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São Paulo
2018
LENARA FERREIRA DOS SANTOS
São Paulo
2018
À minha família, por todo incentivo, amor
e paciência.
Agradecimentos
Sou grata aos meus pais, Sirlê e Aloizio, por todo o cuidado e incentivo aos
meus estudos e à minha irmã, Lirieli por todo companheirismo, eles que, mesmo em
tempos difíceis, estiveram ao meu lado, sendo essenciais para a minha vida.
Por fim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para a minha
formação, me incentivaram, compartilharam momentos únicos e especiais
transformando os momentos difíceis em agradáveis lembranças de apoio, superação
e amizade.
Vejo, mas não acredito! – Georg Cantor
Resumo
O infinito sempre foi um tema que gerou reflexões e controvérsias durante a história,
influenciando inclusive o pensamento matemático. Nessa perspectiva, o presente
trabalho estuda algumas ideias relacionadas a esse conceito, desde a Grécia Antiga,
com o surgimento de paradoxos, e a distinção entre infinito atual e potencial, passando
pela Idade Média e o Renascimento, chegando até o século XIX, no qual o matemático
Georg Cantor (1845 – 1918) demonstrou a existência de conjuntos infinitos com
diferentes cardinalidades, em outras palavras, a existência de diferentes infinitos.
Além de abordar o desenvolvimento da noção de infinito ao longo da história, nesta
monografia apresentamos alguns conceitos e demonstrações sobre conjuntos com
diferentes cardinalidades, mais especificamente sobre conjuntos enumeráveis e não
enumeráveis. Como exemplo de um conjunto peculiar, apresentamos o chamado
Conjunto Ternário de Cantor, que possui algumas propriedades contra intuitivas.
Infinity has always been a theme that has generated reflections and controversies
throughout history, influencing even the mathematical thinking. In this perspective, the
present work shows some ideas related to this concept, since Ancient Greece, with the
emergence of paradoxes, and the distinction between actual and potential infinity,
passing through the Middle Age and the Renaissance, reaching the 19th century, in
which the mathematician Georg Cantor (1845 – 1918) demonstrated the existence of
infinite sets with different cardinalities, in other words, the existence of different
infinities. Besides to addressing the development of the concept of infinity throughout
history, in this monograph we present some concepts and demonstrations about sets
with different cardinalities, more specifically, on enumerable and non-enumerable sets.
As an example of a peculiar set, we present the so-called Cantor Ternary Set, which
has some counter-intuitive properties.
Introdução ................................................................................................................ 21
Referências .............................................................................................................. 69
Introdução
Segundo David Hilbert (1926, p. 236, apud SAMPAIO, 2008, p. 206), “a questão
do infinito agitou sempre as emoções da humanidade mais profundamente do que
qualquer outra”. Diante desta curiosidade acerca do tema que se constitui o infinito,
bem como das consequências e dos paradoxos, e ainda da relevância do assunto
para o Ensino Superior, o presente trabalho aborda as concepções sobre o infinito,
que, segundo Borges (2015, p. 12) e Sena (2011, p.7), envolvem situações que vão
contra o senso comum, causando, em um primeiro momento estranheza e também
admiração por suas construções.
Como representar por meio de coisas finitas algo que é infinito? Por que pensar
no infinito se as dificuldades em o representar são tão grandes, além da
impossibilidade de medi-lo? Mas o infinito parece se impor ao raciocínio humano
desde os tempos antigos, sendo de grande importância na Matemática.
Desse modo, por conta da sua definição intrigar leigos e estudiosos, sempre
esteve presente em discussões no campo de estudo da Filosofia, Matemática, Arte e
Física, conforme cita Madeira; Costa (2014, p.9 apud ROMANO, 1997, p.133), “O
conceito de infinito surge, antes de mais, na filosofia com o significado de que não
existem limites. É a especulação teológica que dá a este conceito um conteúdo
positivo de perfeição (ou grandeza) que é impossível superar.”.
Além dessas conjecturas, Madeira e Costa (2014) admitem ainda que uma
possível justificativa seria a derivação do símbolo grego (ômega), a última letra do
alfabeto grego. Além disso, na teoria dos conjuntos, o infinito é representado pela letra
hebraica Aleph ()א.
Figura 2: Comensurabilidade
A busca pela relação entre a diagonal e o lado do quadrado que vale um foi
dada pelo já conhecido Teorema de Pitágoras com a equação: 𝑎2 = 2, que não era
satisfeita com os números até então conhecidos na época, pois “se faz necessário
subdividi-lo subsequentemente sem ser possível, no entanto, satisfazer a igualdade.”
(MACHADO et al., 2013, p. 286).
1
De acordo com o dicionário Michaelis, paradoxo é a “Opinião ou proposição contrária ao senso
comum, contrassenso, disparate. Pensamento ou argumento que contraria os princípios que costumam
nortear o pensamento humano ou desafia o conhecimento e a crença da maioria dos seres humanos.
”.
Concepções do Infinito ao longo da História 27
Fonte: <http://basedafilosofia.blogspot.com/2010/03/conhecimento-missao-06-os-pre.html>
Acesso em 30 de maio de 2018.
