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PSC - Introdução à Psicopatologia

Parte Médica

Texto - “Semiologia Psiquiátrica - Antonio Zuardi, Sonia Loureiro”

- “Os dados necessários à História Clínica Psiquiátrica e ao Exame do Estado Mental,


são obtidos, basicamente através da entrevista psiquiátrica, estando sujeitos à
influência de inúmeras variáveis, relacionadas ao entrevistador, ao entrevistado, à
interação entre eles e ao ambiente onde o exame está sendo realizado.”.

- “A avaliação psiquiátrica começa antes mesmo do início da entrevista, com a


observação da expressão facial do paciente, seus trajes, movimentos, maneira de se
apresentar, etc” .

- “O entrevistador deve adaptar sua entrevista ao paciente e não forçar o paciente a


adaptar-se à entrevista.” → “No decorrer da entrevista, é importante atentar-se não
apenas ao que o paciente diz, mas também à forma como se expressa e ao que faz
enquanto fala.”.

- História Clínica Psiquiátrica (Anamnese Psiquiátrica) → Objetiva fornecer


elementos para a formulação diagnóstica, incluindo a descrição detalhada dos
sintomas e a identificação dos fatores predisponentes, precipitantes e perpetuantes
da doença. Tópicos a serem avaliados e registrados:

● Identificação

→ Nome, sexo, idade, estado civil, grupo étnico, procedência, religião, profissão.

● Queixa principal

→ Breve descrição sobre o problema atual para o qual ele está buscando ajuda
profissional. (observar quem encaminhou, de quem foi a iniciativa de buscar ajuda e
com que objetivo).

● História da Moléstia Atual


→ Avaliar como a doença começou, se existiram fatores precipitantes, como evoluiu e
qual a gravidade e o impacto da doença sobre a vida da pessoa.

● Antecedentes - História Médica e Psiquiátrica

→ Descrever em ordem cronológica as doenças, cirurgias e internações hospitalares.


Observar mudanças recentes de peso, de sono, hábitos intestinais e problemas
menstruais. Colher informações de medicamentos em uso. Verificar abuso de
medicamentos e de drogas. Levantar informações sobre os tratamentos psiquiátricos
prévios. Verificar a utilização prévia de psicofármacos. Estar atento ao significado e
aos sentimentos do paciente frente a sua história de doença, o impacto em sua vida,
etc.

● Antecedentes - História Pessoal

→ História pré-natal/nascimento ( gestação, parto, condições de nascimento…);


Infância e desenvolvimento ( alimentação, medos, interação social…); Adolescência
( manifestações de delinquência, sexualidade, profissionalização.); Idade adulta (
trabalho, vida familiar e conjugal, sexualidade, relacionamentos e situação
sócio-econômica).

● Antecedentes - História Familiar

→ Colher informações sobre pais e irmãos e sobre o ambiente familiar ( nível de


interação, padrões de relacionamento dos pais entre si, com os filhos e destes entre
si.)

● Personalidade Pré - mórbida

→ Compreende o conjunto de atitudes e de padrões habituais de comportamento do


indivíduo. Deve englobar os seguintes aspectos: preocupações excessivas com
ordem, limpeza, pontualidade, o estado de humor habitual, capacidade de expressar
os sentimentos, nível de desconfiança e competitividade, capacidade para executar
planos e projetos e a maneira como reage quando se sente pressionado.

● Exame físico
→ Deve ser feito diariamente, visando verificar se os sinais e sintomas estão
associados a condições orgânicas ou psiquiátricas.

- O Exame do Estado Mental é uma avaliação do funcionamento mental do paciente,


no momento do exame, com base nas observações que forma feitas durante a
entrevista.

- Partes que compõe o exame do estado mental e suas principais alteações:

Apresentação Geral

❖ Aparência - descrição que deve permitir formar uma imagem do paciente

● aparência quanto à idade e à saúde


● a presença de peculiaridades e deformidades físicas
● o modo de vestir-se e os cuidados pessoais
● a expressão facial e sinais indicativos de doença orgânica

❖ Psicomotricidade

● velocidade e intensidade da mobilidade geral na marcha, quando sentado e na


gesticulação.
● atividade motora, incluindo agitação ou retardo, a presença de tremores, de
movimentos involuntários esteriotipados (maneirismo) ou movimentos
involuntários e espasmódicos (tiques).
● a presença de sinais característicos de catatonia (anomalias motoras em distúrbios
não orgânicos).

❖ Situação da entrevista / interação

● Local
● Presença de outros participantes
● Intercorrências eventuais

Linguagem e Pensamento
❖ Características da fala - descreve-se o volume da fala, se é espontânea e defeitos na
verbalização como afasia (prejuízo na compreensão ou transmissão de idéias,
através da linguagem, característico de dano cerebral), disartria (incapacidade na
articulação de palavras), guagueira…

❖ Progressão da fala

● Linguagem quantitativamente diminuída: o paciente restringe a sua fala ao


mínimo necessário.
● Fluxo Lento: longas pausas entre as palavras.
● Prolixidade: o paciente fala muito, discorrendo longamente sobre todos os tópicos.
● Fluxo acelerado: o paciente fala continuamente e com velocidade acelerada.

❖ Forma do pensamento

● Circunstancialidade: o objetivo final de uma determinada fala é longamente


adiado, pela incorporação de detalhes irrelevantes.
● Tangencialidade: o paciente fala de forma tão vaga, que apesar da fala estar
quantitativamente adequada, pouca informação é transmitida.
● Perseveração: o paciente fornece uma mesma resposta à uma variedade de
questões.
● Fuga de idéias: sempre na presença de um pensamento acelerado, caracteriza-se
pelas associações inapropriadas entre os pensamentos.
● Pensamento incoerente: ocorre uma perda na associação lógica entre partes de
uma sentença ou entre sentenças. (Desagregação do Pensamento → o que determina
a diferença é o estado da consciência; estado vigil → Desagregação, rebaixamento
da consciência → Pensamento incoerente)

● Bloqueio de pensamento: ocorre uma interrupção súbita da fala, no meio de uma


sentença. (quando o paciente retoma o discurso, o faz com outro assunto.)
● Ecolalia: repetição de palavras ou frases ditas pelo interlocutor (às vezes com a
mesma entonação).

❖ Conteúdo do Pensamento - conceitos emitidos pelo paciente durante a entrevista e


suas relações com a realidade.
➢ Tema predominante/características peculiares:

● Ansiosos → preocupações exageradas consigo mesmo, com outros ou com o futuro.


● Depressivos → desamparo, desesperança, ideação suicida…
● Fóbico → medo exagerado ou patológico diante de algum tipo de estímulo ou
situação.
● Obssessivos → pensamento recorrentes, invasivos e sem sentido, que a pessoa
reconhece como produtos de sua própria mente e tenta afastá-los de sua consciência.

➢ Logicidade do Pensamento:

● Idéias supervalorizadas → o conteúdo do pensamento centraliza-se em torno de


uma idéia particular, que assume uma tonalidade afetiva acentuada, é irracional.
● Delírios → crenças que refletem uma avaliação falsa da realidade, e das quais o
paciente não pode ser dissuadido por meio do raciocínio lógico. Delírios primários:
quando não estão associados a outros processos psicológicos (crê que pensamentos
são colocados em sua cabeça; acredita que os próprios pensamentos são audíveis ou
captados pelos outros) / Delírios secundários: estão associados com outros
processos psicológicos, como alucinações, depressão e mania.

❖ Capacidade de abstração - reflete a capacidade de formular conceitos e


generalizações (como por ex interpretar os provérbios de uma cultura).

