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PRESSUPOSTOS BÁSICOS DA ABORDAGEM

CENTRADA NA PESSOA

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2

INTRODUÇÃO................................................................................................. 3

PREMISSAS FUNDAMENTAIS....................................................................... 6

TENDÊNCIA ATUALIZANTE E NÃO DIRETIVIDADE ..................................... 9

DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE.............................................. 10

ACEITAÇÃO POSITIVA INCONDICIONAL E CONGRUÊNCIA .................... 12

OUTROS PRESSUPOSTOS ......................................................................... 14

Atitudes e não técnicas: a relação ............................................................. 14


Atitudes Facilitadoras ................................................................................. 15
A Segurança .............................................................................................. 17
A Mudança ................................................................................................. 18
As Condições Necessárias Suficientes ...................................................... 19
PSICOTERAPEUTA CENTRADO NA PESSOA ........................................... 20

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 21

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 23

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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INTRODUÇÃO

A proposta de uma abordagem centrada no cliente, capaz de desenvolver o


potencial das pessoas sem direcionar seu comportamento, traz implicações
importantes, tanto numa dimensão social quanto política. Tendo como cenário
primeiramente a psicoterapia individual, o trabalho de Rogers ampliou-se com o
passar do tempo e encontrou aplicabilidade em diversificados contextos, mantendo
sempre a mesma abordagem básica, que segundo Wood (1995) manteve-se
inalterada desde o início.

Variaram as formas através das quais essa abordagem revestiu-se para o


contato com as diferentes realidades em que foi aplicada como a psicoterapia
individual, de grupo, ludoterapia, educação, relações de trabalho, grupos de encontro,
relações diplomáticas e encontros de comunidade. Variaram também as hipóteses
teóricas, necessárias para a orientação dos profissionais afinados com essa
abordagem.

Cuidadoso em respeitar a liberdade de cada indivíduo, Rogers sempre


procurou evitar que seu trabalho viesse a se transformar em alguma espécie de
dogma. É frequente observar em seus escritos a preocupação em não estagnar o
desenvolvimento científico, incentivando novas pesquisas e valorizando o trabalho
em equipe e as contribuições de seus colaboradores mais próximos.

Sua obra é mundialmente conhecida. Há relatos de profissionais sintonizados


com a Abordagem Centrada na Pessoa – denominação mais ampla que o trabalho
de Rogers adquiriu – advindos de culturas bastante diferentes da americana. Hayashi
(1998) é um exemplo da influência dos pressupostos rogerianos numa cultura oriental,
mais precisamente no Japão. Bondarenko (1999) por sua vez relata o impacto da
visita de Rogers e sua equipe à Ucrânia, em plena guerra fria. Dentre as diversas
publicações de Rogers, duas acontecem em associação a autores brasileiros: A
Pessoa como Centro, com Rachel Rosenberg em 1977 e Em Busca de Vida,
contando com a participação de Afonso Fonseca, publicada em 1983.

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No que se refere à psicoterapia, de modo mais específico, a prática clínica e o
contato com outros profissionais centrados no cliente suscitaram diversos
questionamentos. A terapia centrada no cliente, bem como as outras abordagens
terapêuticas pertencentes à terceira força em psicologia – a Psicologia Humanista –
enfatiza o potencial humano e sua tendência ao crescimento, desde que supridas as
condições para tanto. Frick (1971) e Greening (1975) pontuam a reação dos
psicólogos humanistas frente ao determinismo limitador que as escolas psicanalítica
e comportamental preconizam como característico da natureza humana.

Um ponto de vista mais otimista, dotado de uma confiança básica no ser


humano e de uma ênfase nos aspectos positivos da personalidade que podem ser
desenvolvidos é motivo de atração para alguns profissionais; ao mesmo tempo razão
para crítica, por parte de outros mais ortodoxos. Carl Rogers, tendo sido um dos
principais expoentes da Psicologia Humanista foi igualmente alvo de admiração e
confrontações.

Em um de seus artigos mais conhecidos, Rogers (1957) afirma que três


atitudes do terapeuta – congruência, empatia e consideração positiva incondicional –
são essenciais para que uma mudança de personalidade possa ocorrer com o cliente.
Posteriormente, essas atitudes passariam a servir como alicerce teórico quando
aplicado a outros tipos de relação interpessoal.

O contato que o autor do presente estudo tem a oportunidade de travar com


profissionais centrados no cliente e estudantes suscita vários questionamentos.
Dentre inúmeras observações, uma preocupação torna-se recorrente: como
encontrar um fio condutor para a atuação do terapeuta centrado no cliente
respeitando a sutileza que uma relação nesses termos pressupõe? Em outras
palavras, como evitar transformar atitudes em técnicas, empobrecendo a qualidade
do contato humano em um extremo e como não incorrer num romantismo, ao mesmo
tempo caloroso, mas ainda assim equivocado e ingênuo, no outro extremo?

