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FACULDADE DE DIREITO
MANUAL DE APOIO
DE FILOSOFIA DO
DIREITO
DOCENTES:
_________________________________________
1. HISTÓRIA DA FILOSOFIA DO DIREITO
O termo natureza é dos mais equívocos e plurissignificativos dos com que lido o
pensamento filosófico, pelo que não será de estranhar que, quando usado ou
contido na designação Direito Natural, essa sua característica igualmente se
revele.
Ele tem, desde logo, um duplo sentido ou significado, que se pode qualificar,
respectivamente de cosmológico ou físico e de ontológico.
O primeiro, fundindo em síntese original platónica e a sua teoria das ideias com a
teologia e o pensamento cristão, sustentou que a ordem universal ou a ordem do
mundo é regida pela lei eterna, dimanada de Deus, cujas ideias são os arquétipos
eternos das coisas.
Por sua vez, a lei natural é entendida como participação do homem na lei eterna e
encontra-se impressa na alma humana, dela devendo os legisladores extrair as
regras de conduta, as normas ou as leis mais adequadas ao condicionalismo
histórico.
A mutação da lei natural pode verificar-se por dois modos: ou ela adição de
novas realidades ou por subtracção, deixando certos preceitos particulares de ser
lei natural.
Por isso Heráclito definia a justiça a física necessidade que mantém cada coisa
na própria ordem e no próprio curso. Pitágoras definiu-a como harmonia do
universo e das relações sociais. Com os Sofistas, a fé na existência e na
inteligibilidade de uma ordem natural é choque ao homem empírico elevado a
medida das coisas, a origem humana, convencional da lei. O direito com
Pitágoras se revela como conceito de relação, uma relação relativa entre as
acções e a lei positiva.
Sócrates se opõe ao direito como relação e como conceito. Ele não duvida da
existência de uma justiça natural; porém, mas do que afirmá-lo, é preciso
entende-lo, isto é, traduzi-lo em conceito, conhece-lo na sua nota universal e
constante. Para Sócrates, o problema da justiça se resolve no problema do
conhecimento daquilo que é justo em si, independentemente das várias opiniões
humanas. A injustiça é vício do intelecto não é da vontade. Para ele, o conceito
de legalidade, que é a justiça nos seus caracteres formais, ou seja, universais, e
necessárias e que como tal, deve ser respeitada independentemente dos seus
conteúdos. Morrendo, rendeu homenagem ao valor da justiça.
Com Platão, o direito é uma realidade que o homem aprende através do intelecto
e actua o Estado. Justiça e Estado são para Platão termos que estão juntos
necessariamente. Segundo ele, a justiça não é do homem, mas sim do Estado, que
atribui a cada um o que é seu, que impõe a cada classe social a sua função
específica. A ideia da justiça não tem só valor formal. Não é um conceito que
procura fora de si o seu conteúdo, mas é realidade e actividade ideal que vive e se
concretiza no Estado. O ponto de vista naturalístico, não é superado porque a
ideia platónica objectiva nem é subjectiva. É, todavia, superado o conceptualismo
abstracto de Sócrates, porque a ideia de que o intelecto desfeito dos vínculos do
sentido intuísse a realidade concreta, princípio de verdade e de acção.
Particular significado, tem a doutrina de paz com a ética onde se revela como
princípio de ordem interior, isto é, uma das tendências sensíveis e faz do
indivíduo um membro harmónico na vida de todo. A perfeição moral é sinónima
de paz connosco mesmo, com os nossos semelhantes, com Deus. Com a paz o
homem garante-se e protege-se contra os maus da vida terrena, conquista a saúde
da alma. O ordenamento positivado tem como objectivo, a pacificação da
sociedade, numa lógica orgânica das relações humana. Esse por sua vez não se
actua por si, mas por obra do homem; não basta conhece-lo, ocorre, porém, obtê-
lo, quere-lo e actuá-lo constantemente nas nossas acções. Essa é a conquista
progressiva; nisto consiste o fundamento e os limites da ordem jurídica e política.
