Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ETNOBIOLOGIA
INTRODUÇÃO À
ETNOBIOLOGIA
1ª Edição • 2014
Recife/PE
Primeira edição publicada em 2014 por NUPEEA
www.nupeea.com
Copyright© 2014
Impresso no Brasil/Printed in Brazil
Diagramação e capa:
Canal 6 Projetos Editoriais
Editor chefe:
Ulysses Paulino de Albuquerque
ISBN 978-85-63756-23-7
CDD: 304.2
NUPEEA
Recife – Pernambuco – Brasil
AUTORES
APRESENTAÇÃO............................................................................................................................. 13
HISTÓRIA DA ETNOBIOLOGIA.........................................................................................................23
André Sobral & Ulysses Paulino de Albuquerque
ETNOBIOLOGIA URBANA................................................................................................................35
Ana Haydée Ladio & Ulysses Paulino de Albuquerque
PALEOETNOBIOLOGIA....................................................................................................................43
Steve Wolverton, Jonathon Dombrosky & Andrew Barker
PERCEPÇÃO DE RISCO...................................................................................................................65
Taline Cristina da Silva, Washington Soares Ferreira Júnior, Flávia Rosa Santoro,
Thiago Antônio de Sousa Araújo & Ulysses Paulino de Albuquerque
9
PARTE 3: A CLASSIFICAÇÃO DA NATUREZA
COMO E POR QUE AS PESSOAS CLASSIFICAM OS RECURSOS NATURAIS? .................................77
Andrêsa Suana Argemiro Alves, Lucilene Lima dos Santos,
Washington Soares Ferreira Júnior & Ulysses Paulino de Albuquerque
PLANTAS ALIMENTÍCIAS...............................................................................................................99
Viviany Teixeira do Nascimento, Letícia Zenóbia de Oliveira Campos
& Ulysses Paulino de Albuquerque
FUNGOS....................................................................................................................................... 121
Washington Soares Ferreira Júnior & Ulysses Paulino de Albuquerque
APÊNDICE I:
DECLARAÇÃO DE BELÉM............................................................................................................. 187
APÊNDICE II:
PRINCIPAIS REVISTAS CIENTÍFICAS QUE PUBLICAM TRABALHOS EM ETNOBIOLOGIA............... 189
11
APRESENTAÇÃO
1 Nesta obra a expressão “recursos naturais” é empregada várias vezes como sinônimo de
biota, não tendo, portanto, conotações econômicas ou utilitárias.
13
parte, por abordar o extrativismo de produtos florestais e a domesticação de
plantas e animais.
Por fim, a sexta parte é uma síntese sobre o que afeta a nossa experiência
com os recursos naturais, dito de outro modo, sobre quais variáveis afetam o
conhecimento biológico tradicional (CBT). Embora não tratemos de tudo o que
pode influenciá-lo, oferecemos ao leitor um conjunto de informações que, sem
dúvida alguma, servem como uma aproximação ao assunto.
Assim, acreditamos que esta obra, possa auxiliar os professores de etnobio-
logia e estudantes a terem uma aproximação relativamente amena ao tema. A
lista de referências bibliográficas complementa a obra, permitindo aos leitores o
aprofundamento dos temas abordados.
14
PARTE 1:
HISTÓRIA,
ABORDAGENS E
CONCEITOS
CAPÍTULO 1
O QUE É ETNOBIOLOGIA?
Ulysses Paulino de Albuquerque & Angelo Giuseppe Chaves Alves
1 Este capítulo é uma versão revisada e atualizada da “Introdução” publicada na obra “Etnobio-
logia e Biodiversidade” (Albuquerque 2005).
*
Neste sentido, para aprofundamento do debate, ver Begossi (1993; 2004) e Alves et al. (2010).
No capítulo 3 deste livro, introduzimos uma discussão sobre as relações entre etnobiologia e
etnoecologia.
2 O leitor pode ampliar seus conhecimentos sobre algumas dessas abordagens consultando a
literatura disponível em língua portuguesa. Ver, por exemplo, Medeiros (2010) e Albuquerque
(2013). Para diferentes definições no campo de etnobiologia, ver o Dicionário Brasileiro de
Etnobiologia e Etnoecologia (Medeiros & Albuquerque 2012).
17
O QUE É ETNOBIOLOGIA?
Abordagem Definição
Etnobiologia evolutiva Estuda a história evolutiva dos padrões de comportamen-
to e conhecimento humano sobre a biota, considerando
aspectos históricos e contemporâneos que influenciam es-
ses padrões.
Etnobiologia ecológica Estuda as inter-relações entre pessoas e biota a partir dos
referencias teóricos e metodológicos da ecologia.
Etnobiologia histórica Estuda a inter-relação entre seres humanos e biota a par-
tir de evidências passadas preservadas em documentos
históricos.
Etnobiologia médica Estuda os sistemas médicos tradicionais a partir do uso,
manejo e conhecimento da biota nesses sistemas.
Etnobiologia quantitativa Envolve o uso de técnicas de estatística multivariada para
explorar diferentes aspectos das inter-relações entre pes-
soas e biota.
Etnobiologia preditiva Foca a elaboração de modelos quantitativos que permitam
predizer o comportamento dos sistemas formados pela
inter-relação entre pessoas e biota.
Etnobiologia urbana Estuda a relação entre pessoas e biota nos ecossistemas
urbanos.
18
Ulysses Paulino de Albuquerque & Angelo Giuseppe Chaves Alves
classificação e de uso dos recursos naturais oriundos das sociedades tradicionais (Po-
sey 1987b). Um dos campos da etnobiologia que mais tem concentrado trabalhos na
América Latina é o da etnobotânica, ao lado de outros que vêm crescendo em número
de publicações, como a etnozoologia e a etnoecologia (ver Albuquerque et. al. 2013).
Os etnobiólogos ocupam-se de entender o chamado conhecimento tradicional
ou conhecimento local. Na literatura também vamos encontrar as expressões “conhe-
cimento biológico tradicional” e “conhecimento ecológico tradicional”. Entendemos
conhecimento tradicional como experiências e saberes acumulados por um grupo
humano em relação aos recursos naturais. Esse conhecimento é dinâmico e mutá-
vel. O termo tradicional vem sendo muito discutido. McClatchey (2005) pondera que
os termos, embora usados com conotações positivas pelos etnobiólogos, são vagos e
muitas vezes equivocados. Para situar o leitor sobre o debate, transcrevemos algumas
considerações de Santos et al. (2005): “os termos ‘conhecimento local’, ‘conhecimento
indígena’, ‘conhecimento tradicional’ ou mesmo ‘etnociência’ têm surgido com frequ-
ência na última década, com o objetivo de chamar a atenção para a pluralidade de
sistemas de produção de saberes no mundo e para a sua importância nos processos de
desenvolvimento (...)”.
O adjetivo local, apesar de suas limitações, tem uma vantagem: serve para indicar
de onde estão falando e agindo as pessoas cujos saberes são retratados nas pesquisas;
serve para mostrar qual é o lugar, qual é o espaço e qual é o tempo nos quais essas
populações manifestam seus saberes, suas culturas e suas relações com o ambien-
te. Ninguém é onipresente. Todo mundo, seja pesquisador ou membro de população
tradicional, fala a partir de um ponto. Por outro lado, o termo tradição relaciona-se,
etimologicamente, com transição, indicando o seu potencial intrínseco para incorpo-
rar mudanças, inovações e experimentações realizadas por membros de populações
indígenas e/ou camponesas3.
Nas últimas décadas, intensificou-se a busca por alternativas para conter a de-
vastação dos recursos naturais, bem como o desenvolvimento de sistemas de manejo
sustentáveis para a manutenção da diversidade biológica. Formas de manejo sustentá-
vel dos ecossistemas têm sido propostas ao longo do tempo. No entanto, muitas delas
caracterizam-se pela desvinculação das populações humanas que vivem tradicional-
mente nos diversos ecossistemas. Várias pesquisas têm se dedicado a revelar o co-
3 Nós já tivemos a oportunidade de discutir a respeito do uso dos termos tradicional e local (Al-
ves & Albuquerque 2010) e, por isso, convidamos o leitor interessado a consultar esse material.
19
O QUE É ETNOBIOLOGIA?
20
Ulysses Paulino de Albuquerque & Angelo Giuseppe Chaves Alves
Referências
Albuquerque, U.P. 2005. Etnobiologia e biodiversidade. Recife, Nupeea.
Albuquerque, U.P. (Ed.). 2013. Etnobiologia – bases ecológicas e evolutivas. Recife, Nupeea.
Albuquerque, U.P.; Silva, J.S.; Campos, J.L.A.; Sousa, R.S.; Silva, T.C. & Alves, R.R.N. 2013. The
current status of ethnobiological research in Latin America: gaps and perspectives. Journal
of Ethnobiology and Ethnomedicine 9:72.
Alves, A.G.C. & Souto, F.J.B. 2010. Etnoecologia ou etnoecologias? Encarando a diversidade
conceitual. Pp. 17-39. In: A.G.C. Alves; F.J.B. Souto & N. Peroni (orgs.). Etnoecologia em
perspectiva: natureza, cultura e conservação. Recife, Nupeea.
Alves, A.G.C. & Albuquerque, U.P. 2010. “Ethno what?” – Terminological problems in ethnos-
cience with special emphasis on the Brazilian context. Pp. 67-80. In: U.P. Albuquerque & N.
Hanazaki (eds). Recent developments and case studies in ethnobotany. Recife, Nupeea.
Begossi, A. 1993. Ecologia humana: um enfoque das relações homem-ambiente. Interciencia
18: 121-132.
Begossi, A. (org.). 2004. Ecologia de pescadores da Mata Atlântica e da Amazônia. São Paulo,
Nupaub/Hucitec/Nepam.
Castetter, E.F. 1944. The domain of ethnobiology. American Naturalist 78: 158-170.
Donovan, D.G. & Puri, K.K. 2004. Learning from traditional knowledge of non-timber forest
products: Penan Benalui and the autoecology of Aquilaria in Indonesian Borneo. Ecology
and Society 9(3): 3.
McClatchey, W.C. 2005. Exorcing misleading terms from ethnobotany. Ethnobotany Research
& Applications 3: 1-4.
Medeiros, M.F.T. (org.). 2010. Aspectos históricos na pesquisa etnobiológica. Recife, Nupeea.
Medeiros, M.F.T. & Albuquerque, U.P. (Orgs.). 2012. Dicionário brasileiro de etnobiologia e
etnoecologia. Recife, Nupeea.
21
O QUE É ETNOBIOLOGIA?
Moller, H.; Berkes, E.; Lyver, P.O. & Kislalioglu, M. 2004. Combining science and traditional
ecological knowledge: monitoring populations for co-management. Ecology and Society 9
(3): 2.
Posey, D.A. 1987a. Etnobiologia: teoria e prática. Pp. 15-251. In: B. Ribeiro. (ed.). Suma etnoló-
gica brasileira – 1 Etnobiologia. Petrópolis, Vozes/Finep.
Posey, D.A. 1987b. Etnobiologia y ciencia “folk”: su importancia para la Amazonia. Hombre y
Ambiente 1: 7-26.
Santos, B.S.; Meneses, M.P. & Nunes, J.A. 2005. Introdução: Para ampliar o canône da ciencia:
a diversidade epistemológica do mundo. Pp. 21-101. In: B.S. Santos (org.). Semear outras
práticas: os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos rivais. Rio de Janeiro, Civi-
lização Brasileira.
Toledo, V.M; Ortiz-Espejel, B.; Cortés, L.; Moguel, P. & Ordoñez, M.J. 2003. The multiple use of
tropical forests by indigenous peoples in Mexico: a case of adaptative management. Conser-
vation Ecology 7(3): 9.
Verlinden, A. & Dayot, B. 2005. A comparison between indigenous environmental knowledge
and a conventional vegetation analysis in north central Namibia. Journal of Arid Environ-
ments 62: 143-145.
Warren, A.; Osbahr, H.; Batterbury, H; Chappell, A. 2003. Indigenous views of soil erosion at
Fandou Béri, southwestern Niger. Geoderma 111 (3-4).
22
CAPÍTULO 2
HISTÓRIA DA ETNOBIOLOGIA
André Sobral & Ulysses Paulino de Albuquerque
Não é uma tarefa fácil descrever a história de uma disciplina científica, sobretu-
do quando se trata de uma disciplina complexa por natureza e que, ao longo de sua
história, recebeu (e ainda recebe) a influência de diferentes áreas do conhecimento.
A história da etnobiologia pode ser dividida nos períodos pré-clássico, clássico e pós-
-clássico, conforme proposto por Clément (1998). Aqui adotaremos essa classificação
pontuando para cada período os principais autores e acontecimentos que contribuí-
ram para a estruturação dessa nova disciplina científica.
Período pré-clássico
23
HISTÓRIA DA ETNOBIOLOGIA
Período clássico
24
André Sobral & Ulysses Paulino de Albuquerque
Período pós-clássico
25
HISTÓRIA DA ETNOBIOLOGIA
26
André Sobral & Ulysses Paulino de Albuquerque
Referências
Albuquerque, U.P. (ed.). 2013. Etnobiologia: bases ecológicas e evolutivas. Recife, Nupeea.
Albuquerque, U.P. & Medeiros, P.M. 2013. Introdução à etnobiologia de bases ecológicas e evo-
lutivas. Pp. 9-14. In: U.P. Albuquerque (ed.). Etnobiologia: bases ecológicas e evolutivas.
Recife, Nupeea.
27
HISTÓRIA DA ETNOBIOLOGIA
Albuquerque, U.P.; Silva, J.S.; Campos, J.L.A.; Sousa, R.S.; Silva, T.C. & Alves, R.R.N. 2013. The
current status of ethnobiological research in Latin America: gaps and perspectives. Journal
of Ethnobiology and Ethnomedicine 9: 72.
Albuquerque, U.P. 2005. Etnobiologia e biodiversidade. Recife, Nupeea.
Anderson, E.N. 2011. Ethnobiology: overview of a growing field. Pp. 1-14. In: E.N. Anderson; D.
Pearsall; E. Hunn & N. Turner (eds.). Ethnobiology. New Jersey, Wiley-Blackwell.
Batalha, L. 1998. Emics/Etics revisitado: “nativo e “antropólogo” lutam pela última palavra. Et-
nográfica 2(2): 319-343. Disponível em: http://ceas.iscte.pt/etnografica/1998_02_02.php.
Acessado em 24 Abr 2013.
Begossi, A. 1996. Use of ecological methods in ethnobotany: diversity indices. Economic Bo-
tany 50(3): 280-289.
Clément, D. 1998. The historical foundations of Ethnobiology (1860-1899). Journal of Ethno-
biology 18(2): 161-187.
Hunn, E. 2007. Ethnobiology in four phases. Journal of Ethnobiology 27(1): 1-10.
ISE – International Society of Ethnobiology. 2014. Disponível em: http://ethnobiology.net/.
Acessado em 08 Jan 2014.
Kuri, L. 2001. Viajantes-naturalistas no Brasil oitocentista: experiência, relato e imagem. Histó-
ria, Ciências, Saúde – Manguinhos vol. VIII (suplemento): 863-880.
Medeiros, M.F.T. 2009. Etnobotânica histórica: princípios e procedimentos. Recife, Nupeea.
Phillips, O. & Gentry, A.H. 1993. The useful plants of Tambopata, Peru I. Statistical hypotheses
tests with a new quantitative technique. Economic Botany 47(l): 15-32.
Toledo, V.M. & Alarcón-Cháires, P. 2012. La Etnoecología hoy: panorama, avances, desafios.
Etnoecología 9(1): 1-16.
Toledo, V.M. & Barrera-Bassols, N. 2009. A etnoecologia: uma ciência pós-normal que estuda as
sabedorias tradicionais. Desenvolvimento e Meio Ambiente 20: 31-45.
Wolverton, S. 2013. Ethnobiology 5: interdisciplinarity in an era of rapid environmental change.
Ethnobiology Letters 4: 21-25.
28
CAPÍTULO 3
ETNOBIOLOGIA OU ETNOECOLOGIA?
Angelo Giuseppe Chaves Alves & Ulysses Paulino de Albuquerque
29
ETNOBIOLOGIA OU ETNOECOLOGIA?
30
Angelo Giuseppe Chaves Alves & Ulysses Paulino de Albuquerque
31
ETNOBIOLOGIA OU ETNOECOLOGIA?
Referências
Albuquerque, U.P.; Silva, J.S.; Campos, J.L.A.; Sousa, R.S.; Silva, T.C.; Alves, R.R.N. 2013. The
current status of ethnobiological research in Latin America: gaps and perspectives. Journal
of Ethnobiology and Ethnomedicine 9:72
Alves, A.G. C.; Souto, F.J.B.; Peroni, N.2010. Apresentação. In: A.G.C. Alves; F.J.B. Souto &
N. Peroni (orgs.).. Etnoecologia em perspectiva: natureza, cultura e conservação. Recife:
Nupeea
Clément, D. 1998.The historical foundations of ethnobiology (1860-1899). Journal of Ethobio-
logy18 (2): 161-187.
Conklin, H.C. 1954a. An ethnoecological approach to shifting agriculture. Transactions of the
New York Academy of Sciences 17:133-142.
32
Angelo Giuseppe Chaves Alves & Ulysses Paulino de Albuquerque
Conklin, H. 1954b. The relation of the Hanunóo to the plant world. Tese de Doutorado (An-
tropologia). New Haven, Yale University.
Fourez, G. 2001. La construction des sciences: les logiques des inventions scientifiques. Bru-
xelles, De Boeck Supérieur.
Hunn, E. 2007. Ethnobiology in four phases. Journal of Ethnobiology 27(1): 1–10.
Hurrell, J.A. & Albuquerque, U.P. 2013. Is Ethnobotany an Ecological Science? Steps towards a
complex Ethnobotany. Ethnobiology and Conservation 1:4.
Latour, B. 1987. Science in Action. Cambridge, Harvard University Press..
Marques, J.G.W. 1995. Pescando pescadores: uma etnoecologia abrangente no baixo São
Francisco. São Paulo, NUPAUB.
Marques, J.G.W. 2001. Pescando pescadores: ciência e etnociência em uma perspectiva eco-
lógica. São Paulo, NUPAUB.
Martin, G. J. 1995. Ethnobotany: a methods manual. London, Chapman & Hall.
Odum, E. P. 1977. The emergence of ecology as a new integrative discipline. Scien-
ce,195(4284):1289-1293.
Orlove, B.; Roncoli, C.; Kabugo, M.; Majugu, A. 2010. Indigenous climate knowledge in sou-
thern Uganda: the multiple components of a dynamic regional system. Climatic Change
100:243–265.
Pieroni, A. & Giusti, M.E.i. 2002. Ritual botanicals against the evil-eye in Tuscany, Italy. Econo-
mic Botany 56:201–204.
Posey, D.A. 2000. Ethnobiology and ethnoecology in the context of national laws and interna-
tional agreements affecting indigenous and local knowledge, traditional resources and in-
tellectual property rights. Pp. 35-64. In: R. Ellen; P. Parkes. & A. Bicker (eds). Indigenous
environmental knowledge and its transformations. Amsterdan, Harwood.
Prance, G.T. 1995. Foreword. Pp. xvi. In. G.J. Martin. Ethnobotany: a methods manual. Lon-
don, Chapman & Hall.
33
CAPÍTULO 4
ETNOBIOLOGIA URBANA1
Ana Haydée Ladio & Ulysses Paulino de Albuquerque
1 Este capítulo é uma versão resumida do artigo publicado pelos autores na revista Ethnobiology and
Conservation (2014): The concept of hybridization and its contribution to urban ethnobiology.
35
ETNOBIOLOGIA URBANA
Podemos definir, de forma geral, a etnobiologia urbana como o estudo das inter-
-relações (sejam simbólicas, afetivas, emocionais ou materiais) que se estabelecem, de
forma individual e/ou coletiva, entre os habitantes das cidades e os recursos naturais
(animais e/ou plantas) aos quais estes têm acesso. Nessa inter-relação, é possível evi-
denciar componentes tangíveis (os recursos biológicos) e intangíveis (valores, nor-
mas e regras próprias de cada cosmovisão particular), que determinam o fluxo dessas
inter-relações na vida das pessoas e dos grupos, ou seja, sua entrada, sua saída, sua
exclusão e sua subordinação. A determinação das forças que explicam esse fluxo de
inter-relações é um dos maiores desafios da etnobiologia urbana.
Componentes e contextos
36
Ana Haydée Ladio & Ulysses Paulino de Albuquerque
Os locais urbanos
37
ETNOBIOLOGIA URBANA
A paisagem urbana
38
Ana Haydée Ladio & Ulysses Paulino de Albuquerque
plo, possuem também uma residência rural. Dessa forma, o uso de plantas e animais
já não depende apenas das condições urbanas. Essa situação de “transcomunidade”
implica uma ampliação dos espaços sociais nos quais as pessoas agem favorecidas
principalmente pela maior mobilidade devido a um melhor acesso a meios de trans-
porte e de comunicação (Ladio & Molares 2014). Desse modo, vinculam-se os seg-
mentos rurais e urbanos de forma contínua e bidirecional, gerando a incorporação
de recursos em um novo contexto.
