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Questões – Introdução à filosofia e ao filosofar

Itens de seleção

1. Qual das seguintes questões corresponde a um problema filosófico?


(A) O quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos?
(B) Como surgiu a vida no planeta Terra?
(C) O que torna uma ação certa ou errada?
(D) O aborto é legal em Portugal?

2. “A existência de Deus é incompatível com a existência de mal no mundo” e “A existência de mal no


mundo é incompatível com a existência de Deus” correspondem a…
(A) duas frases diferentes, mas uma e a mesma proposição.
(B) duas proposições diferentes, mas uma e a mesma frase.
(C) duas frases e duas proposições diferentes.
(D) uma e a mesma frase e uma e a mesma proposição.

3. Qual destas frases corresponde a um problema filosófico?


(A) O que é a justiça?
(B) Os animais sentem dor?
(C) Como surgiu a vida na Terra?
(D) O aborto é legalmente permitido em Portugal?

4. Analisa as definições explícitas que se seguem.


Seleciona, depois, a alternativa que as descreve corretamente.

Algo é um cão se, e só se, é um mamífero carnívoro.


Algo é um quadrado se, e só se, é uma figura geométrica com os lados todos iguais.

(A) 1 e 2 são demasiado restritas.


(B) 1 e 2 são demasiado latas.
(C) 1 é demasiado lata e 2 é demasiado restrita.
(D) 1 é demasiado restrita e 2 é demasiado lata.

5. A negação de “Nem todos os atos são egoístas” é…


(A) Alguns atos são egoístas.
(B) Alguns atos não são egoístas.
(C) Todos os atos são egoístas.
(D) Nenhum ato é egoísta.

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Questões – Introdução à filosofia e ao filosofar

6. Um argumento válido com a conclusão verdadeira...


(A) tem de ser sólido.
(B) tem premissas verdadeiras.
(C) pode não ser sólido.
(D) não pode ser sólido.

7. Se duas proposições são inconsistentes entre si, então…


(A) são ambas verdadeiras.
(B) são ambas falsas.
(C) não podem ser ambas verdadeiras.
(D) não podem ser ambas falsas.

8. Se um argumento é dedutivamente válido, então...


(A) a sua conclusão não pode ser falsa.
(B) a sua conclusão não pode ser falsa, caso as suas premissas sejam verdadeiras.
(C) as suas premissas não podem ser falsas, caso a sua conclusão seja verdadeira.
(D) as suas premissas não podem ser falsas.

9. Um argumento é sólido se, e só se, …


(A) as suas premissas são verdadeiras.
(B) a sua forma lógica é válida.
(C) a sua forma lógica é válida e a sua conclusão é verdadeira.
(D) a sua forma lógica é válida e as suas premissas são verdadeiras.

10. Compara os dois argumentos que se seguem e depois seleciona a alternativa que os avalia corretamente.

Argumento 1:
(1) Se Deus existe, então não há mal no mundo.
(2) Deus existe.
(3) Logo, não há mal no mundo.
Argumento 2:
(1) Se Deus existe, então não há mal no mundo.
(2) Existe mal no mundo.
(3) Logo, Deus não existe.

(A) São ambos válidos.


(B) São ambos inválidos.
(C) Apenas o Argumento 1 é válido.
(D) Apenas o Argumento 2 é válido.

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Questões – Introdução à filosofia e ao filosofar

Itens de resposta restrita

1. Lê com atenção o texto que se segue.

“Suponhamos que, a caminho de dar uma aula, me apercebo que uma criança caiu [num lago]
e está em risco de se afogar. Alguém duvida que eu devia entrar no lago e tirar de lá a criança?
Isso implicaria ficar com a roupa cheia de lama e cancelar a aula ou atrasá-la até encontrar um
meio de mudar de roupa; no entanto, em comparação com a morte evitável da criança, isso é
insignificante. Um princípio plausível que apoiaria o juízo de que devo tirar a criança do lago é o
seguinte: se estiver nas nossas mãos evitar que aconteça um grande mal, sem com isso
sacrificarmos nada de importância moral comparável, devemos fazê-lo. O aspeto incontroverso
deste princípio é enganador. Se fosse levado a sério e orientasse as nossas ações, a nossa vida
e o nosso mundo sofreriam uma transformação radical. Porque o princípio aplica-se não
apenas às raras situações em que alguém pode salvar uma criança de morrer afogada num
lago, mas também à situação quotidiana em que podemos ajudar quem vive na pobreza
absoluta. Ao dizer isto, parto do princípio de que a pobreza absoluta, com fome, subnutrição,
falta de abrigo, analfabetismo, doença, mortalidade infantil elevada e curta esperança de vida,
é uma coisa má. E parto do princípio de que está ao alcance dos ricos minorar a pobreza
absoluta sem sacrificar nada de importância moral comparável. Se estes dois pressupostos e o
princípio que discutimos estão corretos, temos a obrigação de ajudar quem vive na pobreza
absoluta, obrigação que não é menor do que a nossa obrigação de salvar uma criança de se
afogar num lago. Não ajudar seria um mal, seja ou não intrinsecamente equivalente a matar.
Ajudar não é, como se pensa habitualmente, um ato de caridade digno de elogio, mas que não
é um mal omitir; é algo que todos deviam fazer.”
Peter Singer. (2002). Ética Prática. Lisboa: Gradiva, pp. 251-252 (adaptado)

1.1 Qual é o problema que está a ser discutido neste texto e por que razão é um problema filosófico?

1.2 Em que disciplina da filosofia se enquadra o problema que está a ser discutido neste texto?

1.3 Indica a tese defendida no texto como resposta ao problema filosófico em consideração.

1.4 Qual é o principal argumento apresentado no texto a favor da tese defendida?

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Questões – Lógica formal

Itens de seleção

1. A proposição “Ontem fui à praia e ao cinema” é verdadeira se, e só se, …


(A) é verdade que “Ontem fui à praia” e é verdade que “Ontem fui ao cinema”.
(B) é verdade que “Ontem fui à praia” ou é verdade que “Ontem fui ao cinema”.
(C) é verdade que “Ontem fui à praia”, embora não seja verdade que “Ontem fui ao cinema”.
(D) é verdade que “Se ontem fui à praia, então fui ao cinema”.

2. A proposição “Ontem comi carne ou peixe” é falsa se, e só se, …


(A) é verdade que “Ontem comi carne” e é verdade que “Ontem comi peixe”.
(B) é verdade que “Ontem comi carne”, embora não seja verdade que “Ontem comi peixe”.
(C) não é verdade que “Ontem comi carne”, embora seja verdade que “Ontem comi peixe”.
(D) não é verdade que “Ontem comi carne” e não é verdade que “Ontem comi peixe”.

3. Na fórmula proposicional ¬ (( P ˄ Q ) → ( R ˄ S )), a conectiva com maior âmbito é…


(A) uma negação.
(B) uma condicional.
(C) uma disjunção.
(D) uma conjunção.

4. Considera as fórmulas lógicas proposicionais que se seguem. Seleciona, depois, a alternativa que as
descreve corretamente.

1. (( P → Q ) ˄ ( P ˄ ¬ Q ))
2. ( ¬ ( P ˄ Q ) → ( ¬ P ˅ ¬ Q ))

(A) 1 e 2 são tautologias.


(B) 1 e 2 são contradições.
(C) 1 é tautológica, mas 2 é contraditória.
(D) 2 é tautológica, mas 1 é contraditória.

5. Considerando que P abrevia “A vida faz sentido”, Q abrevia “Há eternidade” e R abrevia “Deus existe”,
a frase “A vida não faz sentido nem há eternidade caso Deus não exista” expressa uma proposição
com a seguinte forma lógica:
(A) (( ¬ P ˄ ¬ Q ) → ¬ R )
(B) ( ¬ R → ( ¬ P ˄ ¬ Q ))
(C) ( ¬ R → ¬ ( P ˄ Q ))
(D) (( ¬ P ˄ ¬ Q ) ˄ ¬ R )

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Questões – Lógica formal

6. Se Q é uma proposição falsa, ...


(A) a condicional “( ¬ Q → P )” tem de ser verdadeira.
(B) a condicional “( ¬ Q → P )” tem de ser falsa.
(C) a condicional “( P → ¬ Q )” tem de ser falsa.
(D) a condicional “( P → ¬ Q )” tem de ser verdadeira.

7. Considera as formas argumentativas que se seguem. Seleciona, depois, a alternativa que as descreve
corretamente.
1. ( P → ¬ Q ), ( ¬ Q → ¬ R ) ∴ ( P → ¬ R )
2. ( P ˅ Q ), ¬ Q ∴ P

(A) 1 e 2 são válidas.


(B) 1 e 2 são inválidas.
(C) 1 é válida e 2 é inválida.
(D) 1 é inválida e 2 é válida.

8. A partir de “Se Deus existe, então não há mal no mundo” e de “Há mal no mundo”, por modus tollens,
infere-se que…
(A) não há mal no mundo.
(B) há mal no mundo.
(C) Deus não existe.
(D) Deus existe.

9. Afirmar que “Não é verdade que Deus existe e há mal no mundo” é o mesmo que afirmar que…
(A) Deus não existe ou não há mal no mundo.
(B) Deus existe ou há mal no mundo.
(C) se Deus não existe, então há mal no mundo.
(D) se Deus não existe, então não há mal no mundo.

10. Afirmar que “Não é verdade que a guerra implica matar inocentes ou a guerra é sempre injusta” é o
mesmo que afirmar que…
(A) a guerra não implica matar inocentes ou a guerra não é sempre injusta.
(B) a guerra implica matar inocentes e a guerra não é sempre injusta.
(C) a guerra não implica matar inocentes e a guerra é sempre injusta.
(D) a guerra não implica matar inocentes e a guerra não é sempre injusta.

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Questões – Lógica formal

Itens de resposta restrita

1. Suponhamos que o João assumiu o seguinte compromisso: “Se amanhã estiver a chover, eu trago
guarda-chuva”.
Imaginemos agora que no dia seguinte o João não levou guarda-chuva. Será isto suficiente para
concluirmos que o João não cumpriu o seu compromisso? Porquê?

2. Constrói a tabela de verdade para cada uma das seguintes fórmulas e verifica se elas são logicamente
equivalentes.

(P˅Q)
(¬Q→P)
(¬P→Q)

3. Assumindo que a proposição "Se Deus não existe, a vida não faz sentido" é a única premissa de um
argumento válido, qual poderá ser a conclusão desse argumento? Porquê?

4. Considera o argumento (incompleto) que se segue.


(1) Se mentir é sempre errado, então não podemos mentir para salvar a vida de um amigo.
(2) .
(3) Logo, mentir não é sempre errado.
Será que se pode completar o argumento mediante a aplicação de uma das formas de inferência
válida estudadas? Porquê?

5. Será que podemos concluir que “Os nossos sentidos não são enganadores” a partir das premissas “Se
os nossos sentidos não são enganadores, então temos conhecimento” e “Temos conhecimento”?
Porquê?

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Questões – Lógica formal

Itens de resposta restrita

1. Lê o seguinte diálogo filosófico (inspirado no livro Eutífron, de Platão).

sócrates – Quando dizes que é um bem acusar o teu próprio pai por causa de ele cometer
homicídio, o que queres dizer por bem? Afinal, o que é o bem?

eutífron: – Pretendo apenas sustentar que o bem depende da vontade dos deuses.

sócrates – Discordo da tua tese. Questionemos, então, o que dizes: será que o bem é desejado
pelos deuses porque é objetivamente bem ou, pelo contrário, só se torna bem
porque é desejado pelos deuses?

eutífron: – Podes explicitar melhor por que razão negas a minha tese?

sócrates – Repara no seguinte, se o bem depende da vontade dos deuses, então alguma coisa
é boa pelo motivo de os deuses a desejarem e o bem é algo arbitrário. Todavia,
não é verdade que alguma coisa seja boa pelo motivo de os deuses a desejarem e
que o bem seja algo arbitrário.

eutífron: – Dizes bem. Daí se segue a tua tese. Mas preciso de analisar melhor se esse é
realmente um bom argumento.

Será o argumento de Sócrates válido? Justifica devidamente a tua resposta, realizando as seguintes
tarefas:
– apresenta o argumento na representação canónica;
– formaliza o argumento (não te esqueças de apresentar o dicionário);
– testa a validade do argumento através de um inspetor de circunstâncias.

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Questões – Lógica informal

Itens de seleção

1. Se aprovarmos a decisão do Estado de aplicar uma taxa de IVA mais elevada para as touradas do que
para os restantes espetáculos e manifestações culturais, estaremos dispostos a admitir uma
interferência contínua do Estado nas preferências e nas liberdades dos cidadãos. Ora, só estaremos
nessa disposição se quisermos viver numa ditadura. Portanto, se não queremos viver numa ditadura,
não devemos ser a favor deste tipo de medidas.
Este argumento comete a falácia de...
(A) petição de princípio.
(B) apelo à ignorância.
(C) ad populum.
(D) derrapagem.

2. A pena de morte é uma punição justa em alguns casos. Porque há casos tão graves que se o criminoso
fosse condenado a uma pena mais leve, não seria feita justiça.
Este argumento comete a falácia de...
(A) petição de princípio.
(B) falsa relação causal.
(C) falso dilema.
(D) apelo à ignorância.

3. É evidente que o Universo é infinito, porque, se não fosse, já teríamos conseguido determinar o seu
tamanho.
Este argumento comete a falácia de...
(A) falso dilema.
(B) falsa relação causal.
(C) apelo à ignorância
(D) petição de princípio.

4. A lógica proposicional é uma teoria errada, pois sustenta que os argumentos válidos levam a
conclusões verdadeiras, mas é óbvio que isso nem sempre acontece.
Este argumento comete a falácia de...
(A) espantalho.
(B) falso dilema.
(C) falsa relação causal.
(D) petição de princípio.

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Questões – Lógica informal

5. Todas as manhãs, a Sofia sai à varanda da frente e exclama: “Que esta casa esteja a salvo dos tigres!”
– E volta para dentro. Por fim, perguntamos à Sofia: “Que história é essa? Não há qualquer tigre a
quilómetros daqui.” Ela responde: “Estás a ver? Funciona!”
Este argumento comete a falácia de...
(A) falso dilema. (C) falsa relação causal.
(B) petição de princípio. (D) apelo à ignorância.