É comum observar, principalmente entre os terapeutas em formação, grande


preocupação sobre o que fazer e como agir em terapia. Para eles, parece ficar sempre
mais claro o que não fazer diante do cliente. Não dirigir o processo terapêutico, não
diagnosticar o cliente, não o julgar, não deixar que a teoria atrapalhe a relação... Por

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outro lado, o que dizer? Como ser empático? Como manifestar aceitação positiva
incondicional? Como ser congruente na relação?

Ao mesmo tempo, as formulações teóricas propostas por Rogers em 1959


causavam neste mesmo autor a impressão de que as concepções teóricas ainda não
haviam atingido a mesma abrangência que a prática da terapia centrada no cliente já
demonstrava.

Com o advento do conceito de experienciação, desenvolvido por Eugene


Gendlin, a terapia centrada no cliente passa para uma nova fase, havendo uma
mudança de enfoque tanto teórico quanto prático. Passa a ser enfatizada uma
compreensão processual da personalidade e da psicoterapia; a postura do terapeuta
é redimensionada, havendo a possibilidade de uma participação mais expressiva
deste na relação. O pensamento de Rogers, torna-se mais afinado com o
existencialismo enquanto filosofia e à fenomenologia como método científico.

O profissional brasileiro interessado em conhecer esta fase da terapia centrada


no cliente, encontra algumas limitações. Ao contrário da obra de Rogers, amplamente
difundida no Brasil, há uma sensível escassez de publicações de Gendlin em língua
portuguesa. Não possuindo fluência no idioma inglês, o leitor só poderá ter acesso ao
conceito de experienciação de maneira indireta, através de artigos de outros autores
que tenham se interessado em discorrer sobre o assunto.

A Abordagem Centrada na Pessoa, legado de Carl Rogers que Warner (2000)


compara a uma grande nação, com várias tribos, continua em desenvolvimento. Cada
“tribo”, dentro da grande nação corresponde às diferentes atividades realizadas, com
seus diferentes enfoques. O presente estudo tem como motivação maior contribuir
para o desenvolvimento teórico de uma dessas “tribos”, a Psicoterapia Centrada na
Pessoa, levando em consideração os possíveis benefícios para o campo da Saúde
Mental e das Relações de Ajuda Psicológica.

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PREMISSAS FUNDAMENTAIS

Carl Rogers foi um psicólogo norte-americano que trouxe a partir de seus


estudos e métodos científicos uma nova forma de pensar a respeito da mudança nos
processos terapêuticos. Assim, esse teórico veio a desenvolver um modelo de
intervenção que se intitulou inicialmente por Terapia Centrada no Cliente.

A Abordagem Centrada na Pessoa foi uma expressão utilizada por Carl Rogers
para referir uma forma específica de entrar em relação com outro, estando implícito
um modo positivo de conceitualizar a pessoa humana. Esta expressão representa
uma evolução no pensamento de Carl Rogers e no quadro teórico por ele
desenvolvido, que foi formalizada na publicação do seu livro Sobre o Poder Pessoal
(em inglês, On Personal Power, 1977), onde explicita a aplicação do seu quadro
conceptual aos mais diversos campos (GOBBI et al., 1998: 13).

Progressivamente, essa filosofia foi encontrando horizontes profissionais em


diversos campos de trabalho, nos grupos, nas organizações, na educação, acabando
por se constituir um movimento que é conhecido na atualidade como Abordagem
Centrada na Pessoa. Sendo assim, se caracteriza como uma abordagem
fenomenológica que privilegia a experiência subjetiva da pessoa.

Nesse sentido, sua proposta prioriza a capacidade do cliente para a auto


atualização das suas potencialidades, valoriza a potencialidade terapêutica da
relação e transfere a importância da técnica para as atitudes do terapeuta.

A partir de 1940, verifica-se a consolidação e a evolução das suas ideias


através das inúmeras publicações, representadas em livros e artigos científicos.
Dentre os livros, em suas publicações originais, se destacam: "Terapia Centrada no
Cliente" (1951), "Tornar-se Pessoa" (1961) e "Um Jeito de Ser" (1980).

Em "Terapia Centrada no Cliente", ele desenvolve de uma forma mais


completa suas ideias apresentadas inicialmente em "Psicoterapia e Consulta
Psicológica", reconhecendo que seus princípios podem ser aplicados a outros
campos (Rogers, 2005).

Nesse contexto, Rogers desenvolveu inicialmente uma abordagem voltada


para a psicoterapia, na qual se oferecia um ambiente e uma relação aceitadora e

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permissiva como condição básica e suficiente para o desenvolvimento de uma pessoa
(Wood e outros, 2008). A interação entre a potência para a autorrealização, que é a
Tendência Atualizante (Rogers, 1983), e as condições de um meio facilitador,
possibilitam o desenvolvimento pessoal, concretizando um processo de crescimento.

Posteriormente, Rogers identificou que esta compreensão não se aplicava


apenas ao atendimento psicológico, mas a todas as relações humanas (Wood e
outros, 2008). Independente da situação é possível estabelecer uma relação
aceitadora e permissiva, na qual haja o interesse genuíno pelo outro. Deste modo, as
condições básicas para o desenvolvimento interpessoal, passaram a representar um
jeito de ser e de estar nas relações.

