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Introdução
Nesta unidade, nosso foco estará voltado ao surgimento da didática. Isso porque será central que você possa compreender a
trajetória dos estudos neste campo do conhecimento e perceber futuramente o que é um professor com ou sem didática. Para
isto, vamos analisar a etimologia da palavra que nomeia o conceito, bem como a trajetória histórica de seu surgimento,
verificando sua concepção de conhecimento e as relações que se estabelecem entre escola e sociedade durante seu
desenvolvimento. Vamos conhecer a importante obra de Comenius, Didática Magna, para que você perceba sua influência na
prática docente até os dias atuais. Prepara-se então para a aprendizagem que propomos a seguir.
Bons estudos!
Didática é a disciplina que estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e ascondições do processo de ensino, tendo em vista finalidades
educacionaisque são sempre sociais; se fundamenta na Pedagogia, sendo assim umadisciplina pedagógica.
Sendo assim, você deve estar se perguntando, de que forma podemos ajustar a definição de Libâneo à sua prática cotidiana em
sala de aula, como futuro professor? Vamos elucidar esta definição para facilitar o entendimento: Didática é uma disciplina, uma
área do saber que está diretamente ligada ao que você faz em sala de aula.
O que você fará em sua atuação cotidiana está definido previamente em diversos documentos que são trabalhados durante o
planejamento escolar, a saber: planejamento anual, semestral, bimestral, mensal, plano de ensino e plano de aulas. Ou seja,
toda e qualquer atividade praticada em sala de aula pelo professor está prevista em seu planejamento macro (amplo, ligado aos
objetivos gerais) e micro (restrito, ligado aos objetivos específicos).
Agora, vamos esclarecer como acontece o planejamento de maneira geral nas escolas: são realizadas reuniões de planejamento
antes do início do ano letivo, neste momento, os professores planejam de maneira ampla e específica o que será feito no
decorrer do ano. São elaborados documentos que são necessários a este planejamento, sendo um dos mais importantes, sem
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dúvida, o plano de ensino. Neste documento você estipula seus objetivos (gerais e específicos), quais conteúdos serão
trabalhados, qual metodologia será utilizada, como será feita a avaliação.
Além disto, Libâneo nos afirma que todo este macroprocesso deve estar ligado às finalidades educacionais que são sempre
sociais. O que isto quer dizer? Libâneo reforça o caráter social da escola, como veremos nos próximos momentos da disciplina.
A título de antecipação é importante que você saiba que, em Didática, nos atemos sempre à função social da escola. Ou seja,
será que a escola serve somente para “transmitir conteúdos” ou há algo além disso?
Há muito mais além de “transmissão de conteúdos”, a escola é um local de convívio, trocas e socialização. É um local onde os
educadores também trabalham questões sociais tais como ética, responsabilidade social, cidadania, respeito ao próximo,
respeito à opção cultural, religiosa, social, sexual dos outros, etc. O professor trabalha esses temas de forma transversal, para
que possamos além de trabalhar conteúdos, formar cidadãos.
Posteriormente, quando nosso foco estiver voltado às tendências pedagógicas verificadas na escola, trataremos caso a caso
como se dá a função social da escola de acordo com educadores tais como: Rosseau, Paulo Freire, Vygotsky, Piaget, dentre
outros.
Neste momento, acreditamos que você tenha compreendido a citação de Libâneo que iniciou esta unidade, certo? Portanto,
vamos em frente com nosso conteúdo.
Figura 1 – Na escola aprendemos a conviver com o outro e suas diferenças. Fonte: Pixabay.
A pergunta norteadora agora é: como os conhecimentos de Didática influenciam na formação dos professores?
Se verificarmos a linha histórica do tempo na área da educação, começamos a verificar uma intencionalidade pedagógica
voltada ao ensino por volta do século XVII. O primeiro educador a se preocupar formalmente com a Didática foi sem dúvida,
Comenius (1592-1670). Sua obra mais conhecida é Didática Magna onde, através de ideias consideradas inovadoras, opôs-se às
ideias conservadoras da nobreza e do clero.
