Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A N A PA U L A PA E S D E PA U L A
Resumo
O objetivo desse artigo é fazer algumas considerações sobre a
concepção de sujeito, para os estudos organizacionais, tendo
em vista o avanço dos estudos sobre o tema nesse campo. Para
isso, na primeira parte, abordamos os modelos de homem nas
teorias administrativas - Econômico, Social, Administrativo, Or-
ganizacional, Funcional e Complexo – evidenciando como essas
abstrações se distanciam de uma concepção de sujeito, para, na
seção seguinte, recorrer à constructos da filosofia e da psicanálise
lacaniana para esboça-la. Na terceira parte, abordamos o conceito
de sujeito falta-a-ser lacaniano, apresentando o mesmo como
um sujeito político, fundamental para a inserção de mudanças
na sociedade, nos grupos e nas organizações. Na quarta parte,
à guisa de conclusão, abordamos uma perplexidade: o sujeito
político tem como motor a pulsão anarquista, que resulta de uma
separação do corpo social, trazendo a difícil questão de como o
impulso de mudança e transformação do sujeito é reconduzindo
para o campo coletivo. Nessa operação, observamos a tendência
dos sujeitos se reduzirem a indivíduos, integrando-se ao amor
ideológico, rendendo-se à fantasia dos modelos de homem, que
tende a excluir a noção de sujeito das teorias administrativas.
Palavras-chave: Teorias Administrativas; Estudos Organizacio-
nais; Sujeito; Psicanálise; Modelos de Homens
3
K D P
A P P P
Abstract
The objective of this article is to make some considerations about
the concept of subject, for organizational studies, in view of ad-
vancement of studies on the subject in this field. For that, in the
first part, we approach the models of man in the administrative
theories – Economic, Social, Administrative, Organizational,
Functional and Complex – showing how these abstractions are
distant from a concept of subject, to, in the next section, resort
to constructs of the philosophy and Lacanian psychoanalysis to
outline it. In the third part, we approach the concept of Lacanian
lack-to-be subject, presenting it as a political subject, fundamental
for the insertion of changes in society, groups and organizations.
In the fourth part, by way of conclusion, we address a perplexity:
the political subject is driven by the anarchist drive, which results
from a separation from the social body, bringing up the difficult
question of how the impulse for change and transformation of
the subject is leading back to the question of the collective field.
In this operation, we observe the tendency of subjects to reduce
themselves to individual, integrating themselves with ideological
love, surrendering to the fantasy of models of man, which tends
to exclude the notion of subject from administrative theories.
Key-words: Administrative Theories; Organizational Studies;
Subject; Psychoanalysis; Models of Men
Introdução
O que é o homem? Essa é uma pergunta que mexe com o ima-
ginário do Ocidente desde os tempos dos gregos pré-socráticos.
Um exemplo marcante dessa curiosidade se consubstancia na fa-
mosa frase do sofista Protágoras (490 a.c. a 420 a. C.) “o homem é
a medida de todas as coisas”, para quem interessava refletir sobre
a verdade das coisas, a partir da experiência pessoal. Além disso,
outra consideração importante sobre o homem vem de Aristóteles
(384 a.c. a 322 a. c.) que legou para a posteridade a ideia de que o
homem é um animal racional e político, portanto, construído por
uma substancia universal que o define e o qualifica – a razão.
Na modernidade, pode-se acrescentar outros significantes para
essa pergunta: o que é o indivíduo, o agente, o ator, a pessoa, etc.?
Mas, afinal, o que é esse ente especial (Heidegger, 2006)? Porque, em
4 Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023
O M H :
AE S T A
Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023 5
K D P
A P P P
6 Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023
O M H :
AE S T A
Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023 7
K D P
A P P P
8 Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023
O M H :
AE S T A
Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023 9
K D P
A P P P
10 Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023
O M H :
AE S T A
Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023 11
K D P
A P P P
12 Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023
O M H :
AE S T A
Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023 13
K D P
A P P P
14 Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023
O M H :
AE S T A
Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023 15
K D P
A P P P
16 Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023
O M H :
AE S T A
Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023 17
K D P
A P P P
18 Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023
O M H :
AE S T A
Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023 19
K D P
A P P P
20 Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023
O M H :
AE S T A
Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023 21
K D P
A P P P
modifica-la, mas não quer sucumbir a ela, de modo que essa proxi-
midade com a morte exacerba sua vontade de viver.
Alguns sujeitos resistem a esse tipo de situação enquanto outros
sucumbem e para Zaltzman (1993, p. 64), a fonte de energia no caso
do enfrentamento é a própria pulsão de morte, na sua modalidade
anarquista: “Chamo a esse fluxo de pulsão de morte mais individua-
lista, mais libertário, de pulsão anarquista. A pulsão anarquista guarda
uma condição fundamental da manutenção em vida do ser humano: a
manutenção para ele de possibilidade de uma escolha mesmo quando
a experiência-limite anula ou parece anular toda escolha possível”.
Trata-se de uma escolha pela vida e de um levante libertário indi-
vidual contras as formas sociais repressivas, ímpeto libertário que é
trazido pela energia dissociativa da própria pulsão de morte.
Essa escolha pela vida implica em um rompimento com o
laço social, em um desobrigar-se da ordem e em uma revolta
contra a pressão exercida pela civilização. Zaltzman (1993, p. 66)
reconhece que o ímpeto libertário é uma atividade anti-social,
“... uma última força de resistência contra o domínio unificador,
ilusioriamente idílico, dulcificante e nivelante do amor ideológi-
co”. Em outras palavras, a saída para a dominação ideológica é a
pulsão anarquista, que surge quando toda forma possível de vida
desmorona e se busca na pulsão de morte forças para combater a
própria aniquilação.
Acreditamos, que vale destacar, no entanto, que esse rompi-
mento com o laço social emerge no domínio totalitário que ameaça
a vida, da experiência-limite, ou seja, a partir do estado de barbárie
e não de civilização propriamente dito. Nesse contexto, os sujeitos
irredutíveis são aqueles que diligentemente respondem aos excessos
civilizacionais que ameaçam a pulsão da vida. Em outras palavras,
é o que Meireles (2004, p. 76) alerta citando Merton (1970, p. 201):
“... algumas estruturas sociais exercem uma pressão definida sobre
certas pessoas na sociedade, para que sigam conduta de rebeldia,
ao invés de trilharem o caminho do conformismo”.
Importante frisar também que essa resistência anarquista se sus-
tenta na lucidez e não na ilusão. Trata-se ainda, segundo a autora,
de uma resistência a todo tipo de desumanização e um investimento
no registro da sobrevivência e da necessidade antes do desejo. Co-
22 Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023
O M H :
AE S T A
Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023 23
K D P
A P P P
Referências
ADLER, P. S.; FORBES, L. C.; WILLMOTT, H. Critical management studies: premises, prac-
tices, problems, and prospects. Proceedings of Academy of Management Annual Meeting, 74.
Philadelphia, PA, USA: Academy of Management, 2007.
DERRIDA, J. A estrutura, o signo e o jogo no discurso das ciências humanas. In: A escritura
e a diferença. São Paulo: Perspectiva, 2009.
DERRIDA J.; ROUDINESCO, E. De que amanhã... Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.
DREYFUS, H. L.; RABINOW, P. Michel Foucault: uma trajetória filosófica: para além do
estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
24 Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023
O M H :
AE S T A
FINK, B. O sujeito lacaniano: entre a linguagem e o gozo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.
GALLO, S. Anarquismo e educação: os desafios para uma pedagogia libertária hoje. Política
e trabalho. Revista de Ciências Sociais, v. 36, p. 169-186, 2012.
JAEGER, W. Paidéia: A Formação do Homem Grego. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
JORGE, M. A. C. Fundamentos de psicanálise de Freud a Lacan. Vol.1. 6a. ed. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2012.
KANT, I. Crítica da Faculdade do Juízo. 2a. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
Katz, D., & Kahn, R. L. (1976). Psicologia social das organizações. São Paulo: Atlas, 1976.
LACAN, J. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. 2a ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2008.
MOSÉ, V. Nietzsche e a grande política da linguagem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
MOTTA, F.C.; VASCONCELOS, I. G. Teoria geral da administração. São Paulo: Thomson Le-
arning, 2006.
PAES DE PAULA, A. P. Teoria Crítica nas Organizações. São Paulo: Thomson Learning, 2008.
Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023 25
K D P
A P P P
RAMOS, A. G. A nova ciência das organizações. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1989.
WOZNIAK, A. The dream that caused reality: the place of the Lacanian subject of science in
the field of organization theory. Organization, v. 17, n. 3, p. 395-411, 2010.
26 Organizações em contexto, São Bernardo do Campo, ISSNe 1982-8756 • Vol. 19, n. 38, jul.-dez. 2023
Fordismo, pós-fordismo e ciberfordismo:
os (des)caminhos da Indústria 4.0
Ana Paula Paes de Paula ¹
Ketlle Duarte Paes 2
¹ Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte – MG, Brasil
² Universidade Federal de Rio Grande (FURG), Rio Grande – RS, Brasil
Resumo
O objetivo deste artigo é abordar a Indústria 4.0 como o cerne de um novo paradigma de produção – o ciberfordismo – que emergiu no
bojo do estágio ultraneoliberal do capitalismo. Primeiramente, apresentamos as características da Indústria 4.0 para evidenciar como ela
radicaliza os processos de automação da produção e de inserção da inteligência artificial nos processos decisórios. Em seguida, retomamos
os contornos dos paradigmas fordistas e pós-fordistas de produção, demarcando a continuidade entre estes e o ciberfordismo, bem como
apontando a desconstrução do compromisso fordista e do Estado de bem-estar em sua transição para os modelos de flexibilização pós-fordistas
e neoliberais. Discutimos também as características do paradigma ciberfordista, que maximiza os propósitos do fordismo clássico, uma vez
que tende a tornar prescindíveis a mão de obra qualificada e até mesmo os próprios gerentes. Na conclusão, destacamos as contribuições
do artigo e recomendações para futuras pesquisas.
Palavras-chave: Fordismo. Pós-fordismo. Ciberfordismo. Indústria 4.0.
Fordism, post-fordism, and cyberfordism: the paths and detours of Industry 4.0
Abstract
This article approaches Industry 4.0 as the core of cyberfordism, a new production paradigm that emerged amid the ultra-neoliberal stage
of capitalism. The first part of the study presents the characteristics of Industry 4.0, showing how it radicalizes production automation and
inserts artificial intelligence in decision-making processes. The second part returns to the Fordist and post-Fordist production paradigms,
demarcating the continuity between them and cyberfordism. We point out the deconstruction of the Fordist commitment and the welfare state
during the transition to post-Fordist and neoliberal flexibilization models. In the third part, we discuss the characteristics of the cyberfordist
paradigm, which maximizes the purposes of classic Fordism since it tends to make skilled labor and managers unnecessary. In the conclusion,
we highlight the contributions and recommendations for future research.
Keywords: Fordism. Post-Fordism. Cyberfordism. Industry 4.0.
7401
Cad. EBAPE.BR, v. 19, nº 4, Rio de Janeiro, Out./Dez. 2021. ISSN 1679-3951 1047-1058
Fordismo, pós-fordismo e ciberfordismo: os (des)caminhos da Indústria 4.0 Ana Paula Paes de Paula
Ketlle Duarte Paes
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a indústria 4.0 emergiu como uma espécie de panaceia no mundo industrial e corporativo, dando
origem a expectativas de uma revolução no campo produtivo e também a derivados como a Gestão 4.0, a Produção 4.0, a
Qualidade 4.0, a Economia 4.0, entre outros. Em linhas gerais, a Indústria 4.0 (Oesterreich & Teuteberg, 2016; Zawadzki &
Żywicki, 2016) busca transformar a comunicação entre homens e máquinas e entre as próprias máquinas, utilizando informações
para otimizar os processos produtivos, a fim de alcançar um maior grau de uso das tecnologias digitais e da automação,
recorrendo à inteligência artificial, big data e machine learning, de modo a tornar a produção mais ágil, econômica e autônoma.
O fenômeno pode ser considerado como mais uma representação do processo da Revolução Industrial, iniciado no final do
século XVIII, que marcou a transição dos métodos de produção artesanais para processos de produção mecanizados. Essas
mudanças progressivas revolucionaram não só a vida cotidiana das pessoas, mas a economia, com o aumento da produtividade.
Desde então, as sociedades modernas têm passado por diversos ciclos de transformação, tanto em sistemas econômicos,
quanto de produção e de gestão. Segundo Hermann, Pentek e Otto (2016), passamos por quatro revoluções industriais; a
última é marcada pela Indústria 4.0.
Constatamos, tanto em nossa pesquisa, como nas escassas investigações encontradas, que na literatura ainda são raras as
análises sobre o fenômeno da Indústria 4.0 no campo da Teoria da Administração e das organizações, pois suas atividades e
características são estudadas principalmente nas áreas de Engenharia, Administração da Produção e Ciência da Computação.
A ascensão do tema, no entanto, vem gerando muitos questionamentos por parte de discentes em sala de aula, na graduação
e pós-graduação, sobre como a Indústria 4.0 enquadra-se nos modelos de organização e produção, de modo que a ausência
de uma abordagem e literatura específicas vem criando dificuldades didáticas e pedagógicas para os docentes da área.
Neste artigo, nosso objetivo é tentar suprir essa lacuna, abordando a Indústria 4.0 como manifestação de um novo paradigma
de produção, que emergiu no bojo do estágio ultraliberal do capitalismo e que denominaremos ciberfordismo. Dessa forma,
mais que um potencial novo “modismo gerencial”, a Indústria 4.0 representa uma nova forma de organizar e otimizar o
trabalho, fruto de uma visão de mundo econômica, social e política específica, inserida em um novo ciclo de “revolução
industrial e tecnológica”.
Tendo em vista o propósito de teorização do ciberfordismo, este artigo foi estruturado da seguinte maneira: na segunda
seção, tomamos como ponto de partida um levantamento bibliográfico, para, então, discutir as características da Indústria
4.0, com o intuito de evidenciar como ela radicaliza os processos de automação da produção e de inserção da inteligência
artificial nos processos decisórios. Na terceira, retomamos na literatura os contornos dos paradigmas fordistas e pós-fordistas
de produção para demarcar a continuidade entre estes e o ciberfordismo e apontar a desconstrução do compromisso fordista
e do Estado de bem-estar em sua transição para os modelos de flexibilização pós-fordistas e neoliberais, que afetam tanto
processos produtivos como as feições da condução econômica, social e política das sociedades. Na quarta seção, discutimos as
características do que estamos denominando paradigma ciberfordista, o qual se manifesta no contexto do ultraneoliberalismo,
maximizando os propósitos do fordismo clássico, uma vez que tende a tornar prescindíveis a mão de obra qualificada e
até mesmo os próprios gerentes. Além disso, elaboramos um quadro comparativo dos paradigmas fordista, pós-fordista
e ciberfordista, de modo a evidenciar as diferenças e continuidades entre eles. Finalizando, trazemos as conclusões do artigo,
destacando suas contribuições e recomendações para futuras pesquisas.
