Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
NEUROBIOLOGIA
SAÚDEDA ANSIEDADE
Copyright © Portal Educação
91p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8241-74-0
CDD 616.8522
SUMÁRIO
6.5 A serotonina.............................................................................................................................77
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................80
3
1 O QUE É ANSIEDADE: DEFINIÇÕES
Nas últimas décadas, o tema tem sido alvo de inúmeros estudos. As palavras dos
autores Dractu e Lader (1993) representam de forma clara o crescente aumento do interesse
sobre o tema:
“se a ansiedade não dá sossego aos homens, os homens, em resposta, resolveram não dar
sossego à ansiedade”
1) Manual de Diagnóstico e Estatística, quarta edição, publicado pela Associação Psiquiátrica Norte Americana
e 2) Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento do Código Internacional das Doenças, décima
edição, publicado pela Organização Mundial de Saúde.
Como dito acima, a ansiedade é considerada uma resposta habitual do ser humano ao
meio em que vive e às situações que vivencia. Do ponto de vista biológico, se ela está presente
até os dias atuais como um padrão de comportamento humano significa que possui alguma 15
Medo de barata, medo de voar de avião, medo do mar, medo de lagartixa, medo de
altura. Esses são, entre tantos outros, medos muito comuns. No entanto, o medo direcionado a
determinada situação somente passa a constituir um quadro de fobia específica quando
influenciar decisivamente a vida e a saúde do indivíduo.
Fobias específicas são caracterizadas pelo medo intenso e pavor, muitas vezes
paralisante, de determinadas situações, altamente específicas, ainda que a situação
desencadeante seja inofensiva e o medo pareça irracional.
Da mesma forma como ocorre nos demais transtornos de ansiedade, esse medo é um
medo persistente, excessivo e, na maioria das vezes, irracional.
Em função disso, a pessoa passa a evitar inúmeras situações com medo de que a
situação fóbica se apresente - o que interfere diretamente em seu fluxo de vida, ou acaba
limitando suas ações. Tanto o medo intenso da possível ocorrência da situação fóbica quanto o
comportamento de evitar inúmeras condições, fazem com que a rotina dessas pessoas seja
significativamente alterada, bem como seus relacionamentos, aumentando ainda mais o quadro
de angústia gerado por esse transtorno de ansiedade.
Até o início da década de 90, a fobia específica era chamada de fobia simples,
principalmente em função do DSM-IV assim classificar esta condição. Após a renomeação, em
sua quarta edição, a fobia específica passou a ser subdividida em cinco tipos principais: 1) fobia
específica tipo animal; 2) fobia específica tipo ambiente natural; 3) fobia específica tipo sangue-
injeção-ferimentos; 4) fobia específica tipo situacional; e 5) fobia específica de outro tipo não
classificado. Os critérios diagnósticos do DSM-IV para fobias específicas são os seguintes:
D – As situações temidas são evitadas ou são vividas com intensa ansiedade e desconforto;
F – Em pessoas com menos de 18 anos, a duração deve ser de pelo menos seis meses;
O tratamento mais eficaz para as fobias específicas tem sido a exposição sistemática
ao objeto ou situação fóbica, quando o indivíduo é exposto à fonte de pavor. Geralmente, são
realizadas sessões semanais de exposição gradual até a resolução do problema. Atualmente,
com o desenvolvimento da tecnologia, exposições a situações fóbicas por meio de realidade
virtual têm sido empregadas com sucesso.
Embora o termo “fobia social” tenha sido cunhado em 1903, para designar o medo que
algumas pessoas têm de serem observadas enquanto realizam tarefas, o transtorno de fobia
social somente passou a ter mais importância a partir da terceira edição revisada do DSM. A
fobia social é um transtorno de ansiedade caracterizado pelo medo de ser observado ou
analisado pelos outros, ou ainda pelo medo do embaraço durante a interação com outras
pessoas, ou em situações de exposição pública.
Em função de muitas dessas situações não poderem ser evitadas, a pessoa acometida
pela fobia social apresenta intensas manifestações de ansiedade, o que fornece uma leve
perspectiva do grande sofrimento individual experimentado por esses pacientes. A fobia social
pode ser classificada em dois subtipos: generalizada e não generalizada.
Pelo contrário, muitas vezes interpretam a grande dificuldade de interação com outras
pessoas como falta de sociabilidade ou até mesmo como uma fraqueza ou falha de caráter. Isso
demonstra o duplo sofrimento experimentado pelos fóbicos sociais: sofrem com o medo que
sentem da possível interação com outros e sofrem pelo julgamento que é feito deles pela grande
maioria das pessoas.
Os próprios clínicos de outras áreas, que não a Psiquiatria, muitas vezes subestimam
ou sub-reconhecem um quadro de fobia social. Isso é preocupante, uma vez que o diagnóstico
precoce pode evitar o desenvolvimento de comorbidades, favorecendo um melhor prognóstico.
Estima-se que a prevalência de fobia social ao longo da vida fique entre 10 e 15%,
sendo o terceiro transtorno psiquiátrico mais comum na prática clínica, ficando atrás da
depressão e da dependência ao álcool. 28
Na prática médica, costuma ser a razão primária para a busca de tratamento, embora o
desenvolvimento de comorbidades psiquiátricas, como depressão, pânico ou abuso de
substâncias, acabem muitas vezes por ser o principal motivo para buscar tratamento médico.
Apenas a título de exemplo, um estudo realizado em 1998 mostrou que 70% dos
pacientes com fobia social estudados relataram que o quadro fóbico se iniciou antes do
alcoolismo, sendo que 60% destes bebiam deliberadamente para suportar a fobia, o qual reforça
a hipótese da automedicação. 29
Com relação à transmissão genética, sabe-se que familiares de pacientes com fobia
social apresentam o mesmo diagnóstico com uma freqüência maior que familiares de pacientes
com síndrome do pânico ou que pessoas sadias.
É necessário fazer uma diferenciação entre pessoas que sofrem com timidez excessiva
e aquelas que possuem fobia social.
Nesse contexto, três classes de fármacos têm se mostrado eficazes na fobia social: os
betabloqueadores (em casos de fobia social não generalizada, ou seja, circunscrita a uma
determinada situação) e os benzodiazepínicos e antidepressivos (em casos de fobia social
generalizada).
Melvin sofre deste transtorno, o que significa dizer que sua vida é delineada em função
das manias que desenvolveu ao longo dos anos. Apenas a título de exemplo, Melvin tem, em
seu armário do banheiro, uma dezena de sabonetes, uma vez que utiliza cada um apenas uma
vez, jogando-o no lixo em seguida. 31
Outra mania sua diz respeito ao número de vezes que precisa verificar se a porta está
trancada antes de ir se deitar. A posição dos chinelos à beira de sua cama também deve estar
precisamente correta, entre outras manias apresentadas pelo personagem.
