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Escola Cristo Trabalhador

Aluno (A): _____________________________


Objeto de Conhecimento: Barroco
O barroco é um movimento artístico que compreende múltiplas manifestações artísticas —
literatura, pintura, arquitetura, música — produzidas entre o final do século XVI e o início do
século XVIII. Expressão das contradições que o ser humano vivia no contexto em que essa
estética surgiu, época marcada pela Reforma Protestante e pela Contrarreforma, o barroco
incorporou o exagero, o paradoxo, a antítese, a religiosidade e traços da cultura clássica em
suas produções, tornando-se, por vezes, sinônimo de extravagância.
Contexto histórico do barroco
As manifestações barrocas têm como contexto histórico a ocorrência da Reforma e da
Contrarreforma, as quais agitaram, sobretudo, a Europa a partir do século XVI. Insatisfeito com
os poderes supremos da Igreja Católica, Martinho Lutero, monge agostiniano, em 1517,
elaborou suas 95 teses, questionando os dogmas da Igreja Católica e fundamentando uma
nova forma de cristianismo, baseada na fé e no conhecimento dos textos bíblicos.
Havia nessas teses questionamentos, por exemplo, acerca do extremo poder do papa na
hierarquia eclesiástica, além de argumentos contrários à não representação das imagens de
figuras religiosas, como os santos. A esse movimento de contestação, deu-se o nome
de Reforma Protestante ou Luterana.
Como contraponto a esse movimento reformista, a cúpula da Igreja Católica iniciou um
movimento intitulado Contrarreforma, em que estabelecia mudanças internas a fim de barrar
o descontentamento com o catolicismo. Criaram, assim, medidas de expansão de sua doutrina,
como a Companhia de Jesus, responsável pela catequização, principalmente, de povos
indígenas, além de que lançaram medidas de perseguição, como o Tribunal do Santo Ofício,
que instituiu a Inquisição como forma de punição àqueles que se desviassem do catolicismo.
Nesse contexto de embates religiosos, ao mesmo tempo em que havia o florescimento dos
ideais humanistas difundidos pelo renascimento, o barroco surgiu como uma expressão
artística símbolo dessa efervescência que ora pendia para o extremismo religioso, ora para o
culto à razão e à cultura clássica.
Assim, o barroco, sintetizando as contradições de sua época e as da própria Igreja
Católica, manifestou características também contraditórias, como: ao passo em que
cultivou a crença na efemeridade da vida e o espírito renascentista expresso pelo carpe
diem, também expressou a culpa cristã. Não por acaso, os escritores desse período utilizaram
muitas antíteses e paradoxos . Nas artes plásticas, por sua vez, as esculturas refletiam a
opulência dos santos e dos altares para enaltecer-se o poderio da Igreja, em contraponto
ao protestantismo.
Características do barroco
A estética barroca apresenta, em relação ao conteúdo, predileção em expressar o conflito entre
a visão antropocêntrica, em que todas as coisas estão centradas no próprio homem, e a visão
teocêntrica, em que o Deus cristão é o centro do Universo. Essa oposição de
ideias manifesta-se também no contraste entre o mundo material e o mundo espiritual, o que
resulta em tensões.
Ainda em relação à temática predominante no barroco, observa-se em muitas obras a
expressão de uma visão trágica da vida, resultante do conflito entre fé e razão, ou seja, entre
os preceitos do cristianismo (os quais tiveram hegemonia principalmente durante a Idade
Média) e a racionalidade difundida como a fonte para acessar-se o conhecimento e a
sabedoria (ideal extremamente valorizado e divulgado durante o renascimento).
Além da convivência conflituosa entre essas ideias opostas (antitéticas) constituir a principal
fonte temática do barroco, esse movimento cultivou o gosto pela morbidez; a idealização
amorosa; o sensualismo, apesar de este ser permeado pelo sentimento de culpa cristã; a
consciência da efemeridade do tempo; o gosto por raciocínios complexos, intrincados,
desenvolvidos em parábolas ou com base em narrativas bíblicas.
Outra importante característica temática do barroco, talvez a mais popularizada, é o cultivo e a
valorização do carpe diem, expressão latina que expressa o sentido de que se deve
aproveitar o presente ao máximo, uma vez que é característica barroca a compreensão da
efemeridade do tempo e da vida.
Quanto aos aspectos formais valorizados pelo movimento barroco, observa-se, como
recorrente, a preferência, na poesia, pela forma poética soneto; pelo gosto pelas
inversões sintáticas, em que a ordem direta da frase, caracterizada pela estrutura sujeito,
verbo e predicado, sofre inversões;
Para atingir esse fim, emprega-se, constantemente, em suas produções poéticas,
variadas figuras de linguagem, como a antítese, o paradoxo, a metáfora, a metonímia, entre
outras, o que torna, por vezes, a linguagem barroca a linguagem do exagero,
do rebuscamento.
Barroco no Brasil
No Brasil, as manifestações artísticas barrocas na arquitetura, na pintura e na
música surgem, no século XVIII, na região de Minas Gerais, em razão da exploração do ouro.
Alguns representantes dessa época: na arquitetura e na pintura, Antônio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho; na pintura, Manuel da Costa Ataíde, o Mestre Ataíde; na música, José Joaquim
Emérico Lobo de Mesquita. Na literatura, o principal autor barroco do Brasil foi Gregório de
Matos
 Gregório de Matos