Senso e Percepção

❖ Despersonalização - sensação de estranheza, como se seu corpo, ou parte dele não


lhe pertencessem.

❖ Desrealização - o ambiente ao redor parece estranho e irreal.

❖ Ilusão - interpretação perceptual alterada, resultante de um estímilo real.

❖ Alucinação - percepção sensorial na ausência de estimulação externa do órgão


sensorial envolvido ( podem ser: auditivas, táteis, visuais, olfatórias ou gustativas).

Aula 1 - Psicopatologia & Conceitos


→ Psicopatologia: Estudo dos fenômenos psíquicos conscientes e patológicos que
ocorrem nos seres humanos; Conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento
mental; Divide o psiquismo humano em conceitos operativos (funções psíquicas)
para depois agrupá-los em quadros nosológicos.

→ Campo da Psicopatologia: Transtorno Mental; Vivências e comportamentos


anormais ( os quais são diferentes das vivências normais tanto quantitativamente
quanto qualitativamente.)

→ Semiologia Psicopatológica: Estudo dos sinais e sintomas dos transtornos mentais.

→ Os sintomas apresentam dois aspectos fundamentais:

● Forma → Estrutura básica, que é em tese universal. Independente de fatores


históricos e culturais. (ex: Processo alucinatório, formação do delírio…)
● Conteúdo → Preenche a alteração formal. Depende da história pessoal e cultural, do
momento histórico em que ele vive, da educação, experiências passadas. Não é
universal, depende de experiências particulares do indivíduo.

→ Sinal: manifestação ou indicador objetivo de um processo ou estado patológico. É


observado pelo clínico. São observáveis, quantificáveis, simples e constantes. (ex:
Taquicardia, contração muscular na ansiedade ; Desarmonia dos movimentos,
expressão linguística incoerente na esquizofrenia...)

→ Sintoma: toda manifestação subjetiva de um estado patológico, que é percebido e


descrito pela pessoa. São menos observáveis e quantificáveis, mais complexos e
menos constantes.

→ Síndrome: conjunto de sinais e sintomas observados de forma recorrente na prática


clínica. É um constructo descritivo apenas (uma ferramenta de descrição que auxilia
na prática clínica, que pode variar, não existe na prática).

→ Transtorno: presença de comportamentos ou padrões de conduta, ou grupo de


sintomas bem delimitados e identificáveis na exploração clínica que na maioria dos
casos se acompanha de mal estar ou interfere na atividade da pessoa.
Obs! Por que falamos de Transtorno e não de Doença? "Doença" implica em conhecer
a etiopatogenia, o que mudou dentro do corpo da pessoa, a causa. ( e na clínica não
nos preocupamos com isso) (lembrar da abordagem fenomenológica)

→ Mini - dicionário de aula:

● Humor delirante → sensação de estranheza que precede o delírio.

● Pseudoalucinação → a pessoa ouve uma voz dentro da cabeça.

● Memória delirante → são dois passados, e um deles é delirante.

● Descarrilamento → mudança repentina na linha de pensamento.

● Catatonia → rigidez muscular, comportamentos em eco, negativismo (ativo ou


passivo)

→ Definições de funções mentais e algumas alterações:

● Consciência → Atividade integradora dos fenômenos psíquico, o todo momentâneo


que possibilita o tomar consciência da realidade naquele instante (Jaspers);
Totalidade da experiência momentânea inserida na corrente contínua da vida
psíquica (Alonso Fernandes).

- Obnubilação: (causada por infecção, alteração metabólica ou intoxicação),


caracterizada por: Diminuição da nitidez da atividade psíquica, Sonolência,
Pensamento Lento, Desorientação, Perda da Atenção, Apatia, Falta de
espontaneidade e perplexidade.

- Delirium: Rebaixamento da consciência, Alterações da atenção, memória de fixação


e orientação; Presença de Ilusões, alucinações (percepção no meio externo),
pensamento incoerente, onirismos (experiência que parece um sonho);
Sugestionabilidade.

- Dissociação da Consciência: Função corporal ou do psiquismo deixa de estar


integrada à consciência. (Conversão; Crises convulsivas não epilépticas…)
● Atenção → Capacidade de focalizar a atividade psíquica, de discriminar os
conteúdos da consciência dirigindo-se a determinados estímulos. É Voluntária e
Espontânea.

- Hipoprosexia: desinteresse, déficit intelectual, alteração da consciência.

- Hiperprosexia: distraibilidade.

● Orientação → Capacidade de situar-se em relação a si e ao mundo, no tempo e no


espaço

- Autopsíquica (Quem é o senhor? Qual o seu nome? Qual sua profissão?)

- Alopsíquica (Orientação Temporal: Que dia é hoje? Qual o dia do mês? Em que ano
estamos? // Orientação Espacial: Onde estamos? Como se chama a cidade onde
estamos?)

● Memória: capacidade de registrar, fixar, conservar e reproduzir a experiência


anterior.

- Amnésia de fixação ou anterógrada : Perda da memória recente; Perde-se os


acontecimentos que ocorreram depois da ação que causou a amnésia; Obnubilação
da consciência; Síndromes orgânico-cerebrais (Síndrome de Korsakov) →
Relacionada à lesão no Hipocampo, causada geralmente por falta de vitamina B1 e
encefalite.

- Amnésia retrógrada ou de conservação : Perda das recordações; Perde-se as


recordações anteriores ao fator que causou a amnésia. Pode ser: Global/Maciça;
Lacunar; Seletiva (origem psíquica)

● Pensamento → Apresenta Curso (modo como o pensamento flui, sua velocidade e


ritmo ao longo do tempo.), Forma (estrutura e arquitetura básicas do pensamento,
preenchida pelos mais diversos conteúdos.) e Conteúdo (aquilo que dá substância ao
pensamento, temas predominantes e assuntos em si).

- Obsessões: Pensamentos que se repetem, conta a vontade da pessoa, são


repugnantes, ela tenta afastar mas não consegue.
- Juízo (Delírios): Juízo falso que apresenta convicção extrema e certeza subjetiva,
irredutibilidade à argumentação lógica, não aceito pelo meio cultural.

Obs! Alucinação → disfunção da sensopercepção, caracterizada pela percepção sm o


objeto.

● Conação (Vontade) → Atividade psíquica de direcionamento para a ação.

● Emoção → Movimentos afetivos intensos, com apresentação brusca e de curta


duração. Reações afetivas agudas, momentâneas, desencadeadas por estímulos
importantes.

● Estados de Humor → Estado emocional basal e difuso da pessoa em determinado


momento. Disposição afetiva de instalação lenta, com intensidade variável, estável e
persistente no tempo.

● Sentimentos → Conjunto amplo das experiências afetivas. Vivências afetivas


constituídas pela fusão entre emoções, humor, sentimentos, sensações corporais,
conteúdos intelectuais, valores e representações.

Parte Fenomenológica

Aula 1 - Livro - Introdução à fenomenologia (Angela Ales Bello)


● Introdução

- Edmundo Husserl, no decorrer de seus estudos, continuamente se pergunta: “Qual é


o significado do ato que estou operando?”, e ao mesmo tempo: “ Qual é a formação
que permite tais atos?”.

- “ As ciências humanas não podem se constituir efetivamente sem a apreensão


adequada do que vem a ser a dimensão espiritual em sua relação com a psique e
com a corporeidade.”

- “ … a Psicologia não poderá, adequadamente, se constituir como psicologia humana


sem considerar a dimensão psicológica em suas conexões com a dimensão
espiritual.”

● Capítulo 1 - O que é fenômeno e fenomenologia

- “A Fenomenologia é uma escola filosófica cujo pai e mestre é Edmund Husserl.