Segundo Garcia Canclini (2001), as cidades são enclaves híbridos. Por um pon-
to de vista etnobiológico, os processos de hibridização podem ser definidos como
aqueles que descrevem o realocamento de práticas e de recursos biológicos tradicio-
nais em função da modernidade e vice-versa. O conceito de processo de hibridização
implica uma reconversão cultural que se expressa em âmbitos distintos, em especial
no material, no econômico e no simbólico. A hibridização, como processo de inter-
secção e de transações, possui uma lógica de readaptação a novas circunstâncias, que,
de acordo com alguns estudos (Richeri et al. 2010, Medeiros et al. 2012), parece ser
inerente aos sistemas de conhecimento ecológico tradicional. Se essa capacidade de
readaptação for mantida nas cidades, estas podem ser sítios de resistência de saberes e
práticas, mantendo os conhecimentos tradicionais das próprias inovações que fomen-
tam o mercado ou sua entrada no circuito comercial. De acordo com Vandebroek &
Balick (2012), isso está alinhado a uma possível mudança de visão em relação ao pa-
radigma vigente que vincula equivocadamente a globalização à erosão cultural como
um padrão geral. A ideia ortodoxa de que a modernidade implica necessariamente o
desaparecimento de tradições pré-modernas deve ser tomada com cautela para cada
temática estudada nas cidades.
Visto que a característica mais significativa dos estudos etnobiológicos é seu forte
padrão de mudança temporal, em especial em sistemas dinâmicos como uma cidade,
a solução para as questões mencionadas consiste nos estudos realizados por meio de
projetos pre-post, de forma que possamos visualizar e documentar as entradas, as
reconversões e/ou as saídas dos usos de recursos biológicos na vida urbana. Apesar de
39
ETNOBIOLOGIA URBANA
serem estudos que demandam tempo e esforço, constituem o caminho para descobrir
o intrincado mundo etnobiológico dentro das cidades.
Referências
Albuquerque, U.P.; Monteiro, J.M.; Ramos, M.A. & Amorim, E.L.C. 2007. Medicinal and magic
plants from a public market in northeastern Brazil. Journal of Ethnopharmacology 110:76–
91.
Alves, R.R.D.N-; Souto, W.M.S. & Mourao, J.S. 2010. A Etnozoologia no Brasil. importancia,
status atual e perspectivas. Recife,NUPEEA.
Alves, R.R.N. & Lucena, I.R. 2012. Animals in Traditional folk medicine: implications for
conservation. New York, Springer.
Balick, M.; Kronenberg, F. & Ososki, A. 2000. Medicinal plants used by Latino healers for
women’s health conditions in New York City. Economic Botany 54:344–357.
Ceuterick, M.; Vandebroek I. & Pieroni, A. 2011.Resilience of Andean urban ethnobotanies:
a comparison of medicinal plant use among Bolivian and Peruvian migrants in the United
Kingdom and in their countries of origin. Journal of Ethnopharmacology 136:27–54.
Ceuterick, M.; Vandebroek, I.; Torry, B. & Pieroni, A. 2008.Cross-cultural adaptation in urban
ethnobotany: the Colombian folk pharmacopoeia in London. Journal of Ethnopharmaco-
logy 120:342–59.
Cunningham, A.B. 2001.Asentamiento, comercialización y cambio. Pp. 60-94. In: A.B. Cun-
ningham (ed). Etnobotanica aplicada: pueblos, uso de plantas silvestres y conservación.
Montevideu, Fondo Mundial para la Naturaleza (WWF)- Editorial Nordan-Comunidad.
Derruau, M.1964.Tratado de geografía humana. Barcelona, Ed. Vicéns Vives.
Duarte Almada, E. 2010. Sociobiodiversidade Urbana: por uma etnoecologia das cidades. Pp.
39-63. In: V.A. Silva; A.L.S. Almeida & Albuquerque U.P. (eds). Etnobiologia e Etnoecolo-
gia. Recife, NUPPEA.
Garcia Canclini, N. 2001. Culturas hibridas. México, Grijalbo.
van Herzele, A. & Wiedemann, T. 2003.A monitoring tool for the provision of accessible and
attractive urban green spaces. Landscape and Urban Planning 63:109–126.
Hurrell, J.; Costantino, F.B.; Puentes, J. 2011.Huertos familiares periurbanos de las costas de
Ensenada, Berisso y de la Isla Martín García (Buenos Aires, Argentina). Bonplandia 20:213–
230.
Ladio, A. & Molares, S. 2014. The dynamics of use of nontraditional ethnobiological products:
some aspects of study. Pp. 311-320. In: U.P.Albuquerque: L.V.F.C. Cunha; R.F.P. Lucena &
Alves R.R.N. (eds). Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology. New
York, Springer.
40
Ana Haydée Ladio & Ulysses Paulino de Albuquerque
Ladio, A.H.& Damascos, M.A. 2000. La invasión de plantas exóticas y la conservacion de plantas
nativas en baldíos suburbanos. Medio Ambiente 13:27–34.
Ladio, A.H. & Rapoport, E.H. 1999. El uso de plantas silvestres comestibles en una población
suburbana del noroeste de la Patagonia. Parodiana 11:49–62.
Larredo, D.R. 2008.El valor ecológico, ornamental y de uso tradicional de las especies na-
tivas de la ciudad de La Paz. Facultutad de Arquitectura, Artes, Diseño y Urbanismo. La
Paz,Editorial Quatro Hnos.
López-Moreno, I.R. 1991. El Arbolado urbano de la zona metropolitana de la Ciudad de
México. México, Universidad Autónoma Metropolitana.
Medeiros, P.M.; Soldati, G.T.; Alencar, N.L.; Vandebroek, I.; Pieroni, A.; Hanazaki N. & Albu-
querque U.P. 2012. The use of medicinal plants by migrant people: adaptation maintenance,
and replacement. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine 2012:11.
Nuñez, M.A.; Simberloff, D. & Wachtel, M. 2005. Invasive Species and the Cultural Keystone
Species Concept. Ecology and Society 10:4–7.
Pochettino, M.L.; Arenas, P.M.; Sanchez, D. & Correa R.2008.Conocimiento botánico tradicio-
nal, circulación comercial y consumo de plantas medicinales en un área urbana de Argentina.
Boletín Latinoamericano y del Caribe de Plantas Medicinales y Aromáticas 7:141–148.
Quave, C.L.; Pardo-De-Santayana, M. & Pieroni A. 2012. Medical ethnobotany in Europe: From
field ethnography to a more culturally sensitive. Evidence-based Complementary and Al-
ternative Medicine 2012: 10.1155/2012/604363.
Richeri, M.; Ladio, A. & Beeskow, A. 2010. Etnoecología en la Patagonia árida: la adaptación
de la herbolaria de una comunidad inmigrante boliviana a un nuevo contexto ambiental.
Pp. 203-227. In: A.G.C. Alves, F.J.B. Souto & N. Peroni (eds). Etnoecologia em perspectiva:
natureza, cultura e conservação. Recife, NUPPEA.
Rovere, A.E.; Molares, S. & Ladio, A.H. 2013. Plantas utilizadas en cercos vivos de ciudades
patagónicas: aportes de la etnobotánica para la conservación. Ecología Austral 23:165–173.
Vandebroek, I. & Balick, M.J. 2012. Globalization and loss of plant knowledge: challenging the
paradigm. PloS one 7:e37643.
Wayland, C. &Walker, L.S. 2014. Length of residence, age and patterns of medicinal plant kno-
wledge and use among women in the urban Amazon. Journal of Ethnobiology and Ethno-
medicine 10:25.
41
CAPÍTULO 5
PALEOETNOBIOLOGIA
Steve Wolverton, Jonathon Dombrosky & Andrew Barker
Tipos de paleoetnobiologia
43
PALEOETNOBIOLOGIA
Microbotânicos
Pólen
Fitólitos
Amidos
1 Neste breve resumo, não descrevemos as diferentes abordagens para cada tipo de análise; em vez
disso, iremos nos concentrar em desafios gerais que são compartilhados entre eles. Para sínteses
recentes dos fundamentos da paleoetnobotânica, ver a pesquisa de Adams & Smith (2011) e
Pearsall & Hastorf (2011); para zooarqueologia ver Lyman (2005) e Stahl (2011). Para uma com-
pilação de artigos ecológicos importantes em zooarqueologia, ver Broughton & Cannon (2010).
Existem várias obras que introduzem o tema da química arqueológica de resíduos biomolecu-
lares. Um estudo recente a esse respeito é feito por Brown & Brown (2011). Ver Barbarena (2014)
para uma clara introdução acerca da análise de isótopos estáveis e m arqueologia ambiental.
44
Steve Wolverton, Jonathon Dombrosky & Andrew Barker
espécies da fauna e flora, o que pode ser difícil de conseguir por meio de restos pa-
leoetnobiológicos, que podem não estar bem preservados. Diferentes espécies com
morfologia semelhante podem preferir habitats distintos, assim, a confiabilidade das
conclusões depende da confiança com que o analista pode fazer tais identificações.
O paleoetnobiólogo, no entanto, não trabalha diretamente com as populações-
-alvo; ao invés disso, trabalha com amostras recuperadas de contextos arqueológicos
ou paleobiológicos. Estes conjuntos de restos não são amostras aleatoriamente de-
senhadas de populações biológicas passadas, comunidades ecológicas ou comporta-
mentos humanos; são amostras fortuitas recuperadas durante as pesquisas de campo
e escavações. Assim, a validade da análise paleoetnobiológica depende da resposta a
duas questões importantes: 1) o quanto o analista confia nas identificações taxonô-
micas? e 2) o quão representativos das populações do passado, das comunidades e dos
comportamentos os restos parecem ser, dada a preservação, o tamanho da amostra e
o contexto de recuperação (mencionado novamente a seguir em “Tafonomia”)?
A identificação de restos arqueobotânicos, zooarqueológicos e de resíduos mo-
leculares segue os mesmos princípios básicos. Procedimentos perfeitos de identifi-
cação em cada uma das três áreas requerem uma coleção de referência ou banco de
dados de espécimes contemporâneos conhecidos ou historicamente documentados.
O paleoetnobotânico, por exemplo, terá vastas coleções de referência de amostras de
madeira, pólen, sementes, nozes, fitólitos e outros tipos de tecidos vegetais de espécies
que são comuns em sua região de estudo. O zooarqueólogo, por sua vez, organizará
uma coleção de referência de esqueletos de espécies em sua região de estudo. Muitos
paleoetnobiólogos contam com grandes coleções de história natural, em universida-
des e museus. Do mesmo modo, o químico arqueólogo depende de grandes bases de
dados que registram as estruturas moleculares de compostos conhecidos dos quais
derivam tecidos vegetais e animais, quer se trate de ácidos graxos, proteínas (Figura
2) ou outros tipos de resíduos. Um desafio constante na análise laboratorial é o grau
em que a estrutura molecular ou morfológica do tecido é conservada em termos de
biologia evolutiva (ou homologia) entre espécies semelhantes. Assim, uma área im-
portante para o crescimento em paleoetnobiologia, além da construção e manutenção
de coleções de referência, é a avaliação probabilística de caracteres morfológicos e
moleculares para determinar a existência ou não de espécies relacionadas ou gêneros
que podem ser identificados (Wolverton 2013).
45
PALEOETNOBIOLOGIA
Tafonomia
2 Ver a recente revisão de Collinson (2011). Para uma recente compilação de estudos paleobotâ-
nicos e tafonômicos, ver a edição especial em Palaios (Ferguson 2012)
46
Steve Wolverton, Jonathon Dombrosky & Andrew Barker
Quantificação
47
PALEOETNOBIOLOGIA
Paleoetnobiologia aplicada
Conclusão
48
Steve Wolverton, Jonathon Dombrosky & Andrew Barker
Referências
Adams, K. & Smith, S. 2011. Reconstructing past life-ways with Plants I: subsistence and other
daily needs. Pp. 149-171. In: E.N. Anderson; D.M. Pearsall; E.S. Hunn, & N. J. Turner (eds.).
Ethnobiology. Hoboken, Wiley-Blackwell.
Barbarena, R. 2014. isotopic studies of foragers’ diet: environmental archaeological approa-
ches. Pp. 4111-4120. In: C. Smith (ed.). Encyclopedia of Global Archaeology. Netherlands,
Springer Reference.
Barker, A. 2011. Archaeological protein residues: new data for conservation science. Ethnobio-
logy Letters 1:58-65.
Binford, L.R. 1964. A consideration of archaeological research design. American Antiquity
29(4): 425-441.
Borgmann, A.2000.The Transparency and Contingency of the Earth. Pp. 99-106. In: R. Frode-
man (ed.).Earth Matters: the earth sciences, philosophy, and the claims of community.
Upper Saddle River, NJ, Prentice Hall.
Broughton, J.M. & Cannon, M.D. (eds.). 2010. Evolutionary ecology and archaeology: appli-
cations to problems in human evolution and prehistory. Salt Lake City, University of Utah
Press.
Clarke, D.L. 1968. Analytical Archeology. London, Methuen.
Collinson, M.E. 2011. Molecular taphonomy of plant organic skeletons. Pp. 223-247. In: P.A.
Allison & D. J. Bottjer (eds.). Taphonomy: process and bias through time. Topics in Geo-
biology 32. Netherlands, Springer.
Ferguson, D.K. 2012. Plant taphonomy: 20 years of death, decay, and dissemules. Palaios 27(11):
811-813.
Grayson, D.K. 1979. On the quantification of vertebrate archaeofaunas. Advances in Archaeo-
logical Method and Theory 2: 199-237.
Grayson, D.K. 1984. Quantitative zooarchaeology: topics in the analysis of archaeological
faunas. Orlando, FL, Academic Press.
Lepofsky, D.; Heyerdahl, E. K.; Lertzman, K.; Schaepe, D. & Mierendorf, B. 2003. Historical me-
adow dynamics in southwest British Columbia: a multidisciplinary analysis. Conservation
Ecology 7(3): 5.
Lyman, R.L. 2005. Zooarchaeology. Pp. 835-873. In: H.D.G. Maschner & C. Chippendale (eds.).
Handbook of archaeological methods. Lanham, MD, AltaMira Press.
Lyman, R. L. 1994. Vertebrate taphonomy. New York, Cambridge University Press.
Lyman, R.L. 2008. Quantitative paleozoology. New York, Cambridge University Press.
Pearsall, D.M. & Hastorf, C.A. 2011. Reconstructing past life-ways with plants II: human-en-
vironment and human-human interactions. Pp. 173-187. In: E.N. Anderson; D.M. Pearsall;
E.S. Hunn & N.J. Turner (eds.). Ethnobiology. Hoboken, NJ, Wiley-Blackwell.
49
PALEOETNOBIOLOGIA
Stahl, P. 2011. Ethnobiology, historical ecology, the archaeofaunal record, and interpreting
human landscapes. Pp. 97-113. In E. N. Anderson, D. M. Pearsall, E. S. Hunn; & N. J. Turner
(eds.). Ethnobiology. Hoboken, NJ, Wiley-Blackwell.
Wolverton, S. 2013. Data quality in zooarchaeological faunal identification. Journal of Archae-
ological Method and Theory 20(3): 381-396.
Wolverton, S.; & Lyman, R.L.(eds.). 2012. Conservation biology and applied zooarchaeology.
Tucson, University of Arizona Press.
Wolverton, S.; Randklev, C.R. & Kennedy, J.H. 2010. A conceptual model for freshwater mussel
(family: Unionidae) remain preservation in zooarchaeological assemblages. Journal of Ar-
chaeological Science 37(1): 164-173.
Figura 1. Apitos ósseos de aves de Ponsipa’akeri (LA 297) que ilustram a confluência de comporta-
mentos de subsistência e o meio ambiente passado a partir do qual esses espécimes foram forrageados.
Os apitos são fabricados a partir de ossos dos membros de grandes pássaros, provavelmente o peru
(Meleagris gallopavo), que podem ter sido caçados de populações selvagens ou criados em cativeiro.
Os perus foram caçados ou criados para alimentação, mas também forneceram penas. Apitos de ossos
podem ter sido usados para chamar perus.
50
Steve Wolverton, Jonathon Dombrosky & Andrew Barker
51
PARTE 2:
A PERCEPÇÃO DA
NATUREZA
CAPÍTULO 6
O que é percepção?
55
O QUE É PERCEPÇÃO AMBIENTAL?
1 Perturbação da percepção visual em que o indivíduo tem dificuldade de distinguir a cor verde
da cor vermelha.
56
Taline Cristina da Silva & Ulysses Paulino de Albuquerque
percebido (tato, visão etc.) sem ter nenhum significado cultural imediato para essas
pessoas. Goldstein (2010) vai mais além sobre o papel dos filtros culturais nas per-
cepções ambientais, defendendo que se um elemento é percebido em determinada
cultura, mas não tem nenhum significado, esse pode receber atenção especial por
parte desse grupo cultural, na tentativa de atribuir significados, valores e utilidades
para esse elemento. Outro exemplo, ainda, são os alimentos que, para determina-
dos grupos culturais, são extremamente saborosos, enquanto que, para outros, cau-
sam repugnância. No entanto, acessar esse tipo de percepção é um tanto difícil, pois
percepções químicas como cheiro e sabor incluem dois processos simultâneos: um
biológico e outro cultural, relacionado à interpretação e avaliação das informações.
Por esses motivos, defendemos que as reais percepções da realidade são difíceis
de serem acessadas na pesquisa etnobiológica por meio de entrevistas e outras ferra-
mentas metodológicas, pois são abstratas e influenciadas por diversos fatores, como
idade, gênero, renda, fatores biológicos e evolutivos, entre outros que serão esclareci-
dos mais adiante nesta obra. Logo, a representação que o indivíduo expõe por meio
de sua fala, escrita e/ou ilustrações é a única maneira pela qual o pesquisador pode
acessar suas visões de mundo, suas sensações, seus valores e suas opiniões.
É importante destacar que as pesquisas a respeito das representações ambientais,
podem ser úteis para: verificar mudanças na paisagem e suas possíveis causas;
entender os critérios envolvidos na seleção e no uso de recursos naturais; elaborar
estratégias de conservação ambiental; realizar diagnósticos ambientais; desenvolver
projetos de educação ambiental que levem em consideração as visões sobre o
ambiente que têm os diferentes atores sociais, entre outras implicações.
Destacamos, ainda, a diferença conceitual entre percepção e conhecimento, já
que pontuamos que muitos trabalhos acessam questões cognitivas e utilizam o ter-
mo percepção como sinônimo de conhecimento. O dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa (Ferreira 1988) conceitua conhecimento como: “ato de conhecer/ ideia,
noção de alguma coisa”. Esse conceito é distinto dos de percepção recém apresen-
tados. Um exemplo prático dessa diferença é que o indivíduo pode perceber uma
planta do ponto de vista fisiológico, com todos os filtros atuantes, no entanto, não
conhecer sobre suas funções e outros aspectos.
57
O QUE É PERCEPÇÃO AMBIENTAL?
Referências
Bell, S. 2001. Landscape pattern, perception and visualization in the visual management of fo-
rest. Landscape and Urban Planning 54(1): 201-211.
Ferreira, A. B. H. 1988. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova
Fronteira.
Goldstein, E.B. 2010. Sensation and perception. Belmont, Wadsworth.
Okamoto, J. 2002. Percepção ambiental e comportamental. São Paulo, Mackenzie.
Tuan, Y. 1974. Topophilia: a study of environmental perception, attitudes, and values. New
York, Columbia University Press.
Silva, T.C.; Cruz, M.P.; Araújo, T.A.S.; Schwarz, M.L. & Albuquerque, U.P. 2014. Methods in
research of environmental perception. Pp. 99-110. In: U.P. Albuquerque.; L.V.F.C. Cunha.;
R.F.P. Lucena. & R.R.N. Alves (eds.). Methods and techniques in ethnobiology and ethno-
ecology. New York, Springer.
58
CAPÍTULO 7
59
BASES BIOLÓGICAS E EVOLUTIVAS DA PERCEPÇÃO HUMANA SOBRE O AMBIENTE NATURAL
60
Washington Soares Ferreira Júnior, Taline Cristina da Silva & Ulysses Paulino de Albuquerque
devido à sua ampla aceitação cultural (Brett 1998). Essa situação exemplifica a inter-
secção existente entre biologia e cultura envolvendo o uso de plantas medicinais.
Ademais, há certos alimentos que são extremamente saborosos para determina-
dos grupos culturais, enquanto que, para outros, podem causar repugnância. Nes-
se caso fica clara a atuação de filtros culturais no sentido perceptivo da gustação.
Percebemos, então, que as percepções químicas como cheiro e sabor incluem dois
processos simultâneos: um biológico e outro cultural, relacionado à interpretação e
avaliação das informações.
61
BASES BIOLÓGICAS E EVOLUTIVAS DA PERCEPÇÃO HUMANA SOBRE O AMBIENTE NATURAL
Referências
Brett, J.A. 1998. Medicinal plant selection criteria: the cultural interpretation of chemical senses.
Journal of Applied Botany 72: 70-74.
Fabrega, H. 1997. Evolution of sickness and healing. Berkeley, University of California Press.