No Brasil, por exemplo, o ensino formal começa justamente com a chegada dos jesuítas e a catequização indígena. Portanto, o
ensino e, consequentemente, a Didática, caminharam sempre seguindo as normas e regras da Igreja Católica. Opor-se a esta
metodologia era, sem dúvida, um ato de rebeldia na época. Você já deve ter visto, quando estudou História da Educação, que,
estivemos (e, em alguns casos, ainda estamos) submetidos ao ensino tradicional baseado na transmissão de conteúdos de
maneira passiva. Nesta modalidade o professor é o detentor único do conhecimento que transmite ao seu aluno.
O aluno, por sua vez, é um receptor passivo de todo o conhecimento transmitido, sem direito a manifestar dúvidas, perguntas e
quiçá divergências neste processo.
Pois bem, Comenius foi um dos principais educadores a questionarem o método de ensino tradicional, explicado no parágrafo
anterior. Comenius, inicia sua obra Didática Magna com os seguintes dizeres:
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Nós ousamos prometer uma Didática Magna, isto é, um método universal de ensinar tudo a todos. E de ensinar com tal certeza, que seja
impossível não conseguir bons resultados. E de ensinar rapidamente, ou seja, sem nenhum enfado e sem nenhum aborrecimento para os alunos
e para os professores, mas antes com sumo prazer para uns e para outros. E de ensinar solidamente, não superficialmente e apenas com
palavras, mas encaminhando os alunos para uma verdadeira instrução, para os bons costumes e para a piedade sincera. ( COMENIUS, 1621,
versão para Ebook 2001, págs. 13 e 14 ).
Podemos perceber nesta citação que Comenius busca uma forma de fazer com que o aluno realmente aprenda, ultrapassando
a lógica mecânica até então dominante nas escolas do mundo. Aprendizado este sem significado para o aluno, cansativo,
mecânico e que, não apresentava resultados para o futuro do estudante. Percebemos também que Comenius traduz uma
situação vivenciada na escola na qual o professor não sabe porque ensina e como deve ensinar e o aluno somente reproduz o
conteúdo transmitido pelo professor. Comenius vai se preocupar em como ensinar, quais as metodologias o professor pode
utilizar para que o conteúdo realmente faça sentido no processo de ensino-aprendizagem.
Quando falamos que Comenius vai contra o que estava sendo propagado até então pela Igreja Católica, isto não quer dizer
absolutamente que ele é contra as “coisas de Deus”. Em sua obra, por diversos momentos, percebemos um viés religioso, como,
por exemplo, na abertura do capítulo intitulado Utilidade da Arte Didática, na qual o autor informa que a Didática se baseia em
retos princípios que interessam: aos pais, aos professores, aos estudantes, às escolas, aos Estados, à Igreja e ao Céu. Veja:
Finalmente interessa ao Céu que as escolas sejam reformadas de modo a ministrarem aos espíritos uma cultura exata e universal, não sendo
assim de admirar que, com o fulgor da luz divina, mas facilmente sejam libertados das trevas aqueles a quem o som da trombeta divina não
consegue acordar (...). ( COMENIUS, 1621, versão para Ebook 2001, págs. 48 e 49 ).
É importante que fique claro para você, estudante e futuro professor, que há um viés religioso na obra de Comenius, o que não
invalida o viés metodológico de sua proposta como veremos a seguir. E qual seria a proposta Didática de Comenius?, de acordo
com Garcia (2014):
Na abordagem comeniana havia uma constante preocupação com o aprender fazendo, ou seja, era necessário que o aluno tivesse um contato
direto com a natureza. Daí a organização de visitas ao campo para que as crianças e jovens pudessem, através dos sentidos aprender de
maneira diferente do que constava nos livros apenas (...) ( GARCIA, 2014, p. 317 ).