Spinosa: para ele o direito natural é ipsa naturae potentia, conexa a cada ser aos
fins da sua conservação. Mas as más experiências, induzem os seres dotados de
razão a criar-se uma ordem civil, na qual as exigências dos indivíduos e da
sociedade se explicam sob os auspícios do Estado nos limites impostos pela salus
publica.
Locke: para este pensador inglês, o direito natural é na sua óptica, o direito do
homem no estado hipotético de simplicidade e de inocência originária, que opera
sob o império da lei natural, em conformidade as suas necessidades naturais
segundo um cálculo racional de utilidade. Neste Estado natural de paz, de mútua
assistência os homens se reconhecem livres e iguais e cada um em relação as
suas necessidades constrói uma propriedade mediante o trabalho e a ocupação da
terra comum. A liberdade onde cada um goza no estado natural é sinónimo de
independência recíproca e esta é possível só se o arbítrio de cada um for limitado.
A igualdade é a medida da liberdade natural. Com garantia dos direitos naturais,
os homens convergem a criar o Estado e a este confia-lo o poder coercivo e
punitivo desenhado a forma de natureza. O direito natural entendia-se segundo
Locke com o direito inalienável do homem à liberdade e a propriedade nos
limites da igualdade.
É por isto que se entende existir uma Filosofia do Direito propriamente dita, e
uma Filosofia do Direito impropriamente dita que se encontra nos textos
filosóficos escritos ao longo da história da filosofia, cujos sentidos incidem mais
ou menos em questões jurídico-normativas. Os filósofos sempre se depararam
com a experiência da normatividade social. Mas antes de Hegel não adveio daí
nenhum sistema filosófico que concebesse o direito em face da totalidade da
sociedade (nem de um sistema lógico coerente com as outras ciências). Podemos
apontar, à guisa de princípio, que pode ser levantada, dentre outras razões, o
papel que o direito exerce nas sociedades modernas e a forma como o direito
moderno, com seus fundamentos lógicos e sua força coerciva, reflectem em toda
a estrutura social. O historicismo jurídico, e que comummente se chama escola
histórica do direito, não tem propósito filosófico directo nem político, porém suas
doutrinas interligam-se mediante certas premissas filosóficas e também por meio
do programa da restauração política.
A ideia da codificação não era nova, uma vez que contava já em seu favor com
experiências em alguns Estados italianos, na Prússia, na Áustria e especialmente
na França, cujo Código Civil, preparado durante a revolução, teve o selo de
Napoleão.
Não era por acaso que, depois da proclamação dos direitos do homem e do
cidadão (1789), passaram os homens da Revolução Francesa a se dedicarem à
elaboração de normas do direito privado, para reunidas na unidade sistemática do
Código que, aprovado em 1804, é ainda hoje vigente na França.
Isto, fazia notar os inconvenientes produzidos pela disparidade das leis e dos
costumes e ainda chamava atenção para a importância nacional que a unificação
do direito privado assumiria nas relações entre os vários Estados. O direito,
sustenta Savigny, vive na prática e no costume, que é a expressão imediata da
consciência jurídica popular. A "consciência jurídica popular" tem um conceito
característico, que a escola histórica do direito derivou do historicismo filosófico
de Shelling e de Rege! Na realidade, toda essa corrente está em estreita conexão
com o historicismo filosófico, e até se pode chamá-la uma aplicação particular
dele no campo do direito.) Todo povo tem um espírito, uma alma sua, que se
reflecte numa numerosa série de manifestações que são: moral, direito, arte,
linguagem, são produtos espontâneos e imediatos, todos, desse espírito popular
(Volksgeist).
Facto da sua existência, assim o direito não é criação do legislador, mas uma
produção instintiva e quase inconsciente, que se manifesta no fato, e só na fase
posterior aceita a elaboração reflexiva por meio dos técnicos, que são os juristas.