Embora provoque risos e surpresas, é fácil perceber, ao assistir o filme, como esse
quadro psiquiátrico acaba por afastá-lo do convívio com outras pessoas, as quais o consideram
um excêntrico, ou apenas uma pessoa muito esquisita, e isso vai trazer problemas mais sérios à
sua vida. É uma sugestão de filme que vale a pena assistir para se compreender um pouco mais
das características sintomáticas do TOC, embora esteja representada anedoticamente.
para identificação deste quadro psiquiátrico, estando o diagnóstico vinculado apenas à avaliação
clínica. Entretanto, é importante ressaltar que, apesar dos casos mais típicos de TOC em geral
não serem de difícil identificação, trata-se de um quadro que faz fronteira com vários outros
transtornos mentais, o que pode dificultar seu diagnóstico diferencial.
Eles podem fazer parte da apresentação clínica de outro transtorno primário, como
depressões, esquizofrenias e demências. Podem também ser manifestações normais de 33
determinadas fases da vida, como os rituais na hora de dormir observados na infância e outros
rituais presentes durante a gravidez e puerpério, tais como pensamentos intrusivos sobre a
saúde do feto ou rituais de verificação de bem-estar do recém-nascido.
Por isso, assim como no caso dos outros transtornos psiquiátricos mencionados nesta
apostila, torna-se extremamente importante o treinamento médico adequado para fazer o preciso
diagnóstico de uma real condição de TOC.
A maioria dos estudos existentes considera o surgimento dos sintomas como a idade
de início do transtorno; outros consideram o início do incômodo causado pelos sintomas ou a
primeira vez em que o paciente procurou ajuda profissional como a idade de início.
Essa demora talvez possa ser explicada, em parte, pelo caráter secreto e reservado
dos sintomas, que faz com que os pacientes evitem ao máximo o contato com psiquiatras e só
procurem auxílio quando a intensidade do quadro se acentue a tal ponto que os familiares e 34
amigos precisem intervir.
Estudos sobre a evolução dos quadros obsessivos demonstram que ela é crônica na
maioria das vezes, sendo raros os períodos de remissão completa dos sintomas. Os sintomas
obsessivos, ainda, apresentam flutuações, com períodos de melhora e piora, sem que ocorra
remissão completa na maioria dos casos.
Existem evidências de que, na fase adulta, o curso do TOC pode ser mais episódico e
menos grave em mulheres do que em homens. Além disso, mulheres com TOC podem ter um
início mais agudo do transtorno do que homens, o que facilitaria tanto o diagnóstico quanto o
tratamento. No período da infância, entretanto, parece haver uma preponderância do transtorno
em meninos.
Alguns estudos epidemiológicos sugerem que o TOC seja menos raro do que se
supunha anteriormente e, segundo a Organização Mundial da Saúde, é atualmente a décima
causa de incapacitação no mundo.
A influência de fatores genéticos na etiologia do TOC tem sido investigada por meio de
estudos de famílias, estudos com gêmeos e, mais recentemente, estudos de genética molecular.
dos sintomas, além de diminuir o risco de recaída após o término do tratamento medicamentoso.
No entanto, o tratamento com tais medicamentos deve ser feito apenas quando os
sintomas apresentam-se muito graves, ou quando houver risco de suicídio ou quadro depressivo
muito pronunciado. Além disso, é importante ressaltar que, com os tratamentos disponíveis,
muitos pacientes podem esperar melhora significativa ao longo do tempo, mas muito raramente
ocorre a remissão completa dos sintomas.
36
Sentimentos de estar revivendo a situação indefinidas vezes;
Comportamento de evitação a situações ou estímulos que lembrem a situação
traumática;
hiperexcitabilidade associada a essas condições;
Embotamento afetivo;
Intenso e constante medo, horror e sentimento de impotência;
Diminuição do interesse geral em relação às pessoas ou situações;
Sintomas persistentes de ansiedade que não estavam presentes antes do
trauma.
Para o diagnóstico do TEPT, esses sintomas devem ocorrer em conjunto e persistir por
no mínimo três meses. Muitas vezes, ocorre uma latência entre a ocorrência do evento
traumático e o aparecimento dos sintomas. O indivíduo sente-se como se estivesse revivendo o
evento traumático indefinidamente, o que é vulgarmente chamado de flashback. Neste momento,
as sensações psíquicas e físicas experimentadas são exatamente as mesmas que se teve no
momento exato do trauma psicológico. Geralmente, a pessoa tende a evitar ativamente
situações e conversas associadas ao evento e, adicionalmente, desenvolve um medo extremo,
verdadeiro pavor, de que venha a ocorrer novamente, consigo ou com outros.
“Aquele dia poderia ter sido apenas mais um, mas na realidade ele mudou
completamente minha vida. Estava com meu pai em um pequeno
supermercado perto de casa e, quase já saíamos, quando apareceram
dois indivíduos encapuzados. Foi tudo muito rápido. Apontaram suas
armas para nós, que estávamos no caixa, e deram uma coronhada no
dono do mercadinho para intimidá-lo. Meu pai, por puro reflexo, tentou
ampará-lo e acabou levando dois tiros. Enquanto ele estava caído,
sangrando muito, um dos ladrões mantinha sua arma em minha cabeça e o
outro roubava. Fui levado como refém, sofrendo ameaças de morte
constantes. Após rodar duas horas pela cidade e ter que sacar dinheiro em
caixas eletrônicos, fui abandonado numa avenida muito longe do local
onde eu estava anteriormente. Quando cheguei ao hospital meu pai já
estava morto. Já faz três meses e não consigo esquecer, tenho pesadelos
diários com o ocorrido ,não entro mais em supermercados, não tenho
vontade de sair com meus amigos, falar a respeito de tudo aquilo me faz
muito mal, começo a suar e tremer. Ultimamente, não tenho conseguido
dormir direito. Passei a andar armado, tenho tido algumas visões, parecem
pedaços de um filme que passam em minha mente, flashes do ocorrido.
Desconfio de todos, tenho até medo de atirar em alguém suspeito”
Um dado importante a ser mencionado é que o TEPT pode ser desenvolvido não
somente pela pessoa que vivenciou diretamente o evento traumático. Indivíduos que tenham
testemunhado um evento traumático ocorrido com terceiros, ou pessoas que tenham apenas
tomado conhecimento da ocorrência de um evento traumático, também podem vir a desenvolver
o TEPT.