6. A ideia de que não devemos comer animais é um disparate! A maior parte das pessoas come carne e
não vê problema nenhum nisso. Por que razão havemos nós de o fazer?
Este argumento comete a falácia de...
(A) ad populum. (C) falso dilema.
(B) ataque à pessoa. (D) petição de princípio.

7. Temos de admitir que não há verdades morais absolutas, pois são todas relativas.
Este argumento comete a falácia de...
(A) falsa relação causal. (C) falso dilema.
(B) petição de princípio. (D) apelo à ignorância.

8. O Sol nasce quando o galo canta, portanto, o canto do galo faz o Sol nascer.
Este argumento comete a falácia de...
(A) derrapagem. (C) falsa relação causal.
(B) petição de princípio. (D) falso dilema.

9. Einstein era um pacifista; logo, o pacifismo tem de ser uma posição correta.
Este argumento comete a falácia de...
(A) apelo ilegítimo à autoridade. (C) generalização precipitada.
(B) falsa analogia. (D) amostra não representativa.

10. "A eutanásia ativa voluntária não deve ser legalizada porque, se legalizarmos a eutanásia ativa
voluntária, os médicos passarão a ser vistos como agentes da morte, e a confiança dos pacientes no
sistema de saúde ficará absolutamente comprometida.”
Este argumento comete a falácia de...
(A) falsa analogia.
(B) generalização precipitada.
(C) amostra não representativa.
(D) derrapagem.

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Questões – Lógica informal

Itens de resposta restrita

1. Qual é a diferença entre argumentos dedutivos e não-dedutivos?

2. Quais são os critérios de avaliação dos argumentos por analogia?

3. O argumento que se segue parece-te um bom argumento? Porquê?


Claro que a alma é imortal! Afinal de contas, desde a Antiguidade que filósofos como Platão têm
vindo a defender a imortalidade.

4. Qual é a diferença entre uma falácia formal e uma falácia informal?


Apresenta exemplos para explicar essa distinção.

5. Lê com atenção o texto que se segue:

Todas as formas de clonagem são inaceitáveis. A aceitação da clonagem conduz à clonagem reprodutiva,
que, por sua vez, conduz à eugenia*, a uma sociedade racista e a novas modalidades de escravatura.
[*Nota: A eugenia corresponde à convicção de que é possível melhorar a espécie humana, quer a nível físico, quer a nível
psicológico, através de métodos de seleção artificial e de controlo reprodutivo.]

Identifica a falácia informal presente no excerto. Justifica adequadamente a tua resposta.

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Questões – Lógica informal

Itens de resposta extensa

1. Lê o seguinte texto.

A filósofa norte-americana Judith Jarvis Thomson escreveu, em 1971, o artigo “Uma defesa do
aborto”, onde propõe ao leitor a seguinte experiência mental: de manhã acorda e descobre
que está numa cama adjacente à de um violinista inconsciente – um violinista famoso.
Descobriu-se que ele sofre de uma doença renal fatal. A Sociedade dos Melómanos [dos
apreciadores de música] descobriu que só o leitor possui o tipo de sangue apropriado para o
ajudar. Por esta razão, os melómanos raptaram-no e, na noite passada, o sistema circulatório
do violinista foi ligado ao seu, de modo a que os seus rins possam ser usados para purificar o
sangue de ambos. O diretor do hospital diz-lhe agora: “Olhe, lamento que a Sociedade dos
Melómanos lhe tenha feito isto. Mas eles puseram-no nesta situação e o violinista está ligado a
si. Caso se desligue, matá-lo-á. Mas não se importe, porque isto dura apenas nove meses.
Depois ele ficará curado e será seguro desligá-lo de si”. Embora salvar o violinista fosse um ato
de grande generosidade, não teríamos a obrigação de fazer esse sacrifício. Contudo, tal como o
violinista, o feto depende do corpo de outrem para se manter vivo. Ora, se não é errado
desligarmo-nos do violinista, podemos concluir que também será permissível a mulher grávida
“desligar-se” do feto, abortando.

Analisa o texto anterior, realizando as seguintes tarefas:


– representa canonicamente o argumento não-dedutivo presente neste texto;
– indica o tipo de argumento não-dedutivo descrito no texto;
– avalia a força do argumento atendendo aos critérios de avaliação desse tipo de argumento.

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Questões – Determinismo e liberdade na ação humana

Itens de seleção

1. O determinismo é a tese segundo a qual...


(A) tudo o que acontece é consequência necessária do passado e das leis da natureza.
(B) nem tudo o que acontece é consequência necessária do passado e das leis da natureza.
(C) algumas das coisas que acontecem são a consequência necessária do passado e das leis da natureza.
(D) nada do que acontece é consequência necessária do passado e das leis da natureza.

2. Para defendermos que há livre-arbítrio temos de aceitar que...


(A) tudo o que fazemos depende, em última análise, da nossa vontade.
(B) algumas das coisas que fazemos dependem, em última análise, da nossa vontade.
(C) nada do que fazemos depende, em última análise, da nossa vontade.
(D) nada está predeterminado.

3. O incompatibilismo caracteriza-se por defender que…


(A) tudo está determinado, por isso não temos livre-arbítrio.
(B) temos livre-arbítrio, por isso nem tudo está determinado.
(C) ainda que tudo esteja determinado, podemos ter livre-arbítrio.
(D) se tudo está determinado, então não temos livre-arbítrio.

4. O compatibilismo caracteriza-se por defender que…


(A) tudo está determinado, por isso não temos livre-arbítrio.
(B) temos livre-arbítrio, por isso nem tudo está determinado.
(C) ainda que tudo esteja determinado, podemos ter livre-arbítrio.
(D) se tudo está determinado, então não temos livre-arbítrio.

5. O libertismo caracteriza-se por defender que…


(A) tudo está determinado, por isso não temos livre-arbítrio.
(B) temos livre-arbítrio, por isso nem tudo está determinado.
(C) ainda que tudo esteja determinado, podemos ter livre-arbítrio.
(D) se tudo está determinado, então não temos livre-arbítrio.

6. O determinismo radical caracteriza-se por defender que…


(A) tudo está determinado, por isso não temos livre-arbítrio.
(B) temos livre-arbítrio, por isso nem tudo está determinado.
(C) ainda que tudo esteja determinado, podemos ter livre-arbítrio.
(D) se tudo está determinado, então não temos livre-arbítrio.

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Questões – Determinismo e liberdade na ação humana

7. Qual das seguintes ideias não pode ser utilizada para defender adequadamente o incompatibilismo?
(A) Se tudo está determinado, então não temos livre-arbítrio.
(B) Se o determinismo é verdadeiro, então as nossas ações são a consequência necessária das leis da
natureza e de eventos que ocorreram num passado remoto.
(C) Não controlamos as leis da natureza nem os eventos que ocorreram num passado remoto.
(D) Se não temos possibilidades alternativas, então não somos livres.

8. De acordo com o compatibilismo clássico, num mundo determinista…


(A) não temos possibilidades alternativas e, por conseguinte, não somos livres.
(B) somos livres, apesar de não termos possibilidades alternativas.
(C) temos possibilidades alternativas, mas não somos livres.
(D) temos possibilidades alternativas e, por conseguinte, somos livres.

9. Analisa o argumento que se segue.

(1) Se o determinismo é verdadeiro, então não temos possibilidades alternativas.


(2) Se não temos possibilidades alternativas, não temos livre-arbítrio.
(3) Logo, se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre-arbítrio.

Seleciona a resposta correta:


(A) Tanto os libertistas como os deterministas radicais aceitam o argumento, mas os deterministas
moderados rejeitam-no.
(B) Tanto os deterministas radicais como os deterministas moderados aceitam o argumento, mas os
libertistas rejeitam-no.
(C) Tanto os deterministas moderados como os libertistas aceitam o argumento, mas os deterministas
radicais rejeitam-no.
(D) Tanto os libertistas como os deterministas radicais rejeitam o argumento, mas os deterministas
moderados aceitam-no.

10. Qual das seguintes afirmações não pode ser utilizada para se construir uma objeção ao
determinismo radical?
(A) Todos os acontecimentos são uma consequência necessária do passado e das leis da natureza.
(B) A mecânica quântica é uma teoria física que parece apontar para a existência de acontecimentos
indeterminados.
(C) O determinismo implica que nenhum de nós é moralmente responsável por aquilo que faz.
(D) Não somos capazes de viver sem pressupor o livre-arbítrio.

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Questões – Determinismo e liberdade na ação humana

Itens de resposta restrita

1. Qual das teorias estudadas em relação ao livre-arbítrio aceitaria o seguinte argumento e porquê?

(1) Se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre-arbítrio.


(2) Temos livre-arbítrio.
(3) Logo, o determinismo não é verdadeiro.

2. Considera o texto que se segue.

“Na mente não existe vontade absoluta ou livre; mas a mente é determinada a querer isto ou
aquilo por uma causa que também é determinada por outra, e essa outra, por sua vez, por
outra, e assim até ao infinito.
A experiência faz ver, portanto, tão claramente como a razão, que os homens se julgam livres
apenas porque são conscientes das suas ações e ignorantes das causas pelas quais são
determinados.”
Bento de Espinosa. (1992). Ética. Lisboa: Relógio D'Água, pp. 253-272 (adaptado)

Qual das teorias estudadas em relação ao livre-arbítrio está a ser posta em causa neste argumento?
Porquê?

3. Considera o texto que se segue.

“O que se entende por liberdade quando esse termo é aplicado às ações voluntárias? Com
certeza não estamos a querer dizer que as ações têm tão pouca conexão com certos motivos,
inclinações e circunstâncias que não se sigam deles com um certo grau de uniformidade. Por
liberdade, então, só nos é possível entender um poder de agir ou não agir, conforme as
determinações da vontade; isto é, se escolhermos ficar parados, podemos ficar assim, e se
escolhermos nos mover, também podemos fazê-lo. Ora essa liberdade hipotética é
universalmente admitida como pertencente a todo aquele que não esteja preso e
acorrentado.”
David Hume. (2002). Investigação sobre o Entendimento Humano. Lisboa: INCM, pp. 105-106 (texto com
supressões)
Qual das perspetivas em relação ao problema do livre-arbítrio está a ser defendida no texto anterior?
Porquê?

4. “Se um ato é aleatório, então não é livre.”


Quem formula esta afirmação pretende levantar uma objeção a que perspetiva filosófica? Porquê?

5. Alguns filósofos alegam que o facto de termos responsabilidade moral nos permite criticar uma das
principais respostas ao problema do livre-arbítrio. Qual delas? Porquê?

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Questões – Determinismo e liberdade na ação humana

6. Lê com atenção o texto que se segue:

“Uma pedra recebe de uma causa exterior que a empurra uma certa quantidade de
movimento, pela qual continuará necessariamente a mover-se depois da paragem da impulsão
externa. [...]
Imaginai agora, por favor, que a pedra, enquanto está em movimento, sabe e pensa que é ela
que faz todo o esforço possível para continuar em movimento. Esta pedra, seguramente, […]
acreditará ser livre e perseverar no seu movimento pela única razão de o desejar. Assim é esta
liberdade humana que todos os homens se vangloriam de ter e que consiste somente nisto,
que os homens são conscientes dos seus desejos e ignorantes das causas que os determinam.”
Bento de Espinosa. (1954). “Lettre à Schuller”, in Oeuvres Complètes. Paris: Gallimard
Qual a perspetiva defendida pelo autor do texto? Porquê?

7. Lê com atenção o texto que se segue:

“É difícil não pensar que temos livre-arbítrio. Quando estamos a decidir o que fazer, a escolha
parece inteiramente nossa. A sensação interior de liberdade é tão poderosa que podemos ser
incapazes de abandonar a ideia de livre-arbítrio, por muito fortes que sejam as provas da sua
inexistência. E, obviamente, existem bastantes provas de que não há livre-arbítrio. Quanto
mais aprendemos sobre as causas do comportamento humano, menos provável parece que
escolhamos livremente as nossas ações.”
J. Rachels. (2009). Problemas da Filosofia. Lisboa: Gradiva, p. 182

Como explicam os deterministas radicais a “sensação interior de liberdade” referida no texto?

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Questões – Determinismo e liberdade na ação humana

Itens de resposta extensa

1. Lê com atenção o texto que se segue.

“Existem argumentos aparentemente irrefutáveis que demonstram que o livre-arbítrio é


incompatível com o determinismo. Existem, além disso, argumentos aparentemente
irrefutáveis que, caso sejam sólidos, demonstram que a existência de responsabilidade moral
implica a existência de livre-arbítrio e, por conseguinte, se o livre-arbítrio não existir, a
responsabilidade moral também não existe. É, contudo, evidente que a responsabilidade moral
existe: se não existisse tal coisa como a responsabilidade moral, nada seria culpa de ninguém e
é evidente que existem estados de coisas em relação aos quais podemos apontar o dedo e
dizer, com justiça, a certas pessoas: isto é culpa tua.”
Van Inwagen. (2008). “How to think about the problem of free will”, The Journal of Ethics 12(3-4), pp. 327-341
(adaptado)

Qual é a perspetiva defendida pelo autor do texto? Concordas com essa perspetiva? Porquê?
Na tua resposta deves:
– identificar o problema subjacente ao texto;
– identificar justificadamente a tese defendida pelo autor do texto;
– formular explicitamente a tua perspetiva pessoal em relação ao mesmo problema;
– formular argumentos a favor da tua perspetiva;
– formular objeções às perspetivas a que te opões.