O levantamento bibliográfico realizado na internet e nos bancos de periódicos (Portal Capes, Google Acadêmico, Ebsco,
Scopus-Elsevier) com a palavra-chave ‘Indústria 4.0’ teve como propósito localizar os principais artigos e pesquisas sobre
o tema e, com isso, estabelecer um ponto de partida para a discussão pretendida. Importante destacar que não tivemos
como propósito realizar estatísticas, revisões sistemáticas, ou bibliometrias, mas enfatizar os trabalhos mais relevantes e
referenciados pelos próprios pesquisadores. Essa delimitação bibliográfica tem um caráter didático, considerando as lacunas
existentes na literatura para a discussão do tema em sala de aula, em um sentido pedagógico, pois busca responder também
as indagações básicas dos discentes sobre o conceito e escopo da Indústria 4.0 no contexto de disciplinas como teoria da
administração e das organizações.
Efetuando essas buscas, encontramos artigos-chave utilizados pela maioria dos pesquisadores – principalmente em domínios em
que a presença da Indústria 4.0 se faz sentir, como na engenharia e administração da produção e na ciência da computação –,
bem como alguns artigos que trazem sistematizações da literatura sobre o tema. São, portanto, raras as referências ao campo da
Teoria da Administração e Organizações. Assim, apesar de haver um grande número de publicações sobre o tema Indústria 4.0,
mesmo internacionalmente elas estão dispersas em revistas de diferentes qualificações e níveis de impacto e em várias áreas.
A pesquisa feita por Piccarozzi, Aquilani e Gatti (2018), que realizaram uma revisão sistemática da literatura sobre a Indústria
4.0 na área da Administração, por meio de um levantamento em três bases de dados científicas (Scopus-Elsevier, Web of Science
e JStor) e uma ferramenta de busca (Google Scholar) com a palavra-chave ‘industry 4.0’ confirmam nossas constatações. Em
apenas 68 artigos encontrados, nenhum se dedica aos aspectos gerenciais e organizacionais da Indústria 4.0, predominam
aspectos técnicos e do campo da Engenharia, o que reafirma que se trata de um tema emergente e pouco explorado na área
de Administração. Sigahi e Andrade (2017), por exemplo, ratificam tal constatação, pois ao realizarem uma bibliometria para
verificar artigos publicados entre 2011 (ano de surgimento da expressão “indústria 4.0” na Alemanha) e 2016 no ENEGEP
(Encontro Nacional de Engenharia da Produção) e no SIMPEP (Simpósio de Engenharia da Produção), constataram que 72%
dos artigos concentravam-se nas áreas de Gestão da Produção, Gestão do Conhecimento Organizacional, Gestão do Produto
e Pesquisa Operacional, e que 70% dos artigos abordavam principalmente temas afeitos à ciência da computação, como
inteligência artificial, computação em nuvem e internet das coisas.
Já o levantamento realizado por Assad, Pereira, Drozda e Santos (2018), que realizaram uma revisão integrativa do tema
Indústria 4.0 na base Scopus-Elsevier, mostra uma liderança da Alemanha na produção acadêmica – o que condiz com o fato
de o fenômeno ter surgido neste país –, seguida no ranking pelos Estados Unidos e pela China. Além disso, os pesquisadores
concluíram que há ainda uma imprecisão na definição científica de Indústria 4.0, que ainda não constituiu uma identidade
mais sólida, o que dificulta também a delimitação de um “estado da arte” sobre o tema. Tessarini e Saltorato (2018), por
sua vez, procederam a uma revisão sistemática da literatura sobre o impacto da Indústria 4.0 na organização do trabalho,
concluindo que, de um modo geral, as pesquisas enfatizam muito mais suas inovações tecnológicas do que suas implicações
nas relações de trabalho. Dessa forma, o que a literatura consultada evidencia é que os estudos encontram-se em um estado
inicial: trata-se de um campo em construção, que ainda busca descrição e definição do fenômeno. Em seguida, com intuito
de cumprir o aspecto didático deste texto, bem como situar os conceitos fundamentais do tema tratado, apresentamos, de
forma sintética, as principais características da Indústria 4.0 e algumas de suas repercussões no setor industrial, tendo como
base os artigos-chave examinados.
Segundo Anderl (2014) e Silva e Santos e Miyagi (2015), a Indústria 4.0 busca a integração de humanos e máquinas, afetando
toda a cadeia organizacional, uma vez que atinge a manufatura, o projeto, os produtos e as operações por meio de sistemas
que acessam dados em tempo real para realizar ações autônomas. Objeto de estudos recentes (Gentner, 2016; Qin, Liu &
Grosvenor, 2016; Roblek, Mesko & Krapez, 2016), constitui um campo de conhecimento que abrange Administração, Engenharia
e Ciência da Computação, entre outros, representando, de acordo com Bitkom, Vdma e Zvei (2016), Drath e Horch (2014),
Hermann, Pentek e Otto (2015), Kubinger e Sommer (2016) e Schwab (2016), uma Quarta Revolução Industrial, que emergiu
na Alemanha apoiada pelo governo federal.
Schwab (2016) caracteriza a Quarta Revolução Industrial como uma nova era tecnológica que implicará a robotização da
humanidade, transformando fontes tradicionais de significado como trabalho, família, comunidade e identidade. Para o
autor, os efeitos distributivos disso podem favorecer o capital, mas ele questiona se realmente interessará à humanidade um
mundo do “precariado”, que resultaria em uma grande fonte de agitação social e política. Antunes (2019) é menos otimista,
afirma que, no bojo dessa Quarta Revolução Industrial, emergiu a Indústria 4.0, que tende a realizar uma imbricação entre a
financeirização da economia e um neoliberalismo exacerbado, intensificando as tecnologias digitais no mundo da produção
nessa nova fase do capitalismo, na qual as formas de controle social serão reacomodadas.
Apresentando um ponto de vista técnico, Santos, Alberto, Lima e Charrua-Santos afirmam que (2018, p. 115) “[...] a Indústria 4.0
representa uma evolução natural dos sistemas industriais anteriores, de desde a mecanização do trabalho ocorrida no século
XVIII até a automação da produção nos dias atuais.” Com a evolução da automação e dos sistemas de informação por meio
do ERP (Enterprise Resource Planning) e do MES (Manufacturing Execution System), a produtividade nas fábricas melhorou
significativamente, mas ainda há uma lacuna na comunicação entre o nível ERP e o chão de fábrica, cuja solução pode estar
no aprimoramento da tomada de decisão em tempo real proporcionada pela Indústria 4.0, que promete (Kargermann, 2014;
Kargermann, Wahstler & Helbig, 2013) maior eficácia operacional e ganhos de produtividade, crescimento e competividade,
além do desenvolvimento de novos modelos de negócios, serviços e produtos.
De acordo com Hermann, Penteck e Otto (2016), a Indústria 4.0 é composta por:
• Sistemas Ciberfísicos (Cyber-Physical Systems [CPS]): integram os objetos físicos e seus modelos, representados em
redes, bem como serviços baseados nos dados disponíveis;
• Internet das Coisas (Internet of Things [IOT]): constrói uma rede de comunicação entre pessoas e dispositivos,
utilizando objetos de nosso cotidiano a fim de tornar a internet ubíqua;
• Internet de Serviços (Internet of Services [IOS]): utiliza a estrutura da internet para possibilitar a oferta e a demanda
de serviços;
• Fábricas Inteligentes: baseiam-se na conectividade da IOT e na disponibilização da IOS, gerenciando sistemas
complexos que integram máquinas e humanos em uma rede, cujas plantas têm suas demandas realizadas pelos
CPSs e se comunicam pela IOT.
Dessa forma, a Indústria 4.0 mobiliza conceitos como auto-organização, novos sistemas de distribuição e aquisição, novos
sistemas de desenvolvimento de produtos e serviços, adaptação das necessidades humanas e da responsabilidade social da
corporação (Lasi, Fettke, Kemper, Feld & Hoffmann, 2014). A Indústria 4.0 exigirá transformações na organização do trabalho
no que tange à flexibilização da produção para customização e redução de custos, bem como nas habilidades dos trabalhadores
diante das novas interfaces homem-máquina, que exigem reconhecimento de voz e gestos (Khan & Turowski, 2016).
Além disso, a Indústria 4.0 sustenta-se por nove pilares tecnológicos (Rübmann et al., 2015):
• Big data e análise de dados (obtidos, em massa, de diversas fontes e utilizados para decisões em tempo real);
• Robôs autônomos trabalhando ao lado de humanos;
• Simulação para tomada de decisão;
• Integração horizontal e vertical de sistemas que facilitam redes intercompanhias e automação;
• IOT mobilizada para obtenção de respostas em tempo real;
• Segurança cibernética;
• Nuvem;
• Fabricação de aditivos (produtos customizados e utilização de impressoras 3D); e
• Realidade aumentada, na qual a tomada de decisão e os procedimentos são auxiliados por uma grande variedade
de sistemas atuando conjuntamente.
Segundo Pereira e Simonetto (2018), uma publicação da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
[Firjan], 2016) evidenciou que o Brasil ainda se encontra entre a Segunda e Terceira Revolução Industrial – o setor automotivo
é o mais adiantado em relação à Indústria 4.0. Os desafios para a sua implantação no Brasil envolvem políticas e incentivos
governamentais estratégicos, postura proativa de empresários e gestores, além do desenvolvimento de tecnologias e
capacitação de profissionais alinhados com essa visão de indústria (Vermulm, 2018). Para Kupfer (2016), embora no Brasil o
debate ainda seja tímido e haja poucas iniciativas, além de a indústria nacional ainda se encontrar principalmente no estágio
2.0, a Indústria 4.0 é mais simples de ser implementada do que parece, porque se trata mais de escalagem e massificação do
uso de integração de tecnologias já disponíveis, e menos de desenvolvimento inovativo propriamente dito.
Do ponto de vista do desempenho operacional da Indústria 4.0, Tortorella, Fetterman, Giglio e Borges (2018) evidenciam
que, para pesquisadores como Marodin e Saurin (2013), Shah e Ward (2003), Jasti e Kodali (2016), as práticas enxutas e
sobrepostas aplicadas na organização e em sua cadeia de suprimentos trariam melhorias. No entanto, Tortorella et al. (2018)
examinam em sua pesquisa a relação entre a implementação de práticas de produção enxuta e da Indústria 4.0 para verificar
sua influência no desempenho operacional organizacional. Os autores concluem que ainda não é possível constatar uma
melhoria relevante, talvez devido a falhas de implementação e variáveis contextuais negativas. Assim, essa integração entre
as práticas de produção enxuta e as tecnologias da Indústria 4.0, que teoricamente possibilita maior flexibilidade e fluxo
de informações e vem sendo denominada “automação enxuta”, ainda precisa ser mais explorada, conforme afirmam Erol,
Schumacher e Sihn (2016) e Sanders, Elangeswaran e Wulfsberg (2016).
Por outro lado, Saltiél & Nunes (2017) evidenciam que a automação é uma forma de minimizar a dependência em relação aos
trabalhadores em um contexto no qual as relações capital e trabalho mostram-se cada vez mais instáveis, além de dispensar
suas habilidades. A Indústria 4.0 firma-se, dessa forma, como uma nova revolução industrial, uma vez que mobiliza três
elementos principais – rede de produção e de produto, ciclo de vida do produto e sistemas ciberfísicos –, resultando em ciclos
cada vez menores, que podem ser gerenciados técnica e economicamente.
Tessarini e Salltorato (2018) estudam a discussão na literatura dos impactos da Indústria 4.0 na organização do trabalho e
constatam o aumento do desemprego tecnológico, apontando a necessidade de novas competências para que sejam mantidas
as condições de empregabilidade. Além disso, verificam um aumento na interação homem e máquina, bem como transformações
nas relações socioprofissionais. Os pesquisadores apontam, ainda, baseados em Caruso (2018), que a tendência é de que o
poder de decisão e a autonomia dos trabalhadores diminuam, intensificando-se a redução da força de trabalho, a redução
dos direitos e garantias dos trabalhadores, bem como a concentração do capital e o monopólio das forças de produção, com
a crescente precarização das relações de trabalho e o aumento da hegemonia das máquinas.
Em síntese, podemos afirmar que a Indústria 4.0 representa:
• Uma manifestação da Quarta Revolução Industrial, que estabelece mudanças tecnológicas mediadas pela robotização
e inteligência artificial, implicando grandes transformações no campo produtivo e do trabalho, desdobrando-se, ainda,
em reelaboração dos efeitos distributivos nas sociedades, que reforçam um novo ciclo do capitalismo;
• Uma integração entre os sistemas ciberfísicos e a internet das coisas e de serviços, que promove um salto tecnológico
para habilitar a rede de operação de fábricas inteligentes, utilizando robôs autônomos e simuladores de decisão,
prescindindo cada vez mais da mão de obra humana;
• Um desafio em promover nos vários países, incluindo o Brasil, uma conexão entre os sistemas automatizados e
digitais da Indústria 3.0, que engendram a “automação enxuta” e as mediações da internet trazidas pela Indústria
4.0, promotoras de novas formas de produção e distribuição de produtos e serviços, bem como novos modelos de
negócios.
FORDISMO E PÓSFORDISMO
Ainda que o tema não tenha sido suficientemente explorado no campo da Teoria da Administração e Organizações, uma
vez que, como anteriormente mencionado, os estudos encontrados são predominantemente da área de Engenharia e
Administração da Produção e Ciência da Computação, alguns pesquisadores já começam a designar a Indústria 4.0 como um
“novo paradigma de produção” (Lima & Pinto, 2019; Silva et al., 2015), ou seja, uma nova lógica de produção, que recorre a
novas tecnologias e formas de organização.
