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EMOCIONAL
NOVAS PERSPECTIVAS
Helena Polak
Contato com a autora:
helenapolak@terra.com.br
Blog:
http://helenapolak.blogspot.com/
www.clubedeautores.com.br
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I. IDENTIFICANDO A ALTA SENSIBILIDADE
EMOCIONAL...........................................................................6
II. O QUE PODE GERAR COMPORTAMENTOS DO TIPO
BORDERLINE?......................................................................10
III. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO
BORDERLINE........................................................................19
1. Vergonha / Invalidação ...................................................19
2. Raiva................................................................................21
3. Impulsividade ..................................................................22
4. Variações de humor.........................................................24
5. Sensibilidade sensorial / ansiedade .................................24
6. Sensibilidade a crítica......................................................25
7. Interpretação equivocada de emoções.............................26
8. Distorção de “fatos” / memória emocional /
atemporalidade ....................................................................28
9. Atribuição de culpa .........................................................31
10. Medo de abandono / medo de intimidade .....................32
11. Atitude “oito ou oitenta” ...............................................34
12. Ruminação.....................................................................35
13. Depressão / Medicamentos............................................36
14. Insônia ...........................................................................37
15. Problemas de Interação Social ......................................37
16. Autolesão / dor / pensamentos suicidas.........................39
IV. REAÇÃO DAS PESSOAS À SUA VOLTA....................41
V. ABORDAGENS TERAPÊUTICAS ..................................46
VI. EMOÇÕES........................................................................49
VII. LIDANDO COM IMPULSIVIDADE E/OU
DEPRESSÃO ..........................................................................53
1. Táticas para conter impulsos prejudiciais .......................54
2. Táticas para combater depressão.....................................55
3. Outras dicas para inserir uma pausa entre o impulso e o
ato decorrente ......................................................................56
a) Fazer perguntas a si mesma.........................................56
b) Protelar........................................................................57
3
c) Procurar distração........................................................57
d) Conversar consigo mesma ..........................................58
4. Táticas a médio e longo prazo.........................................59
a)Fazer papel de repórter.................................................59
b) Usar auto-afirmações ..................................................60
c) Buscar outras fontes de adrenalina..............................61
VIII. NOVAS PERSPECTIVAS.............................................63
1) Reconhecendo distorções cognitivas, como: ..................64
a) Pensamento preto ou branco, oito ou oitenta ..............64
b) Extrapolação/ generalização .......................................64
c) Prisma negativo...........................................................64
d) Conclusões precipitadas..............................................64
e) Tamanho dos problemas .............................................64
f) Raciocínio emocional ..................................................65
g) Projeções do “deveria”................................................65
h) Rótulos ........................................................................65
i) Personalização e culpa .................................................65
2. Modificando as distorções cognitivas .............................66
a) Identifique o tipo de percepção errônea ......................66
b) Examine as provas ......................................................66
c) Fale consigo mesma ....................................................66
d) Busque o meio termo ..................................................67
e) Faça uma pequena pesquisa de opinião ......................67
f) Descreva situações com outras palavras......................67
g) Não assuma toda a culpa.............................................67
h) Não atribua toda a culpa aos outros ............................67
i) Analise o custo-benefício.............................................68
3. Libertando-se de ressentimentos .....................................68
4. Sugestões de outras pessoas para lidar melhor com seus
pensamentos negativos:.......................................................72
IX. APRENDENDO A CONVIVER MELHOR COM OS
OUTROS.................................................................................75
X. CONSOLIDANDO SUA IDENTIDADE..........................85
1. Crenças problemáticas.....................................................85
2. Identificando suas crenças...............................................85
4
3. Reprogramando suas crenças ..........................................88
4. Identificando valores .......................................................89
5. Definindo metas ..............................................................92
XI. LIDANDO COM O ESTRESSE DA ALTA
SENSIBILIDADE EMOCIONAL..........................................96
1. Aprendendo a relaxar ......................................................96
a) Relaxamento muscular progressivo ............................97
b) Meditação....................................................................98
2. Cuidando melhor de si.....................................................99
a) Alimentação ................................................................99
b) Movimentação.............................................................99
c) Sono reparador ..........................................................100
3. Organizando seu tempo.................................................101
XII. DEPOIMENTOS DE ALGUMAS PESSOAS
DIAGNOSTICADAS COM TRANSTORNO DE
PERSONALIDADE BORDERLINE ...................................103
REFERÊNCIAS ....................................................................113
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I. IDENTIFICANDO A ALTA SENSIBILIDADE
EMOCIONAL
Você se identifica com a maioria das afirmativas abaixo?
Tenho medo de ser abandonada pelos outros
Quando tenho um impulso muito forte, eu o sigo sem
pensar nas consequencias
Meus relacionamentos são instáveis e problemáticos
Quando penso sobre minha infância, vem a sensação
de falta de compreensão e carinho, lembranças de
abuso e trauma
Sinto um vazio interior a maior parte do tempo, uma
falta de rumo
Tenho problemas com vícios, dependências,
compulsões, transtornos alimentares, etc.
Meu humor varia de uma hora para outra e até muitas
vezes no mesmo dia
Frequentemente não consigo controlar minhas
reações, que são muito intensas
Sinto que o mundo à minha volta é cheio de ameaças
e pressões e cobranças
Às vezes me acho muito vulnerável e fraca, sinto que
não dou conta de lidar com a vida
Desconfio que frequentemente incomodo as pessoas,
que elas não me aceitam como sou
Sofro muito com as palavras e atitudes dos outros,
pois levo tudo de forma pessoal – e negativa
Tenho problemas de insônia, depressão, ataques de
pânico, de ansiedade.
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Veja como a renomada escritora Pearl Buck descreve uma pessoa
altamente criativa que já nasce com extrema sensibilidade
emocional – para a qual:
Se você chega a sofrer com sua extrema sensibilidade emocional,
é possível que você apresente algumas características daquilo
que, no seu conjunto, é chamado (por falta ainda de um nome
melhor) de “transtorno de personalidade borderline” (
“bórderláine”, ou simplesmente “bórder”).
O objetivo aqui não é rotular ninguém, e sim identificar e
entender da melhor forma possível os fatores que lhe afligem e,
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com base nisto, partir para a adoção de uma nova perspectiva,
adotando atitudes que podem melhorar consideravelmente a sua
qualidade de vida, atenuando suas angústias e incertezas.
Às vezes a simples constatação de que aquilo que nos atormenta
tem um nome específico, possui características específicas, tem
potencial de recuperação, e é compartilhado por milhares e
milhares de pessoas ao redor do mundo, pode proporcionar um
certo alívio. E essa identificação talvez lhe permita partir mais
rapidamente para o próximo passo – ok, se é esse o meu problema, o
que posso fazer então para melhorar?
Entretanto, mesmo com toda a sua inteligência e percepção,
poderá haver diversos motivos pelos quais você talvez relute em
aceitar de imediato essa possibilidade, por considerá‐la
perturbadora, depreciativa, radical, discriminatória, pessimista,
constrangedora, etc.
Em vista da sua experiência de vida e sua alta sensibilidade inata,
talvez você nao queira aceitar ou admitir que tenha qualquer tipo
de “transtorno” de personalidade, ou comportamental, ou
emocional, ou o que seja. Essa reação é perfeitamente normal.
De modo geral, não queremos ser considerados “diferentes” de
forma negativa. Além disso, todos nós no fundo tememos que
algum profissional da área de saúde (seja mental ou física) nos
diga que realmente sofremos de algum problema que precisa ser
analisado, tratado, acompanhado, medicado, etc., ou que nos
diga que temos que fazer algumas mudanças em nosso estilo de
vida (como ter que fazer atividade física, ou parar de fumar, de
beber, de comer doces, etc.). Mudança é uma palavra chave: a
ponte entre o conhecido e o desconhecido.
Se você quiser, pode optar por considerar o conteúdo deste livro
simplesmente como um conjunto de informações sobre questões
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emocionais ou de relacionamento, que podem vir a ser úteis de
alguma forma.
Mas, se você reconhecer, nem que seja somente no seu íntimo,
que você efetivamente possui algumas das características acima
descritas, comuns ao transtorno borderline, e sabe que suas
reações impulsivas e/ou negativas atrapalham a sua vida e seus
relacionamentos – então você pode começar a trabalhar suas
questões com a ajuda das ferramentas oferecidas aqui, como um
primeiro passo, enquanto você não busca e encontra o apoio
profissional (e/ou familiar) necessário para progredir mais rápida
e seguramente na construção de uma vida melhor.
O importante é justamente dar o primeiro passo, e colocar
intenção no seu progresso e recuperação. Não é um caminho fácil
– você vai precisar de muita coragem, perseverança e fé.
Confiança de que você vai chegar a um ponto de poder
aproveitar muito melhor sua vida como recompensa por este
esforço.
Quanto mais você protelar em analisar objetivamente a
relevância das características e consequências da alta
sensibilidade emocional no seu caso, e em tomar as medidas
necessárias para se entender melhor e procurar a ajuda adequada
para fazer as mudanças indicadas, mais íngreme e lento será o
seu caminho de recuperação. Aproveite esta oportunidade para
começar a mudar sua perspectiva desde já.
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II. O QUE PODE GERAR COMPORTAMENTOS DO TIPO
BORDERLINE?
Não há resposta simples para essa pergunta. Existe um intenso
debate em andamento sobre os fatores que podem contribuir
para a manifestação dos sintomas do Transtorno de
Personalidade Borderline (TPB), sem que se tenha chegado ainda
a um consenso. Somente para ilustrar como que esse problema
tem sido relativamente pouco estudado até agora, o
primeiríssimo congresso internacional sobre Borderline foi
realizado apenas em 2010, em Berlim.
Um dos novos nomes propostos para o distúrbio é “Transtorno
de Regulação Emocional”, pois é justamente a “desregulação
emocional” que traduz a dificuldade que a pessoa tem em
regular, modular, controlar, e até reconhecer e classificar suas
próprias emoções.
Muitas pesquisas estão sendo conduzidas sob diversas óticas,
mas de modo geral a constatação é de que algumas pessoas já
nascem com um certo conjunto de vulnerabilidades
neurobiológicas, as quais podem (ou não) levar a uma
manifestação dos comportamentos associados ao transtorno,
dependendo das experiências pessoais e influências do meio.
Estas pesquisas continuam analisando a ação de
neurotransmissores, serotonina, a amídala (parte do sistema
límbico), as diferentes formas de perceber e processar
conhecimento e emoções, a hipersensibilidade a estímulos e
mudanças, a atividade do córtex pré‐frontal, as questões
relacionadas à insônia, resposta a dor, receptores opióides, o
cerebelo, o hipocampo, baixa ocitocina, entre outras.
Existe uma grande diversidade na “programação” individual – o
que, por sua vez – e isto é de suma importância ‐ aponta para o
potencial de “reprogramar” as reações e atitudes da pessoa com
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sintomas Borderline, principalmente através de terapia, para
permitir que tenha uma vida mais tranqüila e equilibrada.
Alguns tipos de comportamento “menos comuns” encontrados
em nosso meio de familiares e amigos podem dizer respeito,
talvez, a um tio impulsivo e esbanjador, uma tia que sofre de
depressão, um avô que bebia demais, um primo super tímido, um
outro primo brilhante porém imprevisível, um parente muito
“sistemático”, outro extremamente ciumento e possessivo, um
colega que só quer saber de aventuras radicais, e assim por
diante.
Considerados individualmente, tais traços podem até ser aceitos
socialmente como hábitos “excêntricos” (embora o alcoolismo, o
homossexualismo e transtornos de comportamento, por
exemplo, ainda carreguem um pesado estigma, contribuindo
para que as próprias pessoas e seus parentes não queiram
comentá‐los abertamente nem buscar ajuda).
Mas, no caso do Borderline, pode ocorrer a concentração de
diversas destas vulnerabilidades e características em uma só
pessoa – o que representa uma carga individual excessivamente
pesada para se lidar de forma adequada sem alguma espécie de
ajuda.
Com uma boa terapia (uma das opções mais eficazes sendo a
Cognitiva comportamental, que visa justamente essa
reprogramação, ou psico‐educação) e o apoio e envolvimento
positivo de pessoas amadas e amigas, e também, muitas vezes, a
ajuda de medicação adequada, a pessoa com sintomas Borderline
pode atingir um excelente grau de recuperação. Relatos
fascinantes e inspiradores podem ser encontrados em grande
quantidade em blogs e vídeos e sites na internet, em livros (como
The Buddha and the Borderline, por Kiera Van Gelder, BPD Coaching and
Advocacy, por A. J. Mahari, Loud in the House of Myself, por Stacy
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Pershall, por enquanto disponíveis somente em inglês), entre
outras fontes.
É interessante observar que muitas pessoas com sintomas
Borderline acabam encontrando equilíbrio, satisfação e
realização ao exercer atividades que envolvem a prestação de
ajuda aos outros, seja através de enfermagem, assistência social,
voluntariado, ensino de modo geral, terapia, etc.
Um dos exemplos mais marcantes na área internacional é da Dra.
Marsha Linehan, da Universidade de Washington nos EUA,
pioneira no desenvolvimento e utilização da Terapia
Comportamental Dialética, que já ajudou um grande número de
pessoas com sintomas borderline ao redor do mundo – sendo
que ela mesma passou por uma juventude turbulenta,
atormentada por sintomas borderline. Maiores detalhes sobre o
caso dela podem ser encontrados no site
www.borderlinepersonalitydisorder.com.
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informativos e interativos, tais como
http://vidadeumaborderline.blogspot.com/, e
http://cafepsicanalitico.blogspot.com/.
Não devemos nunca esquecer de que existem muitos níveis e
tipos de sintomas Borderline, bem como variadas fases e ciclos e
combinações de comportamentos. Às vezes, se as circunstâncias
de vida não desencadeiam as fortes e negativas reações
emocionais características do transtorno, a vulnerabilidade
biológica pode permanecer dormente por muito tempo, ou
mesmo latente para sempre, e/ou poderá manifestar‐se de forma
relativamente branda, e/ou mais passageira.
Além disso, à medida que a pessoa chega aos quarenta, levando
uma vida com menos conflitos emocionais, registra‐se uma
frequente tendência à diminuição dos sintomas de instabilidade e
impulsividade, às vezes até sem tratamento específico.
Entretanto, sem um ambiente estruturado e sem terapia,
algumas pessoas podem até piorar – portanto, não é a idade em
si o fator determinante. Entre outros profissionais a confirmar
essa tendência, temos o Dr. Erlei Sassi Junior, formado em
medicina e psicoterapia pela Universidade de São Paulo (USP),
que estuda pacientes com transtorno borderline há 15 anos e
atualmente coordena o Ambulatório dos Transtornos de
Personalidade e do Impulso do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas, também na capital paulista.
O mesmo, ao ser indagado sobre as principais mudanças
esperadas no Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios
Mentais, o DSM‐V, previsto para publicação em maio de 2013,
respondeu à Veja Online de 31/07/2011 o seguinte: “no DSM‐V, a
principal evolução no diagnóstico do transtorno será a aplicação
de questionários destinados a medir duas características.
Primeira: em que medida o paciente se vê como um indivíduo
autônomo, ou seja, que não depende dos outros. Quanto mais
considerar‐se independente, menos graves são os sintomas.
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Segunda: a capacidade do paciente de colocar‐se no lugar do
outro. Quanto mais entender as aflições de outra pessoa, menos
graves são os sintomas. Desta maneira, será possível medir o
nível de intensidade do transtorno. Dependendo do grau da
doença, o tratamento muda.”
Resumindo – não há uma única causa específica do transtorno
Borderline, pois a manifestação dos sintomas depende do
conjunto individual de vulnerabilidades e a
sequencia/combinação de eventos que impactaram aquela
pessoa. Por conseguinte, é importante frisar que a pessoa que
apresenta o transtorno não “tem culpa” pelo aparecimento e
manifestação dos sintomas de Borderline, e nem existe uma
figura exclusiva a quem possa ser atribuída a “culpa” pelo
desenvolvimento do transtorno, entre pais, parentes, parceiros,
cônjuges ou amigos.