Começou na Alemanha em fins do século 19 e na primeira metade do século 20.”

- “Fenômeno” = aquilo que se mostra (não somente aquilo que aparece ou parece);
“logos” = pensamento, capacidade de refletir.

- “Tomemos fenomenologia como reflexão sobre um fenômeno ou sobre aquilo que


se mostra. O nosso problema é: o que é que se mostra e como se mostra.”

● Capítulo 2 - A fenomenologia como método

- “A palavra grega para designar caminho é méthodo”

- “Segundo Husserl, o caminho é formado de duas etapas”:


1. A busca do sentido dos fenômenos: A Redução Eidética

→ “Nós intuímos o sentido das coisas, e para tratar desse tema, usamos a palavra de
origem latina 'essência', portanto captamos a essência pelo sentido.”

→ “Husserl diz, por exemplo, que não interessa o fato de existir, mas o sentido desse
fato.”
→ “Como o que nos interessa é o sentido das coisas, deixamos de lado tudo aquilo que
não é o sentido do que queremos compreender e buscamos, principalmente, o
sentido.”

2. Como é o sujeito que busca o sentido: A Redução Transcendental

→ “A novidade de Husserl é exatamente essa análise do sujeito humano, ponto de


partida de sua investigação.”

→ “A percepção é uma porta, uma forma de ingresso, uma passagem para entrar no
sujeito, ou seja, para compreender, como é que o ser humano é feito.”

→ “A percepção vai ser resultado do dar-nos conta. Esse ‘dar-se conta’ é a consciência
de algo, por exemplo, a consciência de tocar alguma coisa.”

→ “Ver e tocar são vivências, e se são vivências, quer dizer que são registradas por nós
e delas temos consciência. Ter consciência dos atos que são por nós registrados são
vivências.”

→ “... temos o primeiro nível de consciência que é o nível dos atos perceptivos, e um
segundo nível de consciência que é o nível dos atos reflexivos.”

→ “Em geral, o impulso em direção a alguma coisa é registrado por nós, pois temos
consciência do impulso e queremos vivê-lo.”

→ “A consciência é a dimensão com a qual nós registramos os atos.”

→ “ Husserl conclui que podemos dizer que temos um corpo baseando-nos na análise
dos atos registrados por nós, isto é, das sensações corpóreas que registramos.”

→ “ O momento preliminar é o da corporeidade, proemial a tudo aquilo que nós


fazemos e é, naturalmente, o que nos dá a constituição do ser que nos localiza.”

→ “... portanto, não existe somente interioridade e exterioridade, mas interioridade,


exterioridade e esse terceiro momento que é o registro dos atos, aquilo que nos
possibilita ter consciência.” → “Entre esses atos, sabemos que existem os que são
do impulso, dos instintivos e das reações.”

→ “ … podemos controlar nosso corpo e a nossa psique. Estamos registrando o ato de


controle, mas este não é de ordem psíquica nem de ordem corpórea, e nos faz entrar
numa outra esfera a que os fenomenólogos chamam de esfera do espírito.”

→ “Husserl e seus discípulos analisam a alma em duas partes”:

● Impulso psíquico → são atos não queridos ou não controlados por nós; não somos
nós a origem deles, nem nós que os provocamos, mas os encontramos. ( ex: sentir
medo) (reações e emoções).
● Espírito → parte que reflete, decide, avalia, e está ligada aos atos da compreensão,
da decisão, da reflexão, do pensar.

→ OBS! Análise fenomenológica: 1º- analisa os atos concretos; a consciência corpórea


é preliminar a tudo / 2º- formula o conceito.

→ “Somos corpo-psique-espírito como dimensão.” → “A conexão entre as 3


dimensões é o que estamos descrevendo através do ato.” → “ Cada ser humano,
individualmente, tem todas essas características que podem ser mais ou menos
desenvolvidas.”

● Capítulo 3 - A Consciência e Estruturas Universais

→ A consciência “é como um ponto de convergência das operações humanas, que nos


permite dizer o que estamos dizendo ou fazer o que fazemos enquanto seres
humanos.”

→ “A percepção é aquele ato que se dirige a um objeto físico, concreto, que está diante
de mim.”

→ “Os atos psíquicos têm sempre motivos, mas o que compõe os atos psíquicos é o
universo da motivação e a motivação implica numa atividade espiritual.”

→ motivo & impulso psíquico (“natural”); motivação & atividade espiritual


(“aprendido”).
→ “Ainda que o objeto percebido seja diverso ou que tenhamos percepções diferentes,
todos ativamos a percepção.”

→ Husserl discorda de Freud, pois não considera que o ser humano é


“controlado/comandado” pelo inconsciente, pois reconhece que além dos atos
psíquicos, existe uma dimensão espiritual. Além disso, Husserl se distancia de Jung
pois não acredita que a dimensão espiritual e a dimensão psíquica sejam uma só,
como postula Jung, uma vez que “se são atos diferentes, não podem estar em uma
só dimensão”.

● Capítulo 4 - A Síntese Passiva: Fase Anterior à Percepção

→ “Husserl diz que existe um caminho anterior à percepção, que ele chama de síntese
passiva.” → “Ou seja, nós reunimos elementos sem nos darmos conta de que o
estamos fazendo.”

→ “Trata-se de operações que estabelecem continuidade e descontinuidade,


homogeneidade e heterogeneidade.” → “... são operações que cumprimos num nível
passivo, somos afetados por elas antes que façamos qualquer coisa.”

→ “Analiticamente, compreendemos que já demos aqueles passos, tornaram-se nossos,


não pudemos deixar de fazê-los, e é a essa passividade a que Husserl se refere.” (e
não que vivemos passivamente)

● Capítulo 5 - O Eu o Outro e o Nós: A Entropatia

→ “Nós vivemos de forma individual, mas ligados à estrutura universal.”

→ “Todos os seres humanos estão centrados em um eu, com capacidade de ter


consciência de si, e com base nesse eu - do ponto de vista da antropologia filosófica
- pode-se chegar a dizer nós.”

→ “... entre os nossos diversos atos, há um que podemos chamar de Einfühlung, e sua
peculiaridade é a de sentirmos imediatamente que estamos em contato com outro ser
humano, de modo tal que podemos falar de ‘nós’.”
→ “Podemos afirmar que os atos nunca se dão isoladamente, pois junto com o ato
perceptivo está esse ato específico da entropatia que é um apreender o outro, e essa
apreensão é imediata.”

→ O ato de entropatia quer dizer que sinto a existência de um outro ser humano, como
eu, é, portanto, uma apreensão de semelhança imediata. → “... se trata de
semelhança e não de identidade, pois eu percebo que somos dois, que o outro não é
idêntico, mas semelhante a mim.”

→ “A entropatia é um ato específico, não pode ser confundido com a reação psíquica
da simpatia.” → “Usamos entropatia para dizer que, imediatamente, captamos que
estamos diante de seres viventes como nós.”

→ “Através da entropatia, entramos em um mundo intersubjetivo, cuja vivência ajuda


o nosso desenvolvimento pessoal, do ponto de vista fundamentalmente espiritual,
cultural.”

→ “Podemos estabelecer relação entropática também com os animais pois o ser


humano tem vivências no nível psíquico” ( pulsões, impulsos, instintos…) → “
Porém não é possível estabelecer relação espiritual com um animal.”