1. O aluno deve ver e tocar no objeto do conhecimento, ou seja, o professor deve sair da teoria e demonstrar na prática, por
meio do “aprender fazendo” citado acima.
2. O professor deve trabalhar com exemplos curtos para facilitar a compreensão do estudante.
3. Parte-se na maioria das vezes, do conhecimento obtido através da natureza ou do cotidiano dos estudantes para a
compreensão dos fenômenos estudados.
4. O professor não ensina novo conteúdo sem que os estudantes tenham compreendido e consolidado o conteúdo anterior.
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Então, estudante, qual a sua opinião sobre esta proposta Didática de Comenius? Fantástico, não é mesmo? Por este e outros
motivos que estudamos esta obra até os dias de hoje e por isso mesmo é que este pensador é considerado até a atualidade
como sendo o pai da Didática.
Paralelo à sua formação inicial, é importante que você saiba que existem cursos que fortalecem sua atuação, tais como os de
extensão, direcionados à sua área de interesse, seja ela: Educação Infantil, Alfabetização, Educação Especial, Gestão Escolar,
dentre outras. E, claro, posteriormente, você poderá se especializar em uma destas áreas com um curso de Pós-Graduação Lato
Sensu. Este processo é denominado Formação Continuada Docente.
Por meio do estudo da Didática, você conseguirá obter direcionamentos que o levarão às respostas a estas dúvidas.
Posteriormente, você terá em seu curso disciplinas específicas que auxiliarão na Metodologia de disciplinas, tais como:
Português, Matemática, Ciências, História e Geografia. Agora, é o momento de compreender que em Didática, nos
preocupamos em como nosso aluno aprende e como deve acontecer nossa atuação em sala de aula no sentido de favorecer
este aprendizado.
Além disso, você deve estar se perguntando: como saber se serei um professor que terá ou não terá Didática em sala de aula? E
a resposta é simples, esta competência virá com o tempo e por meio dos seus esforços e dedicação. O professor que tem
Didática é aquele que se empenha, que estuda e planeja previamente, que se preocupa com o processo de aprendizagem de
seus alunos, que têm interesse em tornar as aulas dinâmicas e atrativas a fim de favorecer o aprendizado significativo. Se você
atender a estes itens mencionados e se aprofundar na compreensão da história da Didática a seguir, podemos concluir que se
tornará um docente com uma Didática excepcional! E quem ganha com isso? Você e seus alunos, com certeza!
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Já vimos que a preocupação com este campo pedagógico se iniciou com a obra Didática Magna de Comenius, datada do século
XVII. É recomendado fortemente que você acesse através do link disponível na Bibliografia desta unidade e leia, mesmo que por
partes, esta obra-prima da Educação. É fundamental que você compreenda que, apesar do caráter inovador de Didática Magna,
Comenius não conseguiu “um milagre” nas escolas mundiais. Vemos até os dias atuais, escolas tradicionais que não valorizam o
processo de ensino-aprendizagem, continuando mecânico e sem sentido para o aluno. Pois bem, sem dúvida a obra de
Comenius foi inovadora para a sua época e abriu caminhos para outros pensadores/educadores que viriam posteriormente
democratizar a forma de ensinar e de aprender.
Na longa fase que se poderia chamar de didática difusa, ensinava-se intuitivamente e/ou seguindo-se a prática vigente. De alguns professores
conhecemos os procedimentos, podendo-se dizer que havia uma didática implícita em Sócrates quando perguntava aos discípulos: “pode-se
ensinar a virtude?” ou na lectio e na disputatio medievais ( CASTRO, 1991, p. 15-16 ).
A partir do Século XVII percebe-se uma maior preocupação em como ensinar, conforme informamos anteriormente quando
nos referimos à obra de Comenius, Didática Magna. Trata-se efetivamente de um marco histórico na Educação. É claro que
alguns outros filósofos e educadores já haviam se questionado sobre os métodos de ensino mas, ainda segundo Castro: “(...) é
aos reformadores do século XVII que como disse H. NOHL, deve-se a “autoconsciência” do proceder educativo, retirando as
cogitações didático-pedagógicas da Filosofia, da Teologia ou da Literatura, onde, até essa época, encontravam abrigo” (1991, p.