A Abordagem Centrada na Pessoa, com sua proposta de promover relações


interpessoais autônomas e consequentemente humanizadas, sugere o
desenvolvimento de atitudes de consideração positiva incondicional, empatia e
autenticidade como características principais desse jeito de ser. São atitudes que
concebem o crescimento, a preservação e a sobrevivência como a principal
motivação humana, o que equivale a dizer que a principal missão humana seria a de
realização das suas potencialidades.

Nesses termos, a consideração positiva incondicional é "uma aceitação


calorosa de cada aspecto da experiência do cliente" (Wood e outros, 2008, p. 149).
Não há sentimentos que não possam ser expressos e "isto significa um cuidado com
o cliente, mas não de forma possessiva (...) implica numa forma de apreciar o cliente
como uma pessoa individualizada" (Wood e outros, 2008, p. 150). É aceitar que ele
tem um jeito próprio de ser, com escolhas e caminhos próprios.

A consideração positiva incondicional, quando associada á atitude empática,


qualifica ainda mais as relações, promovendo nas pessoas a sensação de estarem
sendo compreendidas. E o que a Abordagem Centrada na Pessoa entende por
empatia? Qual o papel que esse conceito tem para esta teoria? Por empatia entende-
se a capacidade de compreender o outro na sua perspectiva. É reconhecer que o
conhecimento deve servir apenas para garantir a compreensão da realidade do outro
a partir de seus próprios referenciais. Em outras palavras, compreender
empaticamente não é apenas ouvir o que está sendo dito, mas procurar entender as

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razões e emoções presentes no momento em que a relação acontece. Dessa forma,
a atitude empática

significa penetrar no mundo perceptual do outro e sentir-se totalmente à


vontade dentro dele. Requer sensibilidade constante para com as mudanças que se
verificam nesta pessoa em relação aos significados que ela percebe (...) sem tentar
revelar sentimentos dos quais a pessoa não tem consciência, pois isto poderia ser
muito ameaçador. Implica em transmitir a maneira como você sente o mundo
dele/dela à medida que examina sem viés e sem medo os aspectos que a pessoa
teme (Rogers & Rosenberg, 1977, p. 73).

Por fim, considera-se que uma relação facilitadora de crescimento pressupõe


a presença por inteiro de ambas as pessoas. Desta forma, se insere também como
elemento de sustentação das relações facilitadoras de crescimento e saúde, a
autenticidade, entendida como a capacidade de expressar o que a experiência de
estar na relação promove. Ao apresentar os benefícios da autenticidade na relação
terapêutica Rogers (1976) afirma:

Descobriu-se que a transformação pessoal era facilitada quando o


psicoterapeuta é aquilo que é, quando as suas relações com o paciente são
autênticas e sem máscara nem fachada, exprimindo abertamente os
sentimentos e as atitudes que nesse momento lhe ocorrem. Escolhemos o
termo "congruência" para tentar descrever esta condição. Com este termo
procura-se significar que os sentimentos experimentados pelo terapeuta lhe
são disponíveis, disponíveis à sua consciência, e que ele é capaz de vivê-
los, de ser esses sentimentos e estas atitudes, que é capaz de comunicá-los
se surgir uma oportunidade disso (p.63).

Nesses termos, autenticidade não significa dizer o que se pensa, mas ter
atitudes coerentes com o que é experienciado na relação com o outro, independente
do contexto no qual esteja inserida esta relação. A união dessas três atitudes em
qualquer relação interpessoal é considerada por Rogers a condição necessária e
suficiente para promover o desenvolvimento humano (Wood e outros, 2008).

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TENDÊNCIA ATUALIZANTE E NÃO DIRETIVIDADE

A noção de Tendência Atualizante é para Rogers o postulado fundamental da


Abordagem Centrada na Pessoa, à medida que conduz não só à satisfação das
necessidades básicas do organismo, como também às mais complexas. A Tendência
Atualizante permite, por um lado, a confirmação do Self e, por outro, a preservação
do organismo, facultando assim, a consonância entre a experiência vivida e a sua
simbolização (CAPELO, 2000).

Nessa perspectiva, sempre que essa consonância não se verifique, a pessoa


pode entrar numa espécie de incongruência consigo mesmo, gerando uma
desorganização entre a experiência real e a simbólica, o que leva a um
comportamento desajustado, os quais, por sua vez, afetam a personalidade.

A tendência atualizante é o pilar da teoria rogeriana, tendo em vista que sua


proposta prioriza a capacidade que o cliente tem de auto-atualizar suas
potencialidades e de ser autêntico com suas próprias escolhas e decisões.

No que tange ao conceito de não diretividade, pode-se considerar esse como


o primeiro postulado da teoria de Rogers que logo evoluiu para Abordagem Centrada
na Pessoa. A definição de não diretividade passa, segundo Rogers, pelo acreditar
que "o indivíduo tem dentro de si amplos recursos para auto compreensão, para
alterar seu autoconceito, suas atitudes e seu comportamento autodirigido" ( Rogers,
1989: 16).