Atos da Clínica
● Ato psíquico = ato involuntário = intuitivo
● Ato espiritual = ato voluntário\motivação = base do controle individual e
social (ativada pelo nao pode, recusar todas as outras coisas)

Sentir (Einfuhlung) - estar perto = empatia (forma de entrar no mundo


intersubjetivo constitutivo da pessoa)

Karl Jaspers - Psicopatologia Geral I e II

● Observar, perguntar, analisar e pensar psicopatologicamente


● Objeto da psicopatologia - fenômeno psíquico consciente (vivências humanas,
suas causas e os modos que se exteriorizam objetivamente os fenômenos
patológicos)
● Psicologia e psicopatologia = nao estao separadas já que o conceito de doença não é
uniforme
Aula 2 - Ludwig Binswager - a psicopatologia fenomenológica

Encontro com cada um dos seres humanos que estão sofrendo (homem natureza =
aquele vinculado a corporeidade tangível e experimental)

Parte espiritual do ser humano não pode ser reduzido a um processo de base natural
(simplista), contato com a humanidade sofredora constitui uma fonte e uma prova
das afirmações teóricas

Procura compreender quais são as vivências da pessoa e tenta captá-las na sua


estrutura essencial

Usa as bases de Hussel e Heidegger

É necessário entrar na dimensão da experiência vivida no contato com o mundo


externo para compreender a relação entre o que e dado perceptivo e o que e produto
da fantasia (como a psique procede)

O fio condutor entre a existência e a transcendência e a temporalidade que se


individualiza no fluxo da consciência, para Binswager não é suficiente

Hussel odeia Freud = inconsciente de Freud atua sem influência do consciente

Transtorno mentais = não apenas parte psíquica, mas também ligada à esfera da
corporeidade e a da história pessoal (dimensão do tempo)

Intervenção manual > corpo vivente + História pessoal

Une a participação humana e conhecimento científico (psiquiatria humanista)

Duas chaves interpretativas, ele lê o transtorno mental, examinando não como uma
doença em si mesma, mas como modalidade daquela existência particular

Lhe parece insuficiente recorrer a uma causa psíquica para apreender o sentido do
mal-estar. Trata-se, ao contrário, de examinar a existência em sua globalidade, o seu
ser-no-mundo e as modalidades que o caracterizam
Conecta fenomenologia e psicopatologia: “propõe uma fenomenologia
psicopatológica não puramente descritiva dos fatos (existencial heideggeriana), mas
que visa à investigação do sentido dos fatos (valor transcendental husserliano)”

Apreende o sentido vivido pelo outro (empatia), o que permite traçar as


características do mundo do outro sem projetar o próprio mundo

Psicopatólogo orientado fenomenologicamente

• Penetra no sentido das palavras que ouve


• Revive o objeto, transporta-se ao seu interior, reconstrói esse mundo

diagnóstico por sentimento > modificado para > diagnóstico por compenetração

Aula 3 - Sintonia e Ruptura nos Relacionamentos

A vida nos parece demasiadamente ‘grave’ para ser reduzida a um romance, a


despeito de tudo que um romance pode nos ensinar sobre a vida

Esquizoidia x Sintonia

● Rompe com o contato com a realidade;


● Mais próxima da esquizofrenia;
● Mantém o contato com a realidade;
● Excessiva adesividade, afetividade viscosa, pegajosa (constituição epileptóide);
● Mais próxima à psicose maníaco-depressiva;

Diz o psicopatólogo: a síndrome mental não é mais para nós uma simples associação
de sintomas, mas a expressão de uma modificação profunda e característica da
personalidade humana (Barthélémy, 2012, p. 96). A configuração sindrômica que
se apresenta à observação no exame psíquico, então, acontece secundariamente,
como consequência dos mecanismos de compensação fenomenológica
(Minkowski, 1927/2000).

O homem é feito para buscar o humano.


Os fenômenos mórbidos aprofundam nossos conhecimentos do funcionamento
normal, mas não poderiam, por outro lado, ser analisados sem o conhecimento
deste. Enquanto isso, todavia, a distinção desses dois modos pode trazer mais
ordem a nosso trabalho

Tempo: questão complexa que não pode servir como base de diagnóstico na
psiquiatria, ou seja, os fenômenos psíquicos se encontram em conexão direta com
a noção de tempo
Ímpeto Vital: É esse ímpeto que orienta toda nossa vida em direção ao futuro, ele se
manifesta exteriormente não pelo movimento voluntário, mas pela obra pessoal em
todas as suas nuances; ele tende também frequentemente em direção ao ideal.
Ímpeto pessoal, futuro, obra e talvez ideal estejam no fundo estreitamente ligados
entre si na vida humana, é somente nosso intelecto que consegue separar essas
noções umas das outras e introduzi-las em seguida em conceitos diferentes.

“A personalidade humana é sustentada pelo ímpeto vital, de forma que se o ímpeto


vacila, a personalidade desmorona com o problema do tempo, ou seja, de forma
progressiva.”

Um caso: “o caráter universal dessas manifestações mórbidas é uma vantagem para


nós, na medida em que nós tentamos penetrar mais fundo na natureza de
fenômenos como esses”
- Vantagens de estudar o caso no ambiente representado pela vida normal:
- “A forma de reagir às excitações habituais vindas de fora, a capacidade de se
adaptar às exigências da vida cotidiana, a variabilidade dos sintomas, suas
nuances particulares aparecem muito mais claramente em tais condições. A essa
circunstância vem se juntar outra. Nós não podemos conservar uma atitude
médica durante 24 horas por dia, nós reagimos em relação ao doente como as
outras pessoas de seu círculo. Compaixão, delicadeza, persuasão, impaciência e
raiva se revezavam em sua aparição”

"ir rapidamente não é suficiente" (Minkowski, 1933/1973, p. 7), no método


fenômeno-estrutural elege-se a observação prolongada e compenetrada como seu
fundamento basilar. É o homem deteriorado que nos interessa, mais do que a
deterioração propriamente dita (Vialá, 1998). A crítica à noção kraepliana de
demência acontece na medida em que, ao que esta encerra a ideia de "perda
irreparável das funções psíquicas", estaria feita "para paralisar toda tentativa de
tratamento" (Minkowski, 1927/2000, p. 216)

No livro II, Minkowski (1933/1973) discorre sobre a estrutura espaçotemporal das


perturbações mentais. Em suas orientações gerais, indica-nos que estão "os dados
fenomenológicos e psicopatológicos... tão entrelaçados" que, a não ser para fins
didáticos, são "inseparáveis", como "os membros de uma família" (p. 161).

Fatos de ordem psicológica

● Alternância entre o elemento depressivo e delirante por fatores específicos que


tendem para um objetivo
● Dir-se-ia que ele vai buscar no arsenal de seus sintomas patológicos aquilo que é
capaz de estabelecer um certo contato com seus semelhantes (atitude de contato).
● As noções de Esquizoidia e de Sintonia trata-se segundo ele de duas funções
essenciais que existem em proporções variáveis em todo indivíduo e que
determinam a sua atitude em relação ao seu ambiente. Essas são duas funções
essenciais que se encontram tanto no indivíduo normal quanto no alienado.
● A ideia delirante é no fundo sempre a mesma; porém ela aparece de formas
diferentes, do ponto de vista social. O psiquismo mórbido não é absolutamente
rígido. A alternância de sintomas, as formas diversas sob as quais eles se
apresentam, estabelecem como uma corrente comum entre a vida normal e o
psiquismo mórbido;
● Outros problemas mais lhe interessam e trazem uma nota mais viva à monotonia
exasperante de sua ideação. Esses problemas são em parte de natureza realista.