Retrato de Gregório de Matos, o “Boca do Inferno”.


Gregório de Matos Guerra nasceu na então capital do Brasil, Salvador, Bahia, em 20 de
dezembro de 1636 e faleceu no Recife, Pernambuco, em 1695. É o patrono da cadeira número
16 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Como poeta, destacou-se como grande sátiro do
governo, da nobreza e do clero. De sua crítica não escaparam os padres corruptos, os
degredados, toda uma burguesia exploradora da colônia. Seu forte senso crítico rendeu-lhe o
epiteto de “Boca do Inferno”. Gregório de Matos compôs quatro vertentes de poesia:
amorosa, filosófica, religiosa e satírica.
 Poesia amorosa
Caracterizada pelo dualismo carne/espírito, o que resulta em um sentimento de culpa.
Pondera agora com mais atenção a formosura de D. Ângela
Não vi em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, e me movia
A querer ver tão bela arquitetura.

Ontem a vi por minha desventura


Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma Mulher, que em Anjo se mentia,
De um Sol, que se trajava em criatura.

Me matem (disse então vendo abrasar-me)


Se esta a cousa não é, que encarecer-me.
Saiba o mundo, e tanto exagerar-me.
Olhos meus (disse então por defender-me)
Se a beleza hei de ver para matar-me,
Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me.
 Poesia filosófica
Caracterizada pelo sentimento de frustração diante da realidade e pela consciência da
transitoriedade da vida e do tempo. O soneto a seguir exemplifica a consciência da
efemeridade dessas duas noções.
Inconstância das coisas do mundo!
Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas e alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falta a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se a tristeza,
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na inconstância.
 Poesia religiosa
Caracterizada pelas constantes referências a Deus, ao sentimento de arrependimento, ao
pecado, ao perdão, ou seja, a elementos bíblicos. Observe o soneto a seguir, ilustrativo dessa
vertente:
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido;
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
 Poesia satírica
Caracterizada pelo humor ácido e pela ironia, destina-se a ridicularizar o governo e a
sociedade hipócrita da época. Veja o soneto a seguir, em que o teor crítico satírico é evidente:
Queixa-se o poeta da plebe ignorante e perseguidora das virtudes
Que me quer o Brasil que me persegue?
Que me querem pagastes que me invejam?
Não veem que os entendidos me cortejam,
E que os nobres é gente que me segue?
Com seu ódio a canalha que consegue?
Com sua inveja os néscios que motejam?
Se quando os néscios por meu mal mourejam
Fazem os sábios que a meu mal me entregue.
Isto posto, ignorantes e canalha,
Se ficam por canalha e ignorantes
No sol das bestas a roerem a palha:
E se os Senhores nobres e elegantes
Não querem que o soneto vá de valha,
Não vá, que tem terríveis consoantes.
Resumo:
Principais aspectos temáticos:
 conflito entre o antropocentrismo e o teocentrismo;
 oposição entre o mundo material e o mundo espiritual;
 visão trágica da vida;
 conflito entre fé e razão;
 cristianismo;
 morbidez;
 idealização amorosa;
 sensualismo e sentimento de culpa cristão;
 consciência da efemeridade do tempo;
 apreço por raciocínios complexos, construídos em parábolas e narrativas bíblicas;
 carpe diem.
Principais aspectos formais:
 predomínio do soneto;
 recorrência de inversões e de construções sintáticas complexas;
 frequente uso de figuras de linguagem, como a antítese, o paradoxo, a metáfora e a
metonímia.

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