Ao trabalho dos juristas segue-se, depois, a legislação, que se funda, porém,
sobre costumes preexistentes. Portanto, as leis, segundo Savigny, têm uma
função de todo secundária, não fazem nada que fixar (e quase imobilizar,
cristalizar) os princípios já elaborados pela consciência jurídica popular.
Estudo do fato histórico do direito e induzir a considerar o surgir do direito em
relação às condições particulares de cada povo. Somente esta é a fonte autêntica e
genuína do direito. Daí a aversão de Savigny (e em geral da escola histórica)
contra a codificação. Sendo sínteses sistemáticas de leis, os códigos têm maior
estabilidade e podem, a longo prazo, até conter a evolução espontânea do direito.
O sistema normativo precisa ser coerente. Não pode ser contraditório. P. ex., se
uma norma permite algo, uma outra norma no mesmo sistema normativo, não
pode proibi-lo.
Muitos definem o direito comparado como ramo do direito, mas essa concepção
é errada, pois, um ramo de direito visa regular de maneira específica uma dada
situação jurídica, o que não acontece com o direito comparado. Este direito
comparado vai estudar as diferenças e semelhanças entre os ordenamentos por
via de uma macro-comparação ou micro-comparação.
Como as leis civis dependem das instituições políticas, porque eles são feitos
para a mesma sociedade, sempre que há um projecto de adopção do direito civil
de outro país, seria adequado para analisar de antemão se estes têm as mesmas
instituições e os mesmos direitos políticos.
Apesar das diferenças entre o direito comparado e estas outras áreas jurídicas, de
direito comparado ajuda a informar todas estas áreas de normatividade. Por
exemplo, o direito comparado pode ajudar as instituições jurídicas internacionais,
como os do Sistema das Nações Unidas, ao analisar as leis de diferentes países a
respeito de suas obrigações do tratado. Direito comparado seria aplicável ao
direito internacional privado no desenvolvimento de uma abordagem para a
interpretação de uma análise de conflitos. Direito comparado pode contribuir
para a teoria jurídica, criando categorias e conceitos de aplicação geral.
F1) Família romana 2) família alemã 3) Família common law 4) Família Nordic
5) Família das leis do Extremo Oriente (China e Japão) 6) Família religiosa
(muçulmana e lei Hindu).
A regra tem uma única dimensão: a da validade. Se for válida, a regra deverá ser
aplicada integralmente ou não ser aplicada. São normas que só pode ser
cumprida ou não. Se uma regra é valida, então há que se fazer exactamente o
que ela exige, nem mais, nem menos. Portanto, as regras contem determinações
no âmbito do fático e juridicamente possível. Esse aspecto da regra é também
chamado de “tudo ou nada” - ou a regra é totalmente aplicada, ou não. Não
existem diferentes graus de aplicação.
São exemplos:
Quanto ao critério que se usa para se dirimir a contradição, se usa, via de regra,
os seguintes critérios:
1
Cf. Os argumentos podem ser consultados com maior pormenorização na obra de Norberto Bobbio,
título original em Italiano: Teoria dell'ordinamento Giuridico, Torino, G. Giapichelli, 1960. Teoria do
Ordenamento Jurídico, Trad. Maria Celeste C. J. Santos. Brasília: Editora UnB, 1995),
5. REFLEXÃO E ESPECULAÇÃO
Dai que, no seu ensaio metafísica dos costumes (1797) Immanuel Kant (1724-
1804) distingue duas grandes questões relativas ao direito. A primeira questão é
relacionada ao filósofo Jurista que se interroga (quid jus) o que é o direito? O
que prescreve as leis num certo lugar e num determinado tempo? A esta pergunta
originária surge uma outra. Neste caso a segunda questão está relacionada com o
(quid Juris), ou seja, o que deve ser o direito? São duas realidades consequentes
produzidas desta dicotomia que forma o ser e o dever ser do direito.
