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ALTA SENSIBILIDADE

EMOCIONAL

NOVAS PERSPECTIVAS

Helena Polak
Contato com a autora:

helenapolak@terra.com.br

Blog:

http://helenapolak.blogspot.com/

Este livro pode ser adquirido através do site:

www.clubedeautores.com.br

Obrigada a todos que incentivaram e contribuíram


com a elaboração deste livro!!

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I. IDENTIFICANDO A ALTA SENSIBILIDADE
EMOCIONAL...........................................................................6
II. O QUE PODE GERAR COMPORTAMENTOS DO TIPO
BORDERLINE?......................................................................10
III. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO
BORDERLINE........................................................................19
1. Vergonha / Invalidação ...................................................19
2. Raiva................................................................................21
3. Impulsividade ..................................................................22
4. Variações de humor.........................................................24
5. Sensibilidade sensorial / ansiedade .................................24
6. Sensibilidade a crítica......................................................25
7. Interpretação equivocada de emoções.............................26
8. Distorção de “fatos” / memória emocional /
atemporalidade ....................................................................28
9. Atribuição de culpa .........................................................31
10. Medo de abandono / medo de intimidade .....................32
11. Atitude “oito ou oitenta” ...............................................34
12. Ruminação.....................................................................35
13. Depressão / Medicamentos............................................36
14. Insônia ...........................................................................37
15. Problemas de Interação Social ......................................37
16. Autolesão / dor / pensamentos suicidas.........................39
IV. REAÇÃO DAS PESSOAS À SUA VOLTA....................41
V. ABORDAGENS TERAPÊUTICAS ..................................46
VI. EMOÇÕES........................................................................49
VII. LIDANDO COM IMPULSIVIDADE E/OU
DEPRESSÃO ..........................................................................53
1. Táticas para conter impulsos prejudiciais .......................54
2. Táticas para combater depressão.....................................55
3. Outras dicas para inserir uma pausa entre o impulso e o
ato decorrente ......................................................................56
a) Fazer perguntas a si mesma.........................................56
b) Protelar........................................................................57

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c) Procurar distração........................................................57
d) Conversar consigo mesma ..........................................58
4. Táticas a médio e longo prazo.........................................59
a)Fazer papel de repórter.................................................59
b) Usar auto-afirmações ..................................................60
c) Buscar outras fontes de adrenalina..............................61
VIII. NOVAS PERSPECTIVAS.............................................63
1) Reconhecendo distorções cognitivas, como: ..................64
a) Pensamento preto ou branco, oito ou oitenta ..............64
b) Extrapolação/ generalização .......................................64
c) Prisma negativo...........................................................64
d) Conclusões precipitadas..............................................64
e) Tamanho dos problemas .............................................64
f) Raciocínio emocional ..................................................65
g) Projeções do “deveria”................................................65
h) Rótulos ........................................................................65
i) Personalização e culpa .................................................65
2. Modificando as distorções cognitivas .............................66
a) Identifique o tipo de percepção errônea ......................66
b) Examine as provas ......................................................66
c) Fale consigo mesma ....................................................66
d) Busque o meio termo ..................................................67
e) Faça uma pequena pesquisa de opinião ......................67
f) Descreva situações com outras palavras......................67
g) Não assuma toda a culpa.............................................67
h) Não atribua toda a culpa aos outros ............................67
i) Analise o custo-benefício.............................................68
3. Libertando-se de ressentimentos .....................................68
4. Sugestões de outras pessoas para lidar melhor com seus
pensamentos negativos:.......................................................72
IX. APRENDENDO A CONVIVER MELHOR COM OS
OUTROS.................................................................................75
X. CONSOLIDANDO SUA IDENTIDADE..........................85
1. Crenças problemáticas.....................................................85
2. Identificando suas crenças...............................................85

4
3. Reprogramando suas crenças ..........................................88
4. Identificando valores .......................................................89
5. Definindo metas ..............................................................92
XI. LIDANDO COM O ESTRESSE DA ALTA
SENSIBILIDADE EMOCIONAL..........................................96
1. Aprendendo a relaxar ......................................................96
a) Relaxamento muscular progressivo ............................97
b) Meditação....................................................................98
2. Cuidando melhor de si.....................................................99
a) Alimentação ................................................................99
b) Movimentação.............................................................99
c) Sono reparador ..........................................................100
3. Organizando seu tempo.................................................101
XII. DEPOIMENTOS DE ALGUMAS PESSOAS
DIAGNOSTICADAS COM TRANSTORNO DE
PERSONALIDADE BORDERLINE ...................................103
REFERÊNCIAS ....................................................................113

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I. IDENTIFICANDO A ALTA SENSIBILIDADE
EMOCIONAL
 
Você se identifica com a maioria das afirmativas abaixo? 
 
™ Tenho medo de ser abandonada pelos outros 
™ Quando tenho um impulso muito forte, eu o sigo sem 
pensar nas consequencias  
™ Meus relacionamentos são instáveis e problemáticos 
™ Quando penso sobre minha infância, vem a sensação 
de falta de compreensão e carinho, lembranças de 
abuso e trauma 
™ Sinto um vazio interior a maior parte do tempo, uma 
falta de rumo 
™ Tenho problemas com vícios, dependências, 
compulsões, transtornos alimentares, etc. 
™ Meu humor varia de uma hora para outra e até muitas 
vezes no mesmo dia 
™ Frequentemente não consigo controlar minhas 
reações, que são muito intensas 
™ Sinto que o mundo à minha volta é cheio de ameaças 
e pressões e cobranças  
™ Às vezes me acho muito vulnerável e fraca, sinto que 
não dou conta de lidar com a vida 
™ Desconfio que frequentemente incomodo as pessoas, 
que elas não me aceitam como sou 
™ Sofro muito com as palavras e atitudes dos outros, 
pois levo tudo de forma pessoal – e negativa  
™ Tenho problemas de insônia, depressão, ataques de 
pânico, de ansiedade.  

 
 
 

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Veja como a renomada escritora Pearl Buck descreve uma pessoa 
altamente  criativa  que  já  nasce  com  extrema  sensibilidade 
emocional – para a qual:  

“Um toque é uma pancada,


um barulho é um estrondo,
um revés é uma tragédia,
uma alegria é um êxtase,
um amigo é um amado,
um amado é um deus,
e o fracasso é a morte.”

Se você chega a sofrer com sua extrema sensibilidade emocional, 
é  possível  que  você  apresente  algumas  características  daquilo 
que,  no  seu  conjunto,  é  chamado  (por  falta  ainda  de  um  nome 
melhor)  de  “transtorno  de  personalidade  borderline”  ( 
“bórderláine”, ou simplesmente “bórder”).  
 
O  objetivo  aqui  não  é  rotular  ninguém,  e  sim  identificar  e 
entender da melhor forma possível os fatores que lhe afligem e, 

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com  base  nisto,  partir  para  a  adoção  de  uma  nova  perspectiva, 
adotando atitudes que podem melhorar consideravelmente a sua 
qualidade de vida, atenuando suas angústias e incertezas.  
 
Às vezes a simples constatação de que aquilo que nos atormenta 
tem um nome específico,  possui características específicas, tem 
potencial  de  recuperação,  e  é  compartilhado  por  milhares  e 
milhares  de pessoas  ao  redor  do  mundo,  pode  proporcionar  um 
certo  alívio.  E  essa  identificação  talvez  lhe  permita  partir  mais 
rapidamente  para  o  próximo  passo  –  ok, se é esse o meu problema, o
que posso fazer então para melhorar?  
 
Entretanto,  mesmo  com  toda  a  sua  inteligência  e  percepção, 
poderá haver diversos motivos pelos quais você talvez relute em 
aceitar  de  imediato  essa  possibilidade,  por  considerá‐la 
perturbadora,  depreciativa,  radical,  discriminatória,  pessimista, 
constrangedora, etc.  
 
Em vista da sua experiência de vida e sua alta sensibilidade inata, 
talvez você nao queira aceitar ou admitir que tenha qualquer tipo 
de  “transtorno”  de  personalidade,  ou  comportamental,  ou 
emocional, ou o que seja. Essa reação é perfeitamente normal.  
 
De modo geral, não queremos ser considerados “diferentes”  de 
forma  negativa.  Além  disso,  todos  nós  no  fundo  tememos  que 
algum  profissional  da  área  de  saúde  (seja  mental  ou  física)    nos 
diga que realmente sofremos de algum problema que precisa ser 
analisado,  tratado,  acompanhado,  medicado,  etc.,  ou  que  nos 
diga que temos que fazer algumas mudanças em nosso estilo de 
vida  (como  ter  que  fazer  atividade  física,  ou  parar  de  fumar,  de 
beber,  de  comer  doces,  etc.).  Mudança  é  uma  palavra  chave:  a 
ponte entre o conhecido e o desconhecido. 
 
Se você quiser, pode optar por considerar o conteúdo deste livro 
simplesmente como um conjunto de informações sobre questões 

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emocionais  ou  de  relacionamento,  que  podem  vir  a  ser  úteis  de 
alguma forma.  
 
Mas,  se  você  reconhecer,  nem  que  seja  somente  no  seu  íntimo, 
que  você  efetivamente  possui  algumas  das  características  acima 
descritas,  comuns  ao  transtorno  borderline,  e  sabe  que  suas 
reações  impulsivas  e/ou  negativas  atrapalham  a  sua  vida  e  seus 
relacionamentos  –  então  você  pode  começar  a  trabalhar  suas 
questões com a ajuda das ferramentas oferecidas aqui, como um 
primeiro  passo,  enquanto  você  não  busca  e  encontra  o  apoio 
profissional (e/ou familiar) necessário para progredir mais rápida 
e seguramente na construção de uma vida melhor.  
 
O  importante  é  justamente  dar  o  primeiro  passo,  e  colocar 
intenção no seu progresso e recuperação. Não é um caminho fácil 
–  você  vai  precisar  de  muita  coragem,  perseverança  e  fé. 
Confiança  de  que  você  vai  chegar  a  um  ponto  de  poder 
aproveitar  muito  melhor  sua  vida  como  recompensa  por  este 
esforço.  
 
Quanto  mais  você  protelar  em  analisar  objetivamente  a 
relevância  das  características  e  consequências  da  alta 
sensibilidade  emocional  no  seu  caso,  e  em  tomar  as  medidas 
necessárias para se entender melhor e procurar a ajuda adequada 
para  fazer  as  mudanças  indicadas,  mais  íngreme  e  lento  será  o 
seu  caminho  de  recuperação.  Aproveite  esta  oportunidade  para 
começar a mudar sua perspectiva desde já.  

Observação: Adota-se o uso do feminino ao longo do livro para concordar com a


palavra “pessoa” – embora naturalmente a alta sensibilidade emocional possa
ser encontrada tanto em homens quanto mulheres.

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II. O QUE PODE GERAR COMPORTAMENTOS DO TIPO
BORDERLINE?

Não  há  resposta  simples  para  essa  pergunta.  Existe  um  intenso 
debate  em  andamento  sobre  os  fatores  que  podem  contribuir 
para  a  manifestação  dos  sintomas  do  Transtorno  de 
Personalidade Borderline (TPB), sem que se tenha chegado ainda 
a  um  consenso.  Somente  para  ilustrar  como  que  esse  problema 
tem  sido  relativamente  pouco  estudado  até  agora,  o 
primeiríssimo  congresso  internacional  sobre  Borderline  foi 
realizado apenas em 2010, em Berlim.  
 
Um  dos  novos  nomes  propostos  para  o  distúrbio  é  “Transtorno 
de  Regulação  Emocional”,  pois  é  justamente  a  “desregulação 
emocional”  que  traduz  a  dificuldade  que  a  pessoa  tem  em 
regular,  modular,  controlar,  e  até  reconhecer  e  classificar  suas 
próprias emoções. 
 
Muitas  pesquisas  estão  sendo  conduzidas  sob  diversas  óticas, 
mas de modo geral a constatação é de que  algumas pessoas já
nascem com um certo conjunto de vulnerabilidades
neurobiológicas, as quais podem (ou não) levar a uma
manifestação dos comportamentos associados ao transtorno,
dependendo das experiências pessoais e influências do meio.  
 
Estas  pesquisas  continuam  analisando  a  ação  de 
neurotransmissores,  serotonina,  a  amídala  (parte  do  sistema 
límbico),  as  diferentes  formas  de  perceber  e  processar 
conhecimento  e  emoções,  a  hipersensibilidade  a  estímulos  e 
mudanças,  a  atividade  do  córtex  pré‐frontal,  as  questões 
relacionadas  à  insônia,  resposta  a  dor,  receptores  opióides,  o 
cerebelo, o hipocampo, baixa ocitocina, entre outras.  
 
Existe  uma  grande  diversidade  na  “programação”  individual  –  o 
que, por sua vez – e isto é de suma importância ‐ aponta para o 
potencial de “reprogramar” as reações e atitudes da pessoa com 

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sintomas  Borderline,  principalmente  através  de  terapia,  para 
permitir que tenha uma vida mais tranqüila e equilibrada. 
 
Alguns  tipos  de  comportamento  “menos  comuns”  encontrados 
em  nosso  meio  de  familiares  e  amigos  podem  dizer  respeito, 
talvez,  a  um  tio  impulsivo  e  esbanjador,  uma  tia  que  sofre  de 
depressão, um avô que bebia demais, um primo super tímido, um 
outro  primo  brilhante  porém  imprevisível,  um  parente  muito 
“sistemático”,  outro  extremamente  ciumento  e  possessivo,  um 
colega  que  só  quer  saber  de  aventuras  radicais,  e  assim  por 
diante.  
 
Considerados individualmente, tais traços podem até ser aceitos 
socialmente como hábitos “excêntricos” (embora o alcoolismo, o 
homossexualismo  e  transtornos  de  comportamento,  por 
exemplo,  ainda  carreguem  um  pesado  estigma,  contribuindo 
para  que  as  próprias  pessoas  e  seus  parentes  não  queiram 
comentá‐los abertamente nem buscar ajuda).  
 
Mas,  no  caso  do  Borderline,  pode  ocorrer  a  concentração  de 
diversas  destas  vulnerabilidades  e  características  em  uma  só 
pessoa – o que representa uma carga individual excessivamente 
pesada para se lidar de forma adequada sem alguma espécie de 
ajuda. 
 
Com  uma  boa  terapia  (uma  das  opções  mais  eficazes  sendo  a 
Cognitiva  comportamental,  que  visa  justamente  essa 
reprogramação,  ou  psico‐educação)  e  o  apoio  e  envolvimento 
positivo de pessoas amadas e amigas, e também, muitas vezes, a 
ajuda de medicação adequada, a pessoa com sintomas Borderline 
pode  atingir  um  excelente  grau  de  recuperação.  Relatos 
fascinantes  e  inspiradores  podem  ser  encontrados  em  grande 
quantidade em blogs e vídeos e sites na internet, em livros (como 
The Buddha and the Borderline, por Kiera Van Gelder, BPD Coaching and
Advocacy,  por  A.  J.  Mahari,  Loud in the House of Myself,  por  Stacy 

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Pershall,  por  enquanto  disponíveis  somente  em  inglês),  entre 
outras fontes.  
 
É  interessante  observar  que  muitas  pessoas  com  sintomas 
Borderline  acabam  encontrando  equilíbrio,  satisfação  e 
realização  ao  exercer  atividades  que  envolvem  a  prestação  de 
ajuda aos outros, seja através de enfermagem, assistência social, 
voluntariado, ensino de modo geral, terapia, etc. 
 
Um dos exemplos mais marcantes na área internacional é da Dra. 
Marsha  Linehan,  da  Universidade  de  Washington  nos  EUA, 
pioneira  no  desenvolvimento  e  utilização  da  Terapia 
Comportamental  Dialética,  que  já  ajudou  um  grande  número  de 
pessoas  com  sintomas  borderline  ao  redor  do  mundo  –  sendo 
que  ela  mesma  passou  por  uma  juventude  turbulenta, 
atormentada  por  sintomas  borderline.  Maiores  detalhes  sobre  o 
caso  dela  podem  ser  encontrados  no  site
www.borderlinepersonalitydisorder.com. 

Temos  também  o  caso  amplamente  divulgado  do  jogador  de 


futebol  americano,  Brandon  Marshall,  que  declarou  que  vai 
trabalhar para que o transtorno se torne mais conhecido, e assim 
mais  rapidamente  diagnosticado  e  tratado.  Entre  pessoas  já 
falecidas,  podemos  somente  especular,  mas  aparentemente 
tanto o famoso pintor Van Gogh quanto à Lady Diana sofriam de 
vários sintomas borderline.  
 
No  final  deste  livro  você  encontrará  também  relatos  de  outras 
pessoas  já  diagnosticadas  como  portadoras  do  transtorno  de 
personalidade  Borderline  (ou  seja,  desregulação  emocional), 
ilustrando sua trajetória, suas dúvidas e angústias, sua coragem e 
seus avanços. E você poderá acompanhar também alguns grupos 
excelentes  no  Facebook,  como  Transtorno  de  Personalidade 
Borderline  e  Grupo  de  Portadores  do  Transtorno  Borderline  onde 
as  pessoas  conversam  sobre  seus  problemas,  trocam  idéias    e 
sugestões, encontrando apoio e compreensão, assim como blogs 

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informativos  e  interativos,  tais  como 
http://vidadeumaborderline.blogspot.com/,  e 
http://cafepsicanalitico.blogspot.com/.  
 
Não  devemos  nunca  esquecer  de  que  existem  muitos  níveis  e 
tipos de sintomas Borderline, bem como variadas fases e ciclos e 
combinações de comportamentos. Às vezes, se as circunstâncias 
de  vida  não  desencadeiam  as  fortes  e  negativas  reações 
emocionais  características  do  transtorno,  a  vulnerabilidade 
biológica  pode  permanecer  dormente  por  muito  tempo,  ou 
mesmo latente para sempre, e/ou poderá manifestar‐se de forma 
relativamente branda, e/ou mais passageira.  
 
Além disso, à medida que a pessoa chega aos quarenta, levando 
uma  vida  com  menos  conflitos  emocionais,  registra‐se  uma 
frequente tendência à diminuição dos sintomas de instabilidade e 
impulsividade,  às  vezes  até  sem  tratamento  específico. 
Entretanto,  sem  um  ambiente  estruturado  e  sem  terapia, 
algumas pessoas podem até piorar – portanto, não é a idade em 
si  o  fator  determinante.  Entre  outros  profissionais  a  confirmar 
essa  tendência,  temos  o  Dr.  Erlei  Sassi  Junior,  formado  em 
medicina  e  psicoterapia  pela  Universidade  de  São  Paulo  (USP), 
que  estuda  pacientes  com  transtorno  borderline  há  15  anos  e 
atualmente  coordena  o  Ambulatório  dos  Transtornos  de 
Personalidade  e  do  Impulso  do  Instituto  de  Psiquiatria  do 
Hospital das Clínicas, também na capital paulista.  
 
O  mesmo,  ao  ser  indagado  sobre  as  principais  mudanças 
esperadas  no  Manual  de  Diagnóstico  e  Estatística  de  Distúrbios 
Mentais,  o  DSM‐V,  previsto  para  publicação  em  maio  de  2013, 
respondeu  à  Veja  Online  de  31/07/2011  o  seguinte:  “no  DSM‐V,  a 
principal evolução no diagnóstico do transtorno será a aplicação 
de  questionários  destinados  a  medir  duas  características. 
Primeira:  em  que  medida  o  paciente  se  vê  como  um  indivíduo 
autônomo,  ou  seja,  que  não  depende  dos  outros.  Quanto  mais 
considerar‐se  independente,  menos  graves  são  os  sintomas. 

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Segunda:  a  capacidade  do  paciente  de  colocar‐se  no  lugar  do 
outro. Quanto mais entender as aflições de outra pessoa, menos 
graves  são  os  sintomas.  Desta  maneira,  será  possível  medir  o 
nível  de  intensidade  do  transtorno.  Dependendo  do  grau  da 
doença, o tratamento muda.” 
 
Resumindo  –  não  há  uma  única  causa  específica  do  transtorno 
Borderline,  pois  a  manifestação  dos  sintomas  depende  do 
conjunto  individual  de  vulnerabilidades  e  a 
sequencia/combinação  de  eventos  que  impactaram  aquela 
pessoa.  Por  conseguinte,  é  importante  frisar  que  a  pessoa  que 
apresenta  o  transtorno  não  “tem  culpa”  pelo  aparecimento  e 
manifestação  dos  sintomas  de  Borderline,  e  nem  existe  uma 
figura  exclusiva  a  quem  possa  ser  atribuída  a  “culpa”  pelo 
desenvolvimento  do  transtorno,  entre  pais,  parentes,  parceiros, 
cônjuges ou amigos. 

É  essencial  lembrar  que  todos  nós  temos  momentos  de 


desregulação  emocional.  Porém  alguns  aspectos  que  levam 
certas  pessoas  a  serem  efetivamente  diagnosticadas  como 
portadoras  do  Transtorno  de  Personalidade  Borderline  dizem 
respeito  ao grau em que tais características afetam as suas
vidas e a dos outros, a intensidade e velocidade com que essas
emoções surgem e são expressas, e a demora em retornar para
um estado emocional mais objetivo e tranqüilo.  
 
A  possibilidade  de  que  a  causa  destes  comportamentos 
perturbadores  seja  o  Transtorno  de  Personalidade  Borderline 
deve  ser  contemplada,  avaliada  e/ou  confirmada  por  um 
profissional  da  área  de  saúde  mental,  única  pessoa  com 
competência  para  fazer  o  diagnóstico  preciso  e  oferecer  o 
tratamento e acompanhamento terapêutico adequado.  
 
Entretanto,  geralmente  são  os  familiares  ou  cônjuges  os 
primeiros  a  testemunhar  os  comportamentos  imprevisíveis  e 
impulsivos  apresentados  pela  pessoa  com  alta  sensibilidade 

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emocional  (potencialmente  Borderline),  e,  por  não  terem 
conhecimento suficiente sobre o assunto, ficam sem saber como 
agir  ou  reagir,  onde  e  que  tipo  de  ajuda  devem  procurar,  e  nem 
têm condições de avaliar devidamente se a ajuda encontrada é a 
mais adequada para o caso em questão.  
 
A própria pessoa com sintomas Borderline muitas vezes não sabe 
onde  e  como  procurar  ajuda  para  seus  dilemas  e  angústias, 
principalmente  se  nao  tem  conhecimento  do  conjunto  de 
características  que  pode  indicar  a  presença  do  transtorno.  E 
existem  também  fatores  pessoais,  econômicos,  familiares,  etc. 
que criam obstáculos à sua busca e obtenção da ajuda necessária 
e eficaz. Como resultado, normalmente há uma longa e lastimável 
demora  no  reconhecimento  do  problema  e  na  definição  do 
diagnóstico correto, assim como na posterior disponibilização de 
suporte e tratamento adequado.  
 
Foi justamente pensando neste aspecto – o da frequente
demora em se encontrar ajuda terapêutica eficaz - e
considerando que esse tempo perdido é traduzido em
sofrimento para cada pessoa e sua família - que tomamos a
iniciativa de oferecer uma compilação de “primeiros passos”
para que a própria pessoa com sintomas Borderline possa ir
adquirindo mais consciência e autoconfiança até que consiga
ter acesso ao devido apoio profissional.
 
Pois  o  sofrimento  emocional  é  um  fator  constante  na  vida  da 
pessoa  altamente  sensível,  decorrendo  basicamente  do  fato  de 
carregar  suas  emoções  à  flor  da  pele,  como  se  lhe  faltasse  uma 
importante  camada  protetora  que  a  maioria  dos  outros  possui. 
Ela  vive  num  turbilhão  emocional,  e  por  conseguinte  procura 
aliviar  sua  dor  de  qualquer  forma  disponível  no  momento  – 
mesmo se isto faz com que ela se vire contra os outros ou contra 
si  mesma.  É  como  se  estivesse  literalmente  pegando  fogo  e 
corresse desesperadamente em direção ao rio mais próximo para 
apagar  as  chamas,  nem  que  para  isso  tenha  de  derrubar  todos 
que se encontram em seu caminho.
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Esse  caos  interno  é  descrito  assim  em  primeira  mão  por  uma 
pessoa com sintomas Borderline: 

“Você queria saber o pior sobre mim, as


coisas que não contei para ninguém e
escondi debaixo da superfície. Como posso
explicar? Como posso explicar quem eu
sou, se nem eu mesma sei com certeza?
Como colocar em palavras os piores
aspectos de mim, dos quais tenho fugido
há tanto tempo? Vou lhe contar meus
segredos, vou contar tudo. Pode ser que
isso me ajude. Talvez você me deteste por
isso ou talvez você entenda. Não sei, mas
estou cansada de fugir. Então aqui vai,
vou lhe dar o que você pediu.

Eu te odeio. Isso não é verdade, mas às vezes acho que é. Não atendo o
telefone quando você liga, embora queira falar com você. Não te ligo, mesmo
sendo isso a única coisa que quero fazer. Não vou te procurar, embora todas
as partes de mim queiram fazer isso. Vou sentir raiva de você, vou querer te
magoar, vou te afugentar porque tenho medo que você se aproxime demais.
Preciso de sua atenção constante, seu apoio, mas os receberei com fria
indiferença.

Terei ciúme da atenção que você dá para outros, e terei raiva de você por me
ignorar. Vou me sentir bem carinhosa e próxima de você um dia, somente
para ficar com raiva de você e querer te expulsar da minha vida no dia
seguinte.

Sofro de amnésia emocional, talvez eu tenha sido sempre assim. Vejo cada
evento, cada dia, cada conversa como um evento separado, sempre buscando
sinais de que você possa vir a me magoar. Quando me sinto ignorada, fico
com raiva e esqueço que no dia anterior você me falou quanto que gostava
de mim.

16
Sou um caos inconsistente. Existe uma parte de mim que está feliz e
confiante, e uma outra parte que é insegura e carente. Esses dias, nunca sei
que lado vai vir à tona.