Fatos de ordem fenomenológica

As considerações de ordem fenomenológicas nos leva em direção à questão sobre


onde se apresenta a decalagem entre dois psiquismos

● Meu pensamento é empírico antes de tudo, os fatos só o interessam na medida em


que possa basear sobre eles a conduta futura. Essa propulsão em direção ao futuro
falta inteiramente a nosso doente, não há nele nenhuma tendência a generalizar, a
chegar a uma regra empírica.
● Sua atitude determina um quadro preciso do universo que vem em seguida refletir
nos homens e nos objetos.
● Ao estudar melhor os fenômenos que compõem a vida humana, chegaremos
também um dia a compreender melhor as manifestações misteriosas da alienação
mental.

Sintonia e Ruptura nos Relacionamentos

• Tempo e Espaço na dialética afetiva


• Vivência de tempo
• Vivência do espaço
• Diagnóstico pela razão
• Diagnóstico pelo sentimento > interpenetração

Os atendimentos serão compreendidos pelo método fenômeno-estrutural,


desenvolvido por Minkowski, que instaura a necessidade de abordagem
diagnóstica e terapêutica do ser humano em sua totalidade estrutural, considerando
sua experiência temporal e espacial e a relação interpessoal como aspectos
indissociáveis da sua existência

Qual é o objeto de estudo da Psicologia?

● o método fenômeno-estrutural não tem como preocupação central a cura do


paciente
● Nessa perspectiva, o clínico é um mediador da incitação que leva o paciente em
direção a uma vontade de conquista do mundo.
● Sua ação visa restituir à pessoa seu “poder fazer livremente” e tem como objetivo
apoiar o paciente na procura dos caminhos para a sua realização pessoal.

> O encontro

● O encontro, não o cuidado, é o princípio de base do estabelecimento do contato


com o paciente no método fenômeno-estrutural, em plena consciência da atitude
inicial que ele supõe e requer na duração e na natureza do recolhimento dos dados
clínicos que resultará.
● É possível enxergar como fontes de análise podem emergir para desembocar, a
cada pólo da relação, sobre perspectivas de evolução da pessoa para contribuir a
um encaminhamento significante do olhar sobre o outro e sobre si mesmo
particularmente propício a uma evolução sentida e compartilhada em conjunto.
Aula 4 - Psicopatologia fenomenológica (Itália)

- Husserl propõe uma ciência descritivo-essencial (descrever a essência) do


conhecimento puro, cujas formulações podem ser eficazmente aplicadas a
situações concretas. (isso atraiu atenção de psiquiatras de orientação humanista e
existencial).

- Husserl atribuiu um grau inferior às classificações e aos juízos diagnósticos,


evidenciando que tais juízos dependem dos critérios culturais.

- Franco Basaglia (1924 - 1980):

● Precursor do movimento de reforma psiquiátrica italiana (Psiquiatria Democrática)

● Perspectiva histórica (Foucault), sociológica (Goffman) e institucional (Fanon)


da doença mental.

● Lutou contra o eletrochoque, as grades; Estimulou diálogos e relações próximas


com médicos e enfermeiras e pacientes.

- Última décadas do século XX → abordagem fenomenológica passa a reformular


gradualmente os temas existenciais da psiquiatria, assim como passa a modificar
radicalmente a maneira de exercitar-se. (foi um salto qualitativo, que tem suas
raízes na orientação fenomenológico-existencial e na sua antropologia filosófica).

- “Essa abordagem não tem a intenção de invalidar as categorias diagnósticas nem o


ato clínico, mas estabelece sua ineficácia devido à pretensão de apreender o outro
sem resíduos na sua realidade existencial.”

- Bruno Callieri (Após 1960)

● Temia que a presença do outro fosse abordada no aprofundamento psicopatológico


do juízo clínico, ou cristalizada na preliminar referência a conceitos teoréticos no
final das contas abstratos → desvinculados do impacto profundamente humano,
existencial, com a alteridade pessoal.
● Essa visão “temida” só poderia abrir espaço à identidade meramente médica e
psicológica do psiquiatra, às custas da dimensão antropológica.

● “Já não vemos assim o “caso de esquizofrenia”, objetivado em sintomas ou em


mecanismos de defesa, descritos e tomados como fenômeno natural, mas à
presença psicótica como eventualidade ou modalidade pessoal, como ameaça
imanente do ser-humano, que paira sobre cada um.” (Magnaro, 2006)

● Estava convencido da importância da pesquisa especializada → “a tarefa do


psicopatologista requer uma investigação antropológica que capte a complexidade
do ser humano” → Antropologia filosófica.

● Tertium → dimensão antropoanalítica; concorrente com os vastos estudos sobre a


mente e sobre o cérebro. (tentou superar a dualidade mind-brain)

● Aspecto essencial do ser humano → o sentido da sua existência, que se encontra


no fundo de outras análises específicas que se referem às alterações da própria
existência.
● Finalidade da análise existencial → adquirir uma rigorosa fundamentação da
psicopatologia, baseando-se simplesmente no “humano”, no dado imediato da
relação interpessoal.
● Singularidade pessoal, ou seja, uma abertura do modo de ser e do mundo da vida
de cada indivíduo frente ao mundo (horizontal) e à si mesmo
(vertical/transcendental)
● As linhas de fundo da existência humana → Singularidade (Análise do
normal-anormal): Para quais fins estamos fazendo algo terapêutico se não
sabemos nem o que é normal?
● Ideal de equilíbrio e sanidade que guia a pesquisa e a orienta. A força do ideal!
● Relação entre real e ideal (busca pelo ideal/equilíbrio):
■ Real: situação concreta e juízo sobre tal situação
■ Ideal: sofrimento e tentativa fatigante de restabelecer o equilíbrio
○ Imagem de mundo → distorção segundo uma carência ou distorção de projeto de
vida (a gente é tomado pelo que enxergamos como importante)
○ Não se pergunta como, pergunta-se o quê? → Saber filosófico da existência
○ O universal e o particular estão entrelaçados e se sustentam mutuamente.
O trabalho do psicopatologista
● Busca do sentido: Há uma reflexão sobre o campo da psicopatologia e da
história do paciente. A busca de sentido se volta para muitas direções:
○ para a vivência do corpo;
○ para a modalidade da presença no mundo;
○ para a individuação do projeto existencial;
○ para a autenticidade da vida.
● Vivência do corpo: O corpo apresenta-se como um meio e um instrumento
de relação com os outros.
● Delineia-se a dupla possibilidade de viver o encontro com o outro em
plenitude ou, de modo alterado, como acontece nas psicoses delirantes.
● Tudo isso interfere nas possibilidades “de aproximação, de acesso, de
verdadeiro, palpitante, vivo-contato, ainda que somente verbal”
● Antropofenomenologia = estudo da fenomenologia aplicado ao corpo
humano → aspectos positivos e negativos que despersonalizam o corpo,
tornando-o um objeto de observação.
● A tarefa do psicopatologista é individuar as modalidades de
despersonalização.
● Patologias destroem o projeto existencial pleno e é necessário entender o
poder que essas patologias têm para fazer essa destruição.

Corporeidade do amor
● Examina o sutil e difícil equilíbrio entre sexo e amor.
○ Sociedade atual: tende a exaltar o papel da atividade sexual
● A complexidade da estrutura do ser humano → abertura humana em direção
ao outro
● Amor é necessidade de troca, mas tal troca, para coenvolver a totalidade do
ser humano, requer uma relação pessoal exclusiva: “Enquanto o exercício do sexo
é possível com muitos [...] e é também possível no anonimato, o eu te amo é
possível somente com um, e supõe sempre um chamado, o nome, aquele nome
exclui os outros, qualquer outro”
● Patologias do casal: falta a troca e o alinhamento do plano existencial pleno
(dissociação entre plano afetivo e plano sexual à ausência de afinidades profundas
e à excessiva interdependência pessoal, vão da dependência em sentido único até
ao ciúme).
● Na melancolia assiste-se a uma diminuição da dimensão afetiva – já os
indivíduos no estado maníaco sofrem a fragmentação dos sentimentos que
impedem a comunhão de vida.
● Procedimento descritivo de Callieri e reconstrói um vasto continente de
perturbações em dois comportamentos: agressividade (base para condutas
pseudoamorosas de base sadomasoquista) e histeria (fonte das condutas
egocêntricas)

O Mundo-da-vida
● O mundo não é o conjunto das coisas que estão fora, mas é aquilo que está
dentro de nós, a modalidade com a qual cada um de nós vive a relação com as
coisas e com os outros seres humanos.