Coercibilidade – o caracter imperativo do direito impõe que este crie meios a fim
de levar os destinatários das suas normas a optar pelo cumprimento, castigando o
infractor e premiando o cumpridor. Traduz-se na possibilidade de imposição
coactiva, se necessário pela força e contra a vontade dos seus destinatários, das
normas e sanções jurídicas
Pode-se dizer que uma das relações da Filosofia com o Direito passará pela
tentativa de avaliar, de sopesar a actuação do Direito frente à sociedade a fim de
contribuir para que ele, o Direito, busque os aprimoramentos possíveis e
necessários ao alcance de sua primordial meta: organizar, de forma razoável, a
sociedade administrando de modo equitativas as divergências de interesses dos
indivíduos que compõem a sociedade. Depois do passado predomínio pelo direito
natural e mais tarde o direito positivo, vive-se em tempos, do pós-positivismo,
pós-naturalismo onde as figuras principais dos sistemas normativos são a ética e
os princípios, (valores estes), que são objectivos de inspiração do direito
moderno enquanto sistema normativo. As liberdades individuais já têm grande
nas sociedades ditas liberal democráticas, onde os direitos são garantidos e
tutelados, (in factus), onde o ser humano é algo que tem seu valor reconhecido, e
busca o seu bem comum do mundo real.
2
A Norma Fundamental é um conceito de teoria do Direito desenvolvido pelo jurista austríaco Hans
Kelsen, no âmbito de sua Teoria Pura do Direito. Para Kelsen, a Norma Fundamental é uma norma
pressuposta no plano lógico jurídico, sendo fundamento último de validade do ordenamento jurídico. Para
Kelsen, há a assunção de que a norma fundamental é pressuposta. É um pressuposto baseado na razão
(dogmática) que, conforme observa Tércio de Sampaio Ferraz, “ela encarna o próprio princípio da
inegabilidade dos pontos de partida”(Júnior, 2003, p. 1888), sendo condição sine qua non para o estudo
dogmático do Direito. No entanto, não se pode falar que a “norma fundamental” é tão-somente uma
ficção positivista: a norma fundamental refere-se a uma determinada realidade. Segundo Krishnan, a
norma fundamental deriva do fato de que foi aceita por um número suficiente de membros de
determinada comunidade, podendo ser identificada como uma regra fundacional simplesmente por não
depender de outra norma superior, e sim pela simples aceitação, como válida, pelos membros dessa
comunidade (Krishnan, 2009, p. 7).
8. DIREITO COMO ORDEM NORMATIVA CONCRETIZADA
Com base em sua Teoria Pura do Direito e sendo esta uma construção teórica
inserida no positivismo jurídico, Kelsen não reconhece qualquer regra moral ou
lei natural como critério de validade de outra norma positiva, motivo pelo qual
rejeita considerações moralistas a respeito da validade da norma fundamental;
trata-se assim de uma teoria formal de validade, em que a validade da norma
depende de elementos que não levam em consideração o mérito das normas
(Dimitri, p. 278).
9. DO CONHECIMENTO JURIDICO
Mas, há ainda, em segundo lugar uma outra função não menos importante na
filosofia do direito para a formação do jurista. Esta poderia chamar-se antes uma
função de pedagogia moral e de deontologia profissional. O jurista é talvez, entre
Experiência dos objectos espirituais e culturais, em cujo domínio aparece justamente o “jurídico”
histórico e positivo, e que está na base das chamadas “ciências da cultura”.
todos os cultores das ciências do espírito, depois do teólogo, aquele que maior
tendência tem para o dogmatismo.