No levantamento bibliográfico, destaca-se um artigo emblemático para a área de organizações, de Wood (1992), que comparou
os paradigmas clássicos de produção baseando-se na indústria automobilística: o fordismo, o toyotismo e o volvismo. Em geral,
o toyotismo, alicerçado no modelo japonês de administração, é considerado na literatura um modelo pós-fordista ou neofordista
de produção. Alves, Marx e Zilbovicius (1992), por exemplo, questionavam em sua época se as transformações introduzidas
nas linhas de produção industrial seriam de fato uma transformação radical do paradigma fordista ou se representariam
uma evolução gradual do mesmo paradigma. De acordo com Kupfer (2016), é possível fazer uma analogia entre a Indústria
4.0 com o que nos anos 1980 denominamos pós-fordismo, toyotismo, produção enxuta ou qualidade total – tecnologias
organizacionais que dizem respeito à forma como se produz. Para Tenório e Valle (2012), há um continuum entre fordismo e
pós-fordismo que abriga várias possibilidades e combinações tecnológicas, alternando rigidez e flexibilidade, de modo que
mais do que antítese, temos entre eles uma síntese, como evidenciam os autores utilizando como exemplo a “fábrica de
software”. Dessa forma, com base na literatura, podemos afirmar que, para além da ideia de inovação e transformação
de paradigmas, há uma espécie de continuum entre o fordismo, o pós-fordismo e a Indústria 4.0.
A emergência do fordismo tem estreitos laços com os princípios do taylorismo, que estabeleceu a clássica separação entre
planejamento e execução, bem como uma detalhada divisão do trabalho, para que houvesse ganhos de eficiência e produtividade
nas fábricas. Esses princípios obedecem a uma forte padronização de tempos e movimentos, a uma rigorosa separação entre
o trabalho manual e intelectual e ao controle de tempo de cada operação, dentre outras técnicas e processos de trabalho.
Esse modelo de produção estabeleceu-se como hegemônico até os anos 1970, tendo como ambiente para o seu desenvolvimento
o suporte das políticas macroeconômicas do keynesianismo. O fordismo, sobretudo, após a Segunda Guerra Mundial, garantiu
um dos mais longos períodos de crescimento estável do sistema capitalista, cuja duração foi de aproximadamente 30 anos,
quando, então, o modelo começou a dar sinais de esgotamento. Cabe observar ainda que, durante o período de expansão
do fordismo, os ganhos de produtividade do modelo foram, em boa parte, repassados para os assalariados, tanto de forma
direta, como aumento dos salários, quanto indireta, por meio do Estado do bem-estar social keynesiano (Lipietz, 1991).
Como já mencionamos, o modelo de gestão do fordismo também foi alvo de estudos no campo da Administração por trazer
inovações importantes para os ganhos de produtividade (Wood, 1992). Essas inovações permitiram reduzir o esforço humano
na montagem, aumentar a produtividade e diminuir os custos. Além disso, o modelo conseguiu reduzir drasticamente o tempo
de preparação das máquinas, possibilitando que elas executassem apenas uma tarefa por vez, pois eram colocadas em uma
sequência lógica; seu principal problema era a falta de flexibilidade. O fordismo, na visão de Harvey (1993), obteve êxito por
reconhecer que a produção de massa significava consumo de massa e gerou um novo tipo de organização do trabalho e da
sociedade.
Conforme apontamos, o sistema produtivo fordista começa a apresentar sinais de esgotamento a partir dos anos 1970. Na
visão de Antunes (1995), tratou-se de uma crise estrutural que se caracterizou pela queda na taxa de lucros, pelo desemprego
estrutural causado por uma retração do consumo e pela crise do Estado do bem-estar social. Tal crise ocorreu como
desdobramento da crise fiscal do Estado capitalista, que engendra o ideário de Estado mínimo neoliberal. Assim, a década de
1980 presenciou profundas transformações na estrutura produtiva com a inserção de novas tecnologias, como a automação,
a robótica e a microeletrônica. Trata-se de uma época de grande experimentação no mundo do trabalho, no qual o fordismo
e o taylorismo já não são únicos e misturam-se com outros processos produtivos chamados pós-fordistas.
Segundo Lipietz (1991), o modelo de produção pós-fordista, mais especificamente, o toyotismo, surgiu ao final da década de
1970, com a eclosão da chamada Terceira Revolução Industrial, implementada com a chegada ao poder de Margareth Thatcher,
na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos. Ambos preparam o terreno para o estabelecimento do Estado mínimo,
circundado por processos de privatização, terceirizações e ajustes fiscais. Este novo paradigma de produção apoiou-se sobre
os ombros do fordismo em crise, para dar vazão a uma revolução tecnológica no âmbito dos processos produtivos.
De um modo geral, Antunes (1995) relata que o toyotismo é um modelo de organização do trabalho que nasce na fábrica Toyota,
no Japão, e que se expandiu pelo Ocidente capitalista, tanto nos países avançados, quanto naqueles em desenvolvimento.
Seguindo essa lógica de argumentação, o modelo toyotista representou uma oposição à rigidez do modelo fordista, adotando
a especialização flexível na busca por novos padrões de produtividade, por novas formas de adequação da produção à lógica
do mercado. Como consequência, tem-se também a emergência de novas formas de gestão da força de trabalho, dentre
as quais os Círculos de Controle de Qualidade e a dita gestão participativa são expressões visíveis não só no Japão, mas em
vários países do mundo ocidental.
A expansão do pós-fordismo é acompanhada não somente da chamada especialização flexível na esfera da produção, mas
também do fim do Estado de bem-estar social e da busca frenética por flexibilização das relações de trabalho mediante práticas
de austeridade econômica neoliberais. Assim, no que diz respeito aos direitos trabalhistas, ocorre uma desregulamentação
objetivando uma adequação aos novos modos de organização do trabalho. Direitos e conquistas históricas dos trabalhadores
são substituídos e eliminados do mundo da produção.
Importa observar, aqui, que os modelos produtivos fordistas e pós-fordistas possuem íntima conexão com os avanços tecnológicos
ligados às chamadas Segunda e Terceira Revoluções Industriais (Lipietz, 1991), nos quais o uso dos recursos tecnológicos em
escala geométrica tem se transformado na própria força produtiva, em um patamar que busca cada vez mais a dispensa da
atividade humana. Como consequência, observa-se o aparecimento do desemprego estrutural, que extirpa postos de trabalho
e funções em favor da automação nos processos de trabalho.
Desse modo, conforme observa Antunes (1995, p. 26), para suprir as demandas mais individualizadas de mercado foi preciso
que a produção se sustentasse num processo produtivo flexível, que permitisse “[...] a um operário operar com várias
máquinas (em média cinco máquinas, na Toyota), rompendo-se com a relação de um homem/uma máquina que fundamenta
o fordismo”. Essa relação homem-máquina e o amplo uso da tecnologia, típica do fordismo e do pós-fordismo, encontra seu
ápice no que vem sendo estudado como Quarta Revolução Industrial, que faz emergir a Indústria 4.0, na qual a interação que
importa, em grande medida, é a “máquina-máquina” (M2M). Essa dinâmica M2M segue na direção do que chamaremos,
neste artigo, de ciberfordismo.
Considerando que há um continuum entre o fordismo, o pós-fordismo e a Indústria 4.0, procuramos caracterizar esta última
como manifestação de um novo paradigma de produção, que também emerge na indústria automobilística e denominaremos
ciberfordismo. Nosso intuito é discutir o ciberfordismo como um modelo “ultrafordista” de produção, no qual os preceitos
do fordismo são maximizados com o auxílio da automação, da cibernética e de outras características próprias da emergente
Indústria 4.0. Do ponto de vista econômico e social, conforme destaca Antunes (2020a), emerge uma nova morfologia do
trabalho, caracterizada por sua “invisibilidade”, implicando precarização dos vínculos e de novas formas de exploração
potencializadas pelo estágio ultraneoliberal do capitalismo.
Denominamos esse como o estágio ultraneoliberal do capitalismo, pois, de acordo com Dardot e Laval (2016), entre a década de
1980 e o momento atual, o neoliberalismo adquiriu novas facetas, extrapolando a política e a economia neoliberal para fundar
uma “sociedade neoliberal” que afeta radicalmente os sistemas de produção. O neoliberalismo, uma decantação do “novo
liberalismo” surgido na década de 1930, em sua fase “ultra” é fruto da consolidação de uma racionalidade que se desenvolveu
entre as décadas de 1980 e 1990 e fez emergir uma nova racionalidade governamental e empresarial, fundada nos seguintes
princípios para o Estado, que se torna um guardião do mercado: estabilidade da política econômica, estabilidade monetária,
mercados abertos e concorrência, propriedade privada, liberdade de contratos e responsabilidade dos agentes econômicos.
Surge assim o que Dardot e Laval (2016, p. 140) denominam “economia social de mercado”, oposta ao Estado de bem-estar,
na medida que responsabiliza individualmente os cidadãos por seu status social e incentiva o empreendedorismo. Assim, o
“[...] mercado é concebido [...] como um processo de autoformação do sujeito econômico, um processo subjetivo autoeducador
e autodisciplinador, pelo qual o indivíduo aprende a se conduzir”. Faz-se também uma passagem do capitalismo neoliberal
para o capitalismo financeiro, abrindo espaço para um “capitalismo improdutivo”, como assinala Dowbor (2017), cuja base
está na “financeirização da economia”, ou seja, em um capital “parado”, que, apesar de não ser utilizado nas redes produtivas,
acumula rendimentos por aplicações especulativas nos mercados de ações.
Recapitulando, de acordo com Wood (1992), o modelo fordista de produção, ao introduzir a linha de montagem, reduziu
o esforço humano empregado, aumentou a produtividade e diminuiu os custos, mas resultou na superespecialização do
trabalhador. Era um modelo de produção baseado nos princípios tayloristas e na ideia de mecanização, com uma interação
precisa entre homem e máquina, verticalização da produção e sistema de controle burocratizado.
Já o pós-fordismo envolve uma série de inovações técnicas que resultavam em uma dramática redução no tempo demandado
para alteração dos equipamentos de moldagem, possibilitando a relação entre “homem” e “várias máquinas”, bem como a
“flexibilização” da produção e o atendimento de um mercado consumidor que buscava diferenciação de produtos – por exemplo:
tornou mais barato produzir pequenos lotes de peças estampadas, diferentes entre si, do que grandes lotes homogêneos.
Além disso, reduziu custos de inventários (sistema just-in-time), possibilitou melhorias contínuas na produção e eliminou
problemas de qualidade, exigindo, no entanto, operários bem treinados e motivados. Na rede de suprimentos, ocorreu uma
horizontalização e descentralização, na medida em que eram utilizados muitos fornecedores em uma relação de parceria.
O que estamos denominando ciberfordismo, que parte da Indústria 4.0, é um modelo de produção que preserva as características
de flexibilização e busca de qualidade, bem como redução de custos, que exige, no entanto, novas interfaces entre homem-
máquina e máquina-máquina, retomando um padrão clássico fordista, uma vez que reduzem a necessidade do trabalho
qualificado e mesmo do próprio trabalho humano. Conforme aponta Toni (2019), no contexto da Indústria 4.0, com o uso de
processos altamente informatizados e robóticos e de sistemas de controle que centralizam os processos de gerenciamento,
as organizações podem passar a prescindir não só daqueles que realizam tarefas desqualificadas, mas mesmo daqueles que
têm um papel mais especializado. É como se o ideal mecanicista fordista pudesse, enfim, ser plenamente realizado com o
uso de robôs autônomos e simuladores de decisões.
Na visão de Kupfer (2016), esse ideal não está tão distante das organizações, já que não se trata de um desenvolvimento
inovativo, mas de escalagem da massificação da integração de tecnologias já disponíveis oriundas dos modelos pós-fordistas
de produção, que culminaram na Indústria 4.0. Saltiél e Nunes, por sua vez, também admitem que os sistemas ciberfísicos
minimizam a participação do trabalhador, que passa a realizar funções mais simples, o que é uma vantagem, uma vez que
não está sendo possível extrair voluntariamente o rendimento máximo da força de trabalho. O filme “Indústria Americana”,
documentário ganhador do Oscar 2020, produzido por Jeff Reichert e Julie Parker Benello e dirigido por Steven Bognar e Julia
Reichert (2019), evidencia isso com clareza ao mostrar que, na impossibilidade de obter dos trabalhadores estadunidenses o
mesmo rendimento que conseguiam com os chineses, os executivos da Fuyao passam a substituí-los por robôs autônomos.
De acordo com o que sugerem Hermann, Penteck e Otto (2016), as “fábricas inteligentes” recorrem à conectividade da IOT
e à disponibilidade da IOS para gerenciar sistemas complexos, que integram em rede máquinas e humanos por meio dos
CPSs. A palavra cyber, originária do termo cybernetics, significa uma “grande concentração de tecnologia avançada”, que
sintetiza o mote em torno desse novo paradigma de produção, denominado por nós como ciberfordismo, que simboliza
uma efetivação do intento último de mecanicismo fordista e representa um novo estágio do continuum dos paradigmas de
produção: o ultrafordismo.
São ainda praticamente inexistentes as referências ao ciberfordismo na literatura acadêmica, de modo que estamos nos
arriscando a inseri-lo no debate e caracterizá-lo. Nossa pesquisa na internet e nos bancos bibliográficos com a palavra-chave
“ciberfordismo” (Portal Capes, Google Acadêmico, Ebsco, Scopus Elsevier) resultou em um único trabalho que usa esse
termo: a resenha de Toni (2019) – uma análise do livro de Astrologo, Suborne e Terna (2019) – utiliza o termo em um sentido
similar ao que estamos apresentando. Seu argumento é de que, por um lado, a Indústria 4.0 abandona o clássico modelo
taylorista-fordista com base na hierarquia e na superespecialização de tarefas; mas, por outro, maximiza a memória de Taylor
com um modelo ciberfordista que implica o uso da inteligência artificial para realizar esse controle hierárquico e da cadeia
de decisão com grande eficiência e drástica redução dos custos de mão de obra.
O diferencial dos sistemas de inteligência artificial, próprios da Indústria 4.0, está no uso de máquinas inteligentes que podem
reorganizar a força de trabalho material e intelectual até mesmo substituindo os seres humanos em tarefas mais complexas. Nesse
contexto, Astrologo, Suborne e Terna (2019) preveem a emergência de um subproletariado destinado a trabalhos ocasionais e
desqualificados, que não podem ser realizados por máquinas, e a substituição de técnicos e trabalhadores que desempenhavam
funções de gerenciamento e tarefas especializadas por máquinas inteligentes e sistemas de controle generalizados.
