da degradação ambiental não é algo árduo e complexo, mesmo tendo em vista, as
múltiplas questões que a envolve. A necessidade de problematizá-la, emana das vozes da
sociedade, das lutas populares e dos movimentos ecologistas, na busca de soluções plausíveis
acerca dos crescentes problemas envolvendo a humanidade e a natureza. As consequentes
transformações climáticas, desequilíbrio hidrológico, perdas da fertilidade do solo e aumento
das temperaturas ocasionadas por esse problema, preocupam a todos e na tentativa de frear
essa ação medidas são tomadas todos os dias.

A degradação ambiental tem sido, há anos, pauta de muita discussão, sobretudo, no


que tange ao comportamento do homem frente ao uso irracional e descontrolado dos recursos
disponíveis na natureza.

Guerra e Cunha (2006), afirmam que o problema da degradação ambiental é gerado


por um conjunto de causas antrópicas setorizadas no meio urbano e rural, tendo as condições
naturais aliadas na sua intensificação. Entre as principais causas responsáveis pelo atual
processo de degradação, destacam-se: intervenções humanas, crescimento populacional,
indústria e a agropecuária.
O significativo aumento dos estudos sobre a degradação ambiental denuncia a
imprudente ação humana sobre o meio ambiente e a infinita importância dele para a própria
humanidade. Esse problema traz à tona, não só a falta de conscientização a respeito da
preservação ambiental como, a incapacidade de se gerir, de forma mais eficiente, os recursos
extraídos da natureza. Pois o consumo desenfreado de bens não renováveis e o uso excessivo
das nossas reservas energéticas (não renováveis) são pontos críticos da questão que devem ser
analisados com critérios mais rigorosos. A degradação ambiental, em boa parte, é oriunda dos
setores econômicos, que utilizam práticas inadequadas de produção, e, que são nocivas ao
meio ambiente. Dentre esses setores, está a atividade agropecuária, que vem se mostrando
bastante eficiente no quesito desmatamento, empobrecimento dos solos e poluidora da água.
Durante muito tempo, as discussões envolvendo desenvolvimento econômico e
desenvolvimento social vem acirrando debates intrigantes no mundo todo. A sociedade
moderna está, dia após dia, gerando crescentes demandas de serviços e produtos para as suas
mais variadas necessidades. Para suprir essa demanda, o mercado vem inovando e investindo
cada vez mais em inovações e materiais recicláveis para minimizar os problemas que afeta de
forma negativa a natureza.

As questões a serem discutidas neste trabalho, no que tange aos pontos fundamentais
entre a atividade agropecuária e a degradação ambiental no município de Monte Alegre - RN,
são direcionadas a correlacionar os aspectos produtivos, técnicos e manejo que caracterizam a
atividade frente as adversidades impostas pela prática agrária irresponsável, tais como, o
desmatamento, queimada e a perda da qualidade ambiental do meio rural do município.

As transformações impostas à paisagem rural local divergem da realidade que a


consistia em décadas passadas, pois o crescimento da “urbanização rural” se acentuou; a
cobertura vegetal suprimida à fragmentos isolados desarmoniza o meio; a descaracterização
da composição da biota local (pelo desaparecimento da fauna e flora) e o aparecimento dos
efeitos negativos da degradação (a erosão acentuada, o assoreamento dos afluentes do
município etc.) estão evidenciados cada vez mais na paisagem. A intensificação do processo
da substituição de áreas vegetadas para a inserção de pastagens (do gado) e para as lavouras é
uma tendência, local e regional, e passou a ser executado de forma mais acentuada a partir do
fim década de 1990.
4 DADOS ESTATÍSTICOS E VARIÁVEIS DA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DE
MONTE ALEGRENSE: UMA BREVE ANÁLISE