É preciso notar, antes de tudo, que isso a que genericamente chama-se direito não
se deixa de situar numa camada, região ou esferas únicas do ser. Situa-se, por
assim dizer, antes, ao mesmo tempo ou sucessivamente, em várias dessas esferas
ou regiões. Trata-se aqui dum ser que, como alguns outros, percorre ou atravessa,
as diversas esferas e regiões ônticas do ideal, do real, do não-sensível e até
mesmo do sensível, projectando-se em cada uma delas de modo e com
determinações gerais muito diferentes. Este pensamento tornar-se-á mais claro se
disser, que o direito, partindo do ser ideal como valor e ideia, torna-se real como
ser não-sensível na foram de direito histórico.
Nesse sentido, é lícito dizer que a positividade, o ser positivo, é tanto da essência
do direito, como da religião, da arte e de todos os outros seres e objectos
culturais.
9.4. A teoria egológica do direito
Para a teoria egológica do direito é concebido como algo que o homem faz
actuando segundo valorações, isto é, como objecto cultural. Dado, porém, que o
seu substrato não é nenhuma porção da natureza, tem de concluir-se que é a
conduta humana, ou seja, que o direito é conduta, sendo, como tal, um objecto
egológico. Mas a conduta humana constitui uma experiência de liberdade, em
que a criação de algo axiologicamente original emerge a cada instante,
constituindo por isso, não um ser, mas um dever-ser existencial.
4[4]
Freud, Jung, Alder.
Nas suas diversas e múltiplas formas a cultura é sempre criação do homem,
tentativa de criar realidades valiosas, de incorporar valores nas coisas, de
acrescentar à natureza ou de dar à natureza um sentido valioso.
Como realidade cultural, o direito não pertence ao mundo físico nem biológico,
em que imperam a necessidade, a causalidade e o determinismo, nem ao domínio
psíquico das emoções e dos sentimentos, nem sequer ao dos seres ideais, em que
se situam as realidades lógicas e matemáticas, pois enquanto estas são
intemporais e abstractas, o direito é concreto, variável no tempo e no espaço, e,
como realidade humana, é profundamente marcado pela temporalidade e pela
historicidade essenciais ao próprio homem.
Como criação cultural não é um dado, uma realidade preexistente que o homem
encontre no mundo ou na natureza, nem uma realidade estática, mas sim espírito
objectivado, projecção espiritual do homem. Algo que está aí para ser pensado,
conhecido e vivido e cuja existência depende, por isso, da relação cognitiva e
vivencial que o homem como ele estabelece e mantém, a qual lhe dá vida e
contendo e actualiza, dinâmica e criado realmente, o sentido que nele está latente
e lhe é conferido pela referência a valores, princípios ou ideais.
O direito caracteriza-se por ser uma criação humana que se objectiva em normas,
constituindo uma ordem reguladora da conduta ou do agir humano na sua
interferência intersubjectiva, na sua convivência ou na sua vida social.
No domínio da cultura, o direito individualizando-se, assim, por se referir à
actividade prática do homem e não à sua actividade teorética, por dizer respeito
à acção e à conduta e não ao saber, ao conhecimento ou à verdade, por ter como
domínio específico o dos conflitos de interesses surgidos na vida social, que visa
resolver ou decidir de acordo com determinados princípios, valores ou ideias.
Sendo realidade humana e criação cultural, o direito define-se também pela sua
temporalidade e historicidade (características), dado que não só a visão dos
princípios, valores ou ideias a que se refere e procura tornar efectivos é sempre
imperfeita e precária, porque obtida a partir de uma determinada situação
concreta, historicamente definida, como ainda o direito só enquanto vivido e
aplicado verdadeiramente é.
Por outro lado, o direito é uma realidade social heterónoma (característica), uma
vez que a regulamentação ou a ordenação da conduta que se propõe estabelecer é
imposta do exterior dos sujeitos, por um outro sujeito dotado de poder de definir
e impor critérios, regras ou normas de conduta ou de comportamento.