17).
Portanto percebe-se um novo direcionamento para os métodos de ensinar e a sociedade de uma forma geral começa a pensar
se efetivamente o que acontece na escola, favorece o desenvolvimento do aluno.
Figura 3 - Como podemos mensurar se um professor têm ou não têm Didática? Fonte: Pixabay, 2019.
Para falarmos de sua obra, é importante conhecermos um pouco a respeito de sua biografia. Sabe-se que Rosseau enfrentou
diversos problemas durante a sua infância e adolescência pela ausência de sua mãe que faleceu poucos dias após o seu
nascimento, e seu pai que teve que deixar Genebra após uma confusão com uma pessoa de influência à época. Sua biografia é
famosa também por ter tido cinco filhos com Thérèse Levasseur e direcioná-los à orfanatos por acreditar que sua pobreza e
doença o impediam de criar adequadamente seus filhos. Em 1762, escreve a obra: Emílio ou da Educação e Do Contrato Social,
na qual busca ensinar como a família e a escola devem educar suas crianças. Imagine a confusão que esta obra gera na
sociedade, vindo justamente de uma pessoa que não educou seus próprios filhos. Após a publicação desta e da obra A Nova
Heloísa, Rosseau passa a sofrer perseguições políticas. Apesar da vida conturbada, seus pensamentos são importantes até os
dias atuais, em pleno século XXI. É sua a famosa frase: “o homem é bom por natureza, a sociedade que o corrompe”. São
também pressupostos de Rosseau:
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1. A criança precisa despertar o interesse pelos estudos, sendo que seus verdadeiros professores são a natureza, a experiência
e o sentimento.
2. Para o aprendizado, é fundamental o contato com a natureza, denominada por ele de Educação Natural.
3. Para ele, a educação da criança deve ser voltada aos interesses da criança e não aos interesses do adulto, conforme era
praticado até então.
Podemos afirmar, segundo Castro (1991), que Rosseau dá origem a um novo conceito de infância, contribuindo para que sobre
esta faixa etária houvesse uma proposta de inserção diferenciada em relação aos adultos na dinâmica da vida social e,
portanto, da educação.
Outra curiosidade ao seu respeito, é que Rosseau não colocou suas ideias em prática, isto somente aconteceu a partir da ação
de Pestalozzi, outro educador importante para a história da Educação.
A prática das ideias de Rosseau foi empreendida, entre outros, por Pestalozzi, que em seus escritos e atuação dá dimensões sociais à
problemática educacional. O aspecto metodológico da Didática encontra-se, sobretudo, em princípios, e não em regras, transportando-se o foco
de atenção às condições para o desenvolvimento harmônico do aluno. ( CASTRO, 1991, p. 17 ).
Vamos falar rapidamente a respeito de Pestalozzi, para que você compreenda sua importância dentro da educação. Pestalozzi
(1746-1827) preocupava-se com a educação como instrumento de reforma social e acreditava que todos deveriam ter acesso à
escola, independente da condição social. Pense que, nesta época, somente os ricos tinham vagas nas escolas (públicas em sua
maioria e de muita qualidade). Alguns de seus preceitos podem ser aqui explicitados. Para Pestalozzi, é importante a relação de
amor e respeito estabelecida entre professor e aluno, o respeito à individualidade dos sujeitos; o desenvolvimento das
capacidades cognitivas e intelectuais do aluno, bem como o seu desenvolvimento físico e moral.
Pestalozzi acreditava ser importante a observação e o início das aulas ou conteúdos sempre partindo da forma simples para a
complexa, pois, para ele, a aquisição do conhecimento acontece de forma gradativa, além, da importância ao respeito do
desenvolvimento infantil. Ou seja, a criança não era mais considerada um mini-adulto como antigamente, e sim um ser que se
desenvolve e possui desejos e necessidades.
