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Ética e Deontologia

Consentimento Informado (no contexto da psicoterapia)

Três aspetos básicos subjacentes ao consentimento informado: São os aspetos que devem estar
presente para ter um consentimento informado bem-sucedido:

 A informação adequada providenciada ao cliente.


 Capacidade do cliente em compreender a informação providenciada
 O consentimento dado pelo cliente deve ser dado de forma voluntária.

Para quê obter consentimento informado?

Porque é uma obrigação do código ético. O consentimento informado é visto com uma
obrigatoriedade, é um critério mínimo. O consentimento informado em psicoterapia foi influenciado
pelo consentimento informado para procedimentos médicos.

Antes do século XX, os médicos apresentavam uma abordagem paternalistas, autoritária e


arrogante. Havia a assunção que o médico é que sabia o que era do melhor interesse para o
cliente, decidindo que procedimento realiza sem autorização do doente. Era problemático pois
cada procedimento envolve risco. Cada pessoa tem uma hierarquia de valores que permite o
direito de decidir sobre fazer ou não o tratamento.

 Caso de Osheroff vs Chesneut Lodge


Recebeu tratamento (internamento) para perturbação depressiva e perturbação narcísica
da personalidade. Recebeu apenas terapia psicodinâmica; Não recebeu
psicofarmacoterapia (mesmo quando a severidade dos sintomas aumentou). 7 meses
depois, transferido para outra clínica, recebeu medicação psiquiátrica, melhorou o
suficiente para ter alta de internamento. Processou a clínica, alegando que se tivesse
sabido que tratamento iria receber, teria tomado outra decisão

Razões Éticas: Existem razões éticas subjacentes aos consentimento informado.

 Autodetemrinação (eu tenho o direito de autodeterminar acerca da minha vida);


 Tomada de decisão autónoma;
 Direito sobre os procedimentos efetuados no próprio corpo;
 Inviolabilidade da tomada de decisão individual (o cliente tem sempre o direito de
tomar a decisão e isso é um direito inviolável);
 Respeito pela liberdade, autonomia e dignidade individuais.

Razões Práticas

 Clarificar sobre o processo psicoterapêutico;


 Desconstruir crenças e ideias erradas sobre a psicoterapia (p.e. desconstruir a
crença que a confidencialidade é um aspeto absoluto);
 Encoraja o terapeuta a refletir sobre a sua prática clínica;
 Estudos sugerem que no momento do consentimento informado aumenta a perceção
de confiança do cliente no terapeuta (este momento aumenta o espaço de confiança e
influencia a eficácia terapêutica).
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Porque se deve obter o consentimento informado?

 Direito humano;
 Requisito do(s) código(s);
 Promoção da tomada de decisão autónoma;
 Promoção de valores: respeito pela autonomia, liberdade individual, dignidade, auto-
determinação;
 Clarificação do processo de psicoterapia e de “mitos”
 Associação à construção de uma imagem positiva do/a psicólogo/a e, por conseguinte,
associação a alianças terapêuticas mais fortes e a melhores resultados terapêuticos;
 Associação à redução da ansiedade e ao cumprimento do plano terapêutico.

Que informação o consentimento informado inclui?

Não há propriamente um consenso do que se deve incluir, mas há um conjunto de informações que
é importante incluir.

Segundo a APA:

1. Natureza e o curso antecipado da terapia (em que é que consiste?; o que vamos fazer?);
2. Pagamento/Honorários;
3. Envolvimento de terceiros (outros significativos);
4. Limites de confidencialidade;
5. Fornecer espaço para o cliente fazer perguntas e receber respostas

Para outras organizações (não apenas APA):

1. Informações sobre a abordagem de terapia ou orientação (qual é o modelo que o


psicólogo segue?);
 Por exemplo, na terapia cognitiva, é importante incluir informações mais gerais
(terapia envolve conversa, irá ocorrer no mesmo espaço, a eficácia da
abordagem) e mais especificas (vai envolver técnicas de reestruturação, há
tarefas entre sessões e eficácia da terapia em pessoa com o mesmo quadro
clínico).
2. Procedimentos específicos/estratégia que serão realizados;
3. Qualificações do terapeuta;
4. Potenciais benéficos ou risco da terapia (não é apenas os riscos diretos ou mais óbvios,
como causar desconforto, mas sim os riscos mais indiretos que podem originar conflitos
entre familiares)
5. Questões administrativas e pragmáticas.

Até que ponto (quão específico / pormenorizado) deve informação sobre o processo terapêutico
ser partilhada com o cliente?

É avaliado caso a caso. Devemos dar o máximo de informação possível. No entanto, temos de
saber que o processo terapêutico funciona pois está estruturado para funcionar. Cabe ao
terapeuta decidir, naquele caso particular, o que deve partilhar e o que não deve.
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Deve o terapeuta informar a que conclusão chegou em termos de diagnóstico?

Nem todos os terapeutas trabalham com diagnóstico. O importante é como fazer. O diagnóstico
pode ser um momento importante para a progressão do processo terapêutico (há pessoas que
andam anos à procura o diagnostico), no entanto, é importante ter em conta não transformar o
diagnóstico em estigma (existem pessoas que pode interiorizar o diagnostico como parte da sua
individualidade, as pessoas são mais que o seu diagnóstico).

Deve o terapeuta informar sobre as suas próprias características? Se sim, quais


características?

Em certas situações será importante partilhar certas características (p.e., se trabalho a partir de
uma abordagem religiosa…). Não há guidelines sobre quando nem que informação pessoal deve
constar do consentimento informado. A relevância da informação dependerá do caso, e a decisão
de que informação partilhar recai sobre o psicólogo.

Modalidade de terapia pode influenciar o conteúdo do consentimento

 Terapia de Grupo: informar em relação a aspetos específico da terapia (p.e.


impossibilidade de garantir que os membros do grupo cumpram a confidencialidade, risco
de agressividade verbal ou física de algum membro do grupo
 Terapia Online: Questões associadas à privacidade, confidencialidade e registos

O CI resulta de a informação suficiente para o cliente tomar uma decisão informada e não
sobrecarregar com informação desnecessária. Devemos conseguir colocar-nos da perspetiva do
cliente (O que quereria eu saber se estivesse numa mesma situação para tomar uma decisão
informada sobre a psicoterapia?). Os interesses do cliente são a prioridade. Devemos dar o
empoderamento máximo do cliente para que possa tomar uma decisão verdadeiramente
informada

Formato do consentimento informado

Forma Escrita Forma Oral


Vantagens Informação padronizada; Documento do Permite interação máxima entre terapeuta-cliente; Não
consentimento consistente com as depende do grau de instrução do cliente; Pode ser
estratégias de gestão de risco adaptada a situação concreta do cliente

Desvantagens Impessoal; Exaustiva; Possibilidade de ser Não é um processo padronizado; Sem um documento
incompreensível, linguagem muito complexa tangível/concreto que sirva de prova do consentimento
pode gerar confusão

Quando se deve obter o consentimento informado?

No início da relação terapêutica, mas é um processo continuo durante o acompanhamento (a


psicoterapia é caracterizada por haver certas variáveis que entram na vida da pessoa que
influenciam a vida da pessoa). O consentimento é um processo flexível (e não estático e rígido). Ao
dar o consentimento ao longo da sessão, permite a repetição a informação, promovendo melhor
compreensão.

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