Cada vez que acho que as coisas estão sob controle, que eu sei que você gosta
de mim e me sinto bem com nosso relacionamento, a dúvida e o medo
voltam. Talvez com tempo possam sumir inteiramente, mas tenho minhas
dúvidas. Basta aparecer um novo relacionamento, um novo amigo, um novo
dia, e tudo volta outra vez.

Você pergunta o que pode fazer por mim, e eu não sei o que lhe responder. A
minha parte carente quer sua atenção constante, precisa de suas palavras e
seus pensamentos, de sua presença. Mas sei que isto não é a resposta,
preciso aceitar as limitações em nosso relacionamento. A minha parte
assustada quer você fora da minha vida para facilitar as coisas. A minha
parte detestável quer te magoar e machucar porque acredita que você me
machucou.

Tudo que posso pedir é que você entenda, que não desista. Vou lhe ignorar às
vezes, posso ser grossa com você, posso tentar magoá-lo. Posso me esconder
de você e esperar que você me procure, para que eu sinta que você realmente
se importa comigo.

Não é justo fazer essas coisas com você, mas eu as farei. Não posso lhe pedir
para agüentar isso tudo, não é justo, e, não importa como eu aja, gosto
demais de você para lhe sujeitar a isso tudo. Mas você perguntou, e é isso
que tenho a lhe dizer.

Não gosto disso. Não gosto de ser carente e pegajosa. Não gosto de magoar
as pessoas. Não gosto de ser grossa e sarcástica com as pessoas que me
cercam. Não gosto dessa parte de mim. Durante muitos anos ignorei isso e
fiz de conta que isso era eu, mas entendi agora que eu estava errada. Isso
não é eu – é uma falsa identidade criada para me proteger do mundo.

Não foi fácil chegar a este entendimento, e talvez ainda não o tenha aceito
inteiramente. Mas encontrei o meu caminho, sinto que posso mudar e que
posso aceitar esse lado meu e impedi-lo de se tornar aquilo que sou. Não vai
ser fácil e não vai ser rápido, mas tenho fé que vou conseguir. Talvez um dia
eu me veja como a pessoa que você vê por trás de minhas defesas, e talvez
um dia vou permitir que os outros também vejam aquela pessoa.

17
Isso é dirigido a você, mas você representa muitas pessoas. As pessoas que
estão próximas a mim agora. As pessoas das quais eu quero estar próxima
mesmo as tendo afugentado. Os amigos que afastei no passado, os amigos
que nunca perdoei e nunca permiti voltar para minha vida, os amigos aos
quais nunca tive oportunidade de dizer essas coisas. As pessoas que vou
conhecer no futuro, as pessoas das quais vou gostar até que novamente eu
as empurre para fora de minha vida. A parte de mim que ainda está
tentando entender quem eu sou. Você é estas pessoas todas e muitas mais”.
 
Os  conceitos  abordados  na  seção  a  seguir  estão  descritos 
também  no  primeiro  livro  da  autora,  Sensibilidade à Flor da Pele, 
dirigido  principalmente  a  familiares  de  pessoas  com  sintomas 
Borderline,  porém  são  incluídos  aqui  devido  à  sua  importância 
para o melhor entendimento dos aspectos mais problemáticas da 
alta sensibilidade emocional.   
 

18
III. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO
BORDERLINE

1. Vergonha / Invalidação
 
A  vergonha  é  um  aspecto  que  não  só  permeia  como  provoca 
muitas das ações e reações da pessoa com sintomas Borderline.  
 
Existem  diversas  maneiras  de  definir o  sentimento  de  vergonha. 
Mas,  basicamente,  podemos  dizer  que  a  vergonha  é  o  mal‐estar 
emocional  vinculado  à  idéia  de  alguma  ação  que  imaginamos 
censurada pelos outros e/ou por nós mesmos.  
 
Mas, de onde vem essa vergonha?
 
Essa sensação enraizada de vergonha entre muitas pessoas com 
sintomas  Borderline  é  geralmente  atribuída  a  um  ambiente 
“invalidante” na infância e/ou juventude – um ambiente em que 
as reações emocionais da criança, principalmente as negativas ou 
mal  compreendidas  (tais  como  raiva,  medo  e  tristeza)  foram 
tratadas com zombaria, ironia, impaciência, rejeição ou desprezo, 
e/ou  consideradas  inadequadas,  incômodas,  erradas,  inválidas, 
inaceitáveis  ou  indesejáveis;  um  ambiente  em  que  foram 
repetidamente  praticados  atos  ou  proferidas  palavras  para 
controlar, inibir, coibir ou moldar tais reações.  
 
Essa invalidação pode ser percebida e assimilada pela pessoa com 
alta  sensibilidade  emocional  em  uma  grande  variedade  de 
situações, desde casos de abuso sexual real a uma mera falta de 
sintonia  entre  sua  personalidade  e  a  dos  seus  pais.  Mesmo  pais 
amorosos  e  bem‐intencionados  podem  ter  dificuldades  em  lidar 
com  uma  criança  mais  sensível,  por  falta  de  conhecimento,  de 
tempo, ou outros fatores. 
 
Pessoas  com  predisposição  a  Borderline  podem  tornar‐se 
incapazes  de  validar  a  si  mesmas,  de  sentir  empatia  por  si 
mesmas,  de  se  consolar  e  acalentar,  de  gerar  e  manter  uma 
19
autoconfiança  saudável.  Quando  a  manifestação  de  suas 
emoções  negativas  é  bloqueada  ou  punida,  isso  gera  uma 
resposta ou reação de vergonha – primeiro, pelo próprio fato de 
ter  sentido  essa  emoção  intensa,  e,  segundo,  por  ter  externado 
essa emoção, expondo‐se a crítica e juízo.  
 
A  vulnerabilidade  biológica  da  pessoa  com  sintomas  Borderline 
impede  que  ela  consiga  distinguir  entre  o  que  ela  é  e  o  que  ela 
sente,  e,  por  não  corresponder  às  expectativas  da  família  ou  da 
sociedade,  sente‐se  punida  de  alguma  forma  pelas  suas  ações, 
que  são,  por  sua  vez,  uma  manifestação  direta  de  seus 
sentimentos  e  impulsos.  Portanto,  ela  age  conforme  seus 
sentimentos  e,  caso  punida,  internaliza  que  está  sendo  punida 
pelo que ela é. 
 

 
 
Veja este comentário de uma pessoa com sintomas Borderline: 

“Um terapeuta me contou que toda família tem sua ovelha negra – essa
ovelha negra sendo a pessoa que se sobressai pelo seu poder, e que os outros,
por se sentirem inseguros em seu convívio, buscam controlar e fazer com
que se torne uma ovelha branca. Essa pessoa nunca conseguiu ser uma
ovelha branca, mas ficou com a sensação de que não se encaixava em lugar
nenhum. Infelizmente, ela tem Borderline.”
 

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A  reação  natural  a  um  sentimento  de  vergonha  é  acobertá‐lo, 
pois  a  pessoa  se  sente  vulnerável,  e  a  vergonha  acaba  gerando 
mais vergonha, num círculo vicioso. 
 
E  é  justamente  essa  vergonha  que  impede  muitas  pessoas  com 
sintomas Borderline de procurar ajuda na forma de terapia, pois 
isto  também  acarreta  duas  reações  distintas  de  vergonha.  Uma, 
resultante  do  medo  de  que  o  terapeuta  vai  conseguir  enxergar 
seus  defeitos  e  enquadrá‐la  como  problemática  e  imperfeita, 
como  uma  pessoa  que  precisa  ser  “consertada”.  E  outra,  pelo 
medo de que, se a terapia não der resultado, sua vergonha e seu 
fracasso serão confirmados oficial e publicamente.  
 
Passada  a  crise  de  desregulação  emocional,  a  pessoa  com 
sintomas  Borderline  pode  sentir‐se  envergonhada  e 
constrangida. Porém normalmente não expressa a sua vergonha, 
nem procura justificar seu comportamento, nem pede desculpas 
– mais uma vez porque, se admitisse sua culpa, poderia tornar‐se 
alvo  de  mais  crítica.  Ou  então  simplesmente  porque  ela  mesma 
não consegue se perdoar. 
 
Sua  vergonha  pode  intensificar‐se  rapidamente,  externando‐se 
em forma de tristeza, medo e raiva. A raiva, por ser uma emoção 
extremamente  forte,  frequentemente  prevalecerá  sobre  as 
outras. 
 
2. Raiva

Uma  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode  ter  um  acesso  de 
raiva a troco de aparentemente nada: uma coisa mínima fora do 
lugar,  um  pequeno  atraso,  uma  palavra  descuidada,  uma  ligeira 
mudança de planos ‐ esses eventos remetem não só à vergonha 
mas  também  a  uma  hipersensibilidade  a  crítica, a  uma 
insegurança básica. A raiva tem a função, entre outras coisas, de 
criar uma barreira contra três sentimentos básicos que conduzem 
à  baixa  de  auto‐estima  –  vulnerabilidade,  impotência,  e 

21
abandono. Porém, incontrolada e mal usada, acaba atrapalhando 
a  nossa  vida,  e  nessa  ânsia  de  nos  defender  desses  perigos, 
partimos para o ataque. 
 
Veremos  mais  adiante  algumas  dicas  para  atenuar  acessos  de 
raiva. 
 
3. Impulsividade

De  modo  geral,  nossas  emoções  podem  ser  desencadeadas  por 


sinais, indícios, impressões ou “vibrações” vindos do ambiente ao 
nosso  redor,  e  nosso  “sistema  imunológico  emocional”,  por 
assim  dizer,  automaticamente  procura  interpretar  o  significado 
desses sinais.  
 
No  caso  das  pessoas  com  sintomas  Borderline,  o  significado 
destes  sinais  pode  ser  interpretado  erroneamente,  levando  à 
impulsividade e comportamentos aparentemente injustificados.  
 
A  impulsividade  pode  ser  vista  como  uma  tendência  a  agir  com 
pouco  ou  nenhum  planejamento  para  reduzir  o  impacto  de 
estímulos  adversos.  Esta  reação  automática  pode  ser  essencial 
para sua sobrevivência quando você tiver que fugir de um perigo 
real,  como  desviar  de  um  outro  carro  ou  fugir  de  um  cachorro 
bravo. Entretanto, dependendo do contexto e da intensidade da 
resposta,  a  impulsividade  pode  ser  uma  característica 
disfuncional que gera sérios problemas na vida do Borderline.  
 
A impulsividade extrema pode levar a comportamentos de risco, 
tais  como  imprudência  ao  volante,  jogatina,  libertinagem, 
promiscuidade, associação com pessoas à margem da lei, excesso 
de  consumismo,  viagens  repentinas,  obsessão  por  cirurgias 
plásticas,  distúrbios  alimentares  como  anorexia  e  bulimia, 
autolesão,  tudo  com  o  mesmo  objetivo  básico:  aliviar  a  dor 
emocional através de uma alta dose de adrenalina ou através de 
outras fontes de dor que suplantem a dor original.  

22
 
Um  fator  que  talvez  contribua  para  esta  impulsividade  é  uma 
possível diferença na organização dos circuitos neurais. Pesquisas 
recentes  com  ressonância  magnética  funcional  mostram  que  o 
cérebro  em  descanso  das  pessoas  com  sintomas  Borderline 
mostra maior ativação do córtex pré‐frontal (a parte do cérebro 
que  parece  ser  responsável  pela  análise  e  tomada  de  decisões, 
servindo  também  como  freio  de  agressão)  do  que  em  pessoas 
sem sintomas Borderline.  
 
Isto  se  traduz  em  uma  percepção  mais  aguçada  de  ameaças, 
geralmente na área emocional. Quando a ameaça é percebida ou 
efetivamente  se  materializa,  o  córtex  pré‐frontal  “desliga”  e  o 
sistema  límbico  “acende”.  Como  conseqüência,  a  pessoa  com 
sintomas  Borderline  reage  de  forma  reativa  e  impulsiva,  tendo 
seu  processo  decisório  inibido.  Isto  muitas  vezes  leva  a  uma 
desregulação  emocional  e  extrema  personalização  –  em  outras 
palavras,  ela  não  só  percebe  uma  ameaça,  mas  acredita  que 
esteja especificamente direcionada a ela. 
 
Um  dos  moderadores  da  atividade  no  córtex  pré‐frontal  é  a 
serotonina, que é o neurotransmissor modulador das vias senso‐
perceptivas  responsáveis  pela  sensação  de  dor,  e  que  também 
contribui  para  o  melhor  controle  do  impulso  sexual,  da 
agressividade  e  da  ansiedade.  Cogita‐se  que  deficiências  no 
metabolismo  da  serotonina  (e  na  quantidade  e  sensibilidade  de 
seus receptores) possam exacerbar os sintomas Borderline.  
 
O aspecto positivo desta visão neurobiológica é que este quadro 
pode  ser  aos  poucos  modificado  através  do  pensamento 
(durante  o  processo  da  terapia  Cognitiva  comportamental,  por 
exemplo), à medida que o córtex pré‐frontal vai sendo reativado 
e  re‐programado.  Isto  permite  que  as  emoções  se  transformem 
de impulsivas para ponderadas. E essa é uma das principais metas 
a ser buscada. 
 

23
4. Variações de humor

Uma das principais características da 
pessoa  com  sintomas  Borderline  é  a 
sua  imprevisível  e  drástica  variação 
de  humor.  Sua  alta  sensibilidade  e 
reatividade  emocionais  prejudicam 
seu  processo  cognitivo,  seu 
raciocínio,  sua  tomada  de  decisões, 
sua auto‐confiança. Seu humor tende 
a oscilar de forma mais rápida do que 
ocorre  em  alguns  outros  distúrbios  comportamentais  (como  o 
bipolar, por exemplo), podendo mudar diversas vezes no decurso 
de  poucas  horas.  Isso  cria  um  clima  de  insegurança  geral  tanto 
para a própria pessoa quanto para seus amigos e familiares.  
 
A amídala, uma parte do sistema límbico, parece ter participação 
nesta labilidade/instabilidade emocional. Sua função principal é o 
processamento  de  emoções  e  o  armazenamento  de  lembranças 
emocionais.  Serve  também  como  o  sistema  de  alarme  do 
cérebro, acendendo as reações de fuga ou luta. A amídala recebe 
informacoes  sensoriais  do  corpo  através  do  tálamo  e  envia 
mensagens  para  muitas  outras  áreas,  inclusive  o  rosto,  ativando 
expressões  faciais,  além  de  estar  associada  com  o  olfato.  As 
pessoas com sintomas Borderline em alguns estudos mostraram 
ter  amídalas  bem  mais  ativas  do  que  a  maioria  da  população, 
levando  a  uma  intensificação  nas  reações  emocionais  a  quase 
todas as situações de vida, colocando‐as em estado praticamente 
constante de alerta e prontidão.  

5. Sensibilidade sensorial / ansiedade


 
As  pessoas  com  sintomas  Borderline  frequentemente 
apresentam  alta  sensibilidade,  não  só  a  cheiros,  mas  também  a 
outros  estímulos  sensoriais,  tais  como  texturas  (tecidos,  etc.), 
ruídos  (interpretando  como  ofensivos  alguns  sons  que  nao 

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incomodam  os  outros),  sabores,  luminosidade,  e  assim  por 
diante.  
 
As  pesquisas  também  indicam  que  pode  haver  uma  conexão 
entre  a  ansiedade,  a  impulsividade  e  variações  de  humor.  A 
ansiedade  é  geralmente  uma  das  primeiras  características 
observadas por terapeutas ao lidar com pessoas posteriormente 
diagnosticadas com Borderline (assim como a depressão).  
 
Se  fosse  promovida  uma  conscientização  maior  entre  pais  e 
professores  quanto  à  importância  da  detecção  precoce  de 
ansiedade  e  sensibilidade  exacerbadas  em  crianças,  talvez  elas 
pudessem  ser  ensinadas  técnicas  de  “coping”  para  aprender  a 
lidar  melhor  com  essas  características,  evitando  assim  o 
desenvolvimento de problemas mais sérios no futuro.  

6. Sensibilidade a crítica

As  pessoas  com  sintomas  Borderline  têm  tendência  a  reagir  de 


forma  inesperadamente  radical  a  críticas  e  rejeições  percebidas 
ou imaginadas; a evitar tarefas, reuniões 
ou  interações  sociais  em  que  possa 
surgir  qualquer  rejeição  implícita;  a 
monitorar  constantemente  as  reações 
dos  outros  para  detectar  algum  indício, 
por mais sutil que seja, de desaprovação 
no  seu  radar  emocional;  e  a  vivenciar 
antecipadamente  emoções  negativas 
com base em supostas rejeições futuras.  
 
Quando  tal  rejeição  ou  crítica  é  percebida  ou  efetivamente 
ocorre, principalmente quando parte de uma pessoa com a qual 
tenha  um  forte  vínculo  afetivo,  isto  gera  ondas  de  raiva, 
hostilidade e às vezes até violência física. Mais uma vez, isso tem 
a  ver  com  vergonha  e  medo  de  julgamento.  De  qualquer  forma, 
uma  pessoa  com  sintomas  Borderline  vai  se  julgar  severamente 

25
por  causa  da  vergonha  (sou uma má pessoa)  e  vai  se  rejeitar  (não
mereço aceitação).  
 
Além disso, por mais paradoxal que pareça, pode voltar‐se contra 
as  pessoas  que  lhe  estendem  a  mão  e  oferecem  aceitação, 
porque acha que no fundo não merece tal aceitação.  
 
Esta é a lei de “efeito e causa”, assim explicada por uma pessoa 
com sintomas Borderline: 
 
“O mundo opera no sentido de “efeito e causa” (e não ao contrário).
Se eu sinto coisas de uma certa forma, vou procurar retroativamente
uma causa para as mesmas – uma causa que não possa ser atribuída
a mim! Pois se for, eu seria julgada como estando errada. E eu não
aguento ser julgada como errada.”

7. Interpretação equivocada de emoções

O  processamento  de  informações,  ou  seja,  o  processamento 


cognitivo  e  emocional,  é  intimamente  relacionado  ao  nosso 
sistema  neurobiológico.  Alterações  nesse  processamento  são 
frequentemente  o  primeiro  sinal  observado  pelos  parentes  e 
próximos de que tem algo na pessoa amada que foge à regra. 
 
Mesmo  afirmações  aparentemente  neutras  podem  ser 
interpretadas  de  forma  emocional,  e  levadas  pessoalmente, 
causando reações imprevistas. Pode  ser algo tão  inócuo como – 
“você  está  bonita  hoje”  (reação  personalizada,  focando  na 
palavra  “hoje”:  por que você diz isso, tou feia nos outros dias?),  e  assim 
por diante.  
 
O transtorno de personalidade Borderline geralmente apresenta 
obstáculos  à  comunicação  habitual.  As  palavras  dos  outros 
parecem sofrer uma distorção “no ar”, uma mutação inexplicável 
entre o instante em que são proferidas e o momento em que são 
ouvidas,  absorvidas  e  interpretadas  pela  pessoa  com  sintomas 

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Borderline,  muitas  vezes  já  com  conotação  negativa,  acusatória, 
crítica.  
 
Pesquisas  recentes  realizadas  por  Larry  Siever  e  Barbara  Stanley 
indicam que alguns elementos químicos no cérebro, tais como a 
ocitocina, bem como o nosso sistema opióide endógeno, afetam 
nossa capacidade de confiar nos outros e firmar relacionamentos. 
Cada  área  do  cérebro  possui  uma  função  específica  e  precisa 
estar  corretamente  conectada  com  locais  neuroanatômicos 
específicos  para  que  todos  os  sistemas  funcionem 
adequadamente  em  harmonia.  Também  existem  muitos 
neurotransmissores e neuropeptídios (hormônios) envolvidos na 
regulação destes sistemas que afetam as formas de percepção de 
atos e palavras. 
 
Alguns  estudos  também 
mostram  que  as  emoções 
negativas  são  processadas  de 
forma  distinta  das  positivas, 
usando estruturas e viajando por 
circuitos  neurais  diferentes.  Os 
gatilhos  negativos  parecem 
provocar  respostas  mais  intensas  do  que  os  positivos.  Por 
aparentemente  possuírem  uma  propensão  inata  a  enxergar  as 
coisas  pelo  lado  negativo,  as  pessoas  com  sintomas  Borderline 
podem  encontrar  mais  dificuldade  em  administrar  relações 
interpessoais,  levando  tudo  para  o  campo  pessoal  e  assim 
intensificando suas reações. 
 
Um  aspecto  interessante  –  e  relevante  –  indicado  por  pesquisas 
usando  ressonância  magnética  funcional  é  que  as  pessoas  com 
sintomas  Borderline,  em  comparação  com  a  maioria  da 
população,  parecem  ter  uma  reação  muito  mais  intensa  e 
negativa  a  expressões  faciais  neutras,  interpretando‐as  como 
ameaçadoras, suspeitas, enigmáticas, negativas.  
 

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Isto  é  algo  a  ser  levado  em  conta  tanto  pelos  familiares  quanto 
pelos terapeutas. Pois os parentes, confrontados com acessos de 
raiva, geralmente procuram manter sua calma a qualquer custo – 
e acabam exacerbando a explosão emocional, por ter sua reação 
controlada interpretada como desinteresse, raiva contida, crítica, 
desamor,  condescendência,  etc.  E  os  terapeutas,  que 
normalmente  procuram  manter‐se  objetivos  e  impassíveis 
durante  suas  sessões,  podem  estar  transmitindo,  em  vez  de 
segurança  e  tranqüilidade,  algo  muito  diferente.  A  pessoa  com 
sintomas Borderline de modo geral parece preferir uma forma de 
comunicação  mais  emocional,  clara  e  vigorosa,  porém  sempre 
sem crítica ou julgamento. 
 
8. Distorção de “fatos” / memória emocional /
atemporalidade
 
As  pessoas  com  sintomas  Borderline  podem  chegar  a  distorcer 
fatos ocorridos, em situações nas quais: 
™ é menos doloroso mentir do que confessar a verdade; 
™ querem dar uma impressão melhor à outra pessoa do 
que elas têm de si mesmas;  
™ querem evitar crítica ou autocrítica;  
™ não conseguem enxergar a “verdade” por causa de 
seu “raciocínio” emocional.  
 
Se  a  pessoa  a  quem  elas  contam  a  sua  versão  dos  fatos  tem 
probabilidade  de  julgá‐la  como  “má”  ou  “imperfeita”,  a 
expectativa  da  desaprovação  desencadeia,  primeiro,  a 
sensibilidade  e  reação  à  rejeição,  e  depois  a  vergonha,  porque  a 
pessoa  com  sintomas  Borderline  realmente  acredita,  no  fundo, 
que, se ela confessar a verdade, os outros vão descobrir que ela é 
uma “má pessoa” e vão acabar por rejeitá‐la totalmente.  
 
Algo que sempre precisa ser levado em conta é que: 
 
A “verdade” da pessoa com sintomas Borderline é sua
emoção.
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A  pessoa  com  sintomas  Borderline  não  necessariamente  se 
baseia naquilo que vê, ouve, testemunha ‐ baseia‐se mais no que 
ela sente, e interpreta as coisas através das “lentes emocionais” 
de  suas  experiências,  mesmo  que  tal  interpretação  seja 
divergente dos “fatos” externos presenciados pelos outros à sua 
volta.  
 
E uma pessoa tomada por fortes emoções não consegue aceitar, 
assimilar,  arquivar  ou  reconhecer  informações  que  não 
confirmem ou não justifiquem tal emoção, conforme evidencia o 
seguinte depoimento:  
 

“As lembranças são como pastas no meu arquivo mental. Já que estou
sempre sendo julgada, eu uso esses arquivos seletivamente, assim como os
advogados no seu trabalho. Desta forma, somente serão utilizadas as
lembranças que se adéquam aos meus sentimentos do momento. Pois as
lembranças que apresentam provas contrárias aos meus sentimentos não
serão consideradas como provas admissíveis – ou então serão alteradas para
preservar a minha inocência.”
 
 
Portanto,  ela  estará  mais  propensa  a  re‐interpretar  ou  gerar 
“fatos” alternativos que possam corroborar o que está sentindo. 
Na  sua  visão,  não  está  efetivamente  “mentindo”,  mas  sim 
salientando  ou  selecionando  “fatos”  para  respaldar  sua  forte 
reação emotiva à situação vivida.  
 
É  muito  importante  entender  este  processo  que  leva  a  pessoa 
com  sintomas  Borderline  a  contar  inverdades,  pois  as  mesmas 
podem  ser  altamente  prejudiciais  e  ofensivas  às  pessoas  à  sua 
volta,  que,  por  desconhecerem  o  transtorno  e  suas 
características, não sabem que não devem levar essas acusações 
pessoalmente, e que não devem tentar se defender das mesmas, 
pois  estas  são  um  reflexo  de  ataque  ou  contra‐ataque  sobre  o 
qual  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  tem  pouco  ou  nenhum 
controle. 
29
Às  vezes  as  pessoas  com  sintomas  Borderline  relatam  eventos 
para  amigos,  parentes  e  terapeutas  de  forma  bem  diferente  do 
que  efetivamente  aconteceram.  Podem  até  acusar  seus  pais  de 
abuso,  sem  fundamento  na  realidade  vivenciada  pelos  outros.  É 
importante, portanto, ter uma visão mais clara de como funciona 
o  processo  de  elaboração  de  lembranças  emocionais 
(envolvendo  a  amídala,  o  hipocampo,  lobo  temporal,  entre 
outros)  para  entender  melhor  eventuais  divergências  de  fatos 
ocorridos.  
 
Frequentemente, por ter uma forte desconfiança do mundo e das 
pessoas  que  a  cercam,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  se 
sente  vulnerável  e  impotente.  E  já  que  as  suas  emoções  podem 
ser desencadeadas e desreguladas com tanta facilidade e rapidez, 
de  forma  tão  dolorosa,  ela  quer  proteger‐se  contra  essa  dor,  e 
pode  enxergar  sua  vulnerabilidade  como  uma  forma  de  abuso 
emocional pelos outros, em vista da intensidade da dor que isso 
acarreta. Em consequência, ela pode incorporar essa percepção à 
sua memória e “história pessoal” como se de fato tivesse sofrido 
abusos concretos. 
 
