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DO ENSINO DE
GEOGRAFIA
Carlos Alberto
Löbler
Maria da Assunção
Simões
M593 Metodologia do ensino de geografia [recurso eletrônico] /
Organizadores, Carlos Alberto Löbler, Maria da Assunção
Simões Francisco. – Porto Alegre : SAGAH, 2016.
CDU 37.022.910
Introdução
A geografia pode ser definida como uma ciência social que estuda a
superfície terrestre e, portanto, suas características e fenômenos físi-
cos e humanos buscando entender a inter-relação entre o homem
e o espaço.
Neste texto, você vai estudar o conceito mais amplo de geografia,
no entanto, adequado às necessidades do docente de geografia no
ensino fundamental I.
Geografia: o que é?
Você já percebeu como é sempre difícil propor definições sobre conceitos?
Sobretudo sobre aqueles que advêm das Ciências Humanas, já que os especia-
listas e estudiosos nem sempre estão de acordo com o uso ou a aplicação de
um termo ou abordagem, não é?
Pesquisas em textos acadêmicos, didáticos ou mesmo uma rápida consulta
à internet apontam essa diferença de abordagem, pois ora a definição destaca
a geografia como uma ciência que estuda as características da Terra e ora
destaca as relações entre o homem e o meio (o espaço).
O importante geógrafo brasileiro Milton Santos afirma que uma ciência
“digna desse nome” tem que preocupar-se e cuidar do futuro, não apenas para
alguns, mas para todos (SANTOS, 2008). Dessa forma, a geografia assume
uma importância social, certo?
16 Metodologia do ensino de Geografia
sobre o mundo e de sua própria apropriação (ação de tornar próprio) por nós
(CORTELLA, 2011).
O resultado do trabalho é a cultura que pode ser compreendida como
o conjunto individual ou coletivo de técnicas, pensamentos, costumes, va-
lores que foram (e continuam sendo) produzidos pela espécie humana. Como
exemplo, temos a gastronomia, que é resultado do trabalho humano, mas que
é modificado em regiões ou tempos diferentes.
Geografia e espaço
A geografia utiliza o conceito de trabalho e cultura para refletir sobre como
os espaços naturais sofreram a intervenção humana e transformaram-se em
espaços geográficos.
Para aprender sobre a geografia e sua importância assista o vídeo “O que é geografia”.
Acesse: https://goo.gl/sUWsvd.
Geografia física
■■ Geomorfologia: abrange o estudo sobre o relevo da Terra.
■■ Climatologia: abrange o estudo sobre o clima e o tempo.
■■ Hidrologia ou Hidrografia: estudo sobre a distribuição e as pro-
priedades da água na atmosfera e na crosta terrestre.
■■ Oceanografia: estudo sobre as ondas, as marés, as correntes dos
oceanos e os fundos marinhos.
20 Metodologia do ensino de Geografia
Geografia humana
■■ Demografia: estuda a dinâmica populacional humana, como os
movimentos migratórios, etc.
■■ Geografia agrária: estuda a ocupação dos solos nas zonas rurais,
bem como as atividades econômicas e modos de vida rurais.
■■ Geografia econômica: analisa como as atividades econômicas
estão organizadas e distribuídas no mundo.
■■ Geografia urbana: analisa a ocupação do espaço nas cidades e os
resultados dessa ocupação.
HQ WALLBASE. River through a forest. HqWallbase, c2016. Disponível em: < https://
hqwallbase.site/98075-river-through-a-forest/>. Acesso em: 14 set. 2016.
MOREIRA, RUY. A Geografia serve para desvendar máscaras sociais. In: MOREIRA, Ruy.
Geografia, Teoria e Crítica. Petrópolis: Ed. Vozes, 1982.
STAFFA, M. Revitalização da região do São Vito deve ser concluída até 2016. [S.l.]: Sky
Scraper City, 2010. Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.
php?t=1374221>. Acesso em: 28 ago. 2016.
24 Metodologia do ensino de Geografia
Leituras recomendadas
CALLAI, H. C. Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino fun-
damental. Cadernos Cedes, São Paulo, v. 25, n. 66, p. 227-247, maio/ago. 2005. Disponí-
vel em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v25n66/a06v2566.pdf>. Acesso em: 28 ago.
2016.
KOZEL, S.; FILIZOLA, R. Didática de Geografia: memórias da terra: o espaço vivido. São
Paulo: FTD, 1996.
1) A natureza social do espaço geográfico decorre do simples dato de que os homens têm
fome, sede, frio, necessidades de ordem física(...). No entanto, diferente do animal, o homem
consegue os bens de que necessita intervindo na primeira natureza, transformando-a.
Transformando o meio natural, o homem transforma-se a si mesmo. (...) a obra de
transformação do meio é uma realização necessariamente dependente do trabalho social.
(MOREIRA, 2007 p.65). O conceito de trabalho utilizado no texto utilizado pode ser
encontrado em:
A) É uma atividade econômica e, normalmente, medida por meio de horas e de semanas que
resultarão em salário.
I – Para o autor o trabalho é uma atividade de cunho laboral e tem estreita relação com as
ações de empregabilidade;
III – é preciso compreender que o trabalho é a ação humana que liberta o homem da
dominação da natureza, tornando-o autônomo.
A) I, II, III e V
B) II, IV e V
C) III, IV e V
D) I, II, III, IV e V
E) II, III, IV e V
4) A geografia, para efeito de ensino escolar ou estudos, pode ser dividida em geografia física e
geografia humana e, dentro dessas categorias há outras divisões. Considerando a Geografia
Física, relacione as suas subdivisões aos estudos que realiza.
I – Geomorfologia
II – Climatologia
IV – Oceanografia
V – Biogeografia
( ) estuda a distribuição dos seres vivos sobre o planeta.
A) I, III, V, II e IV
D) V, IV, I, III e II
E) V, II, I, III e IV
5) A geografia, para fins científicos e educacionais, foi dividida em dois grandes ramos que se
inter-relacionam: Geografia Física e Geografia Humana. Em cada uma dessas grandes áreas
surgiram subdivisões como Geografia Agrária etc. Identifique a alternativa correta:
B) Geografia urbana: é uma subárea da geografia física e analisa a ocupação do espaço nas
cidades e os resultados dessa ocupação.
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Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino fundamental
of the world and life and of the space in which one lives. It thus
explores the role of geography at elementary school and the need
to start a cartographic alphabetization. Considering considers the
geographic subjects taught in the early school years as one of the
ways to contribute to such child alphabetization, it then discusses
the theoretical and methodological requirements of geography re-
lated to the teaching-learning process.
Key words: Geography. Teaching. Learning. Elementary School and
Space.
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nasce, os seus contatos com o mundo, seja por intermédio da mãe, seja
pelo esforço da própria criança, buscam a conquista de um espaço. Um
espaço que não é mais o ventre materno onde ela está protegida, mas um
espaço amplo, cheio de desafios e variados obstáculos, e que, para ser con-
quistado, precisa ser conhecido e compreendido. E isso a criança vai fazen-
do, superando os desafios e ampliando cada vez mais a sua visão linear do
mundo. Quer dizer, em termos absolutos, ela consegue ir avançando a sua
capacidade de reconhecimento e de percepção. Ao caminhar, correr, brin-
car, ela está interagindo com um espaço que é social, está ampliando o seu
mundo e reconhecendo a complexidade dele.
Ao chegar à escola, ela vai aprender a ler as palavras, mas qual o sig-
nificado destas, se não forem para compreender mais e melhor o próprio
mundo? A par do prazer de saber ler a palavra e saber escrevê-la, podemos
acrescentar o desafio de ter prazer em compreender o significado social da
palavra – o que significa ler para além da palavra em si, percebendo o con-
teúdo social que ela traz, e, mais ainda, aprender a produzir o próprio pen-
samento que será expresso por meio da escrita. E se, quando se lê a pala-
vra, lendo o mundo, está-se lendo o espaço, é possível produzir o próprio
pensamento, fazendo a representação do espaço em que se vive. Compre-
ender a escrita como o resultado do pensamento elaborado particularmen-
te por cada pessoa é diferente de simplesmente escrever copiando. E
aprender a representar o espaço é muito mais que simplesmente olhar um
mapa, uma planta cartográfica. Saber como fazer a representação gráfica
significa compreender que no percurso do processo da representação, ao se
fazerem escolhas, definem-se as distorções. As formas de projeção
cartográfica e o lugar de onde se olha o espaço para representar não são
neutros, nem aleatórios. Trazem consigo limitações e, muitas vezes, inte-
resses, que importa manter ou esconder.
O espaço não é neutro, e a noção de espaço que a criança desenvol-
ve não é um processo natural e aleatório. A noção de espaço é construída
socialmente e a criança vai ampliando e complexificando o seu espaço vivi-
do concretamente. A capacidade de percepção e a possibilidade de sua re-
presentação é um desafio que motiva a criança a desencadear a procura, a
aprender a ser curiosa, para entender o que acontece ao seu redor, e não
ser simplesmente espectadora da vida. “O exercício da curiosidade convo-
ca a imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de
comparar na busca da perfilização do objeto ou do achado de sua razão
de ser” (Freire, 2001, p. 98).
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Não se espera que uma criança de sete anos possa compreender toda a
complexidade das relações do mundo com o seu lugar de convívio e
vice-versa. No entanto, privá-las de estabelecer hipóteses, observar, des-
crever, representar e construir suas explicações é uma prática que não
condiz mais com o mundo atual e uma Educação voltada para a cida-
dania. (Straforini, 2001, p. 56-57)
O olhar espacial
Fazer a análise geográfica significa dar conta de estudar, analisar,
compreender o mundo com o olhar espacial. Esta é a nossa especificidade
– por intermédio do olhar espacial, procurar compreender o mundo da
vida, entender as dinâmicas sociais, como se dão as relações entre os ho-
mens e quais as limitações/condições/possibilidades econômicas e políticas
que interferem.
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Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino fundamental
A leitura da paisagem
São as paisagens que mostram, por meio de sua aparência, “a história
da população que ali vive, os recursos naturais de que dispõe e a forma como
se utiliza de tais recursos” (idem, ibid., p. 97). A paisagem “não é formada
apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.
(...) e a percepção é sempre um processo seletivo de apreensão” (Santos, 1988,
p. 62). Importa então considerar as características culturais dos povos e os
interesses envolvidos para a realização da leitura da paisagem. E esta será, por-
tanto, sempre a apreensão que o sujeito faz, e não a verdade absoluta, neutra.
Assim como a paisagem está cheia de historicidade, o sujeito que a lê tam-
bém tem o seu processo de seleção do que observa. São verdades construídas,
mas enraizadas nas histórias das pessoas, dos grupos que ali vivem.
Desse modo, fazer a leitura da paisagem pode ser uma forma interes-
sante de desvendar a história do espaço considerado, quer dizer, a história das
pessoas que ali vivem. O que a paisagem mostra é o resultado do que aconte-
ceu ali. A materialização do ocorrido transforma em visível, perceptível o acon-
tecido. A dinamicidade das relações sociais e das relações do Homem com a
Natureza, desencadeia um jogo de forças, cujos resultados são concretos e visí-
veis. Descrever e analisar estas paisagens supõe, portanto, buscar as explicações
que tal “retrato” nos permite. Os objetos, as construções, expressos nas ruas,
nos prédios, nas praças, nos monumentos, podem ser frios e objetivos, porém
a história deles é cheia de tensão, de sons, de luzes, de odores, e de sentimen-
tos. Portanto ler a paisagem exige critérios a serem considerados e seguidos.