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emocional (potencialmente Borderline), e, por não terem
conhecimento suficiente sobre o assunto, ficam sem saber como
agir ou reagir, onde e que tipo de ajuda devem procurar, e nem
têm condições de avaliar devidamente se a ajuda encontrada é a
mais adequada para o caso em questão.
A própria pessoa com sintomas Borderline muitas vezes não sabe
onde e como procurar ajuda para seus dilemas e angústias,
principalmente se nao tem conhecimento do conjunto de
características que pode indicar a presença do transtorno. E
existem também fatores pessoais, econômicos, familiares, etc.
que criam obstáculos à sua busca e obtenção da ajuda necessária
e eficaz. Como resultado, normalmente há uma longa e lastimável
demora no reconhecimento do problema e na definição do
diagnóstico correto, assim como na posterior disponibilização de
suporte e tratamento adequado.
Foi justamente pensando neste aspecto – o da frequente
demora em se encontrar ajuda terapêutica eficaz - e
considerando que esse tempo perdido é traduzido em
sofrimento para cada pessoa e sua família - que tomamos a
iniciativa de oferecer uma compilação de “primeiros passos”
para que a própria pessoa com sintomas Borderline possa ir
adquirindo mais consciência e autoconfiança até que consiga
ter acesso ao devido apoio profissional.
Pois o sofrimento emocional é um fator constante na vida da
pessoa altamente sensível, decorrendo basicamente do fato de
carregar suas emoções à flor da pele, como se lhe faltasse uma
importante camada protetora que a maioria dos outros possui.
Ela vive num turbilhão emocional, e por conseguinte procura
aliviar sua dor de qualquer forma disponível no momento –
mesmo se isto faz com que ela se vire contra os outros ou contra
si mesma. É como se estivesse literalmente pegando fogo e
corresse desesperadamente em direção ao rio mais próximo para
apagar as chamas, nem que para isso tenha de derrubar todos
que se encontram em seu caminho.
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Esse caos interno é descrito assim em primeira mão por uma
pessoa com sintomas Borderline:
Eu te odeio. Isso não é verdade, mas às vezes acho que é. Não atendo o
telefone quando você liga, embora queira falar com você. Não te ligo, mesmo
sendo isso a única coisa que quero fazer. Não vou te procurar, embora todas
as partes de mim queiram fazer isso. Vou sentir raiva de você, vou querer te
magoar, vou te afugentar porque tenho medo que você se aproxime demais.
Preciso de sua atenção constante, seu apoio, mas os receberei com fria
indiferença.
Terei ciúme da atenção que você dá para outros, e terei raiva de você por me
ignorar. Vou me sentir bem carinhosa e próxima de você um dia, somente
para ficar com raiva de você e querer te expulsar da minha vida no dia
seguinte.
Sofro de amnésia emocional, talvez eu tenha sido sempre assim. Vejo cada
evento, cada dia, cada conversa como um evento separado, sempre buscando
sinais de que você possa vir a me magoar. Quando me sinto ignorada, fico
com raiva e esqueço que no dia anterior você me falou quanto que gostava
de mim.
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Sou um caos inconsistente. Existe uma parte de mim que está feliz e
confiante, e uma outra parte que é insegura e carente. Esses dias, nunca sei
que lado vai vir à tona.
Cada vez que acho que as coisas estão sob controle, que eu sei que você gosta
de mim e me sinto bem com nosso relacionamento, a dúvida e o medo
voltam. Talvez com tempo possam sumir inteiramente, mas tenho minhas
dúvidas. Basta aparecer um novo relacionamento, um novo amigo, um novo
dia, e tudo volta outra vez.
Você pergunta o que pode fazer por mim, e eu não sei o que lhe responder. A
minha parte carente quer sua atenção constante, precisa de suas palavras e
seus pensamentos, de sua presença. Mas sei que isto não é a resposta,
preciso aceitar as limitações em nosso relacionamento. A minha parte
assustada quer você fora da minha vida para facilitar as coisas. A minha
parte detestável quer te magoar e machucar porque acredita que você me
machucou.
Tudo que posso pedir é que você entenda, que não desista. Vou lhe ignorar às
vezes, posso ser grossa com você, posso tentar magoá-lo. Posso me esconder
de você e esperar que você me procure, para que eu sinta que você realmente
se importa comigo.
Não é justo fazer essas coisas com você, mas eu as farei. Não posso lhe pedir
para agüentar isso tudo, não é justo, e, não importa como eu aja, gosto
demais de você para lhe sujeitar a isso tudo. Mas você perguntou, e é isso
que tenho a lhe dizer.
Não gosto disso. Não gosto de ser carente e pegajosa. Não gosto de magoar
as pessoas. Não gosto de ser grossa e sarcástica com as pessoas que me
cercam. Não gosto dessa parte de mim. Durante muitos anos ignorei isso e
fiz de conta que isso era eu, mas entendi agora que eu estava errada. Isso
não é eu – é uma falsa identidade criada para me proteger do mundo.
Não foi fácil chegar a este entendimento, e talvez ainda não o tenha aceito
inteiramente. Mas encontrei o meu caminho, sinto que posso mudar e que
posso aceitar esse lado meu e impedi-lo de se tornar aquilo que sou. Não vai
ser fácil e não vai ser rápido, mas tenho fé que vou conseguir. Talvez um dia
eu me veja como a pessoa que você vê por trás de minhas defesas, e talvez
um dia vou permitir que os outros também vejam aquela pessoa.
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Isso é dirigido a você, mas você representa muitas pessoas. As pessoas que
estão próximas a mim agora. As pessoas das quais eu quero estar próxima
mesmo as tendo afugentado. Os amigos que afastei no passado, os amigos
que nunca perdoei e nunca permiti voltar para minha vida, os amigos aos
quais nunca tive oportunidade de dizer essas coisas. As pessoas que vou
conhecer no futuro, as pessoas das quais vou gostar até que novamente eu
as empurre para fora de minha vida. A parte de mim que ainda está
tentando entender quem eu sou. Você é estas pessoas todas e muitas mais”.
Os conceitos abordados na seção a seguir estão descritos
também no primeiro livro da autora, Sensibilidade à Flor da Pele,
dirigido principalmente a familiares de pessoas com sintomas
Borderline, porém são incluídos aqui devido à sua importância
para o melhor entendimento dos aspectos mais problemáticas da
alta sensibilidade emocional.
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III. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO
BORDERLINE
1. Vergonha / Invalidação
A vergonha é um aspecto que não só permeia como provoca
muitas das ações e reações da pessoa com sintomas Borderline.
Existem diversas maneiras de definir o sentimento de vergonha.
Mas, basicamente, podemos dizer que a vergonha é o mal‐estar
emocional vinculado à idéia de alguma ação que imaginamos
censurada pelos outros e/ou por nós mesmos.
Mas, de onde vem essa vergonha?
Essa sensação enraizada de vergonha entre muitas pessoas com
sintomas Borderline é geralmente atribuída a um ambiente
“invalidante” na infância e/ou juventude – um ambiente em que
as reações emocionais da criança, principalmente as negativas ou
mal compreendidas (tais como raiva, medo e tristeza) foram
tratadas com zombaria, ironia, impaciência, rejeição ou desprezo,
e/ou consideradas inadequadas, incômodas, erradas, inválidas,
inaceitáveis ou indesejáveis; um ambiente em que foram
repetidamente praticados atos ou proferidas palavras para
controlar, inibir, coibir ou moldar tais reações.
Essa invalidação pode ser percebida e assimilada pela pessoa com
alta sensibilidade emocional em uma grande variedade de
situações, desde casos de abuso sexual real a uma mera falta de
sintonia entre sua personalidade e a dos seus pais. Mesmo pais
amorosos e bem‐intencionados podem ter dificuldades em lidar
com uma criança mais sensível, por falta de conhecimento, de
tempo, ou outros fatores.
Pessoas com predisposição a Borderline podem tornar‐se
incapazes de validar a si mesmas, de sentir empatia por si
mesmas, de se consolar e acalentar, de gerar e manter uma
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autoconfiança saudável. Quando a manifestação de suas
emoções negativas é bloqueada ou punida, isso gera uma
resposta ou reação de vergonha – primeiro, pelo próprio fato de
ter sentido essa emoção intensa, e, segundo, por ter externado
essa emoção, expondo‐se a crítica e juízo.
A vulnerabilidade biológica da pessoa com sintomas Borderline
impede que ela consiga distinguir entre o que ela é e o que ela
sente, e, por não corresponder às expectativas da família ou da
sociedade, sente‐se punida de alguma forma pelas suas ações,
que são, por sua vez, uma manifestação direta de seus
sentimentos e impulsos. Portanto, ela age conforme seus
sentimentos e, caso punida, internaliza que está sendo punida
pelo que ela é.
Veja este comentário de uma pessoa com sintomas Borderline:
“Um terapeuta me contou que toda família tem sua ovelha negra – essa
ovelha negra sendo a pessoa que se sobressai pelo seu poder, e que os outros,
por se sentirem inseguros em seu convívio, buscam controlar e fazer com
que se torne uma ovelha branca. Essa pessoa nunca conseguiu ser uma
ovelha branca, mas ficou com a sensação de que não se encaixava em lugar
nenhum. Infelizmente, ela tem Borderline.”
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A reação natural a um sentimento de vergonha é acobertá‐lo,
pois a pessoa se sente vulnerável, e a vergonha acaba gerando
mais vergonha, num círculo vicioso.
E é justamente essa vergonha que impede muitas pessoas com
sintomas Borderline de procurar ajuda na forma de terapia, pois
isto também acarreta duas reações distintas de vergonha. Uma,
resultante do medo de que o terapeuta vai conseguir enxergar
seus defeitos e enquadrá‐la como problemática e imperfeita,
como uma pessoa que precisa ser “consertada”. E outra, pelo
medo de que, se a terapia não der resultado, sua vergonha e seu
fracasso serão confirmados oficial e publicamente.
Passada a crise de desregulação emocional, a pessoa com
sintomas Borderline pode sentir‐se envergonhada e
constrangida. Porém normalmente não expressa a sua vergonha,
nem procura justificar seu comportamento, nem pede desculpas
– mais uma vez porque, se admitisse sua culpa, poderia tornar‐se
alvo de mais crítica. Ou então simplesmente porque ela mesma
não consegue se perdoar.
Sua vergonha pode intensificar‐se rapidamente, externando‐se
em forma de tristeza, medo e raiva. A raiva, por ser uma emoção
extremamente forte, frequentemente prevalecerá sobre as
outras.
2. Raiva
Uma pessoa com sintomas Borderline pode ter um acesso de
raiva a troco de aparentemente nada: uma coisa mínima fora do
lugar, um pequeno atraso, uma palavra descuidada, uma ligeira
mudança de planos ‐ esses eventos remetem não só à vergonha
mas também a uma hipersensibilidade a crítica, a uma
insegurança básica. A raiva tem a função, entre outras coisas, de
criar uma barreira contra três sentimentos básicos que conduzem
à baixa de auto‐estima – vulnerabilidade, impotência, e
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abandono. Porém, incontrolada e mal usada, acaba atrapalhando
a nossa vida, e nessa ânsia de nos defender desses perigos,
partimos para o ataque.
Veremos mais adiante algumas dicas para atenuar acessos de
raiva.
3. Impulsividade
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Um fator que talvez contribua para esta impulsividade é uma
possível diferença na organização dos circuitos neurais. Pesquisas
recentes com ressonância magnética funcional mostram que o
cérebro em descanso das pessoas com sintomas Borderline
mostra maior ativação do córtex pré‐frontal (a parte do cérebro
que parece ser responsável pela análise e tomada de decisões,
servindo também como freio de agressão) do que em pessoas
sem sintomas Borderline.
Isto se traduz em uma percepção mais aguçada de ameaças,
geralmente na área emocional. Quando a ameaça é percebida ou
efetivamente se materializa, o córtex pré‐frontal “desliga” e o
sistema límbico “acende”. Como conseqüência, a pessoa com
sintomas Borderline reage de forma reativa e impulsiva, tendo
seu processo decisório inibido. Isto muitas vezes leva a uma
desregulação emocional e extrema personalização – em outras
palavras, ela não só percebe uma ameaça, mas acredita que
esteja especificamente direcionada a ela.
Um dos moderadores da atividade no córtex pré‐frontal é a
serotonina, que é o neurotransmissor modulador das vias senso‐
perceptivas responsáveis pela sensação de dor, e que também
contribui para o melhor controle do impulso sexual, da
agressividade e da ansiedade. Cogita‐se que deficiências no
metabolismo da serotonina (e na quantidade e sensibilidade de
seus receptores) possam exacerbar os sintomas Borderline.
O aspecto positivo desta visão neurobiológica é que este quadro
pode ser aos poucos modificado através do pensamento
(durante o processo da terapia Cognitiva comportamental, por
exemplo), à medida que o córtex pré‐frontal vai sendo reativado
e re‐programado. Isto permite que as emoções se transformem
de impulsivas para ponderadas. E essa é uma das principais metas
a ser buscada.
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4. Variações de humor
Uma das principais características da
pessoa com sintomas Borderline é a
sua imprevisível e drástica variação
de humor. Sua alta sensibilidade e
reatividade emocionais prejudicam
seu processo cognitivo, seu
raciocínio, sua tomada de decisões,
sua auto‐confiança. Seu humor tende
a oscilar de forma mais rápida do que
ocorre em alguns outros distúrbios comportamentais (como o
bipolar, por exemplo), podendo mudar diversas vezes no decurso
de poucas horas. Isso cria um clima de insegurança geral tanto
para a própria pessoa quanto para seus amigos e familiares.
A amídala, uma parte do sistema límbico, parece ter participação
nesta labilidade/instabilidade emocional. Sua função principal é o
processamento de emoções e o armazenamento de lembranças
emocionais. Serve também como o sistema de alarme do
cérebro, acendendo as reações de fuga ou luta. A amídala recebe
informacoes sensoriais do corpo através do tálamo e envia
mensagens para muitas outras áreas, inclusive o rosto, ativando
expressões faciais, além de estar associada com o olfato. As
pessoas com sintomas Borderline em alguns estudos mostraram
ter amídalas bem mais ativas do que a maioria da população,
levando a uma intensificação nas reações emocionais a quase
todas as situações de vida, colocando‐as em estado praticamente
constante de alerta e prontidão.
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incomodam os outros), sabores, luminosidade, e assim por
diante.
As pesquisas também indicam que pode haver uma conexão
entre a ansiedade, a impulsividade e variações de humor. A
ansiedade é geralmente uma das primeiras características
observadas por terapeutas ao lidar com pessoas posteriormente
diagnosticadas com Borderline (assim como a depressão).
Se fosse promovida uma conscientização maior entre pais e
professores quanto à importância da detecção precoce de
ansiedade e sensibilidade exacerbadas em crianças, talvez elas
pudessem ser ensinadas técnicas de “coping” para aprender a
lidar melhor com essas características, evitando assim o
desenvolvimento de problemas mais sérios no futuro.
6. Sensibilidade a crítica
25
por causa da vergonha (sou uma má pessoa) e vai se rejeitar (não
mereço aceitação).
Além disso, por mais paradoxal que pareça, pode voltar‐se contra
as pessoas que lhe estendem a mão e oferecem aceitação,
porque acha que no fundo não merece tal aceitação.
Esta é a lei de “efeito e causa”, assim explicada por uma pessoa
com sintomas Borderline:
“O mundo opera no sentido de “efeito e causa” (e não ao contrário).
Se eu sinto coisas de uma certa forma, vou procurar retroativamente
uma causa para as mesmas – uma causa que não possa ser atribuída
a mim! Pois se for, eu seria julgada como estando errada. E eu não
aguento ser julgada como errada.”
26
Borderline, muitas vezes já com conotação negativa, acusatória,
crítica.
Pesquisas recentes realizadas por Larry Siever e Barbara Stanley
indicam que alguns elementos químicos no cérebro, tais como a
ocitocina, bem como o nosso sistema opióide endógeno, afetam
nossa capacidade de confiar nos outros e firmar relacionamentos.
Cada área do cérebro possui uma função específica e precisa
estar corretamente conectada com locais neuroanatômicos
específicos para que todos os sistemas funcionem
adequadamente em harmonia. Também existem muitos
neurotransmissores e neuropeptídios (hormônios) envolvidos na
regulação destes sistemas que afetam as formas de percepção de
atos e palavras.