Falk, J.H. & Balling, J. D. 2010. Evolutionary influence on human landscape preference. Envi-
ronment and Behavior 42: 479-493.
Hartmann, P. & Apaolaza-Ibáñez, V. 2010. Beyond savanna: An evolutionary and environmen-
tal psychology approach to behavioral effects of nature scenery in green advertising. Journal
of Environmental Psychology 30: 119-128.
Huffman, M. A. 2001. Self-medicative behavior in the African great apes: a evolutionary pers-
pective into the origins of human traditional medicine. BioScience 51(8): 651-661.
62
Washington Soares Ferreira Júnior, Taline Cristina da Silva & Ulysses Paulino de Albuquerque
Johns, T. 1990. With bitter herbs they shall eat it: Chemical ecology and the origins of human
diet and medicine. Tucson, University of Arizona Press.
Kaplan, R. & Herbert, E. J. 1987. Cultural and sub-cultural comparisons in preferences for natu-
ral settings. Landscape and Urban Planning 14: 281-293.
Shepard, G. H. 2004. A sensory ecology of medicinal plant therapy in two Amazonian societies.
American Anthropologist 106(2): 252-266.
Silva, T.C.; Medeiros, P.M.; Araújo, T.A.S. & Albuquerque, U.P. 2010. Northeastern Brazilian
students’ representations of Atlantic Forest fragments. Environment Development and Sus-
tainability 12:195-211.
63
CAPÍTULO 8
PERCEPÇÃO DE RISCO
Taline Cristina da Silva, Washington Soares Ferreira Júnior, Flávia Rosa Santoro,
Thiago Antônio de Sousa Araújo & Ulysses Paulino de Albuquerque
65
PERCEPÇÃO DE RISCO
66
Taline Cristina da Silva, Washington Soares Ferreira Júnior, Flávia Rosa Santoro,
Thiago Antônio de Sousa Araújo & Ulysses Paulino de Albuquerque
diálogo entre as partes interessadas, torna-se difícil identificar as fontes de risco que
podem ser alvo de políticas públicas para melhorar a qualidade de vida da população.
O acesso às percepções de risco também pode ser importante para a conservação
dos recursos naturais, à medida que acessamos as predisposições que temos para mu-
dar algumas situações, a partir do momento em que passamos a enxergar o problema
e dispomos a resolvê-lo (Sudimeier-Rieux et al. 2012). Desse modo, uma questão am-
biental percebida como de risco para determinado grupo social pode desencadear a
necessidade de solucioná-la.
É preciso ter em vista que as percepções de risco podem variar entre diferentes
culturas. Como exemplo, podemos apontar que foi detectada uma grande variação
entre as percepções de risco sobre enchentes de dois grupos étnicos distintos
residentes nas margens de um mesmo lago, em Benin, na África (Teka & Vogt 2010).
Nessa região, o grupo que tem a pesca como principal atividade econômica percebia
as enchentes de maneira positiva, pois, segundo as pessoas deste grupo, tal fenôme-
no ambiental aumentava a abundância de recursos pesqueiros. O outro grupo, que
possuía intensa atividade agrícola, considerava as enchentes como uma grande ame-
aça. Sendo assim, as percepções de risco podem ser maiores se as consequências de
determinado evento afetam a disponibilidade de recursos importantes para um dado
grupo, demonstrando a importância de aspectos utilitários na percepção.
Por último, destacamos que abordagens que visem acessar a percepção de ris-
co são valiosas para a elaboração de grandes projetos que vão causar modificações
ambientais (Meng et al. 2012). Normalmente esses projetos têm como base laudos
técnicos que não levam em consideração as percepções locais (Meng et al. 2012), des-
considerando que as populações residentes próximas a essas áreas podem dar infor-
mações mais detalhadas sobre os possíveis riscos sociais e ambientais trazidos com
esses empreendimentos, o que colaboraria para a formulação de projetos que levem
em consideração as demandas e percepções locais, aumentando a chance destes serem
bem sucedidos (Lykke 2000; Xu et al. 2006).
Referências
Buster, K.J.; You, Z.; Fouad, M. & Elmets, C. 2012. Skin cancer risk perceptions: A comparison
across ethnicity, age, education, gender, and income. Journal of American Academy of Der-
matology 66(5):771-779.
67
PERCEPÇÃO DE RISCO
Douglas, M. 1966. Purity and danger. An analysis of the concepts of pollution and taboo.
London, Routledge.
Lykke, A.M. 2000. Local perceptions of vegetation change and priorities for conservation of woo-
dy-savanna vegetation in Senegal. Journal of Environmental Management 59(2): 107-120.
Meng, B.; Liu, M.; Liufu, H. Y. & Wang W. 2012. Risk perceptions combining spatial multi-
-criteria analysis in land-use type of Huainan city. Safety Science 51(1):361–373.
Oltedal, S.; Moen, B.L.; Klempe, H. & Rundmo, T. 2004. Explaining risk perception: an evalu-
ation of cultural theory. Norway, Rotunde.
Peters, E. & Slovic, P. 1996. The role of affect and worldviews as orienting dispositions in
the perception and acceptance of nuclear power. Journal of Applied Social Psychology
26(16):1427-1453.
Pidgeon, N.F.; Hood, C.; Jones, D.; Turner, B.A. & Gibson, R. 1992. Risk perception. Pp. 89-134.
In: Royal Society Study Group (eds.). Risk analysis, perception and management. London,
Royal Society.
Quinn, C.H.; Huby, M.; Kiwasila, H. & Lovett, J.C. 2003. Local perceptions of risk to livelihood
in semi-arid Tanzania. Journal of Environmental Management 68 (2):111-119.
Sjöberg, L. 2000. Factors in risk perception. Risk Analysis 20(1): 1-11.
Smith, K.; Barrett, C.B. & Box, P.W. 2000. Participatory risk mapping for targeting resear-
ch and assistance: with an example from east African pastoralists. World Development
28(11):1945–1959.
Sudimeier-Rieux, K.; Jaquet, S.; Derron, M.; Jaboyedoff, M. & Devkota, S. 2012. A case study of
coping strategies and landslides in two villages of Central-Eastern Nepal. Applied Geogra-
phy 32(2):680-690.
Teka, O. & Vogt, J. 2010. Social perception of natural risks by local residents in developing coun-
tries—The example of the coastal area of Benin. The Social Science Journal 47(1):215–224.
Xu, J.; Chen, L.; Lu, Yihe & Fu, B. 2006. Local people´s perceptions as decisions support for pro-
tected area management in Wolong Biosphere Reserve, China. Journal of Environmental
Management 78(4):362-372.
68
CAPÍTULO 9
Fatores fisiológicos
69
A RELAÇÃO ENTRE AS PERCEPÇÕES E O APROVEITAMENTO DOS RECURSOS NATURAIS
70
Taline Cristina da Silva, Letícia Zenobia de Oliveira Campos, Josivan Soares da Silva,
Rosemary da Silva Sousa & Ulysses Paulino de Albuquerque
impedem que tomemos consciência de tudo que acontece ao nosso redor, mecanismo
que evite a sobrecarga de informações. Assim, ignoramos alguns tipos de informa-
ções. Há muitas pessoas que são hábeis em indicar mudanças na disponibilidade de
algum recurso biológico do qual faz uso, já outras pessoas, em outras regiões, pare-
cem não ter a mesma habilidade apesar de manter o mesmo tipo de relação com o
ambiente. Dessa forma, devem existir vários filtros e estímulos combinando-se entre
si para determinar o que vai acontecer em uma ou outra situação, o que, sem dúvida
alguma, pode ser um tema muito interessante de investigação.
Algumas espécies podem ser tão importantes para uma cultura, com um papel central
pronunciado, que são chamadas de espécies-chave culturais. Essas espécies são enten-
didas como um elemento do sistema cultural de reconhecida importância para a relação
e a adaptação de seus membros ao ambiente (Cristancho & Vining 2004), sendo es-
sencial para formação da identidade cultural (Garibaldi & Turner 2004). Porém, nem
toda espécie exerce esse papel nas culturas, motivo pelo qual vários autores propuseram
indicadores para identificá-las. Tais indicadores, no entanto, foram considerados inad-
equados, visto que nem toda espécie-chave cultural terá as mesmas características em
diferentes culturas (Platten & Henfrey 2009).
Um estudo desenvolvido na região do Araripe, Nordeste do Brasil, identificou duas es-
pécies-chave culturais: pequi (Cariocar coriaceum Wittm.) e babaçu (Atallea specio-
sa Mart. ex Spreng.) (ver Sousa 2014). Foi constatado que estas plantas são reconhecidas
por comunidades extrativistas como aquelas de maior influência cultural local. Existe
uma relação de dependência material e imaterial tão intensa que está arraigada ao modo
de vida local. Esta relação acontece, principalmente, devido à importância comercial
dos recursos provindos C. coriaceum e A. speciosa na região. Assim, é possível que a
prática social desenvolvida na cultura, neste caso, o extrativismo de recursos vegetais
para fins comerciais, possa estar determinando o seu papel como recurso-chave.
Reconhecer C. coriaceum e A. speciosa como espécies-chave culturais pode resultar
em benefícios para propósitos de conservação na região do Araripe. Sabendo que essas
plantas cumprem um papel fundamental no modo de vida das comunidades extrativis-
tas estudadas, elas podem ser usadas como espécies emblemáticas para integrar as di-
mensões ecológicas e sociais e, assim, serem elementos-chave na criação de estratégias
de conservação biocultural associada ao desenvolvimento sustentável local. Para isso,
é necessário aliar a manutenção das práticas culturais locais com a conservação das
espécies, contemplando, desta maneira, não apenas a dimensão ecológica, mas também
a sustentabilidade cultural.
71
A RELAÇÃO ENTRE AS PERCEPÇÕES E O APROVEITAMENTO DOS RECURSOS NATURAIS
72
Taline Cristina da Silva, Letícia Zenobia de Oliveira Campos, Josivan Soares da Silva,
Rosemary da Silva Sousa & Ulysses Paulino de Albuquerque
Referências
Alves, R.R.N.A. 2012. Relationships between fauna and people and the role of ethnozoology in
animal conservation. Ethnobiology and Conservation 1(2): 1-69.
Alves, R.M.; Vieira, K.S.; Santana, G.G.; Vieira, W.L.; Almeida, W.C.; Souto, W.M.; Montenegro,
P.F. & Pezzuti, J.C. 2012. A review on human attitudes towards reptiles in Brazil. Environmen-
tal Monitoring and Assessment 184(11): 6877-6901.
Anthwal, A.; Gupta, N.; Sharma, A.; Anthwal, S. & Kim, K. 2010. Conserving biodiversity through
traditional beliefs in sacred groves in Uttarakhand Himalaya, India. Resources, Conservation
and Recycling 54(11): 962-971.
Campos, M.; Velázquez, A.; Verdinelli, G. B.; Priego-Santander, A. G.; McCall, M.K. & Boada, M.
2011. Rural People’s Knowledge and Perception of Landscape: A Case Study From the Mexican
Pacific Coast. Society & Natural Resource 25(8): 1-16.
Cristancho, S. & Vining, J. 2004. Culturally defined keystone species. Human Ecology Review 11:
153–164.
Fita, D.S.; Costa Neto, E.M. & Schiavetti, A. 2010. ‘Offensive’ snakes: cultural beliefs and practices
related to snakebites in a Brazilian rural settlement. Journal of Ethnobiology and Ethnome-
dicine 6(13): 1-13.
Garibaldi, A. & Turner, N. 2004. Cultural keystone species: implications for ecological conserva-
tion and restoration. Ecology and Society 9(3):1.
Johns, T. 1996. Human perception, Cognition, and Behaviour in Relation to Plant Chemicals.
Pp. 160-194. In: T. Johns. The Origins of Human Diet and Medicine: Chemical Ecology. The
University of Arizona Press.
Koster, J.M.; Hodgen, J.J.; Venegas, M.D. & Copeland, T.J. 2010. Is meat flavor a factor in hunters’
prey choice decisions? Human Nature 21: 219-242.
Platten, S.J. & Henfrey, T. 2009. The cultural keystone concept: insights from ecological anthropo-
logy. Human Ecology 37: 491–500.
Prokop, P. & Fancovicova, J. 2013. Does colour matter? The influence of animal warning coloration
on human emotions and willingness to protect them. Animal Conservation 16(4): 458-466.
Sieber, S.S.; Medeiros, P.M. & Albuquerque, U.P. 2010. Local Perception of Environmental Change
in a Semi-Arid Area of Northeast Brazil: A New Approach for the Use of Participatory Methods
at the Level of Family Units. Journal Agriculture Environment Ethics 24: 511-531.
Silva, T.C.; Medeiros, P.M.; Araújo, T.A.S. & Albuquerque, U.P. 2010. Northeastern Brazilian stu-
dents’ representations of Atlantic Forest fragments. Environmental Development and Sustai-
nability 12: 195-211.
Silva, T.C.; Ramos, M.A.; Schwarz, M.L.; Alvarez, I. A.; Kill, L.H.P. & Albuquerque, U.P. 2014. Lo-
cal representations of change and conservation of the riparian forests along the São Francisco
River (Northeast Brazil). Forest Policy and Economics 45: 1-12.
Sousa, R.S. 2014. Espécie-chave cultural: uma análise dos critérios de identificação e de preditores
socioeconômicos. Tese. Recife, Universidade Federal Rural de Pernambuco.
73
PARTE 3:
A CLASSIFICAÇÃO
DA NATUREZA
CA PÍT ULO 10
77
COMO E POR QUE AS PESSOAS CLASSIFICAM OS RECURSOS NATURAIS?
Brent Berlin propôs os princípios que regem a classificação biológica folk (Ber-
lin et al. 1973; Berlin 1992), que, para ele, compartilham um padrão classificatório
que pode ser resumido em nove princípios universais (Quadro 1). Esses princípios,
em geral, informam que nós, independentemente de onde estejamos e de qual grupo
cultural façamos parte, classificamos os seres vivos de forma hierárquica, de modo
semelhante à taxonomia científica. Nesse caso, os sistemas de classificação estão es-
truturados em níveis de inclusão nos quais os seres vivos são agrupados em categorias
(unidades taxonômicas) que estão hierarquicamente subordinadas umas às outras. Os
critérios para a classificação dos organismos estão baseados nos comportamentos e,
principalmente, nas características dos seres vivos que permitem as pessoas reconhe-
cerem, a partir de diferenças e semelhanças, os diversos organismos (Albuquerque
2005), bem como outros elementos do mundo natural.
Segundo os princípios de Berlin, os nomes dados às unidades de cada categoria
são exclusivos, ou seja, cada categoria recebe um nome único (níveis monomiais) ou é
nomeada com uma primeira palavra base acompanhada por uma segunda que diferen-
ciará os indivíduos incluídos imediatamente na categoria posterior (níveis binomiais).
Para demonstrar a lógica dessa ordenação, consideremos a planta maracujá, a qual será
incluída em uma categoria monomial. Para diferenciar os diversos tipos de maracujás,
faz-se necessário o uso de uma nova palavra que será incluída em uma nova categoria
subordinada à anterior, e.g., maracujá amarelo, maracujá do mato, maracujá açu etc.
Neste exemplo, fica clara a proximidade atribuída por Berlin entre os sistemas de classi-
ficação folk e científica, em que um taxa11 genérico é adicionado de um epíteto específi-
co para distinguir um organismo dos demais relacionados a ele.
78
Andrêsa Suana Argemiro Alves, Lucilene Lima dos Santos, Washington Soares Ferreira Júnior & Ulysses Paulino de Albuquerque
Quadro 1. Princípios de classificação folk, segundo Brent Berlin. Tradução livre adaptada de Berlin
et al. (1973) e Berlin (1992).
79
COMO E POR QUE AS PESSOAS CLASSIFICAM OS RECURSOS NATURAIS?
Figura 1. Esquema das cinco categorias taxonômicas em sistemas de classificação folk. Adaptado de
Berlin et al. (1973).
80
Andrêsa Suana Argemiro Alves, Lucilene Lima dos Santos, Washington Soares Ferreira Júnior & Ulysses Paulino de Albuquerque
que tem o hábito de alimentar seus filhotes com leite” (Mourão et al., 2006:4). Este é
um critério de classificação baseado puramente em descritores biológicos, em que a
forma de vida do grupo é reconhecida pelas pessoas ao observar animais que sugam
ou que possuem glândulas mamárias. Outras pesquisas realizadas em diferentes am-
bientes têm encontrado critérios similares de classificação (ver Berlin 1992; Souza &
Begossi 2007).
Outro foco a que têm sido direcionadas as pesquisas busca verificar o papel da
categoria genérica como base ou núcleo de classificações folk. Segundo Brent Berlin
(1973; 1992), as categorias genéricas são as mais importantes em classificações folk
porque agrupam organismos por características que são facilmente visíveis (morfo-
logia, hábito), não exigindo uma observação muito detalhada para serem percebidas.
Neste caso, seria esperado que a categoria inicial para a classificação fosse a genérica.
Por exemplo, ao pedir às pessoas para classificar um conjunto de organismos, estas
indicariam primeiramente o nome genérico de cada organismo (aroeira, leão, taman-
duá etc.) e, a partir disso, organizariam os genéricos em categorias de níveis mais altos
(formas de vida e reino) e categorias de níveis mais baixos (específicos e variedades).
Além disso, é em categorias genéricas que as pessoas realizam um grande número
de generalizações, ou inferências indutivas, acerca das características dos seres vivos
(Coley et al. 1997). Por exemplo, ao observar as características de determinado nú-
mero de peixes, seres humanos podem fazer generalizações como “todos os peixes
possuem escamas” mesmo sem observar todos os peixes da região. Isso ocorre porque
categorias genéricas agrupam organismos que compartilham características aparen-
tes, o que facilita inferências indutivas.
Essas informações reforçam a ideia de que a categoria genérica é basal em classi-
ficações folk, uma vez que a partir dela são feitas inferências indutivas que são a base
do desenvolvimento dos sistemas de classificação, principalmente em sociedades tra-
dicionais (Coley et al. 1997). Ademais, as informações apresentadas destacam padrões
de nomenclatura relacionados a uma classificação hierárquica e ao critério baseado
em características morfológicas para a classificação dos seres vivos. Todavia, uma
análise mais cuidadosa não descarta a ideia de que talvez esses achados sejam meros
artefatos do procedimento de coleta ou da interpretação de dados que força a uma
adequação dos achados aos princípios formulados por Berlin. Muitas críticas têm sido
dirigidas ao universalismo dos princípios de Berlin, o que tem levado diferentes pes-
quisadores a formular visões alternativas para compreender as classificações folk.
81
COMO E POR QUE AS PESSOAS CLASSIFICAM OS RECURSOS NATURAIS?
Referências
Albuquerque, U.P. 2005. Introdução à etnobotânica. Rio de Janeiro, Interciência.
Berlin, B.; Breedlove, D.E. & Raven, P.H. 1968. Covert categories and folk taxonomies. Ameri-
can Anthropologist 70: 290-299.
Berlin, B.; Breedlove, D.E. & Raven, P.H. 1973. General principles of classification and nomen-
clature in folk biology. American Anthropologist 75: 214-242.
Berlin, B. 1992. Ethnobiological classification: principles of categorization of plants and ani-
mals in tradicional societies. Princeton University Press. Princeton, USA.
Bousquets, J.L. 1990. La búsqueda del método natural. México, Fondo de Cultura Económica.
Coley, J.D.; Medin, D.L. & Atran, S. 1997. Does rank have its privilege? Inductives inferences
whitin folkbiological taxonomies. Cognition 64: 73-112.
Haverroth, M. 2007. Etnobotânica, uso e classificação dos vegetais pelos Kaingang – terra
indígena Xapecó. Recife, NUPEEA.
Hunn, E. 1992. The utilitarian factor in folk biological classification. American Anthropologist
84(4): 830-847.
Mourão, J.S. & Montenegro, S.C.S. 2006. Pescadores e peixes: o conhecimento local e uso da
taxonomia folk baseada no modelo berlineano. Recife, NUPEEA.
Mourão, J.S.; Araujo, H.F.P. & Almeida, F.S. 2006. Ethnotaxonomy of mastofauna as practised by
hunters of the municipality of Paulista, state of Paraíba-Brazil. Journal of Ethnotaxonomy
and Ethnomedicine 2(19): 1-7.
Souza, S.P. & Begossi, A. 2007. Whales, dolphins or fishes? The ethnotaxonomy of cetaceans in
São Sebastião, Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine 3: 9.