Escala de análise
A escala de análise é um cuidado que requer toda a atenção. Partin-
do de que “É impossível esconder das crianças o mundo, quando as infor-
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O estudo do lugar
“Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aber-
to a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições;
um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de
ensinar e não a de transferir conhecimento” (Freire, 2001, p. 520). O
mundo, na Era da Informação, está totalmente globalizado. Mas essa
globalização, por meio das questões que são globais, se concretiza nos di-
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Os conceitos
Os conceitos são fundamentais para que se possam analisar os terri-
tórios em geral e os lugares específicos, e vão sendo construídos ao longo
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As habilidades
As habilidades devem ser desenvolvidas ao longo das atividades que
vão sendo realizadas. Algumas habilidades são gerais, que todo sujeito pre-
cisa desenvolver para viver e construir suas aprendizagens. Outras expres-
sam a especificidade de “ler o espaço”. Desenvolver essas habilidades é fun-
damental, pois, sem elas, torna-se difícil fazer abstrações. Elas são
desenvolvidas desde que a criança entra para o convívio escolar e, mesmo
assim, de um modo geral, os alunos apresentam grandes dificuldades para
dar conta delas. As hipóteses que explicam tais dificuldades variam, mas
parece que elas estão centradas no modo como se realizam as atividades
que permitiriam a sua exercitação durante a vida escolar, em especial nos
primeiros anos.
Assim como é importante ter claro quais os conceitos fundamentais
na geografia, é também necessário saber quais as habilidades básicas para a
análise geográfica. A respeito desse aspecto, deve-se considerar que existe
uma linguagem específica, que consideramos demandar uma alfabetização
cartográfica.
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A cultura
A cultura de cada povo, de cada sociedade apresenta suas marcas e
tem ligações com a possibilidade de os sujeitos concretos dessas sociedades
possuírem uma identidade, no sentido de pertencimento ao lugar. Uma
identidade que se dá entre os próprios homens e com o lugar – o territó-
rio em que estão. “A questão da identidade cultural, de que fazem parte a
dimensão individual e a de classe dos educandos cujo respeito é absoluta-
mente fundamental na prática educativa progressista, é problema que não
pode ser desprezado” (Freire, 2001, p. 46). Pensar o próprio espaço enca-
minha a exercitar a análise e a crítica constante sobre as formas de vida e as
condições que existem. E possibilita ao sujeito efetivamente se situar no
mundo.
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Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino fundamental
Referências bibliográficas
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Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>
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Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 66, p. 227-247, maio/ago. 2005 247
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G343 Geografia [recurso eletrônico] : práticas pedagógicas para o
ensino médio : volume 2 / Nelson Rego ... [et al.]. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : Penso, 2011.
CDU 37.016:911
Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052
8
Conheça e revele-se
estudando a cidade
experiências geopedagógicas
para pensar nossa ontologia
Nestor André Kaercher
sItuando o leItor
parte I
três depoimentos de docentes e um princípio:
tensionar razão e emoção
Oi, Super-Híper!
Ah, sentiu, é? Então lá vai. Já falei várias vezes e muitas pessoas concor-
dam comigo, ao menos em parte, que o professor Pavão (nome fictício) é
uma mistura de guri com homem, aluno e mestre, letrado e historiador.
Demonstra muita cultura e empatia com os alunos, gosta de deixar os alu-
nos à vontade, mas não demais, que estudar é coisa séria, requer atenção,
disciplina, organização, concentração e leitura. Uma bagunça organizada
é que é a mais legal! Porque a gurizada pensa que está brincando e está é
aprendendo, aquela “construção de conhecimento” que todo mundo fala
e escreve sobre o assunto, mas na prática não é brincadeira (de operacio-
nalizar), não! Mas o professor se diverte enquanto aprende e ensina junto
com os seus pupilos... O Pavão é um professor carismático, o que por si só
já é muito, pois a figura dele já atrai a atenção dos alunos, principalmente
das alunas – porque ele é bem gatinho também – e é de estímulo que to-
dos precisamos, alunos e professores!! Os tiques fazem parte do carisma:
aquele olhar pra cima, meio de lado (esquerdo ou direito?), como quem
quer lembrar de alguma coisa e tenta acessar a zona temporal da me-
mória. A cabeça balança suavemente, o tom da voz acompanha no ritmo
certo, sempre tendo o cuidado de valorizar o trabalho de cada um, já que
os olhares dos professores – imagino eu – devem ser daqueles olhares de
quem pensa: “O que é que esse professor pensa que eu faço a aula toda? Eu
dou aula 40h, 60h e ele vem me falar em “fazer a diferença”? Como? Com
essas turmas? Com esse salário? etc, etc, etc...” Mas, o professor Pavão não
desiste, quase joga tudo pra cima, mas aguenta firme. Reza 10 Pai Nossos,
10 Aves Marias e toca ficha. Torce pra (nome dela) dizer “a sua palavra”,
mas ela não diz... só escreve, a boba! Pra quem entende a vontade dele
de romper com a mesmice e pirar um pouco nas aulas, valorizando as
coisas simples e usando mais a criatividade e menos o relógio, o Pavão é
uma curtição! Fala a mesma língua dos professores-alunos e alguns ficam
em dúvida: será que ele “tá” falando sério ou “tá” brincando? Será que a
(nome da disciplina do professor Pavão) é tudo isso? Dá até vontade de
alguns experimentarem as suas sugestões!!! Isso é que é legal no Pavão e
ele nem sabe... Deixa uma pulga atrás da orelha de cada um, uma dúvida,
um desafio, uma provocação!!! E a literatura, então! O professor Pavão
junta a (nome da disciplina do professor Pavão) e a música, a literatura,
mostra que os casamentos entre as diferentes áreas de conhecimento, não
apenas são possíveis, quanto necessários e interessantes... Dá vontade de
experimentar mesmo... Enfim, além do Pavão ser de carne e osso, como
todo mundo, é inteligente o suficiente pra usar o palavreado intelectual
Geografia 129
Oi (aluna X)
A luz das tuas palavras varre pra longe as nuvens cinzas, a chuva e o frio
gelado ventoso lá de fora!
É maravilhoso te ler.
Todo pavão adora ouvir que sua cauda é bonita.
Eu, pavão que sou, adorei.
Adorei porque sei que é sincero. Com que transparência me pões a nu, me
vês de forma clara”.
tiro minhas aulas. É difícil por que antes preciso entender como eles pen-
sam e vivem, uma cultura totalmente diferente.
São crianças nada inocentes, que precisam, antes dos conteúdos, entender
suas vidas, ter esperança para quererem uma vida melhor.
Costumo refletir muito sobre meu trabalho, e vi que, enquanto eu ten-
tava mostrar para os alunos que a Terra girava, percebi que precisava sair
do meu mundinho e pensar no que eu estava fazendo. Qual era a impor-
tância deste meu trabalho, qual é a importância desta tal aula de geografia
– lembrei-me muito do meu professor Nestor -, o que isso iria mudar na
vida deste alunos?
Pois então, estava ensinando movimentos da Terra aos alunos, quando
percebi que um deles saiu porta afora. Este aluno que tanto incomodou
e me afrontou, que não queria fazer nada, nem copiar, nem estudar, nem
me ouvir, nem falar comigo, um “capeta” que só arrumava confusão e bri-
gas, me insultava. Ele saiu da sala chorando. percebi que havia muitas
vidas ali na sala de aula, e que “movimentos da Terra?” não eram nada
importante, se a vida de muitos era um tormento. Esse aluno, apelidado
de catinga (cheirava mal), havia saído surrado pelos colegas no pátio. Con-
versei com ele, que se recusava a entrar na sala de aula, se ele queria ir pra
casa. Ele ficou aos prantos, chorando, e dizia que não, ele não queria nada,
queria ficar sozinho num cantinho. Percebi que aquele aluno que tanto
me perturbava, revoltado, estava pedindo, na verdade socorro! Descobri,
por vizinhos e pela direção da escola, que aquela criança de 12 anos viu
seu pai bêbado matar sua mãe com sete facadas, e agora está fugitivo da
polícia. Esta criança vive um dia com umas pessoas, outro dia com outras
pessoas, passando fome, sem banho, às vezes, sem roupas, em casa de
pessoas muito pobres, sem carinho. Pensei realmente qual é a importância
da geografia na vida destes meus alunos, mas de qual geografia? Então, aí
vi que a geografia que preciso trabalhar em sala de aula é a geografia
da vida deles. Era isso.
Professor, desculpa, me empolguei escrevendo, mas são desabafos reflexi-
vos de uma saudosa aluna sua, hoje professora.
Um abraço (K. K. da R.)”
tudo, já que sabemos que valores, muitas vezes machistas e sexistas, entre
outros preconceitos, abundam nesse meio. Entender para questionar sem
tampouco ter a ilusão de que uma discussão desses temas e valores vai
mudar a cabeça deles.
Nós, professores, podemos pouco, com certeza. Mas esse pouco
não é nada desprezível. As sementes plantadas em discussões de sala
de aula podem gerar frutos bem depois da aula dada. A educação é
processo lento, permanente, e não raro temos pouca paciência. Queremos
mudanças para ontem.
c) Percebi que havia muitas vidas ali na sala de aula, diz a professora
K. É interessante confrontar o processo naturalmente homogenizante
da escola, da sala de aula (os alunos, quando muitos, vistos de longe,
“pelo alto”, parecem todos iguais, uma floresta compacta, homogênea,
“toda verde”). À medida que nos aproximamos deles, ouvimos suas falas,
ouvimos seus silêncios, olhamos para eles, percebendo, inclusive, o não
olhar deles. Podemos ver que a floresta é constituída de muitas plantas
distintas em tamanho, em cor e em tantos outros quesitos.
Creio ser plenamente possível conciliar temas tradicionais dos cur-
rículos de geografia com as questões cotidianas, existenciais da vida dos
alunos. Não há aqui uma dicotomia irreconciliável. Há uma possibilidade de
fecunda troca. Novamente esse diálogo entre professor e aluno, geografia
escolar e cotidianidade, vai requerer uma postura epistemológica aberta do
professor.
d) Ao mesmo tempo, diante desse círculo de horrores citados,
uma velha questão ressurge: Como a educação, a sala de aula carrega
pra dentro de seu cotidiano profissional problemas gestados fora do
espaço escolar. Problemas sociais, misérias de toda ordem, que não só
econômica, entram, sem nenhum convite, dentro de nossa sala. Vemos
que os problemas (um pai drogado, uma família ausente, por exemplo)
afetam muito o rendimento escolar, tanto no aspecto cognitivo como
no aspecto disciplinar dos alunos, mas nós, professores, temos limitada
interferência nesses aspectos.
Com isso, não quero eximir-me de tentar propor alternativas eficazes
de ação docente. Do contrário, diante de tais desafios e problemas, é
mister que busquemos alternativas, caso contrário, nosso cotidiano em
sala de aula fica muito pesado, impotente.
Neste sentido, na Parte II do texto, proponho algumas ações
didáticas que podem ser feitas como estímulo à produção pessoal dos
alunos.
Geografia 135
parte II
a geografia do custo zero (gcz) nos dai hoje:
a cidade como ponte e como parte de nós
Dicas:
a) Podemos fazer o mesmo com algum estado, país, continente, ou
sobre algum assunto novo.
136 Nelson Rego, Antonio Carlos Castrogiovanni e Nestor André Kaercher (orgs.)
Outra opção:
Defina (nome da cidade) em três palavras:
Alguns comentários
a) É muito interessante e produtivo deixar sempre uma linha “em
aberto”. Quando instigado a criar, diante de um “espaço em branco” (no
caso a letra “i”) muitos alunos têm “sacadas” muito criativas que abrem
janelas para discussões que o professor nem tinha se dado conta.
Deixem espaços para o aluno criar. Eles são muito criativos.
b) Qual o objetivo? Ouvir os alunos, estimular o diálogo, a troca de
ideias, tensionar o quão ideológico (“palpitismo”) é o ensino de geografia.
Cada um de nós pode ver o mesmo objeto de formas distintas, até anta-
gônicas; afinal, não vemos apenas com os olhos, mas com o cérebro, tão
cheio de memórias. E as memórias são interpretadas, teoricamente, de
forma pessoal, por cada um, de forma única. Se fosse tudo igual, os se-
res humanos estariam condenados a repetir o que seus antepassados
fizeram.