Alguns estudos também
mostram que as emoções
negativas são processadas de
forma distinta das positivas,
usando estruturas e viajando por
circuitos neurais diferentes. Os
gatilhos negativos parecem
provocar respostas mais intensas do que os positivos. Por
aparentemente possuírem uma propensão inata a enxergar as
coisas pelo lado negativo, as pessoas com sintomas Borderline
podem encontrar mais dificuldade em administrar relações
interpessoais, levando tudo para o campo pessoal e assim
intensificando suas reações.
Um aspecto interessante – e relevante – indicado por pesquisas
usando ressonância magnética funcional é que as pessoas com
sintomas Borderline, em comparação com a maioria da
população, parecem ter uma reação muito mais intensa e
negativa a expressões faciais neutras, interpretando‐as como
ameaçadoras, suspeitas, enigmáticas, negativas.
27
Isto é algo a ser levado em conta tanto pelos familiares quanto
pelos terapeutas. Pois os parentes, confrontados com acessos de
raiva, geralmente procuram manter sua calma a qualquer custo –
e acabam exacerbando a explosão emocional, por ter sua reação
controlada interpretada como desinteresse, raiva contida, crítica,
desamor, condescendência, etc. E os terapeutas, que
normalmente procuram manter‐se objetivos e impassíveis
durante suas sessões, podem estar transmitindo, em vez de
segurança e tranqüilidade, algo muito diferente. A pessoa com
sintomas Borderline de modo geral parece preferir uma forma de
comunicação mais emocional, clara e vigorosa, porém sempre
sem crítica ou julgamento.
8. Distorção de “fatos” / memória emocional /
atemporalidade
As pessoas com sintomas Borderline podem chegar a distorcer
fatos ocorridos, em situações nas quais:
é menos doloroso mentir do que confessar a verdade;
querem dar uma impressão melhor à outra pessoa do
que elas têm de si mesmas;
querem evitar crítica ou autocrítica;
não conseguem enxergar a “verdade” por causa de
seu “raciocínio” emocional.
Se a pessoa a quem elas contam a sua versão dos fatos tem
probabilidade de julgá‐la como “má” ou “imperfeita”, a
expectativa da desaprovação desencadeia, primeiro, a
sensibilidade e reação à rejeição, e depois a vergonha, porque a
pessoa com sintomas Borderline realmente acredita, no fundo,
que, se ela confessar a verdade, os outros vão descobrir que ela é
uma “má pessoa” e vão acabar por rejeitá‐la totalmente.
Algo que sempre precisa ser levado em conta é que:
A “verdade” da pessoa com sintomas Borderline é sua
emoção.
28
A pessoa com sintomas Borderline não necessariamente se
baseia naquilo que vê, ouve, testemunha ‐ baseia‐se mais no que
ela sente, e interpreta as coisas através das “lentes emocionais”
de suas experiências, mesmo que tal interpretação seja
divergente dos “fatos” externos presenciados pelos outros à sua
volta.
E uma pessoa tomada por fortes emoções não consegue aceitar,
assimilar, arquivar ou reconhecer informações que não
confirmem ou não justifiquem tal emoção, conforme evidencia o
seguinte depoimento:
“As lembranças são como pastas no meu arquivo mental. Já que estou
sempre sendo julgada, eu uso esses arquivos seletivamente, assim como os
advogados no seu trabalho. Desta forma, somente serão utilizadas as
lembranças que se adéquam aos meus sentimentos do momento. Pois as
lembranças que apresentam provas contrárias aos meus sentimentos não
serão consideradas como provas admissíveis – ou então serão alteradas para
preservar a minha inocência.”
Portanto, ela estará mais propensa a re‐interpretar ou gerar
“fatos” alternativos que possam corroborar o que está sentindo.
Na sua visão, não está efetivamente “mentindo”, mas sim
salientando ou selecionando “fatos” para respaldar sua forte
reação emotiva à situação vivida.
É muito importante entender este processo que leva a pessoa
com sintomas Borderline a contar inverdades, pois as mesmas
podem ser altamente prejudiciais e ofensivas às pessoas à sua
volta, que, por desconhecerem o transtorno e suas
características, não sabem que não devem levar essas acusações
pessoalmente, e que não devem tentar se defender das mesmas,
pois estas são um reflexo de ataque ou contra‐ataque sobre o
qual a pessoa com sintomas Borderline tem pouco ou nenhum
controle.
29
Às vezes as pessoas com sintomas Borderline relatam eventos
para amigos, parentes e terapeutas de forma bem diferente do
que efetivamente aconteceram. Podem até acusar seus pais de
abuso, sem fundamento na realidade vivenciada pelos outros. É
importante, portanto, ter uma visão mais clara de como funciona
o processo de elaboração de lembranças emocionais
(envolvendo a amídala, o hipocampo, lobo temporal, entre
outros) para entender melhor eventuais divergências de fatos
ocorridos.
Frequentemente, por ter uma forte desconfiança do mundo e das
pessoas que a cercam, a pessoa com sintomas Borderline se
sente vulnerável e impotente. E já que as suas emoções podem
ser desencadeadas e desreguladas com tanta facilidade e rapidez,
de forma tão dolorosa, ela quer proteger‐se contra essa dor, e
pode enxergar sua vulnerabilidade como uma forma de abuso
emocional pelos outros, em vista da intensidade da dor que isso
acarreta. Em consequência, ela pode incorporar essa percepção à
sua memória e “história pessoal” como se de fato tivesse sofrido
abusos concretos.
Devemos também lembrar do aspecto de atemporalidade ‐ a
pessoa com sintomas Borderline tende a fazer uma conexão
direta e atemporal entre experiências emocionais do passado e
acontecimentos atuais, porque a sensação para ela é uma só ‐
não faz diferença se algo aconteceu há uma hora ou há vinte anos
atrás. Por conseguinte, pode acabar agindo com base na soma de
suas lembranças emocionais, com uma intensidade que aos
outros parece desproporcional à situação presente:
30
Portanto, se algo no ambiente da pessoa com sintomas
Borderline a remete a uma memória implícita ou emocional, e se
ela interpreta algo equivocadamente de forma personalizada,
suas emoções são deflagradas sem que ela saiba por que,
reativando seguidamente a experiência emocional do passado.
Eventos ou palavras que magoaram a pessoa no passado
parecem ser revividos com o mesmo (ou até maior) grau de dor,
sofrimento e intensidade emocional, como se tivessem acabado
de acontecer, independente da cronologia real. A dificuldade
inerente que as pessoas com sintomas Borderline têm em deixar
para trás lembranças desagradáveis faz com que vivam em
constante sofrimento, o qual não é atenuado nem compensado
por lembranças de bons momentos.
9. Atribuição de culpa
31
Como disse um homem com Borderline para a sua esposa, ao
tentar explicar porque a culpava por tantas coisas:
“Eu quero que todo mundo concorde comigo. Se não concordam comigo,
começo a ficar ansioso. Quando você discute comigo, quando você não está
jogando no meu time, fico achando que você me considera um fracassado.
Fico extremamente irritado quando você não concorda comigo. Não sei bem
por que – simplesmente fico frustrado, e depois fico com raiva de você
porque me sinto frustrado.”
33
perda de emprego;
medo de rejeição ao descobrir preferência por
relacionamentos com pessoas do mesmo sexo;
sensação de falta de rumo na vida;
falta de definição de identidade;
carência emocional;
percepção de rejeição, impaciência, invalidação;
morte de pessoa querida.
Uma sensação de abandono é uma ferida profunda, muitas vezes
pouco compreendida, que pode passar despercebida pelos
outros à sua volta.
11. Atitude “oito ou oitenta”
34
pessoal de “abandonar antes de ser abandonada”, baseada na
seguinte crença:
12. Ruminação
35
físicas, mentais, sociais ou outras. Além disso, algumas formas de
meditação que visam a concentração no momento presente ‐
como, por exemplo, o estado de plena atenção (o mindfulness)
proposto pelo budismo, que é usado também no mundo
corporativo para combater o estresse ‐ ajudam a pessoa a
aprender a se preocupar menos com o passado e o futuro.
36
fonte, a reação primordial do corpo e da mente é de buscar alívio
o mais rápido possível, por qualquer meio que seja.
14. Insônia
Uma das manifestações físicas
comuns de Borderline é
insônia. Isso se deve em parte
ao fato de ficar remoendo
acontecimentos (reais ou
imaginados, passados ou
futuros).
Além disso, existem indícios
de que a composição química
do cérebro da pessoa com sintomas Borderline não permita ao
organismo um eficiente aproveitamento da serotonina, um
neurotransmissor que atua como sedativo e calmante natural do
nosso corpo. Muitas pessoas com sintomas Borderline precisam
de soníferos para conseguir adormecer e acabam tomando esses
remédios em altas doses, por não surtirem efeito facilmente. A
falta de descanso adequado acaba exacerbando as
manifestações de sintomas Borderline, tais como ansiedade,
isolamento, variações de humor e sensibilidade a estresse.
38
relacionamentos, inclusive seu eventual término (novamente,
garantia de que possa abandonar antes de ser abandonada).
O mesmo ímpeto de busca de aprovação muitas vezes leva as
pessoas com sintomas Borderline a se moldar, como um
camaleão, aos anseios, interesses e preferências dos que querem
impressionar e cativar, tais como namorados, surpreendendo‐os
e encantando‐os com o nível de empatia, sensibilidade e
compatibilidade demonstradas.
16. Autolesão / dor / pensamentos suicidas
39
pensamentos suicidas são bastante comuns e recorrentes, pois o
desânimo diante das dificuldades enfrentadas nos
relacionamentos, principalmente, é muito grande, e a pessoa, ao
se sentir extremamente frustrada e magoada, pode cogitar uma
fuga definitiva.
40
IV. REAÇÃO DAS PESSOAS À SUA VOLTA
Se você se identificou com uma série de características descritas
acima, e viu como são comuns a tantas outras pessoas com alta
sensibilidade emocional, você poderá até constatar que, entre as
suas amizades e outros relacionamentos, você já está em contato
com pessoas com características semelhantes, com as quais você
poderá compartilhar e comentar suas novas descobertas.
Mas, e com relação aos outros à sua volta? O que você deve dizer
ou deixar de falar? Esse aspecto é bem delicado. Antes de tomar
qualquer atitude, o ideal seria que obtivesse confirmação do
diagnóstico efetivo de transtorno de personalidade Borderline,
elaborado por um profissional qualificado da área de saúde
mental.
Mas, como já comentamos, esse processo pode ser muito difícil e
demorado. Portanto, até que você consiga fazer terapia eficaz
com um profissional experiente nesta área, mesmo que seja para
tratar de alta sensibilidade emocional, ou ansiedade, depressão
ou síndrome do pânico, ou distúrbio alimentar ou
comportamental, ou algo semelhante, o importante é que você
não se sinta sozinha e desamparada. Use todas as ferramentas e
contatos possíveis para buscar apoio e compreensão, tais como
livros, blogs, amigos (sejam virtuais ou não).
Dentro de sua própria família, você corre o risco de não encontrar
muita receptividade ao falar sobre suas angústias emocionais
como possíveis sinais de um transtorno comportamental, por
uma série de motivos. Entre outros: seus pais, por exemplo,
podem achar que estão sendo acusados de ter lhe criado de
forma errada e vão reagir repelindo essa idéia e tudo que a
mesma implica (seja por sentimento de culpa ou outro); seus
parentes podem não se sentir em condições de lidar com a sua
dor e portanto vão negar que você tenha qualquer “problema”;
podem hesitar em admitir perante outros que você seja um
41
pouco “diferente”, uma espécie de “ovelha negra” que não se
encaixa nos padrões aceitos pela família e pela sociedade em
geral; os cônjuges ou namorados podem ficar temerosos em
dizer ou fazer algo “errado” e exacerbar seus sintomas (por
estarem “pisando em ovos”), e/ou podem ter medo de ter que
mudar algo neles mesmos para lidar com você de forma mais
compreensiva e eficaz.
Basicamente, entretanto, na maioria dos casos podemos
procurar partir do pressuposto de que estas atitudes de aparente
falta de empatia e apoio podem ser atribuídas mais a uma falta de
conhecimento e de flexibilidade, do que a uma real má vontade
ou desinteresse.
Às vezes sonhamos com um tipo de apoio e compreensão que
simplesmente não vem da forma e na hora que queremos –
nestes casos, devemos procurar aceitar as limitações dos outros,
assim como queremos que os outros aceitem as nossas. E fica
sempre aquela dúvida no ar – será que o problema está no
excesso de expectativas, ou na insuficiência do retorno
esperado?
De modo geral, as pessoas possuem um sistema de crenças
estabelecido, e têm medo de fazer mudanças. Além disso, muitas
fazem julgamentos e críticas de forma automática e praticamente
inconsciente. Rebaixar os outros não deixa de ser uma
ferramenta que algumas pessoas usam para se sentir mais
poderosas. Por isso, acham‐se no direito de julgar os outros pela
sua situação econômica, pelas suas decisões, pelo seu
comportamento, pela sua aparência, até pelo seu cansaço, falta
de ânimo, estado de saúde, e assim por diante – chamando os
outros de “fracos”, “frescos”, “incompetentes”, “lerdos”, etc.
Os conceitos rígidos, às vezes expressos de forma repetida e
enfática, com relação ao que é “certo“ ou “errado“ não levam
em conta a “possibilidade” de que as opiniões tão
42
orgulhosamente defendidas possam não ser a “verdade suprema
e única”... Opiniões são somente isso – opiniões. Elas podem ser
úteis para nortear a nossa própria vida e nossas ações, mas não
constituem uma verdade absoluta que deva ser obrigatoriamente
acatada por todos à nossa volta.
Com relação ao conceito de “verdade” versus “mentira”,
devemos lembrar que “verdade” pode significar algo diferente
do que “fatos ocorridos”, conforme já mencionado, e até a
descrição de fatos ocorridos pode variar de uma pessoa para
outra – dez testemunhas de um acidente ou crime podem
oferecer dez relatos diferentes, e três irmãos podem recordar um
acontecimento na infância de modo inteiramente diverso.
Além disso, muitas vezes as pessoas confundem aceitação com
aprovação, e têm medo de abrir mão de sua postura habitual por
acreditar que elas mesmas serão julgadas como fracas ou
indecisas ou “sem caráter”. A tendência mais enraizada é sempre
buscar impor aos outros nossos próprios parâmetros, julgando
que nossa linha de conduta é a única certa. Muitas pessoas se
orgulham de seu discernimento, de seus preceitos morais, de
saber distinguir entre o certo e o errado, às vezes agarrando‐se
mais à sua própria necessidade de auto‐afirmação do que
pensando no bem estar e sentimentos dos outros.
É importante, entretanto, aceitar que as emoções não são nem
certas nem erradas – simplesmente são. E indispensável adquirir
uma compreensão mais ampla da força e da importância das
emoções, não necessariamente em contraposição à razão, mas
em complementação à mesma. É através do casamento
equilibrado do emocional com o racional que conseguimos
otimizar a nossa tomada de decisões na vida.
É interessante observar que os estudos da neurociência mostram
claramente que a parte emocional do cérebro aprende coisas de
um modo diferenciado da área de pensamento lógico. As
43
habilidades de inteligência emocional são desenvolvidas numa
região do cérebro chamada sistema límbico, que controla os
instintos, os impulsos, as motivações. Por outro lado, as
habilidades técnicas e analíticas são aprendidas no neocórtex,
que é a parte do cérebro que processa a lógica e os conceitos.
Mas, voltando a uma pergunta comum – a quem você pode ou
deve contar que você acha ou sabe que tem sintomas
Borderline? A resposta é – depende.
Primeiro, você tem que avaliar isso caso a caso, para tentar
minimizar o risco de se expor a críticas, discriminação (sim,
infelizmente tem essa possibilidade), perda de confiança.
Algumas pessoas, por desconhecimento, podem achar que você
só está querendo justificar suas próprias ações e reações ao
alegar problemas emocionais, podem começar a se distanciar, a
espalhar boatos sobre você – coisas que você certamente quer
evitar.