82
C A P Í T U LO 11
Os cientistas têm verificado que os seres vivos agrupados em categorias folk pró-
ximas também são classificados como próximos pelo sistema de classificação cientí-
83
VISÕES ALTERNATIVAS SOBRE AS CLASSIFICAÇÕES FOLK
fica. Essa proximidade entre os dois sistemas pode ocorrer devido à semelhança nos
critérios de classificação utilizados, uma vez que um critério base de classificação nos
dois sistemas são as características biológicas dos seres vivos (morfologia, compor-
tamento, entre outros). Contudo, alguns trabalhos apresentam achados que vão de
encontro a essa ideia. Um estudo que investigou as percepções locais em Puget Sound,
Washington, observou que as pessoas agrupavam determinadas espécies marinhas
sem qualquer analogia com a taxonomia científica. Por exemplo, duas espécies de
peixes, pertencentes a distintas ordens de acordo com a taxonomia científica, foram
agrupadas em uma mesma categoria (Beaudreau et al. 2011). Há também casos em
que recursos identificados na taxonomia folk como distintos podem pertencer a uma
mesma espécie científica (Kakudidi 2004; Jinxiu et al. 2004). Por exemplo, em aldeias
da Província de Yunnan, na China, uma determinada espécie de planta foi identi-
ficada pelos moradores como dois tipos de recursos diferentes, com base nos usos
empregados da espécie na região (Jinxiu et al. 2004). Isso mostra que provavelmente
as pessoas classificam os seres vivos também por outros critérios.
Segundo o modelo berliniano, uma das características que as classificações folk
e científica compartilham é o agrupamento dos seres vivos em categorias hierarqui-
zadas (Atran 1998). Por exemplo, em cada nível de categorização (reino, forma de
vida, genérico e específico) há o agrupamento de organismos que compartilham certo
número de características, principalmente biológicas. Essa categorização pode ser ob-
servada em um estudo etnobiológico por meio das seguintes respostas: planta X tem
três tipos diferentes ou bicho Y tem três jeitos, e ambas as respostas refletem essa
estrutura (Mourão & Nordi 2002). No entanto, nem sempre essa estrutura pode ser
verificada. A classificação de peixes por pescadores artesanais do rio Mamanguape,
Paraíba, por exemplo, apresenta uma nomenclatura de vários genéricos em famílias,
como família dos bagres, família das sardinhas, em que os pescadores agrupam os
peixes devido à sua importância cultural e econômica (Mourão & Nordi 2002). Não
parece haver uma subcategorização hierarquizada da família dos bagres, a qual agru-
pa os bagres por meio de atributos biológicos comuns, uma vez que essa família é
constituída com base nos critérios cultural e econômico. Logo, se esses genéricos não
são formados por seres vivos que compartilham certos atributos biológicos, podemos
afirmar que a classificação folk nem sempre se assemelha à científica.
84
Washington Soares Ferreira Júnior, Reinaldo Farias Paiva de Lucena & Ulysses Paulino de Albuquerque
Nem sempre atributos biológicos dos seres vivos são critérios locais de base para
a classificação folk.
85
VISÕES ALTERNATIVAS SOBRE AS CLASSIFICAÇÕES FOLK
86
Washington Soares Ferreira Júnior, Reinaldo Farias Paiva de Lucena & Ulysses Paulino de Albuquerque
Referências
Atran, S. 1998. Folk biology and the anthropology of science: cognitive universals and cultural
particulars. Behavioral and Brain Sciences 21: 547-609.
Beaudreau, A.H.; Levin, P.S. & Norman, K.C. 2011. Using folk taxonomies to understand
stakeholder perceptions for species conservation. Conservation Letters 4: 451-463.
Boster, J.S. 1986. “Requiem for the omniscient informant”: there’s life in the old girl yet. Pp.
177-197. In: J. Dougherty (ed.). Explorations in cognitive anthropology. Urbana, Illinois,
University of Illinois Press.
Clément, D. 1995. Why is taxonomy utilitarian? Journal of Ethnobiology 15(1): 1-44.
Jinxiu, W.; Hongmao, L.; Huabin, H. & Lei, G. 2004. Participatory approach for rapid assessment
of plant diversity through a folk classification system in a tropical rainforest: case study in
Xishuangbanna, China. Conservation Biology 18(4): 1139-1142.
Kakudidi, E.K. 2004. Folk plants classification by communities around Kibale National Park,
Western Uganda. African Journal of Ecology 42 (suppl.1): 57-63.
López, A.; Atran, S.; Coley, J.D.; Medin, D.L. & Smith, E.E. 1997. The tree of life: universal
and cultural features of folkbiological taxonomies and inductions. Cognitive Psychology
32: 251-295.
Mourão, J.S. & Nordi, N. 2002. Principais critérios utilizados por pescadores artesanais na taxo-
nomia folk dos peixes do estuário do rio Mamanguape, Paraíba-Brasil. Interciencia 27(11):
607-612.
87
PARTE 4:
O APROVEITAMENTO
DA NATUREZA
C A P Í T U LO 12
PLANTAS MEDICINAIS
Thiago Antônio de Sousa Araújo, Joabe Gomes de Melo
& Ulysses Paulino de Albuquerque
91
PLANTAS MEDICINAIS
92
Thiago Antônio de Sousa Araújo, Joabe Gomes de Melo & Ulysses Paulino de Albuquerque
93
PLANTAS MEDICINAIS
neste tipo de matéria-prima. Segundo Newman & Cragg (2012), em 2010, os produtos
naturais foram responsáveis pela produção ou estavam envolvidos em cerca de 50%
das pequenas moléculas das novas substâncias ativas.
Um exemplo clássico de um fármaco sintético derivado de um produto natural é
a Aspirina®, provinda inicialmente do salgueiro (Salix alba L.), espécie que Hipócrates
(460 a.C.) já citava para aliviar a dor e reduzir as febres (Setty & Sigak 2005; Varghese
& Lockey 2008). A figura 1 apresenta um possível caminho para o desenvolvimento
de medicamentos partindo do conhecimento tradicional.
No Brasil, cada vez mais aumenta o interesse tanto privado quanto público pelo
estudo das plantas medicinais. Produtos como o Acheflan®, um medicamento fitote-
rápico indicado no tratamento local de processos inflamatórios e dores musculares,
é produzido a partir de Cordia verbenacea DC., conhecida popularmente como erva
baleeira. Esse exemplo mostra que o conhecimento tradicional de povos do Brasil é
uma rica fonte de informação para a obtenção de novos medicamentos. Contudo, as-
pectos legais a respeito do retorno e da repartição de benefícios devem ser respeitados.
O uso de plantas medicinais baseado em conhecimento tradicional é de tamanha
importância que fez com o governo brasileiro implementasse em 2008 a Relação Na-
cional de plantas medicinais de interesse ao Sistema Único de Saúde (RENISUS). Nes-
ta lista constam 71 espécies medicinais que foram selecionadas a partir de espécies já
utilizadas nos serviços de saúde estaduais e municipais por comunidades tradicionais
e uso popular e/ou em estudos químicos e farmacológicos (Brasil 2012). Atualmente
12 fitoterápicos são oferecidos na rede pública de 14 estados brasileiros (Tabela 1).
94
Thiago Antônio de Sousa Araújo, Joabe Gomes de Melo & Ulysses Paulino de Albuquerque
Tabela 1. Relação de fitoterápicos ofertados no Sistema Único de Saúde (SUS). Adaptado de Brasil
(2012).
95
PLANTAS MEDICINAIS
96
Thiago Antônio de Sousa Araújo, Joabe Gomes de Melo & Ulysses Paulino de Albuquerque
Referências
Albuquerque, U. P. 2006. Re-examining hypotheses concerning the use and knowledge of me-
dicinal plants: a study in the Caatinga vegetation of NE Brazil. Journal of Ethnobiology and
Ethnomedicine 2: 30.
Alencar, N. L.; Araújo, T. A. S.; Amorim, E. L. C. & Albuquerque, U. P. 2010. The inclusion and
selection of medicinal plants in traditional pharmacopoeias - evidence in support of the di-
versification hypothesis. Economic Botany 64: 68-79.
Brasil. 2012. Portal do Brasil, SUS tem fitoterápicos para doenças simples. Disponível em:
http://www.brasil.gov.br/saude/2012/11/sus-tem-fitoterapicos-para-doencas-simples. Aces-
sado em: 15/08/2014.
Brasil. 2014. Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Resolução - RDC Nº 26, de 13
de maio de 2014.
Case, R. J.; Pauli, G. F. & Soejarto, D. D. 2005. Factors in maintaining indigenous knowledge
among ethnic communities of Manus Island. Economic Botany 59: 356–365.
Khafagi, I. K.; Dewedar, A. 2000. The efficiency of random versus ethno-directed research in
the evaluation of Sinai medicinal plants for bioactive compounds. Journal of Ethnopharma-
cology 71: 365–376.
Newman, D. J. & Cragg, G. M. 2012. Natural products as Sources of new drugs over the 30 Years
from 1981 to 2010. Journal of Natural Products 75: 311-335
Quinlan, M. B. & Quinlan, R. J. 2007. Modernization and medicinal plant knowledge in a carib-
bean horticultural village. Medical Anthropology Quarterly 21(2):169–192
Oliveira, R. L. C.; Lins Neto, E. M. F.; Albuquerque, U. P.; Araújo, E L. Prioridade de conservação
em plantas medicinais pp. 165-188. In: Albuquerque, U. P.; Almeida, C. F. C. B. R.; Marins, J.
F. A. (eds.). Tópicos em conservação, Etnobotânica e etnofarmacologia de plantas medi-
cinais e mágicas. Recife, NUPEEA.
Oliveira, D. R.; Leitão, G. G. ; Coelho, T. S.; Silva, P. E. A.; Lourenço, M. C. S. & Leitão, S. G. 2011.
Ethnopharmacological versus random plant selection methods for the evaluation of the anti-
mycobacterial activity. Revista Brasileira de Farmacognosia 21:793–806.
Saklani, A. & Kutty, S. 2008. Plant-derived compounds in clinical trials. Drug Discovery Today
13(3/4).
Setty, A. R. & Sigal, L. H. 2005. Herbal medications commonly used in the practice of rheuma-
tology: mechanisms of action, efficacy, and side effects. Seminars in Arthritis and Rheu-
matism 34(6):773–784.
Slish, D. F.; Ueda, H.; Arvigo, R. & Balick, M. J. 1999. Ethnobotany in the search for vasoactive
herbal medicines. Journal of Ethnopharmacology 66:159–165.
Varghese, M. & Lockey, R. F. 2008. Aspirin-exacerbated asthma. Allergy, Asthma, and Clinical
Immunology 4(2): 75–83.
97
PLANTAS MEDICINAIS
WHO. 2011. The world medicines situation 2011. Traditional Medicines: Global Situation,
Issues And Challenges. 3rd Edition. Geneva.
98
C A P Í T U LO 13
PLANTAS ALIMENTÍCIAS
Viviany Teixeira do Nascimento, Letícia Zenóbia de Oliveira Campos
& Ulysses Paulino de Albuquerque
Plantas alimentícias são aquelas que possuem uma ou mais partes que podem ser
utilizadas na alimentação humana (Kinupp & Barros 2007). Todavia, embora as pes-
soas tenham à sua disposição uma ampla diversidade de espécies cujos frutos, folhas,
raízes, flores, caules ou sementes podem ser utilizados na diversificação alimentar, na
prática pouquíssimas espécies são consumidas pela população mundial.
As plantas alimentícias não convencionais estão incorporadas nas estratégias de
subsistência da maioria das populações rurais, sejam elas de pastores, agricultores,
lavradores ou caçadores-coletores (Bell 1995), e são geralmente usadas na comple-
mentação do modelo diário de consumo alimentar, que é normalmente baseado na
ingestão de produtos advindos da colheita, adquiridos no comércio local ou produzi-
dos a partir dos animais domésticos (Guinand & Lemessa 2001). Tais plantas alimen-
tícias são cruciais para a sobrevivência da população durante os tempos de escassez de
cultivos, sendo recolhidas principalmente por mulheres e crianças e utilizadas para
garantir a segurança alimentar da família, além de ter importância econômica (Gros-
skinsky & Gullick 2001).
A nossa espécie pode obter seus alimentos tanto de plantas cultivadas, algumas
provenientes de um processo contínuo de domesticação, quanto de populações natu-
rais ou silvestres. A expressão “planta silvestre” descreve as espécies que não passam
por manejo ou recebem qualquer atenção humana, todavia, costuma ser amplamente
utilizada para descrever aqueles recursos vegetais adquiridos para fins de consumo
humano em ambientes florestais (Guinand & Lemessa 2001). Para evitar qualquer
incompreensão sobre o grupo de plantas que trataremos neste capítulo, adotaremos a
expressão “plantas alimentícias não convencionais” para nos referirmos tanto às es-
pécies consideradas daninhas ou invasoras como às plantas silvestres, genericamente
99
PLANTAS ALIMENTÍCIAS
100
Viviany Teixeira do Nascimento, Letícia Zenóbia de Oliveira Campos & Ulysses Paulino de Albuquerque
101
PLANTAS ALIMENTÍCIAS
102
Viviany Teixeira do Nascimento, Letícia Zenóbia de Oliveira Campos & Ulysses Paulino de Albuquerque
Tabela 1. Conteúdo nutricional das partes comestíveis de plantas alimentícias não convencionais
típicas da região da Caatinga no Nordeste do Brasil (Adaptado de Nascimento et al. 2011).
A importância das espécies apresentadas nesta tabela para a alimentação das pes-
soas pode ser compreendida se levarmos em consideração, por exemplo,as necessida-
des proteicas diárias de um adolescente do sexo masculino, que é de 52 gramas por dia
(Giannini 2007). Diante disso, podemos inferir que o consumo diário de 100 gramas
dos frutos de Syagrus cearensis é suficiente para suprir 17,21% desta necessidade.
Para que os obstáculos impostos, sobretudo pelos fatores culturais, sejam supera-
dos e os alimentos não convencionais possam sair da marginalidade e contribuir para
a segurança alimentar das populações, sugerimos a criação de políticas de promoção
e utilização desses alimentos. Estas ações devem contar com a participação ativadas
populações locais a fim de melhorar seus meios de subsistência, reduzir a dependên-
cia de ajuda alimentar externa, garantir sua autossuficiência alimentar e o manejo
sustentável desses recursos naturais (Nyok et al. 2001).
Referências
Bell, J. 1995. The hidden harvest. In seedling, the quarterly newsletter of Genetic Resources
Action International (GRAIN), 2005. Disponível em: www.grain.org/publications
Bruce, J.W. 1996. Seguridad alimentaria familiar y silvicultura. Disponível em: http://www.fao.
org/docrep/007/t6125s/T6125S01.htm#ch1.0
103
PLANTAS ALIMENTÍCIAS
Cruz-Garcia, G. S. & Howard, H. 2013. The influence of an educational program on tribal and
non-tribal children’s knowledge and valuation of wild food plants. Learning and Individual
Differences 27: 234–240.
FAO, 2011. Forests for improved nutrition and food security. Food and Agriculture Organiza-
tion, Rome.http://www.fao.org/docrep/014/i2011e/i2011e00.pdfFAO.
Giannini, D.T. 2007. Recomendações nutricionais do adolescente. Adolescência e Saúde 4: 12-18.
Grosskinsky, B. & Gullick, C. 2001. Potential of indigenous food plants to support and streng-
then livelihoods in Southern Sudan. In: C. Kenyatta; A. Henderson (eds). The potential of
indigenous wild foods. In: Workshop Proceedings. Kenia 2001.
Guinand, Y. & Lemessa, D. 2001. Wild-food plants in Ethiopia: reflections on the role of wild
foods and famine foods at a time of drought. In: C. Kenyatta; A, Henderson (eds). The po-
tential of indigenous wild foods. In: Workshop Proceedings. Kenia 2001.
Kinupp, V.F. & Barros, I.B.I. 2007. Riqueza de plantas alimentícias não convencionais na região
metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Biociências 5: 63-65.
Ladio, A, H. & Rapoport, E. H. 2002. La variación estacional de las plantas silvestres comestibles
en baldíos suburbanos de Bariloche, Parque Nacional Nahuel Huapi, Patagônia, Argentina.
Vida Silvestre Neotropical 11: 1-2.
Ladio, A. H. & Lozada, M. 2003. Comparison of wild edible plant diversity and foraging strate-
gies in two aboriginal communities of northwestern Patagonia. Biodiversity and Conserva-
tion 12: 937–951.
Lins-Neto, E. M.; Peroni, N. & Albuquerque, U.P. 2010. Traditional knowledge and managenemt
of umbu (Spondias tuberosa, Anacardiaceae): an endemic species from the semi-arid region
of northeastern Brazil. Economic Botany 64: 11-21.
Nascimento, V. T.; Moura, N. P.; Vasconcelos, M.A. S.; Maciel, M.I.S. & Albuquerque, U.P. 2011.
Chemical characterization of native wild plants of dry seasonal forests of thesemi-arid region
of northeastern Brazil. Ecology, Food and Nutrition 44: 2112-2119.
Nyok, M. A. 2001. Food security and the role of indigenous wild food plants in South Sudan.
In: C, Kenyatta; A, Henderson (eds). The potential of indigenous wild foods. In: Workshop
Proceedings. Kenia 2001.
Rapoport, E.H.; Ladio, A.; Raffaele, E.; Ghermandi, L. & Sanz, E.H.1998. Malezas comestibles -
Hay Yuyos y Yuyuos. Ciencia Hoy 9: 30-43.
Reyes-García, V.; Kightley, E.; Ruiz-Mallén, I.; Fuentes-Peláez, N.; Demps, K.; Huanca, T. &
Martínez Rodríguez, M.R. 2010. Schooling and local environmental knowledge: Do they
complement or substituteeach other? International Journal of Educational Development
30: 305–313.
104
C A PÍ T U LO 14
RECURSOS MADEIREIROS
Marcelo Alves Ramos, Maria Clara Bezerra Tenório Cavalcanti
& Fábio José Vieira
1 O corte raso corresponde à derrubada geral da vegetação lenhosa. Existe também a prática de
corte seletivo, que envolve a coleta de alvos específicos, quando há o reconhecimento de espé-
cies com qualidade superior.
105
RECURSOS MADEIREIROS
Quadro 1. Exemplo ilustrando um dos problemas conceituais sobre o que deve ser considerado um
uso madeireiro em pesquisas etnobiológicas (ver Ramos 2011; Ramos et al. 2014).
Os moradores reconhecem que cada uma dessas estruturas exerce um papel específico
na sustentação do telhado e que, por isso, são necessárias diferentes espécies florestais
para sua construção. Em outras palavras, cada estrutura requer uma madeira com ca-
racterísticas próprias, como densidade, diâmetro e forma. No entanto, nas pesquisas et-
nobiológicas essa distinção nem sempre é feita. No caso dos telhados das residências, por
exemplo, vários trabalhos consideram toda a estrutura como um único uso madeireiro,
sem distinguir suas partes e especificidades.
É importante, pelo menos para alguns fatores, estabelecermos um caminho uniformi-
zado para as pesquisas etnobiológicas acerca dos recursos madeireiros. Se não fizermos
isso, ficará mais difícil comparar dados obtidos em diferentes estudos, bem como identi-
ficar padrões. Aqui, consideramos que a classificação dos usos madeireiros deve diferen-
ciar cada parte que compõe uma estrutura de madeira, uma vez que diferentes espécies
podem ser empregadas em cada uma dessas partes, mesmo que em uma única estrutura
(p.ex. o telhado de uma casa; uma mesa). Em outras palavras, para cada tipo de uso da
madeira podem existir diferentes dinâmicas e padrões de coleta. Portanto, estes usos
contribuem com diferentes impactos sobre as áreas florestais acessadas.
Os seres humanos têm uma tendência natural a classificar as coisas ao seu redor.
Na etnobiologia também costumamos classificar os usos individuais, citados pelos
informantes, em categorias de uso (e.g. alimento, medicina, veterinária, combustível).
Para produtos florestais madeireiros empregados na subsistência humana, identifi-
106
Marcelo Alves Ramos, Maria Clara Bezerra Tenório Cavalcanti & Fábio José Vieira
107
RECURSOS MADEIREIROS
e reserva de água) que designamos como tecnologia. Há ainda o uso de madeira para
confecção de artefatos relacionados a práticas mágico-religiosas, apesar de este regis-
tro ser menos frequente na literatura científica.
Algumas pesquisas têm demonstrado que o uso como combustível é um dos mais
representativos em termos de quantidade de madeira consumida. Ele está geralmente
associado a populações humanas de baixo poder aquisitivo, pois a lenha configura-se
como uma alternativa à utilização de combustíveis derivados de petróleo, como o gás
de cozinha, o qual possui um custo mais elevado de aquisição. Dentre as finalidades
que a lenha possui, estão o aquecimento das residências, o cozimento de alimentos e a
iluminação dos ambientes. A madeira também pode ser aproveitada como combustí-
vel em atividades diferentes do uso doméstico, como é o caso de populações humanas
que fabricam peças de cerâmica a partir do barro e precisam utilizar esse combustível
para queimar as peças produzidas e finalizar o processo.
Com relação à madeira destinada à construção, esta tem sido coletada nas flores-
tas para suprir necessidades relacionadas a edificações domésticas e/ou rurais, como
é o caso da construção de casas (paredes, telhados, portas e janelas) e da delimitação
de terrenos (estacas e cercas). As categorias de combustível e construção possuem a
peculiaridade de não exigirem grande manipulação da matéria-prima (madeira). Por
sua vez, a categoria chamada aqui de tecnologia envolve usos que requerem um traba-
lho artesanal na estrutura da madeira e, por isso, esse uso tem sido abandonado com
mais facilidade, pois requer maior trabalho e especialistas locais para sua confecção.
