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PROFESSOR:JOÃO HENRIQUE COSTA

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Soneto QUESTÃO 1
Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:

Tu, que em um peito abrasas escondido;


Tu que em um rosto corres desatado:
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal em chamas derretido.

Se és fogo como passas brandamente,


Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
A CASA DO MORRO BRANCO
Pois para temperar a tirania,
Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.”
(In: (WISNICK, José Miguel (org.). Gregório de Matos. Poemas Escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1997, p. 218)
Sobre o poema de Gregório de Matos, é correto afirmar que é marcado pelo(a)

(A) Comparação, figura central da estética barroca, uma vez que possibilitava ao poeta utilizar sempre a natureza para ilustrar os temas de sua
poética.
(B) Ironia, recurso abundantemente utilizado por Gregório de Matos em seus poemas satíricos que criticavam, sobretudo, figuras políticas de sua
época.
(C) Paradoxo, figura das mais utilizadas na estética barroca, que, no poema, confronta e funde opostos, tematizando a paixão em oposição ao
refreamento.
(D) Invocação, figura utilizada pelo poeta barroco para imprecar contra os deuses e para demonstrar-se dilacerado e angustiado no mundo.
(E) Pontuação, recurso explorado no Barroco, que evidencia a alegria do eu lírico, ao tematizar a paixão que o consome por alguém inacessível.

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QUESTÃO 2

Levando em consideração ainda o soneto acima, de Gregório de Matos, considere atentamente as seguintes
afirmações a respeito desse poema:
 
I - O par fogo e água, que figura amor e contenção, passa por variações contrastantes até evoluir para o oxímoro.
II - O poema evidencia a "fórmula da ordem barroca" ditada por Gérard Genette: diferença transforma-se em
oposição, oposição em simetria e simetria em identidade.
III - O poema inscreve, no âmbito da linguagem, o conflito vivido pelo homem do século XVII.
 
De acordo com o poema, pode-se concluir que: A CASA DO MORRO BRANCO

a) são corretas todas as afirmações.


b) são corretas apenas as afirmações I e II.
c) são corretas apenas as afirmações I e III.
d) é correta apenas a afirmação II.
e) é correta apenas a afirmação III.

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QUESTÃO 3
Moraliza o Poeta nos Ocidentes do Sol as Inconstâncias dos bens do Mundo.
 
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
 
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
 
MasAnoCASA
Sol, e naDO MORRO
Luz falte a firmeza, BRANCO
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
 
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
(GUERRA, Gregório de Matos. ANTOLOGIA POÉTICA. Rio, Ediouro, 1991. p. 84.)

O texto de Gregório de Matos possui muitas antíteses, que são usadas nos textos barrocos para:

a) traduzir o conflito humano.


b) rejeitar o vocabulário popular.
c) personificar seres inanimados.
d) marcar a presença do onírico.
e) detalhar a arte poética.

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QUESTÃO 4
Leia o soneto a seguir, de autoria de Gregório de Mattos:
 
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
 
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
 
Se uma ovelha perdida, e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
A CASA DO MORRO BRANCO
vos deu, como afirmais na Sacra História:
 
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a, e não queiras, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

(Cf. DIMAS, Antônio. "Seleção de textos, notas, estudos biográficos, histórico e crítico." 2 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 141s)
 
Assinale a alternativa INCORRETA:

a) No jogo de antíteses, o poeta vê-se como culpado, mas também ovelha indispensável ao Pastor Divino.
b) O argumento do poeta, arrependido, constrói-se pelo jogo de ideias, ou seja, o cultismo.
c) O poeta recorre ao texto bíblico para justificar, perante Deus, a necessidade de ser perdoado.
d) Segundo o poeta, o perdão de sua culpa favorecia a ambos: tanto ao culpado, quanto ao Pastor Divino.
e) O poeta busca, em sua linguagem dualista, conciliar, poeticamente, fé e razão.

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QUESTÃO 5
Texto I

Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te, te lembra hoje Deus por sua Igreja; de pó te fez espelho, em
que se veja a vil matéria, de que quis formar-te”.
 
Texto II

Ai, Custódia! Sonhei... (não sei se o diga) Sonhei que entre meus braços vos gozava: Oh, se verdade fosse o
que sonhava! Mas não permite Amor que e tal consiga!”

Estes dois fragmentos diversos da obra de Gregório de Matos exemplificam:


A CASA DO MORRO BRANCO
a) A abordagem dúplice de um dos temas recorrentes no estilo barroco - o da contemplação da natureza
selvagem.
b) A tentativa de equilibrar uma atitude racional em face da religião e outra, platônica, em relação ao amor.
c) O caráter conflitante da expressão cultista, ao abordar temas que se anulam mutuamente.
d) A dialética conceptista, que permite a conciliação da face satírica e da sua oposta, a épica, na expressão de
uma mesma realidade humana.
e) As contradições na visão do mundo do homem barroco, na qual convivem extremos aparentemente conflitantes.