Partindo da justiça como princípio, valor ou ideal, o direito é, pois, o meio de que
o homem se serve para alcançar uma adequada ordenação da sua conduta social,
com o fim de coordenar o exercício da liberdade de cada um com a liberdade dos
restantes, realizando deste modo, o bem comum da sociedade política.
Positividade, validade e vigência.
O tipo de ordem normativa que o direito constitui nas diversas formas por que se
manifesta e nos vários modos como se torna efectiva, apresenta como traço
individualizador a positividade. Esta, como atributo essencial das normas criadas
ou reconhecidas pelas entidades investidas de autoridade ou de poder, significa
que o direito é posto por essas mesmas entidades, que é por elas definido,
estabelecido, estatuído ou criado, seja pelo legislador, seja pela comunidade que
adopta determinado costume, seja pelo juiz que profere uma sentença.
A positividade, enquanto atributo e específico do direito, não deve confundir-se
com a sua validade, a sua vigência ou a sua eficácia.
O direito não é, porem, a única ordem normativa da vida social do homem, outras
com ele coexistindo, como a moral, a religião e os usos sociais.
A moral de que aqui se fala é a moral positiva, a que se dá também muitas vezes,
o nome de moral dos costumes. É o conjunto de preceitos, concepções e regras,
altamente obrigatórios para a consciência, pelos quais se rege, antes e para além
do direito, algumas vezes até em conflito com ele, a conduta dos homens numa
sociedade.
Esta diversa natureza das ordens normativas explica, igualmente, outro decisivo e
essencial elemento distintivo: é que, atendendo ao indivíduo ou ao sujeito da
conduta enquanto tal, considerando-o a partir do domínio da interioridade e da
consciência, a moral caracteriza-se pela sua unilateralidade, e pela imanência do
critério moral, pelo seu carácter radicalmente autónomo, pela total liberdade no
cumprimento dos respectivos preceitos e pela sua irrecusável incoercibilidade,
enquanto, pelo contrário, o direito se define, precisamente, pela sua bilateralidade
atributiva, em que cada direito corresponde sempre um dever, e vice-versa, e pela
sua natureza heterónoma, que faz que a realização dos seus comandos possa ser
imposta às vontades individuais.
13.1. A justiça
Duas advertências cabem fazer aqui. A primeira para notar que, quando
considerada como virtude, a Justiça individualiza-se, face às restantes, pode dizer
respeito a acções e não a paixões e pela sua bilateralidade, por se referir sempre e
necessariamente a relações intersubjectivas.
A segunda observação será para recordar que, sabem que estas duas perspectivas
ou estes dois modos de considerar ou de pensar a Justiça sejam complementares,
o segundo (objectivo) tem prioridade lógica e axiológica sobre o primeiro
(subjectivo), dado que, sendo a Justiça virtude do Homem que age rectamente,
necessário se torna, para defini-la saber o que é, em si, a Justiça como valor,
princípio, ideia ou ideal.
A Justiça é acima de tudo e antes de mais, liberdade, que implica respeito pela
personalidade livre de cada um ou por cada Homem enquanto pessoa. Mas se não
é a lei que nos pode dizer o que é devido a cada um, nem a Justiça se reporta
apenas a bens exteriores, as coisas ou a cargos, se o seu a que se refere é o
próprio de cada um, num sentido ontológico radical, vindo a consistir na
liberdade e na personalidade e no que uma e outra implicam de direitos e bens
exteriores, isto é, de propriedade, então deve concluir-se que a Justiça não
depende nem pode procurar-se ou fazer-se residir na generalidade da lei, antes se
encontrando na diversidade do concreto, do singular e do individual.
A Justiça como valor, princípio, ideia ou ideal não pode ser concebida ou
pensada como algo de substancial ou estimativo; ela é antes o que é o próprio do
justo, o que o faz ser justo e que se revela pela sua negação ou pela sua ausência,
isto é, pela injustiça.