Devemos  também  lembrar  do  aspecto  de  atemporalidade  ‐  a 
pessoa  com  sintomas  Borderline  tende  a  fazer  uma  conexão 
direta  e  atemporal  entre  experiências  emocionais  do  passado  e 
acontecimentos  atuais,  porque  a  sensação  para  ela  é  uma  só  ‐ 
não faz diferença se algo aconteceu há uma hora ou há vinte anos 
atrás. Por conseguinte, pode acabar agindo com base na soma de 
suas  lembranças  emocionais,  com  uma  intensidade  que  aos 
outros parece desproporcional à situação presente: 

“Todo tempo é presente. Se algo me incomoda agora, é diretamente


relacionado à maior dor que já senti – e essa dor vem se juntar ao presente
também. O tempo não cura feridas porque, na realidade, o tempo não passa.
Tudo – passado, presente, e futuro – está sempre no aqui e no agora.”

30
Portanto,  se  algo  no  ambiente  da  pessoa  com  sintomas 
Borderline a remete a uma memória implícita ou emocional, e se 
ela  interpreta  algo  equivocadamente  de  forma  personalizada, 
suas  emoções  são  deflagradas  sem  que  ela  saiba  por  que, 
reativando  seguidamente  a  experiência  emocional  do  passado. 
Eventos  ou  palavras  que  magoaram  a  pessoa  no  passado 
parecem ser revividos com o mesmo (ou até maior) grau de dor, 
sofrimento  e  intensidade  emocional,  como  se  tivessem  acabado 
de  acontecer,  independente  da  cronologia  real.  A  dificuldade 
inerente que as pessoas com sintomas Borderline têm em deixar 
para  trás  lembranças  desagradáveis  faz  com  que  vivam  em 
constante  sofrimento,  o  qual  não  é  atenuado  nem  compensado 
por lembranças de bons momentos. 
 
9. Atribuição de culpa

A  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode  responsabilizar  os 


outros  (seja  Deus,  o  destino,  o  mundo,  a  vida,  os  colegas  de 
trabalho,  os  pais,  o  cônjuge,  etc.)  pelos  problemas  percebidos,  
entre outras causas porque ela mesma não quer ser vista como a 
“causa”  de  problemas  ou  sofrimento.  Isso  a  tornaria  uma  “má 
pessoa”  e,  assim  sendo,  ela  mereceria  nada  menos  do  que  a 
morte  (parece  dramático,  mas  a  vida  das  pessoas  com  sintomas 
Borderline  é  permeada  de  drama,  de  hipérboles,  de  extremos). 
Portanto, é mais fácil atribuir a culpa a outras pessoas ou fatores 
externos.  
 
Isto  não  representa  exatamente  uma  projeção,  e  sim  uma 
tentativa de desvio de atenção, por medo de rejeição, de crítica e 
julgamento,  de  sofrimento.  Se  ela  tivesse  culpa  “no  cartório”, 
isso  reforçaria  a  sua  vergonha  e  a  sua  certeza  de  que  não 
consegue fazer nada direito. Pelo seu prisma de preto ou branco, 
oito  ou  oitenta,  basta  uma  ponta  de  culpa,  e  ela  já  se  sente 
condenada.  
 

31
Como  disse  um  homem  com  Borderline  para  a  sua  esposa,  ao 
tentar explicar porque a culpava por tantas coisas: 
 
“Eu quero que todo mundo concorde comigo. Se não concordam comigo,
começo a ficar ansioso. Quando você discute comigo, quando você não está
jogando no meu time, fico achando que você me considera um fracassado.
Fico extremamente irritado quando você não concorda comigo. Não sei bem
por que – simplesmente fico frustrado, e depois fico com raiva de você
porque me sinto frustrado.”

É  por  isso  que,  passado  o  período  de  desregulação  emocional, 


quando  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  retorna  a  um  humor 
mais estável, raramente “assume responsabilidade” pelo que fez 
ou  disse,  nos  moldes  do  que  os  outros  esperam  –  seja  com  um 
reconhecimento  de  culpa,  com  um  pedido  de  desculpas  ou  com 
explicativas e justificativas. 

10. Medo de abandono / medo de intimidade

Estes  dois  medos  –  tanto  de  abandono  quanto  de  intimidade    ‐ 


são  os  dois  lados  da  mesma  moeda  –  e,  no  mundo  “preto  ou 
branco”  da  pessoa  com  sintomas  Borderline,  o  medo  de 
intimidade  pode  alternar  para  medo  do  abandono  muito 
rapidamente, e vice‐versa.  
 
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Relacionamentos  intensos  e  íntimos  envolvem  emoções  muito 
profundas. Infelizmente, para a pessoa com sintomas Borderline, 
essas  emoções  podem  ser  apavorantes,  por  serem  fortes, 
cansativas  e  desgastantes  demais.  Por  isso  ela  pode  afastar  a 
pessoa  amada  com  medo  de  se  perder  neste  turbilhão  de 
emoções.  Ela  sente  que  não  dá  conta  de  lidar  com  todos  os 
aspectos  desse  envolvimento  e  fica  com  medo  de  perder  a 
percepção de seu “eu”.  
 
Por  outro  lado,  um  dos  seus  maiores  medos  é  o  medo  de 
abandono  pelas  pessoas  que  ela  preza.  Assim  sendo,  muitas 
vezes opta por terminar um relacionamento – de forma brusca e 
irremediável ‐ para não ter que sofrer essa perda pressentida do 
“eu”, sofrimento este alimentado tanto pelo medo de abandono 
quanto pelo medo de intimidade.  
 
Em  outras  palavras,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode 
optar por cortar relações com  outros  para impedir que  ocorra  o 
abandono  previsto  ou  então  para  mostrar  que  não  precisa  do 
outro, ou então para evitar possíveis críticas e rejeição. Assim ela 
acredita  poder  controlar  melhor  a  situação  para  mitigar  seu 
(potencial) sofrimento.  
 
Mas  é  importante  falar  um  pouco  mais  sobre  a  questão  do 
abandono, pois é necessário entender que, para uma pessoa com 
sintomas  Borderline,  “abandono”  pode  significar  muito  mais  do 
que  o  abandono  físico  mais  objetivamente  percebido.  Existem 
outros  tipos  de  abandono  mais  sutis  que  são  impactantes.  Por 
exemplo, o sentimento de abandono pode ser deflagrado por: 
 
™ sensação de falta de compreensão por parte dos outros; 
™ dificuldade em se entrosar ou participar de um grupo; 
™ sensação de solidão, de nostalgia; 
™ sensação de perda pelo rompimento de um relacionamento; 
™ morte de um animal de estimação; 
™ mudança de residência;  

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™ perda de emprego; 
™ medo de rejeição ao descobrir preferência por 
relacionamentos com pessoas do mesmo sexo; 
™ sensação de falta de rumo na vida; 
™ falta de definição de identidade; 
™ carência emocional;  
™ percepção de rejeição, impaciência, invalidação;  
™ morte de pessoa querida. 
 
Uma sensação de abandono é uma ferida profunda, muitas vezes 
pouco  compreendida,  que  pode  passar  despercebida  pelos 
outros à sua volta. 
 
11. Atitude “oito ou oitenta”

A  pessoa  com  sintomas 


Borderline  tem  a  tendência  de 
ver  o  mundo  externo  ou  de 
forma  muito  positiva  ou  então 
muito  negativa,  e 
frequentemente oscila de forma 
inesperada  entre  esses  dois 
extremos  de  opinião.  Essa 
variabilidade  pode  ser 
extremamente frustrante e confusa para quem a ama, porque ela 
pode  achar  alguém  maravilhoso  um  dia,  e  detestável  no  dia 
seguinte.  
 
Por  exemplo,  quando  uma  pessoa  com  sintomas  Borderline  se 
sente  (para  isso  bastando  a  sua  interpretação,  visão,  percepção 
do  caso)  criticada  por  um  amigo,  provavelmente  dirá  a  outros 
que  ele  é  burro,  incompetente,  mentiroso,  traiçoeiro,  etc.  Ao 
invés  de  esperar  passar  sua  onda  de  revolta  e  raiva  contra  o 
amigo, a pessoa com sintomas Borderline poderá impulsivamente 
romper com ele de forma radical, fazendo assim com que ele se 
afaste definitivamente – mais uma vez, mantendo‐se fiel à diretriz 

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pessoal  de  “abandonar  antes  de  ser  abandonada”,  baseada  na 
seguinte crença:  

“Pensamento é realidade. Se penso em algo, já é fato. Se alguém menciona


algo, já é fato.”

12. Ruminação

As  pessoas  com  sintomas  Borderline  são  propensas  a  ficar 


remoendo  acontecimentos  e  conversas  para  tentar  detectar  a 
possível existência de críticas veladas ou segundas intenções por 
parte  de  outros.  Essa  tendência  a  ficar  remoendo  ou  ruminando 
pode explicar algumas manifestações de desconfiança e medo.  
 
Isto envolve a personalização, isto é, a atitude de levar tudo para 
o campo pessoal, pois o medo de crítica e de julgamento faz com 
que  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  acredite  que  tudo,  tudo 
mesmo, tem a ver com ela. 
 
A ruminação pode desencadear o “raciocínio emocional”, em que 
os  sentimentos  se  equiparam  a  fatos.  Pois,  conforme  ilustrado 
por  um  dos  depoimentos  acima,  a  pessoa  com  sintomas 
Borderline  pensa  em  ordem  inversa,  isto  é,  partindo  do  efeito 
para  a  busca  de  uma  causa.  Assim  sendo,  basta  ela  achar  que 
existe uma segunda intenção para que isto se torne um fato para 
ela e uma base plausível para futuras ações e reações.  
 
A pessoa com sintomas Borderline fica mais inclinada a entrar em 
processo  de  ruminação  quando  está  ociosa,  entediada,  ou 
quando  sofre  de  insônia  (o  que  é  bastante  comum,  como 
veremos mais adiante). 
 
Uma  forma  de  ajudar  a  combater  essa  tendência  de  remoer  as 
coisas  é  buscar  se  envolver  em  atividades  prazerosas,  sejam 

35
físicas, mentais, sociais ou outras. Além disso, algumas formas de 
meditação  que  visam  a  concentração  no  momento  presente  ‐ 
como,  por  exemplo,  o  estado  de  plena  atenção  (o  mindfulness)
proposto  pelo  budismo, que  é  usado  também  no  mundo 
corporativo  para  combater  o  estresse  ‐  ajudam  a  pessoa  a 
aprender a se preocupar menos com o passado e o futuro.  

13. Depressão / Medicamentos


 
A  pessoa  com  sintomas  Borderline 
muitas  vezes  faz  uso  de  grandes 
quantidades  de  bebida  alcoólica 
e/ou drogas para amortecer sua dor 
emocional.  O  perigo  é  exacerbado  pelo  fato  de  que  consegue 
ingerir  quantidades  espantosas  de  medicamentos  (inclusive 
remédios  receitados  pelos  seus  médicos,  tais  como  ansiolíticos, 
analgésicos,  antidepressivos,  etc.)  e/ou  drogas  ilícitas,  ou  álcool, 
sem  perder  a  consciência  e  sem  sofrer  efeitos  de  overdose  ou 
ressaca.  
 
Infelizmente,  esses  remédios  e  drogas  podem  ter  sérios  efeitos 
colaterais  –  muitas  vezes  gerando  o  próprio  efeito  que 
supostamente  deveriam  combater  (como  antidepressivos  que 
geram pensamentos suicidas) – e podem aumentar o descontrole 
emocional ou estimular a impulsividade. Por conseqüência, além 
do  perigo  inerente,  os  resultados  de  seu  uso  podem  acabar 
gerando mais vergonha e autopunição por parte da pessoa com 
sintomas Borderline.  
 
É  comum  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  sentir  intensa  dor 
emocional  em  diversas  ocasiões  durante  o  dia,  todo  dia.  Já  que 
essas  emoções  são  emoções  básicas,  como  tristeza,  raiva  e 
medo,  as  reações  às  mesmas  são  tanto  físicas  quanto  mentais. 
Esses  estados  emocionais  são  tão  poderosos  que  prevalecem 
sobre o pensamento racional. Ao sentir dor, independente da sua 

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fonte, a reação primordial do corpo e da mente é de buscar alívio 
o mais rápido possível, por qualquer meio que seja.  

14. Insônia

Uma das manifestações físicas 
comuns  de  Borderline  é 
insônia. Isso se deve em parte 
ao  fato  de  ficar  remoendo 
acontecimentos  (reais  ou 
imaginados,  passados  ou 
futuros). 
 
Além  disso,  existem  indícios 
de  que  a  composição  química 
do  cérebro  da  pessoa  com  sintomas  Borderline  não  permita  ao 
organismo  um  eficiente  aproveitamento  da  serotonina,  um 
neurotransmissor que atua como sedativo e calmante natural do 
nosso  corpo.  Muitas  pessoas  com  sintomas  Borderline  precisam 
de soníferos para conseguir adormecer e acabam tomando esses 
remédios  em  altas  doses,  por  não  surtirem  efeito  facilmente.  A 
falta  de  descanso  adequado  acaba  exacerbando  as 
manifestações  de  sintomas  Borderline,  tais  como  ansiedade, 
isolamento, variações de humor e sensibilidade a estresse.

15. Problemas de Interação Social

As  pessoas  com  sintomas  Borderline  são  frequentemente  vistas 


como pessoas egoístas/egocêntricas que pouco se importam com 
os  problemas  e  o  sofrimento  dos  outros.  Precisamos  lembrar, 
entretanto,  que,  já  que  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  age 
sob  o  efeito  de  fortes  emoções  (principalmente  negativas),  ela 
tem  dificuldade  em  enxergar  muito  além  de  seu  redemoinho 
pessoal de preocupações.  
 
Muitas  vezes  ela  fica  insegura  em  certos  contextos  sociais, 
fazendo  com  que  fale  excessivamente,  entregando‐se  a  longos 
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monólogos  (geralmente  sobre  si  mesma),  usando  linguagem 
inapropriada ou abordando assuntos inadequados para a ocasião 
e para sua platéia.  
 
Embora  possa  parecer  que  isso  seja  fruto  de  alta  auto‐estima  e 
uma  demonstração  de  falta  de  consideração  com  os  outros,  na 
realidade o que ocorre é que ela passa muito tempo procurando 
detectar  se  as  outras  pessoas  enxergam  a  sua  vergonha  e  a 
rejeitam,  monitorando  constantemente  o  seu  ambiente  para 
captar  sinais  de  desaprovação,  às  vezes  manifestando 
comportamentos  de  extrema  desconfiança  e  até  tendências 
paranóicas.  
 
Neste  sentido,  Larry  Siever  pondera  que  talvez  níveis  baixos  de 
opióides  endógenos  nas  pessoas  com  sintomas  Borderline 
contribuam  para  intensificar  suas  emoções  negativas  e  sua 
sensação  de  vazio  interior  e  disforia  (depressão,  tristeza, 
melancolia,  pessimismo),  alimentando  também  sua  busca 
impetuosa  por  laços  afetivos  e  sua  reação  exacerbada  a  uma 
perda dos mesmos. Isto tem a ver com o fato de que a satisfação 
geralmente  obtida  através  de  vínculos  emocionais,  desde  a 
infância, parece fugir do alcance de muitas pessoas com sintomas 
Borderline.  
 
Hoje  em  dia,  com  a  facilidade  de  comunicação  via  internet  e 
celular,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode  facilmente  criar 
uma rede de relacionamento “virtual”, o que lhe permite passar 
rapidamente  de  mera  “conhecida”  para  “amiga  do  peito”, 
contando detalhes de sua vida íntima, para que os outros fiquem 
com dó dela e/ou sintam admiração por ela.  
 
Assim, cria um contingente de pessoas que estão “do lado dela”, 
compensando  a  sua  carência  afetiva,  alimentando  sua  fome  de 
aceitação,  validação,  elogios,  carinho,  respeito.  Isso  também  lhe 
permite  controlar  melhor  o  desenrolar  e  a  intensidade  de 

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relacionamentos,  inclusive  seu  eventual  término  (novamente, 
garantia de que possa abandonar antes de ser abandonada). 
 
O  mesmo  ímpeto  de  busca  de  aprovação  muitas  vezes  leva  as 
pessoas  com  sintomas  Borderline  a  se  moldar,  como  um 
camaleão, aos anseios, interesses e preferências dos que querem 
impressionar  e  cativar,  tais  como  namorados,  surpreendendo‐os 
e  encantando‐os  com  o  nível  de  empatia,  sensibilidade  e 
compatibilidade demonstradas. 
 
16. Autolesão / dor / pensamentos suicidas

Às  vezes  as  pessoas  com  sintomas  Borderline  recorrem  à 


autolesão,  cortando‐se  com  giletes  ou  facas,  queimando‐se  com 
fósforos  ou  cigarros,  arrancando  mechas  de  cabelo,  cutucando 
unhas ou o rosto até sangrar.  
 
Mas  ‐  por  que  alguém  buscaria  infligir  dor  a  si  mesmo? 
Aparentemente, segundo pesquisas recentes feitas pela Barbara 
Stanley  da  Universidade  de  Colúmbia,  a  percepção  de  dor  entre 
as  pessoas  com  sintomas  Borderline  diminui  durante  os 
momentos  de  autolesão,  ao  mesmo  tempo  que  aumentam  seus 
níveis  de  opióides  endógenos  (produzidos  pelo  próprio  corpo). 
Assim, quando se cortam, sentem mais um alívio psíquico do que 
dor física.  
 
É  importante  lembrar  que  o  objetivo  primordial  desses  atos  de 
autolesão  não  é  chamar  atenção,  até  porque  muitos  episódios 
ocorrem  longe  dos  olhares  das  pessoas  que  as  amam.  Às  vezes, 
quando  não  conseguem  encobrir  ou  disfarçar  os  cortes  ou 
cicatrizes resultantes, isso acaba gerando ainda mais vergonha e 
constrangimento  quando  os  outros  reparam  e  comentam  sobre 
os mesmos.  
 
Como pode ser visto na literatura e também nos depoimentos de 
pessoas  com  o  transtorno  e  nos  blogs  mencionados, 

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pensamentos suicidas são bastante comuns e recorrentes, pois o 
desânimo  diante  das  dificuldades  enfrentadas  nos 
relacionamentos, principalmente, é muito grande, e a pessoa, ao 
se sentir extremamente frustrada e magoada, pode cogitar uma 
fuga definitiva. 
 
 
 
 
 

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IV. REAÇÃO DAS PESSOAS À SUA VOLTA
 
Se você se identificou com uma série de características descritas 
acima, e viu como são comuns a tantas outras pessoas com alta 
sensibilidade emocional, você poderá até constatar que, entre as 
suas amizades e outros relacionamentos, você já está em contato 
com pessoas com características semelhantes, com as quais você 
poderá compartilhar e comentar suas novas descobertas.  
 
Mas, e com relação aos outros à sua volta? O que você deve dizer 
ou deixar de falar? Esse aspecto é bem delicado. Antes de tomar 
qualquer  atitude,  o  ideal  seria  que  obtivesse  confirmação  do 
diagnóstico  efetivo  de  transtorno  de  personalidade  Borderline, 
elaborado  por  um  profissional  qualificado  da  área  de  saúde 
mental.  
 
Mas, como já comentamos, esse processo pode ser muito difícil e 
demorado.  Portanto,  até  que  você  consiga  fazer  terapia  eficaz 
com um profissional experiente nesta área, mesmo que seja para 
tratar  de  alta  sensibilidade  emocional,  ou  ansiedade,  depressão 
ou  síndrome  do  pânico,  ou  distúrbio  alimentar  ou 
comportamental,  ou  algo  semelhante,  o  importante  é  que  você 
não se sinta sozinha e desamparada. Use todas as ferramentas e 
contatos  possíveis  para  buscar  apoio  e  compreensão,  tais  como 
livros, blogs, amigos (sejam virtuais ou não). 
 
Dentro de sua própria família, você corre o risco de não encontrar 
muita  receptividade  ao  falar  sobre  suas  angústias  emocionais 
como  possíveis  sinais  de  um  transtorno  comportamental,  por 
uma  série  de  motivos.  Entre  outros:  seus  pais,  por  exemplo, 
podem  achar  que  estão  sendo  acusados  de  ter  lhe  criado  de 
forma  errada  e  vão  reagir  repelindo  essa  idéia  e  tudo  que  a 
mesma  implica  (seja  por  sentimento  de  culpa  ou  outro);  seus 
parentes  podem  não  se  sentir  em  condições  de  lidar  com  a  sua 
dor e portanto vão negar que você tenha qualquer “problema”; 
podem  hesitar  em  admitir  perante  outros  que  você  seja  um 

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pouco  “diferente”,  uma  espécie  de  “ovelha  negra”  que  não  se 
encaixa  nos  padrões  aceitos  pela  família  e  pela  sociedade  em 
geral;  os  cônjuges  ou  namorados  podem  ficar  temerosos  em 
dizer  ou  fazer  algo  “errado”  e  exacerbar  seus  sintomas  (por 
estarem  “pisando  em  ovos”),  e/ou  podem  ter  medo  de  ter  que 
mudar  algo  neles  mesmos  para  lidar  com  você  de  forma  mais 
compreensiva e eficaz.  
 
Basicamente,  entretanto,  na  maioria  dos  casos  podemos 
procurar partir do pressuposto de que estas atitudes de aparente 
falta de empatia e apoio podem ser atribuídas mais a uma falta de 
conhecimento  e  de  flexibilidade,  do  que  a  uma  real  má  vontade 
ou desinteresse.  
 
Às  vezes  sonhamos  com  um  tipo  de  apoio  e  compreensão  que 
simplesmente  não  vem  da  forma  e  na  hora  que  queremos  – 
nestes casos, devemos procurar aceitar as limitações dos outros, 
assim  como  queremos  que  os  outros  aceitem  as  nossas.  E  fica 
sempre  aquela  dúvida  no  ar  –  será  que  o  problema  está  no 
excesso  de  expectativas,  ou  na  insuficiência  do  retorno 
esperado?  
 
De  modo  geral,  as  pessoas  possuem  um  sistema  de  crenças 
estabelecido, e têm medo de fazer mudanças. Além disso, muitas 
fazem julgamentos e críticas de forma automática e praticamente 
inconsciente.  Rebaixar  os  outros  não  deixa  de  ser  uma 
ferramenta  que  algumas  pessoas  usam  para  se  sentir  mais 
poderosas. Por isso, acham‐se no direito de julgar os outros pela 
sua  situação  econômica,  pelas  suas  decisões,  pelo  seu 
comportamento,  pela  sua  aparência,  até  pelo  seu  cansaço,  falta 
de  ânimo,  estado  de  saúde,  e  assim  por  diante  –  chamando  os 
outros de “fracos”, “frescos”, “incompetentes”, “lerdos”, etc. 
 
Os  conceitos  rígidos,  às  vezes  expressos  de  forma  repetida  e 
enfática,  com  relação  ao  que  é  “certo“  ou  “errado“  não  levam 
em  conta  a  “possibilidade”  de  que  as  opiniões  tão 

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orgulhosamente defendidas possam não ser a “verdade suprema 
e única”... Opiniões são somente isso – opiniões. Elas podem ser 
úteis  para  nortear  a  nossa  própria  vida  e  nossas ações,  mas  não 
constituem uma verdade absoluta que deva ser obrigatoriamente 
acatada por todos à nossa volta.  
 
Com  relação  ao  conceito  de  “verdade”  versus  “mentira”, 
devemos  lembrar  que  “verdade”  pode  significar  algo  diferente 
do  que  “fatos  ocorridos”,  conforme  já  mencionado,  e  até  a 
descrição  de  fatos  ocorridos  pode  variar  de  uma  pessoa  para 
outra  –  dez  testemunhas  de  um  acidente  ou  crime  podem 
oferecer dez relatos diferentes, e três irmãos podem recordar um 
acontecimento na infância de modo inteiramente diverso.  
 
Além  disso,  muitas  vezes  as  pessoas  confundem  aceitação  com 
aprovação, e têm medo de abrir mão de sua postura habitual por 
acreditar  que  elas  mesmas  serão  julgadas  como  fracas  ou 
indecisas ou “sem caráter”. A tendência mais enraizada é sempre 
buscar  impor  aos  outros  nossos  próprios  parâmetros,  julgando 
que  nossa  linha  de  conduta  é  a  única  certa.  Muitas  pessoas  se 
orgulham  de  seu  discernimento,  de  seus  preceitos  morais,  de 
saber  distinguir  entre  o  certo  e  o  errado,  às  vezes  agarrando‐se 
mais  à  sua  própria  necessidade  de  auto‐afirmação  do  que 
pensando no bem estar e sentimentos dos outros.  
 
É  importante,  entretanto,  aceitar  que  as  emoções  não  são  nem 
certas nem erradas – simplesmente  são. E indispensável adquirir 
uma  compreensão  mais  ampla  da  força  e  da  importância  das 
emoções,  não  necessariamente  em  contraposição  à  razão,  mas 
em  complementação  à  mesma.  É  através  do  casamento 
equilibrado  do  emocional  com  o  racional  que  conseguimos 
otimizar a nossa tomada de decisões na vida. 

É interessante observar que os estudos da neurociência mostram 
claramente que a parte emocional do cérebro aprende coisas de 
um  modo  diferenciado  da  área  de  pensamento  lógico.  As 

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habilidades  de  inteligência  emocional  são  desenvolvidas  numa 
região  do  cérebro  chamada  sistema  límbico,  que  controla  os 
instintos,  os  impulsos,  as  motivações.  Por  outro  lado,  as 
habilidades  técnicas  e  analíticas  são  aprendidas  no  neocórtex, 
que é a parte do cérebro que processa a lógica e os conceitos. 
 
