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RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento.

Campinas/SP:
Unicamp, 2007.
Explicação/Compreensão, p.193-246:
Estudante: Carlos Eduardo Figueredo de Quadros.

O texto analisado é parte do capítulo 2 do livro (“História/Epistemologia”),


mais precisamente na seção “Explicação/compreensão”, possui o objetivo de
discutir a função da “representação” em história e para isso, o autor faz uma
análise pormenorizada do conceito, inserindo-o em um contexto mais amplo de
formulação e utilização em todas as etapas da chamada “operação
historiográfica”, investigando desde a escola dos annales até outras experiências
de escrita e de análise historiográfica. Nas palavras do autor: “(...) a noção de
representação (...) atravessam essa obra de um lado a outro.” (p. 197).

Para o autor, ao longo da obra, a noção de “representação” aparece de


duas formas, a saber: “(...) na condição de objeto privilegiado da
explicação/compreensão, e no contexto da operação historiográfica.” (p. 197).
Assim, o autor delimita a sua abordagem e utilização para tal termo ao longo da
obra, o que facilita e ajuda a compreender melhor suas utilizações.

Para discorrer sobre o tema, o autor divide o capítulo em 5 seções: 1) A


promoção da história das mentalidades; 2) Sobre alguns mestres de rigor: Michel
Foucault, Michel de Certeau, Norbert Elias; 3) Variações de escalas; 4) Da ideia
de mentalidade à de representação; e 5) A dialética da representação. De todos
os capítulos, o “4” é o único que possui subdivisões (“Escala de eficácia ou de
coerção”; “Escala dos graus de legitimação”; e “Escala dos aspectos não-
quantitativos dos tempos sociais”).

A subseção 1 aborda, de maneira geral, a gênese do conceito de


representação, que tem sua origem na chamada “história das mentalidades” e
busca apresentar as razões pelas quais passou-se a preocupar e inserir as
mentalidades em história e indica que a utilização desse método de análise
provocou a: “(...) redistribuição dos valores de importância, dos graus de
pertinência, que afetam a posição dos fenômenos econômicos, sociais, políticos,
na escala de importância e, finalmente, na escala adotada pelo olhar histórico
em termos de macro- ou micro-história.” (p. 198) No capítulo também são
apresentados os três contextos em que a palavra “representação” será abordada
ao longo do livro: 1) “grande enigma da memória” (p. 199); 2) “no âmbito da teoria
da história, na condição de terceira fase da operação historiográfica” (p. 200); 3)
“a representação se propõe como objeto, como referente, de certo discurso
historiador.” (p. 200). Por fim, o autor vai fazer uma “linha do tempo” do conceito
e buscará tratar de suas origens ao dizer que a história das mentalidades:
“mentalidade reveste-se na obra dos fundadores de uma importância que só será
igualada na geração posterior, no período de articulação marcado por Ernest
Labrousse e, mais ainda, por Fcrnand Braudel.” (p. 200).

Na subseção 2, o autor vai trazer à discussão Michel Focault (arqueologia


do saber), Norbert Elias (ciência das formações sociais) e Michel de Certeau
(“outsider de dentro”) e apresentar as contribuições destes três pensadores para
a utilização da noção de representação em história.

Na seção 3, o autor vai trabalhar sobre a “escolha da escala adotada pelo


olhar historiador.” (p. 220) e apresentar que essa “(...) noção de escala é um
empréstimo da cartografia, da arquitetura e da óptica.” (p. 221) e que nos permite
analisar que diferentes escalas nos trazem diferentes visões sobre um
determinado acontecimento, pois “Ao mudar de escala, não vemos as mesmas
coisas maiores ou menores, (...) Vemos coisas diferentes.” (p. 222). Nessa
seção, o autor trabalha longamente com a noção de Micro-história proposta, por
exemplo, por Grinzburg1.

Na subseção 4, Ricoeur vai tentar abordar e exemplificar a substituição


da ideia de “mentalidades” pela de “representação”, que, em sua visão é mais
adequado e coerente e depois passará a explicar pormenorizadamente as
variações das escalas, começando pela “de eficácia ou de coerção”: “Ao mesmo
tempo vacilam todos os sistemas binários que opõem cultura erudita a cultura
popular, e todos os pares associados: força/ fraqueza, autoridade / resistência.
A que se opõem: circulação, negociação, apropriação. É toda a complexidade do
jogo social que se deixa apreender.” (p. 230); passando pela “dos graus de
legitimação”: “A noção de justificação acrescenta uma nova dimensão de

1 GINZBURG, Carlo, o queijo e os vermes: O cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido


pela Inquisição; tradução Maria Betânia Amoroso; tradução dos poemas Jose Paulo Pacs;
revisão técnica Hilario Franco Jr. - São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
inteligibilidade às de instituição e de norma; a discórdia, o conflito, a disputa, a
desavença constituem o contexto pertinente.” (p. 232); e chegando até “a dos
aspectos não-quantitativos dos tempos sociais:” “(...) é possível aplicar a noção
de escala e de variação de escalas a essas modalidades intensivas do tempo
histórico.” (p. 235)

Por fim, a subseção 5 aborda a dialética da representação, que “(...)


acrescenta uma nova dimensão aos fenómenos abordados acima em termos de
escalas de eficácia. É essa própria eficácia que se beneficia de um maior grau
de inteligibilidade aplicado à ideia da ausência da violência física, quando é ao
mesmo tempo significada e substituída pela violência simbólica.” (p. 242)

Toda a argumentação proposta pelo autor possibilita enriquecer e


subsidiar teoricamente a pesquisa a ser desenvolvida no ProfHistória, no sentido
de que nos ajuda a compreender o papel, o lugar e a importância da
representação em história, mas sobretudo, nos permite pensar e discorrer sobre
as diferentes escalas e seus usos para a produção do discurso histórico que será
empreendido ao longo da escrita da dissertação.

REFERÊNCIAS:

RICOEUR, Paul. Explicação/compreensão. In: RICOEUR, Paul. A memória, a


história, o esquecimento. Campinas/SP: Unicamp, 2007. (p. 193 – 246)

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