Esta categoria abrange itens muito diversos; os usos variam desde utensílios de cozi-
nha (colheres de pau) a meios de transporte (carroças).
Observamos, ainda, que existem usos da madeira destinados a suprir necessida-
des religiosas. No Nordeste do Brasil, por exemplo, muitas comunidades humanas
montam fogueiras com madeira da vegetação natural para homenagear três santos
católicos em festejos anuais no mês de junho: Antônio, João Batista e Pedro (Almeida
et al. 2008). É um costume fortemente arraigado ao catolicismo popular da região e
que promove a extração de uma grande quantidade de madeira.
108
Marcelo Alves Ramos, Maria Clara Bezerra Tenório Cavalcanti & Fábio José Vieira
ou cercas, enquanto outras não são indicadas? Isso ocorre porque nós, seres humanos,
reconhecemos e selecionamos as espécies com características mais adequadas para
cada propósito. As percepções sobre quais plantas são melhores para um determi-
nado fim podem variar entre os grupos humanos. Alguns fatores ambientais (dispo-
nibilidade das plantas na floresta, facilidade de acessar o recurso), as características
inerentes à espécie (qualidade da madeira, diâmetro, forma) e a formação cultural
do indivíduo exercem forte influência sobre este processo seletivo (ver Almeida et al.
2008; Medeiros et al. 2011; Ramos et al. 2008).
Para cada categoria de uso da madeira, existem algumas estratégias de seleção das
espécies que costumam ser observadas mais frequentemente; isso é tratado na etnobio-
logia como padrões de seleção. Devemos ter em mente, contudo, que existem exceções
aos padrões gerais observados. Neste tópico, abordaremos apenas os padrões mais rela-
tados na literatura para cada categoria de uso madeireiro citado neste capítulo.
Combustível
109
RECURSOS MADEIREIROS
Quadro 2. Relação do conhecimento tradicional e científico sobre plantas empregadas como com-
bustível em Sikkim, Índia (ver Chettri & Sharma 2009)
Construção
110
Marcelo Alves Ramos, Maria Clara Bezerra Tenório Cavalcanti & Fábio José Vieira
é menor que para emprego como combustível. Esse uso geralmente requer o emprego
de plantas que não possuem muitos substitutos na floresta, ou seja, são requeridas
características específicas de determinada madeira, motivo pelo qual a pressão de
coleta não está igualmente distribuída entre as demais espécies. Outro aspecto des-
ta categoria é que requer, principalmente, a coleta de madeira verde para confecção
das estruturas, já que a madeira seca se deteriora mais rapidamente. Esse padrão de
seleção pode ocasionar um impacto maior sobre as populações vegetais das espécies
utilizadas, visto que os coletores têm de eliminar o indivíduo vivo para retirar o ma-
terial necessário para o uso.
Tecnologia
Mágico-religioso
111
RECURSOS MADEIREIROS
Essa tradição é tão marcante que mesmo em regiões onde há proibição de corte de
espécies nativas os moradores passam a utilizar madeiras provenientes de espécies
exóticas ou de espécies nativas pioneiras, abundantes em áreas perturbadas, mas não
costumam abandonar a prática (Almeida et al. 2008). Talvez isso sinalize um padrão
de uso: não são requisitadas madeiras com características específicas, já que o propó-
sito é homenagear os santos e participar da tradição local. Na África do Sul também
existem artefatos mágico-religiosos confeccionados a partir da madeira, chamados
localmente de igoqo, krall e ubuhlanti e presentes nas residências de distintas classes
sociais, inclusive estes artefatos ocorrem com maior frequência entre as pessoas mais
ricas, denotando que o fator cultural pode ser decisivo para essa exploração madei-
reira (Cocks et al. 2006).
112
Marcelo Alves Ramos, Maria Clara Bezerra Tenório Cavalcanti & Fábio José Vieira
Referências
Almeida, A.L.S.; Medeiros, P.M.; Silva, T.C.; Ramos, M.A.; Sieber, S.S. & Albuquerque, U.P. 2008.
Does the june tradition impact the use of woody resources from an area of Atlantic Forest in
Northeastern Brazil? Functional Ecosystems and Communities 2(1): 32-44.
Chettri, N. & Sharma, E. 2009. A scientific assessment of traditional knowledge on firewood
and fodder values in Sikkim, India. Forest Ecology and Management 257(10):2073–2078.
Cocks, M.L.; Bangay, L.; Wiersum, K.F. & Dold, A.P. 2006. Seeing the wood for the trees: the
role of woody resources for the construction of gender specific household cultural artifacts
in non-traditional communities in the Eastern Cape, South Africa. Environmental Develo-
pment and Sustainability 8: 519-533.
Medeiros, P.M.; Almeida, A.L.S.; Silva, T.C. & Albuquerrque, U.P. 2011. Pressure indicators of
wood resource use in an Atlantic Foresta area, Northeastern Brazil. Environmental Mana-
gement 47 (3): 410-424.
Medeiros, P.M.; Silva, T.C.; Almeida, A.L.S. & Albuquerque, U.P. 2012. Socio-economic predic-
tors of domestic wood use in an Atlantic Forest area (Northeast Brazil): a tool for directing
conservation efforts. International Journal of Sustainable Development & World Ecology
19:189–195.
Ramos, M.A. 2011. Uso de produtos madeireiros na caatinga: uma avaliação das estratégias
locais de seleção e coleta de recursos. Recife, Tese de doutorado, Universidade Federal Ru-
ral de Pernambuco.
Ramos, M.A.; Medeiros, P.M.; Almeida, A.L.S; Feliciano, A.L.P. & Albuquerque, U.P. 2008. Use
and knowledge of fuelwood in an area of Caatinga vegetation in NE Brazil. Biomass and
Bioenergy 32(6): 510-517.
Ramos, M.A.; Medeiros, P.M. & Albuquerque, U.P. 2014. Methods and techniques applied to
ethnobotanical studies of timber resources. Pp. 349-366. In: U.P. Albuquerque; L.V.F.C.
Cunha; R.F.P. Lucena & R.R.N. Alves (eds.). Methods and techniques in ethnobiology and
ethnoecology. New York, Springer.
113
CA PÍ T ULO 15
RECURSOS ANIMAIS
Rômulo Romeu Nóbrega Alves
115
RECURSOS ANIMAIS
dem de preferência, mamíferos, aves, e répteis (Alves et al. 2009; Robinson & Redford
1991), e na pesca, recursos como peixes e invertebrados (e.g. crustáceos, moluscos e
equinodermos) são mais comumente explorados em áreas costeiras, embora répteis e
mamíferos aquáticos também sejam explorados.
A fauna também apresenta um papel relevante para a saúde humana. Neste con-
texto, tem sido usada como fonte de remédios, tanto em sistemas médicos tradicionais
como na indústria farmacêutica. No primeiro caso, animais inteiros ou suas partes
constituem, juntamente com as plantas, os principais ingredientes para elaboração de
remédios tradicionais. Essa prática, utilizada há milênios, persiste até os dias atuais
e constitui uma das alternativas terapêuticas praticadas em todo mundo, em áreas
urbanas e rurais (Alves & Rosa 2013). Já no segundo caso, estudos recentes têm de-
monstrado que produtos de origem animal são recursos altamente promissores na
busca de novos fármacos de interesse médico ou farmacêutico (Alves & Albuquerque
2013). Além do seu uso na medicina tradicional ou como fonte de drogas farmacêuti-
cas, animais são essenciais em pesquisas cujos resultados têm implicações diretas ou
indiretas sobre a saúde humana (Chorilli et al. 2009). A descoberta de medicamentos,
o sucesso de desenvolvimento de transplantes de órgãos e diversas técnicas cirúrgicas
e praticamente todos os protocolos de pesquisas sobre segurança, toxicidade, eficácia
e controle de qualidade de novos fármacos passam pelo uso de animais de laboratório
(Fagundes & Taha 2004).
116
Rômulo Romeu Nóbrega Alves
117
RECURSOS ANIMAIS
animais de uma forma sustentável (Alves 2012). Assim, faz-se cada vez mais necessá-
rio compreender o contexto multidimensional (fatores biológicos, socioeconômicos,
políticos e institucionais) que envolve as interações entre humanos e animais, um
panorama que revela que a relevância de estudos etnozoológicos diante do desafio de
buscar formas de exploração que minimizem o impacto sobre as espécies animais,
uma necessidade cada vez mais evidente no contexto da conservação animal e da
própria sobrevivência humana.
Referências
Alves, R.R.N. 2012. Relationships between fauna and people and the role of ethnozoology in
animal conservation. Ethnobiology and Conservation 1: 1-69.
Alves, R.R.N. & Albuquerque, U.P. 2013. Animals as a source of drugs: Bioprospecting and
Biodiversity Conservation. Pp. 67-89. In: R.R.N. Alves & I.L. Rosa (eds.). Animals in tradi-
tional folk medicine: implications for conservation. Springer Heidelberg.
Alves, R.R.N.; Lima, J.R.F. & Araújo, H.F. 2013. The live bird trade in Brazil and its conservation
implications: an overview. Bird Conservation International 23(01): 53-65.
Alves, R.R.N.; Mendonça, L.E.T.; Confessor, M.V.A.; Vieira, W.L.S. & Lopez, L.C.S. 2009. Hun-
ting strategies used in the semi-arid region of northeastern Brazil. Journal of Ethnobiology
and Ethnomedicine 5: 12
Alves, R.R.N.: Souto, W.M.S. & Mourão, J.S. 2010. A etnozoologia no Brasil. Importância,
status atual e perspectiva. Recife, NUPEEA.
Alves, R.R.N. & Rosa, I.L. 2013. Animals in traditional folk medicine: implications for con-
servation. Berlin Heidelberg, Springer-Verlag.
Alves, R.R.N.; Rosa, I.L.; Léo Neto, N.A. & Voeks, R. 2012. Animals for the gods: Magical and
Religious Faunal Use and Trade in Brazil. Human Ecology 40(5): 751-780.
Bryant, C.D. 1979. The zoological connection: Animal-related human behavior. Social Forces
58(2): 399-421.
Chorilli, M.; Michelin, D.C. & Salgado, H.R.N. 2009. Animais de laboratório: o camundongo.
Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada 28(1): 11-23.
Dias, T.L.P.; Leo Neto, N.A. & Alves, R.R.N. 2011. Molluscs in the marine curio and souvenir
trade in NE Brazil: species composition and implications for their conservation and manage-
ment. Biodiversity and Conservation 20(11): 2393-2405.
Emery, K.F. 2007. Assessing the impact of ancient Maya animal use. Journal for Nature Con-
servation 15(3): 184-195.
Fagundes, D.J. & Taha, M.O. 2004. Modelo animal de doença: critérios de escolha e espécies de
animais de uso corrente. Acta Cirurgica Brasileira 19(1): 59-65.
118
Rômulo Romeu Nóbrega Alves
Gross, D.R. 1975. Protein Capture and Cultural Development in the Amazon Basin. American
Anthropologist 77(3): 526-549.
Kalof, L. & Resl, B. 2007. A Cultural history of animals: in antiquity. Berg.
Klingender, F. 1971. Animals in art and thought to the end of the middle ages. Routledge
Kothari, A. 2007. Birds in our lives. Universities Press.
Pedersen, M.C. 2004. Gem and ornamental materials of organic origin. Elsevier Butterworth-
-Heinemann.
Reitz, E.J. & Wing, E.S. 2008. Zooarchaeology. Cambridge, Cambridge Univ Pr.
Robinson, J.G. & Redford, K.H. 1991. Neotropical wildlife use and conservation. University of
Chicago Press, Chicago.
Shepard, P. 1996. The others: how animals made us human. Washington (DC), Island Press.
119
CA PÍT ULO 16
FUNGOS
Washington Soares Ferreira Júnior & Ulysses Paulino de Albuquerque
121
FUNGOS
122
Washington Soares Ferreira Júnior & Ulysses Paulino de Albuquerque
Referências
Akpaja, E.O.; Okhuoya, J.A. & Ehwerheferere, B.A. 2005. Ethnomycology and indigenous uses
of mushrooms among the Bini-speaking people of Nigeria: a case study of Ainhuobabekun
community near Benin City, Nigeria. International Journal of Medicinal Mushrooms 7:
373-374.
Aly, A.H.; Debbab, A. & Proksch, P. 2011. Fifty years of drug discovery from fungi. Fungal
Discovery 50: 3-19.
Boa, R. 2004. Wild edible fungi: a global overview of their use and importance to people.
Rome, FAO.
Gartz, J.; Allen, J.W. & Merlin, M.D. 1994. Ethnomycology, biochemistry, and cultivation of Psi-
locybe samuiensis Guzmán, Bandala ad Allen, a new psychoactive fungus from Koh Samui,
Thailand. Journal of Ethnopharmacology 43:73-80.
Holliday, J. & Cleaver, M. 2008. Medicinal value of the Carterpillar fungi species of the ge-
nus Cordyceps (Fr.) Link (Ascomycetes). A review. International Journal of Medicinal
Mushrooms 10(3): 219-234.
Khan, A.; Tania, M.; Zhang, D. & Chen, H. 2010. Cordyceps mushroom: a potent anticancer
nutraceutical. The Open Nutraceuticals Journal 3: 179-183.
Lincoff, G. 2010. The complete mushroom hunter. Um illustrated guide to finding, harves-
ting and enjoying wild mushrooms. Minneapolis (MN), Quarry Books.
Mapes, C.; Bandeira, F.P.S.F.; Caballero, J. & Góes-Neto, A. 2002 Mycophobic or mycophilic?
A comparative ethnomycological study between Amazonia and Mesoamerica. Pp: 180-188.
In: J.R. Stepp; F.S. Wyndham & R.K. Zarger (eds.). Ethnobiology and biocultural diversi-
ty. Proceedings of the seventh International Congress of Ethnobiology: 23–27 October
2000; Athens. Athens, University of Georgia Press.
123
FUNGOS
Satora, L.; Pach, D.; Butryn B.; Hydzik, P. & Balicka-Slusarczyk, B. 2005. Fly agaric (Amanita
muscaria) poisoning, case report and review. Toxicon 45: 941-943.
Schultes, R.E. & Hofmann, A. 1993. Plantas de los Dioses. Orígenes del uso de los alucinóge-
nos. México, Fondo de Cultura Económica.
Wainwright, M. 2008. Some highlights in the history of fungi in medicine – A personal journey.
Fungal Biology Reviews 22: 97-102.
Wasson, R.G.; Kramrisch, S.; Ott, J. & Ruck, C.A.P. 1992. La búsqueda de Perséfone. Los ente-
ógenos y los orígenes de la religión. México, FCE.
124
PARTE 5:
O MANEJO E A
DOMESTICAÇÃO DA
NATUREZA
C A P Í T U LO 17
DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS
Ernani Machado de Freitas Lins Neto, José Ribamar Sousa Júnior, Alejandro Casas
& Ulysses Paulino de Albuquerque
127
DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS
128
Ernani Machado de Freitas Lins Neto, José Ribamar Sousa Júnior, Alejandro Casas & Ulysses Paulino de Albuquerque
Centros de domesticação
129
DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS
Charles Darwin foi um dos primeiros naturalistas a creditar a ação humana como
promotora de alteração ou variação nas plantas. Darwin expôs esta observação nos
capítulos iniciais da sua famosa obra “A origem das espécies” e, posteriormente, apro-
fundou a discussão em “Variação de animais e plantas sob domesticação”. O autor
denominou seleção artificial a força seletiva exercida pelas pessoas sobre os organis-
mos de interesse. Esse conceito foi posteriormente estendido para desenvolver a ideia
de seleção natural. Com o passar dos anos e em decorrência dos avanços científicos
e tecnológicos, passou-se a conceituar domesticação das plantas como um processo
mediante o qual os seres humanos determinam modificações na estrutura genética
de populações vegetais por favorecerem a frequência de genótipos que representem
vantagens para sua subsistência e para o desenvolvimento de sua vida social e cultu-
ral (Lira & Casas 1998). Este processo está diretamente vinculado às necessidades de
sobrevivência dos grupos humanos, isto é, o critério de seleção das plantas baseia-se
na sua importância cultural como recurso.
A seleção artificial pode ocorrer por duas principais formas, definidas por Da-
rwin (1868): a inconsciente, quando atua preservando na espécie alvo da domestica-
ção as características que são desejadas pelas pessoas, e a metódica, a qual determina
características divergentes dentro de uma mesma espécie (Heiser 1988). Ambas as
formas de seleção, inconsciente e metódica, determinam divergências; a diferença
está na velocidade da geração dessas divergências, que é maior na seleção metódica.
Esta seleção está fortemente associada com o fato de que grupos humanos deliberada-
mente selecionam indivíduos com as características de interesse a serem mantidas na
população, aumentando intencionalmente a frequência de determinados fenótipos.
Além disso, a seleção metódica é acompanhada de técnicas de manejo reprodutivo
que permitem aumentar a probabilidade de que um cruzamento determine uma pro-
gênie com fenótipo desejável.
130
Ernani Machado de Freitas Lins Neto, José Ribamar Sousa Júnior, Alejandro Casas & Ulysses Paulino de Albuquerque
Dentre os modelos de domesticação que dão especial ênfase aos aspectos cultu-
rais da domesticação das plantas, destacam-se os modelos mesoamericanos, os quais
se concentram no entendimento dos estádios iniciais desta complexa relação entre
pessoas e plantas. A Mesoamérica, que compreende da região Sudeste do México até
o Noroeste da Costa Rica (Casas et al. 1997), é um dos principais centros de origem da
agricultura no novo mundo. Nessa região culturas pré-históricas manipularam uma
vasta gama de plantas (Harlan 1975; Piperno & Pearson 1998).
Tais estudos desenvolvidos na Mesoamérica identificaram a existência de três ní-
veis de manejo das populações vegetais por comunidades tradicionais: coleta, manejo
in situ e cultivo. Segundo González-Insuasti & Caballero (2007), considerando os níveis
apresentados anteriormente, o manejo in situ ainda pode ser dividido em manejo in
situ não seletivo e manejo in situ seletivo. Ainda segundo os autores, no primeiro caso a
seleção é direcionada para o aumento e a manutenção da disponibilidade de fenótipos
desejáveis em uma população, podendo levar à diminuição de fenótipos não desejáveis.
Já no segundo caso, não somente se verifica a promoção do aumento e a manutenção da
disponibilidade do recurso desejado, mas também se eleva a qualidade da característica
desejada, pois a atenção é direcionada aos fenótipos selecionados. Em resumo, Gonzá-
lez-Insuasti & Caballero (2007) chegaram à conclusão de que poderiam distribuir as
plantas em função de uma escala ascendente de manejo, seguindo um gradiente de in-
tensidade de manipulação disposto da seguinte forma: coleta das estruturas de interes-
se; manejo incipiente não seletivo; manejo incipiente seletivo; plantas ocasionalmente
cultivadas ex situ e plantas permanentemente cultivadas. Os autores ainda chamaram a
atenção para o fato de que a intensidade não só depende das práticas de manejo já des-
critas, mas também do número de pessoas envolvidas nesta atividade. Posteriormen-
te, Blancas et al. (2010; 2013) verificaram que a intensidade de manejo é uma resposta
ao nível de risco e à incerteza da disponibilidade dos recursos. Este risco ou incerteza
relacionam-se, por um lado, ao nível de importância cultural ou econômica do recurso,
assim como, por outro lado, à escassez de um recurso.
As formas de manejo incipiente, seletiva e não seletiva, ainda podem ser classifica-
das de acordo com a atenção direta ao recurso, sendo distinguidas em tolerância, pro-
teção e promoção (Caballero 1990; Salinas et al. 1993; Casas et al. 1997). Os indivíduos
que apresentam características desejáveis para as culturas mantenedoras destes recur-
sos podem ser tolerados em áreas de outros cultivos; promovidos onde as pessoas atuam
na distribuição e dispersão dessas espécies por via vegetativa ou sexual e protegidos,
principalmente de competidores, dentro do ambiente criado pelo homem (Salinas et al.
131
DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS
1993; Casas et al. 1997). Além das formas de manejo descritas anteriormente, devemos
considerar também a coleta sistemática como uma forma de manejo, a qual muito em-
bora não possua uma força evolutiva e de manejo comparada as demais, a coleta seletiva
de fenótipos particulares, a rotação de áreas para coleta e as restrições à exploração
do recurso entre as mais importantes consequências dessa prática, pois são atividades
humanas que podem interferir no processo de domesticação em estágio incipiente que
uma determinada espécie possa estar submetida (Casas et al. 2007; González-Insuasti
& Caballero 2007).
Esse modelo vem sendo aplicado em outras regiões da América Latina, a exem-
plo, no Peru (Piperno 2011) e no Brasil (Lins Neto et al. 2010). No Brasil, estudos
aplicaram esses modelos mesoamericanos para duas fruteiras. Na Região Nordeste,
estudou-se a relação entre pessoas e Spondias tuberosa Arruda (umbu), espécie nativa
da caatinga. Segundo os autores, a partir dos resultados encontrados para S. tuberosa,
pode-se inferir que os indivíduos dessa espécie na localidade estudada estão sob o
processo de domesticação incipiente devido às formas de manejo empregadas e que a
diversidade morfológica dos frutos e a genética das populações estudadas é mantida
(Lins Neto et al. 2013). Ainda na região nordeste, outra espécie que vem merecendo
atenção quanto ao seu manejo por populações humanas é o pequi (Caryocar coria-
ceum Wittm), o qual será tratado em detalhes no quadro 1. Na Região Sul do país,
um estudo acerca do uso e manejo da Acca sellowiana (goiabinha-serrana) verificou
que o padrão de conhecimento tradicional associado às práticas locais de manejo são
cruciais para o desenvolvimento de programas de melhoramento genético, bem como
para a conservação desta espécie (Santos et al. 2009).