No presente trabalho, entende-se como dados estatísticos, todo conteúdo de uma


grandeza quantitativa e mensurável, que representem uma importância para o estudo
geográfico ao expressar numericamente o fato e/ou fenômeno estudado. De acordo com
Carvalho apud Martinelli (2003, p. 27), “Dados são fatos; em si não trazem grande
significado; só depois que eles forem de alguma forma agrupados ou processados é que
poderemos ver o significado ser revelado”. Quanto às variáveis da produção agropecuária,
entende como o conjunto de gêneros agrícolas formados pela lavoura permanente e
temporária, e o conjunto de efetivos de rebanhos da pecuária.
Nessa parte da pesquisa, o trabalho realizado teve caráter quantitativo e descritivo,
tomando como base os dados estatísticos do IBGE nas suas pesquisas censitárias referentes
aos anos de 1990, 1998, 2006 e 2013 para a Produção Agrícola Municipal (PAM) e os dados
censitários de 1985, 1995, 2006 e 2014 para a produção da Pecuária. Para fins analíticos, os
efetivos utilizados para compor o quadro produtivo da agropecuária do município de Monte
Alegre estabeleceram-se da seguinte forma:
Pecuária - Efetivo de rebanhos, por tipo de rebanho (Cabeça), sendo os rebanhos de
Bovinos, Galináceos, Caprinos, Equinos, Suínos e Ovinos.
Notou-se que, de 1985 a 2006, houve um expressivo aumento na produção total, de
aproximadamente 196 %. Em contrapartida, de 2006 a 2014, houve uma perda em números
totais de 10.298 (cabeças do rebanho), correspondendo a – 25,9%. Os efetivos que tiveram
acentuada queda na produção entre 2006 e 2014 foram os grupos formados pelos efetivos dos
Bovinos, Galináceos, Suínos e Ovinos. Contrário a esse decréscimo produtivo, tiveram-se os
Caprinos e Equinos, com resultados positivos, apresentando um aumento de 12,5% e 22%,
respectivamente.
Os representantes dos efetivos do tipo Galináceos estão as Galinhas, Gansos, Patos e
Codornas, principalmente. Entre os bovinos destacam-se as raças Nelore, Holandesa, Gir e
Guzará. Entre os ovinos (ovelhas) destacam-se as raças Santa Inês, Somali, Morada Nova e
Rabo largo. Entre os caprinos (cabras) são as raças Bjuh, Canindé, graúna e repartida. Na
criação suína, destaca-se a raça Piau e Large branco. Entre os equinos estão os cavalos e
mulas.
De acordo com os dados, o comportamento evolutivo da pecuária montealegrense teve
destaque para os anos de 2006 e 2014. No ano de 2006, registra-se a marca de maior
produção entre os censos analisados. Esse bom desempenho, crescente desde o ano de 1985,
conota a pecuária de Monte Alegre como uma das mais representativas da microrregião
Agreste do estado do Rio Grande do Norte. O ano de 2014, de acordo com os dados
analisados, apresenta uma quebra desse crescente produtivo, onde praticamente toda produção
dos efetivos teve redução, nos efetivos Bovinos e Galináceos. As exceções foram os Equinos
e Caprinos, que obtiveram resultados positivos.
Na agricultura – a produção se subdivide em Lavoura Permanente e Lavoura
Temporária, tendo como variável a “quantidade produzida (toneladas)” para a análise da
produção. A Lavoura Permanente é definida pelo IBGE (2006) como “o plantio de culturas de
longa duração, que após a colheita não necessitem de novo plantio, e que são produzidos por
vários anos sucessivos”. É formada pelo conjunto dos efetivos agrícolas tais como Banana,
Castanha-de-cajú, Coco da baía, Laranja, Mamão.
A atual situação da lavoura permanente do município não é animadora. As sucessivas
quedas da produção total refletem um possível desinteresse do agricultor/empresário nesse
setor agrícola ou uma substituição dessa atividade pela pecuária. Outro possível fator é o
custo da produção que é elevado pela alta demanda de insumos, equipamentos e mão-de-obra.
Para se ter ideia desse panorama, desde o ano de 1990 até 2013, a queda acentuada da
produção total chegou a – 92,9 %, correspondendo a uma redução de 7.462 toneladas de
frutas produzidas. Reflexo da drástica redução desses números está no cultivado da manga,
que teve queda de - 98,5 %; da laranja e do mamão que deixaram de ser produzidos (não
havendo registros pelo censo) e do coco da Baía com queda de - 30,9 %.
A produção da Manga, que chegou a representar, na década de 1990, 75% da produção
total no setor, em torno de 6.000 toneladas de frutos colhidos, teve uma drástica redução,
chegando a 150 toneladas colhidas anualmente. Nessa perspectiva, a produção da laranja e do
mamão, tiveram uma estagnação produtiva, possivelmente ocasionada pelo alto custo da
produção (irrigação, fertilizantes, defensivos, mão-de-obra, etc.). A participação do setor na
economia interna se encontra em declínio justamente pelo processo de desvalorização que o
mesmo vem sofrendo e pela redução das áreas de produção. Os únicos gêneros produtivos que
fugiram a essa regra, foram a produção da Banana e da Castanha-de-caju.
A produção da Banana representa, hoje, cerca de 43,8 % da produção total da lavoura
permanente no município, e obteve um crescimento, no período avaliado (1990 a 2013) de
1.150%, passando de 20 toneladas para 250 toneladas. E a Castanha-de-Cajú, representa 14 %
da produção total, sendo a terceira em importância produzida no município. Sua produção, no
período avaliado, cresceu 150 %, passando de 32 toneladas produzidas para 80 toneladas.
Analisando o quadro produtivo da lavoura temporária, observa-se uma situação similar
à da lavoura permanente, porém, não de forma tão acentuada. O efetivo do feijão foi o único
item que, no período analisado, apresentou contínua queda na produção, passando de 110
toneladas produzidas (em 1990) para 25 toneladas (em 2013), representando uma perda
percentual de – 77,2 %. O efetivo do algodão não teve muita representatividade no quadro
produtivo, pois não há registros da produção em 1990 e 2013. O efetivo da batata-doce
apresentou oscilações no período entre 1990 e 2013, apresentando uma significativa queda na
sua produção (-14,2%), passando de 1.050 toneladas produzidas para 900 toneladas, Já o
Milho, um importante efetivo produzido no município, após uma crescente produção, registou
queda em 2013 com relação a 2006, de aproximadamente - 36,2 %.
O efetivo da Cana-de-açúcar, no período analisado (1990 – 2013), registrou um
expressivo aumento na sua produção, passando a produzir no ano de 2013 cerca de 3.000
toneladas. Hoje se configura como a principal atividade agrícola do município, representando
64,8 % da produção total da lavoura temporária. Esse rendimento positivo no setor é
traduzido pelo investimento e pela alta demanda no mercado.
Símbolo da atividade agrícola do agreste e ícone da cultura popular local, a Mandioca
sempre liderou a produção agrícola do município. Ela representava a principal atividade do
setor. Com solos propícios e com condições climáticas favoráveis a desenvolvimento,
despontava como nenhuma outra. Atingida pela seca nos últimos anos, sua produção
despencou, apresentando uma acentuada queda em sua produtividade, onde a partir de 2006
até 2013 a perda na produtividade foi de, aproximadamente - 93,75 %. Ela já foi a responsável
por representar 65% da produção total da lavoura temporária do município, sendo que
atualmente está em torno de 9,7%.

