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Formação da Alma e do Caráter Nacional: Ensino de

História na Era Vargas

Resumos

Formação da Alma e do Caráter Nacional: Ensino de História na Era Vargas

Katia Maria Abud

Universidade de São Paulo

Resumo

Desde que a História se estruturou como disciplina escolar, a formação e o fortalecimento do


sentimento de identidade nacional foi um dos objetivos de seu ensino. A questão da identidade
nacional brasileira se colocava com muita força entre intelectuais e educadores brasileiros da
primeira metade deste século. Entre estes últimos, os que participaram dos órgãos pú-blicos
educacionais procuraram fazer com que a História fosse um veículo para suas idéias, que foram
incorporadas pelos programas e pelos manuais escolares. Ao incorporarem tais idéias, os
programas da disci-plina e os livros didáticos deram especial importância à formação do povo
brasileiro, à integridade territorial e administrativa do Brasil, bem como à unidade cultural do
Brasil.

Palavras-chave: Identidade Nacional; Livros Didáticos; Era Vargas.

Desde as primeiras décadas do século XX, a questão da formação da nacionalidade e


identidade nacional brasileira vinha ocupando espaços na produção intelectual e política do
país. Os intelectuais brasileiros tinham suas raízes nas camadas dirigentes, como afirmam
Daniel Pécault e Joseph Love1, muitos deles participavam das instituições republicanas, como
parlamentares, técnicos, diretores de órgãos de cultura e outros. Nessas instituições do Estado,
nas quais atuavam os intelectuais, aquelas idéias teriam o veículo apropriado para sua difusão e
implementação na sociedade, e portanto na educação, pois a burocracia estatal legisla,
regulamenta e controla o trabalho pedagógico. Há um discurso do poder que se pronuncia sobre
a educação definindo seu sentido, forma, finalidade e conteúdo2.

Já em 1915, Alberto Torres indicava a formação de uma consciência nacional como uma das
tarefas mais urgentes a ser realizada pelos intelectuais3. A idéia do desenvolvimento do
sentimento de identidade nacional espalhou-se pela sociedade brasileira por meio da formação
de associações, como a Liga de Defesa Nacional, dirigida por Olavo Bilac, de literatura e de
publicações como a Revista do Brasil, além de fundamentar movimentos políticos como o
tenentismo e culturais, como o modernismo. As idéais sobre a formação da consciência nacional
que vicejavam no período entendiam que esta necessariamente deveria passar pela consciência
das elites.

Nacionalismo e pensamento autoritário caminhavam juntos no Brasil. O liberalismo era apontado


como uma idéia exótica, que refletia campanhas políticas européias e norte-americanas e que,
no Brasil, não significava nada além do caudilhismo local ou regional4, sendo a política vista
como um mecanismo alheio à sociedade e perturbador da ordem5. A concepção de realidade e
de sociedade, que se originava do nacionalismo e do anti-liberalismo, levava à
responsabilização do Estado pela formação da nacionalidade e pela direção do povo. Este era
considerado simplesmente como "massa" que deveria ser orientada a seguir as elites,
verdadeiro motor das transformações pelas quais o Brasil deveria passar para chegar ao
desenvolvimento.

Francisco Campos, ideólogo do autoritarismo e Ministro da Educação do governo provisório,


órgão criado após o golpe liderado por Vargas, afirmava que "as transformações não se operam
pelas ações das mentalidades primitivas, mas pela influência das ciências e das artes, de
filósofos, pesquisadores, engenheiros, artistas (...)"6

Intelectuais envolvidos com as questões educacionais também não escondiam a crença na


liderança das elites. Fernando de Azevedo, o redator do Manifesto dos Pioneiros da Educação,
no Inquérito sobre a Instrução Pública, manifestou sua convicção na necessidade de se priorizar
a educação das camadas dirigentes, que deveria anteceder a educação do povo. A
anterioridade da educação da elite era necessária porque ela seria seguida pelas massas7.
Outro educador conhecido que deixou bem claras suas convicções autoritárias foi Lourenço
Filho, que destacou a ligação entre a política de segurança e a política de educação, "pois no
fundo trata-se de uma única e mesma política: a dos mais profundos interesses da nação"8. Os
interesses do Estado e da Educação conjugavam-se, na medida em que os indivíduos seriam
instruídos nas formas conservadoras de ação e representação.