O Mundo da Criança e seu quarto


● O quarto fala da vivência da criança no seu mundo. Então, devemos
segui-lo, porque da análise que se delineia emerge também a fase de
desenvolvimento em que se encontra a criança.
● Cada brinquedo individualmente manifesta uma maior ou menor capacidade
indicativa, sem dúvida ligada à nossa capacidade de decifrar amplamente a
intenção mais ou menos expressa de comunicar
● O mundo objetual remete às vivências de caráter corpóreo e psíquico. As
experiências que a criança faz com relação ao conhecimento e manipulação dos
objetos são compreensíveis por meio da gênese da relação sujeito-objeto.
● O objeto nos remete à presença total imediata do ser humano no mundo, mas
no caso do velho há uma diminuição de cada possibilidade de buscar
● Para elaborar um projeto, é necessário que esteja viva a dimensão do futuro
presente na vitalidade da criança só potencialmente, porque o projeto requer o
desenvolvimento do que ainda está latente. Também o velho tende a fechar-se no
passado, pois o futuro não tem mais sentido.
● O fóbico, o fóbico-obsessivo, o melancólico, o maníaco têm distúrbios que
são compreensíveis somente sobre a base das faltas, das falências na constituição
do seu mundo-da-vida.
● Cada vez as coisas assumem um peso extraordinário, como no caso do
fóbico, ou se constituem como um antimundo hostil, como no caso do
fóbico-obsessivo.
● Outras vezes, assumem um sentido puramente lúdico, mas sem
projetualidade, como no caso do maníaco, ou fixam-se em um mundo sem
sentido, no qual falta uma dimensão afetiva, como no caso do melancólico.

O Mundo do sagrado
“o sagrado como fundamento pré-categorial do religioso sempre indicou a via para
a abertura e interdições fundamentais à existência humana”

● O valor e a presença daquilo que ele define como o elemento constitutivo


“imaginário de um universo orientado, exigente, cheio de promessas e, sobretudo,
significante”, que permitiu ao ser humano sobreviver.
● A categoria do sagrado é uma categoria humana fundamental, irredutível e
primária.
● Callieri chega à conclusão de que o sagrado tem sua raiz potentemente na
psique humana
● O sagrado está presente em todas as culturas não de forma ilusória, mas
como realmente algo constitutivo do ser humano e constituinte para o seu mundo.
● É a solidariedade entre os indivíduos que torna possível a fundação de um
vínculo de tipo pessoal. Da intersubjetividade à interpessoalidade: essa é a via
teorizada pelos fenomenólogos, que deve estar presente nas relações humanas e na
prática em psicopatologia

As doenças mentais são doenças do cérebro?


• Explicar ou Compreender
• Quando falta o encontro psicopatologia da reciprocidade distorção
antropológica do encontro
• Distúrbio psicótico do encontro leva a perda da reciprocidade

PSICANÁLISE (COMPLEMENTO)

Escuta: está na subjetividade do paciente e a função do terapeuta é interpretar


(linguagem é relevante)

Clínica na Psicanálise

● Freud introduz uma perspectiva inteiramente nova. Em vez de caminhar


pacientemente a partir da semiologia para daí construir uma ligação diagnóstica com
as hipóteses etiológicas, ele parte do ponto fraco do sistema: a terapêutica (devido a
conclusão que os sintomas histéricos poderiam ser criados por sugestão hipnótica -
converteu isso em método de tratamento, o método catártico - clínica híbrida entre o
olhar e a escuta)
● OBS Divã: Como símbolo da passagem do olhar à escuta, o divã é também um
instrumento específico de corte para o olhar.
● Clínica moderna: médico decide tocar no paciente e examiná-lo (essência: olhar)
● clínica psicanalítica: Freud decide tirar as mãos de seus pacientes segundo o que
chamou de método da pressão - no contexto do relativo fracasso desta técnica,
híbrida entre a sugestão e a hipnose, que surge a associação livre (essência:
escuta)
● abandono da catarse: é um método sintomático, que não toca as causas,
implicando recaídas constantes; depende da autoridade do médico e da empatia do
paciente, o que nem sempre se consegue; não possui correlação diagnostica
estável, pois apenas algumas histerias são hipnotizáveis; e, finalmente, não separa a
natureza dos sintomas das queixas dos pacientes.
● Escuta: metódica, atenta ao detalhe, à pequena incongruência, ao deslize, à
repetição ou à ruptura da fala. Flutuante e aberta a interrupções, insistências e
silêncios do discurso, exigi uma técnica
● Psicanálise é uma clínica, que submete sua estrutura a seus próprios pressupostos
(subversão da clínica, com a preservação de sua estrutura).

● SEMIOLOGIA: Abandonando o sistema baseado na semântica orgânica, que


prescrevia a estabilidade do signo em relação a seu referente, Freud se interessará
pelo caráter singular e instável da ligação entre o significante e o significado e pelo
aspecto multifacetado e temporal da produção da significação
● Genealogia do sujeito e uma arqueologia do sentido (suporte linguístico-discursivo)
● O problema da fixação de sua referência semântica: necessidade da invenção de
termos próprios.
● As ciências da linguagem estão para a psicanálise assim como a anatomia está para
a medicina.
● A semiologia psicanalítica se completa apenas no próprio dispositivo de
tratamento: o que constitui o campo analítico é idêntico ao que constitui o fenômeno
analítico, ou seja, o sintoma, os signos que interessam à psicanálise são definidos
por sua relação ao sujeito em situação de fala ao outro (mesmo que seja uma boa
descrição nunca vai ser válida para todo mundo, necessidade de uma ontologia em
primeira pessoa.
● Semiologia lacaniana:
○ O primeiro modelo: semiologia baseada na noção de forma (semiologia das
formas de alienação, no tempo, no espaço, no outro), complexo ou imago. -
No centro desta semiologia encontra-se a distinção entre as formas
imaginárias e o valor simbólico destas formas
○ O segundo modelo: distinção entre análise do eu e análise do discurso. Ou
seja, para além das formas particulares que sobre determinam a formação de
objetos há uma estrutura universal representada pela linguagem. Dualização
presente na lingüística e na antropologia estruturais: o significante e o
significado
● Tanto a semiologia das formas de inscrição do sujeito quanto a semiologia do
significante respondem a esta exigência primária de tomar as leis da linguagem
como referência para os processos patológicos.
● Porém, ao que tudo indica, a última fase da obra lacaniana ocupa-se mais de
problemas diagnósticos e terapêuticos, tentando elevar a semiologia à dimensão de
enodamentos e desencadeamentos entre o Real, o Simbólico e o Imaginário.