Geografia 137
Dicas:
Selecione os pontos de referência mais gerais, assim você terá uma
visão do conjunto. Detalhes, neste momento, atrapalham. Beleza aqui é
menos importante que clareza.
• Crie uma legenda usando símbolos. Evite escrever muito no ma-
pa. Escreva tudo no mesmo sentido, para evitar que o leitor vire
a folha de lado para ler.
• Coloque um título (o leitor precisa saber o que ele está lendo)
• Tente respeitar proporções (escala).
• As ruas percorridas não precisam imitar o real, isto é, fazer curvas.
Podem ser representadas em linha reta.
Finalizo com dois autores que mostram quão borrados são os limites
entre ficção e realidade. Sempre há, nessas duas formas de ler o mundo
(ciência ou ficção), o espaço para a interpretação, para a criação, para a
fantasia do leitor. O que nos joga em um terreno nem sempre firme, afinal,
gostaríamos, tantas vezes, de termos certezas. Borges, em A biblioteca de
Babel, joga-nos na cara a fragilidade das leituras e das interpretações
“corretas”. Joga-nos em uma quimera, em uma ilusão com sua literatura,
que tanto parece absurda, mas que, ao fim e ao cabo, fala de nosso mundo
e de nossas questões cotidianas (Borges, 2007):
Também sabemos de outra superstição daquele tempo: a do Homem do
Livro. Em alguma prateleira de algum hexágono (pensaram os homens)
deve existir um livro que seja a chave e o compêndio perfeito de todos os
demais: algum bibliotecário o percorreu e é análogo a um deus. Na lingua-
Geografia 143
gem desta zona persistem ainda vestígios do culto desse funcionário re-
moto. Muitos peregrinaram em busca d’Ele. Durante um século cansaram
de buscar em vão nas mais diversas direções. Como localizar o venerado
hexágono secreto que o hospedava?
referêncIas
A) O autor cita Hércules, por ser um trabalho hercúleo, gigantesco, Atlas, por exigir muito estudo
e Sísifo por estar carregando pedras montanha acima.
B) O autor cita Hércules, por ser um trabalho hercúleo, gigantesco, Atlas, por causa da sensação
de carregar o mundo nas costas e Sísifo, por estar carregando pedras montanha acima.
C) O autor cita Hércules, por ser um trabalho bonito e grandioso, Atlas, por causa da sensação
de carregar o mundo nas costas e Sísifo, por estar carregando pedras montanha acima.
D) O autor cita Hércules, por ser um trabalho hercúleo, gigantesco, Atlas, por causa da sensação
de carregar o mundo nas costas e Sísifo, por estar carregando pedras para a construção de
uma base sólida e duradoura.
E) O autor cita Hércules, por ser um trabalho hercúleo, gigantesco, Thor, por exigir muito estudo
e Sísifo, por estar carregando pedras montanha acima.
2) Aprendi agora, só agora, que minha aula toda, não está em livros, mas na vida dos alunos. A
vida deles é (deveria ser) o conteúdo, é dela que tiro minhas aulas." (REGO;
CASTROGIOVANNI; KAERCHER, 2011, p. 131-132) Levando em consideração este trecho
de uma carta escrita por uma professora da rede pública, marque a alternativa CORRETA:
B) Os professores tendem a ter discursos muito inovadores, mas, práticas limitadas. Isso porque
se permitem errar, o que demonstra falta de planejamento.
C) O professor é um artista da mobilidade que deve possuir um conhecimento ilimitado. Por isso,
um professor nunca deve parar de estudar.
D) O professor deve ser um mestre, e o mestre é aquele que vive o que ensina.
E) Os alunos são muito difíceis e resistentes à escola. Para educá-los, é preciso entendê-los com
suas características homogêneas.
3) "Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas,
com pedrinhas de brilhante, para o meu, para o meu amor passar." A cantiga popular "Se
essa rua fosse minha" mostra que o morador não considera a rua como sua. Provavelmente,
ele não se apropria inteiramente dela como deveria. Refletindo sobre esta temática,
selecione a alternativa CORRETA:
A) Le Corbusier era um grande defensor das ruas como elemento fundamental para a
manutenção da vida humana na cidade.
B) Lefebvre entendia a rua como um local de passagem e de circulação e que, por isso, deveria
ter acessibilidade.
D) Le Corbusier lutava por uma cidade para as pessoas, de modo que elas pudessem se apropriar
de todos os espaços, diferente do que diz a música.
4) (UFRN, 1999)
B) A figura 2 representa uma nova concepção de hierarquia urbana, em que a cidade local pode
se relacionar diretamente com a metrópole nacional, uma vez que os fluxos já não são mais
escalonados.
5) A região do Vale do Paraíba, entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, caracteriza-se
por ser uma área continuamente urbanizada. A explicação para tal fenômeno é que nessa
região ocorre o fenômeno geográfico conhecido por:
A) Metropolização.
B) Conurbação.
C) Rede urbana.
D) Terciarização espacial.
E) Urbanização.
A CIDADE E O URBANO NO ENSINO DE GEOGRAFIA: A QUESTÃO
IMAGÉTICA EM LIVROS DIDÁTICOS
RESUMO:
O mundo contemporâneo é marcado pela urbanização, com a maioria da população vivendo em
cidades. No Brasil, 84% da população é considerada urbana. Nesse contexto, é preciso atentar
para o fato de que se o espaço muda nas suas diferentes escalas e na articulação dessas, a
Geografia enquanto ciência e enquanto disciplina também precisa acompanhar esse movimento.
Assim, de que forma a Geografia Escolar aborda essas questões? Como a cidade e o urbano
aparecem nos livros didáticos? Este trabalho teve por objetivos discutir os efeitos práticos no
ensino da Geografia dos conceitos de cidade e urbano, inclusive adotados pelo Estado brasileiro;
verificar a questão imagética desses conteúdos em livros didáticos; e pensar em estratégias de
transposição didática desse tema, a fim de superar a visão geralmente limitada à forma/aparência
em livros didáticos, que não apresentam os conteúdo e a vida que anima esses espaços.
Palavras-chave: Urbano; Ensino de Geografia; Livro didático.
Tradicionais”
4383
1 INTRODUÇÃO
4385
arcaico ou moderno de acordo com a inserção ou não de máquinas e de conhecimento científico
no processo produtivo.
No Brasil, rural e urbano são definidos apenas segundo critério político-administrativo,
sem que haja referências às funções peculiares que diferenciam esses espaços (MARQUES,
2002). Além disso, há uma confusão entre os conceitos de município e cidade, sendo que este
segundo refere-se ao núcleo urbano, onde se encontra a sede municipal.
É importante destacar que no caso brasileiro a postura de tratar os espaços rurais como
áreas atrasadas incutia a ideia de que o passado agrário e exportado do período colonial e da
primeira república deveriam ser deixados para trás. Assim, a partir dos anos 1940 os espaços
rurais passaram a ser vistos como áreas residuais dos espaços urbanos. O campo é definido por
oposição e por exclusão às sedes dos municípios, tratadas como áreas urbanas por serem o local
da sede governamental. Todo espaço fora dos limites do perímetro urbano passa a receber
políticas públicas destinadas aos espaços rurais. Ora, essa leitura instituída ao longo da Era
Vargas desconhece claramente que, apesar da urbanização do Brasil ter sido intensa a partir dos
anos 1930, a maioria dos municípios brasileiros possui população inferior à 50 mil habitantes, ou
seja, são municípios onde o critério populacional para separar a urbanidade das ruralidades pode
não ser o ideal.
Além dessa classificação conceitual, é importante lembrar que a estratégia de
desenvolvimento adotada pelos governos brasileiros foi de valorização dos espaços urbanos, em
especial das áreas metropolitanas, em detrimento dos espaços rurais, resultando na concentração
de investimentos para a expansão das atividades industriais e terciárias, deixando outras regiões
do país com baixos investimentos.
Os efeitos dessa conceituação pautada em distinções e exclusões e de ações práticas de
manutenção de investimentos em áreas urbanas refletiram na aplicação de determinadas políticas
públicas ou mesmo na construção de direitos trabalhistas, de posse de terra, ou de melhorias da
qualidade de vida. O exemplo da função social da propriedade adotado por documentos oficiais
brasileiros pode servir para expressar as visões distintas estabelecidas entre o rural e o urbano.
Nos espaços urbanos, a função social foi ligada à moradia e ao bem-estar, enquanto que a função
social da propriedade dos espaços rurais esteve vinculada unicamente à produção de produtos
agrícolas. Apenas recentemente, devido a pressões de movimentos sociais, a legislação brasileira
reconheceu o rural como local de vida, dando os primeiros passos na superação de uma
conceituação dicotômica das ruralidades e das urbanidades.
4386
Essas definições impõem, portanto, significativas diferenças espaciais no território
brasileiro em função das formas de classificação desses espaços e subsomem uma necessidade de
repensar os espaços rurais e os espaços urbanos com metodologias e conceitos não limitados às
diferenças entre essas áreas, mas que considerem suas complementaridades e seus
relacionamentos. Com essas perspectivas, os espaços rurais não devem ser pensados como meros
espaços urbanos residuais.
Dois resultados práticos dessas concepções são a construção de políticas públicas que
desconsideram a heterogeneidade do território nacional e a produção de dados estatísticos
orientados a partir das urbanidades, criando a visão de que a elevada concentração populacional
bastava para classificar uma área como urbana e a oposição como uma área rural.
Tanto os espaços rurais quanto os espaços urbanos podem ser vistos como necessários à
definição de regiões, suas delimitações e a criação de tipologias que fundamentem políticas
públicas. Não criando distinções entre um ou outro, mas produzindo políticas territoriais que
compreendam as continuidades existentes entre esses espaços. Assim, pode-se refletir sobre os
diferentes modos de vida e modos espaciais existentes no país, já que a observação mostra
claramente que há muito mais do que metrópoles, cidades médias, pequenas cidades e áreas
rurais.
Para alguns, a industrialização da agricultura elimina a separação entre cidade e campo,
entre urbano e rural, sem que haja uma eliminação de suas diferenças (ELIAS, 2006;
MARQUES, 2002). Esses espaços constituem-se numa unidade dialética, portanto contraditória.
Segundo Elias (2006), surgem assim novas relações entre cidade e campo, que
repercutem na expansão da urbanização de cidades médias e locais, na medida em que são nas
cidades que ocorrem a regulação e a normatização das transformações no campo moderno.
Portanto, a reestruturação produtiva agrícola corresponde não apenas a uma transformação da
produção, mas, sobretudo, do espaço, com impactos territoriais e sociais. Os circuitos espaciais
de produção dão-se em múltiplas escalas, ligando a produção em si, fornecedores de máquinas e
insumos, prestadores de serviços, agroindústrias, distribuição, pesquisa, marketing,
comercialização. Surgem as cidades do campo, que fornecem produtos, serviços e mão de obra
(SANTOS, 2009), e as regiões produtivas agrícolas, que “são os novos arranjos territoriais
produtivos totalmente associados ao agronegócio globalizado [...] compostas tanto pelos espaços
agrícolas como pelos urbanos escolhidos para receber os mais sólidos investimentos privados
4387
[...]” (ELIAS, 2011). Estas últimas, longe da solidariedade orgânica que regia a definição do
fenômeno regional, são espaços do fazer, baseado em interesses exógenos (ELIAS, 2011).
Vale ressaltar que essas novas formas de (re)produção espacial são reflexo de um novo
contexto socioeconômico global e não se limitam aos espaços metropolitanos, chegando as
cidades pequenas e médias e, por meio destas, a suas regiões e ao espaço rural. É necessário
considerar que trazem mudanças significativas não apenas de ordem físicas, mas sociais,
econômicas, políticas e culturais, que devem ser analisadas e refletidas, inclusive pela Geografia
Escolar.
