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Barroco

Século XVII até meados do século XVIII


(1601 – 1768)
Contexto Histórico
• Reforma Protestante
• Contra – Reforma
• A Inquisição
Arquitetura
A arquitetura barroca é caracterizada pela complexidade na
construção do espaço e pela busca de efeitos impactantes e
teatrais, uma preferência por plantas axiais ou centralizadas,
pelo uso de contrastes entre cheios e vazios, entre formas
convexas e côncavas, pela exploração de efeitos dramáticos de
luz e sombra, e pela integração entre a arquitetura e a pintura, a
escultura e as artes decorativas em geral. O exemplo precursor
da arquitetura barroca geralmente é apontado na Igreja de Jesus
em Roma, cujo projeto foi de Giacomo Vignola e a fachada e a
cúpula de Giacomo della Porta.
Catedral de Santiago de Compostela
Escultura
A Contra-Reforma deu uma atenção redobrada à imaginária
sacra, seguindo antiga tradição que afirmava que as imagens de
santos, pintadas ou esculpidas, eram intermediários para a
comunicação dos homens com as esferas espirituais, isso
desencadeou grandes movimentos iconoclastas em várias
regiões protestantes que provocaram a destruição de
incontáveis obras de arte. A imaginária sacra, então, voltou a ser
vista como elemento central no culto católico, fazia parte de um
conjunto de instrumentos usados pela Igreja para invocar
emoções específicas nos fiéis e levá-los à meditação espiritual.
Num tratado teórico sobre o assunto, Gabriele Paleotti as
defendeu a partir da ideia de que elas ofereciam para o fiel
inculto uma espécie de Bíblia visual, a Biblia pauperum,
enfatizando sua função pedagógica e seu paralelo com
o sermão verbal.
Narciso Tomé e filhos: El Transparente, altar
na Catedral de Toledo
Pintura
A criação de grandes tetos pintados onde as paredes do templo
parecem continuar para cima e se abrir para o céu, oferecendo a
visão de uma epifania onde santos, anjos e Cristo parecem
descer entre nuvens e resplendores de glória. 
Também típica da pintura barroca foi a corrente dedicada à exploração
especialmente dramática dos contrastes de luz e sombra, a chamada
escola Tenebrista. Seu nome deriva de tenebra (treva, em latim), e é uma
radicalização do princípio do chiaroscuro. Teve precedentes na Renascença
e se desenvolveu com maior força a partir da obra do italiano Michelangelo
Merisi, dito Caravaggio, sendo praticada também por outros artistas da
Espanha, Países Baixos e França.
Também típica da pintura barroca foi a corrente dedicada à
exploração especialmente dramática dos contrastes de luz e
sombra, a chamada escola Tenebrista. Seu nome deriva
de tenebra (treva, em latim), e é uma radicalização do princípio
do chiaroscuro. Teve precedentes na Renascença e se
desenvolveu com maior força a partir da obra do
italiano Michelangelo Merisi, dito Caravaggio, sendo praticada
também por outros artistas da Espanha, Países Baixos e
França.
Caravaggio: A crucificação de São Pedro,
1600-1601.Igreja de Santa Maria del Popolo,
Roma
Características
Há uma exaltação dos sentimentos
A religiosidade é expressa de forma dramática
Conflito entre a visão antropocêntrica e a
teocêntrica
Oposição: mundo material e espiritual; fé e
razão;
Restauração da fé medieval
Idealização amorosa, sensualismo e sentimento
de culpa cristão
Consciência trágica da efemeridade do tempo
Visão pessimista da vida
Carpe Diem (aproveitar o momento)
Conceptismo (gosto por raciocínio complexos,
desenvolvidos em paródias e narrativas bíblicas)
Cultismo (gosto por inversões e por construções
complexas e raras)
Vocábulo culto
Gosto pelo soneto e pelo decassílabo
Linguagem figurada: antíteses, paradoxos,
metáforas, hipérboles, inversões.
Autores:
• Gregório de Matos
• Padre Antônio Vieira
Poesia: Gregório de Matos (O Boca do inferno)
Poesia lírica amorosa:
Conflito amoroso carne x espírito
Culpa no plano espiritual
Mulher como a personificação do pecado
Mulher idealizada
Poesia filosófica
Desconcerto do mundo
Funções humanas
Transitoriedade da vida e do tempo
Carpe diem
Poesia religiosa
Temas: amor a Deus, a culpa, o
arrependimento, o pecado e o perdão,
referências bíblicas
Cultismo: inversões e figuras de linguagem
Poesia satírica
Linguagem agressiva
Críticas a todas as classes da sociedade
baiana( governador, clero, comerciantes,
negros, etc.)
Foge aos padrões tradicionais do Barroco, volta-
se para a realidade do século XVII
Linguagem diversificada: termos indígenas,
africanos, palavrões, gírias e expressões locais.
A Jesus crucificado estando o poeta para morrer
Meu Deus, que estais pendente de um madeiro
Em cuja lei protesto de viver
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme e inteiro:

Neste lance, por ser o derradeiro,


Pois vejo a minha vida anoitecer,
É meu Jesus, o hora de se ver
A brancura de um pai, manso cordeiro.
Mui grande é o vosso amor e o meu delito;
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito.