Neste sentido a Não Diretividade pode ser entendida como uma forte
subscrição do conceito de Tendência Atualizante na medida em que "É uma confiança
de que o cliente pode tomar as rédeas, se guiado pelo técnico, é a confiança de que
o cliente pode assimilar insight se lhe for inicialmente dado pelo técnico, pode fazer
escolhas".(Rogers, citado por Raskin, 1998:76).

Toda pessoa possui uma capacidade natural de se auto dirigir no sentido de


buscar suprir as suas necessidades. Existe em todo organismo uma tendência natural
de evolução, um movimento natural de atualização a todo o momento. De alguma

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maneira, por diversos motivos, todos nós somos influenciados por uma série de
formas de ser, impostas, que fazem com que, muitas vezes nos distanciemos daquilo
que somos ou sentimos.

Mesmo assim, a tendência atualizante continua o seu movimento, no intuito de


nos levar adiante, mas em função de nos distanciarmos da gente mesmo, acabamos
muitas vezes por caminhar de uma maneira distorcida daquilo que realmente seria o
melhor pra gente. Quando são proporcionadas condições facilitadoras para que a
pessoa se auto dirija, ela tende a ampliar o seu repertório interno e a buscar novas
formas de se atualizar ganhando maiores condições de encontrar uma maior
harmonia interna e em consequência, uma maior harmonia com o seu meio.

Crendo no potencial humano através da tendência atualizante, a Abordagem


Centrada na Pessoa entende que a melhor maneira de ajudar o outro é tentar
criar condições ideais para que este movimento aconteça levando em consideração
novas perspectivas e possibilidades.

DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE

A teoria da personalidade de Rogers se apoia no “eu” ou autoconceito, cuja


definição é: “o conjunto organizado de percepções e crenças sobre si mesmo”. Na
psicologia humanista, o “eu” é a personalidade interior, comparada à “alma” da
psicologia de Freud. Segundo Rogers, todas as pessoas buscam a congruência, o
equilíbrio e consistência entre a sua autoimagem e seu “eu ideal”.

No humanismo, o autoconceito inclui três elementos:

 Autoestima: É a avaliação que o indivíduo faz de si próprio, e como ele


valoriza as suas características individuais.

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 Autoimagem: Como a pessoa se enxerga e se descreve. A autoimagem afeta
como uma pessoa pensa, sente e se comporta no mundo.

 Eu ideal: Como a pessoa gostaria de ser. Os conjuntos de valores,


comportamentos e características que uma pessoa gostaria de ter. São as
ambições e objetivos que um indivíduo tem.

Quanto mais próximos o “eu ideal” e a autoimagem forem, mais congruente uma
pessoa é e aumenta o seu valor sobre si mesmo. A incongruência é quando uma
das partes é inaceitável, ou a autoimagem é distorcida, causando uma
discrepância, e consequentemente um desequilíbrio, ansiedade e angústia. Por
exemplo, se o “eu ideal” de um indivíduo é uma pessoa ativa e que persegue seus
objetivos, mas na verdade, o que acontece na vida e nas experiências desse
indivíduo é que ele age desinteressadamente e sem ânimo, existe uma
discrepância. Todas as pessoas experimentam a incongruência em alguma
quantidade e em algum momento de sua vida.

De acordo com Rogers, queremos sentir, experimentar e nos comportar de


maneira consistente com nossa autoimagem, e que ela reflita o nosso “eu ideal”.

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ACEITAÇÃO POSITIVA INCONDICIONAL E
CONGRUÊNCIA

A aceitação positiva incondicional é uma atitude assente na crença no


potencial interno humano, derivando do principal conceito proposto por Rogers a
Tendência Atualizante (Gobbi et al., 1998). Desse modo, a aceitação incondicional se
caracteriza como um modo de aceitar a pessoa tal como ela é, sem juízos de valor
ou críticas.

Nesses termos, a consideração positiva incondicional é "uma aceitação


calorosa de cada aspecto da experiência do cliente" (BACELLAR APUD Wood et al ,
2012). Não há sentimentos que não possam ser expressos e "isto significa um
cuidado com o cliente, mas não de forma possessiva (...) implica numa forma de
apreciar o cliente como uma pessoa individualizada" (BACELLAR APUD Wood et al ,
2012).

Cremos que há algumas condições facilitadoras básicas para que isto


aconteça. Essas condições são:

Empatia

Em primeiro lugar é imprescindível que tanto o facilitador quanto o cliente


sintam-se bem e verdadeiramente disponíveis nessa relação.

Depois, o facilitador deverá ser capaz de tentar enxergar a pessoa buscando


se aproximar da visão dela, tendo desta forma, provavelmente, maior disponibilidade
interna em se livrar dos seus princípios e valores e de compreender melhor o outro
sob a perspectiva do outro, seus motivos, seus medos e sentimentos e
consequentemente mais condições de não julgar ou direcionar a relação de ajuda.