Acredita-se que o sexo feminino apresenta maior predisposição ao TEPT, uma vez que
o transtorno ocorre em uma proporção de 2:1 em relação ao sexo masculino. Além disso, outros
fatores parecem contribuir ao seu aparecimento, tais como: já ter vivenciado outras situações
traumáticas; ter uma história pessoal ou familiar de outros transtornos psiquiátricos; ter
vivenciado história de separação precoce (seja com relação aos pais e cuidadores, sejam em
relação a companheiros afetivos); ter vivenciado situações traumáticas na infância; entre outros
fatores.
Além disso, parecem existir alguns fatores específicos os quais dispõe o indivíduo a
uma maior vulnerabilidade ou tolerância à ocorrência do TEPT, como fatores que precedem o
trauma (variações genéticas); fatores concomitantes ao trauma (severidade e duração); e fatores
que estão presentes após o trauma (apoio social e compreensão familiar).
Além disso, é importante ressaltar que as pessoas com TEPT tendem a tentar o
suicídio seis vezes mais do que outras pessoas, sendo o transtorno de ansiedade com a maior
relação com tendências suicidas, daí sua elevada importância em termos de tratamento, apoio e
acompanhamento.
Outro aspecto importante em relação à vida produtiva dos indivíduos com TEPT se
refere ao comprometimento no trabalho, o qual é similar ao prejuízo associado às pessoas com
depressão, mas menor que o comprometimento dos indivíduos com transtorno do pânico. Esse
comprometimento refere-se tanto à alta porcentagem de ausências quanto ao fato de que
pacientes com TEPT tendem a se submeter a atividades profissionais que lhes pagam salários
inferiores, em função do fato de se julgarem incapazes de lidar com o estresse provocado por
um trabalho que lhes remunere melhor.
Ele mostrou por meio de investigações com neuroimagem, que a terapia de exposição
e reestruturação cognitiva foi capaz de alterar o funcionamento de determinadas estruturas
cerebrais (diminuição da atividade da amígdala cerebral e aumento da atividade do córtex pré- 40
frontal) em pacientes com TEPT (vítimas de assalto, acidentes graves ou violência sexual).
A resposta de sobressalto, que pode ser interpretada como um “susto” sofrido pelo
animal pode ser eliciada por diferentes tipos de estímulos, tais como estímulo sonoro
(sobressalto acústico), estímulo visual ou estímulo táctil. Uma resposta típica de sobressalto é
composta por uma contração muscular súbita de diferentes músculos do corpo e, possivelmente,
essa reação tem como função biológica reduzir a latência para a fuga, ou proteger-se contra o
ataque de um predador.
O teste do sobressalto potencializado pelo medo foi proposto pela primeira vez no ano
de 1951, por Brown, Kalish e Farber, e consiste no seguinte conceito: os animais (geralmente
roedores) são colocados em uma caixa de condicionamento, contendo uma luz sinalizadora e
fontes de estímulos aversivos, geralmente uma fonte de choque e uma fonte sonora capaz de
alcançar um forte estímulo sonoro. A cada vez que a luz acende, o estímulo aversivo é aplicado.
Ou seja, ao acendimento da luz segue-se um choque de pequena intensidade.
Esse procedimento é pareado até que haja condicionamento, ou seja, até que o animal
aprenda que a luz indica algo aversivo virá na seqüência – o choque. Isso quer dizer que um
estímulo neutro – a luz – tornou-se aversivo por meio de condicionamento, passando a ser um
estímulo condicionado. Esse condicionamento é o que, em Psicologia, chama-se de 46
condicionamento Pavloviano, quando um estímulo inicialmente neutro produz respostas
defensivas após sua associação repetida com um evento aversivo.
Neste teste, observou-se que após o condicionamento da luz com o choque, o animal,
ao ver a luz se acender e, seqüencialmente, ouvir um som intenso, apresenta uma resposta de
sobressalto com uma amplitude cerca de 50 a 100% maior do que se o som tivesse sido
apresentado sozinho, sem a presença da luz.
Uma das vantagens do teste do sobressalto potencializado pelo medo é que ele
permite a produção de respostas aversivas muito semelhantes em animais e humanos. Outra
vantagem diz respeito ao fato da resposta de sobressalto ficar sobre controle do experimentar.
Isso quer dizer que, num experimento típico de sobressalto potencializado pelo medo,
o estímulo eliciador do sobressalto pode ser apresentado a qualquer momento, funcionando
como um sinalizador das alterações emocionais, fornecendo, assim, informações sobre a
contribuição de diferentes estados afetivos na manifestação de respostas de medo ou
ansiedade.
A resposta de sobressalto (a um som) potencializada pelo medo (de uma luz) é
bastante influenciável por fármacos, e também pode ser uma medida de ansiedade
antecipatória. O fato de ser bastante influenciável por fármacos com atividade sobre o sistema
nervoso central quer dizer que o valor do sobressalto pode aumentar ou diminuir quando o
animal é tratado com diferentes categorias de compostos. Espera-se que, ao ser tratado com um
composto ansiolítico (que diminua, portanto, a ansiedade), o animal apresente uma menor
resposta de sobressalto quando comparado a um animal que recebeu uma substância inerte, 47
48
Teste: sessão barulho sozinho
Enquanto que no teste de punição da pressão à barra, assim como em outros testes
animais, de ansiedade, o comportamento aversivo é produzido por meio de uma punição que
levaria à supressão do comportamento condicionado por reforço positivo.
Se não pressionar, não levará o choque, mas também não receberá comida, ficando
com fome. Essa situação conflitante gera, no animal, um estado de medo e desconforto.
Nesse modelo, considera-se a resposta de liberação do comportamento punido (ou
seja, apertar a barra mesmo que receba o choque) como um bom preditor de atividade
ansiolítica, uma vez que os efeitos de ansiolíticos considerados clássicos, como os
benzodiazepínicos e compostos barbitúricos, são facilmente detectáveis neste teste.
Controlador de intensidade
53
do choque
Grades elétricas
Bebedouro
O teste da hipertermia induzida por estresse baseia-se, como o próprio nome sugere,
na elevação da temperatura de animais de laboratório, principalmente camundongos, em
situações em que são submetidos a algum tipo de estresse. Foi desenvolvido inicialmente em
1989 por Borsini, Lecci, Volterra e Meli, embora atualmente seja utilizado com muitas
modificações no protocolo inicial proposto por tais autores.
A hipertermia é parte integrante do repertório de respostas individuais dos animais a
situações percebidas como estressantes. Esse fenômeno é mediado pelo sistema nervoso
autônomo e ocorre antes e durante a exposição a situações as quais geram ansiedade. Em 54
formas patológicas humanas, representa um dos sintomas do distúrbio de ansiedade.
