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SINOPSE DO CASE: O analista Paulo

Marina Candeira Correia²

Thaisa Privado³

1. DESCRIÇÃO DO CASO

Durante a realização de um estágio em uma clínica comunitária, um estudante de Psicologia


enfrenta um dilema ético ao se deparar com um paciente que expressa visões religiosas
extremas e intolerantes, incluindo preconceitos e discriminação contra outras religiões. Este se
vê desafiado a encontrar uma maneira de abordar essa questão durante o tratamento, buscando
equilibrar o respeito à autonomia do paciente com a promoção de valores de inclusão,
diversidade e não-discriminação, conforme exigido pelo código de ética profissional.

À medida que o estudante se envolve com o paciente, percebe que suas próprias crenças e
valores entram em conflito com as visões extremistas expressas pelo indivíduo em tratamento.
Isso levanta questões pessoais e profissionais sobre como lidar com essa situação delicada sem
comprometer a qualidade do atendimento ou impor suas próprias crenças ao paciente.

Estabelece-se então o questionamento: Como equilibrar o respeito à liberdade religiosa do


paciente com a promoção de valores de inclusão e não-discriminação? Quais abordagens
terapêuticas podem ser adotadas para ajudar o paciente a reconsiderar suas visões extremistas
e intolerantes? Como garantir que a intervenção seja culturalmente sensível e não imponha as
crenças do terapeuta ao paciente? Essas são questões essenciais que o estagiário precisa
enfrentar durante o estágio na clínica comunitária.

1 Case apresentado à disciplina de Ética Profissional, na Unidade de Ensino Superior Dom Bosco –UNDB. 2 Aluna
do 6 Período do curso de Psicologia, da UNDB. 3 Professora, orientadora.

2. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DO CASO

2.1 Descrição da possível decisão:

2.1.1. Possíveis intervenções frente dilemas éticos na atuação em Psicologia

2.2. Argumentos capazes de fundamentar cada decisão


2.2.1 Possíveis intervenções frente dilemas éticos na atuação em Psicologia

De acordo com Ferreira (2023), o debate sobre a religiosidade no campo da


psicologia vem ganhando destaque nos últimos anos, evidenciando a importância de uma
abordagem sensível e respeitosa diante das diversas crenças e valores dos pacientes.
Diante do caso apresentado, no qual um estudante de psicologia se vê confrontado com
um paciente que expressa visões religiosas extremas e intolerantes, é imprescindível
analisar a atuação do profissional sob a ótica da ética e dos princípios fundamentais da
Psicologia.

Na concepção da psicologia clínica, Angerami (2010) destaca a importância de uma


abordagem contextualizada e reflexiva, que considere o indivíduo em sua totalidade,
incluindo sua espiritualidade ou religiosidade. Nesse sentido, o manejo da atuação clínica
psicológica requer uma constante reflexão sobre todas as dinâmicas que permeiam o ser
humano, buscando compreender suas singularidades e necessidades.

Dessa forma, a Resolução CFP 7/2023 e o Código de Ética da Psicologia


estabelecem diretrizes claras que orientam a prática profissional, ressaltando a
importância do respeito à liberdade, dignidade e igualdade dos indivíduos, sem
discriminação de qualquer natureza. Segundo o Código de Ética da Psicologia (CFP,
2005), é vedado ao psicólogo induzir convicções religiosas ou qualquer tipo de
preconceito durante o exercício de suas funções profissionais.

Além disso, a Resolução CFP 7/2023 ainda destaca a proibição de atos que
caracterizem negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão à
crença religiosa. Essas normativas refletem o compromisso da Psicologia com a
promoção da inclusão, diversidade e não-discriminação, valores essenciais para uma
prática ética e responsável.

Diante disso, torna-se evidente a importância de promover a reflexão e a ampliação


da perspectiva do paciente em relação às suas crenças religiosas que, requer estratégias
que garantam uma intervenção culturalmente sensível, sem impor as próprias crenças do
terapeuta ao paciente. Portanto, frente ao caso apresentado, é fundamental que o
estudante de psicologia adote uma postura ética e profissional, pautada nos princípios da
Psicologia como ciência e na legislação que regulamenta a profissão Ao passo em que, a
busca pela compreensão e pelo respeito às diversas crenças religiosas é essencial para
uma prática clínica que promova o bem-estar e a saúde mental dos pacientes e, uma
postura a favor dos direitos humanos, contribuindo assim para a transformação positiva
da realidade individual e social.

Nesse viés, uma intervenção importante é estabelecer uma relação terapêutica de


confiança e alteridade, como ressalta Rogers (1957), na qual o paciente se sinta à
vontade para discutir suas crenças e experiências. Isso requer uma escuta ativa e uma
postura não-diretiva por parte do terapeuta. A partir disso, o estudante pode iniciar uma
exploração cuidadosa das crenças do paciente, ouvindo suas experiências e valores
associados à sua fé.

