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FILOSOFIA
Congruência
A
primeira condição necessária para o sucesso do processo terapêutico é que o
profissional seja congruente. A congruência existe quando alguém está em
contato com o eu organísmico, o eu real. Ser congruente significa ser verdadeiro,
genuíno, inteiro; ser o que realmente é. O terapeuta congruente tem a habilidade
e o desejo de expressar abertamente seus sentimentos.
Rogers percebeu muito cedo em sua prática terapêutica que, em longo prazo,
não era útil fingir ser aquilo que ele não era. Um terapeuta congruente não é
apenas uma pessoa boa e amigável, mas um ser humano completo que sente
alegria, raiva, frustração, confusão etc. Quando esses sentimentos são vividos,
não são negados nem distorcidos, mas reconhecidos e expressos. O profissional
congruente, portanto, não é passivo, distante nem “não diretivo”.
Em algumas obras, a terapia centrada no cliente ainda é tratada como não
diretiva, mas o fato é que a terapia movimenta-se em uma clara direção, a de
garantir que o cliente entre em contato com seu eu organísmico para que a
mudança terapêutica ocorra, e o terapeuta dirige o processe nesse sentido ao
promover o clima psicológico necessário.
O profissional congruente não é estático. Como a maioria das outras pessoas,
ele está constantemente exposto a novas experiências, mas ao contrário dessas
pessoas, ele recebe tais experiências de maneira consciente, sem negá-las ou
distorcê-las, o que contribui para o seu crescimento psicológico. Ele não usa
máscaras, nem sustenta uma fachada falsamente agradável, e evita fingir
afeição ou amizade quando esses sentimentos não são realmente sentidos. Da
mesma forma, ele não finge raiva, dureza ou ignorância, nem encobre
sentimentos de alegria, euforia ou felicidade. O terapeuta congruente é capaz de
lidar com seus sentimentos de maneira consciente e expressá-los com
honestidade.
Rogers afirma que o terapeuta será mais eficiente se ele comunicar sentimentos
genuínos, mesmo que eles sejam negativos ou ameaçadores. Agir de outra
maneira seria desonesto com os clientes, e eles o perceberiam, mesmo que de
forma não consciente. De toda forma, Rogers entende que existem diferentes
níveis de congruência, ou seja, o terapeuta não precisa ser absolutamente
congruente para facilitar a mudança terapêutica do cliente. Não é necessário ser
perfeito para que alguém seja um terapeuta eficiente.
Aceitação incondicional
Empatia
A
terceira condição necessária para a promoção da mudança terapêutica é a
empatia. Empatia existe quando o terapeuta sente de maneira precisa os
sentimentos de seus clientes, e é capaz de comunicar essa compreensão de
maneira que eles saibam que outra pessoa foi capaz de entrar em seus mundos
sem preconceitos, projeções ou julgamentos. Para Rogers, empatia significa
viver temporariamente a vida de outra pessoa, movimentando-se nela com
delicadeza, sem fazer julgamentos. A empatia não envolve interpretar os
significados dos clientes ou descobrir seus sentimentos inconscientes, esses
procedimentos implicariam em um ponto de referência externo e ameaçariam os
clientes. Ao contrário, a empatia sugere que o terapeuta vê as coisas do ponto
de vista do cliente, que se sente seguro e não ameaçado.
Terapeutas centrados no cliente não supõem que a empatia ocorra
naturalmente, eles verificam a adequação de suas percepções consultando os
próprios clientes: “Percebo que você está sentindo ‘X’ em relação à determinada
pessoa ou situação, estou correto?” A validação do entendimento empático é
normalmente seguida por uma resposta do cliente confirmando a percepção do
terapeuta ou a retificando.
A empatia é uma poderosa ferramenta que, junto com a congruência e a
aceitação, facilita o crescimento pessoal do cliente. Na visão de Rogers, quando
uma pessoa se sente compreendida adequadamente, ela se sente em maior
contato com suas próprias experiências. Isso lhe dá uma referência ampliada à
qual recorrer em busca de autocompreensão e auto-orientação. Se a empatia do
terapeuta for precisa e profunda, o cliente pode se tornar capaz de desbloquear
o fluxo de certas experiências e permitir que elas sigam seu curso sem inibições.
A empatia é eficiente porque ela permite ao cliente ouvir a si mesmo e, em
consequência, tornar-se seu próprio terapeuta.
É importante não confundir empatia com simpatia. A simpatia sugere um
sentimento “pelo” cliente, enquanto a empatia indica um sentimento “com” o
cliente. A simpatia nunca é terapêutica, pois ela está baseada em avaliações
externas e normalmente leva o cliente a sentir pena de si mesmo; a autopiedade
é uma atitude deletéria que ameaça um autoconceito positivo e cria desequilíbrio
na estrutura do self.
Deve-se notar, entretanto, que ter empatia não significa que o terapeuta tem os
mesmos sentimentos do cliente. O terapeuta não sente raiva, alegria,
ressentimento, frustração ou excitação quando o cliente vive esses sentimentos.
Em vez disso, o terapeuta sente a profundidade dos sentimentos do cliente ao
mesmo tempo que lhe permite ser um indivíduo separado. O terapeuta tem uma
reação cognitiva e emocional em relação aos sentimentos dos clientes, mas
esses sentimentos pertencem aos clientes, não ao terapeuta. Um terapeuta não
se apropria das experiências do cliente, mas é capaz de oferecer-lhe um espaço
no qual possa amadurecer um entendimento sobre os significados dessas
experiências.