Realmente, a hiper-reatividade autonômica, quando presente de forma exacerbada, representa
um dos itens de diagnóstico da ansiedade generalizada presente no DSM em sua quarta revisão.
Além disso, é uma medida que pode ser muito útil como modelo animal, podendo ser utilizada
para testar drogas com potencial de inibição desta hiper-reatividade autonômica.
O teste da hipertermia induzida por estresse, em camundongos, é um paradigma
desenvolvido há alguns anos para representar a expressão da hiper-reatividade autonômica
presente em quadros de ansiedade. Neste paradigma, o fenômeno é explorado da seguinte
forma: após a remoção individual dos camundongos, um por vez, de uma caixa-moradia, um
aumento gradual da temperatura dos animais pode ser observado. Esta elevação da temperatura
corporal é interpretada como um sinal de ansiedade antecipatória experimentada pelos animais
que foram removidos primeiro. O teste da hipertermia induzida por estresse já foi validado
farmacologicamente e, atualmente, é considerado um paradigma robusto e reprodutível com
grande sensibilidade a compostos ansiolíticos atualmente disponíveis no mercado. Além disso,
tem apresentado grande sensibilidade para a identificação de novos compostos com tal ação.
Em sua forma original, no entanto, o paradigma da hipertermia induzida por estresse
mostrava-se muito trabalhoso e, mais importante, necessitava de uma quantidade extremamente
grande de animais. Felizmente, em uma modificação do modelo em camundongos, descrita em
1997, os animais passaram a ser alojados individualmente, e não mais em grupos. Isto tornou o
modelo mais acessível para a avaliação rápida de compostos com atividade tipo-ansiolítica.
Atualmente, o modelo tem sido utilizado da seguinte forma: os animais são alojados
individualmente em suas caixas-moradias um dia antes da realização dos experimentos. No dia
do teste, os animais são tratados com o composto o qual se pretende investigar a ação central e,
em diferentes intervalos do tempo, é realizada a medida da temperatura retal de cada animal,
com o auxílio de um termômetro digital conectado a um probe. Em animais controles, a
temperatura tende a se elevar em resposta ao estresse representado tanto pelo tratamento em
si, quanto pelo procedimento de medição. Animais tratados com compostos ansiolíticos, como o
benzodiazepínico diazepam, por exemplo, não apresentam essa resposta hipertérmica, ou seja,
sua temperatura corpórea se mantém no nível basal. Essa resposta é considerada um índice
seguro de ação do tipo ansiolítica.
A B
58
A: Labirinto em cruz elevado construído em acrílico, com as paredes dos braços fechados transparentes. B:
Labirinto em cruz elevado construído em madeira. C: Exemplo de situação experimental, com filmagem da
sessão-teste (modificado de Dawson e Trickelbank, 1995).
É importante ressaltar que este modelo, bem como os primeiros estudos de sua
validação farmacológica, foi idealizado por um grupo de pesquisadores brasileiros na Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo. Representa
uma das muitas contribuições que diferentes pesquisadores brasileiros têm feito a respeito do 60
estudo das bases neurofarmacológicas dos transtornos de ansiedade. A figura abaixo apresenta
a modificação feita no labirinto em cruz elevado, para a criação do labirinto em T elevado.
Fechamento do
braço fechado
Muitos autores têm utilizado versões modificadas do modelo inicial. Tais modificações
podem ser de natureza estrutural, tal como alterações no tamanho da caixa, adição de um túnel
entre os dois compartimentos, ou adição de um sistema computadorizado de coleta das
informações. Outras alterações também têm sido utilizadas, desta vez nos tipos de parâmetros
utilizados como índices de ansiedade. Neste sentido, alguns autores relatam o tempo de
permanência no compartimento claro do modelo como sendo a medida capaz de fornecer um
índice relativamente seguro de ansiedade, enquanto que a medida do número de transições
entre compartimentos estaria correlacionada à atividade motora dos animais. A figura a seguir
apresenta uma das versões do equipamento utilizado no teste da transição claro-escuro.
62
Compartimento
escuro
Porta divisória
Compartimento
claro
Como foi discutido no módulo I desta apostila, o medo e a ansiedade são emoções
correlacionadas; ambos têm suas raízes nas reações de defesa dos animais e, portanto, estão
baseados no instinto de sobrevivência que determina estratégias de defesa contra perigos 63
comumente encontrados no ambiente em que vivem. O conjunto de respostas, comportamentais
e neurovegetativas, apresentadas tanto pelos seres humanos quanto por mamíferos de outras
espécies, parecem ser bastante semelhantes e, de forma simplificada, baseiam-se em um
espectro contínuo de respostas que variam do extremo “luta” ao extremo “fuga”, passando por
diferentes nuances neste percurso. Se as respostas observadas são assim semelhantes, é de se
esperar que as bases neurobiológicas desses comportamentos também o sejam.
E é baseado nesta perspectiva evolutiva, instituída pela primeira vez pelo naturalista
Charles Darwin, que os estudos sobre a ansiedade continuam a ser desenvolvidos,
principalmente no âmbito da investigação das bases neurobiológicas do medo em animais
experimentais. Portanto, o conhecimento atual sobre as estruturas cerebrais envolvidas na
regulação da ansiedade foi, e continua a ser, construído, em grande parte, sobre evidências
experimentais, obtidas tanto em seres humanos quanto em animais de laboratório.
Considerando que a ansiedade é originada a partir do repertório comportamental de
defesa do indivíduo frente a situações consideradas ameaçadoras, para compreendê-la é
necessário, primeiramente, conhecer esse repertório de defesa. E nada melhor do que identificar
nossas próprias reações em determinadas circunstâncias para compreender o que acontece no
organismo humano em situações consideradas ameaçadoras. Para tanto, faremos um exercício
de simulação, procurando identificar as emoções evocadas em diferentes situações.
Suponha, portanto, que você esteja dormindo em sua casa, sozinho, e que no meio da
madrugada tenha acordado com um barulho vindo de outro cômodo. Neste momento, o seu
cérebro processa essa informação como um perigo em potencial, ou seja, pode ser que tenha
um intruso lá – perigo! – mas você não tem certeza se tem ou não – por isso, potencial. A
tendência natural da maioria das pessoas seria procurar saber qual a origem do barulho – saber
se tem ou não tem um intruso ali. Para isso, muito provavelmente você se levantará
cautelosamente da cama, pegará algo que sirva como um instrumento de defesa (pode ser até o
abajur) e se direcionará, na ponta dos pés, em profundo silêncio e com intensa tensão muscular,
até a fonte do barulho.