Assim, do compromisso fordista com viés keynesiano conectando a produção e o consumo em massa com apoio do Estado de
bem-estar social, cujo auge ocorreu na década de 1960, passamos pelo pós-fordismo de inspiração neoliberal, envolvendo a
flexibilização da produção e intensa terceirização dos processos de trabalho, com desmonte do aparato estatal previdenciário
nos países ocidentais para alcançar o estágio ultraneoliberal ciberfordista, delimitado pela Indústria 4.0. Este estágio mobiliza,
como apontou Antunes (2020a), um proletariado fabril e de serviços precarizados, de período parcial e vínculo temporário,
bem como um proletariado informal – um segmento de trabalhadores conhecidos hoje como “uberizados” (por exemplo,
entregadores de produtos, motoristas de aplicativos). Ambos são afetados pelos seguintes elementos formativos: a ideologia
neoliberal, que destrói a legislação protetora trabalhista, privilegiando o mercado, e uma revolução tecnológica voltada para
o capital e não para a humanidade.
Dessa forma, o ideário da Indústria 4.0 atinge tanto o setor industrial quanto o de serviços, alcançando os trabalhadores no
home office e também os prestadores de serviços precarizados gerenciados pelas “plataformas digitais”. No caso brasileiro,
a despeito dos avanços no setor industrial, as pesquisas demonstram que permanecem ainda os paradigmas 2.0 e 3.0. No
entanto, tal ideário vem se enraizando de forma acelerada no setor de serviços com as novas tecnologias de informação e
comunicação. Antunes (2020b) denomina essa fase como de hegemonia informacional-digital e ciberindustrial, permeada
por um discurso de “empreendedorismo” que está edificando uma nova engenharia social para reduzir ao máximo o trabalho
humano necessário à produção e substituí-lo por novas tecnologias digitais que engendram a “internet das coisas”, o big data
e a inteligência artificial, promovendo uma “desantropormofização do trabalho”, na medida em que subordina o trabalho
real à “máquina-ferramenta-informacional”.
Em síntese, é possível apresentar o seguinte comparativo dos paradigmas de produção (Quadro 1) – fordismo, pós-fordismo
e ciberfordismo –, para auxiliar na visualização das diferenças e continuidades entre eles.
Quadro 1
Comparativo: fordismo, pós-fordismo e ciberfordismo
Fordismo Pós-Fordismo Ciberfordismo
Homem-Máquina Homem-Máquinas Máquina-Máquina
Nível de mecanicismo
Rigidez Flexibilidade Integração Sistêmica
Superespecialização da
Nível da mão de obra Especialização da mão de obra Automação da mão de obra
mão-de-obra
Relação entre operários Separação entre trabalho Conexão entre trabalho manual/ Conexão entre trabalho
e gerentes manual e trabalho intelectual automatizado e trabalho intelectual automatizado e inteligência artificial
Relação capital-trabalho Regulamentação do trabalho Desregulamentação do trabalho Pós-trabalho
Paradigma industrial Indústria 1.0 e 2.0 Indústria 3.0 Indústria 4.0
Keynesianismo Neoliberalismo Ultraneoliberalismo
Paradigma econômico
Estado do bem-estar social Estado mínimo Estado guardião do mercado
Fonte: Elaborado pelos autores.
Ao apontar uma transição da “desregulamentação do trabalho” para o “pós-trabalho”, estamos demarcando um momento
em que a terceirização, a informalidade, a flexibilidade, a intermitência e a precarização atingem seu ápice, descaracterizando
a noção clássica de trabalho assalariado e regulado pela proteção social do Estado, para dar lugar ao que Antunes (2020b)
conceitua como uma “subsunção real do trabalho ao capital”. Nesse contexto, o ultraneoliberalimo estabelece-se e busca
promover uma quase desaparição do Estado, que não atua mais como um regulador para manutenção do bem-estar social,
mas como um guardião assumido dos interesses do mercado, como apontam Dardot e Laval (2016).
Assim, apesar de cada paradigma apresentar características peculiares, é possível notar um continuum entre o fordismo,
o pós-fordismo e o ciberfordismo, pois fica evidente que cada um representa um estágio do processo de aceleração da
Revolução Industrial na direção de uma maior mecanização e desregulamentação do trabalho, sempre de acordo com
as novas faces do capitalismo e do paradigma industrial e econômico vigente. Recordando Tragtenberg (1974) e Paes de
Paula (2002), as inexoráveis harmonias administrativas seguem seu curso na teoria e prática da gestão, pois, independentemente
do paradigma de produção, perpetuam-se os mecanismos diretos e indiretos de controle social, que garantem a produtividade
e a ordem nas relações no mundo do trabalho.
CONCLUSÕES
Neste artigo, nosso objetivo foi abordar a Indústria 4.0 como manifestação de um novo paradigma de produção, o ciberfordismo,
destacando suas características e seu alinhamento com o estágio ultraneoliberal do capitalismo. Para isso, delimitamos o
que é a Indústria 4.0, ressaltando suas relações com a aceleração da automação industrial e da utilização da internet e
inteligência artificial nos processos decisórios. Também debatemos como ocorreu a evolução do fordismo e do pós-fordismo,
que se entrelaçam, respectivamente, com o compromisso keynesiano e a flexibilização neoliberal, objetivando demarcar o
ciberfordismo como manifestação do estágio ultraneoliberal do capitalismo. Discutimos, então, o paradigma ciberfordista
como uma vanguarda renovada do pensamento taylorista-fordista, que, ao maximizar seus propósitos, alcança a realização
do sonho mecanicista: tornar dispensáveis tanto a mão de obra fabril, quanto a intervenção gerencial.
Apresentando um quadro sintético com as características do fordismo, do pós-fordismo e do ciberfordismo, evidenciamos que
há um continnum entre esses paradigmas de produção, na medida em que representam fases da aceleração dos processos de
mecanização e da própria desregulamentação do trabalho. Além disso, os paradigmas de produção refletem visões de mundo
que se desdobram em dinâmicas sociais, econômicas e políticas próprias de suas épocas, sem romper com o pressuposto das
ideologias e harmonias administrativas responsáveis pelo controle social do trabalho e de sua inserção no contexto produtivo,
como demarca o pensamento tragtenberguiano.
Podemos ainda concluir que o ciberfordismo também é uma manifestação das visões de como se disseminam as novas
tecnologias que substituem o trabalho humano, as quais Toni (2019) denomina como tecno-otimistas ou tecno-pessimistas.
De um modo geral, o progresso social e econômico tem como justificativa melhorar as condições de vida dos seres humanos,
fazendo referência à visão utópica de que a evolução das relações de produção e das tecnologias poderiam levar a uma
liberação do trabalho e à emancipação dos sujeitos. No entanto, da forma como atualmente se apresenta, conjugado ao
ultraneoliberalismo, o ciberfordismo parece contribuir muito mais para a eliminação de empregos e a precarização das relações
de trabalho, sem que ocorra uma contrapartida de liberação da mão de obra fabril e gerencial para outras ocupações, sejam
elas produtivas, sociais, políticas e artísticas, que correspondam a uma remuneração necessária a uma sobrevivência digna.
Notamos que, especificamente no caso brasileiro, conforme constatamos na literatura, há muitos desafios para que se
alcancem os níveis esperados da Indústria 4.0, pois ainda nos encontramos em estágios anteriores da Revolução Industrial.
Embora alguns pesquisadores acreditem que as condições de automação e integração de sistemas já existam, sendo uma
questão de articulação e planejamento, o fato é que nossa indústria ainda não apresentou plenamente, em vários casos, os
ganhos de produtividade esperados das transformações tecnológicas. Apesar disso, no setor de serviços, esse ideário vem se
estabelecendo. No campo das relações de trabalho, observamos a preparação do terreno para uma abordagem ultraneoliberal
nos discursos e ações governamentais, assim como nos setores industriais, que estão resultando em reformas cujo resultado
foram desregulamentação dos contratos de trabalho e redução de postos de emprego.
No momento em que elaboramos esse texto, o mundo está enfrentando a pandemia causada pelo coronavírus, resultando em
isolamento e afastamento social, bem como longos períodos de quarentena para diminuir o ritmo das infecções. O fenômeno
nos colocou diante do desafio de implementar de forma acelerada o teletrabalho, o ensino à distância e todos os formatos
remotos de atividades que se utilizam de tecnologias de informação como maneira de evitar o contato entre as pessoas. As
consequências da pandemia ainda são imprevisíveis, mas é possível especular que contribua para engendrar os processos
típicos da Indústria 4.0, em especial a automação e o uso da inteligência artificial nas decisões.
Consideramos que este trabalho, por se tratar de um artigo teórico, alcançou seu objetivo. Discutimos o que foi proposto: as
características de um novo paradigma de produção – o ciberfordismo – e suas repercussões nas esferas produtivas, econômicas
e sociais no domínio do ultraneoliberalismo. Além disso, este artigo também cumpre o papel proposto de suprir uma lacuna
didática e pedagógica, auxiliando os docentes que atuam em disciplinas de teoria da administração e das organizações em
suas discussões em sala de aula; este é o principal público para o qual endereçamos o presente texto.
Ainda são escassos os estudos sobre o assunto, conforme constatamos na literatura e na investigação realizada, de modo que,
para futuras pesquisas, recomendamos aos investigadores debates em trabalhos sobre nossas proposições, tanto teóricos
quanto empíricos, abordando indústrias e organizações de prestação de serviços; bem como centros de investigação nas
universidades e pesquisadores voltados ao tema. A Indústria 4.0 traz mais benefícios que prejuízos? Trata-se realmente de
uma nova revolução industrial? O ciberfordismo é, de fato, um novo paradigma de produção? Dirigimos, aqui, tais questões
à comunidade acadêmica da área, que pode prosseguir esse debate e apresentar suas possíveis divergências.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPQ, pelo apoio financeiro e bolsa produtividade concedida à Profa. Ana Paula Paes de Paula, que viabilizou a pesquisa
que originou esse artigo.
REFERÊNCIAS
Alves, A. G., Filho, Marx, R., & Zilbovicius, M. (1992). Fordismo e Jasti, N., & Kodali, R. (2016). An empirical study for implementation
Novos Paradigmas de Produção: Questões sobre a transição no of lean principles in Indian manufacturing industry. Benchmarking:
Brasil. Produção, 2(2), 113-124. An International Journal, 23(1), 183-207.
Anderl, R. (2014). Industrie 4.0 – Advanced Engineering of Smart Kargermann, H. (2014). Chancen von Industrie 4.0 nutzen. In T.
Products and Smart Production. In Proceedings of 19º International Bauernhansl, M. Hompel & B. Vogel-Heuser (Eds.), Industrie 4.0 in
Seminar on High Technology, Piracicaba, SP. Production, Automatisierung and Logistik. (pp. 603-614). Wiesbaden,
Germany: Springer Vieweg.
Antunes, R. (1995). Adeus ao Trabalho. São Paulo, SP: Universidade
Estadual de Campinas. Kargermann, H., Wahlster, W., & Helbig, J. (2013). Recommendations
for implementing the strategic initiative Industrie 4.0 – Securing the
Antunes, R. (2019). Riqueza e miséria no Brasil IV. São Paulo, SP: future of German manufacturing industry (Final Report of the Industrie
Boitempo. 4.0 Working Group). Recuperado de https://www.bibsonomy.org/
bibtex/25c352acf1857c1c1839c1a11fe9b7e6c/flint63
Antunes, R. (2020a). O privilégio da servidão. O novo proletariado
de serviços na era digital. São Paulo, SP: Boitempo. Khan, A., & Turowski, K. (2016). A survey of current challenges to
opportunities and preparation for Industry 4.0. In Proceedings of
Antunes, R. (2020b). Trabalho intermitente e uberização do trabalho
the First International Scientific Conference “Intelligent Information
no limiar da Indústria 4.0. In R. Antunes (Org), Uberização, Trabalho
Technologies for Industry, Sochi, Russia.
Digital e Indústria 4.0 (pp. 9-22). São Paulo, SP: Boitempo.
Kubinger, W., & Sommer, R. (2016). Fourth industrial revolution-impact
Assad, A., Neto, Pereira, G. B., Drozda, F. O., & Santos, A. P. L. (2018). of digitalization and Internet on the industrial location. Elektrotechnik
A busca de uma identidade para a Indústria 4.0. Brazilian Journal of und Informationstechnik, 133(7), 330-333.
Development, 4(4), 1379-1395.
Kupfer, D. (2016, agosto 08). Indústria 4.0 Brasil. Valor Econômico.
Astrologo, D., Surbone, A., & Terna, P. (2019). Il lavoro e il valore Recuperado de https://valor.globo.com/opiniao/coluna/industria-
all’epoca dei robot. Intelligenza artificiale e non-occupazione. Meltemi, 4-0-brasil.ghtml
Greece: Milano.
Lasi, H., Fettke, P., Kemper, H. G., Feld, T., & Hoffmann, M. (2014).
Bitkom, e.V., Vdma, e.V., & Zvei, e.V. (2016). Implementation strategy Industry 4.0. Business & Informations Systems Enginnering, 6(4),
Industrie 4.0: report on the results of the Industrie 4.0 plataform. 239-242.
Berlin, Germany: autor.
Lima, A. A., & Pinto, G. S. (2019). Indústria 4.0: um novo paradigma
Caruso, L. (2018). Digital innovation and the fourth industrial revolution: para a indústria. Interface Tecnológica, 16(2), 299-311.
epochal social changes? AI & Society, 33, 379-392.
Lipietz, A. O. (1991). Audácia: uma alternativa para o século XXI.
Dardot, P., & Laval, C. (2016). A nova razão do mundo. Ensaio sobre São Paulo, SP: Nobel.
a sociedade neoliberal. São Paulo, SP: Boitempo. Marodin, G., & Saurin, T. (2013). Implementing lean production systems:
Dowbor, L. (2017). A era do capital improdutivo. São Paulo, SP: research areas and opportunities for future studies. International
Autonomia Literária. Journal of Production Research, 51(22), 6663-6680.