Figura 4 - Pestalozzi acreditava ser importante o respeito ao desenvolvimento infantil. Fonte: Pixabay, 2019.
Outro educador fundamental para a nossa compreensão a respeito da importância da Didática é John Dewey (1859-1952).
Dewey foi o principal representante do movimento da Escola Nova, que você já deve ter ouvido falar nas disciplinas de História
da Educação ou Educação Infantil.
Para Dewey, é fundamental que o professor trabalhe com seu aluno a partir da sua experiência, ou seja, a educação acontece
pela ação. O homem é um ser social e as necessidades sociais guiam a vida e a educação. Para isto, segundo Dewey, o professor
deve partir de situações que despertem a curiosidade do aluno, partindo dos chamados Centros de Interesse que de acordo
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com ele, possuem práticas com significação para a vida do aluno. Novamente, perceba o quão inovador este pensamento era
para sua época (início do século passado).
O movimento da escola nova se contrapôs ao modelo tradicional de ensino, mas não chegou a representar uma ruptura com o modelo de
educação, em termos da relação política entre educação e sociedade. O teórico inovou, no entanto, em termos de método, na forma de trabalhar
com o Conhecimento ( PEREIRA et all., 2009, p. 157 ).
Dewey acreditava que seria importante o professor trabalhar a partir das dúvidas dos alunos, ou seja, da problematização de
temas importantes e recorrentes na escola. Ainda de acordo com Pereira (2009):
O método "dos problemas" valoriza experiências concretas e problematizadoras, com forte motivação prática e estímulo cognitivo para
possibilitar escolhas e soluções criativas. Que neste caso leva o aluno a uma aprendizagem significativa, pois o mesmo utiliza diferentes
processos mentais (capacidade de levantar hipóteses, comparar, analisar, interpretar, avaliar), de desenvolver a capacidade de assumir
responsabilidade por sua formação. ( PEREIRA et all., 2009, p. 158 ).
Perceba novamente, a evolução da proposta de Dewey, se compararmos sempre ao ensino tradicional praticado até então.
Para trabalhar a partir das dúvidas dos alunos, ou a partir de situações-problema, o professor deve, primordialmente, ser um
pesquisador. Não é mais o centro do processo educativo nem tão pouco o detentor do saber. O saber está no docente, no
discente e na troca que se estabelece entre eles. Isto quer dizer que o professor deve considerar também o conhecimento
prévio de seu aluno, todo mundo sabe alguma coisa, e este “saber algo” influencia na dinâmica do processo de ensino-
aprendizagem na escola
Em suma, Dewey foi um dos principais educadores que traçaram um “norte” para o movimento escolanovista. No Brasil, os
principais representantes deste movimento foram Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo. Um dos principais
pilares defendido pelos escolanovistas é o “aprender a aprender”. Questiona-se como o aluno aprende e chega-se à conclusão
de que ele o faz observando, pesquisando, realizando trabalhos em grupo, resolvendo situações- problema, dentre outras
atividades. Curiosamente, em 2010, este seria um dos quatro pilares da Educação categorizados pela UNESCO, a saber:
aprender a conhecer (ou aprender a aprender), aprender a ser, aprender a fazer e aprender a conviver.
Mas Lourenço Filho, quando trata do aprender a aprender, referia-se à Escola Ativa, aqui entendida como:
(…) a aprendizagem do aluno ocorreria num movimento, resultando de impulsos emotivos naturais em que aspectos biológicos são respeitados.
E as atividades devem ser organizadas de acordo com as etapas do desenvolvimento de cada criança. A escola passa a preocupar-se em
entender como o aluno aprende ( LOURENÇO FILHO, 1978, p. 19 ).
Por fim, podemos afirmar que o movimento da Escola Nova pretende preparar o aluno para a vida em sociedade.
Para efeitos didáticos, é importante você saber que existem duas grandes correntes pedagógicas: a liberal e a progressista, de
acordo com Libâneo (1994). Dentro da corrente liberal encontram-se: a pedagogia tradicional, pedagogia renovadora, ou da
Escola Nova, e a pedagogia tecnicista. Na corrente progressista, encontram-se: pedagogia libertadora e pedagogia crítico-social
de conteúdos. Vamos conhecer um pouco de cada uma delas. A corrente liberal entende que a função social da escola está
direcionada justamente à preparação para a atuação do indivíduo na sociedade, desempenhando papéis sociais de acordo com
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as suas capacidades individuais. Embora discrepantes em alguns momentos como, por exemplo, na função social da escola, é
curioso observar como Libâneo agrupa as tendências pedagógicas nestas duas correntes.
Com relação à pedagogia diretiva e sua sustentação epistemológica, Becker afirma que se trata de uma aula onde prevalece o
ensino tradicional em que o professor fala, e o aluno escuta. O professor atua desta forma porque acredita verdadeiramente
que o conhecimento pode ser “transmitido” de um para outro, de uma pessoa que “sabe mais” para outra que “sabe menos”, de
acordo com Becker (s/d):
Ele (o professor) acredita no mito da transmissão do conhecimento – do conhecimento enquanto forma ou estrutura; não só enquanto conteúdo.
O professor acredita, portanto, numa determinada epistemologia. Isto é, numa "explicação" - ou, melhor, crença - da gênese e do
desenvolvimento do conhecimento, “explicação” da qual ele não tomou consciência e que, nem por isso, é menos eficaz. ( BECKER, s/d, p. 2 ).
Portanto, esta pedagogia diretiva está sustentada na crença que o aluno nada sabe, inclusive não possui conhecimentos
prévios, e o professor é a única forma de se obter o conhecimento e inclusive, a sua redenção. E, para aprender, o aluno tem
que se submeter à fala do professor, apenas escutando-o e repetindo diversas vezes o mesmo conteúdo, já será suficiente para
o seu aprendizado. E veja, o quão edificante para a sociedade é este modelo pedagógico:
O aluno, egresso dessa escola, será bem recebido no mercado de trabalho, pois aprendeu a silenciar, mesmo discordando, perante a autoridade
do professor, a não reivindicar coisa alguma, a submeter-se e a fazer um mundo de coisas sem sentido, sem reclamar. O produto pedagógico
acabado dessa escola é alguém que renunciou ao direito de pensar e que, portanto, desistiu de sua cidadania e do seu direito ao exercício da
política no seu mais pleno significado: qualquer projeto que vise a alguma transformação social escapa a seu horizonte, pois ele deixou de
acreditar que sua ação seja capaz de qualquer mudança. ( BECKER, s/d, p. 3 ).
Entende-se a partir daí que o professor determina o aluno. Ou seja, este aluno somente se formará, se e somente se, o
professor estiver guiando-o. Nesta concepção, pode esquecer-se de Paulo Freire caro estudante, não está prescrita a máxima: o
aluno aprende com o professor e o professor aprende com o aluno. Aqui, o professor ensina e o aluno (através da repetição e
memorização), aprende. E, portanto, está inserida na lógica da educação tradicional.
Agora, vamos tratar um pouco a respeito da pedagogia não-diretiva. Este modelo entende que o professor é um facilitador do
processo de ensino-aprendizagem. O professor não deve interferir na aprendizagem, deve, literalmente, deixar o aluno fazer
para que este possa encontrar suas respostas. A bagagem hereditária é fortemente marcada nesta pedagogia, ou seja, o aluno
já sabe, já possui o conhecimento, só precisa de uma forma para aflorá-lo. E qual seria então o papel do professor, visto que
aprendemos desde sempre que é necessária a mediação no processo de ensino aprendizagem? Ele tem dois caminhos,
segundo Becker (s/d): ou ele exerce o poder de maneira que ninguém o perceba, ou ele desiste deste tradicional papel
mediador. Aqui, falando de maneira epistemológica, o aluno já possui suas características hereditárias e determina a ação (ou
falta dela) do professor.