Procure visualizar essa cena, prestando atenção aos componentes comportamentais e
fisiológicos evocados: olhos bem abertos, dilatação da pupila, coração acelerado, aumento da
freqüência respiratória, musculatura contraída, comportamento cauteloso, atenção a todos os
possíveis movimentos, entre outras características. Você vai até a sala e percebe que o barulho
foi originado por um quadro que, acidentalmente, se soltou do prego e caiu no chão, provocando
o ruído. Nesse momento, quando você percebe que não há risco real de perigo em sua casa, a 64
postura tensa assumida, aos poucos, vai se desfazendo e o seu corpo vai, lentamente, voltando
ao estado de repouso inicial. Nessa situação fictícia descrita, o perigo foi identificado por seu
cérebro como sendo um perigo POTENCIAL, ou seja, você não sabia se realmente existia.
E, para vir a saber, procurou avaliar a situação, por meio da interpretação dos sinais
ambientais à sua volta. Esse comportamento, evocado quando o perigo é POTENCIAL, pode ser
chamado, portanto, de AVALIAÇÃO DE RISCO.
Agora vamos supor outra situação hipotética, em que você esteja andando sozinho, à
noite, por uma rua escura e deserta. De repente você percebe que, no final da rua, aparece um
vulto humano, com um comportamento suspeito. Nesse momento, em que você está vendo de
longe a ameaça – ela é real, porém distante – você tenderá inibir todos os seus movimentos,
assumindo uma postura de congelamento frente àquela fonte distante de perigo.
É aquele medo que paralisa, que congela, do qual tanto se fala. E, pensando
friamente, talvez seja bom realmente que seus movimentos se congelem. Talvez o seu ancestral
menos cauteloso que, ao invés de congelar os movimentos, continuou a caminhar normalmente,
tenha chamado a atenção do predador e não tenha sobrevivido para gerar descendentes e
contar o final da história... Nessa situação, portanto, em que o perigo é REAL, porém DISTANTE,
a estratégia comportamental evocada parece ser o CONGELAMENTO.
Em uma terceira e última situação hipotética, imagine que você acabou de sair do
banco, onde foi receber o pagamento do seu salário, cheio de contas para pagar, quando
percebe que um garoto pára ao seu lado na tentativa de roubar a sua bolsa ou carteira. Nessa
situação, o perigo também é REAL, mas está próximo, não mais distante como na situação
anterior, e dificilmente você conseguirá escapar. A emoção também muda, em função da
proximidade da ameaça e, nessa circunstância, você muito provavelmente sentirá
instintivamente um entre dois impulsos: LUTAR ou FUGIR. No entanto, como você é uma
pessoa bem informada sobre a violência nas ruas e tem, portanto, condições de analisar a
situação e ponderar sobre as possíveis conseqüências do seu comportamento em uma
circunstância como essa talvez você nem fuja nem lute e, embora com muita raiva, acabe por
entregar sua carteira e o seu salário de um mês de trabalho ao ladrão. Isso embora seu desejo
instintivo fosse, realmente, o de lutar ou de fugir.
Por meio da análise dessas três situações hipotéticas, torna-se fácil compreender
como diferentes estímulos ameaçadores também evocam diferentes estratégias
comportamentais, com diferentes padrões emocionais. Da mesma forma, as diferentes
estratégias comportamentais evocadas, bem como os padrões emocionais associados, 65
relacionam-se à maior ou menor ativação de diferentes estruturas cerebrais, as quais, por sua
vez, compõem diferentes sistemas cerebrais de defesa.
Assim, considerando os exemplos de situações ameaçadoras mencionadas acima, é
simples perceber que a emoção evocada em cada uma delas é diferente, e parece diferir em
função da proximidade do perigo. Pesquisadores que investigam as bases biológicas do
comportamento de defesa puderam correlacionar a emoção evocada à proximidade do perigo,
às estratégias comportamentais de defesa assumidas em cada caso e, também, às possíveis
estruturas cerebrais envolvidas em cada situação. Assim, chegaram à conclusão, por meio da
observação sistemática do comportamento em situações reais e experimentais, que em
situações em que o perigo é considerado apenas POTENCIAL, a emoção evocada parecer ser a
de ANSIEDADE. Em situações em que o perigo é considerado REAL, porém DISTANTE, a
emoção evocada passa a ser o MEDO e, em situações de perigo REAL e PRÓXIMO, as
emoções de RAIVA ou PÂNICO são evocadas.
O pesquisador brasileiro Frederico Guilherme Graeff, professor aposentado
permissionário da Universidade de São Paulo, o qual dedicou sua carreira à investigação das
bases biológicas de transtornos psiquiátricos, principalmente dos transtornos de ansiedade,
sumarizou esses achados em uma tabela semelhante à apresentada a seguir.
Por meio da análise da tabela anterior, percebe-se que diferentes estruturas cerebrais
são decisivas na manifestação de diferentes aspectos do comportamento de defesa,
principalmente as estruturas cerebrais denominadas amígdala, sistema septo-hipocampal,
substância cinzenta periaquedutal e hipotálamo. No entanto, é importante ressaltar que as
estruturas citadas na tabela são aquelas que desempenham um papel determinante em cada
comportamento considerado, sendo que diversas outras estruturas cerebrais participam da
modulação e ajuste desse comportamento, como é o caso do córtex cerebral, especialmente de
sua região pré-frontal. A figura a seguir apresenta, de forma simplificada, a localização
neuroanatômica dessas estruturas no cérebro.
67
68
72
neurocirurgia, reforçaram as evidências experimentais iniciais, uma vez que se observou que,
nesses pacientes, a estimulação elétrica dessas estruturas provocava intensa reação de medo e
pânico, e o indivíduo relatava que sentia como se fosse morrer a qualquer instante. Acredita-se,
com base nas investigações neurofisiológicas realizadas, que das estruturas componentes do
sistema cerebral de defesa, a substância cinzenta periaquedutal desempenha um papel decisivo,
enquanto a amígdala e o hipotálamo parecem desempenhar um papel de moduladores do 73
estado aversivo produzido pelo funcionamento da substância periaquedutal.
Essa crença baseia-se no fato de que lesões produzidas tanto na amígdala quanto no
hipotálamo não afetam o comportamento de defesa de forma significativa; no entanto, se as
mesmas lesões forem produzidas na substância cinzenta, passa a haver um considerável
prejuízo no padrão comportamental de defesa, com o efeito produzido pela ativação da amígdala
ou do hipotálamo sendo praticamente anulados. Um grupo de pesquisadores brasileiros de
Ribeirão Preto, SP, de reputação reconhecida internacionalmente, tem realizado importantes
pesquisas com o intuito de elucidar cada vez mais as bases neurobiológicas do comportamento
defensivo, principalmente o papel desempenhado pelo sistema cerebral de defesa nesse tipo de
comportamento.