Mas,  voltando  a  uma  pergunta  comum  –  a quem você pode ou
deve contar que você acha ou sabe que tem sintomas
Borderline? A resposta é – depende. 
 
Primeiro,  você  tem  que  avaliar  isso  caso  a  caso,  para  tentar 
minimizar  o  risco  de  se  expor  a  críticas,  discriminação  (sim, 
infelizmente  tem  essa  possibilidade),  perda  de  confiança. 
Algumas  pessoas,  por  desconhecimento,  podem  achar  que  você 
só  está  querendo  justificar  suas  próprias  ações  e  reações  ao 
alegar  problemas  emocionais,  podem  começar  a  se  distanciar,  a 
espalhar  boatos  sobre  você  –  coisas  que  você  certamente  quer 
evitar.  
 
Depende  também  do  relacionamento  que  você  tem  com  a 
pessoa, depende da forma e do momento em que você aborda e 
explica o assunto, depende das idades e parentescos envolvidos, 
e  assim  por  diante.  Mais  uma  vez,  o  ideal  seria  ter  o  suporte  de 
um  profissional  compassivo  e  experiente.  Na  falta  do  mesmo, 
procure  antes  de  mais  nada  sempre  avaliar  a  fundo  exatamente 
por  que  você  está  querendo  (ou  precisando)  contar  a  alguém 
sobre  seu  problema,  e  quais  são  os  possíveis  e/ou  prováveis 
benefícios/riscos/conseqüências. 
 
O  caminho  mais  recomendável  talvez  seja  o  de  informar  os 
outros,  na  medida  que  julgar  necessário  e  viável,  que  você 
simplesmente  tem  dificuldade  em  administrar  suas  emoções  e 
reações,  e  que  você  está  trabalhando  isto,    assim  como  muitas 
pessoas ‐ inclusive executivos de grandes empresas – freqüentam 
cursos para aprender a controlar estresse e raiva.  
 

44
Pode ocorrer que você realmente tenha magoado e prejudicado 
outras pessoas no passado por comportamentos decorrentes de 
sua  impulsividade,  intolerância  a  crítica,  medo  de  abandono,  e 
outras características da alta sensibilidade emocional.  
 
Por  exemplo,  você  pode  ter  se  afastado  de  sua  família  e 
“adotado” a família de amigas ou namorados/cônjuges, por sentir 
que nestes outros ambientes você estará menos sujeita a críticas 
e  cobranças.  A  sua  dedicação  e  seus  atos  de  bondade  são 
apreciados  de  uma  forma  que  alimenta  a  sua  auto‐estima,  e  lhe 
faz  sentir‐se  mais  útil  e  acolhida.  Entretanto,  talvez  você  não  se 
dê  conta  da  dor  causada  aos  seus  familiares  pelo  seu 
afastamento e aparente rejeição dos mesmos.  
 
Aos poucos, com terapia e uma reprogramação de suas reações, 
talvez  você  consiga  “chegar”  nessas  pessoas  que  lhe  são 
importantes  e  começar  a  reconstruir  seu  relacionamento.  Nada 
como um dia após o outro, mesmo não havendo garantia de que 
as coisas transcorram na forma exata que desejaríamos.  

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V. ABORDAGENS TERAPÊUTICAS
 
Não é muito comum uma pessoa com sintomas Borderline buscar 
ajuda psicoterápica por iniciativa própria para o transtorno em si 
–  e,  também,  muitas  vezes,  mesmo  quando  inicia  terapia  e  a 
mesma começa a focar o transtorno, ela a abandona. 
 
Pois,  considerando  que  a  pessoa 
com  sintomas  Borderline  sofre 
intensamente com crítica e medo de 
rejeição,  vergonha  de  si  mesma,  e 
confusão  quanto  aos  seus  próprios 
sentimentos,  uma  abordagem  que 
não  leva  esses  aspectos  em  conta 
provavelmente  não  terá  muito 
sucesso.  É  importante  o  terapeuta 
dar  o  mesmo  tanto  de  importância 
ao aspecto de aceitação quanto ao de necessidade de mudança, 
o que otimiza as chances de continuação do tratamento. 
 
Terapias  tradicionais  que  partem  do  pressuposto  de  que  os 
comportamentos  de  hoje  são  causados  por  experiências  do 
passado  muitas  vezes  não  levam  em  conta  os  componentes 
neurobiológicos  do  Borderline,  limitando  assim  seu  potencial  de 
êxito.  
 
Mas,  uma  vez  oficialmente  diagnosticado  o  transtorno,  as 
pessoas  com  Borderline  são  geralmente  tratadas  com  uma 
combinação de:  
 
a. estabilizadores  de  humor  e  antidepressivos.  Esses 
medicamentos  psicofarmacológicos  devem  ser  receitados  e 
ministrados  de  forma  extremamente  criteriosa,  pois  podem 
causar  graves  efeitos  colaterais,  que  variam  de  pessoa  para 
pessoa, existindo ainda o perigo de exagero no consumo de 
medicamentos,  pelo  fato  de  as  pessoas  com  sintomas 

46
Borderline  não  sentirem  tão  rapidamente  os  efeitos 
esperados dos mesmos; e  
 
b. terapias  de  eficácia  comprovada,  como  a  Cognitiva 
Comportamental  e  sua  derivada,  a  Terapia  Comportamental 
Dialética,  que  ajudam  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  a 
reconhecer e diferenciar e reprogramar os seus pensamentos 
e sentimentos. 

Cabe  aos  profissionais  da  área  de  saúde  mental  fornecer  uma 
descrição mais detalhada das terapias que podem ser usadas no 
tratamento  –  oferecemos  aqui  somente  um  pequeno  resumo 
superficial sobre as duas acima mencionadas.  
 
Segundo  a  Dra.  Judith  Beck,  que  continua  desenvolvendo  o 
trabalho  pioneiro  de  psicoterapia  iniciado  pelo  seu  pai,  Aaron 
“Tim”  Beck,  no  Beck  Institute  na  Filadélfia,  a  Terapia  Cognitiva 
parte do princípio de que crenças e pensamentos de uma pessoa 
influenciam  suas  emoções,  ações  e  sintomas  físicos,  e  que  as 
técnicas específicas que o terapeuta escolhe para usar com cada 
paciente  devem  ser  individualizadas  com  base  na  Conceituação 
Cognitiva  deste  paciente  (a  compreensão  do  terapeuta, 
confirmada pelo paciente, de quais são as crenças subjacentes do 
paciente;  os  padrões  não  adaptativos  que  ele  desenvolveu  para 
“lidar”  com  estas  crenças;  e  os  pensamentos,  emoções  e 
comportamentos  diários  que  aparecem  como  resultado  destas 
crenças). 
 
Por  outro  lado,  a  Terapia  Comportamental  Dialética  –  TCD  foi 
desenvolvida  especificamente  pela  Dra.  Marsha  Linehan, 
professora  de  psicologia  na  Universidade  de  Washington,  EUA, 
para tratar o transtorno de personalidade Borderline.  

Essa  abordagem  –  TCD  ‐  visa  ajudar  a  pessoa  com  sintomas 


Borderline a vislumbrar aos poucos as tonalidades de cinza entre 
seus  extremos  usuais  de  “preto  ou  branco”  (isto  é,  os  dilemas 
dialéticos) na sua forma de agir e pensar.  
47
A  terapia  individual  da  TCD  tende  a  ser  bastante  direta  e 
confrontativa,  e  busca  abordar  em  uma  sessão  semanal  os 
conteúdos  que  venham  a  se  apresentar.  A  prioridade  é  dada  à 
atenção a comportamentos suicidas e auto‐destrutivos, e depois 
a  comportamentos  que  interfiram  com  o  progresso  da  própria 
terapia. A seguir vem assuntos ligados à qualidade de vida e à sua 
melhora. 
 
Durante  a  terapia  individual  frequentemente  se  discute  como 
melhorar as  aptidões que compõem o modelo da  TCD, ou como 
superar os obstáculos ao desenvolvimento das mesmas. A terapia 
de grupo consiste geralmente em uma sessão semanal orientada 
ao  desenvolvimento  de  habilidades  específicas,  divididas  da 
seguinte forma: 
a) Atenção Plena (“mindfulness”) 
b) Regulação de emoções 
c) Tolerância à pressão e frustração 
d) Efetividade nas relações interpessoais. 

Continue  sempre  pesquisando  (verifique  tratamento  disponível 


em Itapira, São Paulo, por exemplo, no Instituto Bairral, liderados 
pelo  Dr.  Sérgio  Monteiro,  tel.  (19)  3863‐9400 (veja
http://www.doctoralia.com.br/medico/sergio+augusto+monteiro+dos
+santos-11943276; ou  no  Rio  Grande  do  Sul,  pela  Dra.  Ângela 
Leggerini de Figueiredo na PUCRS (cujo telefone de consultório é 
51  32227322,  ou  o  tratamento  focado  em  Terapia  Cognitiva 
Comportamental  realizado  pela  Dra.  Nilcéa  Coelho  na  região  do 
Rio  de  Janeiro  (falecomnilceacoelho@hotmail.com),  Continue 
também trocando idéias com outras pessoas e aprendendo cada 
vez  mais  sobre  as  manifestações  e  características  da  alta 
sensibilidade  emocional.  Novas  possibilidades  e  respostas 
surgirão, e assim você poderá encontrar ajuda para se recuperar 
mais  rapidamente  e  buscar  a  felicidade  que  você  procura.  Esse 
movimento,  essa  busca,  esse  esforço  de  sua  parte  certamente 
abrirão novos caminhos. 

48
VI. EMOÇÕES
 
Conforme explicado pela Judith Beck em seu livro  Terapia Cognitiva
- Teoria e Prática- Judith Beck - Ed. Artmed,  as  emoções  "negativas" 
são  normais  e  fazem  parte  de  nossas  vidas  tanto  como  as 
emoções  "positivas".  É  importante  aprender  a  diferenciar  os 
pensamentos automáticos das emoções, a rotular a emoções e a 
classificar a intensidade das emoções. 
 
Muitas  vezes  as  emoções  vêm  sem  identificação  específica. 
Ninguém passa o dia inteiro analisando e rotulando suas próprias 
emoções  –  agora estou feliz, agora fiquei frustrado, tou chateado, tou
deprimido, tou tenso, e  assim  por  diante.  Muitas  emoções  passam 
como nuvens no céu, e é somente quando essas se avolumam ou 
escurecem  ou  então  se  afastam  para  deixar  o  sol  brilhar,  que 
efetivamente reparamos e nos conscientizamos do nosso estado 
de espírito.  
 
A  pessoa  com  sintomas  borderline,  ao  ser  dominada  por 
sentimentos  muito  fortes,  conflitantes  e  confusos,  pode 
encontrar  dificuldade  em  reconhecê‐los  e  classificá‐los,  mesmo 
que este discernimento seja essencial para o desenvolvimento de 
seu controle emocional. Veja a seguir uma mera amostra de como 
você pode se sentir de uma hora para outra:  
 

Abandonada, anormal, abusada, aceita, realizada, ativa,


insatisfeita, chateada, entediada, briguenta, envergonhada, alerta,
audaciosa, temerosa, sonolenta, faminta, alegre, prestativa,
saudosa, impaciente, criativa, animada, irrequieta, angustiada,
exuberante, dramática, anti-social, pasma;

ciumenta, confusa, amorosa, ignorante, iluminada, insegura,


insignificante, insultada, intelectual, inteligente, constrangida,
grata, desolada, desesperada, solitária, irritadiça, corajosa, linda,
desengonçada, sortuda, discriminada, incompreendida, gorda,
inchada, descabelada, esperta;
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curiosa, derrotada, defensiva, elétrica, apática, assoberbada,
exausta, atônita, esperançosa, destruída, culpada, injuriada,
inspirada, distraída, sonhadora, indignada, debilitada, tonta,
exasperada, ciumenta, invejosa, ingênua, impaciente, sádica,
teimosa, simpática, loquaz, taciturna;

indecisa, vulnerável, vitoriosa, violenta, inútil, desmotivada,


espirituosa, descrente, pirada, pensativa, extasiada, agradável, p...
da vida, apaixonada, psicótica, impotente, pessimista, relaxada,
sexy, romântica, produtiva, sensível, arrependida, jovem, zen,
caprichosa, explorada, mal tratada;

perturbada, deprimida, abatida, generosa, glamorosa, hipócrita,


histérica, divertida, vazia, imatura, despreparada, desamparada,
gostosona, controlada, despreocupada, ansiosa, eufórica, dedicada,
sorrateira, mentirosa, excluída, explosiva, competitiva,
preocupada... 

Ao aprender aos poucos a conhecer e reconhecer melhor nossas 
emoções, poderemos começar a entender melhor os fatores que 
as geram, aceitar o fato de que muitas são realmente passageiras 
e  toleráveis,  e  distinguir  as  emoções  negativas  intensas  que  são 
dolorosas e podem ser disfuncionais quando interferem na nossa 
capacidade de pensar claramente, de resolver problemas, de agir 
efetivamente  ou  obter  satisfação.  Em  situações  dolorosas 
extremas  a  intensidade  de  emoção  é  excessiva  e  acaba  sendo 
inapropriada para a situação vivida. 
 
A sua jornada pessoal de recuperação vai exigir que você tenha a 
coragem  e  determinação  para  (i)  se  aceitar,  e  (ii)  começar  a 
analisar e reprogramar alguns de seus pensamentos e reações – 
isto  pode  parecer  paradoxal,  mas  são  dois  aspectos 
indispensáveis  para  o  sucesso,  o  qual  só  virá  com  tempo  e 
esforço e ajuda. 
 

50
O conceito de mudança pode lhe assustar, e você talvez sinta que 
não  está  pronta  para  uma  empreitada  tão  “radical”.  Isso  é 
perfeitamente  compreensível.  Não  precisa  sentir  vergonha  se 
hesita  em  dar  os  primeiros  passos  para  sua  recuperação,  em  se 
enveredar  por  um  caminho  novo  e  aparentemente  cheio  de 
riscos  e  perigos.  Mas,  chegará  um  momento  em  que  você 
concluirá que está na hora de assumir a responsabilidade pelo seu 
futuro. E a sua recompensa será uma vida nova e promissora. 
 
Não somos responsáveis pelo que nos fez ser quem somos
agora.
Porém, daqui para a frente, somos responsáveis pela pessoa
que passamos a ser, e por tudo que dissermos e fizermos.
 
E S C O L H A S 
Você pode curtir ser quem você é, do jeito que você for ou viver 
infeliz por não ser quem você gostaria. 
Você pode assumir sua individualidade ou reprimir seus talentos e 
sonhos, tentando ser o que os outros gostariam que você fosse. 
Você pode produzir‐se e ir se divertir, brincar, cantar e dançar ou 
dizer em tom amargo que já passou da idade ou que essas coisas 
são fúteis, não sérias e bem situadas como você. 
Você pode olhar com ternura e respeito para si próprio e para as 
outras pessoas ou com aquele olhar de censura, que poda, pune, 
fere e mata, sem nenhuma consideração para com os desejos, 
limites e dificuldades de cada um, inclusive os seus. 
Você pode amar e deixar‐se amar de maneira incondicional ou 
ficar se lamentando pela falta de gente à sua volta. 
Você pode ouvir o seu coração e viver apaixonadamente ou agir 
de acordo com o figurino da cabeça, tentando analisar e explicar 
a vida antes de vivê‐la. 
Você pode deixá‐la como está para ver como é que fica ou com 
paciência e trabalho conseguir realizar as mudanças necessárias 
na sua vida e no mundo à sua volta. 
Você pode deixar que o medo de perder paralise seus planos ou 
partir para a ação com o pouco que tem e muita vontade de 

51
ganhar. 
Você pode amaldiçoar sua sorte ou encarar a situação como uma 
grande oportunidade de crescimento que a vida lhe oferece. 
Você pode mentir para si mesmo, achando desculpas e culpados 
para todas as suas insatisfações ou encarar a verdade de que, no 
fim das contas, sempre você é quem decide o tipo de vida que 
quer levar. 
Você pode escolher o seu destino e, através de ações concretas, 
caminhar firme em direção a ele, com marchas e contramarchas, 
avanços e retrocessos ou continuar acreditando que ele já estava 
escrito nas estrelas e nada mais lhe resta a fazer senão sofrer. 
Você pode viver o presente que a vida lhe dá ou ficar preso a um 
passado que já acabou, e portanto, não há mais nada a fazer, ou a 
um futuro que ainda não veio, e que portanto, não lhe permite 
fazer nada. 
Você pode ficar numa boa, desfrutando o máximo de coisas que 
você é e possui ou se acabar de tanta ansiedade e desgosto por 
não ser ou não possuir tudo o que você gostaria. 
Você pode engajar‐se no mundo, melhorando a si próprio e, por 
conseqüência, melhorando tudo que está à sua volta ou esperar 
que o mundo melhore para que então você possa melhorar. 
Você pode continuar escravo da preguiça ou comprometer‐se 
com você mesmo e tomar atitudes necessárias para concretizar o 
seu plano de vida. 
Você pode aprender o que ainda não sabe ou fingir que já sabe 
tudo e não precisa aprender nada mais. 
Você pode ser feliz com a vida como ela é ou passar todo o seu 
tempo se lamentando pelo que ela não é. 
A escolha é sua. E o importante é que você sempre tem escolha. 
Pondere bastante ao se decidir, pois é você que vai carregar ‐ 
sozinho e sempre ‐o peso das escolhas que fizer.. 
 
Autor Desconhecido 

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VII. LIDANDO COM IMPULSIVIDADE E/OU
DEPRESSÃO
 
Muitas  vezes  as  pessoas  com  alta  sensibilidade  emocional  são 
censuradas  por  querer  ou  pensar  ou  fazer  coisas  que  são 
consideradas  inapropriadas  ou  intempestivas,  e  elas  acabam 
concluindo que estão erradas. 
 
Na  realidade,  de  modo  geral,  as 
pessoas  com  sintomas 
Borderline  querem  as  mesmas 
coisas  que  todo  mundo  quer  – 
querem  ser  felizes,  ter  um  bom 
emprego,  manter  boas 
amizades,  querem  receber 
carinho  e  aprovação,  querem  se  divertir,  querem  amar  e  ser 
amadas,  querem  se  realizar  profissionalmente.  Entretanto, 
tipicamente  querem  que  seus  desejos  sejam  atendidos 
plenamente e imediatamente.  
 
Já vimos que existem muitos motivos que podem lhe “empurrar” 
para  cometer  estes  atos  impulsivos  ou  entrar  em  um  estado  de 
depressão,  devido  às  suas  vulnerabilidades  biológicas  e  suas 
experiências anteriores.  
 
Mas  vamos  agora  olhar  para  o  lado  prático:  como  esses 
comportamentos  indesejados  podem  ser  previstos,  contidos, 
freados, contornados – e substituídos. 
 
A  proposta  básica  da  terapia  cognitiva  comportamental  é  que 
poderemos nos sentir melhor se conseguirmos substituir nossos 
pensamentos negativos automáticos (os PAN, que são a principal 
fonte  da  impulsividade  e  depressão)  por  pensamentos  mais 
positivos.  
 

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Abaixo  estão  descritas  algumas  táticas  que  podem  lhe  ajudar 
neste  sentido  –  algumas  exigem  mais  prática,  dando  excelentes 
resultados  a  longo  prazo  após  serem  devidamente  assimiladas, 
enquanto outras são mais “emergenciais”. 
 
1. Táticas para conter impulsos
prejudiciais
 
Mesmo  quando  você  estiver  na 
presença  de  outros  e  quiser  ser 
discreta,  você  pode  recorrer  aos 
cinco sentidos para se centrar e não 
ceder a impulsos prejudiciais: 
 
1. Tato   
a) pegue  um  cubo  de  gelo  e  segure  até  ficar  incômodo 
(porém não ao ponto de doer)  
b) banhe seu rosto com água fria  
c) tome um gole de água e segure na boca um pouco antes 
de engolir 
d) pegue  num  objeto  que  lhe  passa  segurança  (uma 
medalha, uma correntinha, um anel, etc.) 
e) mantenha  uma  gominha/elástico  no  seu  pulso  para  que 
você  possa  puxar  e  soltar  em  momentos  de  estresse, 
para voltar ao prumo mais depressa.  
 
2. Visão 
a) respire  fundo  e  comece  a  concentrar‐se  em  observar 
detalhadamente tudo que vê à sua volta – Tipo: o quadro 
naquela  parede  está  torto,  a  blusa  da  fulana  é  branca 
com  gola  rulê,  a  mesa  é  quadrada,  a  samambaia  está 
meio murcha, etc. 
 
3. Audição 
a) pare  tudo  para  prestar  atenção  em  todos  os  sons  e 
ruídos  à  sua  volta  –  seja  ônibus  buzinando,  o  motor  da 

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geladeira  vibrando,  uma  porta  rangendo,  o  zumbido  do 
computador  ligado,  um  telefone  que  toca,  um  pássaro 
que canta. 
 
4. Olfato 
a) tenha  à  mão  algo  que  tenha  um  cheiro  mais  forte  para 
lhe  despertar  –  tipo  um  sabonetinho  ou  lencinho 
umedecido  na  bolsa,  ou  pare  para  cheirar  uma  flor,  um 
cafezinho, etc. 
 
5. Paladar 
a) pegue  um  chiclete  (mastigar  é  relaxante,  seria  bom  ter 
sempre um chiclete à mão), ou pare tudo para comer ou 
beber algo e concentre‐se nisso. 
 
Seja criativa – ninguém conhece você melhor que você mesma – 
experimente  com  diferentes  formas  de  centramento  rápido  e 
eficiente,  encontre  as  que  melhor  funcionam  para  você,  e 
compartilhe com amigos em blogs, etc.  
 
2. Táticas para combater depressão
 
Mais uma vez, você pode usar os cinco sentidos: 

1. Tato  –  vista  um 


training  bem  macio, 
receba uma massagem 
ou  abraço,  acaricie  um 
cachorro  ou  gato, 
sentindo  seu  pelo 
macio  e  absorvendo 
seu  carinho 
incondicional;  tome 
um banho gostoso, passe um creme e sinta sua pele sedosa – 
tantas sensações boas estão ao seu alcance, não hesite em se 
mimar. 

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2. Visão  –  você  pode  curtir  a  natureza,  seja  na  vida  real  ou  em 
livros ou vídeos, observar peixinhos em um aquário,  fitar as 
chamas  de  uma  vela  ou  lareira,  olhar  para  a  vastidão  de  um 
oceano ou lago. 
 
3. Audição – qual é o seu tipo de música predileta? O que lhe faz 
sentir  mais  calma  e  ao  mesmo  tempo  energizada?  Pode  ser 
música zen com barulhinho de água no fundo, Enya com suas 
músicas  New  Age,  pode  ser  jazz  ou  rock  ou  MPB,  música 
clássica,  algo  que  lhe  transporta  para  um  lugar  virtual  mais 
acolhedor, reconfortante. 
 
4. Olfato – acenda um incenso ou uma vela perfumada, asse um 
bolo  ou  prepare  uma  torrada,    experimente  óleos  essenciais 
para aromaterapia, coloque um perfume gostoso. 
 
5. Paladar – muitos sabores podem nos remeter a momentos de 
alegria  e  tranquilidade  –  pode  ser  um  cafezinho  ou 
cappuccino, um pedaço de broa fresquinha, um sorvete, uma 
comida  caseira  ou  um  sushi  com  wasabi  –  tudo  depende  da 
sua história, de suas preferências, lembranças e associações. 

3. Outras dicas para inserir uma pausa entre o impulso e o ato


decorrente

a) Fazer perguntas a si mesma


Respire fundo e se pergunte ANTES de ceder a um impulso: 
a. É realmente importante fazer isso?  
b. Vai ser bom para mim a curto prazo? 
c. Vai prejudicar a mim e outros a longo prazo? 
d. Se  eu  for  adiante  com  isso,  como  vou  me  sentir 
amanhã? E depois? 
e. E se eu deixar de obedecer este impulso agora, como 
vou me sentir amanhã? 

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Essa  estratégia  não  é  tão  fácil  de  ser  implementada, 
principalmente  nas  primeiras  vezes.  Pois,  já  que  a  impulsividade 
diz  respeito  a  atos  impensados,  e  o  ato  de  responder  as 
perguntas  acima  exige  que  você  pare  para  pensar,  você  vai 
precisar  de  algum  tempo  para  reprogramar  seus  hábitos  e  suas 
reações.  Mas  aos  poucos  você  vai  assimilando  e  automatizando 
essa sequencia, e descobrirá que é de grande ajuda – é como se 
fosse o Grilo Falante que atua como a consciência do Pinóquio.  

b) Protelar
Por  exemplo,  se  você  sente  o  forte  impulso  de  dirigir  de  forma 
perigosa,  primeiro  procure  fazer  um  esforço  para  dirigir  mais 
lentamente durante uns quinze minutos – e veja o que acontece. 
Quem  sabe  a  vontade  passa.  E  se  você  está  a  fim  de  estourar  e 
gritar  com  alguém,  ou  se  cortar,  ou  tomar  doses  excessivas  de 
remédio, procure postergar esses atos, seja contando até dez ou 
escolhendo  alguma  outra  atividade,  tipo  mandando  uma 
mensagem/torpedo para alguém.  
 
Com  o  tempo,  você  vai  conseguir  melhorar  sua  capacidade  de 
tolerar  frustração  e  retardar  a  gratificação  –  ambos  aspectos 
chave para uma vida mais saudável e equilibrada. E também, com 
o  tempo,  você  vai  descobrir  que  a  impulsividade  não  é  tão 
intrínseca  e  necessária  à  sua  personalidade  quanto  você 
acreditava. Além disso, devemos nos lembrar que nem sempre o 
que desejamos intensamente em dado momento é o melhor para 
nós a longo prazo 

c) Procurar distração
Você  pode  usar  diferentes  formas  de  distração,  executando 
atividades  bem  diversas  das  que  você  sente  tanta  urgência  de 
fazer – atividades alternativas prazerosas, que ajudam a atenuar a 
sua frustração e lhe fornecem outros tipos de gratificação. 
 
