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A vós, pregados pés, por não deixar-me, Se quero declarar meu pensamento,
A vós, sangue vertido, para ungir-me, Está-me um gesto grave acobardando,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me E tenho por melhor morrer calando,
Que fiar-me de um néscio atrevimento.
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me, Quem pretende alcançar, espera, e cala,
Para ficar unido, atado e firme. Porque quem temerário se abalança,
Muitas vezes o amor o desiguala.
À instabilidade das cousas no mundo.
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Pois se aquele, que espera se alcança,
Depois da luz se segue a noite escura, Quero ter por melhor morrer sem fala,
Em tristes sombras morre a formosura, Que falando, perder toda esperança.
Em contínuas tristezas a alegria.
Quis o poeta embarcar-se para a cidade e
Porém se acaba o Sol, por que nascia? antecipando a notícia à sua senhora, lhe viu
Se formosa a luz é, por que não dura? umas derretidas mostras de sentimento em
Como a beleza assim se transfigura? verdadeiras lágrimas de amor.
Como o gosto da pena assim se fia?
Ardor em coração firme nascido!
Pranto por belos olhos derramado!
Mas no Sol e na luz, falta a firmeza, Incêndio em mares de água disfarçado!
Na formosura não se crê constância,
Rio de neve em fogo convertido!
E na alegria sinta-se tristeza.
Tu, que um peito abrasas escondido,
Começa o mundo enfim pela ignorância, Tu, que em um rosto corres desatado,
E tem qualquer dos bens por natureza
Quando fogo em cristais aprisionado,
A firmeza somente na inconstância.
Quando cristal em chamas derretido.
A Nosso Senhor Jesus Christo Com Actos de Se és fogo como passas brandamente?
Arrependido e Suspiros de Amor
Se és neve, como queimas com porfia?
Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,
Mas ai! que andou Amor em ti prudente.
É verdade, meu Deus, que hei delinquido,
Delinquido vos tenho, e ofendido, Pois para temperar a tirania,
Ofendido vos tem minha maldade.
Como quis, que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu, parecesse a chama fria.
Maldade, que encaminha à vaidade,
Vaidade, que todo me há vencido;
Vencido quero ver-me, e arrependido,