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Como método privilegiado que é, a entrevista psicológica tem sido objeto de inúmeros
trabalhos, reflexões e discussões. Concluiu-se que não havia uma única entrevista psicológica
mas múltiplas formas de entrevistar classificáveis de acordo com o nível de estruturação da
entrevista, com o meio ambiente emocional, com os objetivos, com a fase da relação, com a
finalidade e com o quadro de referencia teórico (Ribeiro & Leal, 1997).
Assim, temos autores como por exemplo Hetherington (1977) que considera as
entrevistas psicológicas classificáveis em:
- Entrevistas de recolha de dados
- Entrevistas diagnósticas e de avaliação psicológica
- Entrevistas terapêuticas
Poch e Talarn (1991) consideram, por seu turno, que as entrevistas psicológicas podem ser
classificáveis em termos de:
- Níveis de estruturação (estruturadas, semi-estruturadas, abertas)
- Ambiente emocional (frio, caloroso)
- Objetivos (investigação, clínica, seleção)
- Fase da relação (diagnostica, terapêutica)
Craig (1989) afirma igualmente a diferença entre entrevistas psicológicas, tendo em
atenção os objetivos pretendidos. Considera, assim, também algumas das anteriores categorias
e acrescenta outras. Do seu ponto de vista, devem-se considerar:
- Entrevistas de recolha de dados
- Entrevistas de estudo de caso
- Entrevistas de avaliação de estado mental
- Entrevistas de pré e pós-teste
- Entrevistas breves de avaliação
- Entrevistas de conclusão
- Entrevistas de investigação
- Os níveis de consciência
Embora seja um item complexo e que encerre em si categorias de difícil apreensão
pensamos que nele se podem incluir as diferentes qualidades da atenção, da orientação
espaço-temporal bem como as alterações qualitativas c quantitativas da vigilância
(hipovigilâncias e liipervigilàncias, retraimento do campo de consciência, estados
crepusculares e estados oníricos e oniroides). Deve ainda ser investigada a consciência de si
mesmo (alterações do esquema corporal, despersonalização).
- O humor
O humor, e as alterações timicas são unanimemente consideradas corno fundamentais na
avaliação do estado mental de qualquer sujeito. Se bem que as variações do humor se
inscrevam num quadro de grande flutuação, esta está habitualmente relacionada com a
satisfação ou insatisfação das necessidades do sujeito. Mesmo assim, não é especialmente
difícil avaliar, as alterações excessivas do humor no sentido de classificá-las em humor
depressivo, expansivo ou na indiferença tônica.
- A percepção
A percepção sensorial de um objeto e a representação mental desse mesmo objeto são
um processo complexo. Considera-se como alterações da percepção a desrealização, as
sinestesias, as hiperpercepções e as hipopercepções e as falsas percepções (ilusões e
alucinações).
- A memória
Memorizar é um processo complexo que implica não só reter informação como
conservá-la e ser capaz depois de rememorizar. Fala-se de memórias auditivas, visuais,
verbais e até olfativas, fala-se de memórias de curto, médio e longo prazo. Sabe-se que há
fatores que facilitam a integração mnésica e outros que a dificultam. Considera-se que o
esquecimento corresponde a uma triagem seletiva do que pode ser retido mas, aceita-se que a
memória possa sofrer processos dinâmicos de inibição relacionados com contextos afetivos.
Considera-se como alterações significativas da memória os déficits mnésicos (as amnésias
de fixação, evocação, antero-retrogadas e também as amnésias psicogéneas ou afetivas) as
libertações mnésicas (ecmnesias e hipermnesias) e as paramnesias ou ilusões da memória
{déjá vu, déjà vécu).
- O pensamento
As alterações do curso do pensamento (taquipsíquico, bradipsíquico, ou
descontinuidades) e as alterações do conteúdo do pensamento (idéias fixas, obsessões, fobias,
idéias delirantes) são os aspectos mais relevantes e também mais facilmente observáveis
numa entrevista de avaliação do estado mental.
- O juízo
A noção de juízo remete para a capacidade de estabelecer julgamentos. Os julgamentos
permitem reconhecer relações existentes entre crenças elementares, sendo por um lado
elemento diferenciador da inteligência e por outro função da adaptabilidade social. Ter juízo,
dir-se-ia na linguagem comum, é ter bom senso.
A capacidade de julgar pode estar facilitada, diminuída de forma passageira e reversível
ou, pelo contrário, de forma progressiva, definitiva e global ou distorcida (o racionalismo
mórbido, o erro de julgamento, a interpretação delirante).
Também neste caso a entrevista de avaliação do estado mental pode ou não ser clinica.
É, se o que estiver em jogo for o delineamento de uma estratégia de intervenção capaz de
minorar o sofrimento ou o desconforto do indivíduo. Não deve ser considerada clínica se o
objetivo for a investigação dirigida ou a feitura de um relatório ou de um parecer a ser usado
por terceiras pessoas ou em quadros institucionais.
A Entrevista de Conclusão
A entrevista de conclusão é como o próprio nome indica a que encerra, uma relação
contratualmente estabelecida. Pode referir-se ao final de um processo longo de cariz
psicoterapêutico, pode corresponder a uma situação de alta de internamente ou de
ambulatório, pode tratar-se de uma entrevista de pós-teste, ou pode mesmo tratar-se de uma
entrevista de conclusão determinada por impedimentos do psicólogo (transferência de serviço
ou de sector, doença grave, etc.). Supõe que nela se realize:
- o balanço do trabalho desenvolvido.
- a análise prospecitiva do que ficou insuficientemente trabalhado e se pode constituir
como vulnerabilidades do sujeito.
- a análise prospectiva dos recursos adquiridos e das vantagens que podem ser
proporcionadas.
A Entrevista de Investigação
A entrevista de investigação pode revestir diversas formas, praticamente todas aquelas
que aqui foram abordadas. A especificidade da entrevista de investigação é o seu objetivo
último que é a recolha de dados para fins de pesquisa. Nesse sentido, e embora continue a ser
uma entrevista psicológica, é necessário que o psicólogo esclareça previamente com detalhe e
assegurando-se que obtêm o consentimento informado do sujeito e não apenas a sua
aquiescência passiva. No caso das entrevistas deste tipo é importante que o psicólogo não
alimente expectativas de uma continuidade que não pode efetivamente oferecer, nem deixe
resvalar os conteúdos para problemáticas do sujeito importantes e significativas para ele mas
longe dos objetivos da investigação. É pois aconselhável que as entrevistas de investigação
sejam minimamente estruturadas e não provoquem no sujeito, sobretudo se houver uma
qualquer dimensão de sofrimento atual, uma intensificação da frustração.
Todas as entrevistas que acabamos de enunciar são, ou podem ser consideradas
entrevistas psicológicas na medida em que as técnicas psicológicas se unem às teorias
psicológicas para obter informação que auxilie o encontrar de respostas úteis ao cliente quer
considerado enquanto indivíduo, quer enquanto pertencente a um grupo de sujeitos que
desejamos investigar. Seja entretanto qual for o tipo e objetivo da entrevista psicológica, ela
deve assentar em pressupostos teóricos que a fundamentem e a alicercem enquanto prática
psicológica.