Dependendo  de  suas  preferências,  você  pode  contemplar  algo 
como: 

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• Sair para caminhar ou correr, fazer ginástica  
• Assistir um filme 
• Desenhar  e/ou  colorir,  talvez  uma  mandala  –  tem 
diversos modelos na internet 
• Ler  um  livro  interessante,  ou  pegar  uma  revista  para 
folhear 
• Ligar para um amigo 
• Surfar na internet ou papear no Skype ou tuitar 
• Tomar um banho longo e relaxante 
• Receber uma massagem 
• Fazer  arrumação  na  sua  casa,  no  seu  quarto,  em  uma 
gaveta 
• Fazer  um  suco  de  limão  ou  laranja,  curtindo  o  aroma 
cítrico  
• Mexer  com  plantas,  regá‐las  para  sentir  o  cheiro 
gostoso de terra molhada 
• Brincar com um animal de estimação  

d) Conversar consigo mesma


Ao sentir a aproximação de uma onda de raiva ou impulsividade 
ou frustração, procure mudar de ambiente ou de quarto, respire 
fundo e comece a conversar consigo mesma – como se fosse um 
adulto  carinhoso  falando  com  sua  criança  interior  que  está 
magoada  e/ou  querendo  fazer  birra.    Ou  use  a  figura  de  uma 
boneca  ou  bichinho  de  pelúcia  para  conversar,  desabafar, 
argumentar. 
 
Ao conversar consigo mesma, você se acalma e reflete sobre suas 
ações, e toma consciência do fato de que suas reações podem ser 
contempladas  como  algo  independente  de  você,  e  assim  sendo 
você poderá aprender a ter mais poder e controle sobre elas.  

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4. Táticas a médio e longo prazo

a)Fazer papel de repórter


1. Descreva  –  neste  caso,  por  escrito  ‐  um  episódio  recente  ou 
marcante  de  impulsividade,  da  forma  mais  objetiva  possível, 
com  todos  os  detalhes  –  como  se  você  fosse  um  jornalista 
fazendo  uma  reportagem.  Pode  ter  sido  uma  briga,  uma 
explosão emocional, um episódio de auto‐lesão, um pequeno 
furto  em  loja,  comer  ou  beber  compulsivamente,  dirigir 
perigosamente,  fazer  sexo  indiscriminadamente,  consumir 
drogas, o que seja.  
2. Especifique  onde  você  estava  e  o  que  estava  fazendo 
justamente  antes  de  agir  impulsivamente  –  se  estava  no 
serviço, numa festa, conversando num barzinho, namorando, 
ou sozinha em casa assistindo TV, etc. 
3. Procure  definir  como  você  estava  se  sentindo  logo  antes  de 
agir impulsivamente, verificando a lista de emoções sugeridas 
logo acima.  
4. Agora, descreva o que você esperava que acontecesse como 
resultado  do  seu  ato  impulsivo  –  talvez  você  quisesse  aliviar 
seu  tédio,  sentir‐se  mais  conectada  com  a  realidade,  mais 
dona  de  si  em  um  ambiente  social,  menos  invejosa  ou 
frustrada,  amenizar  sua  irritação  por  ter  recebido  ou 
percebido uma crítica, ou algo assim.  
5. E  o  que  você  sentiu  depois  de  ter  cedido  ao  arroubo  de 
impulsividade?  Avalie  se  você  conseguiu  o  que  você 
pretendia.  Talvez  você  descubra  que,  embora  seu  ato 
impulsivo  prometia  gerar  um  alívio  ou  um  “barato” 
temporário,  logo  em  seguida  você  acabou  voltando  ao 
patamar/sentimento existente antes ao ato, ou então acabou 
se  sentindo  até  pior  do  que  antes.  Muitas  vezes  vem  uma 
onda  de  remorso,  auto‐desprezo,  culpa,  vergonha,  sensação 
de  isolamento  do  mundo.  Anote  o  que  você  puder,  isto  lhe 
será útil depois. 
 

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Então, resumindo: 
1. Descreva um ato impulsivo/ impensado seu 
2. Lembre  onde  você  estava  e  o  que  estava  fazendo  antes 
de agir 
3. Explique como se sentia antes do ato impulsivo 
4. Escreva o que você esperava conseguir com este ato 
5. Conte como você se sentiu depois do ato, e se conseguiu 
ou não o que pretendia.  
 
Cada vez que você fizer esse “exercício”, você vai aprender mais 
sobre  si  mesma,  e  vai  entender  melhor  por  que  faz  coisas 
impulsivas.  Você  precisa  ser  clara  e  honesta  consigo  no  seu 
relatório  –  sua  objetividade  é  sua  grande  aliada!  Ninguém  mais 
precisa  saber,  se  você  não  quiser  compartilhar  suas  avaliações  e 
constatações – mas cada análise lhe trará mais perto de um auto‐
controle  mais  satisfatório  e  efetivo.  Se  você  puder  conversar 
sobre  suas  descobertas  com  um  terapeuta,  uma  troca  de  idéias 
seria  extremamente  proveitosa  –  pois  é  um  caminho  bem  difícil 
de se trilhar totalmente sozinha.  

b) Usar auto-afirmações
Uma outra forma, que pode ser alternativa ou complementar às 
sugeridas  acima,  envolve  a  elaboração  de  afirmações  que  você 
vai aprendendo a fazer automaticamente para si mesma, para lhe 
ajudar  em  momentos  de  estresse,  de  monotonia  irritante,  de 
ansiedade,  de  busca  de  emoções  fortes,  de  risco  de  perigo  – 
situações que podem provocar uma impulsividade indesejável. 
 
Alguns exemplos de auto‐afirmação seriam: 
• Eu  posso  me  dar  o  luxo  de  ceder  a  esse  impulso  mais  tarde, 
em outra hora, portanto não precisa ser agorinha mesmo 
• Não  gosto  desses  impulsos,  e  tenho  que  reconhecer  que  às 
vezes eles vão embora se eu não  os  acato de imediato (tipo: 
eu deveria poder mandar neles, e não eles em mim) 
• Estou  vendo  que  minha  impulsividade  está  me  prejudicando 
de  várias  formas  –  preciso  encontrar  atividades  alternativas 

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para dar uma guinada na minha vida, fazer outras coisas mais 
divertidas e mais salutares 
• Cada vez que consigo controlar meus impulsos, sinto‐me mais 
poderosa e confiante 
• Eu quero me orgulhar dos meus esforços e minhas conquistas 
em vez de me sentir um lixo após ceder à minha impulsividade 
negativa / destrutiva 
• Nem  todo  sentimento  ou  impulso  meu  tem  que  ser 
extravasado, concretizado 
• Às vezes o que parece bom na hora só dá “titica” mais tarde. 
• Só  porque  estou  a  fim  de  alguma  coisa  não  quer  dizer  que 
efetivamente preciso desta coisa, muito menos agora. 
 
Você  pode  desenvolver  suas  próprias  frases  ou  lembretes,  de 
forma  mais  personalizada,  e  colocá‐las  numa  agenda  ou  num 
arquivo  do  computador  ou  IPod  para  que  você  tenha  acesso 
rápido e fácil a qualquer momento. Toda vez que você sentir que 
conseguiu  se  controlar,  você  tem  todo  direito  de  sentir  orgulho 
de si mesma, e de se parabenizar!  

c) Buscar outras fontes de adrenalina


 
Muitas  pessoas,  inclusive  alguns  borderlines,  possuem  uma 
predisposição a buscar emoções fortes e situações de maior risco 
e  perigo.  Se  você  sente  essa  necessidade  premente  de  buscar 
sensações  fortes,  isto  muitas  vezes  pode  lhe  envolver  em 
situações que são perigosas não só para você como para outros 
ao seu redor.  
 
Estude  então  a  possibilidade  de  buscar  alternativas  mais 
saudáveis que possam preencher essa necessidade, tais como: 
• Escalada 
• Rafting 
• Mergulho 
• Trekking 
• Trilha de bike 
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• Arvorismo, tirolesa  
• Hipismo 
• Esportes radicais 
• Skateboarding 
• Turismo de aventura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sem dúvida, esta lista inclui atividades arriscadas, que devem ser 
praticadas  com  o  máximo  preparo  e  cuidado  possíveis,  usando 
todo  o  equipamento  de  segurança  necessário,  etc.  Mas  são 
sugestões  válidas  de  alternativas  para  comportamentos 
indesejáveis. 
 
Por  outro  lado,  algumas  pessoas  simplesmente  curtem  o 
gostinho  de  competir  ‐  e  podem  satisfazê‐lo  de  outras  formas 
menos radicais. Podem ficar empolgadas com um jogo de xadrez 
ou truco, futebol ou basquete, gincanas e ações de voluntariado, 
participando  em  aulas  de  culinária  e  inventando  receitas, 
escrevendo,  desenhando,  etc.  Existem  diversas  formas  de  se 
atender  a  esse  desejo  de  enfrentar  desafios  e  extravasar  sua 
criatividade  –  e  ainda  obter  o  beneficio  adicional  de  conhecer 
mais  gente,  aprender  coisas  novas,  ser  mais  apreciado  como 
companheiro/a, fortalecer a auto‐estima.  

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VIII. NOVAS PERSPECTIVAS

Já  vimos  que  muitas  pessoas  com  alta  sensibilidade  emocional 


e/ou  características  Borderline  demonstram  a  tendência  de 
interpretar gestos, palavras, atos, atitudes, eventos, etc. de uma 
forma que pode não condizer com as verdadeiras intenções dos 
outros  e  os  acontecimentos  efetivos.  Essa  percepção 
diferenciada,  ou  distorção  cognitiva,  é  intimamente  relacionada 
aos  aspectos  neurobiológicos  abordados  em  maior  detalhe  em 
capítulos anteriores.  
 
Felizmente,  estas  percepções  negativas  (e/ou  pensamentos 
automáticos  negativos  –  os  PAN)  podem  ser  gradualmente 
alteradas  através  de  uma  reprogramação  ou  re‐educação 
sistemática  e  corretamente  direcionada,  de  preferência  sob  a 
orientação e acompanhamento de um experiente, compassivo  e 
dedicado terapeuta.  
 
 

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1) Reconhecendo distorções cognitivas, como:

a) Pensamento preto ou branco, oito ou oitenta


Esta  tendência  pode  lhe  levar  a  enxergar  as  coisas  e/ou  pessoas 
como  perfeitas  em  um  momento  e  totalmente  imprestáveis  em 
outro.  

b) Extrapolação/ generalização
Um  acontecimento  –  como  perder  o  emprego,  levar  bolo  de 
namorado, ter um cheque devolvido, ter uma proposta recusada, 
etc. – já pode lhe levar a acreditar que este revés deve ser válido 
para tudo na sua vida: “sou um fracasso  total,  nunca vou conseguir 
nada na minha vida, isso sempre acontece comigo”. 

c) Prisma negativo
Entre as coisas que lhe acontecem, você pode ter dificuldade em 
enxergar  o  lado  positivo,  e  pode  acabar  se  fixando  mais  no 
negativo.  Por  exemplo,  se  você  faz  uma  apresentação  de 
trabalho e, entre todos os elogios recebidos dos colegas, uma só 
pessoinha  faz  um  comentário  crítico  –    é  talvez  sobre  esse 
comentário  negativo  que  você  vai  se  por  a  ruminar  por  dias  (ou 
anos?).  

d) Conclusões precipitadas
Você  pode  tender  a  chegar  rapidamente  a  uma  conclusão 
negativa,  mesmo  quando  nenhum  dos  fatores  aparentes  apóia 
essa  conclusão.  Por  exemplo,  se  você  acha  que  alguém  lhe  olha 
de  forma  diferente,  pode  concluir  de  imediato  que  essa  pessoa 
não  gosta  de  você  ‐  quando  ela  pode  simplesmente  estar 
preocupada com coisas que não tem nada a ver com você.  

e) Tamanho dos problemas


Você  pode  enxergar  seus  problemas  e  possíveis  defeitos  como 
excessivamente  sérios.  Problemas  e  a  percepção  dos  mesmos 
não são efetivamente passíveis de comparação entre uma pessoa 
e  outra.  Entretanto,  é  a  mais  pura  verdade  que,  de  vez  em 
64
quando,  é  salutar  lembrar  dos  pontos  positivos  em  nossa  vida, 
tornando a nossa perspectiva mais objetiva e otimista. 

f) Raciocínio emocional
Como  já  comentamos  acima,  a  predominância  da  “lógica” 
emocional  sobre  a  racional  é  algo  instintivo  para  a  pessoa  com 
alta  sensibilidade  emocional,  porém  o  aspecto  “retroativo”  e 
atemporal  deste  raciocínio  emocional  é  algo  que  perturba  e 
aliena  os  outros  e  pode  resultar  em  problemas  no  seu  dia‐a‐dia, 
promovendo atitudes mais negativas de sua parte.  

g) Projeções do “deveria”
Frases que começam com as palavras “deveria”  ou “tinha que”, 
indicando  expectativas  ou  falta  de  opção,  geralmente  são 
contraproducentes.  Se  você  aplica  a  intenção  a  si  mesma,  você 
vai se sentir encurralada, sem opção. E quando você tenta aplicar 
o  conceito  aos  outros,  cria  expectativas  que  provavelmente  lhe 
trarão mais frustrações.  

h) Rótulos
Rotular é combinar a atitude 8/80 com a atitude de generalização 
excessiva  –  por  exemplo,  em  vez  de  simplesmente  aceitar  que 
cometeu  um  erro,  você  já  se  considera  uma  fracassada  ou 
incompetente. Isto está longe da realidade. Todo mundo erra, e é 
assim  que  se  aprende.  Então  pense  em  si  mesma  como 
batalhadora,  corajosa,  persistente,  e  lembre‐se  de  coisas 
importantes que você já conseguiu realizar.  

i) Personalização e culpa
O conceito de personalização pode ser visto sob diversos ângulos 
– um deles sendo o de achar que tudo tem a ver com você; mas 
também tem o aspecto de que você pode estar se considerando 
responsável  por  coisas  que  na  realidade  não  estão  sob  seu 
controle, seja total ou parcialmente. Esse tipo de personalização 
gera sentimentos de culpa, vergonha, incompetência, e alimenta 
a depressão e a tristeza. 

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Por  outro  lado,  algumas  pessoas  podem  partir  para  o  lado 
oposto, e colocar a culpa de tudo em cima dos outros, sem levar 
em  consideração  as  formas  em  que  elas  mesmas  podem  estar 
contribuindo para o problema. 
 
2. Modificando as distorções cognitivas

 
Aqui estão algumas sugestões de atitudes que podem lhe ajudar 
a  perceber  o  mundo  com  outros  olhos,  diminuindo  a  sua 
angústia, ansiedade e depressão. 

a) Identifique o tipo de percepção errônea


Qual  foi  o  tipo  de  pensamento  negativo  que  lhe  veio  –  e  qual 
distorção  entre  as  relacionadas  acima  você  acha  que  pode  ter 
sido a causa?  

b) Examine as provas
Ao  invés  de  simplesmente  partir  do  pressuposto  que  seus 
pensamentos  negativos  refletem  a  realidade,  examine  as 
evidências que lhe levaram a esta conclusão. 

c) Fale consigo mesma


Em vez de se criticar duramente, fale consigo como se estivesse 
falando  com  uma  amiga  com  problema  semelhante  – 

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provavelmente  você  demonstrará  mais  compaixão  e  paciência 
enxergando o caso como se fosse dos outros, em vez de seu. 

d) Busque o meio termo


Em  vez  de  adotar  a  atitude  de  classificar  tudo  como  preto  ou 
branco, lembre‐se de todas as matizes intermediárias que podem 
ser  contempladas.  Quando  algo  não  dá  certo,  procure  atribuir 
uma nota entre 0 e 10, para distinguir melhor os prós e contras de 
um evento ocorrido. 

e) Faça uma pequena pesquisa de opinião


Confira com outros se seus próprios pensamentos e atitudes são 
realistas.  Por  exemplo,  se  você  acha  que  não  é  normal  ficar 
nervosa  ao  falar  em  público,  pergunte  a  outros  se  já  sentiram 
nervosismo  nessa  situação  –  e  acabará  descobrindo  que  muitos 
dos seus temores são compartilhados por um grande número de 
pessoas. 

f) Descreva situações com outras palavras


Procure  usar  termos  que  são  menos  intensos  e  carregados  ao 
avaliar ou descrever uma situação. Por exemplo, quando você se 
pega  dizendo  “foi  burrice  ter  feito  aquilo”,  delete  a  frase,  volte 
atrás e reformule assim: “teria sido melhor se eu não tivesse feito 
aquilo  daquele  jeito”.  Isso  diminui  a  carga  emocional  e  abre  o 
leque para cogitar outras opções.  

g) Não assuma toda a culpa


Em vez de automaticamente assumir que você faz tudo errado e 
que portanto tudo é culpa sua, pense em todos os outros fatores 
que podem ter contribuído para uma dada situação. Focalize seu 
pensamento na solução do problema, em vez de gastar toda sua 
energia em se culpar e se martirizar. 

h) Não atribua toda a culpa aos outros


Por  outro  lado,  não  procure  se  isentar  de  toda  a  culpa  por  um 
evento.  Analise  onde  você  pode  ter  contribuído  de  forma 
67
negativa,  para  que  você  possa  tomar  atitudes  melhores  da 
próxima vez.

i) Analise o custo-benefício
Faça  uma  relação  de  todas  as  vantagens  e  desvantagens  de 
adotar  ou  nutrir  um  dado  sentimento  –  isso  é  aplicável  também 
com  relação  às  crenças  problemáticas,  conforme  veremos  mais 
adiante.  Essa  análise  poderá  lhe  trazer  algumas  surpresas  –  por 
exemplo,  um  aparente  benefício  de  ficar  atolada  na  tristeza  e 
melancolia (sim, às vezes é por opção mesmo da própria pessoa) 
é  que  é  mais  fácil  lamentar  do  que  tentar  ser  feliz.  Você  pode 
acreditar que, quando está infeliz, não tem o que perder, mas, se 
está feliz, tem tudo a perder. E assim acaba bancando a vítima, o 
que não lhe traz os resultados desejados.

3. Libertando-se de ressentimentos
 
É  importante  levar  em  conta  que  viver  eternamente  numa 
montanha  russa  de  emoções  é  altamente  cansativo.  Afinal  de 
contas,  você  está  lutando  contra  o  mundo  –  e  muitas  vezes 
contra si mesma ‐ o tempo todo. Se você se sente continuamente 
ameaçada,  insegura,  criticada,  mal‐amada,  pouco  valorizada, 
incompreendida, etc., e ainda tem que lutar para tentar controlar 
suas explosões emocionais, seus fortíssimos impulsos, sua raiva e 
revolta,  e  talvez  até  seu  ímpeto  de  beber,  se  machucar,  tomar 
drogas,  buscar  consolo  em  sexo  casual,  e  assim  por  diante,  é 
compreensível que você esteja exausta. 
 
A  sugestão  é  que,  antes  de  mais  nada,  você  busque  um  grau 
maior de aceitação – aceitação do fato de que essas dificuldades 
existem sim, mas que você não precisa despender tanta energia 
se  debatendo  contra  as  ondas  mais  fortes,  mais  avassaladoras. 
Você pode se manter mais próxima a uma margem mais segura, 
enquanto  se  fortalece  e  aprende  a  lidar  melhor  com  as 
turbulências.  Assim  você  pode  se  livrar  de  um  pouco  da  culpa, 
mágoa,  desejo  de  autopunição,  vergonha  e  tristeza  que  você 

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carrega.  E  consegue  aos  poucos  aceitar  também  que  existem 
elementos fora do seu controle que contribuíram para que você 
chegasse onde está agora.  
 
Você  provavelmente  tem  motivos  muito  válidos  para  guardar 
alguns  rancores  do  passado  com  relação  aos  outros  (veremos 
essa  questão  mais  adiante),  assim  como  talvez  sinta  muita 
vergonha por coisas que você mesma tenha feito.  
 
A  próxima  vez  que  você  estiver  pensando  coisas  ruins  sobre  si 
mesma, tente fazer o seguinte: 
 
1. Comece  aos  poucos  a  assumir  responsabilidade  por  ações 
que  você  agora  reconhece  tenham  sido  prejudiciais  e/ou 
indesejáveis  –  com  relação  a  outros  ou  a  si  mesma.  Se 
possível, procure pedir perdão se você magoou alguém. E se 
você mesma se prejudicou, peça desculpas a si mesma. 
 
2. Lembre‐se  de  que  você  nem  causou  nem  pediu  essa 
predisposição à alta sensibilidade emocional. Seus problemas 
comportamentais são o resultado de um conjunto de fatores 
inter‐relacionados, conforme já detalhado acima. 
 
3. Aceite  que  você  não  pode  mudar  o  passado,  nem  desfazer 
suas  ações  nem  dos  outros.  Se  você  ficar  presa  aos 
ressentimentos  e  arrependimentos  do  passado,  isto  lhe 
impedirá  de  avançar  na  sua  recuperação.  Não  fique  se 
criticando, se recriminando, nem se deixe assumir o papel de 
vítima,  de  coitada.  Você  tem  que  focar  no  futuro  –  nas  suas 
metas, na sua busca de recuperação e uma vida melhor. 
 
4. Para conseguir chegar a um ponto de maior auto‐aceitação e 
auto‐perdão,  é  útil  você  dizer  a  si  mesma  algo  como:  “Ok, 
estou  onde  estou.  Mas,  daqui  para  a  frente,  vou  dar 
pequenos  e  constantes  passos  para  construir  uma  vida 
melhor.  Não  vou  ficar  me  recriminando  se  eu  tiver  algum 

69
revés.  Continuarei  firme  no  meu  propósito  de  busca  de 
melhora.”  Você  tem  muito  mais  poder  do  que  imagina.  Seja 
paciente  consigo  mesma,  não  fique  se  comparando  aos 
outros, concentre‐se nas suas metas. 
  

 
 
E  ‐  quanto  a  perdoar  os  outros?  Talvez  você  tenha  sido  alvo  de 
muitos  abusos  e  injustiças,  e  tenha  sofrido  muitas  decepções  e 
maldades  nas  mãos  de  pessoas  próximas,  amadas,  da  própria 
família.  Isso  infelizmente  acontece  com  muitas  pessoas  que,  já 
tendo  nascido  com  as  vulnerabilidades  da  alta  sensibilidade 
emocional,  chegam  a  desenvolver  alguns  sintomas  ou 
comportamentos borderline. 
 
Primeiro, é importante frisar que perdoar não significa de forma 
alguma  que  você  vá  considerar  os  atos  cometidos  contra  você 
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como  aceitáveis  ou  justificáveis.  E  nem  significa  que  você  deva 
menosprezar ou minimizar a importância do que aconteceu com 
você.  Mas  o  essencial  é  contemplar  que  a  grande  vantagem  de 
perdoar é que isso lhe permite livrar‐se do fardo da raiva, do ódio, 
e/ou  desejo  de  vingança  que  você  carrega  o  tempo  todo,  algo 
que  prejudica  somente  a  você.  Como  dizem,  é  como  se  você 
quisesse  jogar  brasas  quentes  nos  que  te  magoaram  e  feriram, 
sendo que a única pessoa que se queima e sofre é você mesma. 
 
De início, você pode considerar essa tarefa de praticar o perdão 
impossível de ser realizada. Sem dúvida, o processo de perdão é 
complicado,  demorado,  e  muitas  vezes  implica  em  dois  passos 
para frente e um para trás. Mas aqui estão algumas dicas que lhe 
poderão ser úteis neste trabalho: 
 
1. Sempre  que  a  imagem  da  pessoa  que  lhe  ofendeu  ou 
magoou,  ou  do  evento  doloroso,  vier  à  sua  mente,  procure 
imediatamente  substituí‐la  por  outra  imagem  –  pode  ser  de 
um  artista  de  cinema,  um  animal  de  estimação,  um  bom 
amigo,  um  santo  ou  anjo  de  guarda,  um  personagem  de 
desenho animado (como o Rei Leão em cima da montanha) – 
a escolha é puramente pessoal, deve ser algo que lhe venha 
espontaneamente.  O  importante  é  que  você  possa 
rapidamente sobrepor essa imagem para amenizar a carga de 
raiva  ou  ódio  ou  ressentimento  associada  àquela  pessoa  ou 
evento,  e  permitir  uma  mudança  de  enfoque  e  a 
concentração imediata em algo diferente, positivo, benéfico. 
Ao fazer isso consistentemente, você verá que o sentimento 
negativo  associado  àquela  pessoa  ou  acontecimento  vai  se 
diluindo, não mais gerando aquele nó de ansiedade e revolta 
no seu âmago, no seu plexo solar, e não mais lhe dominando.  
 
2. Aos  poucos,  você  começará  a  se  sentir  mais  inteira  e 
protegida,  sem  voltar  ao  mesmo  grau  de  vulnerabilidade  ou 
impotência toda vez que relembra algo ruim do passado. Não 
entregue o seu poder aos outros. Procure não alimentar a sua 

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raiva  ‐  pelo  contrário,  imagine  que  você  está  a  beira‐mar, 
segurando  um  punhado  de  areia,  e  aos  poucos  você  solta 
essa  areia,  esses  grãos  de  raiva  e  ressentimento,  que  são 
levados pelas ondas, lavando a sua alma.  
 