132
Ernani Machado de Freitas Lins Neto, José Ribamar Sousa Júnior, Alejandro Casas & Ulysses Paulino de Albuquerque
O pequi (Caryocar coriaceum Wittm) é uma das espécies vegetais mais extraídas por
populações locais da região da Chapada do Araripe, Nordeste do Brasil. Essa espécie
é manejada de forma e intensidade diferentes em toda a região. A coleta do fruto é
a principal forma de manejo, sobretudo no interior da Floresta Nacional do Araripe
(FLONA), mas outras formas de manejo, tais como a semeadura e a proteção de indi-
víduos podem ser observadas em regiões do entorno da floresta, onde a intensidade
destes manejos é maior. A forte extração de pequi pode ser creditada à sua importância
alimentícia e econômica. Um estudo etnobotânico realizado na região demonstrou
que o uso alimentício e para fins comerciais do óleo extraído do fruto foram os mais
citados pelos informantes locais (Sousa Júnior et al. 2013). No período da safra, as
pessoas costumam formar acampamentos próximos à floresta, facilitando a coleta e
servindo inclusive como local de produção do óleo e da tradicional festa do pequi, que
ocorre ao fim da safra. O tamanho e sabor do fruto são as principais características
observadas pela população local para a distinção entre as populações de pequizeiro
do interior e do entorno da Floresta. Neste contexto, um estudo realizado na FLONA
apontou para uma divergência morfológica em frutos de populações de C. coriace-
um em três áreas distintas da região, sendo uma delas uma área da comunidade de
coletores. Nesta foi observado que frutos foram estatisticamente diferentes daqueles
do interior da floresta para as seguintes variáveis: comprimento da semente, peso da
semente seca e espessura da polpa. Isso provavelmente pode ser devido ao fato de a
área da comunidade ter maior diversidade de formas de manejo. Nessa área (comuni-
dade) os frutos de pequizeiros são considerados como melhores porque são protegidos.
A coleta de frutos, por outro lado, é mais intensa no interior da floresta e isso pode
estar relacionado à abundância de C. coriaceum nessa área em comparação com as
áreas adjacentes à floresta. Portanto, o pequi é considerado uma espécie de grande
importância alimentícia, econômica e cultural para as pessoas da região do Araripe.
Perspectiva
Como destacado ao longo do texto, a variável cultural assume papel central nos
estudos de domesticação. Além desse forte aspecto a ser considerado nos estudos de
domesticação, Blancas et al. (2013) e Larson et al. (2014) destacam que os estudiosos
desse processo deparam-se com três grandes desafios: o preenchimento das lacunas
nos mapas geográficos e genômicos no tocante à relação dos espécimes domestica-
dos com os seus parentes silvestres; o contexto ambiental e ecológico da origem das
práticas agrícolas, a exemplo dos processos de mudanças globais na temperatura; e,
133
DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS
Referências
Blancas, J.; Casas, A.; Pérez-Salicrup, D.; Caballero, J. & Vega, E. 2013. Ecological and sociocul-
tural factors influencing plant management in Náhuatl communities of the Tehuacán Valley,
Mexico. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine 9: 39.
Blancas, J.; Casas, A.; Rangel-Landa, S.; Moreno-Calles, A.; Torres, I.; Pérez-Negrón, E.; Solís,
L.; Delgado-Lemus, A.; Parra, F.; Arellanes, Y.; Caballero, J.; Cortés, L.; Lira, R. & Dávila,
P. 2010. Plant management in the Tehuacán-Cuicatlán Valley Mexico. Economic Botany
64(4): 287-302
Braidwood, R.J. 1960. The agricultural revolution. Scientific American 203: 131-148.
Caballero, J. El uso de la diversidad vegetal en México: tendencias y perspectivas. In: Medio
ambiente y desarrollo en México. 1990, p. 257-290. In: LEFF, E. (Ed.), Medio Ambiente y de-
sarrollo en México. Centro de Investigaciones Interdisciplinarias en Humanidades, UNAM,
México.
Casas, A. & Caballero, J.; Mapes, C. & Zárate, S. 1997. Manejo de la vegetación, domesticación
de plantas y origen de la agricultura em Mesoamérica. Boletín de la Sociedad Botánica del
México 61: 31-47.
Casas, A.; Otero-Arnaiz, A.; Pérez-Negrón, E. & Valiente-Banuet, A. 2007. In situ management
and domestication of plants in mesoamerica. Annals of Botany 100: 1101–1115.
Childe, V.G. 1952. New light on the most ancient east. London, Routledge and Kegan Paul.
Cohen, M.N. 1977. The food crisis in prehistory: overpopulation and origins of agriculture.
New Haven, Yale University Press. .
Darwin, C. 1868. The variation of plants and animals under domestication. London, John
Murray.
González-Insuasti, M.S. & Caballero, J. 2007. Managing plant resources: how intensive can it be?
Human Ecology 35: 303–314.
Harlan, J.R. 1975. Crops and Man. Foundation for modern Crop Science. American Society of
Agronomy. Madison, Wisconsin.
Hayden, B. 1998 Practical and prestige technologies: The evolution of material systems. Journal
of Archaeological Method and Theory 5(1): 1-55.
134
Ernani Machado de Freitas Lins Neto, José Ribamar Sousa Júnior, Alejandro Casas & Ulysses Paulino de Albuquerque
Heiser, C.B. 1988. Aspects of unconscious selection and evolution of domesticated plants. Eu-
phytica 37:77-81.
Larson, G.; Piperno, D.R.; Allaby, R.G.; Purugganan, M.D.; Andersson, L.; Arroyo-Kalin, M.;
Barton, L.; Vigueira, C.C.; Denham, T.; Dobney, K.; Doust, A.N.; Gepts, P.; Gilbert, M.T.P.;
Gremillion, K.J.; Lucas, L.; Lukens, L.; Marshall, F.B.; Olsen, K.MN.; Pires, J.C.; Richerson,
P.J.; Casas, R.R.; Sanjur, O.I.; Thomas, M.G. & Fuller, D.Q. 2014. Current perspectives and the
future of domestication studies. PNAS, special feature 1-8.
Lira, R. & Casas, A. 1998. Uso y manejo de Ibervillea millspaughii (Cogn.) C. Jeffrey, Melothria
pendula L. y otras especies silvestres de la família Curcubitaceae: posibles procesos de do-
mesticación incipiente. Boletín de la Sociedad Botánica del México 62: 77-89.
Lins Neto, E.M.F.; Oliveira, I.F.; Britto, F.B. & Albuquerque, U.P. 2013. Traditional knowledge,
genetic and morphological diversity in populations of Spondias tuberosa Arruda (Anacardia-
ceae). Genetic Resources and Crop Evolution 60(4):1389-1406
Lins Neto, E.M.F.; Peroni, N. & Albuquerque, U.P. 2010. Traditional Knowledge and Manage-
ment of Umbu (Spondias tuberosa, Anacardiaceae): An Endemic Species from the Semi–
Arid Region of Northeastern Brazil. Economic Botany 64(1): 11-21.
Oliveira, F.C.; Albuquerque, U.P.; Fonseca-Kruel, V.S. & Hanazaki, N. 2009. Avanços nas pesqui-
sas etnobotânicas no Brasil. Acta Botanica Brasílica 23: 590-605.
Piperno, D.R. 2011. The Origins of Plant Cultivation and Domestication in the New World:
Tropics Patterns, Process, and New Developments. Current Anthropology 5(40): 453-470.
Piperno, D.R. & Pearsall, D.M. 1998. The origins of agriculture in the lowland Neotropics. San
Diego, Academic Press.
Salinas, J.L.V.; Casas, A. & Caballero, J. 1993. Las plantas y la alimentación entre los mixtecos de
Guerrero. Pp. 625-671. In: Cultura y Manejo sustentable de los recursos naturales. Centro
de Investigaciones Interdisciplinarias en Humanidades, UNAM, México.
Santos, K.L.; Peroni, N.; Guries, R.P. & Nodari, R.O. 2009. Traditional Knowledge and Mana-
gement of Feijoa (Acca sellowiana) in Southern Brazil. Economic Botany 63(2): 204–214.
Smith, B.D. 2011. The cultural context of plant domestication in eastern North America. Cur-
rent Anthropology 52 (S4): S471–S484.
Sousa Júnior, J. R., Albuquerque, U. P., Peroni, N. 2013. Traditional knowledge and manage-
ment of Caryocar coriaceum Wittm. (pequi) in the Brazilian Savanna, Northeastem Brazil.
Economic Botany 67 (3), 225-233.
Vavilov, N. I. 1951. The origin, variation, immunity & breeding of cultivated plants. Chronica
Botanica 13: 1–366.
Vavilov, N. I. 1992. Origin & geography of cultivated plants. Cambridge, Cambridge Univer-
sity Press.
135
CA PÍ T ULO 18
DOMESTICAÇÃO ANIMAL
Rômulo Romeu Nóbrega Alves
O ser humano tem exercido, ao longo da história, um papel dominante sobre outras
espécies biológicas, muitas das quais são fundamentais para o suprimento de recursos
necessários à sua sobrevivência. Tal dominação culminou em um dos grandes marcos
no desenvolvimento da civilização humana, que foi a domesticação de animais e plan-
tas. Esse é um processo que tem origens remotas e que consiste na seleção e manutenção
de certos seres vivos para suprir necessidades humanas. No caso da fauna, como res-
salta Clutton-Brock (2007), a domesticação pode ser definida como a manutenção de
animais em cativeiro por comunidades humanas que exercem total controle sobre sua
reprodução, sua organização territorial e seu suprimento alimentar.
Por uma perspectiva histórica, a domesticação dos recursos biológicos marcou
uma modificação importante no estilo de vida dos seres humanos, permitindo que
estes deixassem uma vida nômade (como era comum nos primórdios da evolução
humana) e se tornassem sedentários, fixando-se em determinados territórios, onde
plantavam vegetais e mantinham animais domesticados. Essa situação possibilitou
uma dependência cada vez menor de atividades como a coleta, a caça e a pesca. Em re-
sumo, a domesticação permitiu que os humanos deixassem de ser coletores-caçadores
para serem agricultores e pastores, um marco que transformou profundamente a his-
tória da humanidade. Diamond (2002) aponta que as civilizações que domesticaram
animais (e plantas) consequentemente tiveram mais poder em mãos e foram capazes
de disseminar suas culturas e linguagens.
É notório que as sociedades humanas sempre mantiveram estreitas interações de
dependência ou codependência com os recursos faunísticos. Animais sempre desem-
penharam e continuam desempenhando um papel importante na vida das pessoas,
sendo naturalmente esperado que muitas espécies fossem domesticadas por civiliza-
ções humanas de todo o mundo, dependendo de quais animais havia em suas regiões
137
DOMESTICAÇÃO ANIMAL
138
Rômulo Romeu Nóbrega Alves
139
DOMESTICAÇÃO ANIMAL
A domesticação animal e seus profundos impactos nas sociedades humanas, pre-
téritas e atuais, têm atraído a atenção de vários pesquisadores, sendo um tema estu-
dado de vários pontos de vista. Obviamente, animais domésticos são alvos de estudos
de zoologia e de disciplinas diretamente associadas, como a zootecnia e a medicina
veterinária, estas com suas origens fortemente relacionadas à fauna doméstica (Dunlop
& Williams 1996; Fernández 1978). A zootecnia é uma disciplina aplicada que busca de-
senvolver e aprimorar as potencialidades dos animais domésticos e domesticáveis, com
a finalidade de incrementar sua produção como fonte alimentar e outras finalidades. Já
a medicina veterinária tem atenção focada na saúde animal, com animais domésticos
sendo um dos principais alvos. Outra disciplina que tem especial interesse na domes-
ticação é a arqueologia, que tem concentrado atenção na datação dos processos que
levaram à domesticação e na compreensão de como ela ocorreu (Digard 1994). Relações
entre pessoas e animais domésticos também têm sido estudadas por disciplinas como a
psicologia (e.g. Wilson 1991) e sociologia (e.g. Sanders & Arluke 1993).
Fica evidente, portanto, que a domesticação da fauna e seus diferentes aspectos
têm sido estudados por diferentes disciplinas acadêmicas, dado o papel relevante que
os animais domésticos exercem nas sociedades humanas. Neste contexto, a etnobio-
logia e, particularmente, a etnozoologia, por estudar as interações entre animais e
humanos, podem dar uma contribuição relevante à compreensão deste importante
tema. Relações entre humanos e animais domésticos ocorrem em todas as sociedades
humanas, em maior ou menor escala, e envolvem aspectos históricos, sociais, cultu-
rais, econômicos, psicológicos e sociológicos, que podem ser estudados por meio de
pesquisas etnozoológicas.
140
Rômulo Romeu Nóbrega Alves
Referências
Allaby, M. 2010. Animals: from mythology to zoology. New York. Facts On File, Inc.
Alves, R.R.N. 2012. Relationships between fauna and people and the role of ethnozoology in
animal conservation. Ethnobiology and Conservation 1: 1-69.
Alves, R.R.N. & Souto, W.M.S. 2010. Etnozoologia: conceitos, considerações históricas e impor-
tância. Pp. 19-40. In: R.R.N. Alves; W.M.S. Souto & J.S. Mourão (eds.). A Etnozoologia no
Brasil: Importância, Status atual e Perspectivas. Recife, NUPEEA.
Barsa, E. 1969. Os animais e a subsistência. São Paulo Enciclopédia Britânica.
Brady, D. & Palamari, C. 2007. The Pet Economy. http://www.businessweek.com/sto-
ries/2007-08-05/the-pet-economy (acesso em 13-08-2014)
Clutton-Brock, J. 2007. How domestic animals have shaped the development of human societies.
Pp. In: L. Kalof (ed.). A cultural history of animals in antiquity. Oxford- New York, Berg.
Diamond, J. 2002. Evolution, consequences and future of plant and animal domestication. Na-
ture 418 (6898): 700-707.
Digard, J.P. 1994. Relationships between humans and domesticated animals. Interdisciplinary
Science Reviews 19(3): 231-236.
Dunlop, R.H. & Williams, D.I. 1996. Veterinary medicine: an illustrated history. Mosby-Year
Book, Inc.
FAO, Food and Agriculture Organization of the United Nations. 2013. Food outlook: biannual
report on global food markets. Rome.
Fernández, J.O. 1978. History of world zootechnics. Veterinaria 9(supl 1): 23-30.
Givens, D.I.; Allison, R.; Cottrill, B. & Blake, J.S. 2004. Enhancing the selenium content of bovi-
ne milk through alteration of the form and concentration of selenium in the diet of the dairy
cow. Journal of the Science of Food and agriculture 84(8): 811-817.
Kisling, V.N. 2001. Ancient collections and menageries. Pp. 1-47. In: V.N. Kisling (ed.). Zoo and
aquarium history: ancient animal collections to zoological gardens. London, CRC Press.
Koster, J. 2008. The impact of hunting with dogs on wildlife harvests in the Bosawas Reserve,
Nicaragua. Environmental Conservation 35(3): 211-220.
Muller, W. 2002. In The First Steps of Animal Domestication. Oxford, Oxbow Books.
Ribeiro, D. 1998. O processo civilizatório: etapas da evolução sociocultural. São Paulo, Edi-
tora Companhia das Letras.
Russell, N. 2002. The wild side of animal domestication. Society & Animals 10(3): 286-302.
Sanders, C.R. & Arluke, A. 1993. If lions could speak: investigating the animal-human rela-
tionship and the perspectives of nonhuman others. The Sociological Quarterly 34(3): 377-
390.
Scanes, C.G. 2003. Biology of growth of domestic animals. London, Wiley-Blackwell.
Wilson, C.C. 1991. The pet as an anxiolytic intervention. The Journal of nervous and mental
disease 179(8): 482-489.
141
CA PÍ T ULO 19
Nós temos utilizado as plantas durante milhares de anos para nosso sustento e
autonomia. Ao longo de nossa história evolutiva, empregamos esses recursos para
suprir as nossas demandas mais diversas. Dentre os diversos produtos que coletamos
da natureza, podemos identificar os produtos florestais não madeireiros (PFNM), ca-
racterizados como todos os recursos advindos da floresta, exceto a madeira. A coleta
desse tipo de recurso tem sido apresentada como uma alternativa aos modos insus-
tentáveis de extração dos recursos naturais, por aparentemente causar baixo impacto
para as comunidades vegetais e, ao mesmo tempo, integrar a conservação da biodiver-
sidade ao desenvolvimento de populações locais (Soldati & Albuquerque 2010), uma
vez que o retorno econômico é capaz de despertar nestas a necessidade de conserva-
ção das formações florestais (Ndangalasia et al. 2007).
No entanto, por ser muito favorável, o retorno econômico pode desencadear uma
ação contrária, incentivando a coleta desordenada do recurso para que se obtenha maior
renda decorrente de sua venda. Como exemplo disso, temos a extração da fava-d’anta,
por meio da qual as famílias rurais sobrevivem com uma baixa renda oriunda da explo-
ração da vegetação nativa (Barbosa Paula et al. 2007). A fava-d’anta é uma espécie na-
tiva do Brasil, onde as várias espécies do gênero Dimorphandra Schoot fazem parte do
mercado mundial de produtos farmacêuticos. Os extratores exploram a fava-d’anta pelo
baixo custo com que são repassadas para o elo seguinte da cadeia produtiva da espécie,
ficando, assim, com as indústrias a maior porcentagem de lucro presente na cadeia.
Quando a coleta de PFNM’s é feita de forma intensa e/ou desordenada, a estrutura e
dinâmica populacional das espécies submetidas ao extrativismo podem ser afetadas da
mesma forma. A consequência mais direta da extração de PFNM’s é a alteração das ta-
xas de sobrevivência, crescimento e reprodução de indivíduos coletados. Alterações nes-
143
O EXTRATIVISMO DE RECURSOS VEGETAIS
sas taxas podem afetar a fisiologia e os processos vitais dos indivíduos, mudar padrões
genéticos e demográficos de populações e alterar processos em nível de comunidades
e ecossistemas (Ticktin 2004). No entanto, o impacto da exploração para os indivíduos
depende da parte que é explorada e do seu potencial de regeneração. Por exemplo, uma
mesma espécie pode ser extraída com o objetivo de utilizar a madeira como combustí-
vel (lenha) e para a construção de casas e os frutos para a alimentação. Assim, é possível
que o extrativismo tenha consequências mais severas para uma espécie que possui múl-
tiplos usos, quando comparada a outra que é extraída para um único fim.
O extrativismo em ação
A coleta de frutos para alimentação é uma prática comum realizada por comu-
nidades locais ou tradicionais em todo o mundo. Quando feita de forma não susten-
tável, a extração de frutos pode levar à diminuição do processo de dispersão, afetan-
do, assim, o recrutamento da espécie e a sua manutenção nos estoques naturais. Um
exemplo que também pode ser agressivo e, dessa forma, comprometedor à perpetu-
ação dos indivíduos no ambiente, é a coleta de cascas do caule para fins medicinais,
que, dependendo da forma de coleta e da quantidade coletada, pode levar o indivíduo
à morte. De acordo com a natureza e/ou a intensidade da coleta, pode haver um ane-
lamento do caule, interrompendo o fluxo floemático (Figura 1).
144
Juliana Loureiro de Almeida Campos, Ivanilda Soares Feitosa, Julio Marcelino Monteiro,
Gilney Charll dos Santos & Ulysses Paulino de Albuquerque
145
O EXTRATIVISMO DE RECURSOS VEGETAIS
146
Juliana Loureiro de Almeida Campos, Ivanilda Soares Feitosa, Julio Marcelino Monteiro,
Gilney Charll dos Santos & Ulysses Paulino de Albuquerque
naturais em diferentes escalas. Ambas as posições são equivocadas porque essa rela-
ção não pode ser vista dicotomicamente, assim como a sua solução não reside em des-
favorecer um lado para favorecer outro. Ao longo do tempo, os profissionais da área
de conservação chegaram à conclusão de que a conservação dos recursos naturais
requer a participação ativa e o envolvimento de todos os atores sociais relacionados ao
problema: biólogos da conservação, cientistas das humanidades e das sociais, gestores
do ambiente e comunidades locais ou tradicionais.