4390
Figura 2: Mudanças na Av. Paulista ao longo do tempo – Coleção Expedições Geográficas
4391
Figura 4: Xangai – Coleção Vereda Digital
4392
Diante do exposto, em que medida o ensino da Geografia tem contribuído que a
construção da cidadania, para a conquista do direito de viver a cidade em seu conjunto de
lugares? Como articular educação e cidade a fim de fazer valer o papel da Geografia Escolar de
situar os sujeitos no mundo em permanente mudança, compreendendo, interpretando, para a
práxis, fundamental para o exercício pleno da cidadania?
A cidade de fato pode ser pensada como uma aglomeração de pessoas e objetos,
configurando a paisagem urbana. Portanto, a cidade é também uma forma, é paisagem. Mas não
só isso. É preciso ir além. Na cidade as pessoas produzem sua vida cotidiana, portanto, também é
possível relacionar este conceito ao de lugar, da familiaridade, da afetividade, identidade e da
construção da diferença. Ou seja, começar pelo espaço próximo do aluno faz toda diferença.
Assim, a questão escalar é fundamental para o ensino da cidade, para superarmos a perspectiva
da forma/aparência e chegarmos ao conteúdo/essência, considerando a manifestação do cotidiano
dos alunos. A depender de onde vive, esse aluno tem percepções e leituras distintas do que é a
cidade, do que é o trabalho nela. O conceito de rede urbana pode ser um caminho a ser seguido
para iniciar (CAVALCANTI, 2006).
A articulação com os conceitos de território, região, sociedade e natureza também é
possível e necessária. A questão da apropriação e do uso pode ser compreendida através do
entendimento das territorialidades. A rede urbana, ou seja, a ligação entre cidades com papéis e
funções diferentes e campo, pode ser pensada através do conceito de região e regionalização. E
como todo espaço geográfico, produz-se na relação da sociedade com a natureza. Desse modo, a
Geografia Urbana pode contribuir na construção de um aparato conceitual capaz de possibilitar a
apreensão da realidade espacial.
Cidade e educação são dois elementos profundamente imbricados. O meio urbano não é
apenas um agente de formação, mas um entorno educativo por excelência, que poderá dinamizar
a prática pedagógica e tornar a Geografia mais significativa, por meio do entendimento do
espaço de vida do alu. O ensino através de projetos pedagógicos interdisciplinares pode ser uma
contribuição metodológica para a compreensão da cidade. A cidade pode ser tida como
instrumento e como conteúdo de aprendizagem.
Para Bernet (1993), há três dimensões da relação entre educação e meio urbano, que
foram separadas pela autora por uma convenção metodológica e expositiva, mas estão mescladas
e devem ser compreendidas em suas interrelações: a cidade como contexto de educação
(aprender na cidade); a cidade como meio de educação (aprender da cidade); e a cidade como
4393
conteúdo educativo (aprender a cidade). Nessa perspectiva, o caráter pedagógico da cidade está
em reconhecê-la como meio em que a escola está inserida.
Na primeira dimensão, aprender na cidade, o meio urbano é um contexto de
acontecimentos educativos. A cidade contem uma educação múltipla e diversa, positiva e
negativa, distribuída por seus diferentes espaços, em termos de qualidade, quantidade de escolas,
outras instituições e meios que geram uma educação formal (BERNET, 1993). Para a segunda
dimensão, aprender da cidade, a cidade é uma fonte de formação e socialização, entendida como
sendo capaz de produzir, ela mesma, efeitos educacionais. A cidade é um agente informal de
educação, através da densidade de encontros humanos e produtos culturais. No entanto, como
toda educação informal, não é seletiva e pode gerar algumas ambivalências (BERNET, 1993). E,
por fim, na terceira dimensão, aprender a cidade, a cidade é objeto e conteúdo de educação, a fim
de superar os limites da superficialidade e parcialidade que a dimensão anterior pode apresentar.
Neste caso, deve haver uma mediação na construção desse conhecimento por parte das
instituições escolares e outros agentes educativos (BERNET, 1993).
A cidade é educadora e estuda-la passa a ser um ato educativo e método de investigação
de sua estruturação (CASTELLAR, 2006). Nessa concepção, a cidade e a cultura urbana são
tema de projeto educativo, o que requer compreender sua função, gênese e processo histórico na
qual foi produzida, a fim de superar a superficialidade conceitual e descontruir a ideia de
disciplina mnemônica e desprezível (CASTELLAR, 2006). Além disso, deve-se considerar sua
dimensão temporal, revelada na coexistência nas formas de passado e presente. Para Castellar
(2006), compreender as mudanças e permanências favorece o entendimento das transformações
das cidades, relacionando natureza e sociedade. Nessa perspectiva, a cidade passa a ser
compreendida como um sistema dinâmico, que é materialização cotidiana da produção e
reprodução de culturas diferentes.
É necessário ainda buscar o contraditório na relação cidade-campo, para além da questão
dualista, bem como revelar as condições de trabalho, as relações de propriedade existente nesses
espaços (CAVALCANTI, 2006) e as funções sociais da propriedade.
É preciso ainda criar espaços que favoreçam os encontros com a comunidade, buscando
estabelecer a relação dos sujeitos com seu espaço de vivência. Nesse sentido, estudo de campo
ou estudo do meio revela-se como bom instrumento de ensino-aprendizagem, na medida em que
desperta o interesse do aluno para a realidade conhecida, concreta e próxima. Ele favorece a
relação entre a teoria e a prática.
4394
De acordo com Pontuschka et. al. (2007), o estudo do meio busca revelar a complexidade
do espaço, dinâmico e em constante movimento, cuja a totalidade não pode ser revelada no
âmbito disciplinar. Uma das etapas mais importantes do estudo do meio ou de campo é o
trabalho de campo, que já permite um novo olhar do aluno sobre a realidade, com a utilização
dos diferentes sentidos. É no trabalho de campo que os estudantes terão contato com o espaço
geográfico, com o seu objeto de estudo, onde coletarão informações importantes para
desenvolverem operações mentais na elaboração de conceitos geográficos.
De acordo com Bernet (1993), aprender a cidade requer compreender que esta não é um
objeto estático, mas um sistema dinâmico e evolutivo ao longo do tempo, sendo necessário
descobrir sua origem por meio dos elementos e signos que que evocam seu passado e ajudam a
explicar seu presente.
Aprender a cidade deverá significar também aprender a lê-la de modo crítico, tomando
consciência de suas deficiências e excessos, das suas disfuncionalidades e desigualdades, bem
como do propósito e despropósitos de seus gestores, promovendo uma atitude participativa, já
que a cidade não é objeto externo ao sujeito aprendiz, mas espaço de sua vivência e construção
(BERNET, 1993).
Assim, será possível perceber a cidade como um conjunto de lugares, como formas,
conteúdos e funções diversas, em que o cotidiano dá-se de modo diferente, a presença de
equipamentos urbanos localiza-se de forma desigual, de acordo com uma lógica, na maioria das
vezes, a do capital.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6 REFERÊNCIAS
ADAS, M.; ADAS, S. Expedições geográficas. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2015.
EDITORA MODERNA (org.). Araribá Plus: Geografia. 5. ed. São Paulo: Moderna, 2018.
MAIA, D. S.. Cidade, relações cidade-campo e metropolização. In: BRASIL. Geografia: ensino
fundamental. Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. 252 p.
MARQUES, M. I. M. O conceito de espaço rural em questão. Revista Terra Livre. n. 19. São
Paulo: AGB, 2002. p. 95-112.
OLIC, N. B.; SILVA, A. C.; LOZANO, R. Vereda digital Geografia. São Paulo: Moderna,
2012.
OLIVA, J. T.. Ensino de geografia: um retardo desnecessário. . In: CARLOS, A. F. A.. (org.). A
geografia na sala de aula. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2002.
4397
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Exercícios
1) (UFG, 2008). Para atingir o objetivo de ler e interpretar mapas, o leitor necessita identificar e
analisar os elementos de representação cartográfica. Dentre esses, a escala cumpre um
papel importante, visto que é a partir dela que se tem:
B) A projeção de Mercator conserva as áreas dos continentes e, por este motivo, é chamada de
eurocêntrica.
D) A projeção de Peters é a mais adequada para a representação dos países do Terceiro Mundo,
pois mantém as formas em proporção correta.
3) (UFJF, 2006). Leia atentamente o texto: "Os mapas da Terra-Média, incluídos em 'O Senhor
dos Anéis', mostravam uma flecha apontando o norte e uma barra de escala. Isso significa
que a distância e a direção eram consideradas exatas - algo impossível no mapeamento de
um mundo redondo em um pedaço plano de papel." FONSTAD, Karen Wynn. "O Atlas da
Terra-Média. Um guia autêntico e atualizado para a geografia de O Senhor dos Anéis, O
Hobbit e O Silmarillion", de J. R. Tolkien. São Paulo: Martins Fontes, 2004. Sempre existirão
distorções nos mapas porque:
D) Os mapas sempre são elaborados a partir do ponto de vista de quem está na superfície
terrestre, e não no espaço.
E) É impossível fazer um mapa em duas dimensões que seja uma representação de uma
estrutura de três dimensões.
A) O erro está no fato de ele ser apresentado de modo invertido, pois a Antártida está colocada
ao norte e a Europa e a Ásia ao sul da Terra, fato que invalida a projeção de Peters.
B) Nenhum dado está correto, pois, com a projeção de Peters, a Europa aparece
proporcionalmente menor do que realmente é em relação aos demais continentes.
C) A forma do traçado dos continentes está mantida, mas o erro está no fato de o mapa ser
apresentado de modo invertido, resultado da projeção de Peters.
E) Todos os dados são fiéis à realidade: a proporção entre as áreas, as formas dos continentes e
as distâncias entre todos os pontos da superfície terrestre.
METODOLOGIA
DE ENSINO
DE GEOGRAFIA
Metodologia de
ensino: geografia
e o uso de mídias
Marcelo da Silva Gigliotti
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Direito do indivíduo e dever do Estado, a educação deve promover o desenvolvi-
mento das pessoas para que elas exerçam plenamente sua cidadania, aprimorem
suas habilidades de reflexão e abstração e estejam qualificadas para o mundo do
trabalho. Para tanto, é necessário que as escolas respeitem os valores culturais e
privilegiem ações integradoras que possibilitem ao cidadão conhecer e reconhecer
a realidade em que ele está inserido.
Uma vez que essa realidade ocorre em um lugar, onde se dão as vivências e
as experiências do indivíduo, a compreensão dela passa necessariamente pela
discussão de métodos e conceitos geográficos. Assim, é fundamental que o ensino
de geografia promova uma alfabetização espacial com a qual os alunos possam
abstrair a realidade a partir do conhecimento do espaço e suas representações, o
que lhes possibilitará não apenas entender a realidade, mas também se identificar
com esse lugar.
2 Metodologia de ensino: geografia e o uso de mídias
Tecnologias de
Gerações Exemplos
comunicação
Quadro 2. Ensino de geografia nos anos iniciais: unidades temáticas, objetivos e habilidades
1º ano Formas de representação e Pontos de referência (EF01GE08) Criar mapas mentais e desenhos com
pensamento espacial base em itinerários, contos literários, histórias
inventadas e brincadeiras.
(EF01GE09) Elaborar e utilizar mapas simples
para localizar elementos do local de vivência,
considerando referenciais espaciais (frente e
atrás, esquerda e direita, em cima e embaixo,
dentro e fora) e tendo o corpo como referência.
2º ano Localização, orientação e Representações cartográficas (EF02GE08) Identificar e elaborar diferentes formas
representação espacial de representação (desenhos, mapas mentais,
maquetes) para representar componentes da
paisagem dos lugares de vivência.