3. Voce  poderá  encarar  o  perdão  como  um  desapego  do 
passado,  e  lembrar‐se  de  um  outro  aspecto  que  merece  ser 
considerado:  ao  alimentar  ressentimentos  contra  alguém, 
estamos julgando aquela pessoa segundo os nossos próprios 
conceitos –  NÓS achamos que ela  fez algo errado  e por isso 
merece  castigo  ou  retribuição  ou  algo  semelhante.  Mas  a 
rigor não temos o direito de julgar os outros segundo nossos 
critérios  (embora  alguns  critérios  éticos  obviamente  sejam 
universais)  –  e  isto  se  aplica  também  aos  “erros”  que 
cometeram  –  portanto,  deixe  que  o  tempo,  ou  a  justiça 
divina, etc. cuidem dessa parte. Livre‐se desses rancores para 
que você possa deixar de ser uma vítima e começar a assumir 
seu  papel  verdadeiro  de  guerreira  do  bem,  alguém  que 
conseguiu  e  vai  continuar  conseguindo  superar  grandes 
dificuldades. 
 
4. Sugestões de outras pessoas para lidar melhor com seus
pensamentos negativos:
 
• Procuro viajar ao meu âmago, buscar um nível de
energia onde eu mesma sou a luz que procuro, a
felicidade que desejo, o amor que me falta, a
abundância que almejo. Ao me tornar essas coisas, eu
as atraio para mim, elas se tornam parte de mim.

• Levanto a cabeça, olho em volta, vejo que tem tanta


gente em condição pior do que a minha, e depois
procuro saber o que posso fazer para ajudá-las.

• Eu sofro de depressão e ansiedade desde que me


lembre. O que mais ajuda a melhorar meu estado de
espírito é fazer as coisas que realmente gosto – mexer
com animais, visitar ou conversar com uma amiga “pra
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cima”, ler e rezar, sair para dar uma caminhada, fazer
aulas de algo interessante que me enriquece.

• Eu paro tudo, tento aquietar meus pensamentos e


sentimentos, respiro profundamente, concentrando-me
na minha respiração, penso em lugares e ocasiões
tranqüilas e prazerosas, momentos bons da minha
vida.

• Eu não tenho com quem conversar, portanto mantenho


um diário sobre os acontecimentos e pensamentos e
emoções de cada dia. Eu não tenho o talento de me
sentir magicamente melhor ao tentar me distrair. Vejo
que muitos pensamentos negativos são relacionados às
pessoas com as quais tenho que conviver, sem opção, e
que me tratam como alguém inferior. A única coisa que
eu consigo fazer é perseverar, sobreviver da melhor
forma possível, sempre pensando: isto tudo também
passará. É a única coisa que acho que posso dizer a
mim mesma que é incontestável.

• Três pontos essenciais: substituir os pensamentos


negativos por positivos, aprender a relaxar, arrumar
tempo para exercícios físicos. Isso ajuda a manter a
esperança viva.

• Para ajudar a fazer passar a raiva de algo no passado


ou presente, imagino uma mão serena, carinhosa e
refrescante pousada sobre minha fronte.

• Meus pensamentos negativos geralmente são


associados a ressentimentos sobre o passado ou medos
sobre o futuro. Assim, procuro trazer minha atenção
para o presente, conversando com alguém ou me
envolvendo em alguma tarefa. Também descobri que
ao perdoar outros e pedir perdão a carga de
pensamentos negativos diminuiu bastante. Também
tenho que assumir responsabilidade pelo que faço, e
não culpar os outros.

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• Sugiro sair de onde você está se sentindo deprimida,
pois quando a gente tá sozinha ou sem nada para
fazer, tudo fica mais pesado. Mudar de ambiente ajuda
demais – você pode ir ao supermercado, ao shopping,
nem que seja somente para olhar vitrine.

• Uma coisa que descobri que melhora o meu ânimo é


responder positivamente quando alguém me pergunta
– como vai? Mesmo me sentindo deprimida e triste.
Criei esse hábito, e o meu sorriso acabou tornando-se
autêntico, uma parte de mim.

• Eu imagino uma bolha protetora em volta de mim, que


não deixa passar as palavras que machucam, as
críticas que ferem, os olhares que magoam. Assim me
sinto protegida e tenho tempo para reconectar com
minha essência antes de reagir. Como dizem em um
filme – eu sou a dona da minha alma.
 

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IX. APRENDENDO A CONVIVER MELHOR COM OS
OUTROS
 
 
Todos  nós  queremos  conviver  de  forma  harmoniosa  e 
gratificante  com  nossos  parentes,  amigos,  colegas,  namorados, 
maridos, todas as pessoas importantes na nossa vida. 
 
Mas, para muitas pessoas com alta sensibilidade emocional, isso é 
muito  mais  difícil  do  que  parece.  Portanto,  é  importante  buscar 
formas  não  só  de  entender  melhor  suas  próprias  emoções  e 
reações, como também entender como seus comportamentos e 
suas  ações  afetam  os  outros.  Aos  poucos  você  pode  aprender a 
ser menos reativa e defensiva, adquirindo novas habilidades que 
lhe trarão ótimos resultados. 
 
A  primeiríssima  coisa  a  ser  enfatizada  é  algo  óbvio,  porém 
facilmente esquecido – as opiniões, os pensamentos, as crenças e 
as  emoções  das  outras  pessoas  não  estão  necessariamente 
alinhadas  com  as  suas.  Você  não  deve  partir  do  pressuposto  de 
que elas pensam e sentem de forma igual a você, pois cada uma 
tem a sua história e sua bagagem e o seu momento. 
 
Se  você  não  procura  se  colocar  no  lugar  delas  e  compreender  a 
motivação e situação delas, você corre um risco real de ofender, 
desrespeitar, magoar ou irritar as outras pessoas. Às vezes, quem 
sabe,  você  pode  também  sobrecarregar  os  outros  com  longos 
relatos  sobre  os  seus  próprios  problemas  –  problemas  que 
refletem  as  suas  preocupações  e  prioridades,  mas  que  podem 
estar distanciados do dia a dia da outra pessoa – portanto pode 
haver  um  choque  ou  descompasso  entre  a  relevância  relativa 
para os dois lados.  
 
Assim  sendo,  é  importante  começar  a  praticar  algumas 
habilidades  de  relacionamento  interpessoal,  e  ficar  antenada 
naquilo  que  preocupa,  interessa,  irrita,  magoa  ou  agrada  os 

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outros,  mesmo  que  não  explicitem  esses  sentimentos  e 
motivações.  
 
Ao  se  tornar  mais  sensível  às  necessidades  emocionais  dos 
outros, você estará mais preparada para: 
 
• Sentir empatia 
• Entender melhor as ações dos outros 
• Ajustar seu próprio comportamento às atitudes e reações 
dos outros na medida adequada 
• Antecipar como que os outros provavelmente reagirão ao 
que você diz ou faz 
• Distinguir  e  compreender  melhor  nuances  de  fala  tais 
como  sarcasmo,  humor,  indiretas,  gozação  amigável,  duplo 
sentido, etc.  
 
Se  você  tem  o  hábito  –  consciente  ou  não  –  de  projetar  nos 
outros  seus  próprios  sentimentos  negativos,  com  o  intuito  – 
geralmente  inconsciente  –  de  aliviar  a  sua  própria  angústia  e 
desconforto  ao  “passar  adiante”  para  outros  o  que  está  lhe 
incomodando,  isso  fará  com  que  você  realmente  acabe  levando 
tudo para o campo pessoal, atrapalhando seus relacionamentos. 
Isto  lhe  induz  a  interpretar  de  forma  errônea  uma  série  de  atos 
alheios  que  podem  ser  inteiramente  bem  intencionados  e 
inocentes e que não têm nada, mas nada mesmo, a ver com você 
pessoalmente.  
 
Se  você  se  preocupa  muito  com  sua  própria  aparência,  por 
exemplo,  ou  está  irritada  com  alguma  coisa,  você  pode  acabar 
criticando  os  outros  neste  sentido,  para  que  você  não  precise 
lidar  com  sua  própria  vergonha,  culpa,  angústia,  desconforto, 
insatisfação.  E,  como  consequência,  as  pessoas  que  convivem 
com você ficam surpresas com esses “ataques” que lhes parecem 
vir do nada, e podem sentir‐se injuriadas e ofendidas. 
 

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Para  que  você  possa  reduzir  essa  tendência  de  projetar  suas 
emoções  sobre  os  outros,  você  pode  experimentar  algumas 
atitudes diferentes – se possível, com o suporte de um terapeuta 
experiente. 
 
O  primeiro  passo  consiste  em  aprimorar  a  sua  percepção  de  si 
mesma  –  verificando  aquela  lista  de  emoções  no  capitulo  V  e 
sendo honesta na sua avaliação. E, se você estiver sendo tomada 
por  raiva,  por  exemplo,  repare  também  nas  suas  reações  físicas 
(aperto  no  peito,  tensão  nos  ombros  ou  pescoço,  contração  da 
mandíbula,  aceleração  do  ritmo  cardíaco,  rubor  no  rosto,  etc.) 
pois são sinais de alarme de que você possa estar prestes a dizer 
ou  fazer  algo  negativo  ou  ofensivo  –  portanto,  respire  fundo  e 
procure controlar sua reação. 
 
Ao conseguir conter sua reação, pergunte‐se: 
 
• Será que na realidade estou chateada é comigo mesma? 
• Será que fiz algo recentemente de que me envergonho, que 
me incomoda? 
• Será que estou apreensiva com alguma coisa? 
• Será que estou preocupada que alguém vai me abandonar? 
 
Se  a  resposta  a  alguma  das  perguntas  acima  for  sim,  sua  raiva 
provavelmente tinha mais a ver com você mesma do que com os 
outros.  Então,  em  vez  de  atacar  ou  contra‐atacar  alguém 
impulsivamente,  pratique  algumas  dessas  respostas 
“alternativas”,  que  são  menos  danosas  aos  seus 
relacionamentos: 
 
• Desculpe,  estou  meio  transtornada  agora,  depois  a  gente 
conversa mais, ok? 
• Entendo onde você quer chegar, mas não estou pronta para 
conversar sobre isso agora, ok? 
 

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Ficar irritada e zangada com os outros por causa de seus próprios 
sentimentos  de  vergonha  e  raiva  é  um  hábito  que  você  talvez 
tenha desenvolvido ao longo dos anos. Não é de uma hora para 
outra  que  você  vai  conseguir  mudar  isso  –  portanto  não  espere 
resultados imediatos, mas entenda que você está aos poucos se 
reprogramando para ter uma vida melhor. 
 
Ao  conversar  com  os  outros,  é 
benéfico  aprender  a  fazer  um 
revezamento  nos  seus  diálogos. 
Tente  habituar‐se  a  fazer  uma 
pausa de vez em quando (procure 
visualizar  a  tecla  do  controle 
remoto de DVD: PAUSE/ II) para  dar 
um  tempo  para  a  outra pessoa  se 
expressar,  concedendo  a  ela  a 
mesma  atenção  que  você  mesma 
gostaria  que  receber.  Com  isto 
você  não  somente  vai  melhorando  e  consolidando  seus 
relacionamentos,  como  também  vai  aprendendo  mais  sobre  as 
pessoas à sua volta e enriquecendo a sua vida.  
 
Para  ajudar,  você  pode  fazer  algumas  perguntas  para  que  a 
conversa flua de forma mais natural e agradável. O importante é 
que  você  demonstre  interesse  –  no  começo  pode  ser  meio 
forçado da sua parte, mas aos poucos vai ficando cada vez mais 
espontâneo  e  genuíno.  Pergunte  sobre  os  pensamentos  e 
experiências da outra pessoa, preste atenção de verdade no que 
ela  diz,  olhando‐a  nos  olhos.  Não  leve  as  respostas  da  outra 
pessoa  de  forma  pessoal,  nem  tente  ficar  imaginando  e 
procurando  segundas  intenções  nas  suas  palavras.  Procure 
controlar  o  seu  (antigo)  impulso  de  se  defender,  e  demonstre 
uma curiosidade amigável, empática. 
 
Por exemplo, você pode dizer: 
 

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• Que interessante! – conta mais! 
• E aí, o que você fez? 
• Não diga!! Que situação, heim? 
• É mesmo? (no tom correto para encorajar o papo). 
 
Procure evitar qualquer nuance de sarcasmo ou crítica, para que 
você possa dar continuidade a uma boa troca de idéias. Espere a 
pessoa  completar  suas  frases,  seus  pensamentos,  resistindo  ao 
ímpeto de interrompê‐la com pressa de voltar para SEU assunto. 
 
É  muito  comum  uma  pessoa  com  alta  sensibilidade  emocional 
interpretar erroneamente as expressões, palavras e atitudes dos 
outros,  devido  a  todos  os  motivos  já  anteriormente  explicados. 
Isto  é,  se  você  já  parte  de  uma  pressuposição  negativa,  uma 
atitude negativa leva a outra.  
 
Procure  relembrar  algumas  conversas  suas  que  tiveram  um 
desenrolar indesejável, para ver se você descobre em que ponto 
você  levou  alguma  coisa  pessoalmente  de  forma  indevida, 
gerando com isso um desentendimento, uma briga, uma ruptura. 
 
Por  exemplo,  pequenas  frases  totalmente  inofensivas  e  neutras 
dos  outros  podem  desencadear  uma  onda  de  raiva  e 
ressentimento dentro de você – se você as levar pessoalmente. 
 
O que você sente não é nem certo nem errado, é simplesmente o 
que  você  está  efetivamente  sentindo  –  mas  você  deve  procurar 
se  esforçar  para  reconhecer  esses  sentimentos  e  amenizá‐los 
antes de agir ou reagir com base neles, imprimindo cada vez mais 
objetividade aos seus diálogos.  
 
Provavelmente,  ao  longo  de  sua  vida  você  criou  defesas  para 
conseguir  lidar  com  o  mundo  que  seu  sistema  biológico  e 
emocional de modo geral interpreta como sendo hostil, perigoso, 
ameaçador  e  negativo  –  e  isto  faz  com  que  você  fique  a  maior 
parte  do  tempo  “com  um  pé  pra  trás”  –  e  reaja  de  forma 

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instintivamente  defensiva  a  qualquer  percepção,  por  mais  vaga 
que seja, de uma crítica ou ameaça em potencial.  
 
Sua forte reação, embora perfeitamente explicável do seu ponto 
de  vista,  muitas  vezes  pega  os  outros  de  surpresa,  por  não 
entenderem essa sua bagagem de reatividade e impulsividade, e 
você acaba afastando as pessoas sem querer. Voce pode ficar tão 
envolvida e dominada pelas suas emoções, que não repara direito 
as reações dos outros às suas palavras e seus atos. Isso gera uma 
quebra  na  comunicação,  um  desencontro  infeliz  que  pode  ter 
sérias conseqüências para seus relacionamentos. 
 
Quando  você  fica  muito  focada  em  seus  próprios  problemas  ao 
conversar com os outros, podem realmente começar a “desligar” 
e  acabar  fugindo  da  sua  presença.  Se  isso  acontece,    não  tem 
nada a ver com o seu valor como pessoa, não significa que você 
“não presta”, que você não tem nada importante para contribuir 
ao relacionamento, etc. Simplesmente significa que você também 
tem  que  fazer  a  sua  parte  e  começar  a  prestar  mais  atenção 
como  que  seu  comportamento  afeta  os  outros,  buscando 
melhorar esse convívio. 
 
Comece observando as expressões faciais das pessoas à sua volta 
quando  estão  conversando  entre  si  –  veja  se  você  consegue 
distinguir quando estão irritadas, felizes, impacientes, perplexas, 
neutras,  animadas,  cansadas,  entediadas,  e  assim  por  diante. 
Depois de praticar essa observação objetiva, como espectadora, 
comece  a  aplicar  esse  discernimento  aos  seus  próprios  diálogos 
com os outros.  
 
Cabe um comentário aqui – todos conhecemos algumas pessoas 
que têm o hábito de conversar interminavelmente, bastando um 
simples  ”hmmm”  ou  “é  mesmo”  para  “dar  corda”  a  um 
monólogo  por  horas  seguidas...  Mas  isto  somente  serve  para 
lembrar  como  isso  pode  ser  cansativo,  e  lhe  dar  mais  incentivo 
para evitar o mesmo erro. 

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Então  a  questão  é  trabalhar  sua  reação  automática  de  defesa 
contra críticas e ataques verbais percebidos para evitar que você 
solte  palavras  hostis,  ofensivas,  sarcásticas,  etc.  no  “calor  do 
momento”.  Provavelmente  sua  reação  se  baseia  na  famosa 
fórmula de que a melhor defesa é o ataque. E quando você está 
com  raiva  –  quando  qualquer  pessoa  está  com  raiva  –  não 
consegue  raciocinar  direito,  não  consegue  ser  ponderada  e 
objetiva. 
 
Vamos  repetir  algo  essencial:  não  leve  tudo  pessoalmente.  Se 
alguém  atrasa,  se  alguém  entra  na  sua  frente  na  fila,  se  alguém 
adia um compromisso, etc., isso não é intencionalmente dirigido 
contra  você.  Para  lhe  ajudar  a  ver  as  coisas  de  forma  mais 
impessoal, tente o seguinte: 
 
1. Pare e respire fundo e conte até cinco. 
2. Depois  pergunte  a  si  mesma  se  o  que  aconteceu  ou  foi  dito 
era  realmente  dirigido  contra  você  ou  não  tinha  nada  a  ver 
com você 
3. Avalie se ficar com raiva e extravasar essa raiva (geralmente 
em  cima  de  pessoas  “inocentes”)  vai  lhe  trazer  algum 
beneficio 
4. Pense  se  sua  raiva  vai  magoar  a  outra  pessoa  –  ou  causar 
mágoa e remorsos em você mesma 
5. Diga  a  si  mesma  –  “é,  às  vezes  coisas  ruins  acontecem, 
comigo  e  com  todo  mundo,  a  vida  é  assim  mesmo,  bola  pra 
frente”. 
 
E procure usar a tática do Grilo Falante para isso também – isto é, 
imagine um amigo do seu lado lhe dizendo: 
 
1. Vai com calma, senão você vai acabar falando o que não quer 
2. Vai ver que a outra pessoa falou isso sem maldade nenhuma 
3. Diga alguma coisa gentil, positiva, em vez de explodir, mude 
radicalmente de enfoque 

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4. Você gostaria que alguém falasse para você aquilo que  você 
está querendo botar para fora neste momento de raiva? 
 
Não  que  você  consiga  se  controlar  e  reprogramar  de  uma  hora 
para  outra.  Mas  esse  tipo  de  diálogo  interno, 
depois  de  automatizado,  ajuda  muito  a  criar 
aquela  pausa  (relembrando  a  tecla  PAUSE II)   tão 
essencial entre o surgimento de sua emoção ‐ e 
suas palavras e atitudes subsequentes. Assim, você vai ganhando 
mais  confiança,  e  melhorando  sua  auto‐estima  e  a  qualidade  de 
seus relacionamentos. 
 
Outra  tática,  um  pouco  mais  “avançada”,  é  aprender  a  ouvir  de 
verdade  o  que  a  pessoa  está  dizendo  a  você,  e  conseguir  ter  a 
objetividade  de  extrair  da  fala  uma  pequena  parte  com  a  qual 
você  consegue  lidar,  e  responder  somente  à  mesma.  Assim,  em 
vez de alimentar e aumentar o tom da discórdia, você desarma a 
“bomba”  proativamente,  mudando  de  enfoque.  Isto  não  quer 
dizer  que  você  deva  concordar  com  tudo  sem  estar 
verdadeiramente  de  acordo,  mas  sim  procurar  algo  na  fala  da 
outra  pessoa  com  que  você  honestamente  pode  concordar,  e 
trabalhar em cima disso. Responder sem revidar, mas colocando 
a sua opinião e posição. 
 
Por  exemplo,  se  seu  parceiro  diz  algo  como  –  você está sempre
largando louça suja na pia! – respire fundo, e procure responder algo 
como – entendo que você não goste disso, não é legal, mas às vezes tenho outras
prioridades. Vamos ver se a gente chega num acordo sobre isso?

Parece difícil – você pode até já estar sentindo o sangue ferver ao 
pensar  numa  situação  dessas!!  Mas  você  vai  conseguir,  sim,  aos 
poucos, ir aceitando o fato de que ninguém é perfeito, nem você 
nem  o  outro,  e  que  o  convívio  exige  flexibilidade  de  ambos  os 
lados,  e,  se  você  ceder  um  pouquinho  (de  modo  razoável)  não 
será  o  fim  do  mundo.  Você  não  vai  perder  a  sua  identidade  ou 

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autoridade. Vai aprender a dialogar, e se expressar de forma mais 
diplomática.  
 
E  quando  você  realmente  quer  reclamar  de  algo  que  você  acha 
injusto,  ou  quer  mudar  o  rumo  de  um  relacionamento,  ou  quer 
colocar  seu  ponto  de  vista,  procure  fazer  isso  de  uma  forma 
menos  agressiva,  mais  ponderada,  dando  abertura  para  um 
verdadeiro diálogo, praticando abordagens como: 
 
• Eu  posso  estar  enganada,  mas  parece  que  você  está 
chateado comigo?  
• Eu  posso  estar  sendo  hiper  sensível,  mas  não  consigo 
lhe responder direito quando você grita comigo ou usa 
esse tom de voz. 
• Estou  muito  cansada  –  seria  muito  legal  se  você 
pudesse me ajudar com essa tarefa. 
 
Esses preâmbulos predispõem os outros a lhe dar mais atenção, 
mais  compreensão,  e  você  ganha  duplamente,  porque  também 
sente o alívio de conseguir expressar suas próprias necessidades 
de uma forma mais produtiva e calma. 
 
Quanto a relacionamentos amorosos, a recomendação geral seria 
de  você  primeiro  praticar  a  consolidação  de  suas  habilidades 
interpessoais  com  pessoas  que  não  são  tão  próximas  a  você, 
onde não tem tanta carga emocional, antes de tentar estabelecer 
relacionamentos  mais  íntimos  e  intensos,  pois  estes  exigem 
muito  mais  de  você.  Ao  desenvolver  mais  autoconfiança,  verá 
que a tendência é atrair pessoas que lhe façam bem, ao contrário 
de antes. 
 
A  primeira  coisa  a  fazer  é  aprender  a  ouvir  –  ouvir  com  toda  a 
atenção,  com  o  coração  aberto,  com  calma  e  paciência  e  boa 
vontade.  Se  você  acha  que  já  tem  esse  dom,  ótimo  –  mas 
verifique  se  os  outros  concordam  com  você,  e  não  fique  com 
raiva se a opinião deles for contrária!!! 

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Segundo  –  procure  elogiar  os  outros,  praticando  isso 
frequentemente.  Você  mesma  vai  curtir  isso  e  vai  se  sentir  mais 
segura.  Não  use  generalidades  como  –  você é a melhor pessoa do
mundo, porque coisas desse tipo geralmente não convencem, não 
tem  o  efeito  desejado.  Procure  elogiar  aspectos  específicos, 
como: nossa, gostei do jeito que você conduziu aquela reunião difícil; ou – essa
comida que você preparou está deliciosa, que temperos que você usou? (mas não 
dê  ouvidos  ao  diabinho  dentro  de  você  que  sussurra  no  seu 
ouvido lhe incitando a acrescentar algo negativo logo depois  do 
elogio – tipo:  gostei do jeito que você conduziu aquela reunião difícil, ainda
mais depois do desastre que foi a última, ou essa comida que você preparou está
deliciosa, pena que você não cozinha assim o tempo todo).
 
As  pessoas  à  sua  volta  vão  criar  mais  confiança  com  relação  à 
previsibilidade  de  suas  atitudes,  e  esquecerão  os  diálogos 
ríspidos  e  críticos  do  passado,  curtindo  mais  a  pessoa  que  você 
realmente é, respondendo bem às suas palavras positivas e cada 
vez mais sinceras. 
 

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X. CONSOLIDANDO SUA
IDENTIDADE
 
Suas  reações  baseiam‐se  em  parte 
nas  suas  crenças.  E  é  importante 
distinguir  que  você  é  uma  coisa,  e 
suas crenças são outra. 
 
1. Crenças problemáticas
 
As  pessoas  desenvolvem  seus 
sistemas  de  crenças  na  infância,  à  medida  que  procuram 
entender  e  lidar  com  o  mundo  ao  seu  redor.  Assim,  muitas 
crenças giram em torno da forma em que foram criadas e como 
foram  tratadas  pelos  seus  pais,  professores,  amigos  e  parentes. 
Certos  eventos  marcam  profundamente  a  criança,  mas  podem 
passar  despercebidos  ‐  ou  ignorados  intencionalmente  ‐  pelos 
adultos  ao  seu  redor.  Muitas  pessoas  com  alta  sensibilidade 
emocional  e/ou  borderline  tiveram  infâncias  caóticas, 
imprevisíveis, sujeitas a influências e informações conflitantes.  
 
Portanto,  é  compreensível  que  suas  crenças  possam  variar  com 
base  nas  suas  experiências,    desencadeando  emoções 
avassaladoras.  Mas  agora  que  você  está  na  idade  adulta,  é 
importante tentar desenvolver uma visão mais objetiva das suas 
crenças e tornar‐se mais consciente de seu poder para mudá‐las. 
 
2. Identificando suas crenças
 
Para  que  você  possa  chegar  a  uma  definição  mais  clara  de  suas 
crenças  problemáticas  (um  assunto  extremamente  vasto, 
abordado aqui de forma muito sucinta e superficial), que podem 
incluir coisas do gênero:  minha mãe não me ama, sempre fui desajeitada,
nasci na família errada, meu pai não queria que eu tivesse nascido, etc. etc.), 
experimente o seguinte: 
 
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1. Descreva uma crença que lhe incomoda e atrapalha sua vida e 
seus comportamentos 
 
2. Anote  uma  ou  mais  lembranças  de  eventos  de  sua  infância 
que  podem  ter  contribuído  para  o  desenvolvimento  desta 
crença  
 
3. Anote alguns eventos ou acontecimentos na sua vida hoje em 
dia que tendem a reforçar essa crença, e observe se isso lhe 
transporta de volta à sua infância ou não 
 
4. Fique se lembrando que hoje você é adulta, e que os eventos 
que  desencadeiam  suas  emoções  hoje  geralmente  não  são 
tão  significativos  quanto  os  acontecimentos  que  geraram 
essas  crenças  na  sua  infância.  Lembre‐se  também  que  sua 
mente  verá  cada  vez  mais  claramente  a  distinção  entre  os 
eventos passados e os presentes.  
 