Os órgãos de instrução teriam um papel fundamental na formação da consciência nacional. E


dentre seus elementos, destacavam-se os objetivos que competiam à História. A História tem
sido considerada por excelência a disciplina formadora dos cidadãos. François Furet nos lembra
que, no momento de sua introdução como disciplina escolar, interessava formar com seu ensino
uma ciência social geral, que desse aos alunos a noção da diversidade das sociedades do
passado e o sentido de sua evolução9. Cabia às forças dirigentes a escolha do passado, de
acordo com seus interesses. A disciplina deveria ser o estudo da mudança e, já no final do
século XIX, era um método científico e uma concepção de evolução. O homem caminhava rumo
ao Progresso e à Civilização, guiado pela Nacionalidade, por isso a História se revelaria como a
genealogia da nação, procurando identificar as bases comuns, formadoras do sentimento de
identidade nacional. Assim, a História se desenvolveu buscando o fortalecimento do Estado,
conformação material da Nação10. Muito embora Furet refira-se à disciplina na França do século
XIX, sua análise pode ser transposta para a situação do Brasil do século XX.

Os programas de ensino de História continham elementos fundamentais para a formação que se


pretendia dar ao educando, no sentido de levá-lo a compreender a continuidade histórica do
povo brasileiro, compreensão esta que seria a base do patriotismo. Nessa perspectiva, o ensino
de História seria um instrumento poderoso na construção do Estado Nacional, pois traria à luz o
passado de todos os brasileiros, e teria "(...) o alto intuito de fortalecer cada vez mais o espírito
de brasilidade, isto é, a formação da alma e do caráter nacional"11. O programa de 1931 deixa
evidente que isso estava bem claro para os legisladores, pois reconheciam que

conquanto pertença a todas as disciplinas do curso a formação da consciência


social do aluno, é nos estudos de História que mais eficazmente se realiza a
educação política, baseada na clara compreensão das necessidades de ordem
coletiva e no conhecimento das origens, dos caracteres e da estrutura das atuais
instituições políticas e administrativas12.

As listas de conteúdos, sua distribuição pelas séries da escola secundária, as orientações para
o trabalho pedagógico elaborados pelas instituições educacionais durante o período em que
Vargas governou, traduziam a preocupação oficial e as discussões que perpassavam os meios
intelectuais brasileiros. Mais do que isso, eram um instrumento ideológico para a valorização de
um corpus de idéias, crenças e valores centrados na unidade de um único Brasil, num processo
de uniformização, no qual o sentimento de identidade nacional permitisse a omissão da divisão
social, a direção das massas pelas elites e a valorização da "democracia racial", que teria
homogeneizado num povo branco a população brasileira.

Desde 1925, ano da Reforma Rocha Vaz, os programas de ensino secundário eram formulados
pelos professores catedráticos e aprovados pelas congregações do Colégio Pedro II e dos
estabelecimentos estaduais de ensino secundário, que haviam obtido a equiparação àquele,
após o cumprimento de uma série de formalidades. As escolas equiparadas deviam adotar, sem
nenhuma modificação, a seriação de matérias estabelecidas para o Pedro II, cabendo-lhes
apenas a elaboração de programas próprios.

A Reforma Francisco Campos, de 1931, estendeu a equiparação aos colégios mantidos pelos
municípios, associações ou por particulares. Os programas e métodos de ensino, porém, seriam
produzidos pelo próprio Ministério. Eliminava-se desse modo a atribuição dos ginásios estaduais
de elaborassem seus próprios programas, acentuando a centralização uniformizadora do ensino
secundário. Paralelamente, foi organizado um sistema de inspeção federal do ensino
secundário, aprofundando ainda mais o controle exercido pelo governo central. Os programas e
as respectivas orientações metodológicas foram organizados por comissões formadas pelos
órgãos públicos educacionais e, segundo Guy de Hollanda, são até hoje desconhecidos os
nomes dos que elaboraram os programas de História13.

Neles, o conteúdo estava disposto por série e procurava abranger a História Geral, do Brasil e
da América. Tais programas vigoraram até 1942, quando reforma promovida por Gustavo
Capanema, novo ministro da Educação, mudou a grade curricular atribuindo uma maior carga
horária às matérias do campo das humanidades.

Concebidos durante a Era Vargas, os programas de História elaborados pelas comissões


constituídas pelo Ministério da Educação, após as duas reformas, traziam implícitas as grandes
questões que faziam o pano de fundo das transformações que se estabeleciam no período.