Depende também do relacionamento que você tem com a
pessoa, depende da forma e do momento em que você aborda e
explica o assunto, depende das idades e parentescos envolvidos,
e assim por diante. Mais uma vez, o ideal seria ter o suporte de
um profissional compassivo e experiente. Na falta do mesmo,
procure antes de mais nada sempre avaliar a fundo exatamente
por que você está querendo (ou precisando) contar a alguém
sobre seu problema, e quais são os possíveis e/ou prováveis
benefícios/riscos/conseqüências.
O caminho mais recomendável talvez seja o de informar os
outros, na medida que julgar necessário e viável, que você
simplesmente tem dificuldade em administrar suas emoções e
reações, e que você está trabalhando isto, assim como muitas
pessoas ‐ inclusive executivos de grandes empresas – freqüentam
cursos para aprender a controlar estresse e raiva.
44
Pode ocorrer que você realmente tenha magoado e prejudicado
outras pessoas no passado por comportamentos decorrentes de
sua impulsividade, intolerância a crítica, medo de abandono, e
outras características da alta sensibilidade emocional.
Por exemplo, você pode ter se afastado de sua família e
“adotado” a família de amigas ou namorados/cônjuges, por sentir
que nestes outros ambientes você estará menos sujeita a críticas
e cobranças. A sua dedicação e seus atos de bondade são
apreciados de uma forma que alimenta a sua auto‐estima, e lhe
faz sentir‐se mais útil e acolhida. Entretanto, talvez você não se
dê conta da dor causada aos seus familiares pelo seu
afastamento e aparente rejeição dos mesmos.
Aos poucos, com terapia e uma reprogramação de suas reações,
talvez você consiga “chegar” nessas pessoas que lhe são
importantes e começar a reconstruir seu relacionamento. Nada
como um dia após o outro, mesmo não havendo garantia de que
as coisas transcorram na forma exata que desejaríamos.
45
V. ABORDAGENS TERAPÊUTICAS
Não é muito comum uma pessoa com sintomas Borderline buscar
ajuda psicoterápica por iniciativa própria para o transtorno em si
– e, também, muitas vezes, mesmo quando inicia terapia e a
mesma começa a focar o transtorno, ela a abandona.
Pois, considerando que a pessoa
com sintomas Borderline sofre
intensamente com crítica e medo de
rejeição, vergonha de si mesma, e
confusão quanto aos seus próprios
sentimentos, uma abordagem que
não leva esses aspectos em conta
provavelmente não terá muito
sucesso. É importante o terapeuta
dar o mesmo tanto de importância
ao aspecto de aceitação quanto ao de necessidade de mudança,
o que otimiza as chances de continuação do tratamento.
Terapias tradicionais que partem do pressuposto de que os
comportamentos de hoje são causados por experiências do
passado muitas vezes não levam em conta os componentes
neurobiológicos do Borderline, limitando assim seu potencial de
êxito.
Mas, uma vez oficialmente diagnosticado o transtorno, as
pessoas com Borderline são geralmente tratadas com uma
combinação de:
a. estabilizadores de humor e antidepressivos. Esses
medicamentos psicofarmacológicos devem ser receitados e
ministrados de forma extremamente criteriosa, pois podem
causar graves efeitos colaterais, que variam de pessoa para
pessoa, existindo ainda o perigo de exagero no consumo de
medicamentos, pelo fato de as pessoas com sintomas
46
Borderline não sentirem tão rapidamente os efeitos
esperados dos mesmos; e
b. terapias de eficácia comprovada, como a Cognitiva
Comportamental e sua derivada, a Terapia Comportamental
Dialética, que ajudam a pessoa com sintomas Borderline a
reconhecer e diferenciar e reprogramar os seus pensamentos
e sentimentos.
Cabe aos profissionais da área de saúde mental fornecer uma
descrição mais detalhada das terapias que podem ser usadas no
tratamento – oferecemos aqui somente um pequeno resumo
superficial sobre as duas acima mencionadas.
Segundo a Dra. Judith Beck, que continua desenvolvendo o
trabalho pioneiro de psicoterapia iniciado pelo seu pai, Aaron
“Tim” Beck, no Beck Institute na Filadélfia, a Terapia Cognitiva
parte do princípio de que crenças e pensamentos de uma pessoa
influenciam suas emoções, ações e sintomas físicos, e que as
técnicas específicas que o terapeuta escolhe para usar com cada
paciente devem ser individualizadas com base na Conceituação
Cognitiva deste paciente (a compreensão do terapeuta,
confirmada pelo paciente, de quais são as crenças subjacentes do
paciente; os padrões não adaptativos que ele desenvolveu para
“lidar” com estas crenças; e os pensamentos, emoções e
comportamentos diários que aparecem como resultado destas
crenças).
Por outro lado, a Terapia Comportamental Dialética – TCD foi
desenvolvida especificamente pela Dra. Marsha Linehan,
professora de psicologia na Universidade de Washington, EUA,
para tratar o transtorno de personalidade Borderline.
48
VI. EMOÇÕES
Conforme explicado pela Judith Beck em seu livro Terapia Cognitiva
- Teoria e Prática- Judith Beck - Ed. Artmed, as emoções "negativas"
são normais e fazem parte de nossas vidas tanto como as
emoções "positivas". É importante aprender a diferenciar os
pensamentos automáticos das emoções, a rotular a emoções e a
classificar a intensidade das emoções.
Muitas vezes as emoções vêm sem identificação específica.
Ninguém passa o dia inteiro analisando e rotulando suas próprias
emoções – agora estou feliz, agora fiquei frustrado, tou chateado, tou
deprimido, tou tenso, e assim por diante. Muitas emoções passam
como nuvens no céu, e é somente quando essas se avolumam ou
escurecem ou então se afastam para deixar o sol brilhar, que
efetivamente reparamos e nos conscientizamos do nosso estado
de espírito.
A pessoa com sintomas borderline, ao ser dominada por
sentimentos muito fortes, conflitantes e confusos, pode
encontrar dificuldade em reconhecê‐los e classificá‐los, mesmo
que este discernimento seja essencial para o desenvolvimento de
seu controle emocional. Veja a seguir uma mera amostra de como
você pode se sentir de uma hora para outra:
Ao aprender aos poucos a conhecer e reconhecer melhor nossas
emoções, poderemos começar a entender melhor os fatores que
as geram, aceitar o fato de que muitas são realmente passageiras
e toleráveis, e distinguir as emoções negativas intensas que são
dolorosas e podem ser disfuncionais quando interferem na nossa
capacidade de pensar claramente, de resolver problemas, de agir
efetivamente ou obter satisfação. Em situações dolorosas
extremas a intensidade de emoção é excessiva e acaba sendo
inapropriada para a situação vivida.
A sua jornada pessoal de recuperação vai exigir que você tenha a
coragem e determinação para (i) se aceitar, e (ii) começar a
analisar e reprogramar alguns de seus pensamentos e reações –
isto pode parecer paradoxal, mas são dois aspectos
indispensáveis para o sucesso, o qual só virá com tempo e
esforço e ajuda.
50
O conceito de mudança pode lhe assustar, e você talvez sinta que
não está pronta para uma empreitada tão “radical”. Isso é
perfeitamente compreensível. Não precisa sentir vergonha se
hesita em dar os primeiros passos para sua recuperação, em se
enveredar por um caminho novo e aparentemente cheio de
riscos e perigos. Mas, chegará um momento em que você
concluirá que está na hora de assumir a responsabilidade pelo seu
futuro. E a sua recompensa será uma vida nova e promissora.
Não somos responsáveis pelo que nos fez ser quem somos
agora.
Porém, daqui para a frente, somos responsáveis pela pessoa
que passamos a ser, e por tudo que dissermos e fizermos.
E S C O L H A S
Você pode curtir ser quem você é, do jeito que você for ou viver
infeliz por não ser quem você gostaria.
Você pode assumir sua individualidade ou reprimir seus talentos e
sonhos, tentando ser o que os outros gostariam que você fosse.
Você pode produzir‐se e ir se divertir, brincar, cantar e dançar ou
dizer em tom amargo que já passou da idade ou que essas coisas
são fúteis, não sérias e bem situadas como você.
Você pode olhar com ternura e respeito para si próprio e para as
outras pessoas ou com aquele olhar de censura, que poda, pune,
fere e mata, sem nenhuma consideração para com os desejos,
limites e dificuldades de cada um, inclusive os seus.
Você pode amar e deixar‐se amar de maneira incondicional ou
ficar se lamentando pela falta de gente à sua volta.
Você pode ouvir o seu coração e viver apaixonadamente ou agir
de acordo com o figurino da cabeça, tentando analisar e explicar
a vida antes de vivê‐la.
Você pode deixá‐la como está para ver como é que fica ou com
paciência e trabalho conseguir realizar as mudanças necessárias
na sua vida e no mundo à sua volta.
Você pode deixar que o medo de perder paralise seus planos ou
partir para a ação com o pouco que tem e muita vontade de
51
ganhar.
Você pode amaldiçoar sua sorte ou encarar a situação como uma
grande oportunidade de crescimento que a vida lhe oferece.
Você pode mentir para si mesmo, achando desculpas e culpados
para todas as suas insatisfações ou encarar a verdade de que, no
fim das contas, sempre você é quem decide o tipo de vida que
quer levar.
Você pode escolher o seu destino e, através de ações concretas,
caminhar firme em direção a ele, com marchas e contramarchas,
avanços e retrocessos ou continuar acreditando que ele já estava
escrito nas estrelas e nada mais lhe resta a fazer senão sofrer.
Você pode viver o presente que a vida lhe dá ou ficar preso a um
passado que já acabou, e portanto, não há mais nada a fazer, ou a
um futuro que ainda não veio, e que portanto, não lhe permite
fazer nada.
Você pode ficar numa boa, desfrutando o máximo de coisas que
você é e possui ou se acabar de tanta ansiedade e desgosto por
não ser ou não possuir tudo o que você gostaria.
Você pode engajar‐se no mundo, melhorando a si próprio e, por
conseqüência, melhorando tudo que está à sua volta ou esperar
que o mundo melhore para que então você possa melhorar.
Você pode continuar escravo da preguiça ou comprometer‐se
com você mesmo e tomar atitudes necessárias para concretizar o
seu plano de vida.
Você pode aprender o que ainda não sabe ou fingir que já sabe
tudo e não precisa aprender nada mais.
Você pode ser feliz com a vida como ela é ou passar todo o seu
tempo se lamentando pelo que ela não é.
A escolha é sua. E o importante é que você sempre tem escolha.
Pondere bastante ao se decidir, pois é você que vai carregar ‐
sozinho e sempre ‐o peso das escolhas que fizer..
Autor Desconhecido
52
VII. LIDANDO COM IMPULSIVIDADE E/OU
DEPRESSÃO
Muitas vezes as pessoas com alta sensibilidade emocional são
censuradas por querer ou pensar ou fazer coisas que são
consideradas inapropriadas ou intempestivas, e elas acabam
concluindo que estão erradas.
Na realidade, de modo geral, as
pessoas com sintomas
Borderline querem as mesmas
coisas que todo mundo quer –
querem ser felizes, ter um bom
emprego, manter boas
amizades, querem receber
carinho e aprovação, querem se divertir, querem amar e ser
amadas, querem se realizar profissionalmente. Entretanto,
tipicamente querem que seus desejos sejam atendidos
plenamente e imediatamente.
Já vimos que existem muitos motivos que podem lhe “empurrar”
para cometer estes atos impulsivos ou entrar em um estado de
depressão, devido às suas vulnerabilidades biológicas e suas
experiências anteriores.
Mas vamos agora olhar para o lado prático: como esses
comportamentos indesejados podem ser previstos, contidos,
freados, contornados – e substituídos.
A proposta básica da terapia cognitiva comportamental é que
poderemos nos sentir melhor se conseguirmos substituir nossos
pensamentos negativos automáticos (os PAN, que são a principal
fonte da impulsividade e depressão) por pensamentos mais
positivos.
53
Abaixo estão descritas algumas táticas que podem lhe ajudar
neste sentido – algumas exigem mais prática, dando excelentes
resultados a longo prazo após serem devidamente assimiladas,
enquanto outras são mais “emergenciais”.
1. Táticas para conter impulsos
prejudiciais
Mesmo quando você estiver na
presença de outros e quiser ser
discreta, você pode recorrer aos
cinco sentidos para se centrar e não
ceder a impulsos prejudiciais:
1. Tato
a) pegue um cubo de gelo e segure até ficar incômodo
(porém não ao ponto de doer)
b) banhe seu rosto com água fria
c) tome um gole de água e segure na boca um pouco antes
de engolir
d) pegue num objeto que lhe passa segurança (uma
medalha, uma correntinha, um anel, etc.)
e) mantenha uma gominha/elástico no seu pulso para que
você possa puxar e soltar em momentos de estresse,
para voltar ao prumo mais depressa.
2. Visão
a) respire fundo e comece a concentrar‐se em observar
detalhadamente tudo que vê à sua volta – Tipo: o quadro
naquela parede está torto, a blusa da fulana é branca
com gola rulê, a mesa é quadrada, a samambaia está
meio murcha, etc.
3. Audição
a) pare tudo para prestar atenção em todos os sons e
ruídos à sua volta – seja ônibus buzinando, o motor da
54
geladeira vibrando, uma porta rangendo, o zumbido do
computador ligado, um telefone que toca, um pássaro
que canta.
4. Olfato
a) tenha à mão algo que tenha um cheiro mais forte para
lhe despertar – tipo um sabonetinho ou lencinho
umedecido na bolsa, ou pare para cheirar uma flor, um
cafezinho, etc.
5. Paladar
a) pegue um chiclete (mastigar é relaxante, seria bom ter
sempre um chiclete à mão), ou pare tudo para comer ou
beber algo e concentre‐se nisso.
Seja criativa – ninguém conhece você melhor que você mesma –
experimente com diferentes formas de centramento rápido e
eficiente, encontre as que melhor funcionam para você, e
compartilhe com amigos em blogs, etc.
2. Táticas para combater depressão
Mais uma vez, você pode usar os cinco sentidos:
55
2. Visão – você pode curtir a natureza, seja na vida real ou em
livros ou vídeos, observar peixinhos em um aquário, fitar as
chamas de uma vela ou lareira, olhar para a vastidão de um
oceano ou lago.
3. Audição – qual é o seu tipo de música predileta? O que lhe faz
sentir mais calma e ao mesmo tempo energizada? Pode ser
música zen com barulhinho de água no fundo, Enya com suas
músicas New Age, pode ser jazz ou rock ou MPB, música
clássica, algo que lhe transporta para um lugar virtual mais
acolhedor, reconfortante.
4. Olfato – acenda um incenso ou uma vela perfumada, asse um
bolo ou prepare uma torrada, experimente óleos essenciais
para aromaterapia, coloque um perfume gostoso.
5. Paladar – muitos sabores podem nos remeter a momentos de
alegria e tranquilidade – pode ser um cafezinho ou
cappuccino, um pedaço de broa fresquinha, um sorvete, uma
comida caseira ou um sushi com wasabi – tudo depende da
sua história, de suas preferências, lembranças e associações.
56
Essa estratégia não é tão fácil de ser implementada,
principalmente nas primeiras vezes. Pois, já que a impulsividade
diz respeito a atos impensados, e o ato de responder as
perguntas acima exige que você pare para pensar, você vai
precisar de algum tempo para reprogramar seus hábitos e suas
reações. Mas aos poucos você vai assimilando e automatizando
essa sequencia, e descobrirá que é de grande ajuda – é como se
fosse o Grilo Falante que atua como a consciência do Pinóquio.
b) Protelar
Por exemplo, se você sente o forte impulso de dirigir de forma
perigosa, primeiro procure fazer um esforço para dirigir mais
lentamente durante uns quinze minutos – e veja o que acontece.
Quem sabe a vontade passa. E se você está a fim de estourar e
gritar com alguém, ou se cortar, ou tomar doses excessivas de
remédio, procure postergar esses atos, seja contando até dez ou
escolhendo alguma outra atividade, tipo mandando uma
mensagem/torpedo para alguém.