Evidências experimentais também têm oferecido contribuições importantes para a
compreensão do papel desempenhado por cada estrutura envolvida no funcionamento do
sistema cerebral de defesa. Assim, existem dados que sugerem que o hipotálamo atue
integrando as informações sobre o repertório comportamental de defesa; já a amígdala atuaria
modulando a resposta comportamental de defesa, a qual, por sua vez, seria gerada pela
substância cinzenta periaquedutal, considerada a estrutura responsável pelo padrão de resposta
agressiva completo.
Ao contrário do sistema de inibição comportamental, o qual parece ser ativado apenas
por estímulos de natureza condicionada, a ativação do sistema cerebral de defesa parece
ocorrer tanto pela presença de alguns estímulos condicionados quanto, principalmente, pela
presença de estímulos incondicionados. Os estímulos incondicionados são aqueles naturalmente
aversivos ao indivíduo, sem necessidade de condicionamento. Assim, estímulos inatamente
ameaçadores, alguns estímulos aversivos condicionados e estímulos nociceptivos (relacionados
à percepção da dor) ativariam a amígdala, a qual, por sua vez, envia projeções tanto para o
hipotálamo quanto para a substância cinzenta periaquedutal.
A ativação do hipotálamo pelo estímulo aversivo (com modulação da amígdala) produz
as alterações hormonais características da reação de medo ou pavor por meio de sua interação
O GABA foi identificado como um constituinte químico cerebral em 1950, mas sua
potência como depressor do sistema nervoso central não foi imediatamente estabelecida.
Neurônios e terminais nervosos GABAérgicos têm sido localizados por meio de métodos de
imunohistoquímica, os quais visualizam a descarboxilase do ácido glutâmico, enzima que
catalisa a síntese do GABA a partir do ácido glutâmico. As principais drogas utilizadas para a
Ainda não foi possível obter efeitos terapêuticos completamente eficazes por meio do 76
uso de agentes que mimetizam a ação do GABA (como o muscimol), que inibem sua recaptação
ativa (como o 2,4-diaminobutirato, o ácido nipecótico e a guvacina), ou que alteram sua taxa de
metabolização (como o ácido amino-oxiacético).
O receptor BZD possui uma farmacologia singular, com a existência de três classes de
ligantes. Existem drogas agonistas, as quais são ansiolíticas, anticonvulsivantes e miorelaxantes
(como o diazepam); drogas antagonistas, as quais não apresentam atividade intrínseca, mas
bloqueiam os efeitos dos agonistas (como o flumazenil); e drogas que funcionam como agonistas
inversos. Estes últimos (como a β-carbolina FG 7142) são ansiogênicos e convulsivantes, tendo
sido demonstrada sua ação ansiogênica inclusive em voluntários sadios.
Os BZDs são capazes de intensificar as ações do GABA, o principal neurotransmissor
inibitório do sistema nervoso central e que modula diversos sistemas funcionais. Acentuam as
ações do GABA em nível pós-sináptico, aumentando a afinidade dos receptores do tipo GABAA
pelo neurotransmissor. Como são moléculas artificiais, a presença de receptores BZDs no
sistema nervoso central indica uma possível existência de substâncias centrais endógenas que
atuam sobre eles, regulando estados de ansiedade normais ou patológicos. Seriam agentes 77
ansiolíticos ou ansiogênicos endógenos se atuassem como agonistas diretos ou como agonistas
inversos, respectivamente.
6.5 A serotonina
hidroxitriptofano não é de fácil detecção cerebral, devido ao fato deste aminoácido ser
descarboxilado rapidamente. Portanto, não é possível alterar níveis cerebrais de 5-HT por meio
da manipulação dos níveis de 5-hidroxitriptofano. A degradação da 5-HT é feita pela enzima
monoaminoxidase, a MAO, resultando em 5-hidroxindolacetaldeído o qual é desidrogenado, em
sua maior parte, por uma aldeído-desidrogenase, resultando no ácido 5-hidroxindolacético (5-
HIAA), o qual é eliminado na urina.
Uma complexa gama de receptores 5-HT tem sido estudada nos últimos anos.
Atualmente, são conhecidas as funções de quatro famílias de receptores 5-HT (5-HT1, 5-HT2, 5-
HT3 e 5-HT4). Agonistas 5-HT possuem uma ampla diversidade química e estrutural, bem como
diferentes propriedades farmacológicas. Esta diversidade não é surpreendente quando se
considera o vasto número de subtipos de receptores 5-HT, agonistas seletivos do receptor.
essas fibras são especialmente importantes na inibição comportamental. De fato, a lesão desse
sistema serotonérgico ascendente resulta na ocorrência de respostas prematuras a estímulos e 79
mesmo em impulsividade. A via serotonérgica ascendente dorsal origina-se principalmente do
núcleo dorsal da rafe e distribui-se para a substância cinzenta periaquedutal e hipotálamo,
reforçando seu papel sobre os comportamentos de defesa afetiva, controlados pelo sistema
cerebral de defesa.
Quando se fala no envolvimento da serotonina em quadros de ansiedade, uma teoria
deve ser mencionada, que é chamada de Teoria de Deakin e Graeff, nomes dos pesquisadores
que a idealizaram. Esta teoria concilia duas correntes antagônicas de pensamento, uma
afirmando que a ativação de sistemas serotonérgicos promovia um aumento da ansiedade
(considerada a teoria clássica serotonérgica) e a outra dizendo o contrário, que a ativação de
sistemas de serotonina diminuía os sintomas ansiosos. Assim, baseados em evidências
experimentais obtidas durante anos de pesquisas, Deakin e Graeff, em 1991, propuseram uma
hipótese dual da ação da serotonina sobre os mecanismos de defesa e, conseqüentemente,
sobre a ansiedade. Essa teoria leva em consideração as diferenças anatômicas e funcionais das
vias serotonérgicas e os diferentes subtipos de receptores envolvidos na ação dessas vias.
Desta forma, os autores sugeriram que a via serotonérgica que inerva a amígdala e o córtex pré-
frontal, atua em situações de perigo potencial ou distal, podendo estar envolvidas em transtornos
de ansiedade antecipatória, tal como o transtorno de ansiedade generalizada. Já a via
serotonérgica que inerva a substância cinzenta periaquedutal, estaria envolvida nas reações de
luta ou fuga em resposta a um perigo proximal e, presumidamente, estaria relacionada ao
transtorno do pânico. Essa teoria explicaria, por exemplo, a eficácia de alguns medicamentos
antidepressivos no tratamento do transtorno do pânico, uma vez que esses medicamentos atuam
restaurando o mecanismo serotonérgico inibitório na substância cinzenta periaquedutal.