5 DIAGNÓSTICO E ANÁLISE DAS CONDIÇÕES FÍSICAS DO MEIO AMBIENTE


EM MONTE ALEGRE-RN

Nesse tópico, a abordagem do trabalho foi executada na perspectiva de descrever as


condições encontradas nas áreas visitadas, de forma a expor uma real situação dos impactos
causados na paisagem pela atividade da agropecuária, tendo a Bacia Hidrográfica e outros
compartimentos geográficos do município como referência da análise. E com intenção de
facilitar a pesquisa exploratória, foram delimitadas quatro áreas distintas, para a realização
das visitas técnicas: Microbacia Hidrográfica do Riacho Catolé; Bacia Hidrográfica do Rio
Trairí; parte Sudeste do município e porção Norte do município.
Define-se desmatamento como o “processo de supressão total ou parcial da vegetação
de pequeno, médio e grande porte, de uma determinada área” (MILARÉ, 2015, p. 349). O
desmatamento é um problema correlato aos empreendimentos agrários, sendo perpetuado na
medida em que a atividade busca se expandir ou procurar áreas com melhores condições
para cultivo e pastagem. As queimadas são um dos métodos utilizados com frequência para
efetuar o desmatamento de uma área, principalmente em localidades agrícolas com extensão
de terras maiores.