(EF02GE09) Identificar objetos e lugares de vivência
(escola e moradia) em imagens aéreas e mapas
Metodologia de ensino: geografia e o uso de mídias
(Continua)
(Continuação)
4º ano Formas de representação e Elementos constitutivos dos (EF04GE10) Comparar tipos variados de mapas,
pensamento espacial mapas identificando suas características, elaboradores,
finalidades, diferenças e semelhanças.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular. Brasília: MEC, 2017.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 9 set. 2022.
CALLAI, H. C. Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino fun-
damental. Caderno CEDES, v. 25, n. 66, p. 227-247, 2005.
CALLAI, H. C. O estudo do lugar e a pesquisa como princípio da aprendizagem. Espaços
da Escola, v. 12, n. 47, p. 11-14, 2003.
CASTILHO, D.; PACHECO, R. G.; BARRETO, M. B. A rede telegráfica em Goiás: origem,
controle e sentido territorial. Revista Franco-Brasileira de Geografia, n. 48, 2020. Dispo-
nível em: https://journals.openedition.org/confins/33812#text. Acesso em: 9 set. 2022.
COSTA, F. C. Detritos espaciais em órbita terrestre baixa: mecanismos regulatórios e
sustentabilidade das atividades satelitais. 2021. Tese (Doutorado em Direito Ambiental
Internacional) — Programa de Pós-Graduação em Direito Ambiental Internacional,
Universidade Católica de Santos, Santos, 2021.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. LANDSAT: Land Remote Sensing
Satellite. Campias: Embrapa Territorial, 2020. Disponível em: https://www.embrapa.
br/satelites-de-monitoramento/missoes/landsat. Acesso em: 9 set. 2022.
FRIMAN. Stereoskop. Philadelphia: Wikipedia, 2007. Disponível em: https://pt.wikipedia.
org/wiki/Ficheiro:Stereoskop.jpg. Acesso em: 9 set. 2022.
14 Metodologia de ensino: geografia e o uso de mídias
Leituras recomendadas
A MULHER da casa abandonada. [Locução de]: Chico Felitti. São Paulo: Folha de S. Paulo,
2022. Podcast. Disponível em: https://open.spotify.com/show/0xyzsMcSzudBIen2Ki2dqV.
Acesso em: 9 set. 2022.
FASSEIRA, M. Y. A. Cartografia escolar na educação infantil: descobrindo o mundo à sua
volta. 2016. Dissertação (Mestrado em Geografia) — Instituto de Geociências e Ciências
Exatas, Universidade Estadual Paulista Júnior de Mesquita Filho, Rio Claro, 2016.
SEEMANN, J. Linhas imaginárias na cartografia: a invenção do primeiro meridiano.
Geograficidade, v. 3, p. 31-44, 2013. Disponível em: https://periodicos.uff.br/geografi-
cidade/article/view/12872. Acesso em: 9 set. 2022.
( ) A comunicação feita pelos telefones fixos não foi alterada, apesar de serem mais
utilizados os celulares hoje em dia.
( ) Mesmo com o uso cada vez mais intenso dos smartphones, a TV ainda é o aparelho mais
usado entre as pessoas para se conectarem com o mundo da informação.
A) F, V, V, V.
B) V, V, F, F.
C) F, V, F, V.
D) F, V, V, F.
E) V, F, F, V.
A) A internet foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com a finalidade de
promover o processo de globalização entre as nações.
B) Os Estados Unidos desenvolveram a internet a partir do modelo soviético de comunicação, o
que possibilitou grandes avanços ao país no início dos anos 70.
C) A comunicação entre computadores foi criada para difusão de informações para fins militares
e, de forma restrita, às universidades.
D) Os primeiros telefones celulares eram pequenos e leves e, por isso, não tinham capacidade de
comunicação eficiente, somente sendo aperfeiçoados depois dos anos 80.
3) A tecnologia usada para a comunicação nem sempre foi da forma como estamos habituados
no século XXI. Para se comunicar, os homens utilizaram-se de diferentes tecnologias ao
longo da história. Analise as assertivas a seguir:
I – Alexander Graham Bell criou o telefone ainda no século XIX e essa tecnologia já era
muito empregada na Europa antes de chegar ao Brasil no início do século XX.
II – Os telefones fixos foram amplamente difundidos no Brasil e, logo no início, foram
instalados nas cidades interioranas, facilitando a interligação entre elas e as capitais.
III – Os celulares foram tornando-se cada vez mais populares, mas, no início, eram aparelhos
muito pesados devido às baterias feitas de cádmio e chumbo.
IV – Com o desenvolvimento tecnológico, os celulares tornaram-se cada vez mais leves, mais
baratos e com utilidades que vão além da simples comunicação de voz.
A) I, III e IV.
B) I, II e IV.
D) III e IV.
4) Na ____________________, os países iniciaram uma corrida pelo poder que tinha, entre outros,
o domínio da__________________, que, mesmo com a finalidade_________________, acabou
promovendo o desenvolvimento da__________________.
Assinale a alternativa que completa, corretamente, as lacunas.
Uma professora de geografia resolveu levar seus alunos a conhecerem melhor a cidade em
que moram, tendo como objetivo primordial ensiná-los a buscar na tecnologia uma maneira
de estudar o espaço de forma dinâmica e viva, a exemplo do espaço cotidiano. Para isso, ela
estabeleceu alguns critérios que evidenciassem os aspectos naturais do espaço e solicitou
que elaborassem uma pesquisa usando a internet e apresentassem o trabalho de forma
inovadora, usando recursos tecnológicos. Ao final, os grupos de alunos apresentaram os
seguintes trabalhos:
III – O Grupo III elaborou uma apresentação com cartazes, reproduzindo belas imagens da
cidade retiradas do álbum da história da região, com fotos tiradas de voo panorâmico e
mostrando as áreas rural e urbana, de modo que se pode observar como era o relevo no
início e como é atualmente.
B) Todos os trabalhos atenderam aos critérios apresentados pela professora, ou seja, partiram
de pesquisa na internet, utilizaram-se de recursos tecnológicos e abordaram os aspectos
naturais da cidade em que moram, mesmo que cada um tenha apresentado de uma maneira
específica ou com uma abordagem diferente.
D) É importante que uma aula possibilite aos alunos a liberdade de pesquisar por diferentes
meios, pois a tecnologia é apenas meio e não modifica o conteúdo ou o modo como nos
relacionamos com ele. Assim, os grupos I e III buscaram trazer aspectos importantes que a
professora negligenciou.
E) A professora ofereceu aos alunos critérios inadequados e não foi clara em seus objetivos, o
que levou os alunos a produzirem diferentes trabalhos. Dessa forma, conclui-se que a
tecnologia e a internet não possibilitam aos alunos aprendizagens significativas. Por isso, uma
aula expositiva é necessária sempre.
METODOLOGIA
DO ENSINO DE
GEOGRAFIA
Carlos Alberto
Löbler
Maria da Assunção
Simões
O objeto do estudo da
geografia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Identificar o que é espaço geográfico.
Distinguir as categorias de região e território.
Relacionar as categorias estudadas aos Parâmetros Curriculares
Nacionais.
Introdução
O ensino de geografia nas séries iniciais do ensino fundamental tem
como um de seus principais objetivos alfabetizar geograficamente
e cartograficamente as crianças, ou seja, possibilitar que elas “leiam” o
mundo que as cerca e reconheçam as possibilidades de (re)construí-lo.
A geografia ensinada durante o ensino fundamental deve priorizar
o estudo do espaço geográfico, do lugar, da paisagem, da re-
gião e do território, que são considerados categorias ou conceitos
centrais para a ciência geográfica.
Neste texto, você vai perceber que a compreensão de cada uma
dessas categorias é tarefa essencial para os professores que atuam
nas séries iniciais e, é também, a via de possibilidade que permitirá a
aplicação de atividades e de estratégias capazes de desenvolver nas
crianças esse sentido de pertencimento e responsabilidade sobre o
mundo.
Espaço geográfico
Conhecer e compreender precisamente cada espaço geográfico é tarefa es-
sencial para os professores que atuam nas séries iniciais e é, também, o que
permitirá a aplicação de atividades e estratégias capazes de desenvolver nas
crianças esse sentido de pertencimento e responsabilidade sobre o mundo.
26 Metodologia do ensino de Geografia
Lugar
Certamente você já notou expressões como “esse é o meu lar” ou “lá na minha
terra, hoje é feriado”. Essas expressões demonstram que as pessoas não são
alheias aos seus espaços de convivência cotidiana e que desenvolvem afetivi-
dade e identidade com eles.
Não ocupamos toda a extensão do espaço geográfico, mas em nossas ta-
refas e vivências diárias ocupamos espaços com os quais desenvolvemos vín-
culos afetivos, construímos os valores que irão fundamentar nossa vida. A
casa, a escola, o local de trabalho e os templos religiosos exprimem bem a
ideia de lugar. Mas a cidade e o país também podem ser considerados lugares,
pois, da mesma forma, desenvolvemos laços identitários. É comum ouvir
pessoas que residem fora do Brasil afirmarem “meu lugar é no Brasil”, por
exemplo. Assim, embora o conceito de lugar esteja relacionado à proximidade
geográfica, escala local, também pode-se usar o conceito nas escalas regio-
nais, nacionais ou globais.
Paisagem
O trabalho com o conceito de paisagem será realizado durante todo o ensino
fundamental I e deve desenvolver no aluno a capacidade de observação, des-
crição e análise e, sobretudo, a compreensão e o entendimento de quais fatos
e motivos produziram a paisagem vista. Isso significa que você deve trabalhar
com o tema de forma a possibilitar que a criança reflita sobre onde, como, por
quê, por quem e para quem certa paisagem existe.
Santos (2008, p. 40) define paisagem como:
Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança. Esta pode
ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abar-
ca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores,
movimentos, odores, sons, etc. [...] A paisagem é um conjunto de
formas heterogêneas, de idades diferentes, pedaços de tempos
28 Metodologia do ensino de Geografia
Paisagens naturais
São compostas apenas por elementos da natureza que sofreram pouca ou ne-
nhuma intervenção humana, como uma floresta ainda intocada ou uma ge-
leira.
Paisagens culturais
São aquelas compostas por elementos construídos pelo homem ou que so-
freram transformação por meio do trabalho humano. Cidades, parques e áreas
de cultivo são exemplos de paisagens culturais.
O objeto do estudo da geografia 29
Para conhecer mais sobre as categorias lugar e paisagem, o texto Aprendendo a ler
o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino fundamental, da professora Helena
Copetti Callai (2005), é direcionado para pedagogos que ensinam geografia nas séries
iniciais do ensino fundamental. É possível acessá-lo em https://goo.gl/5Z04y7.
Para as categorias de análise do espaço geográfico, assista a aula disponível em
https://goo.gl/44s5Kz.
Conteúdos de geografia no ensino fundamental: https://goo.gl/IT1xMD.
Espaço, lugar, região, paisagem, território: https://goo.gl/pl2OAD.
A região e o território
As categorias região e território também são conteúdos do ensino funda-
mental I.
Região
É uma parte do espaço geográfico que foi agrupada por possuir caracterís-
ticas semelhantes. Os critérios de agrupamento podem ser naturais (como o
clima, a vegetação, o relevo) ou socioculturais (como a religião, o idioma
lin-guístico, as atividades econômicas, etc.).
A categoria região será mais profundamente trabalhada a partir do 5ª ano,
com o estudo das regiões brasileiras e suas características físicas de clima,
relevo, vegetação, bem como a organização social do espaço e aspectos
cul-turais.
O objeto do estudo da geografia 31
Território
O conceito de território relaciona-se com o exercício do poder, da dominação,
da existência de limites ou fronteiras e da presença de conflitos. Assim, a
categoria território pode ser definida como a porção do espaço geográfico
que está sob a posse de um grupo de pessoas, organização ou instituição. O
território também pode ser compreendido como a base de um Estado.