● ETIOLOGIA: Origem, causa, como tratar


● O Freud costuma ressaltar nas histerias a etiologia (histórica) e a terapêutica, não
foca tanto na diagnostica e semiologia
● Todos os grandes casos clínicos descritos por Freud comportam uma discussão
etiológica. Ocorre que com o desenvolvimento das hipóteses iniciais em torno do
papel da sexualidade e do recaicarnento de recordações infantis, a etiologia
psicanalítica tende a se ramificar em níveis secundários, orientando-se para a
etiologia específica de tipos clínicos, de sintomas e de formas de angústia
● desintegração da fronteira entre normal e patológico que a perspectiva etiológica se
desdobra na temática mais genérica da causalidade em psicanálise
● O mais importante para Freud é a etiologia das neuroses, ou seja, a capacidade de
produzir sintomas segundo sua lógica de formação (cada diagnóstico é muito único)
(1) Constituição Sexual: noção de hereditariedade, varia ao longo da obra de Freud.
Inicialmente seria a disposição à dissociação da consciência (Charco t), depois a
“aptidão” para a conversão (Breuer), em seguida as protofantasias e as experiências
fundamentais da aurora da civilização. - espaço de discurso onde uma criança é
recebida.
(2) Acontecimento Infantil: Trata-se da causa material da neurose. se refere às
vicissitudes da história infantil capazes de induzir o redespertar da fantasia herdada.
O acontecimento infantil é fundamentalmente a significação articulada de três
eventos: a ameaça de castração, a angústia e o encontro da castração. - à luz das
redes de sobre - determinação significante.
(3) Fixação. Trata-se da causa eficiente da neurose. A conjugação das duas séries
causais precedentes, Na conferência sobre a formação de sintomas este ponto é
apresentado como um nó de satisfação da pulsão que articula o narcisismo
secundário próprio do eu com as exigências pulsionais e desej antes que posicionam
o sujeito diante do supereu - A fixação torna-se assim a própria construção deste
objeto regredido da demanda
(4) Acontecimento Acidental. Trata-se aqui da causa precipitante ou desencadeadora
do quadro neurótico. - Geralmente é este o elemento que o paciente traz ao localizar
a origem do seu sofrimento
● A estrutura clínica, em sua operação etiológica, não se define, portanto, pelo que o
sujeito faz ou pela avaliação do seu comportamento, mas por como ele fala do que
faz, na transferência.
● Aquilo que é supostamente acidental se transforma assim em uma necessidade de
estrutura (causa), um conjunto de relações entre lugares e posições.O que é próprio
da neurose, e que a distingue etiologicamente da psicose ou da perversão, é a
tomada de uma posição em relação a este lugar.
● Uma vez apresentada a releitura de Lacan em relação à função etiológica freudiana
poderíamos nos encontrar com a seguinte objeção: a leitura estruturalista trai a
intenção freudiana de inventar um método que fosse capaz de curar a neurose, ao
modificar sua causa. Este tipo de transformação fica inviabilizado pela própria noção
de estrutura como algo que não se transforma
● Neste sentido a ideia de uma cura da neurose não é de forma alguma a passagem a
uma condição de normalidade psíquica, mas a invenção de novas alternativas para
responder às sobredeterminações estruturais
● hibridismo causai. Acontecimentos cronologicamente posteriores a determinado
evento retornam sobre esse mesmo evento, modificando-o. Determinado
acontecimento pode tornar-se traumático muito depois de sua ocorrência
● Objeto a: objeto intrusivo, traumático, que incide desde o exterior, mas apoiado na
fantasia (interior), é o que mantém a ilusória unidade de um sistema simbólico; o
fragmento do Real que organiza a realidade
● É somente em função da homogeneidade pressuposta entre a concepção
semiológica e diagnóstica de sintoma, como matéria de linguagem
intersubjetiva, e a concepção etiológica e terapêutica de intervenção baseada
na fala que o sintoma pode ser reversível pela interpretação sob transferência.

Diagnóstico

- “Em vez de uma classificação exaustiva e de uma descrição objetivante,


Freud reintroduz uma homogeneidade entre tratamento e diagnóstico,
abolida na clínica psiquiátrica.”

- “Ora, a psicanálise inverte e desloca essa relação. E o analisando quem


será posto, por condição do método clínico, na posição de sujeito.
Inversamente, o analista, ainda que no lugar de agente do discurso,
exercerá sua ação na posição de objeto.” (sujeito → meio de
obtenção/afirmação do conhecimento); (objeto → para quem o meio se
dirige).

- “O diagnóstico é a leitura dessas articulações entre traços, significantes e


sintomas em sua reatualização da realidade sexual do inconsciente, ou
seja, é o diagnóstico feito não apenas através da transferência, mas da
transferência.” → A psicopatologia passa a exprimir formas mais ou
menos regulares de transferência.

- “[...] será necessário ao trabalho diagnóstico isolar os significantes


particulares tais como aparecem em sua articulação singular para cada
paciente.”

- Diferentes ordens de diagnóstico:


● O tipo de relação de fala (o modo específico como a mensagem
retorna de forma invertida ao próprio sujeito).
● O tipo de relação ao saber (atribuído, suposto, exposto).
● O tipo de completamento do sintoma pela demanda (no Outro, do
Outro).
● O tipo de aparelhamento do gozo (histérico, universitário, de
mestre).
● O tipo de relação com a falta (recalque, forclusão, recusa).

- Linguagem no diagnóstico psicanalítico: linguagem como alteridade e


campo simbólico que submete o sujeito; que o constrange ali onde ele não
é mais senhor em sua própria morada.

- Há dois correlatos possíveis do ato diagnóstico em psicanálise:

● Diagnóstico como condição do ato de entrada em análise. (“só


quando se tem uma hipótese diagnóstica minimamente formada que
se deve autorizar a transferência”)

● Diagnóstico como trabalho de nomeação dos sintomas. (“pode


consistir em ganho estratégico para o tratamento”)

- “A diagnóstica em psicanálise se exerce da primeira até a última sessão


da experiência e isso decorre de sua íntima conexão retroativa com os
modos e condições da intervenção terapêutica.”

- “A cada sessão será preciso efetuar um diagnóstico do estado da


transferência, da questão específica, do primeiro tempo da sessão.”

- “A cada encontro se revê a configuração particular da economia entre


sintoma, inibição (negação) e angústia em suas variantes específicas e
suas relações com as formas de ato.”

- “Outro motivo para este desdobramento da investigação diagnóstica em


psicanálise diz respeito ao trabalho de exploração e construção da
fantasia do sujeito” → “Se a etiologia psicanalítica, pelo menos em
Lacan, se subverte através da noção de objeto a, e se este objeto é o
articulador central da fantasia do sujeito, o diagnóstico etiológico
corresponde ao trabalho de enquadramento e localização dessa
fantasia” → “fantasia como articulador causal entre universal e particular
da experiência”.

- Três procedimentos decisivos marcam a clínica psicanalítica em sua


operação de subversão da clínica clássica:

● São os conceitos psicanalíticos, não as descrições clínicas puras,


que comandam as redescrições psicanalíticas dos quadros
psíquicos.

→ A separação entre psiconeuroses de defesa (fobia, histeria,


neurose obsessiva e paranoia) e psiconeuroses atuais (hipocondria,
neurastenia e neurose de angústia) tem como fonte de organização
a incidência diferencial da sexualidade.

→ A separação entre neuroses de transferência (histeria de


angústia, histeria de conversão e neurose obsessiva) e neuroses
narcísicas (melancolia, paranoia e parafrenia) tem como princípio
de ordem a relação diferencial da circulação da libido entre o eu e
os objetos.

→ A separação entre psicoses, neuroses e perversões tem como


parâmetro a relação com a perda da realidade.

● Há os procedimentos que visam introduzir uma nova categoria


clínica. (“não há dependência ou soberania da origem psiquiátrica
das descrições”)

→ Se incluem as neuroses atuais (de angústia, neurastenia,


hipocondria)
→ Se inclui a parafrenia (espécie de híbrido entre paranoia e
esquizofrenia)
→ Se incluem as neuroses não estruturais (neurose de caráter,
neurose de destino, neurose traumática).
● Há um trabalho de redescrição das categorias da clínica clássica.