E por fim, falaremos sobre a pedagogia relacional. Neste modelo, o professor age a partir da experimentação, ou seja, o aluno
tem que tocar o conhecimento, senti-lo para só então compreendê-lo:
Em outras palavras, ele (o professor) sabe que há duas condições necessárias para que algum conhecimento novo seja construído: a) que o aluno
aja (assimilação) sobre o material que o professor presume que tenha sigo de cognitivamente interessante, ou melhor, significativo para o aluno;
b) que o aluno responda para si mesmo às perturbações (acomodação) provocadas pela assimilação deste material, ou, que o aluno se
aproprie, neste segundo momento, não mais do material, mas dos mecanismos íntimos de suas ações sobre este material (...) ( BECKER, s/d, p.
7-8 ).
Em suma, o docente acredita que há o conhecimento prévio, que há a herança genética, mas que é fundamental a interação na
sala de aula, o convívio e as trocas com os colegas de turma, bem como a mediação docente. Professor e aluno interagem
mutuamente.
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Esta tendência surgiu no final da ditadura militar, início dos anos de 1980. Busca uma educação crítica e a superação das
desigualdades em nossa sociedade. Para esta pedagogia, a escola deve socializar e difundir o saber, atendo-se às realidades
sociais vigentes dos seus participantes (sejam eles estudantes, profissionais ou outros membros da comunidade). O professor
faz a mediação do processo de ensino-aprendizagem, porém, preocupa-se fortemente com a realidade de seu aluno e suas
experiências de vida. Para isto, os conteúdos ensinados devem ser analisados criticamente de acordo com as realidades sociais
vivenciadas.
O método de ensino visa estimular a atividade e a iniciativa do professor; favorecer o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem
deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levar em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o
desenvolvimento psicológico, mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do
processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos. Esse método deve fazer a vinculação entre educação e sociedade, onde
professores e alunos são tomados como agentes sociais ( SAVIANI, 2007 ).
Ainda de acordo com Demerval Saviani, um dos principais estudiosos desta Pedagogia, existem cinco passos para o
desenvolvimento da atividade mediadora da Pedagogia Histórico–Crítica dos Conteúdo, a saber:
Prática Social:
Problematização:
Instrumentalização:
Catarse :
A implementação dessa didática está vinculada a uma nova forma dos educadores pensarem a educação, sendo necessário muito esforço,
estudo, experimentações, coragem para inovar, de divergir, de arriscar, de assumir desafios. Portanto, sua aplicabilidade com êxito, depende
indubitavelmente do compromisso desses educadores, em aprofundar seus conhecimentos teóricos e criarem condições necessárias como, nova
forma de planejar e aplicar os conteúdos e as atividades escolares, almejando um ensino significativo, crítico e transformador. ( PETENUCCI,
2008, p. 14 ).
Quando falamos em função social da escola ou da educação, isto quer dizer que a escola não é meramente uma instituição que
tem como função a transmissão dos conteúdos, consequente memorização por parte dos estudantes e reprodução na
sociedade. A escola é muito mais do que isso. Orientamos que acesse o site do Ministério da Educação e verifique que, uma das
premissas do Ensino Fundamental é formar um cidadão, no sentido pleno da palavra. Pois educar é, segundo Celina Alves
Arêas:
Processo e prática social constituída e constituinte das relações sociais mais amplas; Processo contínuo de formação; Direito inalienável do
cidadão. A prática social da Educação deve ocorrer em espaços e tempos pedagógicos diferentes, para atender às diferenciadas demandas.
Como prática social, a educação tem como lócus privilegiado a escola, entendida como espaço de garantia de direitos. ( ARÊAS, 2008, p. 4 ).
Portanto, quando falamos em prática social, está subentendido que uma de suas premissas é o respeito aos espaços e tempos
pedagógicos de cada um, bem como suas experiências prévias e a forma como se constrói dentro e fora da sala de aula.