Drath, R., & Horch, A. (2014). Industrie 4.0: Hit or hype? Industrial Oesterreich, T. D., & Teuteberg, F. (2016). Understanding the
Eletronics Magazine, 8(2), 56-58. implications of digitisation and automation in the context of Industry
4.0: A triangulation approach and elements of a research agenda
Erol, S., Schumacher, A., & Sihn, W. (2016). Strategic guidance for the construction industry. Computers in Industry, 83, 121-139.
towards Industry 4.0 – a three-stage process model. In Proceedings of
Paes de Paula, A. P. (2002). Tragtenberg revisitado: as inexoráveis
International Conference on Competitive Manufacturing, Stellenbosch,
harmonias administrativas e a burocracia flexível. Revista de
South Africa.
Administração Pública, 36(1), 127-144.
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. (2016). Indústria
Pereira, A., & Simonetto, E. O. (2018). Indústria 4.0: Conceitos e
4.0. Panorama de Inovação. Recuperado de https://www.firjan.com. perspectivas para o Brasil. Revista Universidade Vale do Rio Verde,
br/publicacoes/publicacoes-de-inovacao/industria-4-0-1.htm 16(1), 1-9.
Gentner, S. (2016). Industry 4.0: Reality, Future or just Science Fiction? Piccarozzi, M., Aquilani, B., & Gatti, C. (2018). Industry 4.0 in
How to Convince Today’s Management to Invest in Tomorrow’s Management Studies: A Systematic Literature Review. Sustainability,
Future. CHIMIA International Journal for Chemistry, 70(9), 628-633. 10, 1-24.
Harvey, D. (1993). A Condição Pós-Moderna (13a ed.). São Paulo, Qin, J., Liu, Y., & Grosvenor, R. (2016). A Categorical Framework of
SP: Edições Loyola. Manufacturing for Industry 4.0 and beyond. Procedia CIRP, 52, 173-178.
Hermann, M., Pentek, T., & Otto, B. (2016). Design principles for Reichert, J. (Produtor), Benello, J. P. (Produtor), Bognar, S. (Diretor), &
Industrie 4.0 scenarios. In 49º Hawaii International Conference on Reichert, J. (Diretor). (2019). American Factory. Culver City, California:
Systems Science, Hawaii, EUA. Higher Ground Productions.
Roblek, V., Mesko, M., & Krapez, A. (2016). A Complex View of Industry Silva, R. M., Santos, D. J., Filho, & Myagi, P. E. (2015). Modelagem
4.0. SAGE Open, 6(2), 1-11. de Sistema de Controle da Indústria 4.0 baseada em Holon, Agente,
Rede de Petri e Arquitetura orientada a serviços. In 12º Simpósio
Rübmann, M., Lorenz, M., Gerbert, P., Waldner, M., Justus, J., Engel,
Brasileiro de Automação Inteligente, Natal, RN.
P., … Harnisch, M. (2015). Industry 4.0: The future of productivity
and growth in manufacturing industries. Boston Consulting Group. Tenório, F., & Valle, R. (2013). Fábrica de Software. Rio de Janeiro,
Recuperado de https://www.bcg.com/pt-br/publications/2015/ RJ: EdFGV.
engineered_products_project_business_industry_4_future_
productivity_growth_manufacturing_industries Tessarini, G., Jr., & Saltorato, P. (2018). Impactos da Indústria 4.0
na organização do trabalho: uma revisão sistemática da literatura.
Saltiél, R. M. F., & Nunes, F. L. (2017). A Indústria 4.0 e o Sistema Revista Produção Online, 18(2), 743-769.
Hyundai de produção: suas interações e diferenças. In 5º Simpósio
de Engenharia de Produção, Joinville, SC. Toni, G. (2019). Nemico (e) immaginario. L’Intelligenza artificiale
tra timori e utopie. Recuperado de https://www.carmillaonline.
Sanders, A., Enlangeswaran, C., & Wulfsberg, J. (2016). Industry 4.0 com/2019/10/24/nemico-e-immaginario-lintelligenza - artificiale-
implies lean manufacturing: research activities in Industry 4.0 function tra-timori-e-utopie/
as enablers for lean manufacturing. Journal of Industrial Engineering
and Management, 9(3), 811-833. Tortorella, G. L., Fetterman, D., Giglio, R., & Borges, G. A. (2018).
Implementação da produção enxuta e Indústria 4.0 em empresas
Santos, B. P., Alberto, A., Lima, T. D. F., & Charrua-Santos, F. M. B. brasileiras de manufatura. Revista Empreender e Inovar, 1(1), 1-18.
(2018). Indústria 4.0. Desafios e Oportunidades. Revista Produção
e Desenvolvimento, 4(1), 111-124. Tragtenberg, M. (1974). Burocracia e Ideologia. São Paulo, SP: Ática.
Schwab, K. (2016). A quarta revolução industrial. São Paulo: Edipro. Vermulm, R. (2018). Políticas para o desenvolvimento da Indústria
4.0 no Brasil. Brasília, DF: IEDI.
Shah, R., & Ward, P. (2003). Lean manufacturing: context, practice
bundles, and performance. Journal of Operations Management, Wood, T., Jr. (1992). Fordismo, Toyotismo e Volvismo: os caminhos
21(2), 129-149. da indústria em busca do tempo perdido. Revista de Administração
de Empresas, 32(4), 6-18.
Sigahi, T. F. A. C., & Andrade, B. C. A, (2017). Indústria 4.0 na perspectiva
da Engenharia de Produção no Brasil: Levantamento e síntese de Zawadzki, P., & Żywicki, K. (2016). Smart product design and production
trabalhos publicados em congressos nacionais. In 37º Encontro control for effective mass customization in the Industry 4.0 concept.
Nacional de Engenharia de Produção, Joinville, SC. Management and Production Engineering Review, 7(3), 105-112.
RESUMO
Partindo de um contexto histórico, se pode observar que a luta das mulheres por igualdade
de direitos com os homens ficou conhecido como feminismo. Esse movimento em seus
primórdios não englobavam as mulheres negras que viram seus interesses serem levados
em consideração somente quando o movimento feminista negro ganhou proeminência em
meados do século XX. (PINTO, 2010). Outra pauta de luta das mulheres diz respeito a
maior participação e mais direitos no mercado de trabalho, onde as mulheres buscam,
entre outras coisas, equiparar seus salários aos dos homens. Em sua luta pela
sobrevivência e em tempos de crise financeira, o empreendedorismo pode ser uma saída
para o sustento de muitas famílias. A pesquisa visa contribuir para a compreensão dos
desafios enfrentados pela mulher negra na economia de Rio Grande, bem como busca dar
visibilidade a essa parcela da população historicamente excluída das políticas públicas.
Nessa pesquisa, verificou-se que as mulheres aqui entrevistadas enfrentam diversas
dificuldades para abris e manter seus negócios. Dificuldades tais como: falta de recursos
financeiros para investir, ter que abrir mão de acompanhar o crescimento dos filhos em
função do excesso de trabalho, sofrer preconceito dos clientes em função dos estereótipos
a que estão sujeitas na sociedade, etc.
ABSTRACT
Starting from a historical context, it can be observed that women's fight for equal rights
with men became known as feminism. This movement in its early days did not include
black women, whose interests were only taken into consideration when the black feminist
movement gained prominence in the mid-twentieth century. (PINTO, 2010). Another
struggle of women concerns greater participation and more rights in the labor market,
where women seek, among other things, to equalize their wages to those of men. In their
struggle for survival and in times of financial crisis, entrepreneurship can be a way out
for the sustenance of many families. The research aims to contribute to the understanding
of the challenges faced by black women in the economy of Rio Grande, as well as to give
visibility to this part of the population historically excluded from public policies. In this
research, it was verified that the women interviewed here face several difficulties in
opening and maintaining their businesses. Difficulties such as: lack of financial resources
to invest, having to give up following the growth of their children due to excessive work,
suffering prejudice from clients due to the stereotypes they are subject to in society, etc.
1 INTRODUÇÃO
As mulheres há tempos lutam para conquistar seus espaços em lugares que antes
eram exclusivamente ocupados por homens. As reinvindicações das mulheres por
igualdades de direitos têm como um importante marco a luta pelo sufrágio universal, ou
seja, a luta pelo direito de votar e poder escolher seus representantes (PINTO, 2010).
Essas lutas históricas das mulheres oportunizou o surgimento do chamado feminismo.
Esse movimento começou a ser disseminado por volta de 1920 não acolhia as mulheres
negras (ANUNCIADA, 2015), as mesmas puderam ver seus interesses serem levados em
consideração somente quando o movimento negro ganhou proeminência em meados do
século XX. (DOMINGUES, 2007).
Outra pauta de luta das mulheres diz respeito à igualdade de direitos no mercado
de trabalho, onde buscam equiparar seus salários aos dos homens. Em sua caminhada pela
sobrevivência e em tempos de crise econômica e política como o Brasil vive atualmente
o empreendedorismo pode ser uma saída para o sustento de muitas famílias. Segundo
Hirish e Peters (2004), o empreendedorismo é uma maneira de conceber alguma coisa
nova se conscientizando dos riscos inerentes aos esforços para gerar riqueza, promovendo
e agregando valor a algum serviço ou produto.
De acordo com Davis (2016), as mulheres negras, historicamente, por não serem
absorvidas pelo mercado de trabalho necessitavam buscar formas de subsistência
oferecendo serviços de lavagem de roupas, de vendas de comidas, de cabelereiras, de
costureiras, etc. Essa condição de exclusão dos postos formais de trabalho pressionaram
as mulheres negras a empreenderem pequenos negócios para o sustento da família. Isso
porque, conforme a autora, tradicionalmente muitas famílias negras são sustentadas por
mulheres já que era muito comum o abandono da família pelo homem. A mulher negra,
de acordo com a literatura especializada, abarca em si mesma, várias formas de
identidades de minorias sociais por meio da denominada interseccionalidade. Esse
conceito fica evidente ao pensarmos que a mulher negra carrega consigo outras categorias
como gênero, raça e classe, configurando na matriz: mulher/negra/pobre conforme o
entendimento de Cardoso (2012).
Diante do exposto, a presente pesquisa tem como propósito analisar os desafios
sociais e econômicos enfrentados pelas mulheres negras empreendedoras na cidade de
Rio Grande.
Esse trabalho pretende contribuir para os estudos sobre gênero e raça no campo
disciplinar dos estudos organizacionais. Isso posto, em uma pesquisa realizada em alguns
dos principais periódicos da área de administração: Revista de Administração
Contemporânea (RAC), Organização e Sociedade (O&S), Revista de Administração de
Empresas (RAE), Revista de Administração da USP, Cadernos Ebape, Brazilian Journal
of Development; com as palavras-chave: mulher negra e estudos organizacionais;
mulheres negras empreendedoras obtivemos como o retorno de 23 artigos, dos quais
apenas dois abordam diretamente a temática de raça e gênero.
Não obstante, no contexto dos estudos brasileiros, destacam-se algumas
importantes pesquisas no que diz respeito às identidades de raça e classe (NUNES et al,
2021 e TEIXEIRA et al., 2016); gênero e sexualidade (CERQUEIRA; SOUZA, 2015;
SOUZA, 2009); gênero, raça e classe (TEIXEIRA; SARAIVA; CARRIERI, 2015).
Depreende-se disso, com a ajuda de Conceição (2009), que os estudos sobre mulheres
negras ainda são muito escassos nos estudos organizacionais. Assim, partindo dessas
considerações justifica-se a importância desse trabalho que pretende trazer reflexões
sobre o tema para o ambiente acadêmico da área de administração. Além disso, busca
um diálogo com as mulheres negras empreendedoras, no intuito de lhes dar voz e
visibilidade, bem como auxiliá-las na compreensão de sua realidade.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 FEMINISMO NEGRO
As mulheres negras empreendem seus próprios negócios desde o fim do período
da escravização em meados do século XIX. Em muitas situações essas mulheres não
conseguiram espaço no mercado de trabalho devido à discriminação e a invisibilidade a
qual eram submetidas, sobrando para elas, em consequência, os serviços de empregadas
domésticas. Desse modo, quando não arranjavam empregos formais utilizavam formas
criativas de subsistência para o sustento da família, vendendo comida de porta em porta
do marido ou companheiro. Quase 70% dessas famílias naquele momento eram mães,
18% mulheres sozinhas, 10% mulheres sem filhos que coabitavam com outra pessoa. A
maior parte dessas famílias - 56,2% - conserva uma renda total de menos de um salário
mínimo, ocasionando as piores condições de renda entre as famílias chefiadas por
mulheres.
Em 2009, no Brasil, a categoria de serviços domésticos era composta cerca de
90% por mulheres (COSTA, 2013, 471), “destas 61,6% eram negras e 38,4% eram
brancas”. Esta forma de trabalho tem sido lembrada pelo desamparo legal e pelas
deficientes condições de trabalho, com cerca de “3/4 das empregadas domésticas não
dispõem de carteira assinada, um direito conquistado em 1972” (COSTA, 2013 p.472).
Quando o mercado de trabalho não acolhe a mulher negra para os serviços
domésticos, muitas dessas mulheres precisam sustentar suas famílias e veem a saída no
empreendedorismo(MACHADO, 2017 p.6). Ainda nos dias de hoje no quesito salário as
mulheres negras recebem valores inferiores aos homens negros apontando tal disparidade
é notável a discriminação tanto de gênero quanto de raça independente da classe
econômica. Essas mulheres abrem seus empreendimentos com o intuito de satisfazer as
necessidades dos clientes no nicho de mercado no qual pretendem explorar. Em alguns
casos as empreendedoras exploram linhas de produtos voltados suas etnias com o enfoque
a afirmação da identidade enquanto mulher negra (ARMAN, 2015).
trabalho passou a ser um problema para o poder público brasileiro, pois a informalidade
terminou se associando a marginalidade. O conceito de trabalho informal é explicado
partindo de duas teorias a primeira teoria era a teoria da modernização ao qual acreditava
sobre a acumulação de capitais dos países em desenvolvimento fornecia uma base
empregatícia relevantemente instável, sendo que essa instabilidade era percebida como
transitória. Corroborando com a teoria da modernização é apresentada a teoria sobre o
trabalho informal sendo sinônimo de marginalização, pois “enfatizando as consequências
do processo de modernização das economias dos países em desenvolvimento acarretavam
uma estratificação social”. (DRUCK; OLIVEIRA, 2008 P.2).
Salienta-se a respeito da ideia passada pelo poder publico sobre os trabalhadores
informais estariam predestinados a casos de trabalhos marginalizados no futuro, pois os
optantes do trabalho informal, não desempenhariam um papel relevante na sociedade,
logo não poderiam favorecer o poder público. (DRUCK; OLIVEIRA, 2008). Nos anos
1980 aconteceram mudanças na maneira de pensar informalidade no âmbito do trabalho.