Diante dessa problemática, buscamos alternativas que possam ser mantenedoras
tanto da subsistência das populações tradicionais quanto da diversidade vegetal. A
coleta de PFNM tem sido identificada como alternativa para equilibrar a conservação
da biodiversidade com a geração de renda das comunidades. No entanto, a sustenta-
bilidade de um recurso alia aspectos ecológicos e econômicos, tornando difícil o equi-
líbrio entre as variáveis dessa relação (Guimire et al. 2004). Dessa forma, o envolvi-
mento da comunidade local na elaboração e manutenção de práticas sustentáveis para
a coleta de PFNM é de suma importância, pois, sem o seu envolvimento, as chances
de sucesso são muito pequenas. Cunningham & Mbenkum (1993) relataram que na
região de Camarões, na África, foi desenvolvido um plano de diretrizes para a coleta
de casca sustentável da espécie Prunus africana (Hook. f.) Kalkman. Contudo, apesar
dos esforços na manutenção dessa prática, em muitos casos essas diretrizes não são
seguidas e a coleta não é sustentável.
Com base no exposto e considerando o forte impacto causado pela extração des-
sas espécies, ações mitigadoras podem ser sugeridas e ajustadas a cada caso: cultivo
de espécies; seleção de substitutos mais resistentes ao extrativismo que contenham
características ou quantidades similares de compostos bioativos (quando for o caso
de plantas medicinais); adoção de estudos sobre os processos de regeneração de partes
retiradas de espécies úteis; e estudos acerca do impacto do extrativismo sobre a estru-
tura e a dinâmica populacional das espécies extraídas (Monteiro et al. 2011). A par-
tir desses estudos, propostas de coletas sustentáveis, tanto para consumo domiciliar
como para comércio local, podem facilitar a implementação de manejos adequados e
diminuir os processos de extinção local. Além disso, recomenda-se que as ações con-
servacionistas sejam adequadas à realidade local, incorporando o conhecimento das
populações extrativistas na elaboração de estratégias de conservação, uma vez que
boa parte das ações conservacionistas pode ter efeito contrário se não forem realiza-
das junto a essas populações.
147
O EXTRATIVISMO DE RECURSOS VEGETAIS
Referências
Baldauf, C.; Silva, A.S.; Sfair, J.C.; Ferreira, R. & Santos, F.A.M. 2014. Harvesting increases repro-
ductive activity in Himatanthus drasticus (Mart.) Plumel (Apocynaceae), a non-timber forest
product of the brazilian savanna. Biotropica 46(3): 341-349.
Barbosa Paula, M.F.; Braga, R.F.; Moreira, P.A.; Rodrigues, L.A.; Pimenta, M.A.S. & Oliveira,
D.A. 2007. Caracterização de acessos de fava d’anta (Dimorphandra mollis Benth.) por meio
de marcadores moleculares RAPD. Revista Brasileira de Biociências 5(1): 282-284.
Borges Filho, H.C. & Felfili, J.M. 2003. Avaliação dos níveis de extrativismo da casca de bar-
batimão [Stryphnodendron Adstringens (Mart.) Coville] no Distrito Federal, Brasil. Revista
Árvore 27(5): 735-745.
Cunningham, A.B. & Mbenkum, F.T. 1993. Sustainability of harvesting Prunus africana bark in
Cameroon: a medicinal plant in international trade. People and plants 2: 1-30.
Endress, B.A.; Gorchov, D.L. & Noble, R.B. 2004. Non-timber forest product extraction: effects
of harvest and browsing on an understory palm. Ecological Applications 14(4): 1138–1153.
Guimire, S.K.; Mckey, D. & Aumeeruddy-Thomas, Y. 2004. Conservation of himalayan medi-
cinal plants: harvesting patterns and ecology of two threatened species, Nardostachys gran-
diflora DC. and Neopicrorhiza scrophulariiflora (Pennell) Hong. Biological Conservation
124(4): 463-475.
Monteiro, J. M.; Lins Neto, E. M. F.; Araújo, E. L., Amorim, E. L. C. & Albuquerque, U. P. 2011.
Bark regeneration and tannin content in Myracrodruon urundeuva Allemão after simulation
of extractive damages-implications to management. Environmental Monitoring and Asses-
sment 180(1-4): 31-39.
Ndangalasia, H.J.; Bitariho, R.B. & Dovitec, D.B.K. 2007. Harvesting of non-timber forest pro-
ducts and implications for conservation in two montane forests of East Africa. Biological
Conservation 132(2): 242-250.
Oyama, K. & Mendoza, A. 1990. Effects of defoliation on growth, reproduction, and survival of
a neotropical dioecious palm, Chamaedorea tepejilote. Biotropica 22(2): 119–123.
Peters, C.M. 1994. Sustainable harvest of non-timber plant resources in tropical moist forest:
an ecological primer. Washington, Biodiversity Support Program.
Santos, G.C. 2012. Impacto do extrativismo sobre as plântulas e os indivíduos jovens de Ca-
ryocar coriaceum Wittm. (Caryocaraceae) e remoção natural dos diásporos na Floresta
Nacional do Araripe – Ceará, Nordeste do Brasil. Dissertação (Mestrado em Ecologia),
Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Soldati, G. T. & Albuquerque, U. P. 2010. Produtos florestais não-madeireiros: uma visão geral.
Pp. 17-59. In: U.P. Albuquerque & N. Hanazaki (eds.). Árvores de valor e o valor das árvores:
pontos de conexão. Recife, Nuppea.
Ticktin, T. 2004. The ecological implications of harvesting non-timber forest products. Journal
of Applied Ecology 41(1): 11-21.
148
PARTE 6:
FATORES QUE
AFETAM O
CONHECIMENTO
BIOLÓGICO
TRADICIONAL
CAPÍTULO 20
A TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO
LOCAL OU TRADICIONAL E O USO DOS
RECURSOS NATURAIS
Gustavo Taboada Soldati
151
A TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO LOCAL OU TRADICIONAL E O USO DOS RECURSOS NATURAIS
muitos pesquisadores assumem que esta nova informação é sempre adaptada, pois foi
concebida em sintonia com as atuais condições ambientais e sociais.
De outra forma, a transmissão cultural, é definida como o “processo no qual conhe-
cimentos, crenças, habilidades, práticas, normas, valores, e outras formas de informações
não genéticas são passadas de indivíduo para indivíduo através de mecanismos de apren-
dizado social, como imitação e ensino” (Mesoudi 2013: 131). O processo de transmissão
envolve quatro elementos: a) uma informação, conteúdo que será transferido; b) um
modelo, aquele quem inicialmente porta a informação; c) um aprendiz, indivíduo que
receberá o traço; e d) um contexto ambiental e social no qual o processo se realiza. A
transmissão de conhecimento não ocorre de uma geração para outra de forma imediata,
mas de indivíduo para indivíduo, pois, apesar de ocorrer em um contexto que congrega
muitas pessoas, o indivíduo é sempre o agente social da aquisição ou fonte do conheci-
mento. Portanto, faz pouco sentido continuarmos baseando-nos na máxima comum na
literatura, segundo a qual “o conhecimento tradicional é transmitido de geração para
geração”, pois existem muitos canais de transferência de informações.
Do ponto de vista evolutivo, copiar uma informação de outra pessoa (dos pa-
res) é um processo altamente vantajoso. Para compreendermos o porquê, é necessá-
rio termos em mente que os comportamentos humanos têm duas naturezas: ou são
baseados nas informações genéticas (genes) ou nas informações culturais (traços).
A transmissão de informações genéticas ocorre exclusivamente de pais para filhos.
Portanto, para que um gene vantajoso se fixe em uma população, são necessárias
muitas gerações, o que implica muito tempo. A transmissão cultural permite que uma
pessoa adquira informações durante toda a sua vida e de muitos modelos além dos
pais, como primos, tios, especialistas, televisão, rádio. Como resultado, as adaptações
culturais ocorrem em taxas muito mais rápidas e de maneira flexível, acelerando a
evolução humana para além das adaptações genéticas. Além disso, copiar dos pares
é, em determinadas situações, vantajoso porque permite a aquisição de informações
aparentemente proveitosas, livrando o indivíduo da produção individual do conheci-
mento, processo alternativo altamente custoso (Laland 2004; Mesoudi 2011).
Apesar dos benefícios evolutivos, copiar aleatoriamente não provê nenhuma
vantagem, porque adquirir conhecimento sem nenhum direcionamento não garan-
te que a informação incorporada será de fato proveitosa (Rogers 1988). Para que a
transmissão cultural se justifique evolutivamente, ou seja, aumente o valor adap-
tativo da população, é necessário que este processo sofra algum direcionamento,
ou melhor, sofra alguma seleção. Como estamos tratando de informações culturais,
152
Gustavo Taboada Soldati
Há várias tendências (os vieses) associadas à transmissão cultural, mas aqui aten-
taremos para três: 1) viés de conteúdo; 2) viés de prestígio e 3) viés de custo-benefício.
No primeiro caso, uma informação torna-se mais propensa a ser difundida pelo tipo
de conteúdo, ou seja, por características próprias da informação, como atratividade
e memorabilidade, isto é, o conhecimento pode ter uma natureza objetiva e concreta
ou uma determinada informação pode ser mais subjetiva e abstrata, o que determina
a sua transmissão. Por exemplo, o nome de recursos naturais, como o nome das plan-
tas, é uma informação objetiva e concreta. Conseguimos concretamente distinguir
que alecrim é diferente de manjericão. Este tipo de conhecimento, segundo Aunger
(2000), é apreendido normalmente durante a infância (Aunger 2000). Contudo, as
formas de uso e coleta, são habilidades de natureza tácita e que demandam experi-
mentação para sua aquisição. São, desta forma, menos concretas e mais subjetivas.
Assim, são adquiridas apenas em idades mais avançadas, por meio de outros modelos,
como especialistas locais (Aunger 2000). Outro tipo de viés de conteúdo está associa-
153
A TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO LOCAL OU TRADICIONAL E O USO DOS RECURSOS NATURAIS
154
Gustavo Taboada Soldati
seguir este recurso natural na medida em que apresentam uma estrutura física que
permite a sua execução e, principalmente, à medida que o retorno das atividades de
caça garante o investimento no aprendizado de habilidades complexas e, por vezes,
perigosas (Walker et al. 2002). Neste sentido, há uma relação ecológico-evolutiva que
determina os modelos de aprendizado e, consequentemente, o conhecimento adqui-
rido, bem como a fase de vida na qual este processo ocorre.
Referências
Aunger, R. 2000. The life history of culture learning in a face-to-face society. Ethos 28: 275 - 481.
Heinrich, J. & Broesh, J. 2011. On the nature of cultural transmission networks: evidence from
Fijian villages for adaptive learning biases. Philosophical Transactions of the Royal Society
B: Biological Sciences 366: 1139 - 1148
Henrich, J. & Gil-White, F. J. 2001. The evolution of prestige: freely conferred deference as a me-
chanism for enhancing the benefits of cultural transmission. Evolution and Human Beha-
vior 22: 165- 196.
Heyes, C. M. 1994. Social learning in animals: categories and mechanisms. Biological Review
69: 207–231.
Laland, K. N. 2004. Social learning strategies. Learning & Behavior 32: 4-14.
Mesoudi, A. 2011. Cultural Evolution: how darwinian theory can explain human culture and
synthesize the social sciences. Chicago, Chicago Press.
Mesoudi, A. 2013. Studying cultural transmission within an interdisciplinary cultural evolutio-
nary framework. Pp. 131-147. In: R. Ellen; S. J. Lycett & S. E. Johns (eds.). Understanding
cultural transmission in Anthropology a critical synthesis. New York, Berghahn.
Nairne, J. S.; Thompson, S. R. & Pandeirada, J. N. S. 2007. Adaptive memory: survival processing
enhances retention. Journal of Experimental Psychology 33: 263 – 273.
Rogers, A. R. 1988. Does biology constrain culture? American Anthropologist 90: 819–831.
Soldati, G. T. 2013a. Transmissão de conhecimento: origem social das informações e evolução
cultural. Pp. 37-61. In: U. P. Albuquerque (org.). Etnobiologia - bases ecológicas e evoluti-
vas. Recife, NUPEEA.
Soldati, G. T. 2013b. Produção, transmissão e estrutura do conhecimento tradicional sobre
plantas medicinais em três grupos sociais distintos: uma abordagem evolutiva. Ph D. thesis,
Recife, UFRPE.
Walker, R.; Hill, K.; Kaplan, H. & McMillan, G. 2002. Age-dependency in hunting ability among
the Ache of Eastern Paraguay. Journal of Human Evolution 42: 639–657.
155
A TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO LOCAL OU TRADICIONAL E O USO DOS RECURSOS NATURAIS
156
CAPÍTULO 21
157
CONHECIMENTO E USO DE PLANTAS EM CONTEXTOS DE MIGRAÇÃO
2009; Medeiros et al. 2012). Desta forma, parte do corpo de conhecimentos, outrora
postos em prática, transforma-se em conhecimento de estoque (conhecimento que
existe, mas não é praticado). O grande problema do conhecimento de estoque é que,
por não ser praticado, é possível que não persista nas próximas gerações (Albuquer-
que 2006) (Figura 1). Para plantas que não são mais usadas, é bastante comum que
haja bloqueios nas vias de transmissão de conhecimento simplesmente porque não há
necessidade ou oportunidade de se ensinar algo que não faz parte da realidade atu-
al. Grande parte dos eventos de transmissão de conhecimento vertical (de pais para
filhos) se dá com a prática, com a observação da coleta, do manejo ou do preparo de
recursos vegetais. Assim, no contexto de migrações, fica clara a necessidade de estu-
darmos não apenas o conhecimento de povos migrantes, mas também o que estes de
fato estão pondo em prática, ou seja, o uso.
Figura 1. Esquema hipotético que enfatiza a fragilidade do conhecimento de estoque entre povos mi-
grantes. As figuras pretas representam o conhecimento posto em prática (conhecimento de massa) e
as brancas representam o conhecimento de estoque. Os círculos representam plantas úteis já emprega-
das antes da migração, e os quadrados, as que passaram a ser empregadas após a migração. O terceiro
cenário é o do repertório de plantas úteis para as próximas gerações (filhos de migrantes e subsequen-
tes). Plantas do local de origem que porventura não podem ser adquiridas no novo ambiente podem
passar para o conhecimento de estoque e, nas próximas gerações, desaparecer do sistema médico.
158
Patrícia Muniz de Medeiros, Diego Batista de Oliveira Abreu & Ulysses Paulino de Albuquerque
tidas) apenas no novo ambiente (Pieroni et al., 2005; Volpato et al., 2009; Medeiros et
al. 2012). Notemos que as duas classificações são diferentes, pois é possível que uma
planta ocorra no local de origem do migrante, mas só tenha passado a ser utilizada
por ele após a migração. Imaginemos que uma planta X ocorre naturalmente no local
de origem e no novo ambiente do migrante. É possível que o migrante não conhecesse
o uso da planta antes de deixar o local de origem e, só ao chegar ao novo ambiente e
receber informações das pessoas desse novo local, ele passasse a utilizá-la.
159
CONHECIMENTO E USO DE PLANTAS EM CONTEXTOS DE MIGRAÇÃO
Referências
Albuquerque, U.P. 2006. Re-examining hypothesis concerning the use and knowledge of medi-
cinal plants: a study in the Caatinga vegetation of NE Brazil. Journal of Ethnobiology and
Ethnomedicine 2: 30.
Lacuna-Richman, C. 2006. The use of non-wood forest products by migrants in a new settle-
ment: experiences of a Visayan community in Palawan, Philippines. Journal of Ethnobiolo-
gy and Ethnomedicine 2: 36.
160
Patrícia Muniz de Medeiros, Diego Batista de Oliveira Abreu & Ulysses Paulino de Albuquerque
161
CAPÍTULO 22
GÊNERO E IDADE
Wendy Torres-Avilez, André Luiz Borba do Nascimento, Leticia Zenobia de Oliveira
Campos, Flávia dos Santos Silva & Ulysses Paulino de Albuquerque
Gênero
163
GÊNERO E IDADE
por serem estas mais próximas de suas residências, enquanto que os homens conhe-
cem mais sobre espécies de vegetação primária, locais que visitam com mais frequ-
ência para obter recursos para o sustento da família (Caniago et al. 1998). Nas vilas
de Upper Kullu, na Índia, por outro lado, as mulheres detêm um maior conhecimen-
to prático sobre a floresta que os homens, pois eles não são responsáveis pela busca
de produtos nas florestas (Bingeman 2003). Outra situação interessante é o caso das
mulheres de algumas comunidades africanas que coletam lenha (Biran et al. 2004),
diferentemente do que acontece em comunidades rurais brasileiras em que normal-
mente os homens são os coletores (Ramos et al. 2008).
Dessa forma, observamos que não há uma tendência geral. Por isso, tentar enten-
der essas diferenças sem isolar a variável que realmente é preditora do conhecimen-
to enviesa as nossas interpretações. Normalmente, encontramos na literatura que as
mulheres conhecem com maior riqueza as plantas medicinais e alimentícias que os
homens, muito embora em comunidades caiçaras do Brasil o conhecimento tenda a
ser homogeneamente distribuído entre os gêneros (Hanazaki et al. 2000). Já na região
do Chaco, na Argentina, e na região da Salamanca, na Espanha, são os homens que
conhecem o maior número de plantas alimentícias nativas (Arias-Toledo et al. 2007;
González et al. 2011). Essas diferenças podem ser expressas não só pelo número de
espécies conhecidas ou pela diversidade de doenças, mas também pelos chamados sa-
beres compartilhados. Voeks & Nyawa (2001), em Brunei, na ilha de Bornéu, consta-
taram que as mulheres são detentoras do saber relacionado ao tratamento de doenças
espirituais, enquanto os homens detêm o conhecimento sobre as doenças orgânicas.
Idade
No caso da idade, diversos estudos sugerem uma relação positiva entre o número
de recursos conhecidos (riqueza de espécies, por exemplo) e a idade daqueles que os
conhecem. Muitos cientistas têm assumido que as pessoas mais velhas, por possuí-
rem mais tempo interagindo com as pessoas e com os recursos naturais, apresentam
mais conhecimento que os jovens. Contudo, isso não é um padrão, uma vez que há
evidências de que pessoas acima de determinada idade (60 anos) apresentam uma
redução na riqueza de espécies conhecidas, talvez como consequência da perda de
memória com o avanço da idade (ver Almeida et al. 2012). Às vezes, a idade pode ex-
plicar o conhecimento em uma determinada categoria delimitada pelo pesquisador
164
Wendy Torres-Avilez, André Luiz Borba do Nascimento, Leticia Zenobia de Oliveira Campos,
Flávia dos Santos Silva & Ulysses Paulino de Albuquerque
em seu estudo, como plantas medicinais, mas isso não explica qualquer variação do
conhecimento em outras categorias (ver Hanazaki et al. 2000).
Equivocadamente, há pesquisadores que assumem que as diferenças detectadas
entre classes de idade podem ser fruto de processos de erosão de conhecimento. Po-
rém, a maioria desses estudos é baseado no número total de espécies reportadas em
cada idade. Além disso, o conhecimento não é analisado ao longo do tempo, não sen-
do, assim, possível retratar a situação real da dinâmica do conhecimento da popula-
ção estudada. É importante considerarmos que o conhecimento do uso dos recursos
é parte de um sistema socioecológico que é fortemente influenciado pelo ambiente,
o qual oferece possibilidades de escolhas para a população humana (Ferreira Junior
et al. 2013). Por exemplo, o conhecimento em cada faixa etária pode ser produto das
mudanças ocorridas na paisagem e na abundância dos recursos usados. Desta forma,
os mais velhos podem ter como referencial a existência de determinados recursos que
já não estão mais disponíveis para os mais jovens, por consequência de alterações
ambientais. Os jovens, por sua vez, têm como referência o ambiente recente, fator que
pode gerar transformação no conhecimento dentro da comunidade, já que a dispo-
nibilidade e a diversidade do recurso atual são distintas daquelas das gerações ante-
riores. Esta situação movimenta os referenciais dinâmicos, conceito primeiramente
utilizado por Pauly (1995) para entender a dinâmica de uso dos recursos pesqueiros.
Pauly (1995) observou que cada geração de pescadores percebe uma abundância di-
ferente dos estoques de peixes existentes, pois tem por referencial a disponibilidade
de peixes existente no início de suas carreiras, quantidade que pode ter se alterado ao
longo do tempo devido a acontecimentos naturais e/ou antropogênicos. O estudo de
Hanazaki et al. (2013) trouxe essa ideia para o âmbito da etnobotânica, mostrando
que isso pode vir a acontecer em estudos que investigam diferenças no conhecimento
de plantas por populações humanas em diferentes faixas etárias.
Contudo, existem outros fatores que podem influenciar a diferença do conhe-
cimento pela idade: o tempo que as pessoas interagem com o recurso (histórico de
exploração do recurso) e a memória, considerando que esta variável afeta o armaze-
namento de informações com o avançar da idade. Além disso, pessoas com idades
diferentes podem vir a acumular informações que sejam relevantes para o contexto
em que estão vivendo naquele momento.
Assim, variações no conhecimento biológico tradicional, como fruto da idade e
do gênero, devem ser compreendidas em contextos mais amplos, atentando para o
fato de outras variáveis também poderem estar associadas às primeiras.
165
GÊNERO E IDADE
Referências
Almeida, C. F. C. B. R.; Ramos, M. A.; Silva, R. R. V.; Melo, J. G.; Medeiros, M. F. T.; Araújo, T.