Com o tempo, você vai conseguir melhorar sua capacidade de
tolerar frustração e retardar a gratificação – ambos aspectos
chave para uma vida mais saudável e equilibrada. E também, com
o tempo, você vai descobrir que a impulsividade não é tão
intrínseca e necessária à sua personalidade quanto você
acreditava. Além disso, devemos nos lembrar que nem sempre o
que desejamos intensamente em dado momento é o melhor para
nós a longo prazo
c) Procurar distração
Você pode usar diferentes formas de distração, executando
atividades bem diversas das que você sente tanta urgência de
fazer – atividades alternativas prazerosas, que ajudam a atenuar a
sua frustração e lhe fornecem outros tipos de gratificação.
Dependendo de suas preferências, você pode contemplar algo
como:
57
• Sair para caminhar ou correr, fazer ginástica
• Assistir um filme
• Desenhar e/ou colorir, talvez uma mandala – tem
diversos modelos na internet
• Ler um livro interessante, ou pegar uma revista para
folhear
• Ligar para um amigo
• Surfar na internet ou papear no Skype ou tuitar
• Tomar um banho longo e relaxante
• Receber uma massagem
• Fazer arrumação na sua casa, no seu quarto, em uma
gaveta
• Fazer um suco de limão ou laranja, curtindo o aroma
cítrico
• Mexer com plantas, regá‐las para sentir o cheiro
gostoso de terra molhada
• Brincar com um animal de estimação
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4. Táticas a médio e longo prazo
59
Então, resumindo:
1. Descreva um ato impulsivo/ impensado seu
2. Lembre onde você estava e o que estava fazendo antes
de agir
3. Explique como se sentia antes do ato impulsivo
4. Escreva o que você esperava conseguir com este ato
5. Conte como você se sentiu depois do ato, e se conseguiu
ou não o que pretendia.
Cada vez que você fizer esse “exercício”, você vai aprender mais
sobre si mesma, e vai entender melhor por que faz coisas
impulsivas. Você precisa ser clara e honesta consigo no seu
relatório – sua objetividade é sua grande aliada! Ninguém mais
precisa saber, se você não quiser compartilhar suas avaliações e
constatações – mas cada análise lhe trará mais perto de um auto‐
controle mais satisfatório e efetivo. Se você puder conversar
sobre suas descobertas com um terapeuta, uma troca de idéias
seria extremamente proveitosa – pois é um caminho bem difícil
de se trilhar totalmente sozinha.
b) Usar auto-afirmações
Uma outra forma, que pode ser alternativa ou complementar às
sugeridas acima, envolve a elaboração de afirmações que você
vai aprendendo a fazer automaticamente para si mesma, para lhe
ajudar em momentos de estresse, de monotonia irritante, de
ansiedade, de busca de emoções fortes, de risco de perigo –
situações que podem provocar uma impulsividade indesejável.
Alguns exemplos de auto‐afirmação seriam:
• Eu posso me dar o luxo de ceder a esse impulso mais tarde,
em outra hora, portanto não precisa ser agorinha mesmo
• Não gosto desses impulsos, e tenho que reconhecer que às
vezes eles vão embora se eu não os acato de imediato (tipo:
eu deveria poder mandar neles, e não eles em mim)
• Estou vendo que minha impulsividade está me prejudicando
de várias formas – preciso encontrar atividades alternativas
60
para dar uma guinada na minha vida, fazer outras coisas mais
divertidas e mais salutares
• Cada vez que consigo controlar meus impulsos, sinto‐me mais
poderosa e confiante
• Eu quero me orgulhar dos meus esforços e minhas conquistas
em vez de me sentir um lixo após ceder à minha impulsividade
negativa / destrutiva
• Nem todo sentimento ou impulso meu tem que ser
extravasado, concretizado
• Às vezes o que parece bom na hora só dá “titica” mais tarde.
• Só porque estou a fim de alguma coisa não quer dizer que
efetivamente preciso desta coisa, muito menos agora.
Você pode desenvolver suas próprias frases ou lembretes, de
forma mais personalizada, e colocá‐las numa agenda ou num
arquivo do computador ou IPod para que você tenha acesso
rápido e fácil a qualquer momento. Toda vez que você sentir que
conseguiu se controlar, você tem todo direito de sentir orgulho
de si mesma, e de se parabenizar!
62
VIII. NOVAS PERSPECTIVAS
63
1) Reconhecendo distorções cognitivas, como:
b) Extrapolação/ generalização
Um acontecimento – como perder o emprego, levar bolo de
namorado, ter um cheque devolvido, ter uma proposta recusada,
etc. – já pode lhe levar a acreditar que este revés deve ser válido
para tudo na sua vida: “sou um fracasso total, nunca vou conseguir
nada na minha vida, isso sempre acontece comigo”.
c) Prisma negativo
Entre as coisas que lhe acontecem, você pode ter dificuldade em
enxergar o lado positivo, e pode acabar se fixando mais no
negativo. Por exemplo, se você faz uma apresentação de
trabalho e, entre todos os elogios recebidos dos colegas, uma só
pessoinha faz um comentário crítico – é talvez sobre esse
comentário negativo que você vai se por a ruminar por dias (ou
anos?).
d) Conclusões precipitadas
Você pode tender a chegar rapidamente a uma conclusão
negativa, mesmo quando nenhum dos fatores aparentes apóia
essa conclusão. Por exemplo, se você acha que alguém lhe olha
de forma diferente, pode concluir de imediato que essa pessoa
não gosta de você ‐ quando ela pode simplesmente estar
preocupada com coisas que não tem nada a ver com você.
f) Raciocínio emocional
Como já comentamos acima, a predominância da “lógica”
emocional sobre a racional é algo instintivo para a pessoa com
alta sensibilidade emocional, porém o aspecto “retroativo” e
atemporal deste raciocínio emocional é algo que perturba e
aliena os outros e pode resultar em problemas no seu dia‐a‐dia,
promovendo atitudes mais negativas de sua parte.
g) Projeções do “deveria”
Frases que começam com as palavras “deveria” ou “tinha que”,
indicando expectativas ou falta de opção, geralmente são
contraproducentes. Se você aplica a intenção a si mesma, você
vai se sentir encurralada, sem opção. E quando você tenta aplicar
o conceito aos outros, cria expectativas que provavelmente lhe
trarão mais frustrações.
h) Rótulos
Rotular é combinar a atitude 8/80 com a atitude de generalização
excessiva – por exemplo, em vez de simplesmente aceitar que
cometeu um erro, você já se considera uma fracassada ou
incompetente. Isto está longe da realidade. Todo mundo erra, e é
assim que se aprende. Então pense em si mesma como
batalhadora, corajosa, persistente, e lembre‐se de coisas
importantes que você já conseguiu realizar.
i) Personalização e culpa
O conceito de personalização pode ser visto sob diversos ângulos
– um deles sendo o de achar que tudo tem a ver com você; mas
também tem o aspecto de que você pode estar se considerando
responsável por coisas que na realidade não estão sob seu
controle, seja total ou parcialmente. Esse tipo de personalização
gera sentimentos de culpa, vergonha, incompetência, e alimenta
a depressão e a tristeza.
65
Por outro lado, algumas pessoas podem partir para o lado
oposto, e colocar a culpa de tudo em cima dos outros, sem levar
em consideração as formas em que elas mesmas podem estar
contribuindo para o problema.
2. Modificando as distorções cognitivas
Aqui estão algumas sugestões de atitudes que podem lhe ajudar
a perceber o mundo com outros olhos, diminuindo a sua
angústia, ansiedade e depressão.
b) Examine as provas
Ao invés de simplesmente partir do pressuposto que seus
pensamentos negativos refletem a realidade, examine as
evidências que lhe levaram a esta conclusão.
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provavelmente você demonstrará mais compaixão e paciência
enxergando o caso como se fosse dos outros, em vez de seu.
i) Analise o custo-benefício
Faça uma relação de todas as vantagens e desvantagens de
adotar ou nutrir um dado sentimento – isso é aplicável também
com relação às crenças problemáticas, conforme veremos mais
adiante. Essa análise poderá lhe trazer algumas surpresas – por
exemplo, um aparente benefício de ficar atolada na tristeza e
melancolia (sim, às vezes é por opção mesmo da própria pessoa)
é que é mais fácil lamentar do que tentar ser feliz. Você pode
acreditar que, quando está infeliz, não tem o que perder, mas, se
está feliz, tem tudo a perder. E assim acaba bancando a vítima, o
que não lhe traz os resultados desejados.
3. Libertando-se de ressentimentos
É importante levar em conta que viver eternamente numa
montanha russa de emoções é altamente cansativo. Afinal de
contas, você está lutando contra o mundo – e muitas vezes
contra si mesma ‐ o tempo todo. Se você se sente continuamente
ameaçada, insegura, criticada, mal‐amada, pouco valorizada,
incompreendida, etc., e ainda tem que lutar para tentar controlar
suas explosões emocionais, seus fortíssimos impulsos, sua raiva e
revolta, e talvez até seu ímpeto de beber, se machucar, tomar
drogas, buscar consolo em sexo casual, e assim por diante, é
compreensível que você esteja exausta.
A sugestão é que, antes de mais nada, você busque um grau
maior de aceitação – aceitação do fato de que essas dificuldades
existem sim, mas que você não precisa despender tanta energia
se debatendo contra as ondas mais fortes, mais avassaladoras.
Você pode se manter mais próxima a uma margem mais segura,
enquanto se fortalece e aprende a lidar melhor com as
turbulências. Assim você pode se livrar de um pouco da culpa,
mágoa, desejo de autopunição, vergonha e tristeza que você
68
carrega. E consegue aos poucos aceitar também que existem
elementos fora do seu controle que contribuíram para que você
chegasse onde está agora.
Você provavelmente tem motivos muito válidos para guardar
alguns rancores do passado com relação aos outros (veremos
essa questão mais adiante), assim como talvez sinta muita
vergonha por coisas que você mesma tenha feito.
A próxima vez que você estiver pensando coisas ruins sobre si
mesma, tente fazer o seguinte:
1. Comece aos poucos a assumir responsabilidade por ações
que você agora reconhece tenham sido prejudiciais e/ou
indesejáveis – com relação a outros ou a si mesma. Se
possível, procure pedir perdão se você magoou alguém. E se
você mesma se prejudicou, peça desculpas a si mesma.
2. Lembre‐se de que você nem causou nem pediu essa
predisposição à alta sensibilidade emocional. Seus problemas
comportamentais são o resultado de um conjunto de fatores
inter‐relacionados, conforme já detalhado acima.
3. Aceite que você não pode mudar o passado, nem desfazer
suas ações nem dos outros. Se você ficar presa aos
ressentimentos e arrependimentos do passado, isto lhe
impedirá de avançar na sua recuperação. Não fique se
criticando, se recriminando, nem se deixe assumir o papel de
vítima, de coitada. Você tem que focar no futuro – nas suas
metas, na sua busca de recuperação e uma vida melhor.
4. Para conseguir chegar a um ponto de maior auto‐aceitação e
auto‐perdão, é útil você dizer a si mesma algo como: “Ok,
estou onde estou. Mas, daqui para a frente, vou dar
pequenos e constantes passos para construir uma vida
melhor. Não vou ficar me recriminando se eu tiver algum
69
revés. Continuarei firme no meu propósito de busca de
melhora.” Você tem muito mais poder do que imagina. Seja
paciente consigo mesma, não fique se comparando aos
outros, concentre‐se nas suas metas.
E ‐ quanto a perdoar os outros? Talvez você tenha sido alvo de
muitos abusos e injustiças, e tenha sofrido muitas decepções e
maldades nas mãos de pessoas próximas, amadas, da própria
família. Isso infelizmente acontece com muitas pessoas que, já
tendo nascido com as vulnerabilidades da alta sensibilidade
emocional, chegam a desenvolver alguns sintomas ou
comportamentos borderline.
Primeiro, é importante frisar que perdoar não significa de forma
alguma que você vá considerar os atos cometidos contra você
70
como aceitáveis ou justificáveis. E nem significa que você deva
menosprezar ou minimizar a importância do que aconteceu com
você. Mas o essencial é contemplar que a grande vantagem de
perdoar é que isso lhe permite livrar‐se do fardo da raiva, do ódio,
e/ou desejo de vingança que você carrega o tempo todo, algo
que prejudica somente a você. Como dizem, é como se você
quisesse jogar brasas quentes nos que te magoaram e feriram,
sendo que a única pessoa que se queima e sofre é você mesma.
De início, você pode considerar essa tarefa de praticar o perdão
impossível de ser realizada. Sem dúvida, o processo de perdão é
complicado, demorado, e muitas vezes implica em dois passos
para frente e um para trás. Mas aqui estão algumas dicas que lhe
poderão ser úteis neste trabalho:
1. Sempre que a imagem da pessoa que lhe ofendeu ou
magoou, ou do evento doloroso, vier à sua mente, procure
imediatamente substituí‐la por outra imagem – pode ser de
um artista de cinema, um animal de estimação, um bom
amigo, um santo ou anjo de guarda, um personagem de
desenho animado (como o Rei Leão em cima da montanha) –
a escolha é puramente pessoal, deve ser algo que lhe venha
espontaneamente. O importante é que você possa
rapidamente sobrepor essa imagem para amenizar a carga de
raiva ou ódio ou ressentimento associada àquela pessoa ou
evento, e permitir uma mudança de enfoque e a
concentração imediata em algo diferente, positivo, benéfico.
Ao fazer isso consistentemente, você verá que o sentimento
negativo associado àquela pessoa ou acontecimento vai se
diluindo, não mais gerando aquele nó de ansiedade e revolta
no seu âmago, no seu plexo solar, e não mais lhe dominando.
2. Aos poucos, você começará a se sentir mais inteira e
protegida, sem voltar ao mesmo grau de vulnerabilidade ou
impotência toda vez que relembra algo ruim do passado. Não
entregue o seu poder aos outros. Procure não alimentar a sua
71
raiva ‐ pelo contrário, imagine que você está a beira‐mar,
segurando um punhado de areia, e aos poucos você solta
essa areia, esses grãos de raiva e ressentimento, que são
levados pelas ondas, lavando a sua alma.
3. Voce poderá encarar o perdão como um desapego do
passado, e lembrar‐se de um outro aspecto que merece ser
considerado: ao alimentar ressentimentos contra alguém,
estamos julgando aquela pessoa segundo os nossos próprios
conceitos – NÓS achamos que ela fez algo errado e por isso
merece castigo ou retribuição ou algo semelhante. Mas a
rigor não temos o direito de julgar os outros segundo nossos
critérios (embora alguns critérios éticos obviamente sejam
universais) – e isto se aplica também aos “erros” que
cometeram – portanto, deixe que o tempo, ou a justiça
divina, etc. cuidem dessa parte. Livre‐se desses rancores para
que você possa deixar de ser uma vítima e começar a assumir
seu papel verdadeiro de guerreira do bem, alguém que
conseguiu e vai continuar conseguindo superar grandes
dificuldades.
4. Sugestões de outras pessoas para lidar melhor com seus
pensamentos negativos:
• Procuro viajar ao meu âmago, buscar um nível de
energia onde eu mesma sou a luz que procuro, a
felicidade que desejo, o amor que me falta, a
abundância que almejo. Ao me tornar essas coisas, eu
as atraio para mim, elas se tornam parte de mim.
73
• Sugiro sair de onde você está se sentindo deprimida,
pois quando a gente tá sozinha ou sem nada para
fazer, tudo fica mais pesado. Mudar de ambiente ajuda
demais – você pode ir ao supermercado, ao shopping,
nem que seja somente para olhar vitrine.
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IX. APRENDENDO A CONVIVER MELHOR COM OS
OUTROS
Todos nós queremos conviver de forma harmoniosa e
gratificante com nossos parentes, amigos, colegas, namorados,
maridos, todas as pessoas importantes na nossa vida.
Mas, para muitas pessoas com alta sensibilidade emocional, isso é
muito mais difícil do que parece. Portanto, é importante buscar
formas não só de entender melhor suas próprias emoções e
reações, como também entender como seus comportamentos e
suas ações afetam os outros. Aos poucos você pode aprender a
ser menos reativa e defensiva, adquirindo novas habilidades que
lhe trarão ótimos resultados.
A primeiríssima coisa a ser enfatizada é algo óbvio, porém
facilmente esquecido – as opiniões, os pensamentos, as crenças e
as emoções das outras pessoas não estão necessariamente
alinhadas com as suas. Você não deve partir do pressuposto de
que elas pensam e sentem de forma igual a você, pois cada uma
tem a sua história e sua bagagem e o seu momento.