A categoria território é mais explorada a partir do 4º ano do ensino fun-
damental, quando são estudados temas como o município para, a partir deste,
discutir sua organização política, cidadania, impostos, atividades econô-
micas, meios de comunicação e de transporte, carência de infraestruturas,
entre outras.
O ensino sobre a paisagem vai além da simples descrição! Utilize fotografias antigas e
atuais sobre o bairro e proponhas às crianças refletirem sobre o que mudou ou perma-
neceu na paisagem. Questione-as sobre as razões da mudança.
CALLAI, H. C. Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino fun-
damental. Cadernos Cedes, São Paulo, v. 25, n. 66, p. 227-247, maio/ago. 2005. Disponí-
vel em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v25n66/a06v2566.pdf>. Acesso em: 28 ago.
2016.
Leituras recomendadas
CAVALCANTI, L. S. Geografia, escola e construção de conhecimentos. 5. ed. São Paulo: Pa-
pirus, 2003.
KOZEL, S.; FILIZOLA, R. Didática de geografia: memórias da terra: o espaço vivido. São
Paulo: FTD, 1996.
A) O ensino sobre paisagem nos anos iniciais do ensino fundamental I deve enfatizar
exclusivamente a observação e a descrição. A análise sobre os elementos e a historicidade
que a compõe só deverá ser estudada a partir do 8o ano.
B) A paisagem é uma categoria de análise do espaço que tem a intenção de apresentar imagens
ou "o que a visão alcança" e, é portanto, exclusivamente visual.
D) A paisagem é estática e não sofre mudanças e, dessa forma, não revela as permanências e as
mudanças do local.
E) A paisagem assim como a região são categorias que expressam relações de poder e de
conflito.
A) A Região.
B) O Lugar.
C) A Paisagem.
D) O Território.
E) O Espaço Geográfico.
3) Desde a antiguidade o ser humano tem necessidade de exercer o controle sobre as parcelas
do espaço em que se encontram estabelecidos criando formas de gestão, estabelecendo
limites e fronteiras. O texto acima se refere:
A) Ao Espaço Geográfico.
B) A Região.
C) Ao Lugar.
D) A Paisagem.
E) Ao Território.
4) É uma parte do espaço geográfico que foi agrupada por possuir características semelhantes.
Os critérios de agrupamento podem ser naturais como o clima, a vegetação, o relevo ou
socioculturais como a religião, o idioma linguístico, as atividades econômicas etc. O texto
acima se refere:
A) Ao Território.
B) A Região.
C) Ao Espaço Geográfico.
D) Ao Lugar.
E) A Paisagem.
Carlos Alberto
Löbler
Maria da Assunção
Simões
M593 Metodologia do ensino de geografia [recurso eletrônico] /
Organizadores, Carlos Alberto Löbler, Maria da Assunção
Simões Francisco. – Porto Alegre : SAGAH, 2016.
CDU 37.022.910
Introdução
Relevo é o conjunto das diferentes formas existentes na superfície ter-
restre, como, por exemplo, montanhas, planaltos e depressões, e ele
é o resultado da ação de agentes endógenos (internos) ou exógenos
(externos). Neste texto, você vai conhecer as principais formas de re-
levo e identificar os seus agentes formadores.
sofre transformações que são causadas por forças que atuam na superfície
terrestre, como a erosão e a incidência de água e, por isso, são chamadas de
externas.
Quer saber mais? Então continue lendo!
Figura 5. Vulcanismo.
Fonte: UOL (c2016b).
Intemperismo Erosão
Júlia leciona para uma turma do 4º ano e está explicando sobre a formação das mon-
tanhas e a importância dos agentes endógenos para a constituição do relevo quando
é interrompida por um aluno que afirma:
— Professora, eu vi na internet que também existem montanhas no mar! É verdade?
Na apostila utilizada por Júlia e pelas crianças não há nenhuma informação sobre
esse fato, e a professora, mesmo sem ter certeza, responde:
— É claro que não! Só existem montanhas na superfície da Terra, onde vivemos.
Os alunos aceitaram a resposta e a aula transcorreu tranquila.
68 Metodologia do ensino de Geografia
Formas de relevo
As principais formas do relevo terrestre são montanhas, planaltos, planícies
e depressões.
Montanhas
São as formas de relevo com altitude acima de 300 metros que resultam dos
movimentos tectônicos. Recebe o nome de cordilheira ou cadeia um conjunto
de montanhas, sendo a cordilheira dos Andes, na América do Sul, e a do Hi-
malaia, na Ásia, as mais conhecidas.
Planaltos
Forma de relevo caracterizada por altitude mais elevada. São locais de for-
mação geológica mais antiga, e, por isso, apresentam terrenos mais aciden-
tados, onde predomina o processo de erosão. Têm diferentes composições
rochosas e podem ser formados por serras, chapadas e morros.
70 Metodologia do ensino de Geografia
Planícies
Apresentam superfície relativamente plana e com pouca ou nenhuma variação
de altitude. Nas planícies, há o predomínio do processo de deposição de sedi-
mentos ou sedimentação.
Depressões
As depressões são caracterizadas pelo rebaixamento repentino do relevo, ou
seja, correspondem a uma área com altitude mais baixa do que a dos terrenos
ao seu redor. As depressões são classificadas em dois tipos: depressão relativa
(que apresenta altitude mais baixa que as áreas ao redor, mas que está acima
do nível do mar) e absoluta (está abaixo no nível do mar).
As atuais práticas docentes em geografia utilizam vários recursos didáticos, como ma-
quetes, fotos extraídas por satélites e navegação em sites que contenham imagens em
3 dimensões. Assim, os alunos podem identificar melhor a forma e o relevo terrestre.
A turma está animada para os conteúdos sobre vulcanismo e abalos sísmicos. São as-
suntos que as crianças já conheceram por meio de filmes ou noticiários da televisão e
que levantam muitas curiosidades e perguntas por parte dos alunos.
E, para incrementar os estudos, você pede para os alunos pesquisarem sobre as es-
calas de Richter e Mercalli, pois são importantes referências para medir a magnitude ou
intensidade de um terremoto.
As crianças devem saber o que são e para que servem as escalas e, também, como
elas funcionam. Depois, devem identificar os mais intensos abalos sísmicos já ocorridos
desde o século XX.
Assim, os alunos descobrem que ambas as escalas são utilizadas para medir a intensi-
dade de abalos sísmicos, mas a de Richter mede a força de destruição de um terremoto
pela energia liberada pelo abalo, e a de Mercalli mede a intensidade dos terremotos
pelos seus efeitos em construções e objetos.
Por fim, a turma elabora um gráfico com as informações sobre os 10 maiores terre-
motos medidos pela escala Richter, refletindo sobre como o estudo geográfico pode
prevenir que os terremotos causem tanta tragédia e sobre atitudes solidárias em mo-
mentos difíceis.
Conteúdos geográficos: relevo 73
TODO ESTUDO. Placas tectônicas. [S.l.]: Contteudo Media Group, c2015-2016. Disponível
em: <http://www.todoestudo.com.br/geografia/placas-tectonicas>. Acesso em: 16 set.
2016.
UOL. Alunos online. São Paulo: UOL, c2016a. Disponível em: <alunosonline.uol.com.br>.
Acesso em: 15 set. 2016.
UOL. Escola kids. São Paulo: UOL, c2016b. Disponível em: <Escolakids.uol.com.br/vulcao.
htm>. Acesso em: 15 set. 2016.
VOGES, Magnun. Ilustrações do relevo: Editora Moderna. [S.l.]: Fórmula Geo, 2012. Dispo-
nível em: <http://formulageo.blogspot.com.br/2012/08/ilustracoes-do-relevo-editora-
-moderna.html>. Acesso em: 15 set. 2016.
Leituras recomendadas
ADAS, Melhem. Geografia: noções básicas de geografia. São Paulo: Moderna, 2010. v. 1.
CAVALCANTI, Lana de Souza. Temas da geografia na escola básica. São Paulo: Papirus,
2013.
FOLLMANN, Fernanda Maria et al. A maquete como recurso para o ensino de geografia.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CARTOGRAFIA, 26., 2014, Gramado. Anais... Rio de Janei-
ro: Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia,
SILVA, Izildo Carlos Alves da. Arquivos de geografia. [S.l.: s.n.], 2013. Disponível em: <http://
arquivosdegeografia.blogspot.com.br/>. Acesso em: 15 set. 2016.
Exercícios
A) Tectonismo e intemperismo.
C) Erosão e vulcanismo.
2) Forma de relevo que é resultante das atividades tectônicas. Possui grande elevação e
altitude a partir de 300m. Essas características pertencem a:
A) Depressão.
B) Planalto.
C) Planície.
D) Montanha.
E) Vulcanismo.
A) Planície.
B) Planalto.
C) Intemperismo.
D) Vulcanismo.
E) Placas tectônicas.
4) São formas de relevo de altitude mais baixa do que a dos terrenos ao seu redor e encontram-
se acima do nível do mar. Essas características pertencem a:
A) Planaltos.
B) Planícies.
C) Depressões absolutas.
D) Montanhas.
E) Depressões relativas.
A) Mapas.
B) Plantas.
C) Imagens.
D) As maquetes.
E) Gráfico.
GEOGRAFIA
NELSON REGO
ANTONIO CARLOS CASTROGIOVANNI
NESTOR ANDRÉ KAERCHER
ORGANIZADORES
R343g Rego, Nelson
Geografia [recurso eletrônico] / Nelson Rego, Antonio
Carlos Castrogiogiovanni, Nestor André Kaercher – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2007.
CDU 91
deu para se reinventar na profissão, “raspar a tinta” com que nos pintaram para
pensar nossa existência e refazer outras pinturas. A docência implica autoria, e
ela requer sentimentos, emoções; é preciso “desencaixotar” emoções, ser – o
que não é nada fácil – “eu mesmo”. Implica também um ato de cidadania: dizer
sua palavra. Fernando Pessoa é genial ao falar do “corredor” que há entre
nossas ideias e as palavras que as expressam. Desafios epistemológicos: justi-
ficar racionalmente nossa prática, ultrapassar a razão. Desafios ontológicos:
dizer implica dizer o que penso e o que sou. São desafios que exigem que eu
me desembrulhe. Tudo é tão difícil quanto inevitável: “Sempre que olho para
as coisas e penso no que os homens pensam delas” (Pessoa, 1992, p.108).
Olhar para as coisas pode nos remeter às paisagens que vimos e que
vivemos com nossos sentidos. Remete à fisicidade, à geograficidade da exis-
tência: as coisas e as pessoas ocupam espaço, e isso influi sobremaneira na
nossa vida. Basta que um motorista ignore o poste a sua frente para perceber-
mos quão espacial e geográfica é nossa existência. Mais até: essa característi-
ca nos constitui. O espaço onde nascemos pode condicionar forte e diferente-
mente a nossa vida. Mesmo sem ser determinista, não se podem desprezar as
diferenças entre as marcas que um holandês e um afegão apresentam pelo
simples fato de terem nascido em lugares diferentes.
Martins (2004, p.21-22) me auxilia: a geografia implica
Peço aos alunos que, a partir de uma música de sua livre escolha, façam
uma montagem, uma colagem ou um desenho que tenha relação com a letra.
Parece simples, mas não é. Procuro direcionar a busca para músicas que falem
da natureza ou de temáticas sociais. Corre-se o risco de sair muita coisa desco-
nexa, mas é preciso ter paciência. Se alguns fizerem a tarefa de forma que se
possa socializar a produção, a reflexão já será satisfatória. Não há necessidade
de que todos tenham grandes produções, mas inegavelmente, ao pedir outras
formas de expressão que não a tradicional escrita, damos chance para o
surgimento de “novos” talentos dentro da sala.
No dia da entrega do trabalho, retiro os alunos da sala. Levo-os ao pátio
e faço com que se revezem na apresentação dos trabalhos. Isso é fundamental
para que eles se conheçam melhor e estabeleçam afinidades. Depois, escolho
aleatoriamente alguém para apresentar seu trabalho. Quantos apresentam?