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QUESTÃO 6
No colégio dos padres, Gregório de Matos escreveu:

"Quando desembarcaste da fragata, meu dom Braço de


Prata, cuidei, que a esta cidade tonta, e fátua*, mandava a
Inquisição alguma estátua, vendo tão espremida salvajola*
visão de palha sobre um mariola*".

Sorriu, e entregou o escrito a Gonçalo Ravasco.


Gonçalo leu-o, gracejou, entregou-o ao vereador.
O papel passou de mão em mão.
"A difamação é o teu deus", disseram, sorrindo.

A(Ana Miranda, Boca do Inferno)


CASA DO MORRO BRANCO
(*fátua: tola;*salvajola: variante de "selvagem"; *mariola: velhaco)
O trecho ilustra

a) a poesia erótica de Gregório de Matos, inspirada na vida nos prostíbulos da cidade da Bahia e que deu origem à alcunha do poeta, "Boca do
Inferno“.

a) a poesia lírica de Gregório de Matos, voltada para a temática filosófica, em linguagem marcada pelos recursos da estética barroca.

c) a poesia satírica de Gregório de Matos, dedicada à descrição fiel da sociedade da época, utilizando recursos expressivos característicos do
barroco português.

d) a poesia erótica de Gregório de Matos, caracterizada pela crítica aos comportamentos e às autoridades baianas da época colonial.

e) a poesia satírica de Gregório de Matos, que representa, no conjunto de sua obra, uma fuga aos moldes barrocos e ataca, no linguajar baiano
da época, costumes e personalidades.

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QUESTÃO 7
Leia a estrofe de Gregório de Matos:

"Ardor em firme coração nascido;


pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido."

Assinale a alternativa em que os dois versos indicados apresentam metáforas de lágrimas.

a) versos 1 e 2 A CASA DO MORRO BRANCO


b) versos 2 e 4
c) versos 2 e 3
d) versos 3 e 4
e) versos 1 e 3
.

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QUESTÃO 8
Sobre a produção dos principais ícones da estética barroca brasileira, analise os itens abaixo:

I. O Sermão da sexagésima, que é metalinguístico e um dos mais conhecidos de Vieira, apresenta, como tema, a própria arte de
pregar. Como se pode notar no trecho: “[...] como os Apóstolos iam pregar a todas as nações do Mundo, muitas delas bárbaras e
incultas, haviam de achar os homens degenerados em todas as espécies de criaturas: haviam de achar homens brutos, haviam de
achar homens troncos, haviam de achar homens pedras [...]“

II. No trecho do Sermão do bom ladrão  ‐ “Alguns ministros de Sua Majestade não vêm cá buscar o nosso bem, mas cá vem buscar
os nossos bens”, ‐ observa‐se que, na passagem “Vem cá versus cá vem o nosso bem versus os nossos bens”, a oposição
singular versus plural é bastante significativa, pois assegura a distinção entre o concreto e o abstrato, o que também é reforçado
pela polissemia do verbo “buscar”, equivalente a “promover”, no primeiro caso e a “apossar ‐se”, no segundo.  

III. O Sermão do bom ladrão, publicado em 1655, exemplo do estilo conceptista de Vieira, traz, em tom jocoso, referências
A CASA DO MORRO BRANCO
universais e atemporais do ato de furtar, produzido por autoridades, como se vê em: “O ladrão que furta para comer, não vai nem
leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera [...]”.

IV. Marcada pelo dualismo da tendência barroca, quase sempre em estilo cultista, a poesia lírica amorosa de Gregório de Matos ora
apresenta a mulher como um ser ideal, espiritualizado e de postura platônica, ora a apresenta de maneira erótica, como um
elemento de desejos mundanos, como fica sugerido no trecho: “Mas vejo, que por bela, e por galharda / Posto que os Anjos nunca
dão pesares, / Sois Anjo que me tenta, e não me guarda”.

V. Em sua poesia satírica, Gregório de Matos, por respeito aos religiosos, deixou de retratá ‐los e censurou apenas as mais diversas
figuras civis e militares do Brasil de então. Assim também o fez com as contradições do sistema colonial vigente no país. A
exemplo do que se afirma nos versos “Triste Bahia! Ó quão dessemelhante /  Estás e estou do nosso antigo estado! / Pobre te vejo
a ti, tu a mi empenhado, / Rica te vi eu já, tu a mi abundante”.