2. Lê com atenção o texto que se segue:

“Mantenho a minha posição”, disse Lutero. “Não posso fazer outra coisa.” Lutero afirmou que
não podia fazer outra coisa, que a sua consciência tornava impossível retratar-se. É claro que
podia estar errado ou estar a exagerar deliberadamente a verdade. Mas mesmo que estivesse
– e talvez especialmente se estivesse – a sua declaração testemunha o facto de que não
isentamos simplesmente alguém da culpa ou do louvor por um ato por pensarmos que não
podia ter feito outra coisa. O que quer que seja que Lutero estava a fazer, não estava a tentar
fugir à responsabilidade.”
Daniel Dennett. (1984). Elbow Room: The Varieties of Free Will. Cambridge: MIT Press, p. 133

Concordas com a perspetiva defendida pelo autor do texto? Porquê?


Na tua resposta deves:
– identificar o problema subjacente ao texto;
– identificar justificadamente a tese defendida pelo autor do texto;
– formular explicitamente a sua perspetiva pessoal em relação ao mesmo problema;
– formular argumentos a favor da sua perspetiva;
– formular objeção(ões) à(s) perspetiva(s) a que se opõe.

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Questões – A dimensão pessoal e social da ética

Itens de seleção

1. Presta atenção aos juízos que se seguem e seleciona a opção que os classifica corretamente.

a) O João tem 9 anos.


b) O João é corajoso.
c) Alguns estados norte-americanos aboliram a pena de morte.
d) A pena de morte devia ser abolida.

(A) As alíneas a) e b) correspondem a juízos de facto e as alíneas c) e d) correspondem a juízos de valor.


(B) As alíneas a) e c) correspondem a juízos de facto e as alíneas b) e d) correspondem a juízos de valor.
(C) As alíneas b) e c) correspondem a juízos de facto e as alíneas a) e d) correspondem a juízos de valor.
(D) As alíneas a) e d) correspondem a juízos de facto e as alíneas b) e c) correspondem a juízos de valor.

2. Presta atenção às afirmações que se seguem e seleciona a opção correta.

a) Possuem um conteúdo normativo ou prescritivo.


b) A direção da adequação parte do juízo para a realidade.

(A) Ambas as alíneas dizem respeito aos juízos de valor.


(B) Ambas as alíneas dizem respeito aos juízos de facto.
(C) A alínea a) diz respeito aos juízos de facto e a alínea b) aos juízos de valor.
(D) A alínea a) diz respeito aos juízos de valor e a alínea b) aos juízos de facto.

3. O subjetivismo moral caracteriza-se por defender que…


(A) os juízos morais expressam crenças, pois veiculam informação verdadeira ou falsa acerca das
preferências pessoais de quem os formula.
(B) os juízos morais expressam crenças, pois veiculam informação objetivamente verdadeira ou falsa
acerca da realidade.
(C) os juízos morais não expressam crenças, pois não veiculam informação verdadeira ou falsa acerca
da realidade.
(D) os juízos morais expressam crenças, pois veiculam informação verdadeira ou falsa acerca das
preferências coletivas da sociedade a que pertence quem os formula.

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Questões – A dimensão pessoal e social da ética

4. O relativismo moral caracteriza-se por defender que…


(A) os juízos morais expressam crenças, pois veiculam informação verdadeira ou falsa acerca das
preferências pessoais de quem os formula.
(B) os juízos morais expressam crenças, pois veiculam informação objetivamente verdadeira ou falsa
acerca da realidade.
(C) os juízos morais não expressam crenças, pois não veiculam informação verdadeira ou falsa acerca
da realidade.
(D) os juízos morais expressam crenças, pois veiculam informação verdadeira ou falsa acerca das
preferências coletivas da sociedade a que pertence quem os formula.

5. O objetivismo moral caracteriza-se por defender que…


(A) os juízos morais expressam crenças, pois veiculam informação verdadeira ou falsa acerca das
preferências pessoais de quem os formula.
(B) os juízos morais expressam crenças, pois veiculam informação objetivamente verdadeira ou falsa
acerca da realidade.
(C) os juízos morais não expressam crenças, pois não veiculam informação verdadeira ou falsa acerca
da realidade.
(D) os juízos morais expressam crenças, pois veiculam informação verdadeira ou falsa acerca das
preferências coletivas da sociedade a que pertence quem os formula.

6. “Culturas diferentes têm códigos morais diferentes, por isso, não há verdades morais absolutas.”
Este argumento é usado para defender…
(A) apenas o subjetivismo.
(B) apenas o relativismo.
(C) apenas o objetivismo.
(D) o relativismo e o objetivismo.

7. Qual das seguintes afirmações pode ser utilizada para defender o relativismo?
(A) O relativismo é contraditório.
(B) O relativismo conduz ao conformismo.
(C) O relativismo torna impossível o progresso moral.
(D) O relativismo promove a tolerância.

8. Uma objeção ao subjetivismo é a ideia de que…


(A) se o valor de verdade dos juízos morais depende da perspetiva de cada um, então somos
virtualmente infalíveis de um ponto vista moral.
(B) se o valor de verdade dos nossos juízos morais depende da perspetiva de cada um, então estes
reportam-se apenas às nossas preferências.
(C) quando afirmamos “x é moralmente correto”, o que estamos realmente a afirmar é “Eu aprovo x”.
(D) quando afirmamos “x é moralmente correto”, o que estamos realmente a afirmar é “Viva x!”.

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Questões – A dimensão pessoal e social da ética

9. O relativismo cultural enfrenta a objeção seguinte.


(A) Se os relativistas tivessem razão, não poderíamos dizer que as culturas que praticam a escravatura
estão a fazer algo errado.
(B) Uma vez que existem muitas culturas, devemos tentar compreender as suas diferenças e aprender
a viver com elas.
(C) Se existisse a possibilidade de encontrarmos normas morais universalmente válidas, as diferenças
culturais desapareceriam.
(D) Uma vez que não há normas morais universalmente válidas, podemos condenar as outras culturas,
bem como a nossa.

10. “Assumir que existem factos morais independentes de qualquer perspetiva comprometer-nos-ia
com a existência de propriedades muito bizarras.”
Esta afirmação pode ser utilizada para objetar…
(A) o objetivismo e o relativismo.
(B) o relativismo e o subjetivismo.
(C) apenas o objetivismo.
(D) apenas o relativismo.

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Questões – A dimensão pessoal e social da ética

Itens de resposta restrita

1. Lê com atenção o texto que se segue.

“Imaginemos um homem às voltas pela cidade com uma lista de compras na mão. Ora,
obviamente, a relação entre a lista e as coisas que ele efetivamente compra é uma e a mesma,
quer a lista lhe tenha sido dada pela sua mulher quer ele tenha feito a sua própria lista; e há
uma relação diferente quando a lista é feita por um detetive que o segue para todo o lado. Se a
lista e aquilo que o homem acaba efetivamente por comprar não coincidirem, então o erro não
está na lista, mas sim no desempenho do homem (se a sua mulher lhe dissesse: “Vês! Diz aqui
manteiga e tu trouxeste margarina!”, dificilmente este responderia: “Que disparate! Vamos já
corrigir isso!” e alterava a palavra na lista para “margarina”); ao passo que, se o registo do
detetive e aquilo que o homem efetivamente comprou não coincidirem, então o erro está no
registo.”
Elizabeth Anscombe. (1957). Intention. Cambridge: MA, Harvard University Press,p. 56 (adaptado)

Seria adequado substituir a palavra “manteiga” pela palavra “margarina” na lista de compras utilizada
pelo marido, mas não na lista registada pelo detetive? Porquê?

2. Por que razão se diz que o subjetivismo tornaria impossível a existência de desacordos morais
genuínos?

3. Pode um subjetivista defender consistentemente que Hitler formulou um juízo falso quando pensou
que prender os judeus nos campos de concentração era moralmente aceitável? Porquê?

4. Avalia criticamente o argumento que se segue.

(1) Culturas diferentes têm códigos morais diferentes.


(2) Se culturas diferentes têm códigos morais diferentes, então não há verdades morais
objetivas.
(3) Logo, não há verdades morais objetivas.

5. Explica por que razão o relativismo é incompatível com a tolerância como valor universal.

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Questões – A dimensão pessoal e social da ética

Itens de resposta extensa

1. Lê com atenção o texto que se segue.

“Se eu gosto de x e tu não, então ‘x é bom’ é verdadeiro para mim e falso para ti. Usamos a
palavra ‘bom’ para falar acerca dos nossos sentimentos positivos. Nada é bom ou mau por si
mesmo, independentemente dos nossos sentimentos. Os valores existem apenas nas
preferências de cada indivíduo. Tu tens as tuas preferências e eu tenho as minhas; nenhuma
preferência é objetivamente correta ou incorreta.
Harry Gensler. (2011). Ethics: A Contemporary Introduction. Oxford: Routtedge, p. 18

Concordas com a perspetiva defendida no texto? Porquê?

Na tua resposta deves ter em atenção os seguintes aspetos:


– formular adequadamente o problema subjacente ao texto;
– identificar a posição defendida pelo autor do texto em relação a esse problema;
– apresentar a tua posição pessoal em relação ao mesmo;
– argumentar a favor da tua posição;
– argumentar contra as perspetivas a que te opões.

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Questões – A necessidade de fundamentação da moral
– análise comparativa de duas perspetivas filosóficas

Itens de seleção

1. Para as teorias consequencialistas, …


(A) a avaliação moral das ações depende exclusivamente das consequências.
(B) a avaliação moral das ações depende sobretudo das consequências.
(C) a avaliação moral das ações não depende em absoluto das consequências.
(D) a avaliação moral das ações depende sobretudo da intenção com que foram realizadas.

2. Para as teorias deontológicas, …


(A) a avaliação moral das ações depende exclusivamente das consequências.
(B) a avaliação moral das ações depende sobretudo das consequências.
(C) a avaliação moral das ações não depende em absoluto das consequências.
(D) a avaliação moral das ações não depende exclusivamente das consequências.

3. Para Kant, a única coisa que tem valor intrínseco é…


(A) a boa vontade.
(B) a coragem.
(C) o conhecimento.
(D) a felicidade.

4. De acordo com Kant, devemos agir segundo…


(A) imperativos hipotéticos, pois só estes permitem agir por puro dever.
(B) imperativos categóricos, pois só estes permitem agir por puro dever.
(C) imperativos hipotéticos, pois só estes permitem agir conforme o dever.
(D) imperativos categóricos, pois só estes permitem agir conforme o dever.

5. Para Kant, …
(A) as pessoas têm valor intrínseco, absoluto, isto é, dignidade, enquanto as coisas têm valor apenas
como meios para fins.
(B) as coisas têm valor intrínseco, absoluto, isto é, dignidade, enquanto as pessoas têm valor apenas
como meios para fins.
(C) tanto as coisas como as pessoas têm valor intrínseco, absoluto, isto é, dignidade.
(D) tanto as coisas como as pessoas têm valor apenas como meios para certos fins.

6. Para um utilitarista como Mill, a única coisa que tem valor intrínseco é…
(A) a boa vontade.
(B) a coragem.
(C) o conhecimento.
(D) a felicidade.

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Questões – A necessidade de fundamentação da moral – análise comparativa de duas perspetivas
filosóficas

7. De acordo com o Princípio da Maior Felicidade, …


(A) devemos promover a maior felicidade possível, desde que isso não implique sacrificar o bem-estar
de alguém.
(B) não devemos promover a maior felicidade possível, mesmo que isso não implique sacrificar o bem-
-estar de alguém.
(C) devemos promover a maior felicidade possível, ainda que isso implique sacrificar o bem-estar de
alguém.
(D) não devemos promover a maior felicidade possível, ainda que isso implique sacrificar o bem-estar
de alguém.

8. Imagina que a tua mãe está a planear uma viagem. Ela está a ponderar ir a Veneza ou a Paris.
Suponha-se que ir a Veneza dava um bem-estar de 8 à tua mãe, mas que os restantes três membros
da família ficariam cada um apenas com 2 de bem-estar. Pelo contrário, como a tua mãe já foi muitas
vezes a Paris, essa escolha dava-lhe apenas 3 de bem-estar, ao passo que os restantes elementos da
família ficariam com 8 cada um.
De acordo com o utilitarismo, …
(A) a decisão correta é ir a Paris, pois é aquela opção que produz a maior soma total de felicidade.
(B) a decisão correta é ir a Veneza, pois é aquela opção que produz a maior soma total de felicidade.
(C) a decisão correta é ir a Paris, pois esta opção não deixa nenhum dos membros tão mal como a
opção alternativa.
(D) a decisão correta é ir a Veneza, pois é aquela opção que produz a melhor felicidade para a mãe.

9. Mill defende que…


(A) todos os prazeres valem o mesmo, e para calcular a quantidade de prazer produzida por uma ação
basta multiplicar a sua intensidade pela sua duração.
(B) os prazeres corporais são qualitativamente melhores do que os prazeres espirituais.
(C) a felicidade não consiste apenas no prazer e na ausência de dor.
(D) os prazeres espirituais são qualitativamente melhores do que os prazeres corporais.

10.Uma possível crítica ao hedonismo consiste em afirmar que…


(A) as únicas coisas que têm valor intrínseco são o prazer e a ausência de dor.
(B) as únicas coisas que têm valor instrumental são o prazer e a ausência de dor.
(C) há coisas que têm valor intrínseco além do prazer e da ausência de dor.
(D) o prazer e a ausência de dor não possuem valor intrínseco.

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Questões – A necessidade de fundamentação da moral – análise comparativa de duas perspetivas
filosóficas

Itens de resposta restrita

1. Como se formula o problema da fundamentação da moral?

2. Qual é o princípio moral defendido pela ética utilitarista de Mill? Explica-o.

3. Como se distinguem os prazeres superiores e inferiores no hedonismo qualitativo?

4. Por que razão o bem último para Kant é a boa vontade, e não a felicidade?

5. Distingue imperativos hipotéticos de imperativos categóricos.

6. Lê com atenção o texto que se segue:

“Ficaria eu satisfeito de ver a minha máxima (de me tirar de apuros por meio de uma promessa
não verdadeira) tomar o valor de lei universal (tanto para mim como para os outros)? E poderia
eu dizer a mim mesmo: – Toda a gente pode fazer uma promessa mentirosa quando se acha
numa dificuldade de que não pode sair de outra maneira? Em breve reconheço que posso em
verdade querer a mentira, mas que não posso querer uma lei universal de mentir; pois,
segundo uma tal lei, não poderia propriamente haver já promessa alguma […]. Por conseguinte,
a minha máxima, uma vez arvorada em lei universal, destruir-se-ia a si mesma
necessariamente.”
Immanuel Kant. (1960). Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Coimbra: Atlântida
Partindo do texto, compara as perspetivas de Kant e Mill em relação à moralidade da mentira.