Esta razão me obriga a confiar,


Que, por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.
(Gregório de Matos)
EPÍLOGOS À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece:
Que falta nesta cidade?... Verdade. Cai na cama, e o mal cresce,
Que mais por sua desonra?... Honra. Baixou, subiu, morreu.
Falta mais que se lhe ponha?...
Vergonha. A Câmara não acode?... Não pode.
Pois não tem todo o poder?... Não
O demo a viver se exponha, quer.
Por mais que a fama a exalta, É que o Governo a convence?...
Numa cidade onde falta
Não vence.
Verdad
e, honra, vergonha. Quem haverá que tal pense,
[...] Que uma câmara tão nobre,
O açúcar já acabou?... Baixou. Por ver-se mísera e pobre,
E o dinheiro se extinguiu?... Subiu. Não pode, não quer, não vence.
Logo já convalesceu?... Morreu.
À cidade da Bahia Empenhado: endividado
Triste Bahia! ó quão dessemelhante Trocar: nos dois sentidos:
Estás e estou do nosso antigo estado! comercializar e mudar;
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, Máquina mercante: as naus do
Rica te vi eu já, tu a mi abundante. comércio;
Deste em dar: principiaste, começaste
A ti trocou-te a máquina mercante, a dar;
Que em tua larga barra tem entrado, Simples: droga, remédio;
A mim foi-me trocando, e tem trocado, Brichote: estrangeiro (pejorativo)
Tanto negócio e tanto negociante. Capote: capa larga e longa

Deste em dar tanto açúcar excelente


Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus, que de repente


Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
Soneto à dona D. Ângelo de Souza Paredes
Não vira em minha formosura,
Ouvia falar dela todo dia,
E ouvida me incitava, e me movia
A querer ver tão bela arquitetura:
Desventura: má sorte
Ontem a vi por minha desventura Galhardia: elegância
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma mulher, que em Anjo se mentia;
De um Sol, que se trajava em criatura:

Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me,


Se esta a cousa não é, que encarecer-me
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me:

Olhos meus, disse então por defender-me,


Se a beleza heis de ver para matar-me,
Antes olhos cegueis, do que eu perde-me. 
O fragmento abaixo compõe um livro Boca de Inferno, de Ana Miranda, que recria,
pela ficção, a Bahia do século XVII e tem como personagem central o poeta
Gregório de Matos.

“Esta cidade acabou-se”, pensou Gregório de Matos, olhando pela janela do


sobrado, no terreiro de Jesus. “Não é mais a Bahia. Antigamente, havia muito
respeito. Hoje, até dentro da praça, nas barbas da infantaria, nas bochechas dos
granachas, na frente da forca, fazem assaltos à vista.” (...) Às seis horas da manhã,
o governador Antonio de Souza de Menezes saiu do palácio. Cruzou a praça central
onde ficavam os edifícios da administração: a sede do governo, a prisão, a Câmara,
o Tribunal e o Armazém Real. Dirigiu-se à igreja dos jesuítas, para o sacramento da
penitência. Gostava de fazê-lo de manhã. Tinha seu padre confessor, da ordem dos
franciscanos, mas considerava os jesuítas mais preparados para a orientação
religiosa.

Muitas vezes, ao ajoelhar-se aos pés do sacerdote para fazer suas revelações,
gostava de imaginar que quem estava inquirindo seus pecados era o padre Antonio
Vieira. Eram suas supremas confissões. Falava sobre todas as iniquidades,
transgressões, violações que cometera. (...)
As pessoas que caminhavam pela praça naquele momento eram, na maioria,
negros escravos ou mestiços trabalhadores. Muitos iam para as igrejas. Os sinos
chamavam, repicando. (...) para divertir-se ou murmurar contra o governo,
criando suas próprias leis e arbítrios. E, mesmo sendo ainda de manhã, alguns
vinham trôpegos.

Da janela, Gregório de Matos acompanhou com os olhos a passagem do


governador entre pessoas de diversos mundos e reinos distintos. Reinóis, que
chamavam de maganos, fugidos de seus pais ou degredados de seus reinos por
terem cometido crimes, pobres que não tinham o que comer em sua terra,
ambiciosos, aventureiros, ingênuos, desonestos, desesperançados, saltavam
sem cessar no cais da colônia. Alguns chegavam em extrema miséria (...) e
pouco tempo depois retornavam ricos, com casas alugadas, dinheiro e navios.
Mesmo os que não tinham eira nem beira, nem engenho, nem amiga, vestiam
seda, punham polvilhos (...) Eram esses os cristãos que vinham, na maior parte,
e esses os que caminhavam por ali, tirando o chapéu e curvando-se à passagem
do governador. De noite, aqueles mesmos freqüentadores de missas andavam
em direção aos calundus e feitiços (...) 

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