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QUESTÃO 8 (CONTINUAÇÃO)
Estão CORRETOS, apenas,

a) I, II, III e V.
b) II, III, IV e V.
c) I, II, IV e V.
d) I, II, III e IV.
e) I, III e V.  ATENÇÃO: SERMÕES DE ANTÔNIO VIEIRA

SEXAGÉSIMA: CARÁTER RELIGIOSO (1655), ABRE UMA SÉRIE DE ORATÓRIAS, ONDE A ARTE DE PREGAR É
INSPIRADA EM MOLDES CONCEPTISTAS (10 PARTES); HÁ RELAÇÕES COM AS PARÁBOLAS BÍBLICAS;

A CASAUM
BOM LADRÃO: PUBLICADO EM 1655, OBSERVA-SE DO MORRO
LANCE BRANCO
PROFÉTICO QUE MOSTRA O SEU PROFUNDO
ENTENDIMENTO SOBRE OS PROBLEMAS DO BRASIL – ELE ATACA E CRITICA AQUELES QUE SE VALIAM DA
MÁQUINA PÚBLICA PARA ENRIQUECER ILICITAMENTE. DENUNCIA ESCÂNDALOS NO GOVERNO, RIQUEZAS
ILÍCITAS, VENALIDADES DE GESTÕES FRAUDULENTAS E, INDIGNADO, A DESPROPORCIONALIDADE DAS
PUNIÇÕES, COM A EXCEÇÃO ÓBVIA DOS MANDATÁRIOS DO SÉCULO 17.

SANTO ANTÔNIO AOS PEIXES: DIVIDIDO EM 6 PARTES, ONDE PRETENDIA INTERCEDER EM FAVOR DOS
ÍNDIOS DIANTE DAS AUTORIDADES PORTUGUESAS. O SERMÃO É CONSTRUÍDO EM FORMA DE ALEGORIA,
DIRIGE-SE AOS PEIXES MAS, NA VERDADE, FALA AOS HOMENS.. OS PREGADORES SÃO O SAL DA TERRA,
CABENDO AO SAL IMPEDIR A CORRUPÇÃO. MAS NA TERRA NÃO LHES DÃO OUVIDOS, POR ISSO VOLTAM-SE
PARA O MAR, ONDE ESTÃO OS PEIXES. HÁ TAMBÉM A INVOCAÇÃO DA VIRGEM MARIA. DEVE-SE DESTACAR AÍ
A CITAÇÃO DE DIVERSOS TIPOS DE PEIXES. AS VIRTUDES SÃO DESCRITAS NOS PEIXES DE TOBIAS, RÉMORA,
TORPEDO E QUATRO-OLHOS. JÁ OS DEFEITOS ESTÃO NOS SEGUINTES PEIXES: RONCADORES, PEGADORES,
VOADORES E NO POLVO. O PRINCIPAL DEFEITO APONTADO É A VORACIDADE, JÁ QUE OS PEIXES DEVORAM
UNS AOS OUTROS, E, PIOR AINDA, OS MAIORES DEVORAM OS MENORES.  

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QUESTÃO 9
Ao Braço do Mesmo Menino Jesus Quando Appareceo

O todo sem a parte não é todo,


A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.

Em todo o Sacramento está Deus todo,


E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo
A CASA DO MORRO BRANCO
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte

Não se sabendo parte deste todo,


Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.

MATOS, Gregório de. Poemas Escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1990. p. 307.

Sobre o poema de Gregório de Matos, analise as afirmativas a seguir:

I. Há figuras de linguagem que estão diretamente atreladas à estética literária cuja principal característica é a presença do sentimento
bucólico, ou seja, sentimento relativo ao culto à natureza.

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QUESTÃO 9 (CONTINUAÇÃO)
II. No primeiro e no segundo verso, se analisarmos as palavras “parte” e “todo”, podemos dizer que estamos diante de um jogo de palavras cujo
objetivo é propor situações reflexivas.

III. Há demonstração, por meio da terceira e da quarta estrofe, que a temática central discutida no texto tem relação direta com a fase satírica
presente na obra de Gregório de Matos.

IV. O eu lírico, na segunda estrofe, reflete sobre a temática religiosa, fazendo ver que Deus, ainda que fragmentado em muitas partes, está em
todas as partes, o tempo todo.

V. Os versos, construídos sob a ótica da estética barroca, mostram o quanto tal estética, em razão de sua natureza social e histórica, refletiu
temáticas de natureza contrastante e paradoxal.

Estão CORRETAS: A CASA DO MORRO BRANCO


A) I, II e III.

B) I, II e IV.

C) I, II e V.

D) II, IV e V.

E) III, IV e V.

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QUESTÃO 10

A CASA DO MORRO BRANCO


.

(SÃO JERÔNIMO, DE CARAVAGGIO.)

POR QUE PODERÍAMOS JULGAR O QUADRO SÃO JERÔNIMO, DE CARAVAGGIO, COMO REFLEXIVO E DRAMÁTICO?

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