7. Lê com atenção o texto que se segue:

“Ora todos os imperativos ordenam ou hipotética ou categoricamente. Os hipotéticos


representam a necessidade prática de uma ação possível como meio de alcançar qualquer
outra coisa que se quer (ou que é possível que se queira). O imperativo categórico seria aquele
que nos representasse uma ação como objetivamente necessária por si mesma, sem relação
com qualquer outra finalidade.
[…] No caso de a ação ser apenas boa como meio para qualquer outra coisa, o imperativo é
hipotético; se a ação é representada como boa em si, por conseguinte, como necessária numa
vontade em si conforme à razão, como princípio dessa vontade, então o imperativo é
categórico.”
I. Kant. (2011). Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Lisboa: Edições 70

Segundo Kant, para que uma ação tenha valor moral deve ter subjacente um imperativo hipotético ou
categórico? Porquê?

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Questões – A necessidade de fundamentação da moral – análise comparativa de duas perspetivas
filosóficas

8. Lê com atenção o texto que se segue:

“Não existe sistema moral algum no qual não ocorram casos inequívocos de obrigações em
conflito. Estas são as verdadeiras dificuldades, os momentos intrincados na teoria ética e na
orientação conscienciosa da conduta pessoal. São ultrapassados, na prática, com maior ou
menor sucesso, segundo o intelecto e a virtude dos indivíduos; mas dificilmente pode alegar-se
que alguém está menos qualificado para lidar com eles por possuir um padrão último para o
qual podem ser remetidos os direitos e os deveres em conflito. Se a utilidade é a fonte última
das obrigações morais, pode ser invocada para decidir entre elas quando as suas exigências são
incompatíveis. Embora a aplicação do padrão possa ser difícil, é melhor do que não ter padrão
algum […].”
S. Mill. (2005). Utilitarismo. Lisboa: Gradiva

Stuart Mill afirma que “a utilidade é a fonte última das obrigações morais”. Esclarece o conceito de
“utilidade”, integrando-o na ética de Stuart Mill.

9. Lê o texto seguinte.

“É na verdade conforme ao dever que o merceeiro não suba os preços ao comprador


inexperiente, e, quando o movimento do negócio é grande, o comerciante esperto também
não faz semelhante coisa, mas mantém um preço fixo geral para toda a gente, de forma que
uma criança pode comprar no seu estabelecimento tão bem como qualquer outra pessoa. É-se,
pois, servido honradamente; mas isso ainda não é bastante para acreditar que o comerciante
assim proceda por dever e por princípios de honradez; o seu interesse assim o exige […].”
I. Kant. (1988). Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Lisboa: Edições 70, p. 27 (adaptado)

Distingue, partindo do exemplo dado por Kant, agir por dever de agir em conformidade com o dever.

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Questões – A necessidade de fundamentação da moral – análise comparativa de duas perspetivas
filosóficas

Itens de resposta extensa

1. Lê o seguinte texto.

“Suponhamos que um xerife se encontra perante a seguinte escolha: ou incrimina um negro


por uma violação que incitou a hostilidade para com os negros (negro esse que é tido como
culpado pela generalidade da população, mas que o xerife sabe que é inocente) – evitando,
desse modo, perigosos motins anti-negros que muito provavelmente acabariam por levar à
perda de vidas e ao aumento do ódio mútuo quer da parte dos brancos quer da parte dos
negros – ou persegue o culpado, permitindo, assim, que os motins anti-negros venham a
ocorrer.”
H. J. McCloskey. (1957). “An Examination of Restricted Utilitarianism”, The Philosophical Review 66(4), p. 468
(texto com supressões)

O que deve o xerife fazer?


a) Como responderia um utilitarista como Mill a essa questão? Porquê?
b) Como responderia um deontologista como Kant a essa questão? Porquê?
c) Com qual das duas perspetivas concordas? Porquê?

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Questões – O problema da justiça social

Itens de seleção

1. De acordo com John Rawls, a escolha dos princípios da justiça requer…


(A) que se conheça o lugar que se ocupa na sociedade.
(B) que não se tenha interesse em obter bens sociais primários.
(C) que cada um conheça o seu projeto de vida.
(D) imparcialidade.

2. Na experiência mental apresentada por John Rawls para escolher os princípios da justiça, o “véu de
ignorância” faz com que as partes que se encontram na posição original a negociar os princípios da
justiça desconheçam...
(A) quais são os bens sociais primários.
(B) o lugar que as pessoas vão ocupar na sociedade e quais são as suas peculiaridades individuais.
(C) que tipo de coisas são valiosas seja qual for o projeto de vida adotado.
(D) o facto de as pessoas terem interesse em liberdades, oportunidades, rendimento e riqueza.

3. John Rawls advoga que os princípios da justiça têm uma ordem de prioridade. A ordem estabelecida
na teoria de Rawls é a seguinte:
(A) 1 – princípio da diferença; 2 – princípio da oportunidade justa; 3 – princípio da liberdade igual.
(B) 1 – princípio da oportunidade justa; 2 – princípio da liberdade igual; 3 – princípio da diferença.
(C) 1 – princípio da liberdade igual; 2 – princípio da diferença; 3 – princípio da oportunidade justa.
(D) 1 – princípio da liberdade igual; 2 – princípio da oportunidade justa; 3 – princípio da diferença.

4. O princípio da liberdade igual visa assegurar…


(A) que o livre-arbítrio é verdadeiro e o determinismo é falso.
(B) que o livre-arbítrio é compatível com o determinismo.
(C) um conjunto de liberdades cívicas de expressão, religião, reunião, etc.
(D) que as liberdades podem ser violadas em troca de vantagens económicas para os mais
desfavorecidos.

5. Segundo a teoria da justiça de John Rawls, as desigualdades na distribuição de riqueza...


(A) são permissíveis se resultam de uma igualdade de oportunidades.
(B) são permissíveis se trazem benefícios para os mais desfavorecidos.
(C) são permissíveis se resultam de uma igualdade de oportunidades e trazem benefícios para os mais
desfavorecidos.
(D) nunca são permissíveis.

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Questões – O problema da justiça social

6. Segundo Rawls, o princípio da oportunidade justa tem o propósito de…


(A) minimizar a lotaria social.
(B) minimizar a lotaria natural.
(C) minimizar a diferença de dotes naturais e talentos entre as pessoas.
(D) minimizar as contingências naturais das pessoas.

7. Segundo Rawls, o princípio da diferença tem o propósito de…


(A) minimizar a lotaria social.
(B) minimizar a lotaria natural.
(C) minimizar a diferença entre os contextos socioeconómicos.
(D) minimizar as contingências sociais das pessoas.

8. Imagine-se os seguintes padrões de distribuição de bens sociais primários (de 0 a 10) em sociedades
com apenas cinco pessoas:
• Sociedade I: 1, 10, 10, 10, 2. Total: 33.
• Sociedade II: 6, 7, 7, 6, 6. Total: 32.
• Sociedade III: 5, 5, 5, 5, 5. Total: 25.

Na teoria da justiça de Rawls, com o “véu de ignorância” e seguindo a regra maximin, podemos concluir
que...
(A) a sociedade I é a mais justa.
(B) a sociedade II é a mais justa.
(C) a sociedade III é a mais justa.
(D) qualquer uma das sociedades é justa desde que respeite a liberdade individual.

9. Com a experiência mental de Wilt Chamberlain, Robert Nozick pretende criticar a teoria da justiça de
Rawls, nomeadamente, …
(A) o princípio da liberdade igual.
(B) o princípio da oportunidade justa.
(C) o princípio da diferença.
(D) o princípio da titularidade.

10. Michael Sandel, com o seu comunitarismo, critica a teoria da justiça de Rawls. Sandel defende,
nomeadamente, que…
(A) as deliberações e as decisões realizadas a coberto do “véu de ignorância” são moralmente cegas.
(B) a teoria da justiça de Rawls permite muitas desigualdades.
(C) os impostos para garantir o funcionamento do princípio da diferença equivalem a trabalhos
forçados, uma espécie de escravidão.
(D) os princípios da justiça conduzem a uma limitação da liberdade individual.

256 © editável e fotocopiável | Como pensar tudo isto? – Filosofia · 10.° ano
Questões – O problema da justiça social

Itens de resposta restrita

1. Por que razão John Rawls recorre à experiência mental do “véu de ignorância” para escolher os
princípios da justiça?

2. Caracteriza os princípios da justiça de acordo com Rawls.

3. O que significa a regra maximin?

4. Por que razão se seguirmos a regra maximin, sob o “véu de ignorância”, escolheremos o princípio da
oportunidade justa e o princípio da diferença?

5. Será que se seguirmos a regra maximin, sob o “véu de ignorância”, escolheremos um princípio
utilitarista? Porquê?

6. Lê com atenção o texto que se segue:

“Para nos podermos queixar da conduta e das crenças de outros, temos de demonstrar que
essas ações nos ferem ou que as instituições que as permitem nos tratam de forma injusta. E
isto significa que temos de apelar para os princípios que escolheríamos na posição original.
Contra estes princípios, nem a intensidade do sentimento nem o facto de ele ser partilhado
pela maioria têm qualquer relevância.”
John Rawls. (2001). Uma Teoria da Justiça. Lisboa: Editorial Presença

Qual a função da “posição original” na teoria da justiça de John Rawls?

7. Lê o texto seguinte.

“Dadas as circunstâncias da posição original, [nomeadamente] a simetria das relações que


entre todos se estabelecem, esta situação inicial coloca os sujeitos, vistos como entidades
morais, isto é, como seres racionais com finalidades próprias e – parto desse princípio –
capazes de um sentido de justiça, numa situação equitativa.”
John Rawls. (2001). Uma Teoria da Justiça. Lisboa: Editorial Presença, p. 34 (adaptado)

Explica, a partir do texto, por que razão Rawls considera que a posição original “coloca os sujeitos […]
numa situação equitativa”.

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Questões – O problema da justiça social

Itens de resposta extensa

1. Lê a seguinte notícia.

“O Bloco de Esquerda quer limitar a distância salarial entre a base e o topo das empresas, ou
seja, entre os trabalhadores e os seus gestores e administradores. ‘A proposta do BE é que
todas as empresas que ultrapassem esse leque de distância deixem de ter acesso a benefícios
fiscais, a outros benefícios do Estado ou até à contratação pública. O Estado passa a privilegiar
empresas que têm a igualdade salarial como um critério na sua política de remunerações’,
disse Mariana Mortágua. Para as empresas em que ‘a proporção entre o salário mais alto e o
salário mais baixo é muito elevada’ haverá penalizações, em ‘valor a definir por portaria do
Governo’. Aos jornalistas, a deputada Mariana Mortágua referiu o caso da EDP e do seu
administrador António Mexia, dizendo que o gestor ganha num mês aquilo que os
trabalhadores da empresa com um salário de cerca de 900 euros precisam de trabalhar seis
anos para conseguir acumular, acrescentando ainda que a estagnação dos salários dos
trabalhadores nos anos de crise não foi acompanhada no lado das administrações, que viram as
suas remunerações crescer em cerca de 40%.”
www.rtp.pt (texto com supressões)

a) Será que a teoria da justiça de John Rawls considera legítima a distribuição desigual de benefícios
fiscais proposta no texto? Porquê?
b) O que pensaria um libertarista, como Robert Nozick, da medida proposta? Porquê?
c) Com qual das duas perspetivas concordas? Porquê?

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Soluções/Cenários de resposta

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA E AO FILOSOFAR


Itens de seleção

1. C
6. C
2. A
7. C
3. A
8. B
4. B
9. D
5. C
10. A

Itens de resposta restrita

1.1 O problema que está a ser discutido neste texto é o seguinte: “Temos a obrigação de ajudar quem vive na
pobreza absoluta?”. Trata-se de um problema filosófico porque não se pode resolver apenas com métodos
empíricos ou a posteriori (utilizados nas ciências) nem com métodos formais de prova (utilizados na
matemática). É um problema que se resolve fundamentalmente de forma a priori, com recurso à discussão
crítica e à análise argumentativa.
1.2 Trata-se de um problema discutido no âmbito da ética ou da filosofia moral.
1.3 O autor do texto responde afirmativamente ao problema colocado, ou seja, defende que temos a obrigação
de ajudar quem vive na pobreza absoluta.
1.4 O autor do texto serve-se do facto de sentirmos que, caso uma criança estivesse a afogar-se num lago à nossa
frente, teríamos a obrigação de a salvar para justificar o seguinte princípio: “Se estiver nas nossas mãos evitar
que aconteça um grande mal, sem com isso sacrificarmos nada de importância moral comparável, devemos
fazê-lo”.
Em seguida, o autor nota que, tal como o afogamento da criança, a pobreza absoluta também é um grande
mal que podemos evitar sem sacrificar nada de importância moral comparável e, portanto, também é algo
que temos o dever de evitar. Este argumento pode ser explicitamente formulado assim:

(1) Se estiver nas nossas mãos evitar que aconteça um grande mal, sem com isso sacrificarmos nada de
importância moral comparável, devemos fazê-lo.
(2) A pobreza absoluta é um mal.
(3) Podemos evitar alguma pobreza absoluta sem sacrificar nada de importância moral comparável.
(4) Logo, devemos evitar alguma pobreza absoluta.