Uma das graves consequências do desmatamento são os processos. Tidos como o


desgaste do solo, são ocasionados por variados fatores, sendo o desmatamento e a chuva os
principais deles. A vegetação, nas suas variadas composições, caracteriza-se como um
agente protetor do solo. E a chuva desempenha uma ação que contribui para a formação do
processo erosivo pelo menos de três formas: pelo desprendimento das partículas de solo no
local que sofrem impacto das gotas de chuva; pelo transporte, por salpicamento, quando as
partículas se desprende; pela energia, em forma de turbulência, da água superficial. E a
forma para se evitar a erosão acentuada, é eliminando os desprendimentos das partículas
causadas pelas gotas de chuva que golpeiam o terreno. A forma mais eficiente de se fazer
isso é preservando a vegetação, principalmente em áreas com declives mais acentuados.
(BERTONI e LOMBARDI NETO, 2005, p. 46)

A erosão é conceituada como “um fenômeno natural de desgaste e arrastamento das


partículas do solo pelas águas das chuvas ou pelos ventos” (AMARAL, 1984, p.9). Ela
ocorre naturalmente na natureza e está diretamente ligada a dinâmica dos sistemas naturais
terrestres. Segundo Mafra apud Botelho (2005), “para ocorrer erosão existe uma relação
conjunta entre capacidade erosiva da chuva e os fluxos de superfície e sub superfície; assim
como da suscetibilidade dos materiais a serem erodidos”. (GUERRA, SILVA e BOTELHO,
2005, p. 302).

Bertoni e Lombardi Neto (2005) complementam o conceito ao afirmar que,

Erosão é o processo de desprendimento e arraste acelerado das


partículas do solo causado pela água e pelo vento. A erosão do solo
constitui, sem dúvida, a principal causa do depauperamento acelerado
das terras. As enxurradas, provenientes das águas de chuva que não
ficarão retidas sobre a superfície, ou não se infiltrarão, transportam
partículas de solo em suspensão e elementos nutritivos essenciais em
dissolução. ” (BERTONI & LOMBARDI NETO, 2005, p. 45).
Entre os principais tipos de erosão estão: Erosão por Embate, Erosão em Lençol ou
Laminar, Erosão em Sulcos e Ravinas e a Erosão em Voçoroca – Subterrânea ou Desabamento
(AMARAL, 1984, p. 29-32; GUERRA, 2005). Segundo a observação em campo, foram
identificadas na área de estudo, 03 (três) principais tipologias, sendo elas: Laminar, Sulcos,
Pedestal, Ravinas e voçorocas.

Como consequências da erosão temos, principalmente, a perda da fertilidade do solo, o


assoreamento dos leitos de rios e de corpos d’água (lagoas, poços, açudes, lagos). Segundo
Milaré (ano) apud Willians e Martins (2015), o assoreamento configura-se como um,
Processo de deposição e acumulo de areia ou sedimentos
transportados pela agua, geralmente em consequência da redução da
velocidade de escoamento. (2) processo de acumulo excessivo de
sedimentos e ou detritos transportados por via hídrica, em locais onde
a deposição do material é maior do que a capacidade de remoção
natural pelos agentes de seu transporte. (3) processo de elevação de
uma superfície por deposição de sedimentos. Acúmulo de areia ou de
terra causada por enchentes ou construções. (MILARÉ, 2015, p. 101)

Esses problemas interferem, principalmente, na dinâmica das bacias hidrográficas,


onde a erosão e deposição acentuada do material carreado de outras áreas, pela ação das
chuvas, vão progressivamente soterrar os leitos dos rios. E quando há desmatamento nas
margens desses, ocorrerá o seu desgaste e consequentemente o desmoronamento e a erosão.
As bacias hidrográficas, nessa conjuntura, são os compartimentos mais sensíveis a qualquer
ação danosa do homem.
Assim como outros municípios do Rio Grande do Norte e do Brasil, Monte Alegre está
inserido nessa problemática que, continuamente, vem esgotando as suas áreas vegetadas
(promovendo a intensificação da ação erosiva e consequentemente assoreando seus cursos
d’agua). O resultado é a sistemática perda da qualidade e quantidade de sua biodiversidade e
da produtividade do seu solo. Esse problema está sendo ocasionado, principalmente, pela
prática ilegal do desmatamento, orientado pela falta de fiscalização e pelo desrespeito com o
meio ambiente. O desmatamento promovido no município, em quase sua totalidade, é
realizado para “beneficiar” a atividade agrícola e a pecuária. A reversão dessas áreas de mata,
para a criação de pastos, plantio de capinagem, pequenos açudes (para a dessedentação de
animais) e para o cultivo agrícola, estão se tornando um problema sério ao meio ambiente
local.