Em, segundo lugar, deve notar-se que, do ponto de vista da Justiça, é mais
decisiva a aplicação da lei do que a própria lei, porquanto é então que, em
concreto, o direito se realiza e o próprio de cada um se afirma e define, o que,
obviamente, não impede um juízo sobre a Justiça ou a injustiça da lei em si.
Porque a Justiça é valor, princípio, ideia ou ideal e, por isso, insubstancial, não é
susceptível de ser apreendida ou aprisionada por uma definição, na medida em
que esta é sempre um pôr limites, um marcar de contornos de um aspecto da
realidade.
Por outro lado, a sua natureza de valor, princípio, ideia ou ideal impede-a de ser
objecto de um conceito, pois é o resultado das possibilidades criadoras da razão e
os valores, os princípios e os ideais transcendem a razão e ano dependem dela na
sua existência, e apenas na sua efectividade e na sua realização parcialmente dela
quedam dependentes.
A razão obedece a princípios formais, que lhe garantem a coerência. Uma das
principais descobertas da Filosofia Clássica, foi a de que existem três princípios
fundadores da racionalidade, que estão na base de todos os outros:
Mas já vimos que, para além de uma estrutura formal, os nossos pensamentos
têm que ter um conteúdo (caso contrário seriam vazios). Ora, o conteúdo dos
nossos pensamentos também tem que estar correctamente estabelecido. Aquilo
que determina a correcção do conteúdo do pensamento não é um conjunto de
princípios ou regras de carácter formal, mas a sua adequação à realidade.
Assim a validade material (ou verdade), corresponde, de acordo com a
definição aristotélica, à adequação do pensamento à realidade. Sendo assim, a
validade material (ou verdade) do pensamento está fora do âmbito da lógica
clássica, que tem como objecto o estudo dos princípios e das regras que
permitem a coerência formal do pensamento e não a sua adequação à realidade.
Mas com isto não se pense que a Lógica ( a partir deste momento sempre que nos
referirmos à Lógica, estamos a referir-nos à Lógica Clássica) não se preocupa
com a verdade (validade material), antes pelo contrário: é que o pensamento só
pode ser verdadeiro se estiver correctamente estruturado. Podemos, então,
concluir o seguinte:
1ª- Regra: O silogismo tem três e apenas três termos: o maior, o médio ou
mediano e o menor.
Exemplo:
Silogismo inválido.
Exemplo:
trabalhadores bem-dispostos
Silogismo inválido.
O termo médio é incluído nas duas premissas para fazer a ligação entre os termos
maior e menor e não na conclusão.
3ª Regra: O termo médio tem que ser tomado, pelo menos uma vez, em toda a
sua extensão (universalmente), ou seja, deve estar distribuído pelo menos uma
vez.
Exemplo:
4ª Regra: Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas
premissas. Se na conclusão um termo está distribuído, também tem de estar
distribuído na premissa onde ocorre.
Exemplo:
Silogismo inválido.
Apresenta o termo "flor" universal na conclusão - predicado de uma frase
negativa-sendo particular na premissa maior - predicado de uma frase afirmativa.
Exemplo:
Exemplo:
Silogismo inválido.
Uma vez que as premissas são ambas afirmativas, o predicado não está
distribuído, o que significa que se referem a parte dos elementos do conceito (há
pensadores que não são físicos e há homens que não são físicos). Inferir uma
conclusão negativa equivale a usar o predicado em toda a sua extensão (o
predicado das proposições negativas está distribuído), o que torna o termo maior
mais extenso na conclusão do que na premissa maior.
Exemplo:
a) Polissilogismo
O polissilogismo é uma espécie de argumento que contempla vários silogismos,
onde a conclusão de um serve de premissa maior para o próximo. Como por
exemplo:
b) Silogismo informe
Por exemplo: "a defesa pretende provar que o réu não é responsável do crime por
ele cometido. Esta alegação é gratuita. Acabamos de provar, por testemunhos
irrecusáveis, que, ao perpetrar o crime, o réu tinha o uso perfeito da razão e nem
podia fugir às graves responsabilidades deste acto".