Em 1931, com a elaboração, pelo Ministério da Educação, do primeiro programa para as


escolas secundárias, já com a seriação unificada, a História Geral e do Brasil passaram a
constituir uma única disciplina: a História da Civilização, incluída nas cinco séries do curso
secundário. Com isso, o ensino de História ganhava em carga horária, pois no regime escolar
que vigorou até 1931, o conteúdo da História Universal e da História do Brasil estavam divididos
em apenas três das cadeiras obrigatórias, o que no novo sistema correspondia a apenas três
séries. Gradualmente, por meio de vários atos legais, a História do Brasil adquiriu autonomia,
quando a Reforma de 1942 restabeleceu em caráter permanente a separação entre a História
Geral e do Brasil, aumentando consideravelmente a carga horária da disciplina no curso
ginasial.

No entanto, a relação dos conteúdos distribuídos pelas cinco séries do curso secundário
fundamental e posteriormente diminuídas para quatro séries, demonstravam um interesse
profundo nas instituições administrativas e nas formas utilizadas por Portugal para organizar a
Colônia, considerado o primeiro momento da formação do sentimento nacional brasileiro.

Os programas eram periodizados fazendo uso das épocas consagradas pela historiografia
clássica; no caso da História Geral e quanto à História do Brasil a periodização era a mesma
que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro havia estabelecido a partir das sugestões de
seus sócios que discutiam como deveria ser escrita a História do Brasil. Considerando a História
como a genealogia da nação, esta se iniciava com a História da formação de Portugal e os
grandes descobrimentos, que incluíam o Brasil no processo civilizatório. Nas Instruções
Metodológicas, que acompanhavam os Programas e orientavam os professores para o exercício
de sua prática pedagógica, destacava-se a importância da História como um instrumento para o
desenvolvimento do patriotismo e do sentimento nacional. Esse fato fica bastante evidenciado
nos livros didáticos publicados de acordo com os programas oficiais, sobretudo nos capítulos
que tratavam especificamente da formação do sentimento nacional brasileiro.

Desde os programas do Colégio Pedro II alguns fatos que evidenciavam a preocupação com a
formação nacional ocupavam lugar destacado no ensino de História. Três pilares alicerçavam a
unidade nacional brasileira: unidade étnica, unidade administrativa e territorial e unidade cultural.
Os eixos em torno dos quais os programas se estruturavam tinham significados relacionados à
formação do Estado Nacional: a formação do "povo brasileiro", a organização do poder político e
ocupação do território brasileiro.

O tratamento dispensado pelos programas e pelos livros didáticos a temas que enfatizavam a
formação do sentimento nacional e aos heróis que construíram a nação é sintomático da
importância do assunto. Ao lado da unidade geográfica, construída pelos conquistadores
portugueses em diferentes momentos, em diversas regiões da faixa litorânea e pelos
bandeirantes, que levaram o poder colonial português para as regiões do interior, impunha-se a
formação de uma "população diferente, mesclada, fruto de três elementos diversos que se
aceitaram e se confundiram"14, como ensinavam os livros didáticos. Assim, os assuntos
indígenas, compreendidos como estudos etnográficos, abriam, na maior parte das vezes, os
volumes de História do Brasil.

A busca das origens do povo brasileiro, personificação da nação, articula a referência a uma
comunidade singular, com aspectos que lhe são característicos e que se origina de três outros
povos, dos quais a base seria formada pelo português, com quem no Brasil teria aportado a
civilização. O "silvícola brasileiro" era apresentado ainda com os traços que o Romantismo havia
lhe dado: um aspecto heróico, de um povo que já havia desaparecido, a quem os manuais se
referiam exclusivamente no passado: "Apreciavam os adornos, (...) e cobriam seu corpo (....)
andavam nus"15. Dispensava-se ao índio, um dos vértices do triângulo étnico do Brasil, um
tratamento que eliminava a sua existência contemporânea.

O índio, objeto dos livros didáticos, era ainda o nativo encontrado pelos portugueses no século
XVI, não o índio degradado pela conquista européia, que persistia em sobreviver, nos séculos
posteriores. Esse índio não poderia ser uma das raízes, mas poderia simbolizar as nossas
origens do "bom selvagem", mitificado nas páginas de José de Alencar, Gonçalves Dias e de
outros escritores indianistas. Esse "selvagem" com código de honra medieval, de físico
semelhante ao homem branco, seria o índio de quem os livros didáticos falavam, como se já
estivesse completamente desaparecido e sem nenhuma relação com seus vilipendiados
descendentes, nossos contemporâneos.