Os autores explicam sobre a crise do fordismo ser o estopim para a reflexão sobre
trabalho informal, discutidos de maneira inicial em âmbito internacional para depois ser
pensado aqui no Brasil. Deixando de ser um problema restrito aos quesitos
socioeconômicos dos países em desenvolvimento. (DRUCK; OLIVEIRA, 2008). Dessa
maneira há uma expansão do trabalho informal com sua ampliação em diversos nichos de
mercado, sendo crescente o número de adeptos a essa forma de ocupação oferecida no
mercado de trabalho. Portanto, o “trabalho informal é a expressão máxima do trabalho
flexível, cuja única chance de estabilidade para o trabalhador é a sua própria
“empregabilidade” (DRUCK; OLIVEIRA, 2008 P. 6) a forma do individuo poder gerar
meios de subsistência em uma realidade incerta e em um mercado de trabalho incerto.
O empreendedorismo entra como solução de um problema financeiro e de
sobrevivência atuando forma imediata aos desempregados, trabalhadores que estão na
informalidade, mas também os trabalhadores que estão nos subempregos logo
trabalhadores sujeitos ao processo de precarização do trabalho (CASTRO; NUNES,
2014).
O empreendedorismo na visão de Castro e Nunes (2014, P. 131), vai ao encontro
dos anseios do capitalismo quando busca sustentar o discurso oficial de que o
"empreendedorismo consiste em ótima oportunidade que o trabalhador tem para tornar-
se empresário, como forma de solucionar três questões ao mesmo tempo: seu desemprego,
sua exclusão e sua cidadania perdida".
3 METODOLOGIA
De acordo com Lakatos e Marconi (2015), os procedimentos metodológicos
representam o conjunto de atividades racionais e sistemáticas que permitem alcançar com
maior segurança o objetivo de pesquisa. Assim, este estudo, do ponto de vista teórico e
metodológico é uma pesquisa qualitativa, de corte temporal transversal, pois se abordou
o universo de pesquisa em um determinado contexto sócio histórico em um dado período
de tempo. No caso aqui proposto, o campo empírico foi a cidade de Rio Grande (Rio
Grande do Sul) no ano de 2017.
Denzin e Lincoln (2006, p. 17), observam que a pesquisa qualitativa é um campo
de investigação, que envolve a coleta de uma variedade de materiais empíricos e dessa
maneira tende a não privilegiar uma única prática metodológica em relação a outra. Para
as autoras “a pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no
mundo”. Assim, a pesquisa qualitativa, não se baseia em critérios numéricos para garantir
sua representatividade, sendo o critério mais importante, nesse tipo de pesquisa, a
compreensão dos diferentes pontos de vista que se encontram demarcados em um
contexto.
Os dados de pesquisa foram coletados no período de agosto a novembro de 2017.
Esse processo ocorreu por meio de entrevistas semiestruturadas com três mulheres negras
empreendedoras em diferentes dias, respeitando a disponibilidade das entrevistadas. As
entrevistas foram gravadas na integra com o consentimento das pesquisadas e duraram
em média 20 minutos; na sequência elas foram transcritas de forma literal. As entrevistas
tiveram como objetivo compreender a história de vida dessas mulheres, bem como poder
identificas os desafios sociais e econômicos enfrentados por elas ao empreenderem seus
negócios.
4.1 CAMILA
Camila tem 46 anos, é casada e atua no ramo da costura há 23 anos. Teve
experiências de trabalhos anteriores como empregada doméstica e em uma empresa de
pescados sendo que anos depois encontrou no ramo da costura sua profissão. O interesse
pela área de costura, relata Camila, ocorreu quando a mesma foi morar na cidade de
Florianópolis-SC, onde encontrou um mercado de trabalho restrito em termos de
oportunidades de emprego.
Com o decorrer do tempo, Camila se matriculou em um curso profissionalizante
na área de corte e costura no qual encontrou uma alternativa para vencer o desemprego.
O curso teve a duração de um ano, porém antes do término do curso a mesma conseguiu
um emprego em um atelier de costura. Nas palavras de Camila: "em seguida comecei a
Ainda tem o curso dela eu fiquei lá durante muito tempo lá que eu fui me
aperfeiçoando mais eu fui fazer o curso de costura. É uma área muito grande
né, tu faz curso de malha para costurar malha, tu faz curso para costurar roupa
de vestido de festa.
Camila acredita que ser costureira representa um grande avanço em sua carreira
profissional, pois em suas profissões anteriores a mesma conta sobre exposições a
diversos tipos de preconceitos e ainda complementa:
Como é que eu vou te dizer, uma melhora profissional, nas fábricas de peixes
era serviços gerais, depois empregada doméstica. Infelizmente a gente ainda
sofre muito preconceito né por ser empregada doméstica. E, costureira eu faço
o que eu gosto. Aprendi a gostar da profissão e a gente sofre um pouco menos
de preconceito do que ser empregada doméstica.
A fala acima nos possibilita perceber o que Crenshaw (2002) explica sobre as
desigualdades promovidas entre as diversas estruturas de classe em nossa sociedade,
fazendo com que se retroalimentem diferentes discriminações em um único indivíduo,
por exemplo, a mulher negra sofre racismo, preconceito de gênero e a desigualdade social
ao mesmo tempo. O relato de Camila lança luz as diversas formas de discriminações que
ela sofreu, principalmente quando atuou como empregada doméstica. Os preconceitos
continuaram quando ela se tornou costureira, diminuindo somente, segundo sua
percepção, no momento em que ela passou a administrar seu próprio atelier.
Nos contextos sociais onde o mercado de trabalho é restrito para as mulheres
negras, as mesmas veem como única alternativa o trabalho doméstico e quando não
conseguem criam outros meios de se sustentarem. (ARMAN, 2015). No caso de Camila
ela não quis ser mais doméstica e buscou aprender uma profissão.
Camila relata também, que entre as inúmeras dificuldades que enfrentou, uma
delas era manter seus filhos na escolinha, pois com a abertura do seu atelier foi necessário
coloca-los na escolinha e isso representou para ela um sofrimento no momento em que se
tornou muito difícil acompanhar o crescimento deles, ela ressalta: "a família me ajudou
a cuidar deles. Foi complicado, mas não tem o que se fazer tem que trabalhar e ajudar no
sustento da família".
No ano de 2008, ela inaugurou seu atelier onde contou com o apoio de alguns
integrantes da família: o marido ajudou na compra dos equipamentos e o sogro na
cedência da casa, com isso o seu tão sonhado atelier estava se tornando realidade e assim
reconheceu que os esforços de todos foram essenciais, frisando: "sem ajuda tu não
consegue abrir seu próprio negócio, né. Meu atelier de costura praticamente meu marido
e meu sogro que me apoiaram no início. Nunca pedi nenhum tipo de crédito".
Mesmo com as dificuldades financeiras iniciais Camila não abriu mão de
registrar-se como microempreendedora com o intuito de formalizar seu empreendimento.
Com o atelier em funcionamento hoje ela consegue colaborar com a renda da família, ou
seja, o empreendedorismo entra como um recurso para determinadas questões financeiras.
(CASTRO; NUNES, 2014).
Ao lidar diretamente com desafios sociais e a discriminação racial em sua
profissão, Camila relata que algumas clientes quando chegavam em seu ateliê pediam
para ela chamar a costureira:
pretende ir buscar tecidos em outras cidades para fabricar roupas em maior quantidade e
tê-las a pronta entrega, relata ainda: "o que me falta é fontes de financiamento para
aumentar o meu negócio, mas tem possibilidade...". Atualmente, a demanda de trabalho
para Camila em seu atelier são as reformas de roupas usadas e a confecção de vestimentas
voltadas para as religiões de matriz africana.
Nos dias atuais há um crescimento do número de consumidoras reafirmando sua
identidade étnico-afro e isso abre inúmeras possibilidades para essas empreendedoras
explorarem suas oportunidades dentro dos nichos de mercados aos quais estão inseridas
(ARMAN, 2015).
4.2 EDNA
Edna é microempresária, proprietária de uma escola de educação infantil, é
solteira, tem 48 anos de idade e atua nesse ramo há seis anos. Antes de começar o
empreendimento ela foi diretora de uma escola do Sesi. Esse empreendimento era um
sonho de infância, ela fez graduação em pedagogia na área de educação infantil e tinha o
desejo de ser educadora, ela salienta: “a profissão está dentro da minha área de formação,
desde criança eu sempre quis ser professora de educação infantil na época chamava-se
jardim, professora Jardineira e eu dizia isso que queria ser professora de jardim”.
Atualmente a escola é o centro das atenções de Edna e motivo de grande orgulho
e de imensa satisfação, contudo Edna se diz surpresa com o rumo que sua vida tomou:
não aceitaria errar nisso (risos) uma pessoa que dava cursos como administrar
uma empresa, como empreender o próprio, então eu não podia falhar nisso
(risos).
Com o total apoio de sua família, os quais cederam uma casa para ela abrir o
empreendimento, Edna não precisou pagar aluguel. Havia um planejamento prévio da
viabilidade do negócio e assim ela montou sua escola dentro dos recursos que tinha,
conforme explica:
Eu fiz uma escola simples dentro do valor que eu tinha. Claro que eu gostaria
de ter mais coisas, de ter investido mais, mas eu sempre pensava: bom vou
fazendo devagarinho conforme o que for entrando e com o retorno que for
dando eu vou melhorando.
Até cobrei o pessoal do SEBRAE porque eu vi que eles não focam muito na
área da educação e eles trabalham muito mais com a questão de investimentos
financeiros e, como eu comentei anteriormente, esse não era o meu principal
problema. Na verdade, o meu problema era saber como fazer as coisas dentro
do que a lei exigia.
dar aulas e a madrasta dela que é pedagoga aposentada também se colocou a disposição.
Além disso, as irmãs de Edna também trabalham na escola cuidando das crianças do
berçário.
Sobre os desafios enfrentados por empreender, Edna, em tom de desabafo fala do
quanto é árduo o trabalho para ser reconhecida como profissional e proprietária da escola
em função dos preconceitos existentes na sociedade de maneira geral:
Diante desse relato de Edna, é possível perceber com a ajuda de Arman (2015), as
pressões a que Edna está sujeita nos processos de silenciamento e estereotipia, pois as
pessoas que procuram sua escola não a enxergam como proprietária e diretora, num
primeiro momento, ela é inferiorizada e estereotipada como mulher negra no extrato
social (RIBEIRO, 2008). Edna acredita que explorar seu empreendimento na cidade
seja dificultoso, pois há uma gama de escolas na informalidade, custos altos e pressão da
concorrência que é acirrada. Na prefeitura criaram uma associação dentro do Conselho
de educação para se defenderem desta forma de abrir escola e a mesma explica:
Nós criamos uma associação para nos defendermos porque as leis têm muitas
exigências, os impostos são muito altos, a qualificação é obrigatória para que
se possa trabalhar dentro de uma escola de educação infantil, porém assim
como em todas as áreas existem muitas escolas que não são regularizadas.
Então desta maneira elas podem dar algumas facilidades que para nós que
somos registrados nós não podemos.
Edna também relata outro problema recorrente em sua área de atuação, qual seja,
os pais nem sempre se interessam em saber se a escola de seu filho está nos dentro dos
parâmetros legais. Infelizmente, a variável, muitas vezes, que mais importa é o preço da
mensalidade e quanto tempo a criança pode ficar na escola. Tal fato, não deixa de ter
relação com o preconceito que as professoras enfrentam ao serem vistas, com frequência,
como cuidadoras de crianças ou babás, não sendo levado em conta toda a carreira
acadêmica e cursos de qualificação que foram indispensáveis para que elas possam ter a
formação para atuarem no maternal e no jardim. Essa desvalorização se remete a Butler
(1998) quando se fala em submissão das mulheres, vemos que no caso da
microempresária não é diferente, pois quando os pais as veem como cuidadoras e não
4.3 HELENA
Helena tem 46 anos, é casada e atua no ramo da beleza como cabelereira há 30
anos. Passou por outras profissões antes de abrir o próprio salão de beleza de maneira
informal, ou seja, sem registro legal. Antes, porém a entrevistada foi faxineira, trabalhou
em uma loja de calçados, foi balconista e também auxiliar em salão de beleza nos fins de
semana. Ela iniciou a carreira com dupla jornada de trabalho em dois empregos, aprendeu
sua profissão praticando ao cuidar do seu próprio cabelo e viu a possibilidade de ser
cabelereira, ela frisa:
Eu aprendi a mexer no cabelo com meu próprio cabelo. Eu vi que levava muito
jeito e eu gostava do meu trabalho. Também vi que eu tinha possibilidade de
ter meu próprio negócio ligado a beleza e assim tudo começou e eu trabalhava
em dois salões ao mesmo tempo.
Ah eu vou tentar e não tinha dinheiro nem para comprar os produtos para
começar, aí o que eu fiz, eu olhei para o shampoo de casa, olhei para tesoura
que eu ganhei de uma irmã de religião na época e ela começou a me dar alguns
cursinhos básicos porque eu queria sempre aprimorar, eu não tinha dinheiro
para curso e ela disse que ia me ensinar.
Helena, relata também sobre a dificuldade enfrentada por mulheres como ela, para
ter oportunidades no mercado de trabalho:
Eu vejo que a menina de hoje mesmo com toda essa tecnologia que temos nas
mãos, eu vejo que ainda existe essa mesma carência, essa dificuldade de não
Para ela a profissão que escolheu e sua atuação como cabelereira étnica-afro lhe
traz muita satisfação, pois ao abrir um salão (informal) especializado em cabelo afro
ofereceu um diferencial para a cidade de Rio Grande uma vez que até então esse tipo de
serviço não era oferecido da cidade. Helena, explica assim, seu pioneirismo:
Helena denomina de resistência suas passagens com êxito pelos obstáculos que
enfrentou para manter o negócio e sustentar a família, pois com o passar dos anos houve
um aumento no preço dos aluguéis de imóveis e salas comerciais no centro de Rio Grande
inviabilizando sua permanência nestes espaços. Atualmente transferiu o salão para a sua
residência, ou seja, não paga mais aluguel e colabora com a renda vinda de seu trabalho.