Todo aquele que comete um crime quando no uso da razão é responsável pelos
seus actos.
c) Silogismo hipotético
- Condicional: "se vinte é número ímpar, então vinte não é divisível por dois".
Aqui, duas proposições simples são unidas pela partícula se...então. Dentro do
cálculo proposicional, essa proposição, será considerada verdadeira se sua
consequência for boa ou verdadeira, simbolicamente: p ⇒ q (ou p ⊃ q).
d) Dilema
A falácia do termo médio não distribuído ocorre quando o termo que liga as duas
premissas não abrange toda a classe a qual pertence.
1. Todo Z é B
2. Todo y é B
3. Portanto, todo y é Z
1. Todo Z é B
2. Algum Y é Z
3. Portanto, todo Y é B
O termo médio – Z – é distribuído, porém, Y é distribuído na conclusão e não
em uma premissa. Por esse motivo tal silogismo é inválido.
1. Todo Z é B
2. Y é B
3. Portanto, Y é Z
Pode ser ou pode não ser o caso de que "Todo Z é B", mas isso é irrelevante para
a conclusão. O que é relevante é quando pode-se afirmar que "Todo B é Z",
situação desconsiderada no argumento. Essa falácia é semelhante a afirmar o
consequente e negar o antecedente. Entretanto, ela pode ser corrigida com a troca
dos termos na conclusão ou na primeira co-premissa. É bem verdade que na
perspectiva da lógica de primeira ordem, todos os casos de falácia do termo
médio não distribuído são, de fato, exemplos de afirmação do consequente ou
negação do antecedente, dependendo da estrutura do argumento falacioso.
Por exemplo:
Histórico-social
Axiológico
Normativo
Pois o direito realiza um valor através de uma norma de conduta. Assim não há
que separar o facto ou conduta, o valor ou finalidade a que a conduta está
relacionada, nem a norma que decide sobre a conduta, pois o direito é
simultaneamente um facto social, uma norma ou comando um valor ou dever-se.
O direito portanto, possui sempre uma Tridimensionalidade ôntica que o situa no
mundo da cultura. Deste modo, qualquer análise jurídica deve considerar
necessariamente o complexo das normas em função das situações nómadas, isto
é, deve apreender o objecto do direito em sua estrutura tridimensional.
É só através das suas relações com facto a que se refere, dai Miguel Reale
atribuir ao direito carácter da ciência social compreensivo-normativa, que estuda
o seu objecto numa perspectiva que vai muito além do formalismo Kelseniano e
da tendência idealista que vê no direito sobretudo um complexo de juízos
lógicos. A norma exerce no tridimensionalíssimo jurídico o papel dinâmico de
integrar o elemento fáctico ao elemento axiológico, sendo por conseguinte parte
da realidade jurídica. A norma é por isso variável em função dos outros
elementos da relação tridimensional: o facto e o valor.
A teoria tridimensional do direito, em razão da interacção essencial dinâmica dos
três elementos que a constituem, implica uma forma especial de dialéctica na
abordagem do fenómeno jurídico, a que Miguel Reale denomina dialéctica da
implicação polaridade, distinguindo-a da hegeliana e marxiana.
Nas relações entre facto e valor, esses elementos são irredutíveis um ao outro, ou
seja, constituem realidades autónomas, distintas, de modo que do ser não se pode
passar directamente para o dever-se, embora a recíproca não seja verdadeira, ai
está o factor polaridade. Mas facto e valor exigem-se mutuamente, de modo tal
que não podem ser considerados em separado nem desvinculados da norma que,
em ligada realiza o direito, por sua vez a norma não pode ser compreendida
senão em função desses dois elementos, que constituem respectivamente o seu
conteúdo e o seu fim eis o factor implicação.