Essa percepção melhor da distância e diferença entre o passado e 
o presente somente virá com o tempo, mas é essencial para que 
você  possa  desenvolver  mais  segurança  e  autoconfiança.  Um 
aspecto  que  talvez  seja  um  obstáculo  no  seu  progresso  é  que 
uma parte de nós enxerga essas crenças como sendo benéficas, e 
assim não quer se livrar das mesmas.  
 
Então, buscando maior objetividade, você pode fazer uma análise 
de  custo/benefício  de  suas  crenças  (assim  como  em  relação  aos 
sentimentos,  conforme  vimos  acima).  Talvez,  ao  fazer  esse 
exercício,  você  descubra  mais  rapidamente  se  suas  crenças  são 
tão  vantajosas  quanto  você  pensa  ou  se  estão  lhe  sendo  mais 
prejudiciais do que você percebia. 
 
1. Escolha  uma  crença  que  é  muito  forte  em  sua  vida  –  como, 
por  exemplo,  que  o  mundo  que  lhe  cerca  é  extremamente 
perigoso. 
  

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2. Descreva  com  calma  todas  as  formas  possíveis  em  que  esta 
crença lhe parece benéfica e lhe proteger do mal. 
 
3. Anote todas as formas em que você percebe que essa crença 
possa  estar  lhe  sendo  prejudicial.  Por  exemplo,  se  você 
realmente acredita que sua crença sobre um mundo perigoso 
à sua volta gera uma cautela que lhe protege de perigos, você 
pode  questionar  se  isso  efetivamente  funciona.  Em  outras 
palavras,  temos  que  reconhecer  que  não  há  como  evitar 
todos os perigos possíveis da vida, sejam raios, acidentes, ou 
outros  imprevistos.  Então,  sua  crença  na  importância  de  se 
evitar todo e qualquer risco está na realidade lhe impedindo 
de viver uma vida plena. 
 
4. Volte e analise tudo que você escreveu.  
 
Veja como isso pode ser aplicado a relacionamentos. 
 
Se  você  acredita  que  todas  as  pessoas  importantes  na  sua  vida 
vão lhe abandonar mais cedo ou mais tarde, você pode achar que 
essa atitude precavida lhe traz os seguintes benefícios: 
 
• Posso  ficar  alerta  para  o  primeiríssimo  sinal  de  que  uma 
pessoa está perdendo o interesse em mim. Assim não vai me 
pegar de surpresa. 
• Não  vou  sofrer  tanto  seu  eu  estiver  preparada  para  o 
inevitável. 
• Essa crença permite que eu me agarre às pessoas, e elas vão 
achar que sou super dedicada. 
 
Mas,  ao  analisar  esses  pontos  (e/ou  discuti‐los  com  seu 
terapeuta),  você  poderá  descobrir  que  os  custos  são  bem 
maiores do que os benefícios. Veja: 
 
• Esta crença me torna pegajosa e as pessoas não gostam disso. 
Pego tanto no pé das pessoas que elas me evitam. 

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• A verdade é que ficar esperando que alguém me largue dói o 
mesmo tanto que não ficar nessa expectativa. 
• Muitas  pessoas  já  me  disseram  que  a  minha  presença  é 
sufocante. 
• Esta crença me torna excessivamente dependente dos outros. 
• Acho  que  essa  crença  aumenta  minha  probabilidade  de  ser 
abandonada pelos outros. 
 
3. Reprogramando suas crenças
 
Após  analisar  suas  crenças,  você  pode  adotar  a  prática  de  fazer 
planos para torná‐las mais positivas e produtivas: 
 
Auto-valia: quando eu quiser algo, vou avaliar se é bom para mim 
a  longo  prazo  e  não  vai  prejudicar  os  outros  à  minha  volta. 
Sempre  que  possível,  dentro  destes  critérios,  vou  começar  a 
expressar  os  meus  desejos,  de  uma  forma  diplomática  porém 
firme. 
 
Auto-aceitação:  vou  ficar  me  lembrando  que  sou  humana,  que 
erro  como  todo  mundo  erra,  e  vou  adquirir  o  hábito  de  pedir 
desculpas quando eu errar. 
 
Relacionamentos:  vou  começar  a  participar  de  alguns  grupos, 
matricular‐me  em  um  curso  interessante,  convidar  uma  colega 
para lanchar comigo. 
 
Percepção dos outros:  vou  fazer  uma  lista  do  que  considero  as 
virtudes  e  os  defeitos  de  certos  amigos,  para  começar.  Vou  ver 
que  todo  mundo  tem  um  pouco  de  cada.  Vou  pedir  uma  amiga 
confiável para me dar o ponto de vista dela, para poder comparar 
com o meu.  
 
Insegurança:  vou  começar  a  assumir  alguns  pequenos  riscos  na 
minha vida, sempre mantendo a devida precaução. Vou começar 

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a sair mais, fazer caminhadas, vou sozinha mas vou evitar lugares 
que são obviamente perigosos. 
 
Previsibilidade/controle:  vou  me  aventurar  a  fazer  algumas 
coisas que eu achava que não dava conta. Vou preparar um plano 
alternativo (ou dois) caso as coisas não dêem certo. Vou começar 
a  prestar  atenção  nas  coisas  que  funcionam  e  nas  que  não 
funcionam, porque muitas vezes me esqueço de tudo que já deu 
certo até agora. 
 
Para  lhe  ajudar  a  entender  melhor  suas  crenças  pessoais  e 
consolidar  o  seu  senso  de  individualidade  e  identidade  e  auto‐
valia, é muito útil você ter um pequeno roteiro para identificar os 
seus principais valores, o que por sua vez lhe ajuda a definir suas 
metas de vida.  
 
4. Identificando valores
 
Existem  algumas  estratégias  que 
podem ser usadas para identificar 
seus  valores  e  definir  suas  metas.  É 
muito  útil  e  produtivo  para  todos  nós 
parar de vez em quando e pensar  no 
que  realmente  queremos  da  vida  e  o 
que  podemos  fazer  para  conseguir  isso.  Ao  focar  em  metas  de 
médio  e  longo  prazo,  você  adquire  mais  segurança  e 
determinação,  e  isto  ao  mesmo  tempo  lhe  ajuda  a  lidar  com  as 
dificuldades  do  dia  a  dia,  que  se  tornam  proporcionalmente 
menores graças à nova perspectiva. 
 
Então,  como  sugestão  de  roteiro,  veja  os  valores  relacionados 
abaixo. Analise as categorias que têm mais a ver com você, pense 
bem nas suas respostas, e anote‐as. Marque os cinco valores que 
você  considera  mais  importantes,  depois  faça  nova  triagem  e 
reduza a lista para os três itens prioritários.  
 

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Ajudar os outros – esse valor faz parte da sua vida? Você gostaria 
de  passar  mais  tempo  ajudando  os  outros  de  alguma  forma?  E 
como você pode ser mais compassiva consigo mesma? 
 
Espiritualidade  –  quais  são  as  suas  crenças  espirituais?  O  que 
você entende por espiritualidade? Como suas crenças ajudam ou 
impactam  a  sua  vida?  Você  está  conduzindo  sua  vida  em 
consonância  com  seus  valores  espirituais?  Que  mudanças  que 
você gostaria de fazer nesse sentido? 
 
Posses  –  qual  a  importância  de  bens  materiais  para  você?  Que 
tipo de coisas você acha importante ter? Você tem o que precisa? 
Você tem o que quer? O que você sente que lhe falta? 
 
Meio ambiente/natureza – você se preocupa com a preservação 
do  meio  ambiente,  você  faz  reciclagem  e  coleta  seletiva,  você 
acha isso importante? Você gosta de curtir a natureza, de mexer 
com plantas e animais?  
 
Trabalho  –  como  você  define  “trabalho”?  O  seu  emprego  ou 
serviço trazem realização pessoal e profissional? O que você acha 
que  poderia  fazer  de  diferente  para  aproveitar  melhor  seus 
talentos  e  conhecimentos?  Você  ganha  o  suficiente  para  se 
sustentar?  Você  depende  financeiramente  de  outra  pessoa?  No 
seu trabalho você tem oportunidades para ajudar os outros e/ou 
compartilhar sua experiência? Tem reconhecimento? 
 
Comunidade  –  O  que  você  considera  a  sua  comunidade  –  seus 
colegas  de  trabalho,  seus  vizinhos,  seu  bairro,  seus  grupos  de 
estudo? Como você se relaciona com sua comunidade? Você quer 
tomar parte mais ativa em organizações ou entidades que visam 
alguma meta que você considera importante? 
 
Relacionamentos pessoais  –  você  está  em  algum 
relacionamento  amoroso  no  momento?  Você  já  perdeu 
relacionamentos importantes por causa de comportamentos tipo 

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borderline? Como você demonstra o carinho e a preocupação que 
você tem pelas pessoas que você ama? As pessoas que você ama 
lhe ajudam ou lhe magoam?  
 
Família – quem é que faz parte de sua família, na sua concepção? 
Você ainda guarda rancores contra membros de sua família com 
relação  à  sua  infância  e  juventude?  O  que  você  acha  que  é 
importante para uma família, a curto e longo prazo? 
 
Amizades  –  você  tem  amigos?  Você  se  sente  amparada  ou 
explorada  pelas  pessoas  que  você  considerava  ou  ainda 
considera como amigas? O que você acha mais importante numa 
amizade,  e  o  que  você  gostaria  de  ter?  Que  mudanças  você 
poderia fazer para conseguir isso? 
 
Criatividade  –  o  que  a  criatividade  representa  para  você?  Você 
encontra  maneiras  de  expressar  a  sua  criatividade?  Você  está 
satisfeita e realizada com essas formas? Você acha que tem muito 
mais para criar e compartilhar com o mundo? 
 
Metas intelectuais –  qual  o  valor  que  você  dá  ao  aprendizado 
contínuo  ao  longo  da  vida?  Você  acha  importante  estar  sempre 
lendo,  estudando,  analisando,  pesquisando,  comparando  idéias, 
fazendo  cursos,  etc.?  Você  aproveita  oportunidades  que  surgem 
para  você  crescer  intelectualmente?  Você  gostaria  de  fazer  algo 
novo ou diferente neste sentido? 
 
Lazer e diversão – o que você faz para se divertir? Você gostaria 
de passar mais tempo curtindo a vida? Qual a sua idéia de “curtir 
a  vida”?  Você  tem  hobbies  que  são  importantes  para  você,  que 
lhe  preenchem?  Você  dá  valor  ao  lazer  em  vista  dos  benefícios 
que pode trazer para seu bom humor e sua vida? 
 
Dinheiro – você está bem financeiramente? Você tende a gastar 
mais  do  que  ganha?  Você  está  fazendo  uma  poupança  para  o 
futuro?  Você  precisa  de  algumas  coisas  para  as  quais  você  não 

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tem dinheiro? Tem alguma coisa que você poderia fazer agora ou 
no futuro próximo para melhorar sua situação financeira? 
 
Saúde – como está sua saúde? Seu estado de saúde é importante 
para  você?  Você  contribui  ativamente  para  manter  boa  saúde, 
comendo  bem,  fazendo  exercícios  ou  caminhadas,  procurando 
dormir bem? Tem algumas coisas que fazem mal à sua saúde que 
você poderia eliminar ou mudar? 
 
Aparência  –  você  está  satisfeita  com  sua  aparência?  Sua 
aparência é importante para você? A aparência dos seus amigos é 
importante  para  você?  O  que  você  gostaria  de  mudar  na  sua 
aparência? 
 
Você – o que você gosta em você mesma? Você está disposta a se 
aceitar?  Você  valoriza  a  honestidade?  O  que  você  não  gosta  em 
você?  Você  se  culpa  por  todos  seus  problemas  e  dilemas?  A 
aprovação dos outros é  essencial para sua felicidade? Você acha 
importante estar sempre certa? 
 
Não  fique  se  martirizando  se  você  chega  à  conclusão  que  não 
está  vivendo  sua  vida  exatamente  da  forma  que  você  gostaria. 
Essa  perfeição  não  existe.  O  importante  é  você  começar  a 
analisar e avaliar essa questão, e depois destacar as três primeiras 
áreas em que você quer se concentrar. 
 
Isto  lhe  permitirá  definir  se  você  está  indo  no  rumo  desejado  e, 
por  outro  lado,  se  não  está  investindo  tempo  demais  em 
atividades que lhe desviam deste rumo. E não se esqueça – nem 
tudo  que  a  gente  quer  na  hora  é  bom  para  nós  a  longo  prazo... 
Pense em ocasiões na sua vida que confirmam esse conceito. 
 
5. Definindo metas
 
Aqui  estão  algumas  dicas  para  levar  em  conta  quando  você  se 
sentar para definir as suas metas. 

92
1. Estabeleça  metas  factíveis  –  por  exemplo,  apesar  de  querer 
acabar com a fome no mundo, você pode reduzir este escopo 
utópico, resolvendo trabalhar como voluntária em um projeto 
que oferece refeições para pessoas carentes. 
 
2. Procure incluir idéias e atitudes que você pode incorporar no 
seu  dia  a  dia.  Por  exemplo,  se  você  se  propõe  a  ser  mais 
prestativa,  você  pode  planejar  dedicar  um  pouco  de  seu 
tempo  cada  dia  à  prática  de  pequenos  atos  de  gentileza, 
telefonando  para  um  amigo  para  bater  um  papo  e  dar  uma 
força, ajudando outros de alguma forma. 
 
3. Estipule coisas que você efetivamente  quer fazer, e não coisas 
que  você  quer  deixar  de  fazer.  Por  exemplo,  não  coloque 
como  meta:  nunca  mais  ter  acessos  de  raiva.  Ao  invés  disso, 
coloque  uma  meta  positiva:  praticar  regularmente  os  meus 
exercícios de regulação emocional. (Isto está de certa forma 
relacionado com a programação neuro‐linguística, que sugere 
que  nossas  mentes  gravam  a  mensagem  recebida  sem  levar 
em  conta  a  palavra  de  negação  –  como  prova,  basta  você 
dizer  para  alguém:  Não olhe para trás,  que  automaticamente  a 
pessoa vai se virar para olhar para trás.) 
 
4. Lembre‐se  que  você  pode  revisar  suas  metas  a  qualquer 
momento, incluindo ou eliminando itens ao longo do tempo. 
As circunstâncias mudam, nossas prioridades também. Somos 
obras em constante evolução.  
 
5. Enfoque as mudanças que você quer fazer na sua vida. Pense 
nas coisas às quais você gostaria de se dedicar mais. 
 
Talvez  você  elabore  vários  rascunhos  –  não  importa.  Se  você 
quiser  pedir  opinião  de  seu  terapeuta  ou  um  amigo,  fique  à 
vontade. Para colocar suas metas no papel, você pode seguir os 
seguintes passos: 
 

93
Coloque como títulos os três valores que você estabeleceu como 
prioritários.  Abaixo  de  cada  um,  escreva  uma  meta 
correspondente – veja alguns exemplos abaixo: 
 
Criatividade:  pretendo  aprender  a  pintar,  fazer  curso  de 
ikebana, experimentar receitas novas, etc. 
Trabalho:  vou  tentar  arrumar  um  emprego,  pois  quero  ser 
produtiva e ficar independente. 
Família:  vou  me  esforçar  para  ser  mais  tolerante e  paciente 
com a minha mãe. 
Saúde:  vou fazer todos os exames que o médico pediu até o 
final do mês.  
Lazer:  vou  procurar  fazer  mais  programas  divertidos, 
planejar excursões, fazer dança de salão. 
Ajudar os outros:  vou  visitar  um  asilo  de  velhinhos  uma  vez 
por mês. 
Aparência: estou me sentindo um lixo, vou no salão dar uma 
melhorada no meu cabelo e vou me cuidar mais. 
 
Na  primeira  passada,  por  exemplo,  você  pode  considerar  mais 
importante  dedicar‐se  a  melhorar  sua  aparência,  trabalhar  as 
amizades,  e  receber  aprovação  no  trabalho.  Depois  de  algum 
tempo,  você  pode  descobrir  que  estas  opções  não  deram  os 
resultados  esperados.  Mudando  seu  ponto  de  vista  e  aceitando 
algumas  limitações  e  enxergando  outras  oportunidades  e 
prioridades, você pode então redefinir suas metas.  
 
Você  talvez  defina  outros  objetivos,  como:  pretendo  melhorar 
meu  equilíbrio  emocional  ao  continuar  fazendo  terapia,  vou 
procurar  e  manter  um  emprego  menos  estressante  para 
conseguir independência financeira, e vou ajudar outras pessoas 
com  problemas  emocionais  ao  trabalhar  como  voluntária.  Você 
assim sentirá que seus valores estão consolidados e alinhados, e 
ficará satisfeita em ter mais controle sobre sua vida. 
 

94
A  opção  de  trabalhar  ajudando  os  outros  ou  de  voltar  a  estudar 
acaba  sendo,  em  muitos  casos,  mais  importante  e  eficaz  para 
ajudar você a encontrar seu rumo e seu prumo, do que começar 
logo  a  tentar  melhorar  a  qualidade  e  estabilidade  de  seus 
relacionamentos  amorosos.  Pois  em  um  ambiente  de  trabalho  e 
coleguismo você pode praticar novas abordagens aprendidas na 
teoria  e/ou  na  terapia.  Ao  se  ocupar  com  o  trabalho,  seja 
voluntário ou remunerado, você também tem menos tempo para 
ficar  ruminando  sobre  coisas  negativas,  e  vai  adquirindo  mais 
auto‐confiança e independência.  
 
Entretanto, procure evitar um ambiente de trabalho estressante, 
com  condições  que  podem  piorar  em  vez  de  melhorar  sua 
situação.  Geralmente  é  melhor  pegar  um  serviço  de  meio‐
expediente  primeiro,  ou  fazer  um  curso  avulso,  ou  assumir  um 
projeto  mais  curto,  caso  você  esteja  afastada  da  rotina  de 
trabalho ou estudo há mais tempo.  
 
Aos  poucos,  com  paciência  e  persistência,  você  conseguirá 
realizar  suas  metas  e  sentirá  uma  nova  satisfação.  Para  lhe  dar 
suporte  nessa  busca,  o  ideal  é  que  você  utilize  táticas  e 
ferramentas  para  se  colocar  num  estado  de  espírito  mais 
receptivo e tranqüilo, conforme sugerido a seguir. 
 
 

 
95
XI. LIDANDO COM O ESTRESSE DA ALTA
SENSIBILIDADE EMOCIONAL
 
Como  vimos,  a  pessoa  muito  sensível  emocionalmente  sente, 
mais  intensamente  que  outras,  que  está  cercada  por  perigos, 
ciladas,  ataques  pessoais,  críticas,  e  assim  por  diante.  Por 
conseguinte, as respostas naturais do seu organismo a um ataque 
percebido  fazem  com  que  seu  corpo  libere  hormônios  de 
estresse,  seu  batimento  cardíaco  acelere,  sua  respiração  fique 
mais  ofegante,  suas  pupilas  dilatem,  sua  digestão  fique  mais 
lenta,  e  assim  por  diante.  E  quando  estas  respostas  a  estresse 
ocorrem  com  muita  freqüência,  acabam  prejudicando  seu 
organismo de várias maneiras, podendo gerar: 
• fadiga 
• problemas gastrointestinais 
• doenças cardíacas 
• pressão alta 
• baixa do sistema imunológico  
• dores  musculares  (costas,  pescoço,  ombros), 
enxaquecas 
• problemas sexuais 
• aumento ou perda de peso. 
 
À  medida  que  os  danos  ao  seu  organismo  se  acentuam,  sua 
capacidade  de  lidar  com  estresse  fica  cada  vez  mais  reduzida,  e 
isto cria um círculo vicioso. Portanto, é altamente recomendável 
que  você  comece  a  adotar  medidas  para  atenuar  esse  estresse 
praticamente crônico, aprendendo a relaxar. 
 
1. Aprendendo a relaxar

O relaxamento não somente beneficia seu sistema como um todo 
– mas também lhe prepara /condiciona melhor para refletir antes 
de agir, permitindo um controle mais efetivo de suas emoções e 
impulsividade.  
 

96
Existem  inúmeras  formas  de  relaxamento  ‐  você  pode  começar 
por  experimentar  as  abordagens  resumidamente  descritas  a 
seguir, e procurar uma orientação mais completa com relação às 
práticas que você sente que dão mais certo para você. 

 
a) Relaxamento muscular progressivo
 
Antes  de  começar,  vista  uma  roupa  folgada  e  confortável, 
procure um ambiente tranqüilo e agradável.  
 
Basicamente,  o  relaxamento  consiste  em  inspirar  lentamente 
pelo nariz, segurar um pouco a respiração, e depois expirar pela 
boca, durante todo o período. A idéia é tencionar e depois relaxar 
cada parte do corpo, começando pelos dedões do pé, os próprios 
pés,  as  panturrilhas/batatas,  as  coxas,  as  nádegas/glúteos,  o 
abdome,  as  mãos,  os  braços,  os  ombros,  o  pescoço,  o  rosto.  O 
efeito cumulativo é extremamente agradável. 
 
Todos  nós  estamos  sujeitos  a  sentir  tensão  várias  vezes  ao  dia 
(principalmente no final do dia). Seja por motivo de reuniões no 
serviço,  crianças  brigando,  engarrafamento  no  trânsito,  demora 
na fila do banco, deveres não cumpridos, cobranças e acusações 
e críticas – a vida é cheia de tais aborrecimentos. A técnica acima 
pode  ser  adaptada  e  abreviada,  mas  o  importante  é  que  seja 
interiorizada e automatizada de forma que você possa recorrer à 
mesma  e  se  sentir  relaxando  só  em  seguir  os  passos 
mentalmente,  sem  ter  que  efetivamente  praticar  a  sequencia 
física. 

97
b) Meditação
 
A meditação ajuda a estabilizar as emoções, criando um abrigo no 
meio das tempestades emocionais. Também exige prática – mas, 
tudo que você for empreender para melhorar a sua vida exige um 
certo grau de trabalho, de esforço, de aplicação, de persistência e 
muita força de vontade, certo? 
 
Uma das formas mais indicadas de meditação para pessoas com 
alta  sensibilidade  emocional  é  aquela  chamada  de  mindfulness, 
definida como um estado de (i)  atenção plena, (ii) voltada para
o momento presente, (iii) de forma intencional, (iv) sem
julgamento,  e  é  utilizada  no  programa  de  redução  do  estresse 
criado originalmente pelo pesquisador Jon Kabat‐Zinn, professor 
da Universidade de Massachusetts, EUA.  
 
A idéia de  mindfulness, central ao pensamento budista, refere‐se a 
uma  conscientização  cuidadosa  dos  próprios  pensamentos  e 
emoções,  na  qual  qualidades  como  aceitação  e  desapego 
favorecem a capacidade de refletir e influenciar positivamente as 
próprias  experiências  cognitivas,  promovendo  também  a 
regulação afetiva. 
 
Existem  muitas  outras  formas  de  meditação  –  assim  como  no 
caso de técnicas de relaxamento, o ideal é você mesma pesquisar 
as  opções  existentes  e  aplicá‐las  com  a  música,  o  ambiente,  e  a 
postura  ideais  para  cada  modalidade.  Você  pode  encontrar 
muitos benefícios na prática de ioga, por exemplo, que combina 
exercícios  de  alongamento  e  respiração,  concentração  no 
momento, e um profundo relaxamento. 
 
E, para quem gosta de animais, adquirir ou manter um animal de 
estimação  é  um  fonte  preciosa  de  carinho  e  relaxamento, 
incluindo também os benefícios de exigir uma certa rotina no seu 
cuidado, e a responsabilidade por um ser que depende de você. 
 

98
2. Cuidando melhor de si

a) Alimentação
 
Tenha  carinho  e  consideração  com  você  mesma  –  procure  se 
alimentar melhor, de forma mais equilibrada e saudável. Isto não 
significa  seguir  dietas  rigorosas  (e  estressantes!),  nem  estipular 
metas utópicas. No fundo, você já sabe que deve evitar comidas 
processadas,  enlatadas,  chips  e  salgadinhos,  refrigerantes, 
cigarros,  bebidas  alcoólicas,  frituras  em  excesso,  doces  em 
demasia,  e  assim  por  diante.  Se  você  comer  demais  em 
momentos  de  maior  estresse,  vai  acabar  se  arrependendo  e  se 
sentindo culpada, e se ingerir alimento insuficiente, seu corpo vai 
reclamar.  Procure  comer  verduras,  feijão,  pão  integral,  arroz  e 
massas,  peixes  e  saladas,  coma  devagar,  curtindo  os  diferentes 
sabores  e  texturas.  Invente 
pratos diferentes – não se prenda  a 
combinações convencionais. 

b) Movimentação
 
Também  é  importante  que  você 
não  fique  parada  –  mexa‐se.  Não 
precisa  considerar  essa 
recomendação  como  obrigação, 
“chatura”,  sofrimento  –  se  você 
começar  a  se  movimentar  um  pouco,  vai  sentir  um  benefício 
tremendo,  que  vai  lhe  incentivar  a  continuar.  Pode  ser  aos 
pouquinhos, se quiser – comece andando mais pela casa, depois 
no  seu  quarteirão,  no  parque,  na  esteira  da  academia.  Pode  ser 
que  você  goste  de  nadar,  de  fazer  Pilates,  de  passear  com  o 
cachorro,  ou  talvez  de  exercícios  mais  vigorosos  –  você  pode 
escolher,  dentro  das  opções  que  você  tem  ao  seu  alcance,  mas 
não  se  esqueça  de  dedicar  um  tempinho  para  algo  que  vai  lhe 
fazer sentir bem consigo mesma. 