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Soluções/Cenários de resposta

LÓGICA FORMAL
Itens de seleção

1. A
6. D
2. D
7. A
3. A
8. C
4. D
9. A
5. B
10. D

Itens de resposta restrita

1. Não, porque o compromisso que o João assumiu foi condicional: ele afirmou que o facto de estar a chover no
dia seguinte seria uma condição suficiente para ele levar guarda-chuva, mas não assumiu compromissos para
o caso de não estar a chover. Assim, para saber se o João faltou à sua palavra precisaríamos de saber se de
facto estava a chover no dia seguinte ou não. Apenas no caso de estar a chover poderíamos dizer que o João
faltou à sua palavra; caso contrário, a condicional seria verdadeira.
2. Dizer que duas fórmulas são logicamente equivalentes é o mesmo que dizer que elas são duas formas
diferentes de expressar a mesma coisa. Pode-se mostrar essa equivalência através da construção de tabelas de
verdade; caso duas ou mais fórmulas apresentem os mesmos valores de verdade em todas as circunstâncias
possíveis, isso significa que elas são logicamente equivalentes.
No que diz respeito ao exercício em questão, e como se pode constatar através da análise da tabela (ver
abaixo), qualquer circunstância que torne uma destas fórmulas verdadeiras também torna as outras duas
verdadeiras, e qualquer circunstância que torne uma destas fórmulas falsa também torna as outras duas falsas,
o que significa que as três fórmulas são logicamente equivalentes.

P Q (P ˅ Q) (¬ Q → P) (¬ P→ Q)
V V V F V V F V V
V F V V V V F V F
F V V F V F V V V
F F F V F F V F F

3. A conclusão do argumento terá de ser a seguinte: “Se a vida faz sentido, então Deus existe”. De acordo com a
regra da contraposição, a partir de uma proposição condicional como “Se P, então Q”, pode inferir-se
validamente que “Se não Q, então não P”. Isto acontece porque na condicional estabelece-se que a
consequente é uma condição necessária para a antecedente. Ora, isto significa que se essa condição não se
verificar, então a antecedente não pode verificar-se. Por exemplo, se é verdade que “Se somos portugueses,
somos europeus”, então é verdade que “Se não somos europeus, não somos portugueses”.
Isto também pode ser mostrado pela construção de um inspetor de circunstâncias. Sendo P a abreviatura da
proposição simples “Deus existe” e Q a abreviatura da proposição simples “A vida faz sentido”, a proposição
complexa “Se Deus não existe, a vida não faz sentido” tem a seguinte formulação: (¬ P → ¬ Q); por sua vez, a
proposição complexa “Se a vida faz sentido, então Deus existe” tem a seguinte formulação: ( Q → P). Como se
pode constatar no inspetor de circunstâncias, não há qualquer circunstância em que as premissas sejam
verdadeiras e a conclusão falsa. Por isso, estamos perante um argumento válido.

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Soluções/Cenários de resposta

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Soluções/Cenários de resposta

P Q (¬ P → ¬Q) ∴(Q → P)
V V F V V FV V V V
V F F V V VF F V V
F V V F F FV V F F
F F V F V VF F V F

4. Sim, porque podemos completar o argumento escrevendo “Podemos mentir para salvar a vida de um amigo”
na segunda premissa. Deste modo, ao negar a consequente da condicional presente na primeira premissa,
obtemos validamente, por modus tollens, a conclusão. Esta forma de inferência é válida porque se afirma na
primeira premissa que para que seja sempre errado mentir é necessário que não possamos mentir para salvar
a vida de um amigo; na segunda premissa afirma-se que aquilo que era necessário para que fosse sempre
errado mentir não se verifica, porque se diz que podemos mentir para salvar a vida de um amigo e, por
conseguinte, podemos concluir validamente que não é sempre errado mentir.
5. Não, porque a forma lógica subjacente ao argumento apresentado corresponde a uma forma falaciosa,
designadamente, à falácia da afirmação da consequente. Este argumento tem a mesma forma do que o
seguinte:

(1) Se estou em Lisboa, então estou em Portugal.


(2) Estou em Portugal.
(3) Logo, estou em Lisboa.

Na premissa (1) diz-se que estar em Lisboa é suficiente para se estar em Portugal, mas não se diz que para
estarmos em Portugal é necessário estarmos em Lisboa. Assim, acrescentar a essa premissa o simples facto de
que estamos em Portugal não nos permite concluir validamente que estamos em Lisboa, pois podemos estar
em qualquer outra cidade portuguesa.
No argumento em causa acontece algo análogo: afirma-se que o facto de os nossos sentidos não serem
enganadores é suficiente para termos conhecimento, mas não se diz que é necessário. Por esse motivo,
acrescentar a essa premissa o simples facto de que temos conhecimento não nos permite concluir que “Os
nossos sentidos não são enganadores”, pois podemos ter conhecimento por outras vias.
Podemos também mostrar que um argumento com essa estrutura seria inválido, através da construção de um
inspetor de circunstâncias. Pois, sendo P a abreviatura de “Os nossos sentidos são enganadores” e Q a
abreviatura de “Temos conhecimento”, o argumento tem a seguinte estrutura: (¬ P → Q), Q ∴ ¬ P.
Ora, se fizermos um inspetor de circunstâncias, constatamos que há uma circunstância em que as premissas
são todas verdadeiras e a conclusão falsa. Por isso, não se pode concluir validamente que “Os nossos sentidos
não são enganadores” a partir daquelas premissas apresentadas no enunciado.

P Q (¬ P → Q) Q ∴ ¬ P
V V F V V V V F V
V F F V V F F F V
F V V F V V V V F
F F V F F F F V F

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Soluções/Cenários de resposta

Itens de resposta restrita

1. O argumento de Sócrates, representado canonicamente, é o seguinte:


(1) Se o bem depende da vontade dos deuses, então alguma coisa é boa pelo motivo de os deuses a
desejarem e o bem é algo arbitrário.
(2) Não é verdade que alguma coisa seja boa pelo motivo de os deuses a desejarem e que o bem seja algo
arbitrário.
(3) Logo, o bem não depende da vontade dos deuses.
O dicionário para o argumento de Sócrates é o seguinte:
P = O bem depende da vontade dos deuses.
Q = Alguma coisa é boa pelo motivo de os deuses a desejarem.
R = O bem é algo arbitrário.
O argumento de Sócrates tem a seguinte formalização:
(1) ( P → ( Q ˄ R ))
(2) ¬ ( Q ˄ R )
(3) ∴ ¬ P
Para determinar se o argumento de Sócrates é válido ou inválido podemos construir o seguinte inspetor de
circunstâncias:

P Q R (P → (Q ˄ R)) ¬( Q ˄ R) ∴ ¬ P
V V V V V V V V F V V V F V
V V F V F V F F V V F F F V
V F V V F F F V V F F V F V
V F F V F F F F V F F F F V
F V V F V V V V F V V V V F
F V F F V V F F V V F F V F
F F V F V F F V V F F V V F
F F F F V F F F V F F F V F

Um argumento é válido quando é impossível ter as premissas todas verdadeiras e conclusão falsa. Ou seja, se
um argumento é válido, não há qualquer circunstância em que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão
falsa.
Ora, o argumento em análise é válido precisamente porque não há qualquer circunstância (linha) em que as
premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. Pelo contrário, nas circunstâncias em que as premissas são
verdadeiras (isto é, as três últimas linhas), a conclusão também é verdadeira.
O argumento de Sócrates corresponde a uma instância de modus tollens, pois na primeira premissa temos uma
condicional, na segunda premissa nega-se a consequente da condicional e na conclusão nega-se a antecedente
da condicional. Ou seja, o argumento de Sócrates segue a seguinte forma argumentativa válida: (A → B), ¬ B ∴
¬ A, sendo A = P e B = (Q ˄ R).
Podemos concluir, assim, que o argumento de Sócrates é válido por modus tollens.

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Soluções/Cenários de resposta

LÓGICA INFORMAL

Itens de seleção

1. D
6. A
2. A
7. B
3. C
8. C
4. A
9. A
5. C
10. D

Itens de resposta restrita

1. Nos argumentos dedutivos pretende-se que a verdade das premissas seja suficiente para garantir ou
estabelecer a conclusão, ao passo que nos argumentos não-dedutivos o que se pretende é apenas que a
verdade das premissas apoie ou suporte a conclusão.
Assim, pode haver argumentos que, embora sejam maus argumentos dedutivos, são bons argumentos não-
-dedutivos, pois apesar de a verdade das suas premissas não ser suficiente para garantir ou estabelecer a
verdade da sua conclusão, ela é suficiente para a apoiar ou suportar.
2. Os argumentos por analogia são aqueles que se baseiam na semelhança (ou analogia) entre coisas diferentes.
A ideia é que se duas coisas são semelhantes em vários aspetos relevantes, elas serão também semelhantes
noutro aspeto ainda não considerado. Mas há alguns critérios para avaliar se um determinado argumento por
analogia é bom ou mau. Em primeiro lugar, as semelhanças têm de ser relevantes com respeito à conclusão.
Em segundo lugar, é preciso que o número de semelhanças relevantes com respeito à conclusão seja suficiente.
Por último, é preciso que não existam diferenças relevantes com respeito à conclusão. Caso se desrespeite
algum destes critérios, comete-se a falácia da falsa analogia, como no seguinte caso: “À semelhança dos
animais não-humanos, as plantas também são seres vivos. Portanto, se não devemos comer animais não-
-humanos, também não devemos comer plantas.”
3. O argumento em análise é um argumento não-dedutivo de autoridade. Os argumentos de autoridade são
usados quando defendemos ideias que as pessoas, em geral, não estão habilitadas a justificar por si próprias,
sendo necessário confiar na competência técnica de outrem. Contudo, muitos argumentos de autoridade são
utilizados de forma abusiva. É isso que ocorre com o argumento que estamos a analisar. O argumento em
consideração não é bom porque viola o seguinte critério de avaliação: o que é afirmado num argumento de
autoridade deve ser largamente consensual entre as autoridades da área. Dessa forma, o argumento
apresentado no enunciado comete a falácia do apelo ilegítimo à autoridade, dada a falta de consenso entre
especialistas sobre o tema da imortalidade da alma.
4. Podemos caracterizar uma falácia como um argumento que parece bom, mas não o é, ou seja, é um argumento
enganador que apenas dá a ilusão de oferecer razões para que se aceite uma determinada proposição, quando
na realidade não as oferece. Mas pode-se fazer uma distinção entre falácias formais e informais. Uma falácia
formal é uma dedução inválida que parece válida (como a falácia da afirmação da consequente ou da negação
da antecedente). Uma falácia informal é um erro de argumentação que não depende da forma lógica do
argumento; o seu caráter enganador deve-se ao seu conteúdo (como a generalização precipitada, a falsa
analogia, o apelo ilegítimo à autoridade, entre outros).

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Soluções/Cenários de resposta

5. A falácia presente no texto é um caso de falácia da derrapagem (também denominada “bola de neve” ou
“declive escorregadio”). A falácia da derrapagem é um argumento em que, para mostrar que uma tese é
inaceitável, é apresentada, pelo menos, uma premissa falsa ou duvidosa numa série de consequências
progressivamente inaceitáveis. No caso em análise, a aceitação da clonagem não implica a clonagem
reprodutiva, nem o eugenismo, nem o racismo, nem novas modalidades de escravatura.

Itens de resposta extensa

1. Na segunda premissa faz-se referência a uma propriedade moral de um dos casos; isto é, que é permissível
desligarmo-nos do violinista.
Por fim, infere-se na conclusão que o outro caso (o do feto) também tem essa propriedade moral, ou seja, é
permissível uma mulher grávida desligar-se do feto.
Para um argumento não-dedutivo de analogia ser forte terá de respeitar os seguintes critérios de avaliação:
1) as semelhanças têm de ser relevantes com respeito à conclusão;
2) é preciso que o número de semelhanças relevantes com respeito à conclusão seja suficiente;
3) é preciso que não existam diferenças relevantes com respeito à conclusão.
Tendo em conta estes critérios, podemos colocar em causa a força da analogia que o argumento visa
estabelecer.
Deste modo, podemos afirmar que, em aspetos relevantes, a situação de quem é raptado pelos melómanos
não é como a situação normal de uma mulher grávida; ou seja, há diferenças relevantes e o critério (3) é
violado.
Isto porque, em primeiro lugar, ao passo que o violinista é um estranho para a pessoa raptada, o feto é filho da
mulher grávida. Ora, como os pais têm uma obrigação muito forte de cuidar dos seus filhos, o juízo de que
seria permissível desligarmo-nos do músico não autoriza a conclusão de que o aborto é aceitável.
Em segundo lugar, não somos minimamente responsáveis pelo facto de o violinista depender de nós para se
manter vivo, mas (em casos típicos em que não há violação nem ignorância desculpável) a mulher grávida é
responsável pelo facto de o feto estar dependente de si.
Por esta razão, apesar de não termos a obrigação de manter o músico vivo, isso não é suficiente para
concluirmos que a mulher grávida deve manter a vida do feto. Por isso, podemos sustentar que o argumento
comete a falácia da falsa analogia.

DETERMINISMO E LIBERDADE NA AÇÃO HUMANA

Itens de seleção

1. A
6. A
2. B
7. A
3. D
8. D
4. C
9. A
5. B
10. A

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Soluções/Cenários de resposta

Itens de resposta restrita

1. Só o libertismo aceitaria este argumento porque apenas esta teoria aceita a incompatibilidade entre o
determinismo e o livre-arbítrio – o que corresponde à premissa (1) –, ao mesmo tempo que sustenta que o
livre-arbítrio é verdadeiro – na premissa (2) –, ao passo que o determinismo é falso (na conclusão).
Os deterministas moderados, apesar de defenderem a premissa (2), não aceitariam a conclusão nem a
premissa (1), pois sustentam a compatibilidade entre o determinismo e o livre-arbítrio.
Por fim, os deterministas radicais, embora aceitem a premissa (1), rejeitam quer a premissa (2) quer a
conclusão.
2. Espinosa está a criticar no seu texto o libertismo, ao defender que o determinismo é verdadeiro e que o livre-
-arbítrio é uma mera ilusão. Deste modo, a experiência ou sensação de liberdade não garantem que somos
realmente livres, pois podemos ter uma ilusão de que somos livres. Ou seja, podemos ter a experiência ou
sensação de liberdade simplesmente porque desconhecemos todas as causas que determinam as nossas
ações.
3. O autor defende o determinismo moderado, pois, ainda que os nossos desejos estejam determinados, somos
livres desde que possamos agir em conformidade com os mesmos. Ou seja, desde que não existam
constrangimentos exteriores, tal como alguém a impedir-nos de concretizar os nossos desejos.
4. Esta afirmação pode ser utilizada para objetar o libertismo, pois, de acordo com esta perspetiva, para que uma
ação seja livre, esta não pode ser determinada. Contudo, uma ação completamente não-determinada (ou seja,
aleatória) também não é algo que possamos controlar. E se não podemos controlar uma ação, então também
não podemos ser livres com respeito a ela (dado que ser livre implica um ato voluntário e, por isso, envolve
controlo da nossa parte).
5. Esse facto pode permitir objetar o determinismo radical, pois, de acordo com esta perspetiva, o passado e as
leis da natureza determinam a cada instante um único futuro (como se a história do universo fosse uma linha
de comboio sem bifurcações).
Ora, se em cada instante há apenas um único futuro possível, então não faz sentido responsabilizar as pessoas
por aquilo que fazem. Contudo, pode-se argumentar que podemos responsabilizar as pessoas pelos seus atos,
pelo que podemos concluir que o determinismo radical é falso.
6. A perspetiva defendida no texto é a tese do determinismo radical, pois o autor sustenta que o livre-arbítrio é
apenas uma ilusão que resulta do facto de termos consciência dos nossos desejos, mas desconhecermos as
causas que os determinam.
7. Segundo os deterministas radicais, essa “sensação interior de liberdade” é uma ilusão. Uma tal ilusão resulta
do desconhecimento das causas das nossas crenças e dos nossos desejos ou das causas que nos levam a agir
de uma determinada forma. Se conhecêssemos as causas das nossas crenças e dos nossos desejos ou as causas
que nos levam a agir de uma determinada forma, compreenderíamos que a nossa ação resulta dessas causas,
e não da nossa vontade livre.

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Soluções/Cenários de resposta

Itens de resposta extensa

1. O problema subjacente ao texto é o problema de saber se temos, ou não, livre-arbítrio. Dizer que temos livre-
-arbítrio é o mesmo que dizer que temos uma vontade livre, ou seja, é o mesmo que dizer que podemos
controlar pelo menos algumas das coisas que fazemos e/ou escolhemos fazer. Assim, o problema que está aqui
em causa é o de saber se algumas das nossas escolhas e/ou ações dependem, em última análise, de nós, da
nossa vontade.
A tese defendida pelo autor do texto é o libertismo. O libertismo caracteriza-se por defender as seguintes
proposições:
i) o livre-arbítrio é incompatível com o determinismo;
ii) temos livre-arbítrio; e, por isso, segue-se que
iii) nem tudo está determinado.
Ora, uma vez que o autor refere a existência de argumentos aparentemente irrefutáveis que demonstram a
incompatibilidade do livre-arbítrio com o determinismo, parece estar comprometido com i).
Além disso, o autor parece subscrever o seguinte argumento:
(1) Se não temos livre-arbítrio, então não temos responsabilidade moral (isto é, não somos moralmente
responsáveis por nada do que fazemos).
(2) Mas é evidente que somos moralmente responsáveis por algumas das coisas que fazemos.
(3) Logo, temos livre-arbítrio. [De 1 e 2, por modus tollens]
Assim sendo, parece que também subscreve a ideia expressa em ii). Por fim, uma vez que subscreve as teses i)
e ii), o autor está forçosamente comprometido com a tese iii), visto que esta se segue das mesmas.
Eu concordo com o autor do texto. Na minha opinião, se o determinismo é verdadeiro, então as nossas ações
são a consequência das leis da natureza e de eventos que ocorreram num passado remoto. Mas não somos
capazes de alterar as leis da natureza nem os eventos que ocorreram num passado remoto. Ora, se as nossas
ações são a consequência das leis da natureza e de eventos que ocorreram num passado remoto, e não somos
capazes de alterar essas coisas, então não temos possibilidades alternativas. Se não temos possibilidades
alternativas, então não temos livre-arbítrio. Portanto, se o determinismo fosse verdadeiro, não seríamos livres.
Com base neste argumento não posso aceitar o determinismo moderado, dado que aceito que o determinismo
e o livre-arbítrio são incompatíveis.
Deste modo, uma vez que, tal como foi demonstrado através do argumento da responsabilidade moral, temos
efetivamente livre-arbítrio, podemos concluir que o determinismo é falso.
Outra boa razão para rejeitar o determinismo é o facto de que o determinismo implica que não temos livre-
-arbítrio, mas, aparentemente, não somos capazes de viver, de fazer escolhas e de agir sem pressupor que, de
facto, temos livre-arbítrio. Por exemplo, se alguém nos desatar a bater, a menos que se trate de uma pessoa
com algum tipo de perturbação mental ou compulsão, é inevitável pensarmos que está no seu poder parar de
o fazer, se assim o desejar.
Por isso, julgo que o libertismo é a teoria que tem os melhores argumentos do seu lado, quando comparada
com as perspetivas rivais.
2. O problema subjacente ao texto é o problema da compatibilidade entre livre-arbítrio e determinismo. Este
problema pode ser explicitamente formulado conforme se segue: Será o livre-arbítrio compatível com o
determinismo? No contexto desta discussão, afirmar que temos livre-arbítrio é o mesmo que dizer que algumas

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Soluções/Cenários de resposta

das coisas que acontecem dependem de nós. Ora, o determinismo corresponde à tese de que todos os
acontecimentos são a consequência necessária do passado e das leis da natureza. Assim, o problema aqui em
causa é o problema de saber se algum acontecimento pode depender de nós, sendo que se trata da
consequência necessária de coisas que nós não controlamos, como o passado e as leis da natureza.
Este problema opõe os compatibilistas – que defendem que apesar da aparente tensão entre estas duas ideias
é possível encontrar uma forma de as compatibilizar – aos incompatibilistas – que sustentam que estas ideias
são absolutamente inconciliáveis.
O autor do texto parece estar a defender o compatibilismo, pois sustenta que mesmo que o mundo seja
determinista, ou seja, mesmo que tudo o que fazemos seja causado pelo passado e pelas leis da natureza e,
por conseguinte, não tenhamos a possibilidade de agir de um modo diferente daquele como efetivamente
agimos, podemos ainda assim, ter livre-arbítrio e ser responsabilizados por algumas das coisas que fazemos.

Opção A: Eu concordo com a perspetiva defendida pelo autor do texto. Não aceito o incompatibilismo, pois
penso que o principal argumento a favor desta perspetiva, o argumento da consequência, não é sólido. Este
argumento pode ser resumidamente apresentado conforme se segue:
(1) Se o determinismo é verdadeiro, então não temos possibilidades alternativas.
(2) Se não temos possibilidades alternativas, então não temos livre-arbítrio.
(3) Logo, se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre-arbítrio.
Na minha opinião, este argumento falha porque a premissa (2) é falsa. Como mostram os casos de Frankfurt.
Num típico Caso de Frankfurt existe uma circunstância C tal que:
Um agente, A, toma uma determinada decisão D;
Se A não decidir D, por si mesmo, C entra em ação e força A a decidir D;
C em nada contribui para que A decida D.
Por exemplo, suponhamos que Jones é contratado para matar o Presidente e que, para assegurar que este não
muda de opinião antes de finalizar a tarefa, é-lhe implantado um dispositivo no cérebro, de tal maneira que
caso este não decidisse por si mesmo matar o Presidente, o dispositivo seria ativado e forçaria Jones a tomar
essa decisão. Contudo, uma vez que Jones toma por si mesmo a decisão de matar o Presidente, o dispositivo
não chega a ser ativado e, portanto, em nada contribui para essa decisão. Nestas circunstâncias, Frankfurt
acredita que apesar de não ter possibilidades alternativas, Jones tem livre-arbítrio, visto que tomou a decisão
de matar o Presidente por sua livre e espontânea vontade.
Assim, para sustentar a minha posição posso apresentar o seguinte argumento:
(1) Temos livre-arbítrio, se e só se, algumas das coisas que acontecem dependem fundamentalmente da
nossa vontade.
(2) Ainda que o determinismo seja verdadeiro e não existam possibilidades alternativas, algumas das coisas
que acontecem dependem fundamentalmente da nossa vontade (tal como demonstram os Casos de
Frankfurt).
(3) Logo, ainda que o determinismo seja verdadeiro e não existam possibilidades alternativas, temos livre-
-arbítrio.
A premissa (1) corresponde apenas a uma definição de livre-arbítrio. A premissa (2) pode ser justificada com base
nos Casos de Frankfurt. A conclusão segue-se validamente da premissa (2) e da equivalência presente na premissa
(1).

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Soluções/Cenários de resposta

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Soluções/Cenários de resposta

Opção B: Eu não concordo com o autor do texto. Na minha opinião o incompatibilismo é verdadeiro, pois, num
universo determinista, todos os acontecimentos (incluindo as nossas ações) são a consequência de
acontecimentos que ocorreram num passado remoto e das leis da natureza, que são coisas que nós não
controlamos e, por conseguinte, não faria sentido afirmar que algumas das coisas que acontecem dependem
de nós, ou seja, não faria sentido afirmar que temos livre-arbítrio. Este argumento pode ser resumido conforme
se segue:
(1) Se o determinismo é verdadeiro, então não temos possibilidades alternativas.
(2) Se não temos possibilidades alternativas, então não temos livre-arbítrio.
(3) Logo, se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre-arbítrio.
A premissa (1) decorre da própria definição de determinismo. O determinismo é a tese de que tudo o que
acontece é a consequência necessária do passado e das leis da natureza. Isto significa que se o determinismo
for verdadeiro, então o passado e as leis da natureza determinam em cada instante um único futuro possível.
Ora, como não podemos alterar o passado, nem podemos violar as leis da natureza, é apenas uma ilusão
acharmos que em certas ocasiões temos várias possibilidades em aberto e que nos compete a nós decidir qual
delas virá efetivamente a ocorrer.
A premissa (2) estabelece que sem possibilidades alternativas não podemos afirmar que temos livre-arbítrio e
que, por conseguinte, somos moralmente responsáveis por algumas das coisas que fazemos. Esta ideia parece
plausível porque seria estranho culparmos alguém por fazer algo que a pessoa não podia evitar fazer.
Daqui, segue validamente que se o determinismo for verdadeiro, então não temos livre-arbítrio.
Alguns autores têm procurado demonstrar que a primeira premissa deste argumento é falsa, pois quando
dizemos que alguém podia ter agido de outro modo, queremos apenas dizer que essa pessoa teria agido de
outro modo, se assim tivesse desejado. Segundo estes autores, de acordo com este sentido da palavra,
podemos dizer que temos possibilidades alternativas, mesmo que o determinismo seja verdadeiro.
De acordo com esta sugestão, dizer que temos possibilidades alternativas é o mesmo que dizer que se
tivéssemos escolhido agir de outro modo, poderíamos tê-lo feito. Por outro lado, não temos possibilidades
alternativas quando, ainda que tivéssemos escolhido agir de outro modo, não poderíamos fazê-lo.
Na minha opinião, esta proposta falha, porque se baseia na convicção de que afirmar: “S podia ter agido de
outro modo.” é o mesmo que afirmar: “Se S tivesse escolhido agir de outro modo, então ele poderia ter agido
de outro modo.” Contudo, é possível conceber situações em que a segunda afirmação é verdadeira, mas a
primeira é falsa, o que significa que estas duas afirmações não são equivalentes.
Por exemplo, suponhamos que me ofereciam um frasco com vários doces, incluindo gomas vermelhas; e que,
uma vez que tenho uma aversão patológica a gomas vermelhas (imaginemos, por exemplo, que me fazem
lembrar gotas de sangue), decidi não tirar nenhum doce. Ora, apesar de ser logicamente possível supor que, se
eu tivesse escolhido tirar uma goma vermelha, eu tê-lo-ia feito, a verdade é que, dada a minha aversão, eu não
poderia ter escolhido fazê-lo. Isto significa que eu não tenho, efetivamente, a capacidade de tirar uma goma
vermelha, embora seja verdade que se eu tivesse escolhido tirar uma, eu tê-lo-ia feito.
Analogamente, podemos pensar que num mundo determinista, dado o passado e as leis da natureza, nunca
poderíamos ter escolhido agir de um modo diferente daquele que escolhemos, por isso, é uma afirmação vazia
dizer que poderíamos agir de modo diferente daquele que agimos, se assim o tivéssemos desejado.

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A DIMENSÃO PESSOAL E SOCIAL DA ÉTICA

Itens de seleção

1. B
6. B
2. A
7. D
3. A
8. A
4. D
9. A
5. B
10. C

Itens de resposta restrita

1. Não, pois, ao passo que a lista de compras é prescritiva, ou seja, não descreve simplesmente como os factos
ocorreram, mas diz como deviam ter decorrido, o registo do detetive é puramente descritivo, isto é, pretende
simplesmente registar os factos tal como eles ocorreram.
Daí que, quando aquilo que o homem comprou e a lista de compras não coincidem, o comportamento do
homem não foi adequado (não comprou o que devia).
Por esse motivo, é o comportamento do homem que deve ser corrigido e não a lista (ou seja, não basta pegar
na lista e trocar a palavra “manteiga” pela palavra “margarina” – continua a ser preciso ir comprar manteiga);
mas, quando o registo do detetive não coincide com aquilo que o homem comprou, é o registo que não traduz
adequadamente a realidade dos factos. Por conseguinte, é o registo do detetive que deve ser modificado.
Isto significa que, no primeiro caso, a direção da adequação parte da lista para a realidade (é a lista que nos
indica como a realidade deve ser) e, no segundo caso, a direção da adequação parte da realidade para o registo
(é a realidade que nos indica se o registo está adequado ou não).
2. Porque, de acordo com o subjetivismo, quando formulamos um juízo moral não estamos a reportar-nos a
propriedades reais e objetivas das coisas, mas sim às nossas preferências subjetivas.
Assim, se o João diz “A eutanásia é moralmente permissível” e a Beatriz diz “A eutanásia não é moralmente
permissível”, o desacordo entre os dois é apenas aparente, e não um genuíno desacordo. Uma vez que se
referem a coisas diferentes (cada um deles se refere às suas próprias preferências), eles não chegam a formular
dois juízos diferentes e incompatíveis sobre uma e a mesma coisa.
Ora, isto significa que, ao contrário do que possa parecer à primeira vista, estes juízos não são realmente
inconsistentes entre si e, por conseguinte, cada um deles pode muito bem estar disposto a aceitar que ambos
são verdadeiros, pois os juízos dizem respeito a coisas diferentes (as diferentes preferências do João e da
Beatriz), mas não são juízos diferentes sobre a mesma coisa.
3. Não, porque uma vez que o subjetivista defende que os juízos morais se reportam a factos sobre as
preferências pessoais de cada um, quando o subjetivista afirma “x é moralmente correto”, é como se estivesse
na realidade a afirmar “Eu aprovo x”; quando afirma “x é moralmente errado”, é como se estivesse a afirmar
“Eu não aprovo x”.
Assim, se o subjetivismo moral for verdadeiro, nunca poderemos estar enganados quando formulamos um
juízo moral, o que significa que seríamos infalíveis nas nossas avaliações morais. Por conseguinte, quando
Hitler formulou o juízo “Prender os judeus nos campos de concentração é moralmente aceitável”, não pode ter
formulado um juízo falso, pois é como se estivesse a afirmar “Eu aprovo que os judeus sejam presos nos
campos de concentração”

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Soluções/Cenários de resposta

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Soluções/Cenários de resposta

4. Apesar de ser válido, o argumento não é sólido. A premissa (2) é claramente falsa. O facto de haver culturas
com códigos morais diferentes não é uma condição suficiente para que não haja uma verdade moral objetiva.
Pode simplesmente dar-se o caso de haver culturas com códigos morais errados.
Analogamente, o facto de haver opiniões diferentes relativamente à existência de extraterrestres não é uma
condição suficiente para considerarmos que não há uma verdade objetiva acerca desse assunto. Significa
simplesmente que uma dessas opiniões é verdadeira e que a outra é falsa.
5. De acordo com o relativismo, o valor de verdade dos nossos juízos morais depende da perspetiva de cada
cultura, uma vez que estes se reportam a factos sobre aquilo que uma sociedade, de maneira geral, aprova ou
reprova.
Assim, o relativismo parece, à partida, uma teoria que promove a tolerância como um valor universal, pois,
uma vez que “certo “e “errado” são valores relativos a cada cultura, o que quer que seja que uma cultura
aprove é correto para essa cultura e deve, por isso, ser respeitado e tolerado.
Mas, na verdade, o relativismo é incompatível com a tolerância como valor universal porque:
1. ° – se afirmamos que tudo é relativo, não podemos assumir a tolerância como um valor universal, pois,
deste modo, já existiria pelo menos um valor que não seria relativo a cada cultura: a própria tolerância;
2. ° – se levamos a sério o valor da tolerância, não podemos tolerar todo e qualquer tipo de
comportamentos, pois corremos sempre o risco de tolerar a própria intolerância, ou comportamentos
intolerantes.

Itens de resposta extensa

1. Não, pois o autor do texto defende o subjetivismo moral.


O subjetivismo é uma das várias respostas possíveis ao problema da natureza dos juízos morais. Este problema
pode ser formulado conforme se segue: os juízos morais são objetivamente verdadeiros ou falsos (isto é,
verdadeiros ou falsos independentemente de qualquer perspetiva)?
Os subjetivistas defendem que não, pois, na sua opinião, os juízos morais reportam-se às preferências pessoais
de cada indivíduo e, por conseguinte, a sua verdade ou falsidade não é independente de qualquer perspetiva,
mas, pelo contrário, é sempre relativa à perspetiva de cada um.
Na minha opinião, o subjetivismo é uma perspetiva implausível.
Em primeiro lugar, o subjetivismo implica que cada um de nós é moralmente infalível, pois, se o subjetivismo
for verdadeiro, sempre que formulamos um juízo moral sincero estamos a fazer uma afirmação verdadeira
acerca das nossas preferências. Ora, por mais absurdo que seja, esse juízo nunca poderia ser falso.
Em segundo lugar, o subjetivismo tornaria impossível a existência de desacordos morais genuínos. Isto
acontece porque, de acordo com o subjetivismo, quando formulamos um juízo moral não estamos a reportar-
-nos a propriedades reais e objetivas das coisas, mas sim às nossas preferências subjetivas.
Assim, se o João diz “A eutanásia é moralmente permissível” e a Beatriz diz “A eutanásia não é moralmente
permissível”, o desacordo entre os dois é apenas aparente, e não um genuíno desacordo. Uma vez que eles se
referem a coisas diferentes (cada um deles se refere às suas próprias preferências), não chegam a formular
dois juízos diferentes e incompatíveis sobre uma e a mesma coisa. Isto significa que, ao contrário do que possa
parecer à primeira vista, estes juízos não são realmente inconsistentes entre si e, por conseguinte, cada um
deles pode muito bem estar disposto a aceitar que ambos os juízos são verdadeiros.
Para evitar este tipo de problemas podemos optar por defender o relativismo cultural. De acordo com esta

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Soluções/Cenários de resposta

perspetiva, os juízos morais também não são objetivamente verdadeiros ou falsos, pois reportam-se não às
preferências individuais de cada um, mas sim às preferências coletivas de cada sociedade e ao conjunto de
normas.
Contudo, esta perspetiva também enfrenta alguns problemas. Por exemplo, o facto de a maioria dos membros
de uma sociedade estar disposta a aceitar um certo código moral não é uma condição suficiente para o
legitimar. A maioria pode acordar um sistema injusto e intolerante para com uma classe minoritária. Esta ideia
é reforçada pelo facto de o relativismo promover o conformismo. Se aquilo que determina se uma prática é
correta ou incorreta é o código moral vigente em cada cultura, então aqueles que desafiam os valores
instituídos estão condenados a estar errados. Mas isto parece apelar à passividade perante os valores de uma
cultura, anulando qualquer espírito crítico e qualquer perspetiva de evolução e até mudança nos hábitos e
valores culturais.
Assim, resta-nos defender uma perspetiva objetivista. Os objetivistas são os únicos que respondem
afirmativamente ao problema da natureza dos juízos morais. De acordo com o objetivismo, os juízos morais
são objetivamente verdadeiros (ou objetivamente falsos), pois existe um domínio de factos morais – que não
depende da perspetiva de qualquer sujeito, mas sim de certos padrões neutros de avaliação – ao qual estes se
reportam. O objetivismo caracteriza-se pela ideia de que um juízo moral é correto quando, independentemente
de gostos e de convenções, tem as melhores razões do seu lado. A favor desta perspetiva pode apresentar-se
o seguinte argumento:
(1) Há juízos morais que são justificáveis de um ponto de vista imparcial [exemplo: A escravatura é injusta].
(2) Se há juízos morais que são justificáveis de um ponto de vista imparcial, então há juízos morais
objetivamente verdadeiros.
(3) Logo, há juízos morais objetivamente verdadeiros.
Isto significa que, para os objetivistas, as avaliações morais têm de ser justificadas de uma forma que seja
aceitável para qualquer indivíduo racional, seja qual for a sua sociedade. Quanto melhor for a justificação que
suporta o juízo moral, mais razões teremos para considerá-lo objetivamente verdadeiro.
Concluindo, o objetivismo parece fornecer uma resposta satisfatória ao problema da natureza dos juízos
morais sem ter as implicações indesejáveis das perspetivas rivais. Além disso, julgo que o argumento
apresentado é sólido, e, por conseguinte, penso que temos boas razões para preferir o objetivismo quer ao
subjetivismo quer ao relativismo.

A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS


PERSPETIVAS FILOSÓFICAS

Itens de seleção

1. A
6. D
2. D
7. C
3. A
8. A
4. B
9. D
5. A
10. C

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Soluções/Cenários de resposta

Itens de resposta restrita

1. Perguntar pelo fundamento da moral é procurar saber duas coisas.


Em primeiro lugar, pergunta-se: (1) Qual é o bem último? Ou seja, que coisa valorizamos por si mesma?
Como resposta constroem-se teorias do bem ou do valor, como é o caso do hedonismo ou da boa vontade.
Em segundo lugar, pergunta-se: (2) O que faz uma ação ser correta?
Como resposta constroem-se teorias da correção ou obrigação, como o consequencialismo ou o deontologismo.
2. O princípio moral defendido pela ética utilitarista de Mill é o Princípio da Maior Felicidade. Este princípio
estabelece que uma ação é moralmente correta se, e só se, tendo em conta as alternativas, for aquela que
resulta numa maior felicidade geral. Caso contrário, a ação é moralmente errada.
Há duas ideias principais neste princípio:
(1) consequencialismo: um ato ser certo ou errado depende de um único fator – a sua contribuição para a
felicidade geral –, sendo indiferente a forma como a felicidade está distribuída;
(2) hedonismo: entende-se a felicidade como prazer e ausência de dor.
3. Mill defende que alguns tipos de prazer são qualitativamente superiores a outros. Ou seja, há prazeres
intrinsecamente melhores do que outros.
Por um lado, os prazeres inferiores correspondem aos prazeres corpóreos, ou seja, dizem respeito à satisfação
das necessidades primárias (comer, dormir, etc.).
Por outro lado, os prazeres superiores correspondem aos prazeres intelectuais e emocionais, ou seja, dizem
respeito à satisfação das necessidades mentais/espirituais (fruição da beleza, do conhecimento, da amizade e
do amor, etc.).
De acordo com Mill, pode-se distinguir os prazeres superiores e inferiores, bem como afirmar que os prazeres
intelectuais são superiores aos corporais, ao apelar para a ideia de um “juíz competente”. Ou seja, Mill
argumenta que um juiz competente, que tenha experiência dos dois tipos de prazer (intelectuais e corporais),
não trocaria a oportunidade de fruir dos prazeres superiores por nenhuma quantidade de prazeres inferiores.
Assim, por exemplo, ainda que os prazeres de um porco fossem mais intensos e duradouros do que os de um
ser humano, os de um ser humano seriam preferíveis aos de um porco, pois o porco apenas pode ter prazeres
inferiores.
4. Kant argumenta que a felicidade não pode ser o bem último, pois mesmo que tenha valor intrínseco não tem
esse valor em todas as circunstâncias (ou seja, não tem valor incondicional). Isto porque a felicidade pode ser
usada para o mal, por exemplo, a felicidade que resulta de uma pessoa traiçoeira, que prejudica de forma
propositada os outros, não é algo realmente bom.
Pelo contrário, a boa vontade é o bem último para Kant, dado que, além de ter valor intrínseco, tem igualmente
valor incondicional (ou seja, é boa em todas e quaisquer condições ou circunstâncias). Assim, só a boa vontade
não pode ser usada para o mal.
É por isso que, para Kant, a felicidade é boa apenas na medida em que temos uma boa vontade.
5. Por um lado, nos imperativos hipotéticos – como, por exemplo, “Não copies no teste se não queres ser
apanhado!” –, a ação não é realizada por si mesma, mas sim tendo em vista um determinado fim. Só os
subscrevemos se tivermos adotado certos desejos ou se tivermos certos fins em vista. A ação prescrita pelos
imperativos hipotéticos pode, quanto muito, aspirar a ser uma ação conforme o dever (quando aquilo que é
prescrito coincide com o nosso dever). Por isso, não tem valor moral.

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Soluções/Cenários de resposta

Por outro lado, os imperativos categóricos – como, por exemplo, “Não copies!” – são absolutamente
incondicionais, isto é, representam a ação como objetivamente necessária, independentemente do tipo de
pessoa que somos, dos desejos que temos ou dos fins que procuramos alcançar. Apenas os imperativos
categóricos podem levar a ações por dever, isto é, a ações motivadas pelo cumprimento do dever e não porque
delas resulta um benefício ou a satisfação de um interesse ou inclinação pessoal; por conseguinte, apenas
essas ações podem ter valor moral.
6. Segundo Kant, a mentira será sempre imoral, dado que não passa no teste do imperativo categórico; contudo,
para Mill a mentira poderá ser moral na medida em que produz a melhor felicidade para o maior número de
agentes envolvidos.
7. Para Kant, o valor moral da ação é dado pelo imperativo categórico, pois o imperativo categórico envolve uma
obrigação absoluta ou incondicional, exigindo que se cumpra o dever por dever (por simples respeito pela lei
moral), ao passo que o imperativo hipotético é uma obrigação condicional, podendo-se fazer o que é correto
por motivos errados. Neste tipo de imperativos, a ação não é valorizada por si mesma, mas sim por aquilo que
permite alcançar em favor das nossas inclinações ou interesses pessoais.
8. Stuart Mill está a entender a utilidade a partir de uma raiz hedonista. A ideia é que uma ação é útil quando
promove a felicidade, sendo que a felicidade consiste no prazer e na ausência de dor. Para Mill, a obrigação
moral básica é que a nossa ação, nas circunstâncias em que ocorre, maximize o total de felicidade de todas as
pessoas por ela afetadas, sendo que os interesses de todos os afetados por uma ação devem ser tidos em
conta de forma imparcial.
De acordo com Stuart Mill, o princípio da utilidade é o único critério em que se baseia a avaliação moral de
uma ação, pois o valor moral de uma ação depende das suas consequências. São moralmente boas as ações
que têm as melhores consequências possíveis e estas, por sua vez, são avaliadas em função da sua utilidade, ou
seja, em função do seu contributo para o maior total de felicidade.
9. Por um lado, a ação em conformidade com o dever pode ser motivada por inclinações, como o interesse
próprio; por exemplo, o comerciante agiria em conformidade com o dever se, ao fixar um preço igual para
todos, fosse motivado pelo seu interesse em manter a clientela. Por outro lado, a ação realizada por dever é
exclusivamente motivada pelo dever; por exemplo, o comerciante agiria por dever se fosse motivado a fixar
um preço igual para todos apenas pelo dever de ser honesto. Assim, a ação em conformidade com o dever,
apesar de não ser contrária ao dever, não tem valor moral, ao passo que a ação realizada por dever é a única
moralmente boa.

Itens de resposta extensa

1.
a) Um utilitarista como Mill diria que condenar o negro inocente é a coisa certa a fazer, pois, segundo o
utilitarismo, existe um único princípio ético fundamental: o Princípio da Maior Felicidade. De acordo com
este princípio, uma ação é correta se, e só se, é a que, de entre as alternativas disponíveis, mais promove a
felicidade total. Ora, nestas circunstâncias, prender uma pessoa inocente é, presumivelmente, a alternativa
que mais promove a felicidade total e, por isso, seria essa a opção correta para um utilitarista.
b) Para um deontologista como Kant, a opção de incriminar o negro inocente, de forma a evitar um estado de
coisas pior, nunca é moralmente permissível. Isto porque, de acordo com Kant, uma ação é moralmente
correta se, e só se, não infringe as regras morais corretas, sendo que as regras morais corretas são aquelas
que passam no teste do imperativo categórico; assim, as regras morais corretas são aquelas que podemos
querer que sejam adotadas universalmente (fórmula da lei universal do imperativo categórico) e aquelas

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Soluções/Cenários de resposta

que nos levam a tratar as pessoas como fins, e não como meros meios (fórmula do fim em si do imperativo
categórico). Ora, a regra ou máxima de condenar um inocente para evitar um estado de coisas mau não
passa neste teste. Em primeiro lugar, porque não é possível universalizar essa máxima; e, em segundo
lugar, seguindo tal máxima, estaríamos a tratar a pessoa inocente como um mero meio e não como um fim
em si, uma vez que estaríamos a desrespeitar a autonomia e a racionalidade dessa pessoa inocente.
c) Eu concordo com Kant. Na minha opinião, condenar injustamente uma pessoa inocente, apenas para evitar
um mal maior, não é eticamente aceitável, pois isso implicaria tratar essa pessoa como um mero meio para
os fins de outrem, violando a sua liberdade sem o seu consentimento e sem que esta tenho feito nada para
abrir mão desse direito.
Penso que a teoria moral de Kant é preferível ao utilitarismo, pois o utilitarismo é uma teoria
excessivamente permissiva e excessivamente exigente.
Por um lado, é permissiva porque, conforme se pode ver neste exemplo, recomendaria a realização de
ações injustas se isso fosse necessário para promover a felicidade total.
Por outro lado, é exigente porque, uma vez que teríamos o dever de dedicar a nossa vida a gerar o melhor
estado de coisas possível, não teríamos muita oportunidade para tentar desenvolver os nossos projetos
pessoais (como ir ao cinema, fazer um curso, comprar livros, etc.).
Além disso, não considero que a felicidade tenha valor intrínseco incondicional. Por exemplo, a felicidade
de um criminoso que conseguiu escapar à justiça não tem valor porque não é merecida. Assim sendo, só a
boa vontade é intrínseca e incondicionalmente valiosa.

O PROBLEMA DA JUSTIÇA SOCIAL

Itens de seleção

1. D
6. A
2. B
7. B
3. D
8. B
4. C
9. C
5. C
10. A

Itens de resposta restrita

1. Rawls pressupõe que as perspetivas que as pessoas têm da justiça são muitas vezes parciais, ou seja, já sabem
as “cartas” sociais que tiveram e, assim, não conseguem ser imparciais quanto à escolha dos princípios da
justiça. Por exemplo, se uma pessoa é rica, provavelmente irá querer a liberdade de adquirir e de usufruir da
sua propriedade; mas, se uma pessoa é pobre, provavelmente defenderá mais um sistema que redistribui a
riqueza. Ora, para garantir uma imparcialidade e para se chegar a um acordo quanto aos princípios da justiça,
temos de imaginar uma situação em que as pessoas estão cobertas por um "véu de ignorância" que não lhes
permite aperceberem-se das suas circunstâncias particulares. Ou seja, o “véu de ignorância” faz desconhecer
quem são as pessoas na sociedade e quais são as suas peculiaridades individuais. Devido a esta ignorância, não
sabem como ser parciais a seu favor e, por isso, veem-se obrigadas a agir imparcialmente. Mais concretamente,
as pessoas sob um “véu de ignorância” não sabem:

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Soluções/Cenários de resposta

1) qual é o seu lugar na sociedade nem a importância da classe social a que pertencem;
2) o seu estatuto social, sexo, raça;
3) os “atributos naturais” que possuem;
4) a sua própria ideia de bem.
Apesar disso, as pessoas estão interessadas em escolher o que é melhor para si, tendo interesse em obter bens
primários (ou seja, coisas que são valiosas seja qual for o projeto de vida adotado, tal como liberdades,
oportunidades, riqueza, rendimento, etc.).
Com base nesta experiência mental, que John Rawls caracteriza como “posição original”, as pessoas
escolheriam de forma imparcial dois princípios da justiça – o primeiro princípio é o “princípio da
liberdade igual” e o segundo subdivide-se em dois: o “princípio da oportunidade justa” e o “princípio da
diferença”.
2. O primeiro princípio da justiça, designado como “princípio da liberdade igual”, sustenta que a sociedade deve
assegurar a máxima liberdade para cada pessoa, compatível com uma liberdade igual para todos os outros.
Este princípio tem uma prioridade sobre os outros. A ideia é que, acima de tudo, importa assegurar as
liberdades básicas fundamentais (de expressão, de religião, de reunião, etc.). Elas não devem ser violadas em
troca de vantagens económicas ou outras.
No segundo princípio da justiça, que se subdivide no “princípio da oportunidade justa” e no “princípio da
diferença”, sustenta-se que pode haver desigualdades económicas, porque, sem desigualdades, numa
sociedade perfeitamente igualitária, não haveria razões sociais e económicas para os indivíduos desenvolverem
carreiras que implicam estudos especialmente longos ou que requerem esforço acima do normal e, desta
forma, a sociedade no seu conjunto ficaria a perder. Contudo, segundo Rawls, a desigualdade só é aceitável se
respeitar, cumulativamente, o princípio da oportunidade justa e o princípio da diferença.
Por um lado, o princípio da oportunidade justa advoga que as desigualdades económicas e sociais devem estar
ligadas a postos e posições acessíveis a todos em condições de igualdade de oportunidades. Para isso é
necessário, por exemplo, que o Estado garanta o acesso a educação universal e a saúde básica para todos. O
princípio da diferença, por seu turno, afirma que a distribuição da riqueza e do rendimento na sociedade deve
ser igual, a menos que a desigualdade traga benefícios para todos. Em especial, deverá beneficiar os mais
desfavorecidos. Este princípio indica uma maximização da situação dos que estão na pior situação à partida
(uma regra que Rawls designa como maximin).
3. De acordo com a regra maximin, se as pessoas sob o “véu de ignorância” não sabem quais serão os resultados
que podem obter ao nível dos bens sociais primários; então, é racional jogar pelo seguro e escolher como se o
pior lhes fosse acontecer. Ou seja, é um princípio de escolha a aplicar em situações de incerteza, como é o caso
do “véu de ignorância”. Esta regra é acompanhada por três condições:
1) as pessoas sob o “véu de ignorância” não têm conhecimento de probabilidades;
2) as pessoas sob o “véu de ignorância” têm aversão ao risco;
3) as pessoas sob o “véu de ignorância” estão especialmente interessadas em garantir a exclusão de
resultados absolutamente inaceitáveis.
Por exemplo, imagine-se os seguintes padrões de distribuição de bens sociais primários (de 0 a 10) em
sociedades com apenas três pessoas:
• Sociedade I – 10, 8, 2.
• Sociedade II – 6, 5, 5.

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Soluções/Cenários de resposta

• Sociedade III – 9, 7, 3.

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Soluções/Cenários de resposta

Com o “véu de ignorância” e seguindo a regra maximin, as pessoas escolheriam viver na sociedade II, pois o
pior que lhes poderia acontecer nunca seria tão mau quanto a vida que arriscariam a ter numa das outras
sociedades.
4. Porque o princípio da oportunidade justa garante que os mais desfavorecidos têm as mesmas oportunidades
que todos os outros e o princípio da diferença estabelece que a existência de desigualdades económicas e
sociais gera o maior benefício para os menos desfavorecidos.
Ora, se seguirmos a regra maximin, sob o “véu de ignorância”, procuraremos fornecer as melhores condições
aos mais desfavorecidos, logo escolheremos estes dois princípios.
5. Ao seguirmos a regra maximin, sob o “véu de ignorância”, não escolheremos um princípio utilitarista. Isto
porque o princípio utilitarista, de acordo com o qual devemos maximizar o bem-estar global, não assegura
garantias mínimas para ninguém.
Seguindo o utilitarismo, podem existir grandes desigualdades. Pelo menos em teoria é possível pensar que um
conjunto de indivíduos veja as suas liberdades sacrificadas para gerar um maior total de bem-estar (como
poderia acontecer, por exemplo, numa sociedade em que uma minoria fosse escravizada para satisfazer as
necessidades da maioria).
Da mesma forma, as oportunidades ou os níveis de rendimentos e de riqueza de alguns podem ser
drasticamente prejudicados em nome do bem-estar geral.
Em contraposição com o princípio de utilidade, Rawls não permite o sacrifício das liberdades básicas, da
igualdade equitativa de oportunidades e da distribuição de acordo com o princípio da diferença.
6. A função da "posição original" tem a ver com a ideia pela qual se estabelecem de modo racional os princípios
da sociedade justa. Esses princípios são o princípio da igual liberdade, princípio da oportunidade justa e da
diferença. A posição original é uma experiência mental, em que se concebe uma situação de contrato inicial
entre sujeitos livres, iguais e racionais para a definição dos princípios da justiça. A posição original é uma
ficção, conhecida como "véu de ignorância" na qual os sujeitos ignoram o conhecimento acerca das suas
características particulares – garantia da imparcialidade e razoabilidade das decisões.
7. Na posição original, que é uma situação hipotética, os sujeitos fazem as suas escolhas a coberto do véu de
ignorância, garantindo “a simetria das relações que entre todos se estabelecem”. Esse véu de ignorância coloca
os sujeitos numa situação de desconhecimento dos factos particulares das suas vidas: capacidades, classe
social, género, etc. Assim, desconhecendo os factos particulares das suas vidas, ninguém se encontra numa
situação de vantagem na escolha dos princípios de justiça. Por isso, na posição original, as escolhas ocorrem
numa “situação equitativa”.

Itens de resposta extensa

1.
a) Em princípio, a teoria da justiça de John Rawls veria com bons olhos a medida proposta, pois esta teoria
considera que devemos maximizar as condições daqueles que estão, à partida, em pior situação (regra
maximin). Isto significa que se for necessária uma desigualdade para melhorar as condições de todas as
pessoas, em especial para tornar as condições dos mais desfavorecidos melhores do que seriam de outra
forma, esta deve ser permitida. Assim, para Rawls, as desigualdades na distribuição da riqueza serão
aceitáveis na medida em que, não violando o princípio da igualdade de liberdades, sejam a consequência
de uma efetiva igualdade de oportunidades e resultem em benefícios para todos, em especial para os mais
desfavorecidos.

280 © editável e fotocopiável | Como pensar tudo isto? – Filosofia · 10.° ano
Soluções/Cenários de resposta

Ora, a medida proposta implicaria uma espécie de penalização para as empresas com grandes discrepâncias
salariais, impedindo que estas pudessem usufruir de determinados benefícios fiscais, mas essa diferença
seria aceitável porque não violaria o princípio da igualdade de liberdade, estaria acessível a qualquer
empresa numa situação de efetiva igualdade de oportunidades e resultaria em benefícios para todos, em
especial para os mais desfavorecidos, ou seja, aqueles que auferem salários mais baixos. Portanto, a
distribuição desigual de benefícios fiscais proposta no texto seria considerada legítima pela teoria da
justiça de John Rawls.
b) Em princípio, um libertarista, como Robert Nozick, teria sérias reservas em relação à medida proposta, pois
esta assenta no princípio da diferença, e os libertaristas, como Nozick, tendem a rejeitar esse princípio.
De acordo com os libertaristas, o princípio da diferença representa uma conceção padronizada da justiça,
segundo a qual a propriedade deve ser distribuída para que os mais desfavorecidos fiquem o melhor
possível. Contudo, uma vez atribuído o rendimento e a riqueza às pessoas segundo o princípio da diferença,
algumas irão gastar esses recursos e outras obterão mais, e, deste modo, a sociedade acabará por se
afastar do princípio da diferença. Portanto, algumas ações livres (trocas, ofertas ou apostas) acabarão por
quebrar o padrão distributivo previsto no princípio da diferença e, por conseguinte, o Estado teria de
intervir novamente através de meios, como a cobrança de impostos, no sentido de redistribuir a
propriedade e repor o padrão inicial. Isto significa que, para se concretizar o padrão do princípio da
diferença, o Estado tira a alguns indivíduos (sem o seu consentimento) parte daquilo que possuem
legitimamente para beneficiar os mais desfavorecidos.
Porém, de acordo com Nozick, esta redistribuição interferirá consideravelmente com a liberdade e os
direitos de propriedade, o que implicaria uma interferência permanente do Estado nas nossas liberdades e
direitos fundamentais, o que Nozick considera eticamente inaceitável. Para Nozick, “a tributação dos
rendimentos do trabalho é equiparável ao trabalho forçado”.
c) Eu concordo com a perspetiva de Rawls. Na minha opinião, uma vez que a sociedade consiste num sistema
de cooperação e vantagem mútua entre cidadãos livres e iguais, a justiça social só pode ser alcançada se os
valores sociais – como a liberdade, a oportunidade, o rendimento e a riqueza – estiverem igualmente
distribuídos, ou se uma distribuição desigual dos mesmos resultar em benefício de todos. Só assim podemos
evitar que as pessoas fiquem totalmente reféns de condições que não dependem de si, como o seu estatuto
socioeconómico e os seus talentos ou handicaps naturais. Assim, para alcançar a justiça e paz social
devemos procurar princípios que garantam que todos têm acesso às mesmas liberdades fundamentais e
que partem de uma situação de equidade, compensando o impacto negativo que a lotaria social e a lotaria
natural podem ter nas suas vidas.

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