A. S.; Almeida, A. L. S.; Amorim, E. L. C.; Alves, R. R. N. & Albuquerque, U. P. 2012. Intra-
cultural variation in the knowledge of medicinal plants in an urban-rural community in the
166
Wendy Torres-Avilez, André Luiz Borba do Nascimento, Leticia Zenobia de Oliveira Campos,
Flávia dos Santos Silva & Ulysses Paulino de Albuquerque
167
CAPÍTULO 23
Etnia
A etnia pode não só influenciar o conhecimento e uso dos recursos naturais, mas
também a forma como estes são percebidos. Por exemplo, três grupos culturais distin-
tos que vivem nas Ilhas Manu, na Papua Nova Guiné, relacionam-se aparentemente de
forma diferente com os recursos naturais (Case et al. 2005). Os Usiai são os que mais
conhecem e usam os recursos vegetais da região, provavelmente pelo fato de viverem
no interior da ilha e estarem, desta forma, mais próximos dos recursos. Porém, quando
ocorre casamento entre um Usiai e um membro de um grupo distinto, o conhecimento
botânico diminui, sendo maior quando os dois membros do casal são Usiai.
Com a globalização e a modernização, muitos grupos étnicos têm entrado em
contato uns com os outros, o que acaba gerando troca de ideias e de informações cul-
turais. Deste modo, o contato pode alterar os padrões de conhecimento desses grupos,
como é esperado na maioria das vezes. Todavia, há situações em que isso não ocorre.
Sérvios e albaneses que estão em contato há 300 anos mantêm o conhecimento sobre
os recursos vegetais separado e não compartilhado, apesar do contato (Pieroni et al.
2011). Outro exemplo do não compartilhamento de conhecimento foi observado por
Huai et al. (2011), no Sudoeste da China. Os autores verificaram que o tamanho dos
quintais e o número de espécies existentes neles foram significativamente diferentes
entre oito grupos étnicos, mesmo estes habitando vilas próximas umas das outras.
Assim, podemos dizer que cada cultura pode desenvolver modos distintos de usar
os recursos naturais existentes ao seu redor, com o objetivo de satisfazer às suas neces-
sidades variadas. Grupos indígenas da Amazônia Brasileira conhecem maior número
de espécies de palmeiras que ribeirinhos e seringueiros que moram no mesmo local
169
ETNIA, RENDA E ESCOLARIDADE
(Campos & Ehringhaus, 2013). Isso pode estar relacionado ao longo tempo de existên-
cia dos primeiros no local, que possibilitou maior acúmulo de conhecimento.
Tempo de moradia
Outra variável que possui grande influência sobre o conhecimento e uso dos re-
cursos naturais é o tempo de moradia. Estudos mostram que pessoas que residem há
mais tempo em um determinado local possuem maior conhecimento a respeito dos
recursos naturais quando comparadas àquelas que residem há menos tempo. O espe-
rado é que o conhecimento seja construído por meio de interações entre as pessoas
e os recursos locais, aumentando de acordo com o tempo de contato. Geralmente,
moradores mais antigos possuem maior conhecimento sobre a biodiversidade local,
enquanto novos moradores trazem o conhecimento dos seus lugares de origem, o
que leva, com o passar do tempo, a uma mistura de conhecimentos. Moradores que
residem há mais de 30 anos em uma área costeira da ilha de Florianópolis, em Santa
Catarina, Brasil, conhecem maior número de plantas nativas que aqueles que moram
há menos tempo no mesmo local e que, em sua maioria, vieram de áreas urbanas
(Gandolfo & Hanazaki 2014).
O tempo de moradia não influencia só o conhecimento sobre os recursos natu-
rais, mas também a sua utilização. Pessoas que residem há mais tempo no local nor-
malmente extraem maior quantidade de recursos que moradores mais recentes, inde-
pendentemente do grupo de origem destes últimos. Isso foi observado por Gavin &
Anderson (2012), que procuraram verificar quais variáveis socioeconômicas influen-
ciavam mais fortemente a utilização de recursos florestais na Amazônia Peruana.
Renda
A renda é uma das variáveis socioeconômicas com maior poder explicativo sobre
o conhecimento e/ou uso de recursos naturais (Godoy et al. 1995; Medeiros et al.
2011). Em geral, famílias com menor renda são mais dependentes dos recursos natu-
rais para sua subsistência, especialmente dos recursos nativos. Essa dependência não
significa apenas um uso mais acentuado desses recursos, já que um maior uso e uma
maior convivência com estes, geralmente, levam a um maior conhecimento.
170
Patrícia Muniz de Medeiros, Juliana Loureiro de Almeida & Ulysses Paulino de Albuquerque
171
ETNIA, RENDA E ESCOLARIDADE
172
Patrícia Muniz de Medeiros, Juliana Loureiro de Almeida & Ulysses Paulino de Albuquerque
uma vez que as pessoas muitas vezes não se sentem confortáveis em revelar sua real
renda, seja pelo baixo valor, seja pela apreensão de perder auxílios governamentais
caso sua real renda venha à tona. Assim, dados imprecisos de renda podem enviesar
todas as análises relativas aos seus efeitos.
Escolaridade
A natureza da relação entre escolaridade e conhecimento e/ou uso de recursos
naturais ainda permanece obscura na literatura etnobiológica. Isso porque muitas
vezes não é a escolaridade em si o fator pwrincipal, mas as variáveis a ela relacionadas,
como a renda e a ocupação. Pessoas com maior renda frequentemente têm maior grau
de instrução que pessoas de menor renda. Deste modo, esperaríamos uma relação
inversa entre escolaridade e conhecimento e/ou uso de recursos.
Alguns estudos também sugerem que a escolaridade interfere na natureza da
ocupação que será desempenhada pelas pessoas e esta, por sua vez, interfere no co-
nhecimento e uso de recursos naturais. Em áreas rurais e urbano-rurais, pessoas com
maior escolaridade tenderiam a possuir empregos desvinculados da atividade agríco-
la e florestal. Pessoas que trabalham no campo, por sua vez, teriam maior familiarida-
de com os recursos naturais, o que explicaria seu maior conhecimento e/ou uso. Estas
afirmações, no entanto, precisam ser testadas de forma apropriada.
Entre os estudos que encontraram relação entre escolaridade e conhecimento e/
ou uso de recursos naturais, podemos citar uma investigação do nosso grupo de pes-
quisa (Medeiros et al. 2011), que encontrou uma relação inversa, significativa, porém
fraca, entre escolaridade e uso de lenha. Nesse caso, observamos que na comunidade
estudada, localizada na zona da mata de Pernambuco, as pessoas mais instruídas tra-
balhavam no setor de comércio ou serviços e, por isso, não tinham contato frequente
com o trabalho no campo. Por outro lado, os moradores com menos estudos cos-
tumavam trabalhar na colheita e no plantio de cana-de-açúcar, o que lhes conferia
contato frequente com as áreas próximas às florestas e com as próprias florestas.
Referências
Almeida, C.F.C.B.; Ramos, M.A.; Amorim, E.L.C. & Albuquerque, U.P. 2010. A comparison of
knowledge about medicinal plants for three rural communities in the semi-arid region of
northeast of Brazil. Journal of Ethnopharmacology 127: 674-684.
173
ETNIA, RENDA E ESCOLARIDADE
Case, R.J.; Pauli, G.F. & Soejarto, D. D. 2005. Factors in maintaining indigenous knowledge
among ethnic communities of Manus Island. Economic Botany 59(4): 356–365.
Campos, M.T. & Ehringhaus, C. 2003. Plant virtues are in the eyes of the beholders: a compari-
son of known palm uses among indigenous and folk communities of southwestern Amazo-
nia. Economic Botany 57(3): 324-344.
Elvin-Lewis, M. 2001. Should we be concerned about herbal remedies. Journal of Ethnophar-
macology 75: 141-164.
FAO. 2005. Trade in medicinal plants. Disponível em http://www.fao.org/docrep/008/AF285E/
AF285e00.htm
Gandolfo, E.S. & Hanazaki, N. 2014. Distribution of local plant knowledge in a recently urba-
nized area (Campeche District, Florianópolis, Brazil). Urban Ecosystems 17(3): 775-785.
Gavin, M. & Anderson, G. 2007. Socio-economic predictors of forest use values in the Peruvian
Amazon: a potential tool for biodiversity conservation. Ecological Economics 60: 752–762.
Godoy, R; Brokaw, N. & Wilkie, D. 1995. The effect of income on the extraction of non-timber
tropical forest products: model, hypotheses, and preliminary findings from the Sumu In-
dians of Nicaragua. Human Ecology 23: 29–51.
Huai, H.; Xu, W.; Wen, G. & Bai, W. 2011. Comparison of the homegardens of eight cultural
groups in Jinping County, Southwest China. Economic Botany 65(4): 345-355.
Lacuna-Richman C. 2002. The socio-economic significance of subsistence non-wood forest
products in Leyte, Philippines. Environmental Conservation 29(2): 253–262.
Medeiros, P.M.; Silva, T.C.; Almeida, A.L.S. & Albuquerque, U.P. 2011. Socio-economic predic-
tors of domestic wood use in an Atlantic forest area (northeast Brazil): a tool for directing
conservation efforts. International Journal of Sustainable Development & World Ecology
19: 189-195.
Pieroni, A.; Giusti, M.E.; & Quave, C.L. 2011. Cross-cultural ethnobiology in the Western
Balkans: medical ethnobotany and ethnozoology among Albanians and Serbs in the Pešter
Plateau, Sandžak, South-Western Serbia. Human Ecology 39(3): 333-349.
174
CAPÍTULO 24
175
URBANIZAÇÃO E SERVIÇOS PÚBLICOS
176
Washington Soares Ferreira Júnior, Flávia Rosa Santoro & Ulysses Paulino de Albuquerque
177
URBANIZAÇÃO E SERVIÇOS PÚBLICOS
Por fim, sob outra perspectiva, há também a possibilidade de que populações locais
neguem ou negligenciem os conhecimentos provindos da biomedicina. Em uma comu-
nidade periurbana na Amazônia brasileira, os habitantes preferem utilizar os recursos
naturais disponíveis em detrimento de remédios indicados em postos de saúde, devido
ao menor custo e por atribuírem maior eficácia aos primeiros. Além disso, a falta de fa-
miliaridade com os médicos de postos de saúde também pode fazer com que as pessoas
não recorram aos sistemas públicos de saúde (Perry & Gesler 2000).
Parece razoável associar um baixo conhecimento sobre recursos naturais em
uma comunidade à proximidade com centros urbanos, uma vez que a urbanização
disponibiliza uma série de alternativas à subsistência humana que poderia acarretar
o abandono de práticas tradicionais. Como foi também demonstrado, nem sempre é
observada uma relação negativa entre urbanização e conhecimento já que o uso de
plantas pode ser mantido ao longo do tempo por ser menos dispendioso sob um ponto
de vista econômico, por exemplo, ou percebido com uma maior eficácia por um dado
grupo humano. Para uma melhor avaliação do impacto da urbanização no conheci-
mento, seriam necessários estudos que investigassem a dinâmica do conhecimento de
uma mesma comunidade ao longo do tempo, à medida que o processo de urbaniza-
ção se tornasse mais evidente. Considerando que a dinâmica de conhecimento pode
modificar-se em períodos curtos e que o crescimento das cidades tem tomado pro-
porções cada vez maiores nos últimos anos, tais estudos se mostram bastante viáveis
na pesquisa etnobiológica.
Referências
Albuquerque, U.P.; Monteiro, J.M.; Ramos, M.A. & Amorim, E.L.C. 2007. Medicinal and magic
plants from a public market in northeastern Brazil. Journal of Ethnopharmacology 110:
76-91.
Amorozo, M.C.M. 2002. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antônio do Lever-
ger, MT, Brasil. Acta Botanica Brasilica 16(2): 189-203.
Greene, S. 1998. The shaman’s needle: Development, shamanic agency, and intermedicality in
Aguaruna Lands, Peru. American Ethnologist 25(4): 634–658.
Inta, A.; Trisonthi, P. & Trisonthi, C. 2013. Analysis of traditional knowledge in medicinal plants
used by Yan in Thailand. Journal of Ethnopharmacology 149: 344-351.
Medeiros, P.M.; Ladio, A.H. & Albuquerque, U.P. 2013. Patterns of medicinal plant use by inha-
bitants of Brazilian urban and rural areas: A macroscale investigation based on available
literature. Journal of Ethnopharmacology 150: 729-746.
178
Washington Soares Ferreira Júnior, Flávia Rosa Santoro & Ulysses Paulino de Albuquerque
Monteiro, J.M.; Araújo, E.L.; Amorim, E.L.C. & Albuquerque, U.P. 2010. Local markets and
medicinal plant commerce: A review with emphasis on Brazil. Economic Botany 64(4): 352-
366.
Nolan, J.M. & Robbins, M.C. 1999. Cultural conservation of medicinal plant use in the Ozarks.
Human Organization 58: 67-72.
Perry, B. & Gesler, W. 2000. Physical access to primary health care in Andean Bolivia. Social
Science & Medicine 50: 1177-1188.
Reyes-García V.; Gueze, M.; Luz, A.C.; Macia, M.; Orta-Martínez, M.; Paneque-Gálvez, J. &
Pino, J. 2013a. Evidence of traditional knowledge loss among a contemporary indigenous
society. Evolution and Human Behavior 34: 249-257.
Reyes-García, V.; Aceituno-Mata, L.; Calvet-Mir, L.; Garnatje, T.; Gómez-Baggethun, E.; Lastra,
J.J.; Ontillera, R.; Parada, M.; Rigat, M.; Vallès, J.; Vila, S. & Pardo-de-Santayana, M. 2013b.
Resilience of traditional knowledge systems: The case of agricultural knowledge in home
gardens of the Iberian Peninsula. Global Environmental Change 24: 223-231.
Soldati, G.T. & Albuquerque, U.P. 2012. Ethnobotany in intermedical spaces: the case of the
Fulni-ô indians (Northeastern Brazil). Evidence-Based Complementary and Alternative
Medicine 2012: 1-13.
Vandebroek, I.; Calewaert, J.; De Jonckheere, S.; Sanca, S.; Semo, L.; Van Damme, P.; Van Puyvel-
de, L. & De Kimpe, P. 2004. Use of medicinal plants and pharmaceuticals by indigenous com-
munities in the Bolivian Andes and Amazon. Bulletin of the World Health Organization
82: 243–250.
179
CAPÍTULO 25
1 Traço cultural pode ser entendido como um hábito ou determinada informação que faz parte
de uma cultura. A definição e os limites de um traço podem variar de pesquisador para pes-
quisador. Pode ser exemplo de um traço cultural o uso da planta X para tratar a doença Y (nota
do editor).
2 Tradução correta, para este contexto, da palavra “bias/biases”. Outras traduções, mas não tão
precisas, seriam “direcionada/direções, influenciada/influências” (nota do editor).
181
STATUS SOCIAL E CONHECIMENTO ECOLÓGICO TRADICIONAL
182
Victoria Reyes-García & Sandrine Gallois
deferência e tentar aprender com eles. Se este modelo for verdadeiro, então deve haver
uma relação entre o prestígio de uma pessoa ou a deferência conferida livremente a
ela por indivíduos de um grupo e o seu conhecimento (Henrich & Gil-White 2009).
Tal intuição encontra apoio em nossa pesquisa atual, na qual encontramos que a
avaliação por pares dos conhecimentos e das competências de um informante em um
dado domínio de conhecimento ecológico tradicional está correlacionada com as me-
didas padrão4 de conhecimento ecológico tradicional (Reyes-García et al. em revisão).
Especificamente, os dados recolhidos entre três sociedades de caçador-coletores (os
Punan, em Bornéo; os Baka, na Bacia do Congo e os Tsimané, na Amazônia), rela-
cionados a três domínios de conhecimento (plantas medicinais, caça e conhecimento
agrícola), mostram que as medidas de conhecimentos e competências estão associa-
das com uma avaliação do conhecimento da pessoa fornecida por outros membros da
comunidade. Curiosamente, entre os três domínios do conhecimento e entre as três
sociedades estudadas, a associação da pontuação média parece ser mais fraca com
as nossas medidas de conhecimento teórico ou a habilidade das pessoas de nomear e
reconhecer elementos do seu habitat natural que com nossas medidas de habilidades
ou de habilidades autodeclaradas de colocar tal conhecimento em prática. Isso pode
ser devido ao fato de que as habilidades são mais claramente explicitadas que os co-
nhecimentos teóricos (Reyes-García et al. 2007), tornando mais fácil a avaliação do
desempenho de uma pessoa (habilidades) que de seu conhecimento teórico.
Uma consideração importante em relação a esses resultados diz respeito à forma
como o status social é avaliado. Na pesquisa que acabamos de descrever, considera-
mos o status de uma pessoa apenas em relação a um domínio específico de conhe-
cimento, o que não é necessariamente um bom estimador para o prestígio global de
uma pessoa. Além disso, pesquisas anteriores sugerem que essas descobertas não ne-
cessariamente se sustentam quando se utiliza uma medida mais abrangente de status
social. Assim, com base na mesma concepção teórica de que conhecimento e prestígio
estariam associados, Reyes-García et al. (2008) utilizaram dados coletados entre ho-
mens Tsimané adultos (>16 anos; n=288) para testar se o prestígio está associado po-
sitivamente com o conhecimento tradicional. Neste caso, os pesquisadores mediram
o prestígio pedindo a todos os Tsimané adultos de uma aldeia para listar o nome de
4 As autoras provavelmente referem-se às formas que os diferentes cientistas usam para medir
o conhecimento de determinado grupo humano sobre os recursos naturais, como as usuais
técnicas quantitativas (ver Albuquerque et al., 2014: Methods and techniques in ethnobio-
logy and ethnoecology. New York, Springer) (nota do editor).
183
STATUS SOCIAL E CONHECIMENTO ECOLÓGICO TRADICIONAL
184
Victoria Reyes-García & Sandrine Gallois
Referências
Barth, F. 1990. The guru and the conjurer: transactions in knowledge and the shaping of culture
in southeast Asia and Melanesia. Man (N.S.) (25): 640-653.
Boyd, R. & Richerson, P. 1985. Culture and the Evolutionary Process. Chicago, University of
Chicago Press.
Cavalli-Sforza, L.L. & Feldman, M. 1981. Cultural transmission and evolution: a quantitative
approach. Princeton, Princeton University Press.
Cavalli-Sforza, L.L.; Feldman, M.; Chen, K. & Dornbusch, S. 2005. Theory and observation in
cultural transmission. Science 218: 19-27.
Feldman, M. & Laland, K. 1996. Gene-Cclture coevolutionary theory. Trends in Ecology &
Evolution 11: 453-457.
Henrich, J. & Boyd, R. 1998. The evolution of conformist transmission and the emergence of
between-group differences. Evolution & Human Behavior 19: 215-241.
Henrich, J. & Gil-White, F. 2001. The evolution of prestige. Freely conferred deference as a me-
chanism for enhancing the benefits of cultural transmission. Evolution & Human Behavior
22: 165-196.
Henrich, J. & McElreath, R. 2003. The evolution of cultural evolution. Evolutionary Anthro-
pology 12: 123-135.
Laland, K. 2004. Social learning strategies. Learning and Behavior 32: 4-14.
Reyes-Garcia, V.; Vadez, V.; Huanca, T.; Leonard, W.R. & McDade, T. 2007. Economic deve-
lopment and local ecological knowledge: a deadlock? Quantitative research from a native
Amazonian society. Human Ecology 35: 371-377.
Reyes-Garcia, V.; Molina, J.L.; Broesch, J.; Calvet, L.; Huanca, T.; Leonard, W.R.; McDade, T.W.;
Saus, J. & Tanner, S. 2008. Do the aged and knowledgeable men enjoy more prestige? A test
of predictions from the prestige-bias model of cultural transmission. Evolution and Human
Behavior 29:275-281.
Reyes-García, V.; Diaz-Reviriego, I.; Duda, R.; Fernandez-Llamazares ,A.; Gallois, S.; Gueze, M.;
Nanitupulu, T.; Pyhala, A. (under review). Peer evaluation: a reliable measure of traditional
ecological knowledge. Field methods.
Rogers, A. 1988. Does biology constrain culture? American Anthropologist 90: 819-830.
185
APÊNDICE I:
DECLARAÇÃO DE BELÉM
187
7. os etnobiólogos devem colocar à disposição os resultados de suas pesquisas
para as populações nativas com quem eles trabalharam, especialmente a di-
vulgação na língua nativa;
8. deve ser promovida troca de informações entre os indígenas e os camponeses
com respeito à conservação, ao manejo e à utilização dos recursos”.
188
APÊNDICE II:
189
OUTRAS OBRAS DE INTERESSE
ETNOBIOLOGIA
BASES ECOLÓGICAS E EVOLUTIVAS
Ulysses Paulino de Albuquerque (org)
ISBN 978-85-63756-21-3
166 páginas
1ª edição - 2013
COMUNICAÇÃO E CIÊNCIA:
INICIAÇÃO À CIÊNCIA, REDAÇÃO CIENTÍFICA E
ORATÓRIA CIENTÍFICA
Ulysses Paulino de Albuquerque
ISBN 978-85-63756-22-0
208 páginas
1ª edição - 2014