Não há número ideal, deve ser conforme o envolvimento deles. Uma coisa é
certa: não há motivo para todos apresentarem. Fica enfadonho, repetitivo,
demorado.
Podem surgir boas discussões, mas nem sempre “dentro da matéria”. Não
faz mal. Nem sempre o conteúdo é dado linear e expositivamente. Prefiro a
interação menos convencional com a turma à repetição da aula monologada.
A aula expositiva é um instrumento plenamente válido para o trabalho docen-
te, desde que não seja o único.
O objetivo desse trabalho é conhecer melhor os alunos e fazer relações
entre diferentes tópicos geográficos. Por meio de suas apresentações, percebe-
mos as leituras de mundo que eles fazem, inclusive no que diz respeito à
intolerância (racismo, machismo, preconceitos vários), ou, o que é comum, o
simples desconhecimento de certos assuntos. Fica claro que eles têm muito
em comum, inclusive no que diz respeito aos seus sonhos, medos e aspirações.
O trabalho com imagens em geografia é tão importante quanto o traba-
lho com mapas, e ambos, geralmente, são pouco usados. Desde fotografias
que mostram paisagens, que não sofreram ação de seres humanos, até as que
representam obras feitas por eles – como prédios, plantações, fábricas, fave-
18 Rego, Castrogiovanni, Kaercher & cols.
las, meios de transporte, máquinas –, todas podem ser interpretadas pela geo-
grafia. Podemos ver um objeto se transformar com o passar do tempo. Um
carro ou um computador, por exemplo, não mudam apenas na forma, mas
também na velocidade ou capacidade que atingem. Isso muda o entorno: são
necessárias estradas cada vez maiores para chegarmos mais rápido. Podemos
comparar, por outro lado, um mesmo objeto em diferentes espaços. Será que
crianças do Brasil, do Japão, da Nigéria e do Irã brincam com os mesmos
objetos? Nem todos os porto-alegrenses sentam nas mesmas cadeiras. Em um
barraco, a cadeira pode ser um caixote; em um palácio, um móvel suntuoso.
Todos temos necessidades básicas muito semelhantes, mas a forma como as
satisfazemos podem ser muito diversas. Ontem e hoje, aqui e acolá são pares
indissociáveis da geografia.
Todas essas reflexões podem ser feitas usando a farta e gratuita munição
das imagens, seja das revistas, dos jornais ou dos calendários. Se a isso acres-
centarmos o desafio do trabalho com a música* que os alunos escutam e das
leituras que eles fazem, melhor.
*
Trabalhar com trechos das músicas que eles ouvem é uma possibilidade. Tudo depende
do planejamento e de um certo grau de riscos que queremos ou devemos correr.
**
Impossível não relembrar as constantes discussões entre nós professores: os alunos po-
dem ou não usar boné? Um colega disse perspicazmente: “Não me importa o que eles têm
em cima da cabeça, e sim o que eles têm dentro da cabeça: suas ideias!”.
Geografia 19
Quase não ouço referências aos países do chamado “terceiro mundo ou
subdesenvolvidos”. E, quando eles apareciam, via de regra era algo negativo.
Percebemos aqui a importância da mídia na construção dessas visões e o papel
da geografia para repensá-las. A ligação com a geografia da percepção (como
vemos o que vemos?) é bastante rica.
Uma outra tarefa com o mapa-múndi é a seguinte: forneço para os alu-
nos uma folha (representada a seguir) com três colunas, cada uma delas com
uma lista de países. Procuro selecionar os maiores, os mais populosos, os mais
conhecidos. Posteriormente, divido a turma em três grupos, uma para cada
coluna. Um critério aleatório fácil de distribuição é pelo número da chamada.
Primeiros 10 serão o grupo A, do 11 ao 20 serão o grupo B, etc. Não deixo
formar “panelas”, é importante misturá-los. Não precisa coincidir o número
de pessoas com o número de países.
Após a definição dos grupos, pode-se começar a brincadeira. Colocados
em filas (A, B e C), de acordo com as colunas, cada aluno terá que localizar um
país da lista no mapa-múndi. O mapa pode ficar a uns 20 metros deles para
que precisem dar um pequeno pique e para que não possam passar “cola” para
o colega. O professor fica ao lado do mapa verificando se, de fato, o aluno
apontou corretamente o país. A brincadeira dura até que o último país seja
localizado. Vence o grupo que chegar ao último país de sua lista mais
rapidamente.
O resultado é um caos! Como todos os grupos querem “ganhar”, eles se
mostram muito interessados. Por haver países não tão conhecidos e muitos
alunos que não conhecem nada do mapa, surgem situações bem engraçadas.
Basta um não saber um país que tranca toda a coluna, enquanto as outras
avançam.
Sugiro repetir a atividade, trocando as colunas, a fim de que todos pas-
sem por A, B e C.
Depois disso, com os alunos ainda cansados, fazemos um círculo e peço,
aleatoriamente, para que alguns deles localizem novamente alguns dos países
e que falem o que sabem sobre ele. Aqui, claro, “trancava o disco” – em época
de CDs essa expressão está se tornando anacrônica –, pois eles geralmente
pouco sabem de outros países. Se não sabem nada, pode-se pedir para, por
exemplo, falarem algo pessoal (que tipo de música gostam, tipo de lazer prefe-
rido, etc.). Se insisto em ouvi-los, não é à toa. Quando falam, vou mapeando-
-os, percebendo suas potencialidades, vendo suas lacunas. Tenho orientação para
planejar a continuidade de meu trabalho com eles. E, claro, podemos continuar
estudando a localização e algumas informações sobre os países do mundo. Des-
sa forma, surgem pretextos para que falemos de assuntos atuais na mídia.
A lista dos países é a que segue:
20 Rego, Castrogiovanni, Kaercher & cols.
A B C
1 Uruguai Paraguai Argentina
2 Chile Equador Bolívia
3 Peru Colômbia Venezuela
4 Guiana Suriname Guiana Francesa
5 Canadá México Estados Unidos
6 Panamá Nicarágua Honduras
7 Jamaica Cuba Haiti
8 Japão China Índia
9 Irã Arábia Saudita Turquia
10 Vietnã Iraque Rússia
11 Nepal Indonésia Filipinas
12 Líbia Egito Argélia
13 Angola África do Sul Madagascar
14 Marrocos Etiópia Zaire
15 Nigéria Namíbia Quênia
16 Portugal Espanha França
17 Grécia Itália Inglaterra
18 Alemanha Suécia Polônia
19 Ucrânia Suíça Holanda
20 Austrália Nova Zelândia Papua Nova Guiné
Após a atividade, passo uma tarefa de casa para toda turma, com as
seguintes questões:
1. Localize algum país que você precisou achar. Fale algo sobre ele. Se
não souber nada, elabore alguma pergunta para o professor.
2. Fale uma dificuldade que você tem com o mapa-múndi (ou com ou-
tro mapa qualquer).
3. Você saberia localizar algum país que está sendo notícia na mídia
atualmente? Qual?
Essa atividade foi feita para o curso de Pedagogia (5o semestre). Desdo-
bra-se em duas.
Inverno no RS Verão no RS
O
Alimentos (4 exemplos)
L
Bebidas (3 exemplos)
E
Roupas e/ou acessórios Luvas Biquíni
D
Calçados
Indústrias/produtos “em alta” Aquecedores Cervejarias
O
Agricultura/frutas típicas
Tipos de lazer mais comuns
M
Locais de lazer mais comuns
Destinos turísticos mais comuns Gramado Litoral
Doenças comuns
Crescimento das plantas (grama, p. ex.)
Humor/“astral”, sexo
Disposição para acordar e para trabalhar
Observações:
O
fábrica no Brasil)
L
1 Automóveis (5) Volkswagen (Alemanha)
2 Caminhões (2)
E
3 Ônibus (2)
4 Tratores (2)
5 Aviões
D
6 Petrolíferas (4) Shell (Anglo-holandesa)
7 Refrigerante (2)
8 Computadores (2)
O
9 Pneus (3)
10 Motos (2)
11 Filme fotográfico (2)
12 Aparelhos (televisão, som) (6)
M
13 Lâmpadas (3)
14 Remédios (4)
15 Material esportivo (2)
16 Supermercados (2)
17 Produtos de higiene (2)
18 Produtos de limpeza (2)
19 (crie um exemplo)
Feita a lista, peço que os alunos elaborem, por escrito, duas observações
sobre o assunto. Depois, discutimos no grupo.
Alguns aspectos se destacam, como a forte presença de empresas mul-
tinacionais na nossa economia. No geral, elas atuam em setores que requerem
uma maior tecnologia e/ou um maior capital. A partir dessas informações,
podem-se discutir as relações internacionais, a divisão de trabalho ou o poder
da tecnologia e do conhecimento como propulsores de uma maior autonomia
das nações. Em tempo: é importante evitar o velho ranço dogmático das leitu-
ras simplificadas do tipo “multinacionais são exploradoras” ou “os países são
desenvolvidos porque são inteligentes e trabalhadores”.
2. Faça um quadro com produtos (entre três e cinco) que você tenha nas
partes da casa listadas a seguir. Podem ser móveis, remédios, eletrodo-
Geografia 23
mésticos, livros, alimentos, etc. Faça individualmente em casa e anote no
caderno. Traga para próxima aula.
Matéria-prima
Parte da casa Produto Local de fabricação principal
Escritório Disquete Canadá Plástico
A partir dos quadros dos alunos – não esqueça de socializar entre eles as
produções –, podemos discutir a industrialização, o consumo, a propaganda, a
importância das redes de transporte, a globalização/internacionalização da
produção (mas não do consumo), a relação de uso e de destruição da nature-
za. Pode-se também usar o mapa e abordar os assuntos que os alunos trazem.
O
Renda até 1 SM Renda superior a 20 SMs
L
Onde e como é a moradia. Como é a
casa (número de cômodos, os móveis)
E
e o bairro (equipamentos).
Que produtos há na geladeira
O que tem na despensa
D
Meios de transporte
Local das compras (alimentos, móveis,
etc.). Marcas consumidas.
O
Onde é o lazer
Tipos de lazer
Se doente, onde busca socorro
Doenças mais comuns
M
Como é a escola (equipamentos,
estrutura, prédios)
Um medo
Um sonho
Crie alguma diferença que você
julga importante
24 Rego, Castrogiovanni, Kaercher & cols.
Comentários:
Preencha:
O
1. Nome completo: ___________________________________________
L
2. Significado do primeiro nome: _______________________________
E
3. Pessoa que escolheu o nome: ________________________________
D
4. Local de nascimento: _______________________________________
O
5. Data de nascimento: ________________________________________
6. Número de irmãos: _________________________________________
M
7. Você é o (primeiro, segundo, último, único) –––––––––– filho
8. Pai:
a) Nome completo: _________________________________________
b) Local de nascimento: _____________________________________
c) Idade que tinha quando você nasceu: ______________________
Geografia 25
d) Número de irmãos: ______________________________________
e) Idade: __________________________________________________
9. Mãe:
LO
a) Nome completo: _________________________________________
b) Local de nascimento: _____________________________________
c) Idade que tinha quando você nasceu: ______________________
d) Número de irmãos: ______________________________________
e) Idade: __________________________________________________
10. Avô paterno: origem étnica, local de nascimento
e número de irmãos: ________________________________________
11. Avó paterna: origem étnica, local de nascimento
e número de irmãos: ________________________________________
12. Avô materno: origem étnica, local de nascimento
e número de irmãos: ________________________________________
DE
13.
14.
15.
16.