Resumidamente, a ativação anormal da amígdala poderia resultar, em termos clínicos,
no transtorno de ansiedade generalizada, enquanto que uma hiperativação da substância
cinzenta periaquedutal ocasionaria o transtorno do pânico.
REFERÊNCIAS
80
ALMEIDA FILHO, N.; MARI, J.J.; COUTINHO, E.; FRANÇA, J.; FERNANDES, J.G.; ANDREOLI,
S.B.; BUSNELLO, E.D.A. Estudo Multicêntrico de Morbidade Psiquiátrica em Áreas Urbanas
Brasileiras (Brasília, São Paulo, Porto Alegre). Revista ABP-APAL, v.14, p.93-104, 1992.
BARNES, N.M.; SHARP, T. A review of central 5-HT receptors and their function.
Neuropharmacology, v.38, p.1083-152, 1999. 81
BORSINI, F.; LECCI, A.; VOLTERRA, G.; MELI, A. A model to measure anticipatory anxiety in
mice? Psychopharmacology (Berl), v. 98, n. 2, p. 207-211, 1989.
BRANDÃO, M.L. Sistema Nervoso Central. In: GRAEFF, F.G. e BRANDÃO, M.L. (Ed.)
Neurobiologia das Doenças Mentais. 5. ed., São Paulo: Lemos Editorial, 1999, p. 35-58.
BRODAL, A. Anatomia Neurológica com Correlações Clínicas. Ed. Roca, 1979, 3ª ed.
BROWN, J.S., KALISH, H.I.; FARBER, I.E. Conditioned fear as revealed by magnitude of startle
response to an auditory stimulus. J. Exp. Psychol., v. 41, p. 317-328, 1951.
BUSNELLO, E.D.; PEREIRA, M.P.; KNAPP, W.P.; SALGADO, C.A.I.; TABORDA, J.G.V.;
KNIJNIK, L. Morbidade psiquiátrica na população urbana de Porto Alegre. J. Bras. Psiquiatr., v.
41, n. 10, p. 507-512, 1002.
CASTILLO, A.R.G.L.; RECONDO, R.; ASBAHR, F.R.; MANFRO, G.G. Transtornos de
ansiedade. Rev. Bras. Psiquiatr., v. 22, s. II, p. 20-23, 2000.
COSTALL, B.; KELLY, M.E.; NAYLOR, R.J.; ONAIVI, E.S. Actions of Buspirone in a Putative 82
Model of Anxiety in the Mouse. J. Pharm. Pharmacol., v.40, p.494-500, 1988.
CRAWLEY, J.N.; GOODWIN, F.K. Preliminary report of a single animal behavior model for the
anxiolytic effects of benzodiazepines. Pharmacol. Biochem. Behav., v.13, p.167-170, 1980.
DARWIN, C. A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais. São Paulo: Companhia
das Letras, 2000.
DARWIN, C. The Expression of the Emotions in Man and Animals. Chicago: The University of
Chicago Press, 1965.
DAVIDSON, C.; STAMFORD, J.A. Evidence that 5-hydroxytryptamine release in rat dorsal raphe
nucleus is controlled by 5-HT1A, 5-HT1B and 5-HT1D autoreceptors. Brit. J. Pharmacol., v.114,
p.1107-1109, 1995.
DAWSON, G.G.; TRICKLEBANCK, M.D. Use of the elevated plus maze in the search for novel
anxiolytic agents. TiPS, v. 16, p. 33-36, 1995.
DEAKIN, J.F.; GRAEFF, F.G.; GUIMARÃES, F.S. 5-HT receptor subtypes and the modulation of
aversion. In: MARSDEN, C.A.; HEAL, D.J. (Eds.) Central serotonin receptors and
psychotropic drugs. Oxford: Blackwell Scientific Publications, 1992, p.147-174.
DEAKIN, J.F.W.; GRAEFF, F.G. 5-HT and mechanisms of defence. J. Psychopharm., v.5, n.4,
p.305-315, 1991.
DRINGENBERG, H.C.; KORNELSEN, R.A.; PACELLI, R.; PETERSEN, K.; VANDERWOLF, C.H.
Effects of amygdaloid lesions, hippocampal lesions, and buspirone on black-white exploration
and food carrying in rats. Behav. Brain Res., v.96, n.1-2, p.161-172, 1998.
FELDNER, M.T.; MONSON, C.M.; FRIEDMAN, M.J. A critical analysis of approaches to targeted
PTSD prevention. Current status and theoretically derived future directions. Behavior
Modification, v. 31, n. 1, p. 80-116, 2007.
FENDT, M.; FANSELOW, M.S. The neuroanatomical and neurochemical of unconditioned fear.
Neuroscience and Biobehavioral Reviews, v. 23, p. 743-760, 1999.
FILE, S.E. Recent developments in an anxiety, stress and depression. Pharmacol. Biochem.
Behav., v.54, p.3-12, 1996.
GELLER, I., SEIFTER, J. The effect of meprobamate, barbiturates, d-amphetamine and
promazine on experimentally induced conflict in the rat. Psychopharmacology, v.1, p. 482–492,
1960.
GENTIL FILHO, V.; LOTUFO NETO, F. Transtorno de Ansiedade (Neuroses). In: ALMEIDA,
O.P.; DRACTU, L.; LARANJEIRA, R. Manual de Psiquiatria. Rio de Janeiro: Editora 84
GRAEFF, F.G. Ansiedade. In: GRAEFF, F.G. e BRANDÃO, M.L. (Ed.) Neurobiologia das
Doenças Mentais. 5. ed., São Paulo: Lemos Editorial, 1999, p. 135-178.
GRAEFF, F.G. Medicamentos Ansiolíticos. In: GRAEFF, F.G. e GUIMARÃES, F.S. (Ed.)
Fundamentos de Psicofarmacologia. São Paulo: Editora Atheneu, 1999, p.123-160.
GRAEFF, F.G.; VIANNA. M.B.; MORA, P.O. Dual role of 5-HT in Defence and Anxiety. Neurosc.
Biobehav. Rev., v.21, n.6, p.791-799, 1997.
GRILLON, C. Startle reactivity and anxiety disorders: aversive conditioning, context and
neurobiology. Biol. Psychiatry, v. 52, p. 958-975, 2002.
HANDLEY, S.L.; McBLANE, J.W. 5-HT drugs in animal models of anxiety. Psychopharmacol.
(Berlin), v.112, p.13-20, 1993.
HANDLEY, S.L.; MITHANI, S. Effects of alpha-adrenoceptor agonists in a maze-exploration
model of “fear”-motivated behaviour. Naunyn-Schmiedebergs Achs. Pharm., v.327, p.1-5,
1984.