→ é preciso redescrever as categorias da diagnóstica psicanalítica


porque elas estão sujeitas e dependentes de sua semiologia, de sua
terapêutica e de sua concepção etiológica. Critérios do processo de
redescrição:

1) O quadro clínico deve sempre ser descrito tendo em vista seu tratamento
possível ou sua etiologia sustentável à luz da compreensão psicanalítica.
2) Um quadro clínico é uma geratriz de sintomas possíveis, sendo sua estrutura
condicionante de seu fenomenologia e ambas apreciáveis em situações de
transferência.
3) Um quadro clínico deve ser apresentado de forma a se integrar ou a
questionar premissas metapsicológicas, requerendo uma explicitação tópica,
dinâmica e econômica de sua apresentação.
4) Um quadro clínico deve ser capaz de contraste e comparação com outros para
que sua descrição não seja tautológica e para que se admita explicações
concorrentes e redutíveis no processo de pesquisa sobre os mesmos.

- “Os primeiros desenvolvimentos da noção de estrutura clínica em Lacan


remontam a tentativa de superação da psicopatologia organicista ou
mentalista por uma teoria do materialismo social da personalidade
psicanaliticamente inspirada.”

- Lacan postula, inicialmente, quatro pontos que sustentam a estrutura na


formação dos sintomas: o pai simbólico; o pai imaginário; o narcisismo e
a morte.

- “A noção de estrutura, como disposição lógica, surge assim como uma


coleção de problemas, que são equacionados ou correlacionados pela
estrutura. Daí a tese de que “A estrutura do sujeito é a estrutura de uma
questão” (SIII: 1955-56).”

- Segundo Lacan, o sujeito se apoia na estrutura em quatro pontos:


fantasia, desejo, narcisismo e identificação;
- “A noção de estrutura clínica não deve ambicionar a totalização da
subjetividade e de suas formas de sofrimento. Isso seria confundir
semiologia e diagnóstica.”

- “A hipótese da defesã como negação constitutiva (Verneingung) entende a


neurose como estrutura de negação simbólica com retorno no simbólico:
sintoma. O recalque (Verdrãngung) é lido como a substituição metafórica
do desejo da mãe pelo Nome-do-Pai.”

- A estrutura neurótica é definida como instalação da falta (castração) no


campo do Outro (falo) e conseqüente perda simbólica de um objeto
imaginário.

- Na histeria o produto desta identificação é o pai impotente, enfraquecido,


a recusa como condição do desejo. Daí a prevalência do pai frustrador
(imaginário).

- Na neurose obsessiva o produto desta identificação é um pai


hiperpotente. Daí os impasses em termos de permissão como condição do
desejo e a imaginarização do pai privador (Real).

- Na fobia tratariase de uma identificação cujo resíduo é um pai


aterrorizador, vacilante em sua inscrição simbólica. O objeto fóbico, fonte
de desejo e angústia eqüivale à combinação ou alternação entre o pai
frustrador e privador.

- Na Psicose haveria uma não inscrição simbólica do Nome-do-Pai com


conseqüente retorno do real: alucinação. Esta forma de negação, chamada
de foraclusão (Verwerfung) da castração implica na irrealização da
metáfora paterna, ou foraclusão do Nome-do-Pai. Aqui a identificação
produz uma forma degradada, a identificação imaginária com o falo
(emasculação de Schreber) pela qual o Outro se faz equivalente do Ideal
de Eu (relação de Schreber com Deus).

- Na perversão, por sua vez, haveria uma negação simbólica com retorno
no imaginário: fetiche. A recusa, renegação ou desautorização
(Verleugnung) se daria por identificação com mãe fálica, equivalente
possível do Pai Real, agente da privação.

- A diagnostica lacaniana corresponde à exigência de que esta respeite o


princípio da reversibilidade terapêutica do sintoma.

- “Talvez o sucesso da teoria da defesa como negação, a forma mais


popular das estratégias diagnosticas de Lacan, deva-se ao fato de que ela
permite uma diferenciação radical entre as estruturas.”

Terapêutica
● Retórica: interpretação, a convicção e a lógica do conflito
● Contexto

● Tradição lacaniana → esvaziamento da noção da técnica


● Variantes do Tratamento Padrão (1955): estabelece as diferentes
modalidades ou variantes do tratamento psicanalítico → “a psicanálise
não é uma terapêutica como as outras”
● Clínica psicanalítica → retomada da estrutura (retomada de Foucault em
nascimento da clínica)
● Cura é benefício adicional
● Lacan → teoria dos critérios terapêuticos
○ Mais importante: necessidade de analisar a transferência
○ Outras são questões deontológicas e propedêuticas: não aceitar
presentes, apenas dinheiro, não usar termos técnicos no contato
com o paciente, não responder perguntas, não receber pacientes que
não queiram falar sobre os temas relevantes de sua vida
○ Sobre a recusa em utilizar termos técnicos ou uma linguagem de
autoridade: serve para permitir associação livre → similaridade
técnica com confissão
○ Sobre o princípio de pagamento, não-gratidão e não convivência
social: manter o afastamento para o cuidado de si
● “Métodos técnicos” → menos importante que o conteúdo da conclusão
são os termos pelo que ela se exprime (crítica aos diagnósticos muito
técnicos)
○ A falta de consenso terapêutico nos remeteria a uma mistificação
da técnica, mistificação definida como “processo que torne oculta
para o sujeito a origem dos efeitos de sua própria ação”.
● Lacan reconhece a dimensão pessoal de quem pratica o método científico
(a técnica) →o método depende do terapeuta
○ Há uma distância entre o homem real e o homem metodológico que
precisa ser absorvida na terapêutica → o analista não deve se achar
profeta de uma verdade, uma vez que não é nem o saber do método,
nem a potência da verdade que garante sua ação
○ Psicanálise se apoia em reconhecer o poder discricionário do
ouvinte para elevá-lo a uma segunda potência. → sentido da
mensagem é quem escuta, não quem a profere
○ Devolução ao analisante suas próprias palavras para que ele possa
delas se apropriar e nelas reconhecer seu desejo → exigências
terapêuticas são exigências do discurso
● No centro da terapêutica está o desejo do analista e a produção da verdade
→ intersecção entre a terapia e a cura
● Técnica de interpretação → Técnica de interpretação de resistência ⇒
Técnica da análise de defesas contra a angústia
○ Eu → material / constituído de resistência
○ Espera-se que “a fala constituinte seja suposta no discurso
constituído”
● A cura é a cura do eu entendida como sua extinção, dai que ela termine no
ser-para-a-morte e na subjetivação da própria morte. – redução ou
inflação narcísica - visam apagar o eu, senhor e soberano da técnica
terapêutica
○ Na cena clínica - analista deveria se tornar invisível
○ Na cena da cura - ele deve subverter a relação de mestria
● Liberdade da diferença…
○ gerada pela confiança na impessoalidade do método clínico
○ com o sofrimento do paciente
○ na cura, com relaçao ao estatuto da liberdade e da verdade
● Afinal retirada as garantias tradicionais sobre sua prática o que resta é a
eficácia simbólica do xamã, as vivências iniciáticas e os poderes
propiciatórios ou astuciosos dos homens especiais.
● Saber técnico do psicanalista - leis da linguagem, leis do reconhecimento
(impasse entre a verdade e o Real - interpretação reveladora)

Tratamento
1. Logos - linguagem, racional
2. Mimesis - reprodução, representação, capacidade de narração
3. Aesthesis - ação
4. Carthasis - iluminação, insight

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