Em 1954, Querino Ribeiro apresentou a seguinte definição de sistema escolar: “Por sistema escolar se entende um conjunto de escolas que,
tomando o indivíduo desde quando, ainda na infância, pode ou precisa distanciar-se da família, leva-o até que, alcançando o fim da
adolescência ou a plena maturidade, tenha adquirido as condições necessárias para definir-se e colocar-se socialmente, com responsabilidade
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econômica, civil e política”. O que esta definição tem de mais notável é o fato de não se deter no exame da estrutura do sistema escolar, para
focalizar, de preferência, os resultados do processo de escolarização. ( MENEZES, 1998, p. 127 ).
Agora, vamos nos ater aos itens: educação formal, não formal e informal. Para que você possa compreender o nível de
abrangência do nosso sistema educacional brasileiro.
A Educação Formal, como o próprio nome sugere, acontece em ambientes e com práticas pedagógicas Institucionalizadas de
maneira intencional. Traduzindo: acontece na escola regular, onde há professores e planejamento para as ações cotidianas da
sala de aula. Podemos aproximar esta definição do conceito de intencionalidade pedagógica, que se traduz pela intenção e
planejamento prévio de educadores no ato de ensinar. O professor se prepara para lecionar, estuda, realiza um planejamento,
verifica quais serão seus objetivos, metodologia e formas de avaliar e o aluno, é acompanhado diariamente, é exigido em
diversos momentos e avaliado ao final do processo em que obterá aprovação ou reprovação.
A Educação Não-Formal acontece fora da sala de aula ou dos espaços formais de educação, não há planejamento pedagógico
por trás desta ação. São desenvolvidas diversas atividades para diversos grupos e, portanto, não há um conteúdo único a ser
seguido, bem como não há uma única forma de avaliar e determinar um conceito de aprovação.
Já a Educação Informal é resultado de tudo que acontece no cotidiano do estudante, dentro e fora do ambiente formal de
estudos. Ocorre em cada experiência realizada, seja ela planejada ou não, em cada contato com o outro, em cada evolução
cognitiva e social.
E agora você deve estar se perguntando, o que é um professor reflexivo? Trata-se de um profissional que analisa suas práticas,
o seu cotidiano, o desenvolvimento de seus estudantes, seu planejamento, seus instrumentos de avaliação e assim por diante. É
aquele professor que, mediante uma turma que tem um fraco desempenho em uma avaliação, questiona a sua metodologia e
até mesmo a sua avaliação. E, a partir desta reflexão, traça novos caminhos.
Este é o professor que queremos, um profissional sério, comprometido, questionador, pesquisador, reflexivo. E não aquele
profissional de antigamente, que acreditava já saber tudo e não precisar alterar sua metodologia em nada, mesmo diante de
uma turma que não aprende. Este é o perfil de profissional que você, futuro educador, deverá buscar, sempre!
Síntese
Nesta unidade nosso foco foi compreender como seu o nascimento da Didática através de uma breve linha histórica do tempo,
traçando suas intencionalidades e principais autores desta área do saber. Posteriormente, caminhamos por Modelos
pedagógicos e modelos epistemológicos e sua relação com as tendências Pedagógicas de maneira sintetizada, mas que com
certeza, fará a diferença na sua atuação enquanto futuro educador. Finalizamos este início de disciplina com uma visão
atualizada a respeito do sistema educacional e do sistema escolar, bem como das responsabilidades da escola, família e
governo com relação ao processo educacional como um todo.
Nesta unidade tivemos a oportunidade de:
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Situar-se quanto ao papel da filosofia de Comenius e sua importância na história das práticas pedagógicas;
Situar-se quanto ao papel da filosofia de Comenius e sua importância na história das práticas pedagógicas;
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<http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/didaticamagna.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2019.
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Acesso em: 17 jun. 2019.
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https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=Yx2azrOnpJNhXz3M3qHkDQ%3d%3d&l=7zTJWsiU3mIPZTTKMTPYuw%3d%3d&cd=G6h… 12/13
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