Congruência

É imprescindível que o facilitador busque ser autêntico quanto aos seus


sentimentos e percepções em relação a pessoa que está buscando ajuda. É

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importante que tudo que o facilitador sinta de forma persistente na relação seja dito.
Com empatia, cuidado, respeito, mas principalmente com autenticidade. Para a
Abordagem Centrada na Pessoa, é importante que o facilitador diga o que sente, mais
é claro que como sendo a sua verdade, e não como verdade do outro.

Numa relação de ajuda onde o facilitador assume os seus sentimentos como


seus, além de dar ao outro o direito de pensar a respeito, a tendência é que o outro
assuma os seus sentimentos também, livre de ameaças, apoiado na aceitação, na
autenticidade e no acolhimento.

Finalmente, a congruência pretende indicar o estado de coerência ou acordo


interno e de autenticidade de uma pessoa, a qual se traduz na sua capacidade de
aceitar os sentimentos, as atitudes, as experiências, de se ser genuíno e integrado
na relação com o outro (Rogers, 1985).

Nesse processo de congruência, a pessoa entra em um processo de aceitação


de si mesmo, tornando-se assim, a pessoa que deseja ser, mais flexível, de modo
que possa adaptar objetivos mais realistas para si próprio e, simultaneamente, capaz
de aceitar os outros.

Aceitação Incondicional Positiva

É a capacidade do facilitador em aceitar o outro sempre de maneira positiva,


entendendo que o outro à sua maneira está sempre, no fundo procurando se sentir
bem e se encontrar.

Se o facilitador consegue de fato ser empático e tem a convicção de que o


outro busca sempre as alternativas que entende como melhores dentro do seu
repertório interno, através da tendência atualizante, fica mais fácil aceitar à pessoa,
mesmo não entendendo ou não concordando. Aceitar não significa concordar.

Em um ambiente onde a pessoa sinta-se verdadeiramente aceita e acolhida,


livre de ameaças, ela tende a ser ela mesma e a entrar em contato consigo própria
para buscar aquilo que julga importante para o seu desenvolvimento pessoal.

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OUTROS PRESSUPOSTOS

Atitudes e não técnicas: a relação

Durante o desenvolvimento de suas pesquisas, Rogers e colaboradores


verificaram que alguns terapeutas, que praticavam a psicoterapia de forma muito
parecida com a terapia não-diretiva, não obtinham os mesmos resultados em relação
ao cliente. Ao contrário, ao invés de ajudar, chegavam a indispor o cliente ou a afastá-
lo. Como as entrevistas eram gravadas, foram estudadas e discutidas pelo grupo,
buscando a compreensão do que acontecia. Ficou evidente, a partir da análise das
entrevistas, que os terapeutas fracassados nos seus esforços de terapeutas não-
diretivos, simplesmente aplicavam o método sem nenhum envolvimento pessoal.
Para estes terapeutas, o comportamento não-diretivo era como desempenhar um
papel, sem refletir sobre as atitudes e convicções que estavam na base desta
concepção.

Estes estudos levaram Rogers a afirmar que o essencial na Terapia Centrada


no Cliente não é a ausência de diretivas, mas a presença de certas atitudes do
terapeuta na relação com o cliente. Para a facilitação de mudanças construtivas no
cliente, o comportamento do terapeuta deve ser a expressão de certas atitudes e
convicções profundamente enraizadas em sua personalidade (Rogers e Kinget,
1977). A ênfase, desta forma, não está na técnica, como um papel a ser
desempenhado pelo terapeuta. Está, isto sim, na própria relação terapeuta-cliente
(Rogers, 1992).

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Atitudes Facilitadoras

A relação terapeuta-cliente é o fator essencial que promoverá o crescimento.


É através das atitudes do terapeuta que o clima facilitador será oferecido, para que o
potencial da pessoa possa ser liberado. Há três atitudes básicas e imprescindíveis
para a facilitação do cliente: congruência, consideração positiva incondicional e
compreensão empática.

O terapeuta será congruente na medida em que for ele mesmo na relação com
o cliente. Quanto mais puder desprover-se de barreiras profissionais ou pessoais,
maior a probabilidade de que o cliente mude e cresça de modo construtivo, afirma
Rogers (1983a). O cliente pode perceber o que o terapeuta é na relação. Deste modo,
o mesmo experiencia a congruência do terapeuta, e passa a ser congruente consigo
nesta relação. Na concepção de Rogers, a congruência é a correspondência entre o
que está sendo vivido em nível profundo, o que está presente na consciência e o que
está sendo expresso ao cliente.

O terapeuta está congruente quando é transparente, quando o cliente pode


perceber claramente o que o terapeuta é na relação, e quando não percebe nenhum
bloqueio da parte do terapeuta (Rogers, 1997). Segundo Haugh (1998), para Rogers,
congruência é ser transparente no sentido de estar disposto a ser visto pelo cliente
através das aparências. Para a autora, quanto mais plenamente o terapeuta estiver
consciente de sua experiência, mais provavelmente ele será sentido pelo cliente como
genuíno, autêntico e real.