Avó materna: origem étnica, local de nascimento
e número de irmãos: ________________________________________
Prato favorito: _____________________________________________
Lazer favorito: _____________________________________________
Duas pessoas que você admira (sem ser familiar):
Pessoa: ____________________________________________________
Motivo: ___________________________________________________
Pessoa: ____________________________________________________
Motivo: ___________________________________________________
17. Grupo musical/som preferido: _______________________________
MO
18. Livro preferido (e que indicaria): _____________________________
19. Esporte que pratica: ________________________________________
20. Número de filhos que tem: __________________________________
21. Quantos filhos quer ter: _____________________________________
Motivo: ___________________________________________________
22. Um sonho/desejo: __________________________________________
23. Um medo grande: __________________________________________
24. Ensino fundamental: ( ) escola pública ( ) escola privada
25. Uma lembrança inesquecível do ensino fundamental
26. Ensino Médio: ( ) escola pública ( ) escola privada
27. Uma lembrança inesquecível do ensino médio:
28. Um lugar lindo que você conhece e recomendaria:
Motivo: ___________________________________________________
29. Curso que quer fazer: _______________________________________
Motivo: ___________________________________________________
26 Rego, Castrogiovanni, Kaercher & cols.
O
a) No RS: _________________________________________________
L
Motivo: _________________________________________________
E
b) No Brasil: _______________________________________________
Motivo: _________________________________________________
D
c) No mundo: _____________________________________________
O
Motivo: _________________________________________________
Para a próxima aula traga:
M
a) Uma foto de um lugar ou de uma viagem inesquecível.
b) Uma imagem de um lugar que você quer conhecer.
c) Fotos suas: quando bebê, ao entrar na escola, aos 15 anos e uma outra
foto importante.
Comentários:
Relembro o poeta:
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é
mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que
corre pela minha aldeia. (Pessoa, 1992, p.108)
Com base nas fotos podemos pensar o que se mantém e o que muda com
o passar dos anos. A moda, o corte de cabelo, os objetos que circundam as
pessoas: priorizar o entorno, a paisagem das fotos pode fornecer elementos
que estimulem a memória e a capacidade de observação.
Com as questões relativas aos nomes, podemos reforçar a ideia da indis-
sociabilidade entre tempo e espaço, entre geografia e história. Nossa história
pessoal implica ocupar espaço, inclusive simbólico, entre os que nos precede-
ram. Sobre os pais e avós podemos saber, além da sua origem* – aqui o uso do
mapa é sempre necessário –, o número de irmãos. Com isso podemos falar da
natalidade, da mortalidade, das condições de vida no passado e no presente.
As questões pessoais podem ser lidas e discutidas com vagar. Cabe ao
professor, fazendo perguntas e dando informações básicas, direcionar tais
*
É proposital, para gerar confusão, a pergunta sobre a origem étnica dos antepassados.
Via de regra há uma grande mistura, o que é legal para embaralhar um pouco a convicção,
um tanto idealizada, do passado europeu de muitos de nós.
Geografia 27
questões para que os alunos pensem a espacialidade e a temporalidade como
eixos fundamentais da estruturação de sua individualidade e da sociedade a
que eles pertencem.
O
População ou populações? Quando as diferenças podem ser estereótipos
EL
O que é população para você? Escreva sua primeira ideia, sem se preocupar com a
D
exatidão de suas palavras.
MO
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Quem é você? O que você é? –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Você poderia ter respondido de várias formas. Eu sou ––––––––––––––––––– (nome), filho de
––––––––––––––––––– (nome dos pais). Eu sou ––––––––––––––––––– (nacionalidade). Eu sou ––––––
––––––––––––– (naturalidade). Ou, ainda, eu sou ––––––––––––––––––– (time), sou fã de ––––––––––
–––––––––––––––––––––––––––– (alguém que você admira). Eu sou –––––––––––––––– (profissão/
lazer preferido).
Poderia ter dito sua crença religiosa, a cor da sua pele, seu gênero, seu
partido de preferência ou tantas outras particularidades que o caracterizam,
porque você assim se identifica.
1. Escreva a ideia imediata que vem à sua cabeça quando você imagina:
MODELO
1. um gaúcho ________________ a) o RS _____________________
2. um baiano ________________ b) a BA _____________________
3. um carioca ________________ c) o RJ ______________________
4. um amazonense ___________ d) o AM _____________________
5. um paulista _______________ e) SP _______________________
28 Rego, Castrogiovanni, Kaercher & cols.
MODELO
1. um sueco ________________ a) a Suécia _______________________
2. um canadense ____________ b) o Canadá ______________________
3. um paraguaio _____________c) o Paraguai _____________________
4. um indiano _______________ d) a Índia ________________________
5. um etíope ________________ e) a Etiópia _______________________
MODELO
Brasil, terra de _________________________________________________
Os brasileiros são ______________________________________________
Distribuo uma folha aos alunos ou solicito que desenhem em seus cader-
nos. Peço que façam retângulos de 10 x 20 cm. Insisto que não pensem muito
e nem se preocupem com a estética ao fazerem o desenho. O tempo deve ser
curto para evitar a dispersão. O comando pode ser assim:
ELO
MOD
2. Desenhe a/uma natureza.
Com essa referência a uma linha feita de livros não queremos sugerir que
tenham sido tantos os livros nesse período, nem que todos esses livros tenham
sido assim tão significativos. Queremos apenas dizer que aconteceram esse
livros – esses objetos que se pode ter em mãos, dar-se a eles o ritmo variável
de leitura que se desejar, voltar páginas, segurar esse objeto sem olhar para
ele – olhando para qualquer outro lugar, porque esse outro lugar estava nele,
o livro, quer fosse a Divina comédia ou um livrinho qualquer. Os livros têm
essa generosidade, eles nos introduzem o mundo enquanto nos introduzem
ao mundo, e tudo isso – o mundo – no ritmo que escolhermos para a relação
amorosa entre os nossos dedos e as páginas. (grifos meus)
Tal técnica pode ser adaptada para falar sobre um filme marcante ou
sobre uma pessoa que ele admira e que não seja seu familiar. O importante é a
vontade do diálogo professor-aluno-mundo. Ouvir o aluno é importante não
só porque entendemos a sua forma de pensar, mas sobretudo, porque percebe-
mos a nossa ignorância em relação ao universo simbólico deles. E entender
esse universo – ou, pelo menos, conhecê-lo – é a chave de entrada para uma
docência mais qualificada.
Desejo a aproximação com a leitura pelo risco deliberado de dar asas à
imaginação. Valho-me do delicioso capítulo VI (“Do curioso e grande expurgo
que o padre-cura e o barbeiro fizeram na livraria do nosso engenhoso fidal-
go”) de Cervantes (2002, p.53-54):
Qual foi o acontecimento mais marcante em sua infância que o levou a em-
preender seu caminho atual na vida?
Resposta: Acho que foi o fato de ter pais e avós que liam histórias para mim e
que despertaram meu interesse pela leitura. Isso me ajudou a compreender
que eu podia sair para o mundo, aprender coisas legais e ler sobre assuntos
interessantes, bastando para isso abrir um livro. Se eu tivesse que identificar
um único fator, seria esse. (Bill Gates, 1998, p.5-2)
REFERÊNCIAS
*
Cabo Bojador. Costa Oeste da África (26o 08’N, 14o 30’ W, na costa do Saara Ocidental).
Era temido na época das grandes navegações. Local de muitos naufrágios, ventos traiçoeiros.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Exercícios
1) Procuro dizer o que sinto sem pensar em que o sinto. Procuro encostar as palavras à ideia e
não precisar dum corredor do pensamento para as palavras. Nem sempre consigo sentir o
que sei que devo sentir. O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado.
Procuro despir-me do que aprendi. Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me
ensinaram e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar as minhas
emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu.
Fonte: PESSOA, 1992, p. 110 apud REGO; CASTROGIOVANNI; KAERCHER , 2007, p. 15.
A) Precisamos "raspar a tinta" com que nos pintaram para que nós possamos pintá-la do mesmo
jeito.
B) É fundamental aprender com os outros, mas também é de suma importância se despir do que
se aprendeu para reinventar a profissão.
C) A docência é resultado de uma atitude racional que exige a tomada de decisões, mesmo em
momentos de incerteza.
D) Para a docência, é preciso "desencaixotar" emoções para ser aquilo que se deve ser diante
dos alunos.
E) Encostar as palavras às ideias significa escrever sobre as ideias, contá-las através de textos,
divulgá-las.
2) Fernando Pessoa é genial ao falar do "corredor" que há entre nossas ideias e as palavras que
as expressam. São desafios que exigem que eu me desembrulhe. Tudo é tão difícil quanto
inevitável: "Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas"
(PESSOA, 1992, p.108). Em relação aos desafios, selecione a alternativa CORRETA:
C) Desafios ontológicos: dizer implica dizer o que penso e o que devo ser.
D) Desafios racionais: criar vem de raciocinar sobre determinado tempo.
3) "Olhar para as coisas pode nos remeter às paisagens que vimos e que vivemos com nossos
sentidos. Remete à fisicidade, à geograficidade da existência: as coisas e as pessoas ocupam
espaço, e isso influi sobremaneira na nossa vida".
D) A Geografia é um pretexto para pensarmos nossa existência, mas não é uma forma de
"lerpensar" filosoficamente as coisas.
A) São dicas para tentar aumentar a relação e o diálogo com os alunos, afastando a Geografia do
cotidiano, para trabalharem o olhar científico.
B) O desejo nas escolas permite que sejam geradas novas questões e espanto entre os alunos.
C) A partir de entenderscobrir, os alunos rompem sua inibição e aquela ideia de que Geografia é
maçante, restrita aos livros.
D) Por meio do "converentendersar", é possível criar atividades que levem os alunos a
perceberem o espaço de forma mais plural, dinâmica e imutável.
E) Professores podem ser sujeitos mais ativos e impositivos na busca por novas metodologias
que levem ao lerpensar, converentendersar e entenderscobrir.
A) Comunicação e interpretação.
B) Gestão e multiculturalismo
NELSON REGO
ANTONIO CARLOS CASTROGIOVANNI
NESTOR ANDRÉ KAERCHER
ORGANIZADORES
R343g Rego, Nelson
Geografia [recurso eletrônico] / Nelson Rego, Antonio
Carlos Castrogiogiovanni, Nestor André Kaercher – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2007.
CDU 91
8
Da cotidianidade do tempo meteorológico à
compreensão de conceitos climatológicos
Maíra Suertegaray Rossato
Dakir Larara Machado da Silva
LO
DE
MO
FIGURA 8.1 Modelo do quadro desenvolvido para preenchimento dos alunos, onde T: temperatura do ar, U:
umidade (muito seco, seco, úmido, muito úmido), V: vento (fraco, médio, forte), DV: direção do vento, N:
nebulosidade (muita nebulosidade, média nebulosidade, pouca nebulosidade, nenhuma nebulosidade),
C: chuva (presença de chuva, ausência de chuva), INS: insolação (pouca insolação, média insolação,
grande insolação), VE: vestimenta das pessoas e IM: imagem coletada no jornal local. Observa-se que a
legenda sugerida para preenchimento do quadro pode ser modificada e construída com os alunos, con-
forme o interesse da turma e do professor.
REFERÊNCIAS
2) Em relação aos seus conhecimentos sobre massas de ar, marque a alternativa CORRETA:
3) Utilizando seus conhecimentos sobre a atuação das massas de ar no Brasil, observe a imagem a
seguir.
A) a) Esses ramos no mapa representam a atuação da massa tropical atlântica.
E) e) O ramo III representa as friagens geradas de forma súbita com o avanço da MEA.
A) a) Usar o conceito de lugar como espaço vivido, levando em consideração relações verticais e
horizontais.
D) d) Usar o conceito de lugar como espaço afetivo, levando em consideração relações verticais
e horizontais.
B) b) A alternativa II representa uma típica mudança de tempo que ocorre com frequência nos
verões.
C) c) A alternativa V refere-se a uma anomalia climática rara e, portanto, típica do clima.
E) e) A alternativa III refere-se a transformações no tempo que podem causar esses infortúnios
para a população.