Helena explica:
Como faltou reconhecimento (...) como falta para toda empreendedora negra,
principalmente. A gente vive uma resistência todos dias, uma dificuldade que
tu tem que matar um leão por dia. Então é difícil se manter, mas eu me mantive,
com essa profissão, por 30 anos. Por isso, eu chamo de resistência porque eu
consegui me manter com todas essas dificuldades e com essas crises todas.
Helena relata também como foi difícil acompanhar o crescimento dos filhos e
administrar seu próprio negócio. Helena se considera com sorte de ter podido contar com
a ajuda da mãe na educação dos filhos, pois suas jornadas de trabalho ultrapassavam com
facilidade as oito horas diárias, por isso foi importante contar com o apoio da família e
assim não ter "(...) perdido meus filhos para a vida”, nas palavras de Helena.
Os que trabalham de maneira informal terminam por se deparar com a
precarização do trabalho, muitos não têm recursos para pagar a previdência e poder ter a
devida aposentadoria. (DRUCK e OLIVEIRA, 2008; CASTRO e NUNES, 2014). Essa
realidade de precariedade do trabalho faz parte da vida de Helena, pois ela enfrenta uma
jornada de trabalho que chega, com frequência, a mais 12 horas corridas, o que dificulta
o cuidado com a própria saúde e, dificulta também, conforme relata a entrevistada, o
acompanhamento do crescimento de seus filhos.
Esses e outros desafios são relatados por Helena. No que se refere aos desafios
econômicas, a entrevistada é enfática ao observar que:
A realidade das mulheres que não tem poder aquisitivo nenhum e tiveram que
começar de alguma forma seus negócios é muito difícil. Então, foi pedindo
fiado mesmo (...) não pedi dinheiro porque nem tinha na época a quem pedir e
o estabelecimento a qual eu aluguei foi uma pessoa conhecida que me cedeu
um espaço não mais que 3 metros quadrados (...).
A gente não pode ter um preço que na verdade nem era absurdo. Nesse ponto,
nem sempre tive meu trabalho valorizado como deveria né. Porque tu te manter
na sociedade e principalmente nesse meio do comércio todo esse tempo sem
nenhum investimento por fora, não é fácil ainda mais as pessoas reclamando
do preço.
Para Helena uma questão importante era ser reconhecida enquanto profissional
especialista em cabelos étnicos-afro. Ela acredita que há oportunidade de explorar o
mercado, mas tem que ter persistência e resistência:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da pesquisa realizada, entende-se que foi alcançado o objetivo da pesquisa
que é analisar os desafios sociais e econômicos das mulheres negras empreendedoras na
cidade de Rio Grande. Assim, ao analisar os dados da pesquisa, percebeu-se as
entrevistadas Camila, Edna e Helena precisaram superar uma série de dificuldades para
conseguirem abrir e manter seus negócios. Por exemplo, Camila e Helena tiveram que
deixar seus filhos com parentes para poderem trabalhar e manter seus empreendimentos,
Edna e Camila são microempreendedoras registradas e tiveram seus espaços cedidos pela
família e Helena e Camila trabalham dentro dos seus ramos com aspectos da etnia afros.
As três entrevistas possuem pontos em comum: o apoio familiar, reafirmação da
identidade enquanto mulher negra e a discriminação racial sofrida no qual se constatou
como desafio social, nos casos de Edna e Camila na forma de invisibilidade e estereotipia
e no caso de Helena criticas ao cabelo afro, as três se reconhecem enquanto mulheres
empreendedoras. (DE ANDRADE FERNANDES, 2016).
Essas mulheres lutam diariamente pela permanência em seus espaços, a forma
com que tentam se sobressair em situações de racismo se soma a busca de um
reconhecimento e satisfação profissional. A mulher ainda é vista na condição de
submissão (BUTLER, 1998) (DAVIS, 2016) no caso das mulheres negras ainda há
agravantes, pois o significado de emancipação para elas aconteceu de maneira diferente
já que as mesmas lidam com diversos eixos de opressão (Crenshaw, 2002) salientando
que as mulheres objetos deste estudo são expostas ao racismo, ao machismo e as
desigualdade sociais tendo que viver nessas condições e em diversas situações são
inviabilizadas e silenciadas pela sociedade, vivendo em um ambiente hostil. (DAVIS,
2016).
Já os desafios econômicos identificados pela autora Arman(2015) onde traz a
realidade sobre as mulheres serem em diversas situações provedoras de suas famílias; e
por outros indicadores, por exemplo, acesso a linhas de credito, apoio da família na renda,
etc. Os desafios econômicos encontrados nos relatos são: Camila e Edna tiveram o apoio
da família em relação a cedência de imóveis para elas começarem os negócios, Helena
começou seu empreendimento pagando um aluguel simbólico de um espaço para uma
prima. As três tiveram prévio planejamento para abrir o negócio. No caso de Edna com a
indenização trabalhista ela começou a pensar na escolinha. No caso de Camila o marido
fez a aquisição das máquinas de costura para a abertura do atelier. No caso de Helena
economicamente no início foi árduo a mesma relata de não ter dinheiro para comprar os
produtos para o salão, inicialmente não tendo outra opção a não ser pedir fiado, pois não
tinha acesso a linhas de crédito. Todas as entrevistadas relataram se tivessem mais
dinheiro fariam ainda mais melhorias em seus negócios.
REFERÊNCIAS
Jucisrs- Junta Comercial , Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul. Disponível em:
<http://jucisrs.rs.gov.br/estatisticas>.Acesso em 27 de junho de 2017.
NUNES, Antonio De Assis Cruz et al. O mito da democracia racial no contexto do sistema
de cotas para estudantes negros: tudo continua como dantes no quartel de abrantes.
Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 4, p. 33842-33858, 2021.
PINTO, Céli Regina Jardim. Feminismo, história e poder. Rev. Sociol. Polit., Curitiba ,
v. 18, n. 36, p. 15-23, June 2010 .
ROSA, Graziele dos Santos da. Movimento negro no Brasil nas décadas de 1980-1990:
rompendo correntes e conquistando direitos. 2012.
SIEDE, Mario Ale. O trabalho informal: o estudo dos camelôs de Porto Alegre.
1994.(Dissertação).LUMEUFRGS.
SPINDOLA, T.; Santos, R.S. SPINDOLA, T.; Santos, R.S. Trabalhando com história de
vida: percalços de uma pesquisa (dora?). Revista de Enfermagem USP. v. 37, n. 2, p. 119-
126, 2003. VERGARA, S. C. Métodos de pesquisa em administração. 2.ed., São Paulo,
Editora Atlas, 2006.
PROJETO DE PESQUISA
A Afetividade Ético-Política e a Gestão de Práticas Participativas
nas Organizações: a Experiência da Gabinetona da Câmara
Municipal de Belo Horizonte
Belo Horizonte
2022
1
1. Resumo.............................................................................................................. p. 3
3. Metodologia da Pesquisa.................................................................................. p. 8
6. Referências Bibliográficas............................................................................... p. 15
2
1. RESUMO
O problema de pesquisa a ser abordado é como aspectos da afetividade ético-política
influenciam a gestão de práticas participativas nas organizações, tendo como objeto teórico
esse conceito enquanto elemento que dinamiza a intersubjetividade e a alteridade, buscando,
em Brandão (2012), em Habermas (2012a; 2012b) e nos aportes da psicanálise, subsídios para
refletir sobre o aprimoramento da ação comunicativa. O objetivo geral é validar e consolidar
aportes teóricos que possibilitem a investigação da influência de aspectos da afetividade ético-
política na gestão de práticas participativas nas organizações, de modo a fazer recomendações
para seu aprimoramento e para a incorporação de tecnologias sociais. Os objetivos específicos
são: consolidar o conceito de afetividade ético-política proposto por Brandão (2012),
desenvolvido por meio de aportes habermasianos e psicanalíticos para abordar sua influência
na gestão das práticas participativas nas organizações; investigar, validando os aportes teóricos
construídos, como aspectos da afetividade ética-política podem influenciar a gestão de práticas
participativas, por meio de uma experiência exemplar - a Gabinetona da Câmara Municipal de
Belo Horizonte; apontar recomendações para o aprimoramento da gestão de práticas
participativas, bem como para a incorporação de tecnologias sociais; e, paralelamente,
disseminar o conhecimento produzido por meio de participações em eventos científicos, além
da produção de artigos e de uma proposta de livro sobre a temática. Do ponto de vista
metodológico, a primeira parte da pesquisa proposta tem cunho eminentemente teórico, pois
se dedica à reconstrução de teorias, conceitos e ideias, bem como quadros de referências e
condições explicativas da realidade, buscando rigor conceitual, análises acuradas e
argumentação diversificada. Na segunda parte da pesquisa, pretendemos realizar uma
investigação qualitativa, envolvendo levantamento documental e entrevistas semi-estruturadas
com as representantes da Gabinetona da Câmara Municipal de Belo Horizonte, sendo que os
dados serão submetidos à análise de conteúdo, por meio de codificação e categorização
temática, bem como à elaboração micrológica benjaminiana, subsidiando recomendações para
um repensar das práticas de gestão.
3
2. ANTECEDENTES QUE GERARAM O NOVO PROBLEMA DE PESQUISA E SEUS
OBJETIVOS
Além disso, averiguou-se que, apesar da importância desse aspecto nas relações e práticas
sociais, no campo das organizações, o tema é comumente abordado em uma perspectiva
instrumental no domínio da inteligência emocional, do fenômeno da liderança e da gestão da
subjetividade e emoções. Há também algumas pesquisas sobre emoções nas organizações, que
procuram abordar sua importância e a perspectiva do indivíduo (CONRAD; WHITTE, 1984;
RAFAELI, A.; SUTTON, 1987; MAANEN; KUNDA, 1989; MUMBY; PUTNAM, 1992;
KELLY; BARSADE, 2001; FINEMAN, 2002; NORD, W. R.; FOX, 2004), mas muito poucas
exploram a questão da emoção enquanto motor das práticas sociais organizacionais. Uma
exceção é o trabalho de Leitão, Fortunato e Freitas (2006), que faz uma abordagem a partir da
visão biológica. A pesquisadora busca no projeto que está sendo proposto, uma visão mais
psicanalítica e, além disso, pretende investigar não o conceito de emoção, mas o conceito de
afetividade, que é mais complexo (e ainda mais inexplorado na literatura), na medida em que
abrange a história do sujeito e sua construção subjetiva e, não somente, suas reações emocionais
às situações que se colocam em sua vida e trabalho.
Dessa forma, no ciclo Universal 2019-2021, a pesquisadora voltou suas atenções para a
dimensão da afetividade em seu entrelaçamento com o social, de modo que buscou abordar,
para constituir um marco teórico, a afetividade ético-política, definida como aquela que é
“inconcebível sem a presença do outro”, que demanda a construção de “espaços sociais de
4
construção subjetiva e de fortalecimento da individualidade e da sociabilidade” (BRANDÃO,
2012, p.16).
Já o conceito de afeto considerado nessa pesquisa, partiu da elaboração de Brandão (2012), que
procura situá-lo no campo ético-político, fazendo recurso às contribuições de Vygostky,
Espinosa e Adorno, às quais a pesquisadora somou aportes habermasianos e psicanalíticos. De
uma concepção negativa e irracional de afetividade, buscou-se transitar para uma concepção
positiva, reconhecendo a importância das emoções, bem como considerando as mesmas como
condição indispensável para qualquer ação ético-política e para a própria gestão.
À primeira vista, a afetividade se revela como um tabu. Na década de 1960, Adorno (2006) já
admitia que a formação cultural requer amor, mas colocava isso com ressalvas, temendo ser
interpretado equivocadamente como um “sentimental”. No entanto, a subjetividade e a
afetividade como elementos que interferem na construção e na gestão de processos
democráticos e participativos, são dimensões que não deveriam ser esquecidas, pois como
aponta Brandão (2012), o homem modifica o mundo na medida em que confere significado a
tudo que constrói coletivamente, com a mediação da comunicação intersubjetiva.
Nesse sentido, a subjetividade é fruto de uma relação entre história, cultura e psique, que resulta
em ações que se situam em um horizonte de sentido, permeadas pela afetividade e pela ética.
Assim, “...revolucionário é o agir consciente e afetivo de sujeitos que transformam as suas
realidades, não apenas em um momento político de ruptura, mas cotidianamente, através do
encontro com outro” (BRANDÃO, 2012, p. 178).
5
No entanto, essa situação linguística ideal sofre deformações que vão além de nossas
percepções conscientes, pois estão enraizadas em processos subjetivos e afetivos, que também
são inconscientes. Em seu trabalho, a pesquisadora averiguou que os sujeitos “... sofrem
obstruções de caráter psíquico ou ideológico, o que ameaça seus atos representativos – ou seja,
a expressão livre de atitudes, sentimentos e intenções isentos de ilusão – que estão sujeitos, [...]
à falsa identificação e à falsa projeção” (PAES DE PAULA, 2015, p. 235).
O próprio Habermas admite que a teoria da ação comunicativa tem lacunas, uma vez que não
aponta saída para a superação da falsa identificação e da falsa projeção, que são fenômenos
psíquicos que se manifestam coletivamente, engendrando a ideologia. Para preenchê-las,
Habermas recorre ao modelo freudiano. É nessa trilha, recorrendo à aportes da psicanálise, que
a pesquisadora seguiu para explorar a afetividade ético-política, pois como aponta Rouanet
(2001, p. 320-321):
6
Tomando como ponto de partida esse marco conceitual esboçado entre 2019-2021, que indica
aportes teóricos para investigação da influência de aspectos da afetividade ético-política na
gestão de práticas participativas nas organizações, a pesquisadora pretende, no ciclo 2022-2024,
fazer uma consolidação e validação desses aportes em uma pesquisa empírica, de modo a
realizar recomendações para aprimorar a gestão. Para operacionalizar isso, a intenção é abordar
a experiência exemplar da Gabinetona da Câmara Municipal de Belo Horizonte, que se destaca
pelos seus traços de gestão coletiva e compartilhada de questões de interesse público e popular,
bem como pela utilização tecnologias sociais, compreendidas conceitualmente como “...um
conjunto de técnicas, metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação
com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para a inclusão social e a
melhoria das condições de vida” (ITS, 2004).
7
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
Tendo em vista o objetivo geral e os objetivos específicos anteriormente apresentados, a
pesquisadora compôs a investigação em três partes: Fase Teórica, Fase Empírica e Fase de
Consolidação de Resultados.