Imprescindível na criação de um clima facilitador de mudança, a segunda


atitude mencionada por Rogers (1983a), é a aceitação, o interesse ou a consideração.
Significa que o terapeuta tem atitude positiva e aceitadora à pessoa do cliente, isto é,
ao que o cliente é naquele momento.

O terapeuta facilita ao cliente a expressão dos sentimentos que estão


ocorrendo no momento, não importando quais sejam. Este interesse do terapeuta não
é possessivo. Tem consideração integral e não condicional pelo cliente.

Quando o terapeuta é capaz de perceber o significado do que o cliente diz, ou


um pouco além do que ele está sendo capaz de expressar, quando ouve sem julgar,

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diagnosticar, apreciar ou avaliar; quando o cliente está numa situação
psicologicamente dolorosa e o terapeuta é capaz de simplesmente ouvir, sem tentar
assumir a responsabilidade pelo cliente, sem tentar moldá-lo – este sente-se aceito
sem condições e torna-se capaz de rever seu mundo e continuar sua auto exploração
(Rogers, 1983a).

Rogers (1977) define a compreensão empática como um processo, uma


maneira de ser na relação com outra pessoa. Significa penetrar no mundo de
percepções do cliente, apreender os significados que o mesmo percebe em relação
aos seus sentimentos sem julgamento, e transmitir esta compreensão de forma não
impositiva.

A intenção do terapeuta é captar, com precisão, os sentimentos e significados


pessoais que o cliente está vivendo e comunicá-los ao cliente. Quando está em sua
melhor forma, o terapeuta pode entrar tão profundamente no mundo interno do cliente
que se torna capaz de esclarecer, não só o significado daquilo de que o cliente está
consciente, como também do que se encontra abaixo do nível de consciência.

Ao acompanhar o cliente, mostrando os possíveis significados presentes no


fluxo de suas vivências, o terapeuta ajuda a pessoa a focalizar-lhe o ponto de
referência e a vivenciar os significados de forma mais plena. Para o terapeuta, estar
com o cliente desta forma é preciso deixar de lado, neste momento, seus próprios
pontos de vista e valores, para entrar, sem preconceitos, no mundo do cliente. Em
certo sentido, afirma Rogers (1977), é colocar de lado o próprio eu.

Quando o terapeuta efetivamente ouve uma pessoa e os significados que lhe


são importantes naquele momento, ouvindo além de suas palavras, e quando
apreende o significado pessoal e íntimo, a pessoa sente-se aliviada, quer falar mais
sobre seu mundo, sente-se impelida em direção a um novo sentido de liberdade e
torna-se mais aberta ao processo de mudança.

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A Segurança

A segurança na relação terapêutica centrada no cliente está intimamente


relacionada com um clima não ameaçador. Rogers (1991) descreve a segurança
sentida pelo cliente, identificando três condições a ela associadas. A primeira está
vinculada à aceitação e valorização incondicional da pessoa; a segunda, ao
estabelecimento de clima não avaliativo e sem julgamento; e a terceira, à presença
da compreensão empática. Esta última condição está relacionada às duas anteriores,
facilitando plenamente a criação de clima de segurança psicológica.

O papel da segurança na relação terapêutica é extremamente importante para


a auto exploração e reorganização do cliente (Rogers, 1992). Para Rogers (1991), é
no conforto emocional da relação com o terapeuta que o cliente começa a
experienciar a segurança ao descobrir que qualquer sentimento, opinião ou atitude
pode ser expressa, sendo compreendida e aceita. Desta forma, o cliente sente-se
capaz e seguro para explorar aspectos de suas experiências até então negadas por
ter um sentido muito ameaçador. Estes aspectos antes ameaçadores podem ser
explorados e ressignificados na segurança da relação.

Na segurança da relação, o cliente descobre que, embora seja dolorosa a


admissão à consciência de aspectos negados, o ganho supera a dor (Rogers,1992).
Durante o processo terapêutico, muitas vezes, o cliente percebe a hora com o
terapeuta como a única porção estável de sua experiência, sendo, portanto, a terapia
centrada no cliente sentida como apoio, apesar de não oferecer apoio ou aprovação
num sentido superficial, mas, sim, constância e segurança em nível mais profundo
(Rogers, 1991).

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A Mudança

Ao elaborar exposição sobre as características de uma relação de ajuda,


Rogers (1991) cita diversos estudos realizados sobre a eficácia do processo de
psicoterapia, em diferentes contextos teóricos. E em todos esses se evidenciam a
importância das atitudes do terapeuta e a percepção destas atitudes pelo cliente. Ao
longo de seus estudos, constata que as mudanças do cliente são a recíproca das
atitudes do terapeuta. Para Rogers (1992), a partir da vivência das atitudes do
terapeuta, o cliente sente-se capaz de assumir novas atitudes em relação a si mesmo.