6 CONCLUSÕES
Para a efetivação do estudo e análise das condições ambientais do município, foi
proposto a subdivisão da área total em 4 (quatro) compartimentos para fins investigativos,
onde foi atribuída uma sucinta caracterização de cada área e os registros dos impactos
diagnosticados nas áreas visitadas.
Constatou-se que, em decorrência do expansionismo das atividades agropecuárias,
houve a necessidade frenética de expandir as áreas de pastoreio e de cultivo, acarretando
danos significativamente prejudiciais ao meio ambiente, através do desmatamento
descontrolado. No geral, a atividade agropecuária, nos últimos anos, apresentou um
significativo aumento na sua produção total, pelo fato de projetar melhores formas de cultivo
e de criação (com o emprego de técnicas e manejos adequando a cada tipo de produção). O
município de Monte Alegre/RN, durante um intervalo de tempo determinado, apresentou bons
resultados na produção total dos efetivos pecuários e agrícolas. Mas, desde o ano de 2006,
esses resultados vêm apresentando baixas significativas na sua produção total, o que é
bastante preocupante no contexto econômico do município.

Observou-se, também, que o município de Monte Alegre/RN obteve um significativo


aumento na sua produção agrícola entre 1990 a 2006 e, como contrapartida, problemas de
ordem ambientais vêm sendo desencadeados como nunca antes vistos. Dessa forma, foi
identificado que a atividade agropecuária se caracteriza como a principal causadora da
degradação no município. Como consequência, houve um aumento do número de áreas
degradadas, saltando de 5 Km² para 10,45 Km².

Outra questão observada foi a redução da sua produtividade total a partir de 2006,
decorrente da perda da qualidade dos solos e da alteração ambiental sofrida pela ação
predatória da agropecuária. Essa análise é observada pela queda acentuada da produção total
dos efetivos agropecuários, onde temos a lavoura permanente com redução de -48% (entre
2006 e 2013); da lavoura temporária com redução de -59,4% (entre 2006 e 2013); da pecuária
com -25,97% (entre 2006 e 2014) e na queda da renda (PIB) com uma redução de -18,8%
(entre 2009 e 2012). Comparando a essas perdas percentuais da produção e renda, temos a
crescente degradação das suas áreas produtivas que teve um aumento de 52% (entre 2006 e
2015). Essa ideia parte da hipótese da perda da qualidade produtiva do solo como um fato
concreto da utilização excessiva sem a preservação das características e componentes
químicos do solo.
Na medida que a atividade agropecuária degrada ou perturba as condições ambientais
do município, ela mesma sofre com as adversidades desses impactos. Assim, os recursos
naturais disponíveis ao homem vão sendo exauridos de forma que não são respeitados o seu
tempo de regeneração.

O homem tenta a qualquer custo viabilizar a terra aos seus interesses econômicos sem
respeitar o limite imposto por ela. Um bom exemplo disso, é encontrado nas áreas visitadas.
Onde observa-se o desrespeito pela natureza com o desmatamento total de áreas que eram
abrigo de uma rica diversidade de vidas (micróbios, insetos, répteis, anfíbios, aves e
mamíferos). Áreas verdes que garantiam a proteção e a umidade dos solos, de nascentes, das
áreas de drenagens, leitos de rios e de corpos d’água, estão sendo degradando pelo fato do
Estado ser ausente com suas fiscalizações.

Com isso, conclui-se que as áreas estudadas estão em desacordo com as leis
ambientais vigentes. Principalmente em relação a lei n° 12.651/2012, que determina como
pressuposto fundamental a preservação das florestas e demais formas de vegetação, da
biodiversidade, do solo, dos recursos hídricos e da integridade do sistema climático. A falta de
fiscalização por parte das autoridades competentes no assunto é um fator positivo para que
proprietários de terras continuem praticando o desmatamento de áreas, colocando em risco a
qualidade ambiental, os seres vivos e o bem-estar social.

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