O componente de nobreza da nossa formação viria do índio, que não teria aceito a escravidão,
que enfrentava bravamente os obstáculos da floresta e os inimigos. Historiadores de renome,
como Alfredo Ellis Jr., professor catedrático de História do Brasil na USP, afirmavam que no
Planalto de Piratininga, onde se localiza São Paulo, havia se formado uma "sub-raça superior, a
planaltina", resultante do cruzamento entre portugueses e índios16. Essa sub-raça superior tinha
por oposição a mestiçagem "híbrida" do Nordeste, onde, do cruzamento dos senhores de
engenhos com suas escravas, havia surgido uma sub-raça inferior, constituída de mulatos que
tendiam a desaparecer, pois enquanto híbridos, eram pouco prolíficos. Resta lembrar que
Alfredo Ellis Jr. foi autor de livros didáticos...

Por isso tudo, os livros didáticos, de acordo com a orientação dos currículos, dedicavam
significativo espaço aos primeiros habitantes, abordando o tema inspirados nas linhas das
publicações de Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. Os textos davam grande importância
às origens dos habitantes da América pré-colombiana, à distribuição dos grupos pelo Brasil e ao
seu estágio cultural no momento do encontro com os portugueses. Procurava-se valorizar a
produção indígena encontrada na pesquisa arqueológica, "que mais parecem produto da
indústria adiantadíssima de povos civilizados do que artefatos de bárbaros"17.

Ao outro elemento formador do brasileiro, dominado pelo colonizador, o negro, os livros


dedicavam pouco espaço como objeto de Etnografia/Antropologia. Ele sempre era tratado como
mercadoria, produtor de outras mercadorias. Enquanto ao índio se conferia o estatuto de
contribuição racial, os livros didáticos salientavam a importância do africano para a vida
econômica do país, mas procuravam mostrar que a negritude estava sendo diluída pela
miscigenação:

Em conseqüência da maior robustez física do elemento europeu, da imigração do


mesmo, da extinção do tráfico de escravos há quase um século e do efeito das leis
da hereditariedade no crescimento demográfico de nosso país, tem sido cada vez
maior o embranquecimento do nosso povo18.

O não reconhecimento do contingente negro na constituição física da população brasileira


levava a erros de informação quanto à composição dessa mesma população, que era apontada
pelos livros como predominantemente branca, tendo por base pesquisas realizadas pelo Museu
Nacional:

(...) segundo Roquette Pinto (...) a constituição antropológica do povo brasileiro era:

Brancos ...............51%

Mulatos ...............22%

Caboclos .............11%

Negros.................14%

Índios.....................2%.19

Ao buscar a unidade étnica, tratando como majoritariamente branco o povo brasileiro, ignorando
a presença dos africanos, presença esta que nos tornaria inferiores, de acordo com as teorias
racistas que se estenderam pelo mundo na primeira metade deste século, o ensino de História,
nos programas e nos textos didáticos, procurava satisfazer o pensamento de nossas elites e
contemplar o primeiro e mais importante dos elementos com os quais formaríamos a nossa
identidade: a formação do povo brasileiro. Nessa perspectiva, enfatizava-se, ainda, a influência
que os africanos e índios teriam exercido na nossa formação cultural, isto é, na língua, na
culinária e nas "superstições", como os livros chamavam as religiões de origem africana.

Os cultos de origem africana, tratados como superstição, constituíam um obstáculo para o


entendimento da unidade cultural, cujos pontos de apoio básico se concentravam na língua
portuguesa, falada em todo o território e na religião católica. Por isso todos os programas de
História do Brasil assinalavam a importância dos padres da Companhia de Jesus e de algumas
outras ordens religiosas católicas na colonização. O programa de 1931 trazia em seqüência dois
tópicos destinados a tais assuntos na sua listagem de conteúdo para a quarta série do curso
secundário: "A transmissão da cultura européia: início da literatura e da artes brasileiras. A
Igreja no Brasil: sua organização e influência; a visitação do Santo Ofício e a Inquisição"20. "Os
jesuítas e a catequese" era a sexta unidade do programa de História do Brasil para a 4ª série,
elaborado em 194021.