A psicoterapia facilita a liberação das forças de crescimento da pessoa. Na


relação terapeuta-cliente, quando o terapeuta é autêntico, quando experiencia uma
atitude calorosa de aceitação em relação ao cliente e quando é capaz de apreender
o significado daquilo que o cliente está comunicando, enfim, quando estas três
condições estão presentes no terapeuta e o cliente percebe estas atitudes, mudanças
construtivas ocorrem. Rogers (1991) conclui assim que mais do que o conhecimento
e a capacidade técnica do terapeuta, são suas atitudes as principais responsáveis
pela mudança do cliente.

O poder da técnica não é exercido sobre a pessoa. O terapeuta potencializa,


facilita a expressão de sentimentos e libera o cliente para o exercício da autonomia.
Potencializar a pessoa, para Rogers (1983b), é colocar em movimento um processo
de mudanças. Não é a perspectiva teórica, as habilidades diagnósticas ou o
treinamento profissional que garante um bom resultado na terapia, afirma Wood
(1983). Para ele, ao contrário, a terapia centrada no cliente acentua a compreensão
e lhe enfatiza o potencial de cura. Para que a mudança seja efetiva, o terapeuta deve
ser uma pessoa capaz de comunicar as condições terapêuticas de congruência,
empatia e não-avaliação, conclui este autor.

O processo de mudança descrito por Rogers (1991) envolve alteração no modo


do cliente experienciar a sua vivência. De um modo geral, verifica-se que o processo
se afasta da fixidez, do caráter remoto dos sentimentos e experiências, da concepção
rígida de si, do afastamento das pessoas e da impessoalidade do relacionamento. O
cliente evolui para a fluidez, para a possibilidade de mudança, para a percepção
imediata de seus sentimentos e experiências, para a aceitação desses sentimentos e

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dessa experiência, para tentativas de construção, para a descoberta de um eu que é
mutável, para a realidade e proximidade das relações, a uma unidade e integração
do funcionamento.

Quanto mais ele vê o terapeuta como pessoa verdadeira ou autêntica, capaz


de empatia, tendo para com ele respeito incondicional, tanto mais se afastará de um
modo de funcionamento estático, fixo, insensível e impessoal, e encaminhar-se-á no
sentido de funcionamento marcado por uma experiência fluida, em mudança, e
plenamente receptiva dos sentimentos pessoais diferenciados. A consequência
desse movimento de mudança, conclui Rogers (1991), é a evolução da personalidade
e do comportamento no sentido da saúde e da maturidade psíquica e de relações
mais realistas para com o eu, os outros e o mundo.

As Condições Necessárias Suficientes

Para que a relação seja terapêutica e ocorram mudanças construtivas na


personalidade do cliente, Rogers (1995) sintetiza assim as seis condições
necessárias e suficientes para que isto ocorra:

1 – Que duas pessoas estejam em contato psicológico;

2 – Que a primeira, a quem chamaremos cliente, esteja num estado de


incongruência, estando vulnerável ou ansiosa;

3 – Que a segunda pessoa, a quem chamaremos de terapeuta, esteja


congruente ou integrada na relação;

4 – Que o terapeuta experiencie consideração positiva incondicional pelo


cliente;

5 – Que o terapeuta experiencie compreensão empática do esquema de


referência interno do cliente e se esforce por comunicar esta experiência ao cliente;

6 – Que a comunicação ao cliente da compreensão empática do terapeuta e


da consideração positiva incondicional seja efetiva, pelo menos num grau mínimo.

Para Rogers, nenhuma outra condição é necessária: “Se estas seis condições
existirem e persistirem por um período de tempo, isto é o suficiente. O processo de
mudança construtiva da personalidade ocorrerá” (Rogers, in Wood, 1995 p. 160).

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As três atitudes facilitadoras foram amplamente discutidas ao longo da obra de
Rogers. O autor, no entanto, chama a atenção sobre a necessidade de que estas
atitudes sejam percebidas pelo cliente, pelo menos em grau mínimo.

PSICOTERAPEUTA CENTRADO NA PESSOA

Assim como em tudo na Abordagem Centrada na Pessoa, é valorizada além


da aceitação e do acolhimento a autenticidade, ou seja, ou o psicoterapeuta dentro
da sua autenticidade partilha dos princípios centrados na pessoa, ou não. Não existe
meio termo.

Isso não significa que um psicoterapeuta centrado na pessoa deverá proceder


como Rogers procedia, a Abordagem Centrada na Pessoa tem uma proposta de
ajuda onde, desde que em sua maneira de ser o psicoterapeuta preserve a empatia,
a congruência, a aceitação incondicional, creia no potencial do outro através da
tendência atualizante, rejeite a manipulação, a interpretação e o condicionamento, ele
estará exercendo ajuda ao cliente de maneira centrada na pessoa.

Para a Abordagem Centrada na Pessoa, o conhecimento do psicoterapeuta


tem importância, mas a sabedoria tem um peso especial na relação de ajuda. Isso
significa que, muitas vezes o psicoterapeuta através de seu conhecimento cria uma
relação vertical, entre si e a pessoa que busca ajuda e naturalmente construa uma
barreira perdendo a disponibilidade real em ouvir o outro desprovido de técnica.