Se você não procura se colocar no lugar delas e compreender a
motivação e situação delas, você corre um risco real de ofender,
desrespeitar, magoar ou irritar as outras pessoas. Às vezes, quem
sabe, você pode também sobrecarregar os outros com longos
relatos sobre os seus próprios problemas – problemas que
refletem as suas preocupações e prioridades, mas que podem
estar distanciados do dia a dia da outra pessoa – portanto pode
haver um choque ou descompasso entre a relevância relativa
para os dois lados.
Assim sendo, é importante começar a praticar algumas
habilidades de relacionamento interpessoal, e ficar antenada
naquilo que preocupa, interessa, irrita, magoa ou agrada os
75
outros, mesmo que não explicitem esses sentimentos e
motivações.
Ao se tornar mais sensível às necessidades emocionais dos
outros, você estará mais preparada para:
• Sentir empatia
• Entender melhor as ações dos outros
• Ajustar seu próprio comportamento às atitudes e reações
dos outros na medida adequada
• Antecipar como que os outros provavelmente reagirão ao
que você diz ou faz
• Distinguir e compreender melhor nuances de fala tais
como sarcasmo, humor, indiretas, gozação amigável, duplo
sentido, etc.
Se você tem o hábito – consciente ou não – de projetar nos
outros seus próprios sentimentos negativos, com o intuito –
geralmente inconsciente – de aliviar a sua própria angústia e
desconforto ao “passar adiante” para outros o que está lhe
incomodando, isso fará com que você realmente acabe levando
tudo para o campo pessoal, atrapalhando seus relacionamentos.
Isto lhe induz a interpretar de forma errônea uma série de atos
alheios que podem ser inteiramente bem intencionados e
inocentes e que não têm nada, mas nada mesmo, a ver com você
pessoalmente.
Se você se preocupa muito com sua própria aparência, por
exemplo, ou está irritada com alguma coisa, você pode acabar
criticando os outros neste sentido, para que você não precise
lidar com sua própria vergonha, culpa, angústia, desconforto,
insatisfação. E, como consequência, as pessoas que convivem
com você ficam surpresas com esses “ataques” que lhes parecem
vir do nada, e podem sentir‐se injuriadas e ofendidas.
76
Para que você possa reduzir essa tendência de projetar suas
emoções sobre os outros, você pode experimentar algumas
atitudes diferentes – se possível, com o suporte de um terapeuta
experiente.
O primeiro passo consiste em aprimorar a sua percepção de si
mesma – verificando aquela lista de emoções no capitulo V e
sendo honesta na sua avaliação. E, se você estiver sendo tomada
por raiva, por exemplo, repare também nas suas reações físicas
(aperto no peito, tensão nos ombros ou pescoço, contração da
mandíbula, aceleração do ritmo cardíaco, rubor no rosto, etc.)
pois são sinais de alarme de que você possa estar prestes a dizer
ou fazer algo negativo ou ofensivo – portanto, respire fundo e
procure controlar sua reação.
Ao conseguir conter sua reação, pergunte‐se:
• Será que na realidade estou chateada é comigo mesma?
• Será que fiz algo recentemente de que me envergonho, que
me incomoda?
• Será que estou apreensiva com alguma coisa?
• Será que estou preocupada que alguém vai me abandonar?
Se a resposta a alguma das perguntas acima for sim, sua raiva
provavelmente tinha mais a ver com você mesma do que com os
outros. Então, em vez de atacar ou contra‐atacar alguém
impulsivamente, pratique algumas dessas respostas
“alternativas”, que são menos danosas aos seus
relacionamentos:
• Desculpe, estou meio transtornada agora, depois a gente
conversa mais, ok?
• Entendo onde você quer chegar, mas não estou pronta para
conversar sobre isso agora, ok?
77
Ficar irritada e zangada com os outros por causa de seus próprios
sentimentos de vergonha e raiva é um hábito que você talvez
tenha desenvolvido ao longo dos anos. Não é de uma hora para
outra que você vai conseguir mudar isso – portanto não espere
resultados imediatos, mas entenda que você está aos poucos se
reprogramando para ter uma vida melhor.
Ao conversar com os outros, é
benéfico aprender a fazer um
revezamento nos seus diálogos.
Tente habituar‐se a fazer uma
pausa de vez em quando (procure
visualizar a tecla do controle
remoto de DVD: PAUSE/ II) para dar
um tempo para a outra pessoa se
expressar, concedendo a ela a
mesma atenção que você mesma
gostaria que receber. Com isto
você não somente vai melhorando e consolidando seus
relacionamentos, como também vai aprendendo mais sobre as
pessoas à sua volta e enriquecendo a sua vida.
Para ajudar, você pode fazer algumas perguntas para que a
conversa flua de forma mais natural e agradável. O importante é
que você demonstre interesse – no começo pode ser meio
forçado da sua parte, mas aos poucos vai ficando cada vez mais
espontâneo e genuíno. Pergunte sobre os pensamentos e
experiências da outra pessoa, preste atenção de verdade no que
ela diz, olhando‐a nos olhos. Não leve as respostas da outra
pessoa de forma pessoal, nem tente ficar imaginando e
procurando segundas intenções nas suas palavras. Procure
controlar o seu (antigo) impulso de se defender, e demonstre
uma curiosidade amigável, empática.
Por exemplo, você pode dizer:
78
• Que interessante! – conta mais!
• E aí, o que você fez?
• Não diga!! Que situação, heim?
• É mesmo? (no tom correto para encorajar o papo).
Procure evitar qualquer nuance de sarcasmo ou crítica, para que
você possa dar continuidade a uma boa troca de idéias. Espere a
pessoa completar suas frases, seus pensamentos, resistindo ao
ímpeto de interrompê‐la com pressa de voltar para SEU assunto.
É muito comum uma pessoa com alta sensibilidade emocional
interpretar erroneamente as expressões, palavras e atitudes dos
outros, devido a todos os motivos já anteriormente explicados.
Isto é, se você já parte de uma pressuposição negativa, uma
atitude negativa leva a outra.
Procure relembrar algumas conversas suas que tiveram um
desenrolar indesejável, para ver se você descobre em que ponto
você levou alguma coisa pessoalmente de forma indevida,
gerando com isso um desentendimento, uma briga, uma ruptura.
Por exemplo, pequenas frases totalmente inofensivas e neutras
dos outros podem desencadear uma onda de raiva e
ressentimento dentro de você – se você as levar pessoalmente.
O que você sente não é nem certo nem errado, é simplesmente o
que você está efetivamente sentindo – mas você deve procurar
se esforçar para reconhecer esses sentimentos e amenizá‐los
antes de agir ou reagir com base neles, imprimindo cada vez mais
objetividade aos seus diálogos.
Provavelmente, ao longo de sua vida você criou defesas para
conseguir lidar com o mundo que seu sistema biológico e
emocional de modo geral interpreta como sendo hostil, perigoso,
ameaçador e negativo – e isto faz com que você fique a maior
parte do tempo “com um pé pra trás” – e reaja de forma
79
instintivamente defensiva a qualquer percepção, por mais vaga
que seja, de uma crítica ou ameaça em potencial.
Sua forte reação, embora perfeitamente explicável do seu ponto
de vista, muitas vezes pega os outros de surpresa, por não
entenderem essa sua bagagem de reatividade e impulsividade, e
você acaba afastando as pessoas sem querer. Voce pode ficar tão
envolvida e dominada pelas suas emoções, que não repara direito
as reações dos outros às suas palavras e seus atos. Isso gera uma
quebra na comunicação, um desencontro infeliz que pode ter
sérias conseqüências para seus relacionamentos.
Quando você fica muito focada em seus próprios problemas ao
conversar com os outros, podem realmente começar a “desligar”
e acabar fugindo da sua presença. Se isso acontece, não tem
nada a ver com o seu valor como pessoa, não significa que você
“não presta”, que você não tem nada importante para contribuir
ao relacionamento, etc. Simplesmente significa que você também
tem que fazer a sua parte e começar a prestar mais atenção
como que seu comportamento afeta os outros, buscando
melhorar esse convívio.
Comece observando as expressões faciais das pessoas à sua volta
quando estão conversando entre si – veja se você consegue
distinguir quando estão irritadas, felizes, impacientes, perplexas,
neutras, animadas, cansadas, entediadas, e assim por diante.
Depois de praticar essa observação objetiva, como espectadora,
comece a aplicar esse discernimento aos seus próprios diálogos
com os outros.
Cabe um comentário aqui – todos conhecemos algumas pessoas
que têm o hábito de conversar interminavelmente, bastando um
simples ”hmmm” ou “é mesmo” para “dar corda” a um
monólogo por horas seguidas... Mas isto somente serve para
lembrar como isso pode ser cansativo, e lhe dar mais incentivo
para evitar o mesmo erro.
80
Então a questão é trabalhar sua reação automática de defesa
contra críticas e ataques verbais percebidos para evitar que você
solte palavras hostis, ofensivas, sarcásticas, etc. no “calor do
momento”. Provavelmente sua reação se baseia na famosa
fórmula de que a melhor defesa é o ataque. E quando você está
com raiva – quando qualquer pessoa está com raiva – não
consegue raciocinar direito, não consegue ser ponderada e
objetiva.
Vamos repetir algo essencial: não leve tudo pessoalmente. Se
alguém atrasa, se alguém entra na sua frente na fila, se alguém
adia um compromisso, etc., isso não é intencionalmente dirigido
contra você. Para lhe ajudar a ver as coisas de forma mais
impessoal, tente o seguinte:
1. Pare e respire fundo e conte até cinco.
2. Depois pergunte a si mesma se o que aconteceu ou foi dito
era realmente dirigido contra você ou não tinha nada a ver
com você
3. Avalie se ficar com raiva e extravasar essa raiva (geralmente
em cima de pessoas “inocentes”) vai lhe trazer algum
beneficio
4. Pense se sua raiva vai magoar a outra pessoa – ou causar
mágoa e remorsos em você mesma
5. Diga a si mesma – “é, às vezes coisas ruins acontecem,
comigo e com todo mundo, a vida é assim mesmo, bola pra
frente”.
E procure usar a tática do Grilo Falante para isso também – isto é,
imagine um amigo do seu lado lhe dizendo:
1. Vai com calma, senão você vai acabar falando o que não quer
2. Vai ver que a outra pessoa falou isso sem maldade nenhuma
3. Diga alguma coisa gentil, positiva, em vez de explodir, mude
radicalmente de enfoque
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4. Você gostaria que alguém falasse para você aquilo que você
está querendo botar para fora neste momento de raiva?
Não que você consiga se controlar e reprogramar de uma hora
para outra. Mas esse tipo de diálogo interno,
depois de automatizado, ajuda muito a criar
aquela pausa (relembrando a tecla PAUSE II) tão
essencial entre o surgimento de sua emoção ‐ e
suas palavras e atitudes subsequentes. Assim, você vai ganhando
mais confiança, e melhorando sua auto‐estima e a qualidade de
seus relacionamentos.
Outra tática, um pouco mais “avançada”, é aprender a ouvir de
verdade o que a pessoa está dizendo a você, e conseguir ter a
objetividade de extrair da fala uma pequena parte com a qual
você consegue lidar, e responder somente à mesma. Assim, em
vez de alimentar e aumentar o tom da discórdia, você desarma a
“bomba” proativamente, mudando de enfoque. Isto não quer
dizer que você deva concordar com tudo sem estar
verdadeiramente de acordo, mas sim procurar algo na fala da
outra pessoa com que você honestamente pode concordar, e
trabalhar em cima disso. Responder sem revidar, mas colocando
a sua opinião e posição.
Por exemplo, se seu parceiro diz algo como – você está sempre
largando louça suja na pia! – respire fundo, e procure responder algo
como – entendo que você não goste disso, não é legal, mas às vezes tenho outras
prioridades. Vamos ver se a gente chega num acordo sobre isso?
Parece difícil – você pode até já estar sentindo o sangue ferver ao
pensar numa situação dessas!! Mas você vai conseguir, sim, aos
poucos, ir aceitando o fato de que ninguém é perfeito, nem você
nem o outro, e que o convívio exige flexibilidade de ambos os
lados, e, se você ceder um pouquinho (de modo razoável) não
será o fim do mundo. Você não vai perder a sua identidade ou
82
autoridade. Vai aprender a dialogar, e se expressar de forma mais
diplomática.
E quando você realmente quer reclamar de algo que você acha
injusto, ou quer mudar o rumo de um relacionamento, ou quer
colocar seu ponto de vista, procure fazer isso de uma forma
menos agressiva, mais ponderada, dando abertura para um
verdadeiro diálogo, praticando abordagens como:
• Eu posso estar enganada, mas parece que você está
chateado comigo?
• Eu posso estar sendo hiper sensível, mas não consigo
lhe responder direito quando você grita comigo ou usa
esse tom de voz.
• Estou muito cansada – seria muito legal se você
pudesse me ajudar com essa tarefa.
Esses preâmbulos predispõem os outros a lhe dar mais atenção,
mais compreensão, e você ganha duplamente, porque também
sente o alívio de conseguir expressar suas próprias necessidades
de uma forma mais produtiva e calma.
Quanto a relacionamentos amorosos, a recomendação geral seria
de você primeiro praticar a consolidação de suas habilidades
interpessoais com pessoas que não são tão próximas a você,
onde não tem tanta carga emocional, antes de tentar estabelecer
relacionamentos mais íntimos e intensos, pois estes exigem
muito mais de você. Ao desenvolver mais autoconfiança, verá
que a tendência é atrair pessoas que lhe façam bem, ao contrário
de antes.
A primeira coisa a fazer é aprender a ouvir – ouvir com toda a
atenção, com o coração aberto, com calma e paciência e boa
vontade. Se você acha que já tem esse dom, ótimo – mas
verifique se os outros concordam com você, e não fique com
raiva se a opinião deles for contrária!!!
83
Segundo – procure elogiar os outros, praticando isso
frequentemente. Você mesma vai curtir isso e vai se sentir mais
segura. Não use generalidades como – você é a melhor pessoa do
mundo, porque coisas desse tipo geralmente não convencem, não
tem o efeito desejado. Procure elogiar aspectos específicos,
como: nossa, gostei do jeito que você conduziu aquela reunião difícil; ou – essa
comida que você preparou está deliciosa, que temperos que você usou? (mas não
dê ouvidos ao diabinho dentro de você que sussurra no seu
ouvido lhe incitando a acrescentar algo negativo logo depois do
elogio – tipo: gostei do jeito que você conduziu aquela reunião difícil, ainda
mais depois do desastre que foi a última, ou essa comida que você preparou está
deliciosa, pena que você não cozinha assim o tempo todo).
As pessoas à sua volta vão criar mais confiança com relação à
previsibilidade de suas atitudes, e esquecerão os diálogos
ríspidos e críticos do passado, curtindo mais a pessoa que você
realmente é, respondendo bem às suas palavras positivas e cada
vez mais sinceras.
84
X. CONSOLIDANDO SUA
IDENTIDADE
Suas reações baseiam‐se em parte
nas suas crenças. E é importante
distinguir que você é uma coisa, e
suas crenças são outra.
1. Crenças problemáticas
As pessoas desenvolvem seus
sistemas de crenças na infância, à medida que procuram
entender e lidar com o mundo ao seu redor. Assim, muitas
crenças giram em torno da forma em que foram criadas e como
foram tratadas pelos seus pais, professores, amigos e parentes.
Certos eventos marcam profundamente a criança, mas podem
passar despercebidos ‐ ou ignorados intencionalmente ‐ pelos
adultos ao seu redor. Muitas pessoas com alta sensibilidade
emocional e/ou borderline tiveram infâncias caóticas,
imprevisíveis, sujeitas a influências e informações conflitantes.
Portanto, é compreensível que suas crenças possam variar com
base nas suas experiências, desencadeando emoções
avassaladoras. Mas agora que você está na idade adulta, é
importante tentar desenvolver uma visão mais objetiva das suas
crenças e tornar‐se mais consciente de seu poder para mudá‐las.