8
Objeto empírico dessa pesquisa, a Gabinetona da Câmara Municipal de Belo Horizonte é o
mandato coletivo (https://gabinetona.org), aberto e popular constituído a partir de 2016 pela
Frente de Esquerda BH Socialista, que elegeu Áurea Carolina e Cida Falabella, incorporando
Bella Gonçalves, que era uma das suplentes com co-vereadora, que passaram a trabalhar em
uma equipe única, estratégias compartilhadas e posicionamentos coletivos. Em 2017, Áurea
Carolina se elege deputada federal e Andreía de Jesus, deputada estadual, sendo que Bella
Gonçalves assume a posição de vereadora e a experiência é ampliada para as três esferas de
governo – municipal, estadual e federal. Em 2020, Bella Gonçalves se elege vereadora e Iza
Lourença também, dando continuidade à experiência.
Assim, será realizada a investigação empírica qualitativa prevista na segunda fase, envolvendo
levantamento documental e entrevistas semi-estruturadas com as mandatárias da Gabinetona e
outros potenciais entrevistados. Em um primeiro momento exploratório, será realizada uma
pesquisa preliminar sobre a experiência da Gabinetona, abordando o material documental e
bibliográfico que já tenha sido produzido a respeito e se realizará uma discussão dos conceitos-
chave utilizados nessa fase da pesquisa, a partir da literatura existente, buscando estabelecer
seu marco conceitual: a gestão de práticas participativas no que se refere à incorporação de
tecnologias sociais (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2004; NEDER, 2010; FRAGA,
2011; FEENBERG, 2012; DAGNINO, 2014; DIAS, 2014; DAGNINO, 2019).
9
Após esse momento exploratório, a pesquisadora pretende passar para o momento de coleta
de dados, elaborando um instrumento para apoiar as entrevistas semi-estruturadas a serem
realizadas com as mandatárias e outros potenciais entrevistados indicados por elas. Essas
entrevistas serão realizadas e gravadas mediante o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE – Anexo 1) e roteiro preliminar (Anexo 2), com aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa (COEP) da UFMG. Em seguida serão transcritas, para posterior momento de análise
dados, que contará com duas etapas. Em uma primeira etapa de análise de dados, se fará
uma análise de conteúdo (BARDIN, 1977; KRIPPENDORFF, 1990; MORAES, 1994;
MATTOS, 2010), por meio de processos de codificação e categorização de unidades temáticas,
guiadas pelo marco teórico, identificadas no material coletado.
Em uma segunda etapa da análise de dados, a pesquisadora pretende realizar uma elaboração
micrológica benjaminiana, que é a metodologia de análise de dados desenvolvida por ela em
seu livro “Estilhaços do Real” (PAES DE PAULA, 2012) e em sua monografia para conclusão
da formação teórica em psicanálise, no Círculo Psicanalítico de Minas Gerais (CPMG) (PAES
DE PAULA, 2014). A base da elaboração micrológica é “...a ideia benjaminiana de que os
estilhaços da história precisam ser recolhidos segundo uma associação livre, para que a uma
constelação se constitua e sua imagem seja reveladora das contradições sociais, mostrando de
um lado a catástrofe e de outro, a possibilidade utópica” (PAES DE PAULA, 2012, p. 104).
Em outras palavras, ao lidar com uma realidade incompleta e fragmentada, bem como as
“deformações” próprias de toda pesquisa, atentar para os elementos singulares, como
recomenda a perspectiva epistemológica freudiana, para vislumbrar nos dados analisados
possíveis percursos de transformação.
10
4.1 Resultados Esperados
O projeto, que terá duração de 36 meses, tem em vista os seguintes resultados, voltados para a
investigação proposta, que compõem o plano de trabalho apresentado a seguir:
• Publicação de um artigo sobre a pesquisa em periódico Qualis A1 ou A2;
• Submissão de um artigo sobre a pesquisa em periódicos Qualis A1 ou A2;
• Participação em dois eventos científicos da área em grupos temáticos afins ao projeto:
apresentação e publicação em anais;
• Formação de Recursos Humanos (Mestrados, Doutorados, Bolsistas) de acordo com a
captação de discentes e conclusão de trabalhos;
• Relatório Técnico a ser apresentado ao CNPQ no final do projeto de pesquisa;
• Elaboração de uma proposta de livro baseada no projeto a ser submetido a uma editora
no término do projeto de pesquisa.
A partir dessas atividades, a pesquisadora obterá os resultados do projeto, que vão além dos
achados esperados na investigação a ser realizada, envolvendo a produção técnica e científica
anteriormente apontadas.
Semestre 1:
Fase Teórica:
• Pesquisa bibliográfica sobre o tema da investigação;
• Retomada dos textos produzidos e do relatório apresentado (ciclo 2019-2021) para
consolidação do marco conceitual da afetividade ético-política.
Semestre 2:
Fase Teórica:
11
• Pesquisa bibliográfica sobre o tema da investigação;
• Retomada dos textos produzidos e do relatório apresentado do (ciclo 2019-2021) para
consolidação da afetividade ético-política.
Semestre 3:
Fase Empírica:
• Momento Exploratório: levantamento de dados documentais, definição do marco
teórico sobre gestão de práticas participativas e tecnologia social, elaboração de
instrumentos de coleta de dados e contatos com potenciais entrevistados;
• Confecção de artigo para participação em evento científico e posterior submissão para
periódico qualificado.
Semestre 4:
Fase Empírica:
• Momento de Coleta de Dados: realização de entrevistas;
• Momento de Análise dos dados: Etapa de Análise de Conteúdo e Etapa de Elaboração
Micrológica.
Semestre 5:
Fase de Consolidação de Resultados:
• Validação da análise dos dados e dos resultados junto às entrevistadas, discussão da
validação do marco teórico da afetividade ético-política, recomendações para
aprimoramento da gestão de práticas participativas e para o uso de tecnologias sociais;
• Confecção de artigo para participação em evento científico e posterior submissão para
periódico qualificado.
Semestre 6:
Fase de Consolidação de Resultados:
• Confecção de Relatório Técnico para o CNPQ;
• Elaboração e submissão de proposta de livro para uma editora.
12
4.3. Cronograma de Atividades
ATIVIDADES Fase Fase Fase de
Teórica Empírica Consolidação
de Resultados
Semestre 1: X
Semestre 2: X
Semestre 3: X
Semestre 4: X
Semestre 5: X
Semestre 6: X
Equipe
• Coordenadora Geral do Projeto
• Profa. Ana Paula Paes de Paula (CEPEAD-UFMG).
• Pesquisadoras Envolvidas:
Profa. Cristiane Costa (FURG)
Profa. Juliana Pinto (UFES)
Profa. Ketlle Paes (FURG)
Profa. Mariana Mayumi (UFV)
Profa. Renata Bicalho (UFJF)
Parcerias:
• Grupo Organizações, Racionalidade e Desenvolvimento (UFSC)
• Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT-UFMG)
A afetividade ético-política é uma dimensão pouco explorada nas atuais investigações sobre a
gestão de práticas participativas nas organizações. Além disso, averiguou-se que, apesar da
importância desse aspecto nas relações e práticas sociais, no campo das organizações, o tema é
13
comumente abordado em uma perspectiva instrumental, no domínio da Inteligência emocional
e da gestão da subjetividade e emoções. No âmbito desse projeto de pesquisa abordaremos a
afetividade em seu entrelaçamento com o social, de modo que trataremos de uma afetividade
ético-política, que é aquela que “inconcebível sem a presença do outro”, que demanda a
edificação de “espaços sociais de construção subjetiva e de fortalecimento da individualidade
e da sociabilidade” (BRANDÃO, 2012), levando a um repensar da gestão. Ilustraremos isso
empiricamente com uma experiência inédita e relevante nesse campo que é a gestão coletiva e
compartilhada na Gabinetona da Câmara Municipal de Belo Horizonte.
14
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADORNO, T. A filosofia e os professores (1965). In: ADORNO, T. Educação e
Emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.
_________. Ensaios sobre Psicologia Social e Psicanálise (1972). São Paulo: EdUnesp, 2015.
15
DEMO, P. Pesquisa e construção do conhecimento: metodologia científica no caminho de
Habermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994.
DIAS, R. et al. Tecnologia social e economia solidária: construindo a ponte. Mundos Plurales,
v. 1, p. 59-78, 2014.
ESPINOSA, B. Ética demonstrada à maneira dos geômetras. Os Pensadores. Volume II. São
Paulo: Nova Cultural, 1989.
FINEMAN, S. A emoção e o processo de organizer. In: CLEGG, S. R.; HARD, C.; NORD, W.
R. (Orgs.). Handbook de estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 2000. p. 157-189.
FRAGA, L. Autogestão e tecnologia social: utopia e engajamento. In: BENINI, E. et al. (Orgs.)
Gestão pública e sociedade: fundamentos e políticas públicas de economia solidária. São
Paulo: Outras Expressões, 2011.
FREUD, S. Projeto para uma psicologia científica. In: FREUD, S. Edição standard brasileira
das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996a [1895].
p. 335-468. v. I.
16
_________. Psicologia de grupo e análise do ego. In: FREUD, S. Edição standard brasileira
das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996d [1921].
p. 79-154. v. XVIII.
_________. O futuro de uma ilusão. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996e [1927]. p. 13-63. v.
XXI.
_________. O mal-estar na civilização. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996f [1929-1930]. p. 13-
63. v. XXI.
KELLY, J. R.; BARSADE, S. G. Mood and emotions in small groups and work teams.
Organizational Behavior and Human Decision Processes, v. 86, n. 1, p. 99- 130, 2001.
17
MAANEN, Van; KUNDA, G. Real feelings, emotional expression and organizational culture.
In: CUMMINGS, L.; STAW, B. M. (Eds.). Research in organizational behavior. Greenwich,
CT: JAI, v. 6, p. 287-365, 1989.
_________. Afinidades entre Sigmund Freud e Walter Benjamin: Por uma Epistemologia
dos Vestígios. Monografia (Formação Teórica em Psicanálise) – Círculo Psicanalítico de Minas
Gerais. Belo Horizonte, 32 p., 2014.
RAFAELI, A.; SUTTON, R. Expression of emotion as part of the work role. Academy of
Management Review, v. 12, n. 1, p. 23-37, 1987.
18
______. Teoria crítica e psicanálise. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2001.
_________. Razão e paixão. In: CARDOSO, S. (Org). Os sentidos da paixão. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente (1930). São Paulo: Martins Fontes, 1991.
19
7. ANEXO 1: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado (a) para ser participante do Projeto de pesquisa intitulado “A
Afetividade Ético-Política e a Gestão de Práticas Participativas nas Organizações: a
Experiência da Gabinetona da Câmara Municipal de Belo Horizonte” de responsabilidade
do (a) pesquisador (a) Profa. Dra. Ana Paula Paes de Paula.
Leia cuidadosamente o que se segue e pergunte sobre qualquer dúvida que você tiver. Caso se
sinta esclarecido (a) sobre as informações que estão neste Termo e aceite fazer parte do estudo,
peço que assine ao final deste documento, em duas vias, sendo uma via sua e a outra do
pesquisador responsável pela pesquisa. Saiba que você tem total direito de não querer participar.
1. O trabalho tem por objetivo validar e consolidar aportes teóricos que possibilitem a
investigação da influência de aspectos da afetividade ético-política na gestão de práticas
participativas nas organizações, de modo a fazer recomendações para seu aprimoramento e para
a incorporação de tecnologias sociais.
2. A participação nesta pesquisa consistirá em uma entrevista de cerca de uma hora e meia,
realizada por uma das investigadores que compõem a equipe da pesquisa, por meio de questões
de um roteiro semi-estruturado, com gravação mediante autorização, que será realizada
presencialmente ou por videoconferência em dia e horário previamente agendados com o/a
participante.
20
4. Os benefícios com a participação nesta pesquisa serão possa nos ajudar a compreender
melhor o que este dificultando a gestão de práticas participativas nas organizações e a
incorporação de tecnologias sociais, de modo a nos munir de conteúdos para fazer
recomendações para melhoria da comunicação e da dialogicidade nos mesmos. Dessa forma, o
projeto tem como propósito avançar no contexto do conhecimento científico, com proposições
teóricas, e no âmbito do conhecimento técnico, fazendo recomendações para aprimoramento de
práticas de gestão no campo da administração pública que beneficiarão os gerentes e os
cidadãos.
5. Os participantes não terão nenhuma despesa ao participar da pesquisa e poderão retirar sua
concordância na continuidade da pesquisa a qualquer momento.
6. Não há nenhum valor econômico a receber ou a pagar aos voluntários pela participação, no
entanto, caso haja qualquer despesa decorrente desta participação haverá o seu ressarcimento
pelos pesquisadores.
8. O nome dos participantes será mantido em sigilo, assegurando assim a sua privacidade, e se
desejarem terão livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo
e suas consequências, enfim, tudo o que queiram saber antes, durante e depois da sua
participação.
9. Os dados coletados serão utilizados única e exclusivamente para fins desta pesquisa, e os
resultados poderão ser publicados.
Qualquer dúvida, pedimos a gentileza de entrar em contato com Profa. Ana Paula Paes de Paula,
pesquisadora responsável pela pesquisa, telefone: (31) 99558-7807, e-mail:
appp.ufmg@gmail.com, com o Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG, localizado na Av.
Antônio Carlos, 6627, Pampulha – Belo Horizonte – MG – cep 31270-901, Unidade
Administrativa II – 2º andar – sala 2005, telefone: (31) 3409-4592, e-mail: coep@prpq. Ufmg.
br, atendimento de segunda a sexta-feira das 09:00 – 11:00hs – 14:00 – 16:00, e/ou com a
21
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa-CONEP, telefone (61) 3315-5877, e-
mail: conep@saude.gov.br.
____________________________________________________
Assinatura do participante
22
8. ANEXO 2: ROTEIRO PRELIMINAR DE ENTREVISTA
3. Você considera que as relações de afeto e a ética entre com as pessoas envolvidas contribui
para que a participação e colaboração se estabeleçam? Ou trata-se de um obstáculo?
4. Você considera que a ausência de presença física interfere na construção de relações sociais
e no desenvolvimento dos afetos?
6. Você considera que a predominância do gênero feminino na “Gabinetona” contribui para que
a participação e colaboração se estabeleçam? Ou trata-se de um obstáculo?
7. Você gostaria de acrescentar alguma declaração sobre sua atuação na “Gabinetona” no que
se refere à contribuição para que as relações sejam mais participativas, colaborativas e
dialógicas?
23