Dessa maneira, ajudar o paciente a revisar e ajustar suas crenças cristalizadas é


fundamental para promover uma abordagem mais flexível, inclusiva e alinhada com os
valores de respeito e não-discriminação. Ressaltando ainda que, todas as intervenções
devem ser realizadas de forma sensível, respeitosa e culturalmente apropriada,
garantindo sempre o respeito à autonomia e dignidade do paciente. Na medida em que,
é essencial que a dimensão afetiva, que inclui sentimentos, crenças, valores e
preconceitos, seja analisada com atenção, especialmente se a meta é gerar
transformações na direção da inclusão da diversidade e da desconstrução de
preconceitos (Branco, 2018).
Além disso, fornecer educação sobre diversidade religiosa e encorajar o paciente a
explorar diferentes pontos de vista religiosos pode ser uma intervenção interessante.
Isso pode ser feito por meio de leituras, discussões em grupo ou encontros com líderes
religiosos de diversas tradições. Ao mesmo tempo, o estudante pode trabalhar com o
paciente no desenvolvimento de habilidades de tolerância e aceitação, reconhecendo a
importância da diversidade de crenças na sociedade.

Diante do desafio ético apresentado e em consonância com os princípios e valores


defendidos pela Psicologia, o estudante de também pode utilizar outras intervenções
para abordar o paciente que expressa visões religiosas extremas e intolerantes. No
entanto, é fundamental destacar a importância da supervisão do próprio profissional
nesse processo.

Conforme destacado por Silva, Oliveira e Guzzo (2017), a supervisão é essencial


como ponto de partida para orientar práticas e construir modos de atuar junto a
pessoas, grupos e comunidades em diversas áreas. No contexto do caso em questão, a
supervisão clínica desempenha um papel fundamental ao fornecer suporte e orientação
ao estudante de Psicologia. Essa orientação pode ajudar a minimizar os riscos
relacionados à interferência dos valores e crenças pessoais do estudante frente a essa
demanda profissional.

Através da supervisão, o estudante tem a oportunidade de revisar casos clínicos,


discutir dilemas éticos e receber feedback sobre suas intervenções. Isso permite uma
reflexão crítica sobre sua prática clínica e ajuda a garantir que as intervenções adotadas
estejam alinhadas com os princípios éticos da profissão e com o bem-estar do paciente.
Portanto, é crucial que o estudante busque supervisão regular e de qualidade para
auxiliá-lo no desenvolvimento de suas habilidades clínicas e na abordagem ética e
sensível desse caso específico. Na medida em que, a supervisão não apenas contribui
para o crescimento profissional do estudante, mas também assegura uma prática clínica
mais eficaz e responsável.

Tendo isso em vista, também configura-se como de grande relevância que o Psicólogo,
enquanto agente transformador da realidade social produza conhecimentos, por meio de
pesquisas sobre o tema e realização de discussões, em parceria com a o restante da
comunidade dos profissionais da Psicologia para que assim, se possa encontrar e
construir em conjunto outras estratégias eficazes na direção de desconstruir preconceitos
e crenças que reforçam práticas de intolerância no contexto social.

3. Descrição dos critérios e valores contidos em cada decisão possível

Ética na Psicologia: A ética na Psicologia refere-se aos princípios e normas que guiam a
conduta profissional dos psicólogos. Isso inclui o respeito à dignidade, liberdade e
igualdade dos indivíduos, bem como a não-discriminação e a promoção do bem-estar
dos clientes/pacientes.
Psicologia Clínica: Esta área da Psicologia se concentra no estudo e tratamento dos
problemas emocionais, mentais e comportamentais das pessoas. A abordagem clínica
considera o indivíduo em sua totalidade, levando em conta fatores biológicos,
psicológicos, sociais e culturais que influenciam sua saúde mental.

Psicologia Social: A Psicologia Social investiga como os pensamentos, sentimentos e


comportamentos das pessoas são influenciados pelo ambiente social em que vivem.
Isso inclui o estudo das relações interpessoais, dos processos de influência social e dos
fenômenos como preconceito, discriminação e intolerância.

Supervisão Clínica: A supervisão clínica é uma prática comum na formação de


psicólogos, na qual um profissional experiente orienta e supervisiona o trabalho de um
estudante ou profissional em formação. Ela oferece suporte, feedback e orientação para
garantir a qualidade e a ética do trabalho clínico.
REFERÊNCIAS

FERREIRA, Lucas Rodrigues. Conselho Federal de Psicologia e Regionais do


Nordeste e suas implicações na produção, manutenção e combate ao racismo
religioso contra religiões de matrizes africanas. 2023. 119 f. Dissertação (Mestrado em
Psicologia) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Instituto de Psicologia,
Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2023.

LANA, Vitor Célio Souza et al . Relação ética entre a psicologia clínica e religião:
reflexões guiadas pelo enfoque da logoterapia e análise existencial. Rev. abordagem
gestalt., Goiânia , v. 28, n. 1, p. 53-59, abr. 2022 .

Rogers, C. R. (1957). The necessary and sufficient conditions of therapeutic


personality change. Journal of Consulting Psychology, 21(2), 95–103.
https://doi.org/10.1037/h0045357

SILVA, W. M. DE F.; OLIVEIRA, W. A. DE .; GUZZO, R. S. L .. Discutindo a formação em


Psicologia: a atividade de supervisão e suas diversidades. Psicologia Escolar e
Educacional, v. 21, n. 3, p. 573–582, set. 2017.

Conselho Federal de Psicologia. (2005). Resolução CFP n° 010/2005. Código de Ética


Profissional do Psicólogo, XIII Plenário. Brasília, DF: CFP.

Conselho Federal de Psicologia. (2023). Resolução CFP n° 7/2023. Brasília, DF: CFP.

Branco, A. U. (2018). Values, education and human development: the major role of
social interactions’ quality within classroom cultural contexts. In A.U. Branco & M. C.
Lopes-de-Oliveira (Orgs.), Alterity, values and socialization: human development within
educational contexts (pp. 31-50). Springer.

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