2. Identificando suas crenças
Para que você possa chegar a uma definição mais clara de suas
crenças problemáticas (um assunto extremamente vasto,
abordado aqui de forma muito sucinta e superficial), que podem
incluir coisas do gênero: minha mãe não me ama, sempre fui desajeitada,
nasci na família errada, meu pai não queria que eu tivesse nascido, etc. etc.),
experimente o seguinte:
85
1. Descreva uma crença que lhe incomoda e atrapalha sua vida e
seus comportamentos
2. Anote uma ou mais lembranças de eventos de sua infância
que podem ter contribuído para o desenvolvimento desta
crença
3. Anote alguns eventos ou acontecimentos na sua vida hoje em
dia que tendem a reforçar essa crença, e observe se isso lhe
transporta de volta à sua infância ou não
4. Fique se lembrando que hoje você é adulta, e que os eventos
que desencadeiam suas emoções hoje geralmente não são
tão significativos quanto os acontecimentos que geraram
essas crenças na sua infância. Lembre‐se também que sua
mente verá cada vez mais claramente a distinção entre os
eventos passados e os presentes.
Essa percepção melhor da distância e diferença entre o passado e
o presente somente virá com o tempo, mas é essencial para que
você possa desenvolver mais segurança e autoconfiança. Um
aspecto que talvez seja um obstáculo no seu progresso é que
uma parte de nós enxerga essas crenças como sendo benéficas, e
assim não quer se livrar das mesmas.
Então, buscando maior objetividade, você pode fazer uma análise
de custo/benefício de suas crenças (assim como em relação aos
sentimentos, conforme vimos acima). Talvez, ao fazer esse
exercício, você descubra mais rapidamente se suas crenças são
tão vantajosas quanto você pensa ou se estão lhe sendo mais
prejudiciais do que você percebia.
1. Escolha uma crença que é muito forte em sua vida – como,
por exemplo, que o mundo que lhe cerca é extremamente
perigoso.
86
2. Descreva com calma todas as formas possíveis em que esta
crença lhe parece benéfica e lhe proteger do mal.
3. Anote todas as formas em que você percebe que essa crença
possa estar lhe sendo prejudicial. Por exemplo, se você
realmente acredita que sua crença sobre um mundo perigoso
à sua volta gera uma cautela que lhe protege de perigos, você
pode questionar se isso efetivamente funciona. Em outras
palavras, temos que reconhecer que não há como evitar
todos os perigos possíveis da vida, sejam raios, acidentes, ou
outros imprevistos. Então, sua crença na importância de se
evitar todo e qualquer risco está na realidade lhe impedindo
de viver uma vida plena.
4. Volte e analise tudo que você escreveu.
Veja como isso pode ser aplicado a relacionamentos.
Se você acredita que todas as pessoas importantes na sua vida
vão lhe abandonar mais cedo ou mais tarde, você pode achar que
essa atitude precavida lhe traz os seguintes benefícios:
• Posso ficar alerta para o primeiríssimo sinal de que uma
pessoa está perdendo o interesse em mim. Assim não vai me
pegar de surpresa.
• Não vou sofrer tanto seu eu estiver preparada para o
inevitável.
• Essa crença permite que eu me agarre às pessoas, e elas vão
achar que sou super dedicada.
Mas, ao analisar esses pontos (e/ou discuti‐los com seu
terapeuta), você poderá descobrir que os custos são bem
maiores do que os benefícios. Veja:
• Esta crença me torna pegajosa e as pessoas não gostam disso.
Pego tanto no pé das pessoas que elas me evitam.
87
• A verdade é que ficar esperando que alguém me largue dói o
mesmo tanto que não ficar nessa expectativa.
• Muitas pessoas já me disseram que a minha presença é
sufocante.
• Esta crença me torna excessivamente dependente dos outros.
• Acho que essa crença aumenta minha probabilidade de ser
abandonada pelos outros.
3. Reprogramando suas crenças
Após analisar suas crenças, você pode adotar a prática de fazer
planos para torná‐las mais positivas e produtivas:
Auto-valia: quando eu quiser algo, vou avaliar se é bom para mim
a longo prazo e não vai prejudicar os outros à minha volta.
Sempre que possível, dentro destes critérios, vou começar a
expressar os meus desejos, de uma forma diplomática porém
firme.
Auto-aceitação: vou ficar me lembrando que sou humana, que
erro como todo mundo erra, e vou adquirir o hábito de pedir
desculpas quando eu errar.
Relacionamentos: vou começar a participar de alguns grupos,
matricular‐me em um curso interessante, convidar uma colega
para lanchar comigo.
Percepção dos outros: vou fazer uma lista do que considero as
virtudes e os defeitos de certos amigos, para começar. Vou ver
que todo mundo tem um pouco de cada. Vou pedir uma amiga
confiável para me dar o ponto de vista dela, para poder comparar
com o meu.
Insegurança: vou começar a assumir alguns pequenos riscos na
minha vida, sempre mantendo a devida precaução. Vou começar
88
a sair mais, fazer caminhadas, vou sozinha mas vou evitar lugares
que são obviamente perigosos.
Previsibilidade/controle: vou me aventurar a fazer algumas
coisas que eu achava que não dava conta. Vou preparar um plano
alternativo (ou dois) caso as coisas não dêem certo. Vou começar
a prestar atenção nas coisas que funcionam e nas que não
funcionam, porque muitas vezes me esqueço de tudo que já deu
certo até agora.
Para lhe ajudar a entender melhor suas crenças pessoais e
consolidar o seu senso de individualidade e identidade e auto‐
valia, é muito útil você ter um pequeno roteiro para identificar os
seus principais valores, o que por sua vez lhe ajuda a definir suas
metas de vida.
4. Identificando valores
Existem algumas estratégias que
podem ser usadas para identificar
seus valores e definir suas metas. É
muito útil e produtivo para todos nós
parar de vez em quando e pensar no
que realmente queremos da vida e o
que podemos fazer para conseguir isso. Ao focar em metas de
médio e longo prazo, você adquire mais segurança e
determinação, e isto ao mesmo tempo lhe ajuda a lidar com as
dificuldades do dia a dia, que se tornam proporcionalmente
menores graças à nova perspectiva.
Então, como sugestão de roteiro, veja os valores relacionados
abaixo. Analise as categorias que têm mais a ver com você, pense
bem nas suas respostas, e anote‐as. Marque os cinco valores que
você considera mais importantes, depois faça nova triagem e
reduza a lista para os três itens prioritários.
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Ajudar os outros – esse valor faz parte da sua vida? Você gostaria
de passar mais tempo ajudando os outros de alguma forma? E
como você pode ser mais compassiva consigo mesma?
Espiritualidade – quais são as suas crenças espirituais? O que
você entende por espiritualidade? Como suas crenças ajudam ou
impactam a sua vida? Você está conduzindo sua vida em
consonância com seus valores espirituais? Que mudanças que
você gostaria de fazer nesse sentido?
Posses – qual a importância de bens materiais para você? Que
tipo de coisas você acha importante ter? Você tem o que precisa?
Você tem o que quer? O que você sente que lhe falta?
Meio ambiente/natureza – você se preocupa com a preservação
do meio ambiente, você faz reciclagem e coleta seletiva, você
acha isso importante? Você gosta de curtir a natureza, de mexer
com plantas e animais?
Trabalho – como você define “trabalho”? O seu emprego ou
serviço trazem realização pessoal e profissional? O que você acha
que poderia fazer de diferente para aproveitar melhor seus
talentos e conhecimentos? Você ganha o suficiente para se
sustentar? Você depende financeiramente de outra pessoa? No
seu trabalho você tem oportunidades para ajudar os outros e/ou
compartilhar sua experiência? Tem reconhecimento?
Comunidade – O que você considera a sua comunidade – seus
colegas de trabalho, seus vizinhos, seu bairro, seus grupos de
estudo? Como você se relaciona com sua comunidade? Você quer
tomar parte mais ativa em organizações ou entidades que visam
alguma meta que você considera importante?
Relacionamentos pessoais – você está em algum
relacionamento amoroso no momento? Você já perdeu
relacionamentos importantes por causa de comportamentos tipo
90
borderline? Como você demonstra o carinho e a preocupação que
você tem pelas pessoas que você ama? As pessoas que você ama
lhe ajudam ou lhe magoam?
Família – quem é que faz parte de sua família, na sua concepção?
Você ainda guarda rancores contra membros de sua família com
relação à sua infância e juventude? O que você acha que é
importante para uma família, a curto e longo prazo?
Amizades – você tem amigos? Você se sente amparada ou
explorada pelas pessoas que você considerava ou ainda
considera como amigas? O que você acha mais importante numa
amizade, e o que você gostaria de ter? Que mudanças você
poderia fazer para conseguir isso?
Criatividade – o que a criatividade representa para você? Você
encontra maneiras de expressar a sua criatividade? Você está
satisfeita e realizada com essas formas? Você acha que tem muito
mais para criar e compartilhar com o mundo?
Metas intelectuais – qual o valor que você dá ao aprendizado
contínuo ao longo da vida? Você acha importante estar sempre
lendo, estudando, analisando, pesquisando, comparando idéias,
fazendo cursos, etc.? Você aproveita oportunidades que surgem
para você crescer intelectualmente? Você gostaria de fazer algo
novo ou diferente neste sentido?
Lazer e diversão – o que você faz para se divertir? Você gostaria
de passar mais tempo curtindo a vida? Qual a sua idéia de “curtir
a vida”? Você tem hobbies que são importantes para você, que
lhe preenchem? Você dá valor ao lazer em vista dos benefícios
que pode trazer para seu bom humor e sua vida?
Dinheiro – você está bem financeiramente? Você tende a gastar
mais do que ganha? Você está fazendo uma poupança para o
futuro? Você precisa de algumas coisas para as quais você não
91
tem dinheiro? Tem alguma coisa que você poderia fazer agora ou
no futuro próximo para melhorar sua situação financeira?
Saúde – como está sua saúde? Seu estado de saúde é importante
para você? Você contribui ativamente para manter boa saúde,
comendo bem, fazendo exercícios ou caminhadas, procurando
dormir bem? Tem algumas coisas que fazem mal à sua saúde que
você poderia eliminar ou mudar?
Aparência – você está satisfeita com sua aparência? Sua
aparência é importante para você? A aparência dos seus amigos é
importante para você? O que você gostaria de mudar na sua
aparência?
Você – o que você gosta em você mesma? Você está disposta a se
aceitar? Você valoriza a honestidade? O que você não gosta em
você? Você se culpa por todos seus problemas e dilemas? A
aprovação dos outros é essencial para sua felicidade? Você acha
importante estar sempre certa?
Não fique se martirizando se você chega à conclusão que não
está vivendo sua vida exatamente da forma que você gostaria.
Essa perfeição não existe. O importante é você começar a
analisar e avaliar essa questão, e depois destacar as três primeiras
áreas em que você quer se concentrar.
Isto lhe permitirá definir se você está indo no rumo desejado e,
por outro lado, se não está investindo tempo demais em
atividades que lhe desviam deste rumo. E não se esqueça – nem
tudo que a gente quer na hora é bom para nós a longo prazo...
Pense em ocasiões na sua vida que confirmam esse conceito.
5. Definindo metas
Aqui estão algumas dicas para levar em conta quando você se
sentar para definir as suas metas.
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1. Estabeleça metas factíveis – por exemplo, apesar de querer
acabar com a fome no mundo, você pode reduzir este escopo
utópico, resolvendo trabalhar como voluntária em um projeto
que oferece refeições para pessoas carentes.
2. Procure incluir idéias e atitudes que você pode incorporar no
seu dia a dia. Por exemplo, se você se propõe a ser mais
prestativa, você pode planejar dedicar um pouco de seu
tempo cada dia à prática de pequenos atos de gentileza,
telefonando para um amigo para bater um papo e dar uma
força, ajudando outros de alguma forma.
3. Estipule coisas que você efetivamente quer fazer, e não coisas
que você quer deixar de fazer. Por exemplo, não coloque
como meta: nunca mais ter acessos de raiva. Ao invés disso,
coloque uma meta positiva: praticar regularmente os meus
exercícios de regulação emocional. (Isto está de certa forma
relacionado com a programação neuro‐linguística, que sugere
que nossas mentes gravam a mensagem recebida sem levar
em conta a palavra de negação – como prova, basta você
dizer para alguém: Não olhe para trás, que automaticamente a
pessoa vai se virar para olhar para trás.)
4. Lembre‐se que você pode revisar suas metas a qualquer
momento, incluindo ou eliminando itens ao longo do tempo.
As circunstâncias mudam, nossas prioridades também. Somos
obras em constante evolução.
5. Enfoque as mudanças que você quer fazer na sua vida. Pense
nas coisas às quais você gostaria de se dedicar mais.
Talvez você elabore vários rascunhos – não importa. Se você
quiser pedir opinião de seu terapeuta ou um amigo, fique à
vontade. Para colocar suas metas no papel, você pode seguir os
seguintes passos:
93
Coloque como títulos os três valores que você estabeleceu como
prioritários. Abaixo de cada um, escreva uma meta
correspondente – veja alguns exemplos abaixo:
Criatividade: pretendo aprender a pintar, fazer curso de
ikebana, experimentar receitas novas, etc.
Trabalho: vou tentar arrumar um emprego, pois quero ser
produtiva e ficar independente.
Família: vou me esforçar para ser mais tolerante e paciente
com a minha mãe.
Saúde: vou fazer todos os exames que o médico pediu até o
final do mês.
Lazer: vou procurar fazer mais programas divertidos,
planejar excursões, fazer dança de salão.
Ajudar os outros: vou visitar um asilo de velhinhos uma vez
por mês.
Aparência: estou me sentindo um lixo, vou no salão dar uma
melhorada no meu cabelo e vou me cuidar mais.
Na primeira passada, por exemplo, você pode considerar mais
importante dedicar‐se a melhorar sua aparência, trabalhar as
amizades, e receber aprovação no trabalho. Depois de algum
tempo, você pode descobrir que estas opções não deram os
resultados esperados. Mudando seu ponto de vista e aceitando
algumas limitações e enxergando outras oportunidades e
prioridades, você pode então redefinir suas metas.
Você talvez defina outros objetivos, como: pretendo melhorar
meu equilíbrio emocional ao continuar fazendo terapia, vou
procurar e manter um emprego menos estressante para
conseguir independência financeira, e vou ajudar outras pessoas
com problemas emocionais ao trabalhar como voluntária. Você
assim sentirá que seus valores estão consolidados e alinhados, e
ficará satisfeita em ter mais controle sobre sua vida.
94
A opção de trabalhar ajudando os outros ou de voltar a estudar
acaba sendo, em muitos casos, mais importante e eficaz para
ajudar você a encontrar seu rumo e seu prumo, do que começar
logo a tentar melhorar a qualidade e estabilidade de seus
relacionamentos amorosos. Pois em um ambiente de trabalho e
coleguismo você pode praticar novas abordagens aprendidas na
teoria e/ou na terapia. Ao se ocupar com o trabalho, seja
voluntário ou remunerado, você também tem menos tempo para
ficar ruminando sobre coisas negativas, e vai adquirindo mais
auto‐confiança e independência.
Entretanto, procure evitar um ambiente de trabalho estressante,
com condições que podem piorar em vez de melhorar sua
situação. Geralmente é melhor pegar um serviço de meio‐
expediente primeiro, ou fazer um curso avulso, ou assumir um
projeto mais curto, caso você esteja afastada da rotina de
trabalho ou estudo há mais tempo.
Aos poucos, com paciência e persistência, você conseguirá
realizar suas metas e sentirá uma nova satisfação. Para lhe dar
suporte nessa busca, o ideal é que você utilize táticas e
ferramentas para se colocar num estado de espírito mais
receptivo e tranqüilo, conforme sugerido a seguir.
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XI. LIDANDO COM O ESTRESSE DA ALTA
SENSIBILIDADE EMOCIONAL
Como vimos, a pessoa muito sensível emocionalmente sente,
mais intensamente que outras, que está cercada por perigos,
ciladas, ataques pessoais, críticas, e assim por diante. Por
conseguinte, as respostas naturais do seu organismo a um ataque
percebido fazem com que seu corpo libere hormônios de
estresse, seu batimento cardíaco acelere, sua respiração fique
mais ofegante, suas pupilas dilatem, sua digestão fique mais
lenta, e assim por diante. E quando estas respostas a estresse
ocorrem com muita freqüência, acabam prejudicando seu
organismo de várias maneiras, podendo gerar:
• fadiga
• problemas gastrointestinais
• doenças cardíacas
• pressão alta
• baixa do sistema imunológico
• dores musculares (costas, pescoço, ombros),
enxaquecas
• problemas sexuais
• aumento ou perda de peso.