99
c) Sono reparador
 
Procure também analisar 
se você está dormindo o 
suficiente,  com  sono 
profundo,  reparador. 
Isto  permite  que  suas 
células  se  reponham  e 
que  sua  concentração  e 
memória  melhorem. 
Uma  noite  ou  outra  mal  dormidas  não  são  prejudiciais  –  mas  se 
você  normalmente  tem  problemas  para  adormecer  e  continuar 
dormindo  algumas  horas  direto,  isto  pode  aumentar  o  seu  nível 
de  estresse  e  reatividade  (inclusive  irritabilidade  e  falta  de 
paciência).  
 
Naturalmente o ideal é não precisar tomar remédio para dormir, 
seja  “natural”  (as  passifloras/maracujinas  ou  valerianas  da  vida) 
ou com receita médica, mas às vezes uma ajuda é necessária. De 
qualquer forma, você pode tentar algumas das táticas abaixo ao 
se preparar para dormir, experimentando o que funciona melhor 
para você: 
 
• Ficar debaixo de um chuveiro com água quentinha caindo nas 
sua nuca e costas 
• Ouvir música relaxante 
• Ler um livro que lhe entretenha (ou dê sono!) 
• Assistir programas de TV “light” 
• Fazer  um  lanchezinho,  tomar  um  chocolate  quente  ou  chá 
calmante   
• Evitar cafeína (que é encontrada também na maioria dos chás, 
inclusive o verde), álcool, cigarros, brigas e discussões  
• Deitar  em  uma  cama  confortável,  com  lençóis  e  travesseiros 
de textura agradável, com cobertor gostoso, adequado para a 
temperatura externa, em um quarto acolhedor e silencioso. 
 
100
3. Organizando seu tempo
 
Procure  analisar  de  forma  objetiva  como  seus  dias  transcorrem 
de modo geral. Por exemplo: seu serviço rende quando você está 
trabalhando,  ou  você  passa  tempo  demais  no  telefone,  na 
internet ou no celular? E depois fica estressada e correndo atrás 
do  tempo  “perdido”,  não  tendo  cumprido  seus  prazos,  suas 
metas?  A  primeira  sugestão  para  administrar  melhor  o  estresse 
“básico”  de  seu  dia‐a‐dia  é  procurar  simplificar  e  organizar  sua 
agenda – e sua vida.  
 

 
 
Uma fonte de irritação pode ser falta de organização e bagunça à 
sua volta. Para resolver isso, estipule a meta de adotar pequenas 
rotinas  para  ir  colocando  as  coisas  no  seu  lugar.  Por  exemplo  – 
dedique  cinco  minutos  por  dia  para  jogar  fora  coisas  que  não 
servem ou não funcionam mais, cinco minutos para arrumar seu 
guarda‐roupa ou uma gaveta ou uma estante, cinco minutos para 
separar  roupa  ou  objetos  para  doar  para  outros,  e  assim  por 
diante. 
 
Procure executar essas tarefas – que lhe darão uma sensação de 
satisfação e realização – em momentos que você está mais calma, 
e não exagere no escopo das suas metas – precisam ser realistas, 
e não uma fonte de frustração adicional.  
 

101
Pense  no  tempo  que  você  desperdiça  em  atividades  que  não 
estão  alinhadas  com  suas  metas  e  desejos.  E  sim,  é  importante 
você  definir  algumas  metas  ‐  assim  você  sentirá  que  tem  mais 
controle sobre sua vida e a construção do seu futuro. Pois  hoje é
o primeiro dia do resto de sua vida – nunca se esqueça disso.  
 
 

102
XII. DEPOIMENTOS DE ALGUMAS PESSOAS
DIAGNOSTICADAS COM TRANSTORNO DE
PERSONALIDADE BORDERLINE

W.W.M

Eu  não tenho  certeza  de quando  comecei  a  me  sentir 


diferente. Eu me lembro sim, muito bem, de quando me isolei de 
tudo  e  todos...isso  aconteceu  quando  eu  tinha  15  anos.  Logo 
depois  que  meu  avô  materno  faleceu,  o  que  indica  que  tal 
episódio serviu como gatilho. 
  
Depois do falecimento do me avô, então comecei um tratamento 
para depressão, pois foi esse o diagnóstico inicial. Tomava muitos 
psicotrópicos  várias  vezes  ao  dia.  Nunca  me  senti  bem  com  tal 
tratamento.  Os  medicamentos  me  davam  sono  e 
desânimo. Abandonei  e  retornei  ao  tratamento  diversas 
vezes.  Tinha  crises  terríveis.  Sempre  fui  muito  tímida  e  sempre 
tive muito problema para me socializar.  
  
Felizmente  tudo  isso  melhorou  com  o  tratamento.  Mas  foram 
mais de 10 anos de sofrimento. 
  
Além do tratamento algumas coisas tem me ajudado muito, entre 
elas  a  companhia  de  um  cão  labrador  que  me  distrai  e  ocupa  a 
maior  parte  de  meu  tempo.  Outra  coisa  que  tem  me  ajudado 
muito é a fé que professo. Cuidar da vida espiritual é um fator de 
ótimo prognóstico no TPB. E também, manter o meu blog é uma 
ocupação  que  além  de me  trazer  muita  satisfação  por  ajudar 
outros, me proporciona a evolução pessoal. Pois tenho aprendido 
muito com a troca de informações lá obtidas. 
  
Minhas  crises  agora  são  mais  moderadas  e  muito  menos 
frequentes.  Mas  ainda  sofro  com  a  intensidade  de  meus 
pensamentos que ficam a mil por hora. 
  

103
O meu lado sociável oscila tanto quanto o meu humor. Cada dia 
varia  de  um  jeito  diferente.  Mas  está  bem  mais  estável  do  que 
anteriormente.  Ainda  sou  bastante  impaciente  e  tenho 
dificuldades  em  terminar  uma  tarefa.  E  sinto  raiva  quando  sou 
contrariada, embora hoje consiga controlar esse sentimento.  
  
Nunca me cortei (auto‐mutilação) mas tinha o costume de dirigir 
em alta velocidade e colocar minha vida em risco. 
  
Felizmente todos esses sintomas se atenuaram com o passar dos 
anos e com o tratamento adequado. Porque com o tratamento, o 
border  aprende  a  transformar  seus  sentimentos  e  a  reagir  de 
forma diferente.  
  
Há  muitas  pessoas  que  merecem  minha  gratidão  por 
participarem ativamente no meu progresso e melhora. Das quais 
eu  não  poderia  deixar  de  mencionar  o  meu  psiquiatra  Dr.  João 
Rodini Neto ‐ o qual só tem acertado no meu tratamento, minha 
grande  amiga  escritora  Helena  Polak  que  além  de  me  oferecer 
apoio  com  seus  livros,  tem  sido  um  amparo  constante  na  minha 
vida  e  meu  amigo  psicanalista  Henrique  Trejgier  que  tem  me 
oferecido  dicas  infalíveis  para  lidar  com  o  TPB.  Além  desses,  há 
todos  os  borders  que  participam  ativamente  no  fórum  do  meu 
blog,  me  oferecendo  muito  carinho,  e  outros  amigos  (virtuais 
e 'reais') e parentes que estão presentes na minha vida até hoje  ‐ 
apesar das minhas inconstâncias. 
  
Depois  de  todos  esses  anos  de  sofrimento  com  diagnósticos 
errados, rumos incertos e um futuro que parecia escuro demais, 
posso  afirmar  que  a  luz  no  fim  do  túnel  não  é  uma  ilusão,  ela 
existe!  Hoje  eu  compreendo  que  um  border  pode  ser 
consideravelmente feliz!
_____________________________________________

104
H.C.F.

Por volta dos meus 13 ou 14 anos, minha família começou


a notar em mim uma certa tendência à tristeza e a um
comportamento defensivo, dizem, no sentido de sempre
estar "com quatro pedras na mão". Entretanto, eu mesma
não notava isto. Eu não percebi minha tristeza até pouco
depois de eu completar quinze anos, quando tudo começou
a perder o sentido. Foi quando aceitei a ajuda de uma
psicóloga. Com dois meses de terapia, fui encaminhada ao
acompanhamento psiquiátrico. Hipótese diagnóstica:
depressão moderada a severa, com comportamento
automutilante. O tratamento se iniciou com Sertralina
50mg/dia, até chegar a 200mg/dia, mas eu ficava mais
agitada e mais deprimida ao mesmo tempo com o uso da
sertralina. Fui ao pronto socorro do Hospital São Paulo,
onde recebi a hipótese diagnóstica de transtorno afetivo
bipolar, fui medicada com divalproato de sódio e tioridazina,
não me lembro a dosagem, e fui encaminhada ao
ambulatório de doenças afetivas e de ansiedade. Cerca de
seis meses depois, veio a especulação sobre o transtorno
de personalidade borderline. Continuei a ser tratada para
ambos, mas parece que fui parecendo cada vez "menos
bipolar e mais borderline". Hoje, não se acredita que eu
tenha transtorno bipolar. A psicoterapia com outras
psicólogas não deu resultado algum (psicodrama, primeiro,
e Cognitiva comportamental depois). Estou há dois anos
com minha atual psicóloga, com a qual senti uma diferença
significante com apenas dois meses de terapia.

Minha mãe não aceita que eu não tenho transtorno bipolar.


Minha opinião (note que é minha opinião, eu não leio a
mente da minha mãe) é que com um transtorno de
personalidade ela se sente mais responsável pelo meu
problema. A principal diferença entre antes e depois do
diagnóstico é uma sensação de libertação, porque dá um
sentido para minha dor e abre meus horizonte, porque,
sabendo qual o problema, é mais fácil solucioná-lo, ou
amenizá-lo. Fora o fato de que depois que comecei o
tratamento com meu atual psiquiatra, em um segundo
105
ambulatório, este específico para pessoas com transtornos
de personalidade, eu senti que meu tratamento se
encaminhou melhor, inclusive na escolha da medicação.
Nenhum medicamento que eu tenha tomado antes foi tão
bom para mim, e o fato de eu tomar apenas na crise é
muito bom também, pois me permite aprender a lidar com
minha forma de perceber o mundo, compreendê-la,
trabalhar com ela, permitindo-me senti-la nos momentos
em que a dor não me paralisa, e abortá-la nos momentos
em que sinto que a dor me paralisará. Enfim, o diagnóstico
mudou tudo. Mudou a forma como me enxergo e mudou
para melhor a forma como os profissionais tentam me
ajudar com meu problema.

O lado negro em receber um diagnóstico deste tipo começa


com: o que sou eu e o que é a doença? Para esta pergunta,
eu me disciplinei recentemente a não separar as duas
coisas, tendo apenas uma gavetinha com a etiqueta
"Comportamentos, pensamentos e sentimentos LEGÍTIMOS
da Hamires", coisas com as quais tento trabalhar na
terapia, sem me prender à sua origem, mas é de fato uma
questão bastante angustiante. O que se lê por aí muitas
vezes assusta também. Eu, particularmente, não tenho
medo do diagnóstico em si, porque ele me liberta, me dá
um sentido e me abre caminhos para melhorar. Sem o
diagnóstico, talvez eu não estivesse aqui hoje. Estou em
uma fase onde já compreendi como "nasceu" meu
problema. O difícil é mesmo lidar com este conhecimento
que liberta, mas também machuca.

Eu acredito no meu tratamento por dois simples motivos:


eu já tive melhoras e compreendo a forma como meu
tratamento funciona. O que me mete medo mesmo é,
muitas vezes, a falta de confiança que tenho na minha
capacidade de lidar com o que ainda virá pela frente.
____________________________________

106
A.E.B.
 
Descobri  uma  coisa  interessante  que  pode  me  ajudar  a  conviver 
melhor comigo e achei interessante compartilhar esse insight.  
Sempre tive a sensação de me sentir muito culpada pelo fato de 
não  gostar  muito  da  época  da  minha  infância.  Minha  mãe  era 
manipuladora  e,  como  eu  queria  agradar  meus  país,  eu  acabava 
fazendo  tudo  que  eles  gostavam  e  acabei  me  perdendo,  não 
sabendo quem realmente eu era.  
Hoje procurei entender que eles me criaram da maneira que eles 
acharam  certo  e  que,  se  eu  acredito  mesmo  no  espiritismo,  eu 
precisava  desses  pais,  ou  melhor,  a  gente  se  encontrava  na 
mesma sintonia, por isso que viemos nessa encarnação juntos.  
Estou  me  perdoando  e  aceitando  que  eu  não  podia  ter  feito 
muita  coisa,  já  que  eu  era  criança,  e que  aceito  minha  infância  e 
entendo que fui  “boazinha” porque  só queria ser mais amada  e 
aceita pelo meus pais.  Acho que dessa forma me sentirei menos 
culpada e ficarei mais livre para viver minha vida adulta. 
Bom,  sempre  tive  uma  angústia  muito  grande  e  sinto  um  vazio 
que  não  sei  como  nem  onde  ser  preenchido.  Aí    busco  ``coisas 
para  me  sentir  bem.´´  Resolvi  ir  ao  psiquiatra,  pois  queria  algum 
medicamento  que  me  desse  uma  sensação  mais  feliz  e  de  bem 
estar (embora eu saiba que o uso de remédio é paliativo, porque 
quando paro de tomar voltam os sintomas...), mas está me dando 
um suporte para eu pensar e tentar melhorar algo em minha vida 
para depois não ter necessidade de remédios.  
Desde pequena era isolada do mundo, e não gostava de contato 
porque me achava desinteressante (pra falar a verdade me acho 
um  pouco  mesmo,  embora  tenha  conquistado  várias  coisas  em 
minha vida). O que quero dizer é que essa agressividade toda que 
eu tinha e as oscilações de humor eram porque eu queria provar 
para  os  outros  que  eu  posso  fazer  as  coisas  também,  e  quando 
me sinto rejeitada fico muito nervosa e vingativa.  
Uma questão essencial é trabalhar com a auto‐estima da pessoa, 
identificando o por que de certas atitudes e ver o quanto o tipo 
de pensamento da gente leva‐nos à auto‐sabotagem no dia‐a‐dia, 

107
virando um círculo vicioso. O que me incomodava e me incomoda 
é  o  fato  de  me  isolar  das  pessoas,  porque  acho  que  elas  me 
ignoram ou me rejeitam, de alguma forma eu identifico algo que 
me  faça  crer  fielmente  que  estou  sendo  rejeitada  e  saio  fora 
quando percebo, antes que esse fato aconteça (às vezes não dá 
tempo de perceber e já fui rejeitada "na lata" por moços e fiquei 
péssima). 
O  que  me  ajudou  muito  a  melhorar  meu  comportamento  foi  o 
fato de fazer terapias, essa é a 4ª vez que eu faço, mas faço em 
épocas diferentes, não são contínuas. Ler livros de auto‐ajuda foi 
bom,  mas  eles  pareciam  receitas  de  bolo  ao  tentar  moldar  a 
gente,  aí  fica  difícil  porque  cada  livro  fala  uma  coisa  um  pouco 
diferente...rs.  A questão é ter ferramentas para identificar o por 
que  a  pessoa  se  sente  assim  e  age  de  determinada  maneira  e 
ajudar a tirar essa idéia de "patinho feio" do mundo e amenizar a 
culpa que se sente pelos fatos acontecidos.  É muito chato fazer 
terapia  na  maioria  das  vezes,  porque  trabalhar  o 
autoconhecimento  implica  em  revermos  atitudes  que  tomamos, 
ver  que  a  gente  erra  e  dá  muita  raiva  às  vezes  porque  tem  que 
mudar um monte de coisas, dá impressão que faço tudo errado. 
... Mas através das características identificadas no borderline, tais 
como:  instabilidade  dos  relacionamentos  interpessoais,  auto‐
imagem  e  afeto,  impulsividade;  é  possível   trabalhar  o  porque 
eles  agem  dessa  forma,  encontrando  a  causa  disso  tudo  e 
amenizar  principalmente  a  revolta  e  a  culpa  que  se  sente  por 
sentir tudo o que não se está conseguindo mudar.  
Exemplo:  através  de  muito  sofrimento  e   angústia,    fiquei 
motivada  a  buscar  o  que  eu  quero  esconder  tanto  dos  outros  e 
de mim mesma, aí descobri a questão da minha infância que já te 
contei.  Agora  tento  olhar  para  mim  criança  como  parte  de  mim 
adulta e que procurou estratégias para não sofrer tanto em uma 
família  com   sofrimentos  que   descontavam  em  mim  e  na  minha 
irmã  e  por  isso  que  tomara  uma  postura  de  ser  influenciada  por 
meus  pais  e  aceitar  aquela  situação  no  momento.  Verbalmente 
me  perdoei,  quero  ver  inconscientemente...rs.  
 

108
J.S.O.

Olá Helena, bom,  passei os últimos dias pensando no fato de ser 
diferente,  sabe, a minha  vida  inteira  passei  procurando  ser 
normal e agora acho que está claro que a minha busca chegou ao 
fim,  eu  não  preciso  ser "normal",  sou  normal  da  minha 
maneira,uma  pessoa  íntegra,  sincera  e  que  respeita  ao  próximo, 
estou  errada?  Cada  um  é  normal  da  medida  do  possível.  Sabe 
você me ajudou muito a entender o que é ser normal, ao menos a 
paranóia  de  ser  normal,  normal,  normal,  acho  que  passou  – 
entendi o que é ser "normal". Bom, quanto a ser diferente, estou 
me aceitando, é incrível, pois tudo indica que nasci  assim, eu não 
escolhi  ser  assim.  Muitos  não  entendem  pois  não  é  algo  que  , 
como  falei  para  a  psicóloga,  você  chega  em  uma  determinada 
época  de  sua  vida  e  decide  ‐  agora  vou  ser  assim,  não,  não  é 
assim.  Voce  nasce  assim,  com  esses  desejos  e  preferências,  não 
dá  para  explicar.  Sabe,  atualmente  o  que  esta  sendo  difícil  para 
mim é cumprir as minhas metas, às vezes me dá tipo uma pane, 
embaralha  meus  pensamentos,  que  tenho que  parar  e  respirar 
um pouco e seguir adiante só que um pouco devagar. Bom, é um 
pouco frustrante. Um abraço com muito,muito carinho pois você 
tem  me  ajudado  grandemente.  Ah,  obrigada  por  não  me  deixar.

M.S.T.

Quando descobri que estava com Transtorno de Personalidade


Borderline estava com 27 anos, acreditava que tinha apenas
Depressão. Estava internada em um Hospital e já tinha ouvido
outras pacientes dizerem que tinham Personalidade Borderline.
Mas eu não entendia, no fundo, o que estava acontecendo
comigo. Foi um processo de auto-descoberta muito dolorido.
Deixei a terapia por várias vezes porque ouvir sobre isso me
machucava. Eu mesma me machucava até sangrar e cheguei ao
Hospital cheia de cortes no braço, costas e cabeça. Meus
relacionamentos eram intensos e breves, acabavam em briga e
109
eu sentia uma mistura de amor e ódio dentro de mim que não
conseguia controlar.
Depois de ter deixado o Hospital tive momentos de
promiscuidade, abuso de medicamentos, depressão, anomia e
até euforia. Ninguém conseguia viver comigo e me mandavam
para a casa de minha mãe ou avó, após algum tempo vivendo
junto. Pois nessa época eu já estava fora da terapia e de controle
também. Cheguei a pesar 46 quilos por me olhar no espelho e
ver gorduras onde não existiam.
Muito perto de perder a vida muitas vezes, e na maioria delas eu
mesma queria tirar. Não queria exatamente morrer, mas acabar
com a dor que minha existência provocava. Eu estava vazia e
não havia nada no mundo que preenchesse aquele vazio. Eu
tinha praticamente todos os sintomas do TPB mas não queria
admitir ou tratar, pois era difícil. Meus pensamentos eram
horríveis a respeito de mim mesma e dos outros. Cheguei a fazer
4 cirurgias plásticas. No fundo, para ver se alguém gostava de
mim, para namorar ou ter amigos. Mas namorar e ter amigos
eram coisas difíceis demais para mim e eu não entendia que
sentia cada palavra, cada olhar, ou o pensamento de que
realmente todos me abandonam de uma forma ou de outra.
Eu sou um caos atemporal, a mente é desorganizada e mesmo
que meu avô tenha morrido há mais de dez anos ... estou de
luto até hoje, me lembro de sua respiração em seus últimos
momentos de vida. As memórias são fantasmas reais e apenas as
memórias dolorosas estão presentes comigo. Se eu apenas
pudesse apagar elas como se apaga uma lâmpada.
Hoje tenho que me proteger dos relacionamentos, consegui
entender certas coisas como, por exemplo, os meus próprios
sentimentos negativos e como conviver com eles. A cada dia é
uma batalha para acordar, pois eu desejo simplesmente
desaparecer ou não acordar mais.
Quando vou na terapia fico um dia inteiro me sentindo mal,
mas acredito que ela ajuda porque consigo entender agora que
110
sou assim, diferente de outros. Mais sensível, mais obscurantista
e mais exigente comigo mesma. Uma psicóloga que me tratou
por mais ou menos nove meses me disse que eu não tinha que
lutar contra o transtorno e sim com ele. Na época não entendi,
mas agora sim. Não quero deixar de ser quem sou, apenas que
as crises parem. Não é ruim ser Borderline, somos mal
compreendidas, apenas isso.
Eu não durmo à noite a não ser com altas doses de
medicamentos, porque sou assombrada pela falta daqueles que
me abandonaram, de quem me traiu e pela morte de uma
pessoa que me amou. Cada palavra que me disseram a respeito
de “mim mesma”, sobre ser "vagabunda", não trabalhar, não
dormir, ser “loucona” está ainda em minha mente.
Após três anos lutando contra mim mesma, decidi dar um
momento para fazer as pazes com quem realmente sou. A
Helena Polak me enviou seu livro há alguns meses e tomei essa
decisão ao ler. Voltei para o grupo de terapia com Borderlines
que existe aqui em minha cidade.
Não sei se algum dia vou conseguir me amar, amar uma outra
pessoa, me sentir menos solitária em meio a uma família de
pessoas tão diferentes. Não sei se vou conseguir aceitar quem
realmente sou e tirar a máscara que tentei usar por tantos anos,
e que caiu. Mas estou mais em paz com o futuro, aceitando que
serei assim e não vou mudar, apenas melhorar. Esse é o desafio
de todos os seres humanos, o meu pode ser mais difícil, mas
acredito que seja possível. Todo mundo precisa melhorar, não
apenas eu. Talvez eu não me culpe mais pelo abandono de meus
pais, mas também me assombra todos os dias. As minhas tenras
memórias são de sentimentos de abandono, solidão e
incompreensão.
Com a terapia, parece que estou conseguindo saber quem sou.
Uma identidade que não tinha, apenas pegava as personalidades
de outros ao redor para ser aceita. Foram mais de dois anos de
terapia para tentar alcançar uma pessoa que se perdeu há muitos
111
anos atrás e tem dado resultado. Eu queria apenas um mundo
mais “pró-Borderline”, que me deixe ser quem sou e seguir meu
próprio caminho. Enfim, com as meninas e mulheres do grupo,
a Helena ... eu pretendo ajudar a fazer isso.
Eu sou uma mulher mas tenho certeza que tenho a mente de
uma criança, por isso chamo de “meninas" do grupo. É como
olhar o mundo pela primeira vez, todas as vezes. É tudo muito
intenso: cada cor, cada som, cada palavra, cada acontecimento.
Eu havia perdido isso tentando ser alguém que realmente não
era. Mas estou aqui ainda, essa menina não estava morta como
eu havia pensado. Ela está aqui em mim e vou viver assim, ser
feliz ou triste depende do dia, das circunstâncias. Mas a essência
é muito bela, não somos criminosas por não nos adequarmos ao
que as pessoas exigem.
Obrigada Helena Polak, Célia, Maria Fernanda, Neide, Ângela e
Jussélia. Vocês ajudaram a reviver um coração que eu estava
matando e ver que ele não era tão horrível assim como eu
pensava. Vocês também estarão nas minhas memórias, não
como assombrações, mas como instrumentos do bem.
______________________________________________

112
REFERÊNCIAS

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2. Sheehan DV, Lecrubier Y, Sheehan KH, Amorim P, Janavs J,


Weiller E, Hergueta T, Baker R, Dunbar GC: The Mini-
International Neuropsychiatric Interview (MINI): J Clin
Psychiatry 1998; 59 (suppl 20):22–33

3. virtualpsy.locaweb.com.br/dsm_janela.php?cod=164

4. www.psychologytoday.com/

5. www.psych.org/dsmv.aspx

6. Agenda de Investigação para o DSM-V - David J. Kupfer,


Michael B. First, Darrel A. Regier

7. Uma visão psicobiológica da personalidade limítrofe, por Alan


Alan B. Eppel
www.revistapsiqrs.org.br/administracao/arquivos/visao_psicobiol
ogica_personalidade_limitrofe.pdf -

8. ajp.psychiatryonline.org Am J Psychiatry 167:1, January


2010

9. Disordered Personalities- Robinson, David J. (2005).. Rapid


Psychler Press. pp. 255–310. ISBN 1-894328-09-4

10. Bateman, A. & Fonagy, P. (2008).


/www.abpbrasil.org.br/imprensa/release/exibRelease (Dr. Fonagy
- Chief Executive, The Anna Freud Centre,
Freud Memorial Professor of Psychoanalysis, University College
London, United Kingdom)

113
11. Terapia Cognitivo-Comportamental Para Transtorno Da
Personalidade Borderline, Marsha Linehan, Ed. Artmed

12. Dysfunction in the Neural Circuitry of Emotion Regulation –


A Possible Prelude to Violence, Richard J. Davidson, Katherine
M. Putnam, Christine L. Larson

13. Association between serotonin transporter gene and


borderline personality disorder, Ni X, Chan K, Bulgin N,
Sicard T, Bismil R, McMain S, Kennedy JL.
www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16690085

14. The Interpersonal Dimension of Borderline Personality


Disorder; Larry Siever, M.D. e Barbara Stanley, M.D. 2009.

15. www.borderlinepersonalitydisorder.com

16. Terapia Cognitiva - Teoria e Prática - Judith Beck - Ed.


Artmed

114

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