HASCOËT, M.; BOURIN, M. A New Approach to the Light/Dark Test Procedure in Mice.
Pharmacol. Biochem. Behav, v.60, n.3, p.645-653, 1998. 85
KAPCZINSKI, F.; CHACHAMOVICH, E.; KNIJNIK, D.Z.; SCHIMITT, R. Fobia social: evidências
biológicas. Rev. Psiq. Clín., v. 27, n. 6, 2000.
KELLY, D. Anxiety and Emotions: Physiological Basis and Treatment. Illinois: Charles C.
Thomas Publisher, 1980.
KESSLER, R.C.; McGONAGLE, K.A.; ZHAO, S. Lifetime and 12-month prevalence of DSM III-R
psychiatric disorders in the United States. Arch. Psychiatry, v.51, p.8-18, 1994.
KNIJNIK, D.Z.; KAPCZINSKI, F.; CHACHAMOVICH, E.; MARGIS, R.; EIZIRIK, C.L. Psicoterapia 86
psicodinâmica em grupo para fobia social generalizada. Rev. Bras. Psiquiatr., v. 26, n. 2, p. 77-
81, 2004.
LECCI, A.; BORSINI, F.; VOLTERRA, G.; MELI, A. Pharmacological validation of a novel animal
model of anticipatory anxiety in mice. Psychopharmacology (Berl), v. 101, n. 2, p. 255-261,
1990.
LeDOUX, J.E. Emotion: Clues from the brain. Annu Rev. Psychol, v. 46, p. 209–235, 1995.
LISTER, R.G. Ethologically-based animal models of anxiety disorders. Pharmacol. Ther., v.46,
p. 321-340, 1990.
LOPES, M.S. Classificação dos Estados de Ansiedade. In: GRAEFF, F.G. e HETEM, L.A.B (Ed.).
Ansiedade e Transtornos de Ansiedade. Rio de Janeiro: Editora MACIEL, L.M.A.; GENTIL
FILHO, V. Transtorno de pânico e alcoolismo – um estudo retrospectivo. Rev. ABP-APAL, v. 10,
n. 1, p. 8-11, 1998.
MANFRO, G.G.; ISOLAN, L.; BLAYA, C.; MALTZ, S.; HELDT, E.; POLLACK, M.H. Relationship
between adult social phobia and childhood anxiety. Rev. Bras. Psiquiatr., v. 25, n. 2, p. 96-99,
2003.
87
MILLAN, M.J.; BROCCO, M. The Vogel conflict test: procedural aspects, -aminobutyric acid,
glutamate and monoamines. European Journal of Pharmacology, v. 463, p. 67-96, 2003.
NUTT, D.J.; GEORGE, D.T. Serotonin and anxiety. In: BURROWS, G.D.; ROTH, M; NOYES JR.,
R. (Eds). Handbook of Anxiety, v.3, The Neurobiology of Anxiety. Amsterdam: Elsevier
Science Publishers, 1990, p.189-221.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação estatística internacional de doenças e
problemas relacionados à saúde – 10ª revisão. 7ª ed. São Paulo: EDUSP, 1999.
88
PEREGRINO, A. Ansiedade Normal e Patológica. In: GRAEFF, F.G. e HETEM, L.A.B. (Ed.).
Ansiedade e Transtornos de Ansiedade. Rio de Janeiro: Editora Científica Nacional Ltda,
1997, p.3-12.
RAMOS, R.T.; BERNIK, M. Transtornos de Pânico. In: GRAEFF, F.G. e HETEM, L.A.B. (Ed.).
Ansiedade e Transtornos de Ansiedade. Rio de Janeiro: Editora Científica Nacional Ltda,
p.271-289, 1997
RODGERS, R.J.; CAO, B.J.; DALVI, A.; HOLMES, A. Animal models of anxiety: an ethological
perspective. Braz. J. Med. Biol. Res., v.30, p.289-304, 1997.
SANDFORD, J.J., ARGYROPOULOS, S.V.; NUTT, D.J. The psychobiology of anxiolytic drugs
Part 1: basic neurobiology. Pharmacol. Ther., v.88, p.197-212, 2000.
89
SCHENBERG, L.C., GRAEFF, F.G. Role of the periaqueductal gray substance in the antianxiety
action of benzodiazepines. Pharmacol. Biochem. Behav., v.9, n.3, p.287-295, 1978.
SENA, L.M. Efeitos da inibição e estimulação do núcleo dorsal da rafe sobre respostas
comportamentais de defesa a estímulos aversivos condicionados e incondicionados.
Ribeirão Preto: Curso de Pós-Graduação em Psicobiologia da FFCLRP da Universidade de São
Paulo, 98p., 2002.
SENA, L.M.; BUENO, C.; POBBE, R.L.H.; ANDRADE, T.G.C.S.; ZANGROSSI JR., H.; VIANA,
M.B. The dorsal raphe nucleus exerts opposed control on generalized anxiety and panic-related
defensive responses in rats. Behavioral Brain Research, v. 142, p. 125-133, 2003.
STEIN, L; WISE, C.D.; BEGER, B.D. Antianxiety action of benzodiazepines: decrease in activity
of serotonin neurons in the punishment system. In: GARATTINI, S. et al. (Ed.).
Benzodiazepines. New York: Raven Press, 1973, p.299-326.
TERRA, M.B.; FIGUEIRA, E.; ATHAYDE, L.D. Fobia social e transtorno do pânico: relação
temporal com dependência de substâncias psicoativas. R. Psiquiatr. RS, v. 25, n. 3, p. 436-443,
2003.
TESS, V.; BERNIK, M. Tratamento farmacológico da fobia social. Rev. Psiq. Clín., v. 27, n. 6,
2000.
90
VAN DER HEYDEN, J.A.M.; ZETHOF, T.J.J.; OLIVIER, B. Stress-induced hyperthermia in singly
VIANA, M.B.; TOMAZ, C.; GRAEFF, F.G. The Elevated T-Maze: A New Model of Anxiety and
Memory. Pharmacol. Biochem. Behav., v.49, n.3, p.549-554, 1994.
VOGEL, J.R.; BEER, B.; CLODY, D.E. A simple and reliable conflict procedure for testing anti-
anxiety agents. Psychopharmacology, v. 21, p. 1–7, 1971.
ZANGROSSI JR., H.; GRAEFF, F.G. Behavioral validation of the elevated T maze, a new animal
model of anxiety. Brain. Res. Bull., v.44, p.1-5, 1997.
ZAUBLER, T.S.; KATON, W. Panic disorder in general medical setting. J. Psychosom. Res., v.4,
n.1, p.25-42, 1998.