À medida que os danos ao seu organismo se acentuam, sua
capacidade de lidar com estresse fica cada vez mais reduzida, e
isto cria um círculo vicioso. Portanto, é altamente recomendável
que você comece a adotar medidas para atenuar esse estresse
praticamente crônico, aprendendo a relaxar.
1. Aprendendo a relaxar
O relaxamento não somente beneficia seu sistema como um todo
– mas também lhe prepara /condiciona melhor para refletir antes
de agir, permitindo um controle mais efetivo de suas emoções e
impulsividade.
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Existem inúmeras formas de relaxamento ‐ você pode começar
por experimentar as abordagens resumidamente descritas a
seguir, e procurar uma orientação mais completa com relação às
práticas que você sente que dão mais certo para você.
a) Relaxamento muscular progressivo
Antes de começar, vista uma roupa folgada e confortável,
procure um ambiente tranqüilo e agradável.
Basicamente, o relaxamento consiste em inspirar lentamente
pelo nariz, segurar um pouco a respiração, e depois expirar pela
boca, durante todo o período. A idéia é tencionar e depois relaxar
cada parte do corpo, começando pelos dedões do pé, os próprios
pés, as panturrilhas/batatas, as coxas, as nádegas/glúteos, o
abdome, as mãos, os braços, os ombros, o pescoço, o rosto. O
efeito cumulativo é extremamente agradável.
Todos nós estamos sujeitos a sentir tensão várias vezes ao dia
(principalmente no final do dia). Seja por motivo de reuniões no
serviço, crianças brigando, engarrafamento no trânsito, demora
na fila do banco, deveres não cumpridos, cobranças e acusações
e críticas – a vida é cheia de tais aborrecimentos. A técnica acima
pode ser adaptada e abreviada, mas o importante é que seja
interiorizada e automatizada de forma que você possa recorrer à
mesma e se sentir relaxando só em seguir os passos
mentalmente, sem ter que efetivamente praticar a sequencia
física.
97
b) Meditação
A meditação ajuda a estabilizar as emoções, criando um abrigo no
meio das tempestades emocionais. Também exige prática – mas,
tudo que você for empreender para melhorar a sua vida exige um
certo grau de trabalho, de esforço, de aplicação, de persistência e
muita força de vontade, certo?
Uma das formas mais indicadas de meditação para pessoas com
alta sensibilidade emocional é aquela chamada de mindfulness,
definida como um estado de (i) atenção plena, (ii) voltada para
o momento presente, (iii) de forma intencional, (iv) sem
julgamento, e é utilizada no programa de redução do estresse
criado originalmente pelo pesquisador Jon Kabat‐Zinn, professor
da Universidade de Massachusetts, EUA.
A idéia de mindfulness, central ao pensamento budista, refere‐se a
uma conscientização cuidadosa dos próprios pensamentos e
emoções, na qual qualidades como aceitação e desapego
favorecem a capacidade de refletir e influenciar positivamente as
próprias experiências cognitivas, promovendo também a
regulação afetiva.
Existem muitas outras formas de meditação – assim como no
caso de técnicas de relaxamento, o ideal é você mesma pesquisar
as opções existentes e aplicá‐las com a música, o ambiente, e a
postura ideais para cada modalidade. Você pode encontrar
muitos benefícios na prática de ioga, por exemplo, que combina
exercícios de alongamento e respiração, concentração no
momento, e um profundo relaxamento.
E, para quem gosta de animais, adquirir ou manter um animal de
estimação é um fonte preciosa de carinho e relaxamento,
incluindo também os benefícios de exigir uma certa rotina no seu
cuidado, e a responsabilidade por um ser que depende de você.
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2. Cuidando melhor de si
a) Alimentação
Tenha carinho e consideração com você mesma – procure se
alimentar melhor, de forma mais equilibrada e saudável. Isto não
significa seguir dietas rigorosas (e estressantes!), nem estipular
metas utópicas. No fundo, você já sabe que deve evitar comidas
processadas, enlatadas, chips e salgadinhos, refrigerantes,
cigarros, bebidas alcoólicas, frituras em excesso, doces em
demasia, e assim por diante. Se você comer demais em
momentos de maior estresse, vai acabar se arrependendo e se
sentindo culpada, e se ingerir alimento insuficiente, seu corpo vai
reclamar. Procure comer verduras, feijão, pão integral, arroz e
massas, peixes e saladas, coma devagar, curtindo os diferentes
sabores e texturas. Invente
pratos diferentes – não se prenda a
combinações convencionais.
b) Movimentação
Também é importante que você
não fique parada – mexa‐se. Não
precisa considerar essa
recomendação como obrigação,
“chatura”, sofrimento – se você
começar a se movimentar um pouco, vai sentir um benefício
tremendo, que vai lhe incentivar a continuar. Pode ser aos
pouquinhos, se quiser – comece andando mais pela casa, depois
no seu quarteirão, no parque, na esteira da academia. Pode ser
que você goste de nadar, de fazer Pilates, de passear com o
cachorro, ou talvez de exercícios mais vigorosos – você pode
escolher, dentro das opções que você tem ao seu alcance, mas
não se esqueça de dedicar um tempinho para algo que vai lhe
fazer sentir bem consigo mesma.
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c) Sono reparador
Procure também analisar
se você está dormindo o
suficiente, com sono
profundo, reparador.
Isto permite que suas
células se reponham e
que sua concentração e
memória melhorem.
Uma noite ou outra mal dormidas não são prejudiciais – mas se
você normalmente tem problemas para adormecer e continuar
dormindo algumas horas direto, isto pode aumentar o seu nível
de estresse e reatividade (inclusive irritabilidade e falta de
paciência).
Naturalmente o ideal é não precisar tomar remédio para dormir,
seja “natural” (as passifloras/maracujinas ou valerianas da vida)
ou com receita médica, mas às vezes uma ajuda é necessária. De
qualquer forma, você pode tentar algumas das táticas abaixo ao
se preparar para dormir, experimentando o que funciona melhor
para você:
• Ficar debaixo de um chuveiro com água quentinha caindo nas
sua nuca e costas
• Ouvir música relaxante
• Ler um livro que lhe entretenha (ou dê sono!)
• Assistir programas de TV “light”
• Fazer um lanchezinho, tomar um chocolate quente ou chá
calmante
• Evitar cafeína (que é encontrada também na maioria dos chás,
inclusive o verde), álcool, cigarros, brigas e discussões
• Deitar em uma cama confortável, com lençóis e travesseiros
de textura agradável, com cobertor gostoso, adequado para a
temperatura externa, em um quarto acolhedor e silencioso.
100
3. Organizando seu tempo
Procure analisar de forma objetiva como seus dias transcorrem
de modo geral. Por exemplo: seu serviço rende quando você está
trabalhando, ou você passa tempo demais no telefone, na
internet ou no celular? E depois fica estressada e correndo atrás
do tempo “perdido”, não tendo cumprido seus prazos, suas
metas? A primeira sugestão para administrar melhor o estresse
“básico” de seu dia‐a‐dia é procurar simplificar e organizar sua
agenda – e sua vida.
Uma fonte de irritação pode ser falta de organização e bagunça à
sua volta. Para resolver isso, estipule a meta de adotar pequenas
rotinas para ir colocando as coisas no seu lugar. Por exemplo –
dedique cinco minutos por dia para jogar fora coisas que não
servem ou não funcionam mais, cinco minutos para arrumar seu
guarda‐roupa ou uma gaveta ou uma estante, cinco minutos para
separar roupa ou objetos para doar para outros, e assim por
diante.
Procure executar essas tarefas – que lhe darão uma sensação de
satisfação e realização – em momentos que você está mais calma,
e não exagere no escopo das suas metas – precisam ser realistas,
e não uma fonte de frustração adicional.
101
Pense no tempo que você desperdiça em atividades que não
estão alinhadas com suas metas e desejos. E sim, é importante
você definir algumas metas ‐ assim você sentirá que tem mais
controle sobre sua vida e a construção do seu futuro. Pois hoje é
o primeiro dia do resto de sua vida – nunca se esqueça disso.
102
XII. DEPOIMENTOS DE ALGUMAS PESSOAS
DIAGNOSTICADAS COM TRANSTORNO DE
PERSONALIDADE BORDERLINE
W.W.M
103
O meu lado sociável oscila tanto quanto o meu humor. Cada dia
varia de um jeito diferente. Mas está bem mais estável do que
anteriormente. Ainda sou bastante impaciente e tenho
dificuldades em terminar uma tarefa. E sinto raiva quando sou
contrariada, embora hoje consiga controlar esse sentimento.
Nunca me cortei (auto‐mutilação) mas tinha o costume de dirigir
em alta velocidade e colocar minha vida em risco.
Felizmente todos esses sintomas se atenuaram com o passar dos
anos e com o tratamento adequado. Porque com o tratamento, o
border aprende a transformar seus sentimentos e a reagir de
forma diferente.
Há muitas pessoas que merecem minha gratidão por
participarem ativamente no meu progresso e melhora. Das quais
eu não poderia deixar de mencionar o meu psiquiatra Dr. João
Rodini Neto ‐ o qual só tem acertado no meu tratamento, minha
grande amiga escritora Helena Polak que além de me oferecer
apoio com seus livros, tem sido um amparo constante na minha
vida e meu amigo psicanalista Henrique Trejgier que tem me
oferecido dicas infalíveis para lidar com o TPB. Além desses, há
todos os borders que participam ativamente no fórum do meu
blog, me oferecendo muito carinho, e outros amigos (virtuais
e 'reais') e parentes que estão presentes na minha vida até hoje ‐
apesar das minhas inconstâncias.
Depois de todos esses anos de sofrimento com diagnósticos
errados, rumos incertos e um futuro que parecia escuro demais,
posso afirmar que a luz no fim do túnel não é uma ilusão, ela
existe! Hoje eu compreendo que um border pode ser
consideravelmente feliz!
_____________________________________________
104
H.C.F.
106
A.E.B.
Descobri uma coisa interessante que pode me ajudar a conviver
melhor comigo e achei interessante compartilhar esse insight.
Sempre tive a sensação de me sentir muito culpada pelo fato de
não gostar muito da época da minha infância. Minha mãe era
manipuladora e, como eu queria agradar meus país, eu acabava
fazendo tudo que eles gostavam e acabei me perdendo, não
sabendo quem realmente eu era.
Hoje procurei entender que eles me criaram da maneira que eles
acharam certo e que, se eu acredito mesmo no espiritismo, eu
precisava desses pais, ou melhor, a gente se encontrava na
mesma sintonia, por isso que viemos nessa encarnação juntos.
Estou me perdoando e aceitando que eu não podia ter feito
muita coisa, já que eu era criança, e que aceito minha infância e
entendo que fui “boazinha” porque só queria ser mais amada e
aceita pelo meus pais. Acho que dessa forma me sentirei menos
culpada e ficarei mais livre para viver minha vida adulta.
Bom, sempre tive uma angústia muito grande e sinto um vazio
que não sei como nem onde ser preenchido. Aí busco ``coisas
para me sentir bem.´´ Resolvi ir ao psiquiatra, pois queria algum
medicamento que me desse uma sensação mais feliz e de bem
estar (embora eu saiba que o uso de remédio é paliativo, porque
quando paro de tomar voltam os sintomas...), mas está me dando
um suporte para eu pensar e tentar melhorar algo em minha vida
para depois não ter necessidade de remédios.
Desde pequena era isolada do mundo, e não gostava de contato
porque me achava desinteressante (pra falar a verdade me acho
um pouco mesmo, embora tenha conquistado várias coisas em
minha vida). O que quero dizer é que essa agressividade toda que
eu tinha e as oscilações de humor eram porque eu queria provar
para os outros que eu posso fazer as coisas também, e quando
me sinto rejeitada fico muito nervosa e vingativa.
Uma questão essencial é trabalhar com a auto‐estima da pessoa,
identificando o por que de certas atitudes e ver o quanto o tipo
de pensamento da gente leva‐nos à auto‐sabotagem no dia‐a‐dia,
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virando um círculo vicioso. O que me incomodava e me incomoda
é o fato de me isolar das pessoas, porque acho que elas me
ignoram ou me rejeitam, de alguma forma eu identifico algo que
me faça crer fielmente que estou sendo rejeitada e saio fora
quando percebo, antes que esse fato aconteça (às vezes não dá
tempo de perceber e já fui rejeitada "na lata" por moços e fiquei
péssima).
O que me ajudou muito a melhorar meu comportamento foi o
fato de fazer terapias, essa é a 4ª vez que eu faço, mas faço em
épocas diferentes, não são contínuas. Ler livros de auto‐ajuda foi
bom, mas eles pareciam receitas de bolo ao tentar moldar a
gente, aí fica difícil porque cada livro fala uma coisa um pouco
diferente...rs. A questão é ter ferramentas para identificar o por
que a pessoa se sente assim e age de determinada maneira e
ajudar a tirar essa idéia de "patinho feio" do mundo e amenizar a
culpa que se sente pelos fatos acontecidos. É muito chato fazer
terapia na maioria das vezes, porque trabalhar o
autoconhecimento implica em revermos atitudes que tomamos,
ver que a gente erra e dá muita raiva às vezes porque tem que
mudar um monte de coisas, dá impressão que faço tudo errado.
... Mas através das características identificadas no borderline, tais
como: instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto‐
imagem e afeto, impulsividade; é possível trabalhar o porque
eles agem dessa forma, encontrando a causa disso tudo e
amenizar principalmente a revolta e a culpa que se sente por
sentir tudo o que não se está conseguindo mudar.
Exemplo: através de muito sofrimento e angústia, fiquei
motivada a buscar o que eu quero esconder tanto dos outros e
de mim mesma, aí descobri a questão da minha infância que já te
contei. Agora tento olhar para mim criança como parte de mim
adulta e que procurou estratégias para não sofrer tanto em uma
família com sofrimentos que descontavam em mim e na minha
irmã e por isso que tomara uma postura de ser influenciada por
meus pais e aceitar aquela situação no momento. Verbalmente
me perdoei, quero ver inconscientemente...rs.
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J.S.O.
Olá Helena, bom, passei os últimos dias pensando no fato de ser
diferente, sabe, a minha vida inteira passei procurando ser
normal e agora acho que está claro que a minha busca chegou ao
fim, eu não preciso ser "normal", sou normal da minha
maneira,uma pessoa íntegra, sincera e que respeita ao próximo,
estou errada? Cada um é normal da medida do possível. Sabe
você me ajudou muito a entender o que é ser normal, ao menos a
paranóia de ser normal, normal, normal, acho que passou –
entendi o que é ser "normal". Bom, quanto a ser diferente, estou
me aceitando, é incrível, pois tudo indica que nasci assim, eu não
escolhi ser assim. Muitos não entendem pois não é algo que ,
como falei para a psicóloga, você chega em uma determinada
época de sua vida e decide ‐ agora vou ser assim, não, não é
assim. Voce nasce assim, com esses desejos e preferências, não
dá para explicar. Sabe, atualmente o que esta sendo difícil para
mim é cumprir as minhas metas, às vezes me dá tipo uma pane,
embaralha meus pensamentos, que tenho que parar e respirar
um pouco e seguir adiante só que um pouco devagar. Bom, é um
pouco frustrante. Um abraço com muito,muito carinho pois você
tem me ajudado grandemente. Ah, obrigada por não me deixar.
M.S.T.
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REFERÊNCIAS
1. www.psiqweb.med.br/site/
3. virtualpsy.locaweb.com.br/dsm_janela.php?cod=164
4. www.psychologytoday.com/
5. www.psych.org/dsmv.aspx
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11. Terapia Cognitivo-Comportamental Para Transtorno Da
Personalidade Borderline, Marsha Linehan, Ed. Artmed
15. www.borderlinepersonalitydisorder.com
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