Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O filósofo irá dividir o capítulo que fala sobre a primeira etapa da operação
historiográfica em cinco partes: o espaço habitado; o tempo histórico; o
testemunho; o arquivo histórico e; a prova documental. De acordo com o autor,
essas cinco partes podem ser agrupadas em dois conjuntos, que são: as formas
; e os conteúdos ( o testemunho , o arquivo histórico e a prova documental).
A começar pelo tempo, a memória (tanto a individual como a coletiva)
consagra alguns locais como pontos de referência, de lembrança, logo a noção
de lugar necessita ser discutida de maneira que possa ser entendida de maneira
clara no processo de operação historiográfica. Nesse sentido, o autor recorre ás
reflexões engendradas no meio das discussões da arquitetura e, em especial,
na geografia, cujos reflexos serão sentidos nas abordagens dadas às paisagens
nos escritos dos historiadores dos Annales, tendo como seu principal
representante nesse quesito Fernand Braudel.
Antes de tudo, é necessário expor que o espaço envolve
indissociavelmente a presença do corpo, a corporeidade. Sendo assim, do lado
da arquitetura discute-se dois atos que são complementares: o ato de habitar e
o ato de construir. Dado essa necessidade de proteger os corpos, o humano
altera a paisagem e inscreve em sua superfície as construções que podem e
devem ser lidas como um livro aberto a ser lido/interpretado.
Pelo lado da abordagem do espaço, agora não mais na arquitetura e a
discussão entre espaço habitado e espaço geométrico, nas ciências humanas,
o filósofo destaca a importância da discussão do tópico na geografia e suas
consequências no pensar e no fazer histórico dos historiadores do século XX.
Do lado da geografia, as discussões giraram em torno das permanências
e mudanças das paisagens e as ações humanas que vieram a moldá-las. Essa
discussão de mudanças e permanências (em especial, esse último elemento)
será decisiva na reelaboração metodológica empreendida pelos Annales, dando
especial destaque à noção de longa duração que será amplamente trabalhada
nas obras de Braudel.
Referente ao tempo, Ricoeur irá fazer um levantamento do que se
pensava a respeito do tempo e baseará a sua reflexão no trabalho de Krystof
Pomian. De acordo com Pomian, podemos entender o tempo em quatro signos:
cronometria, cronologia, cronografia e cronosofia.
A cronometria e a cronologia são constituintes daquilo que podemos,
convencionalmente, chamar de tempo cronológico, sendo a cronometria
responsável pelos períodos de curta duração, enquanto a cronologia será aquela
que abordará os períodos de longa duração .
Os outros dois signos são problemáticos, pois envolvem a interpretação
dos fenômenos históricos, o que gerou e, ainda gera, bastante controvérsias. No
que tange a cronografia, essa tenta estabelecer na longa duração as eras que
serão estabelecidos de acordo com os critérios dados pelo seu intérprete. Já a
cronosofia irá para o lado de interpretar a racionalidade e intencionalidade da
história, tentando responder as perguntas sobre a razão da história e engendra
discussões se o tempo histórico é linear – a humanidade caminha em direção à
salvação pela fé (história sagrada), ou ao progresso (historicismo) ou à revolução
(marxismo).
Para Ricoeur, essas discussões dadas pelos entendimentos da
cronografia e da cronosofia serão incontornáveis pelo historiador, pois o seu
próprio ofício envolve a interpretação constante do tempo passado e de seus
vestígios para compor a sua escrita da história.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: