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- G. W. F. Hegel.

Filosofia do direito [1820]

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Princípios da Filosofia do Direito. 1°ed, 4°


tiragem. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

§5, 6, 7, 8, 9
Trechos, §11, 12, 13

“De acordo com essa definição, a liberdade da vontade é o livre-arbítrio onde se reúnem
os dois aspectos seguintes: a reflexão livre, que vai se separando de tudo, e a
subordinação ao conteúdo e à matéria dados interior ou exteriormente. Porque, ao
mesmo tempo, este conteúdo, necessário em si e enquanto fim, se define como simples
possibilidade para a reflexão, o livre arbítrio é a contingência na vontade.” (§15) –
Martins fontes

“A contradição implícita no livre-arbítrio (§ 15) manifesta-se na dialética dos instintos e


das tendências: destroem-se eles reciprocamente, a satisfação de um arrasta a
subordinação e o sacrifício de outro, etc.; e como o instinto não tem outra direção que
não seja o seu próprio determinismo, e não possui em si mesmo um moderador, a
determinação que o sacrifica e subordina só pode ser a decisão contingente do livre-
arbítrio, até quando este emprega um raciocínio para calcular qual o instinto que possa
trazer maior satisfação ou se coloque em qualquer outro ponto de vista.” (§17)

“Com o nome de purificação dos instintos, representa-se em geral a necessidade de os


libertar da sua forma de determinismo natural imediato, da subjetividade e da
contingência do seu conteúdo, para os referir à essência que lhes é substancial. O que há
de verdade nesta aspiração imprecisa é que os instintos devem reconhecer-se como o
sistema racional de determinação voluntária.” (§19)

“Aplicada aos instintos, a reflexão traz-lhes a forma da generalidade representando-os,


medindo-os, comparando-os uns com os outros, também com as suas condições e suas
consequências e ainda com a satisfação total deles (felicidade). Assim os purifica
exteriormente de sua ferocidade e barbárie. Ao produzir-se esta universalidade do
pensamento, a cultura adquire um valor absoluto.” (§20)

“Segundo as fases do desenvolvimento da ideia da vontade livre em si e para si, a


vontade é:
a) Imediata. O seu conceito é, portanto, abstrato: a personalidade; e a sua existência
empírica é uma coisa exterior imediata, é o domínio do direito abstrato ou formal;
b) A vontade que da existência exterior regressa a si é aquela determinada como
individualidade subjetiva em face do universal (sendo este em parte, como bem,
interior, e em parte, como mundo dado, exterior), sendo estes dois aspectos da ideia
obtidos apenas um por intermédio do outro; é a ideia dividida na sua existência
particular,
o direito da vontade subjetiva em face do direito do universo e do direito da ideia que só
em si existe ainda, é o domínio da moralidade subjetiva;
c) Unidade e verdade destes dois fatores abstratos: a pensada ideia do Bem realizada na
vontade refletida sobre si e no mundo exterior, embora a liberdade como substância
exista não só como real e necessária mas ainda como vontade subjetiva. É a ideia na sua
existência universal em si e para si, é a moralidade objetiva.

Por sua vez, a substância é simultaneamente:


a) Espírito natural, família;
b) Espírito dividido e fenomênico, sociedade civil;
c) O Estado como liberdade que, na livre autonomia da sua vontade particular, tem tanto
de universal como de objetiva; tal espírito orgânico e real (a) de um povo (b) torna-se
real em ato e revela-se através de relações entre os diferentes espíritos nacionais (c) na
história universal como espírito do mundo cujo direito é o que há de supremo.

Nota - De acordo com a lógica teórica, supomos que uma coisa ou um conteúdo que
começa por se apresentar segundo o seu conceito ou tal como é em si tem o aspecto da
imediatidade ou do ser; outra coisa será o concreto que é para si na forma do conceito;
esse já não é imediato. Do mesmo modo se supõe admitido o princípio que preside à
classificação. Pode esta ser considerada como uma nomenclatura histórica, pois os
diferentes graus devem produzir-se segundo a natureza do conteúdo como fatores da
evolução da ideia. Uma divisão filosófica não é, de modo nenhum, uma classificação
exterior que obedece a um ou vários princípios particulares aplicados a uma matéria
dada, mas constitui a diferenciação imanente do próprio conceito. Moralidade e
Eticidade, termos habitualmente empregados no mesmo sentido, são por nós tomados
com significados essencialmente diferentes. Aliás, também a representação corrente
costuma
distingui-los. A linguagem kantiana prefere utilizar a palavra Moralidade, o que explica
por que os princípios práticos desta filosofia limitam-se completamente àquele conceito
e tornam até impossível o ponto de vista da moralidade objetiva que anulam e procuram
fazer desaparecer. Mas mesmo que, pela sua etimologia, estas palavras sejam
equivalentes isso não obsta a empregá-las como diferentes, uma vez que
necessariamente o serão ao designarem conceitos diferentes.” (§133)

“Tem o animal um círculo limitado de meios e modalidades para satisfazer as suas


carências também limitadas, mas o homem, até no que tem dessa dependência animal,
manifesta o poder de lhe escapar, e bem assim a sua universalidade, primeiro pela
multiplicação das carências e dos meios, depois pela divisão e distinção das carências
concretas em particularizadas, portanto, mais abstratas.” (§190)
“Mas, na identidade simples com a efetividade dos indivíduos, o elemento-ético
aparece, enquanto modo de ação universal destes, como costume – o hábito desse
elemento-ético aparece como uma segunda natureza, que é posta no lugar da vontade
primeira meramente natural, e que é a alma que perpassa o ser-aí do costume, cuja
substância somente assim é como o espírito.” (§151)

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