Os livros didáticos destacavam a importância da catequese, que dera aos índios, ao mesmo
tempo, o cristianismo e a civilização européia, ao alfabetizá-los na língua portuguesa. Pandiá
Calógeras em sua Formação Histórica do Brasil celebrava a "colaboração cordial do poder civil
com a Igreja"22, o que era visto também pelos livros didáticos como um fato altamente benéfico.
Considerava-se que se Cabral havia descoberto o Brasil, os jesuítas o haviam fundado, pois

(...) homens superiores, espartanos de fé e atenienses de cultura, exerceram


influência nos primórdios da civilização brasileira, como elemento moral e de
refreamento do espírito materializado do colono que via diante de si unicamente
seus interesses e seus apetites"23.

Mais ainda, os jesuítas teriam salvado a "civilização" ao conseguir, com seus aliados, rechaçar
os tamoios confederados e firmar a paz de Iperoig, evitando assim que os índios destruíssem
vilas portuguesas, já instaladas nas terras conquistadas.

Todos os movimentos históricos que implicaram na expansão da dominação colonial portuguesa


e na implantação de uma unidade cultural fundamentada na civilização européia eram
apresentados de uma forma altamente positiva pelos programas e textos didáticos, que deram
alto valor e grandiosidade à obra de bandeirantes que teriam estendido o território muito além da
linha de Tordesilhas. Com isso, teriam sido criadas as bases do sentimento nacional
fundamentado na integridade territorial, mantida após a Independência. Nesse aspecto, os
manuais demonstram até um certo ufanismo ao comparar o processo de Independência do
Brasil ao das Colônias Espanholas da América, que se fragmentaram em vários países. O
destaque dado à administração colonial portuguesa justificava-se porque tal sistema soubera
manter unida toda sua possessão, configurando a unidade do "território nacional".

Essa concepção pragmática da História como disciplina escolar, servia à formação do cidadão
ideal para o estado centralizado, que tinha como um dos seus objetivos neutralizar o poder das
oligarquias regionais, formando o sentimento nacional brasileiro. Sentimento este que teria como
fundamento a raça, a língua e a religião, e um território com uma única administração.
​ RESUMO EM TÓPICOS

​ Contexto Histórico e Educação Nacional:
● Desde o século XX, a construção da identidade nacional brasileira foi
uma preocupação presente na produção intelectual e política do país.
● Intelectuais e educadores, especialmente ligados aos órgãos
educacionais públicos, buscaram utilizar a História como ferramenta
para fortalecer ideias de identidade nacional.
​ Nacionalismo e Autoritarismo:
● O nacionalismo e o pensamento autoritário estavam intimamente
ligados no Brasil, com o liberalismo sendo visto como uma ideia
estrangeira e o Estado sendo responsabilizado pela formação da
nacionalidade e pela orientação das massas.
● Francisco Campos, Ministro da Educação durante o governo Vargas,
defendia a influência das ciências e das artes na transformação da
sociedade.
​ Papel da Educação na Formação Nacional:
● Os intelectuais acreditavam na liderança das elites na formação da
consciência nacional, priorizando a educação das camadas dirigentes.
● Os órgãos de instrução desempenharam um papel fundamental na
formação da consciência nacional, com a História sendo vista como a
disciplina central na formação dos cidadãos.
​ Reformas Educacionais e Controle Estatal:
● As reformas educacionais, como a de Francisco Campos em 1931,
visavam centralizar e uniformizar o ensino secundário, aumentando o
controle estatal sobre o currículo e os programas educacionais.
● Os programas de História elaborados pelo Ministério da Educação
refletiam as preocupações e ideologias do período, buscando
fortalecer a identidade nacional brasileira.
​ Abordagem da História nos Programas e Livros Didáticos:
● Os programas e os livros didáticos enfatizavam a formação do povo
brasileiro, a unidade territorial e administrativa do Brasil, assim como a
unidade cultural.
● Havia uma idealização da formação étnica brasileira, destacando o
papel do índio e do português na construção da identidade nacional,
enquanto a contribuição africana era minimizada.
● A religião católica e a colonização portuguesa eram apresentadas de
forma positiva, como elementos unificadores da sociedade brasileira.
● Os programas de História valorizavam os feitos dos bandeirantes e a
expansão territorial brasileira como fundamentais para a integridade
territorial do país.
​ Conclusão:
● O ensino de História durante a Era Vargas refletia a preocupação do
Estado em promover uma identidade nacional unificada,
fundamentada na história oficial e na valorização de elementos étnicos
e culturais específicos.

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