Para a Abordagem Centrada na Pessoa ou o psicoterapeuta vê sentido


nesses pressupostos e nesse jeito de ser, ou não haverá condições de existir ajuda
dentro da postura centrada na pessoa, pois caso o psicoterapeuta se utilize das
posturas citadas, sem que isso faça sentido para ele, naturalmente ele estará se
apropriando delas como técnica e a ACP é a não técnica. É um jeito de ser permeado
pela relação autentica por parte do facilitador.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A terapia centrada na pessoa e, mais genericamente, a Abordagem Centrada


na Pessoa assentam numa visão do Homem como um ser essencialmente livre e com
o poder de reagir ativamente às situações que o constrangem na sua auto
determinação, que tentam abafar a sua individualidade prendendo-o a esquema
rígidos de comportamento e de pensamento, em suma, que restringem a sua
evolução e crescimento pessoais. Tem ainda como hipótese nuclear que a tendência
para o crescimento é natural e universal, impulsionando o indivíduo no sentido de
procurar realizar as suas potencialidades numa existência caracterizada pela
autenticidade.

A terapia centrada na pessoa propõe-se assim como um meio de criar as


condições interpessoais favoráveis à dissolução dos obstáculos que impedem a livre
expressão deste potencial construtivo e que conduzem ao desequilíbrio psicológico e
ao desajustamento social. Pela sua natureza fenomenológico existencial, elege o
ponto de vista fenomenal do cliente como único critério e modo de conhecimento,
dando especial ênfase à experiência imediata e pré-reflexiva.

A relação terapêutica que se estabelece com base em tal conjunto de


premissas implica uma importante redefinição do papel do terapeuta. Mais do que
pelas técnicas ou instrumentos que utiliza, o terapeuta define-se pelas atitudes que
transporta para a relação e que constituem o verdadeiro fator impulsionador da
mudança. Tendo em conta os princípios que justificam e dão sentido a tais atitudes,
elas não são concebíveis na ausência de uma participação pessoalizada do terapeuta
na relação. O genuíno interesse e valorização da pessoa e da experiência do cliente,
a confiança na sua capacidade em superar as incongruências, o respeito pelo seu
direito de ser livre em qualquer escolha que faça, não são susceptíveis de serem
reduzidas a fórmulas prontas a aplicar de forma mecânica e impessoal. A
autenticidade do terapeuta é fundamental numa relação que é, deste modo, sobretudo
humana.

Para a compreensão da comunicação na obra rogeriana fez-se necessário


analisar a configuração da relação terapêutica e as noções de congruência,
experiência e consciência nas fases que compõem a trajetória do pensamento deste

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autor. São elas: a fase não diretiva; a reflexiva; a experiencial e a coletiva ou inter-
humana.

Em um primeiro momento, a comunicação segue um fluxo unidirecional, o do


cliente. Na fase seguinte, ocorre uma bilateralização do fluxo comunicacional, com
uma maior expressão do terapeuta, embora sendo restrita a expressões eficazes ao
processo do cliente. Na fase experiencial tem-se a compreensão de uma
comunicação de mão-dupla, um duplo movimento de expressão e escuta, que
acarreta uma maior escuta de si e do outro concomitantemente, gerando um fluxo
mais igualitário. Já no último período, encontra-se uma comunicação mística ou
transcendental, presente nos momentos de comunicação intensa dos estados
alterados de consciência. Nestes, ocorre uma maior entrega do terapeuta à sua
intuição e à complexificação, levando à transcendência da relação terapêutica.

Percebeu-se, ao longo desse percurso, uma ampliação das expressões e


pessoalidade do terapeuta, com o redimensionamento de sua congruência; uma
mudança de foco do cliente para a relação e, depois, sua extrapolação por uma via
transcendente; uma maior fluidez teórica e conceitual, com a possibilidade de
referência à experiência imediata e modificações na noção de consciência, permitindo
acessibilidade à experiência sentida e, posteriormente, um compartilhamento da
experienciação coletiva nos estados alterados de consciência.

Conclui-se que, na Abordagem Centrada na Pessoa, a comunicação


terapeuta-cliente deve ser compreendida não como um conceito único, mas segundo
as diferenças estabelecidas em cada fase do pensamento rogeriano. A compreensão
do processo de comunicação a partir da contextualização de cada fase permite um
melhor entendimento e ampliação das possibilidades de reflexão crítica acerca da
comunicação terapêutica vivenciada atualmente por psicoterapeutas dessa
abordagem. Esses profissionais se inspiram em diferentes fases da teoria rogeriana
para a sua prática. Estudos posteriores sobre essa temática fazem-se necessários,
para explorar as diferentes formas de comunicação possíveis no setting terapêutico,
dentre as verbais e não-verbais, assim como as implicações terapêuticas e éticas dos
modelos de comunicação terapeuta-cliente adotados pelos psicoterapeutas em sua
prática.

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