Por fim, o paradoxo do Estádio, que segundo Boyer (1974) é o mais discutido
e o mais complicado, supondo corpos iguais e parados 𝐴1 , 𝐴2 , 𝐴3 , 𝐴4 ; sejam
𝐵1 , 𝐵2 , 𝐵3 , 𝐵4 corpos do mesmo tamanho que os 𝐴, se movendo para a direita, de modo
que cada 𝐵 passe por um 𝐴 em um instante (o menor instante de tempo possível). E
ainda seja 𝐶1 , 𝐶2 , 𝐶3 , 𝐶4 , do mesmo tamanho que os 𝐴 e os 𝐵, se movendo para a
esquerda, de maneira que cada 𝐶 passe por um 𝐴 em um instante de tempo. Em
algum momento os corpos estarão na seguinte posição:
28 Concepções do Infinito ao longo da História
Aristóteles (384 – 322 a.e.c), filósofo grego, aluno de Platão tido como um dos
fundadores da filosofia ocidental, foi o primeiro a “dar um tratamento lógico mais
sistemático e instrumental à questão do infinito, sem perder de vista as considerações
sobre seu fundamento na realidade” (SANTOS, 2008, p.56).
Nesse contexto, Santo Agostinho (354 – 430) e São Tomás de Aquino (1225 –
1274) são destaques mantendo a discussão sobre o infinito, o primeiro afirmava que
a infinitude de Deus não poderia ser somente potencial, recusando a concepção
aristotélica (MACHADO et al., 2013).
No século XVII, o italiano Galileu Galilei (1584 – 1642), de acordo com Sampaio
(2008), formulou a primeira noção explícita de conjuntos infinitos, motivado pelo
pensamento de que o conjunto dos números naturais, os números pares, ímpares e
os quadrados perfeitos eram conjuntos infinitos, questionando então a existência de
dimensão entre eles, ou seja, se um infinito poderia ser maior, menor ou igual a outro.
Concepções do Infinito ao longo da História 31
É possível inferir que o século XVII foi de grande importância para a Matemática
em relação ao desenvolvimento mais sistemático da noção de infinito. Nessa época
surge a Geometria Analítica e o Cálculo Infinitesimal, este utilizando
consideravelmente o conceito de infinito e infinitesimais (SANTOS, 2008).
32 Concepções do Infinito ao longo da História
O “Século das Luzes”, como é conhecido o século XVIII, foi cenário de diversas
mudanças na sociedade: economicamente com a Revolução Industrial e socialmente
com as Revoluções Americana e Francesa. Como aponta Mol (2013), nesse contexto,
a valorização da Matemática em decorrência do seu emprego nas novas tecnologias
e os incentivos à ciência tornam-se evidentes, e para acompanhar tais mudanças a
comunidade cientifica se organizou nas chamadas academias, estimulando o
desenvolvimento e a criação de ideias e teorias.
34 Concepções do Infinito ao longo da História
Segundo Sampaio (2008), Leonhard Euler (1707 – 1783) foi um dos mais
produtivos e importantes de seu tempo, resolvendo muitas questões controversas no
cálculo infinitesimal. Além de utilizar a notação e a linguagem que ainda é utilizada
hoje em dia, contribuindo para a utilização dos símbolos 𝑒, 𝜋, 𝑖 e 𝑓 para indicar uma
função de 𝑥. Em 1748, escreveu a obra Introductio in analysin infinitorium, a respeito
dos processos infinitos – séries infinitas, além de ser a primeira a apresentar o
conceito de função como tema central da Análise Matemática.
O infinito ganha uma nova história com o tcheco Bernhard Bolzano (1781 –
1848). Segundo Sampaio (2008), o matemático caracterizava os conjuntos por meio
de suas características e não pela quantidade de elementos, definindo conjunto como
uma coleção na qual a ordem das partes é irrelevante e ao mudar tal ordem nada de
essencial é mudado.
Conforme Caraça (1951), de modo a obter uma definição precisa que servisse
de base para demonstrações, Dedekind verificou que todo ponto da reta determinava
nela uma separação em duas partes, de modo que todo o ponto de uma das partes
está à esquerda de todo ponto da outra, formando assim duas classes. Observando
de modo inverso, o matemático propôs a seguinte propriedade:
Cantor, com seus estudos a respeito das séries de Fourier, obteve uma série
de conjuntos infinitos de pontos, começando a esboçar o que seria a teoria geral de
conjuntos, unindo a ideia de hierarquia de conjuntos, de número transfinito e do
continuum. Até então, a noção de um conjunto ser ou não enumerável3, era tida como
uma maneira de analisar os infinitos qualitativamente. (SANTOS, 2008).
2
Ver Apêndice A – Série de Fourier.
3
Segundo Lima (2006) um conjunto 𝑋 é dito enumerável se é finito ou se existe uma bijeção
entre ele e o conjunto dos naturais (ℕ).
38 Concepções do Infinito ao longo da História
Outro resultado importante obtido por Cantor foi o da existência de duas classes
de conjuntos infinitos, a saber “infinitos enumeráveis, que reúne todos os conjuntos
equipotentes ao conjunto de todos os números naturais” e “a classe de todos os
conjuntos infinitos não-enumeráveis, ou que possuem a potência do continuum”
(SANTOS, 2008, p. 115).
(Aleph zero). E ainda, utilizou a notação 2א0 , para representar a potência do continuum
(DELAHAYE, 2006).
Segundo Santos (2008), o símbolo ∞ deixa de ser usado por Cantor em seus
estudos. O matemático adota o símbolo א, a primeira letra do alfabeto hebraico, por
Concepções do Infinito ao longo da História 39
A notação utilizada por Cantor infere que a segunda classe de números seria
maior que a primeira (א0 ), assim um subconjunto dos reais poderia ter a cardinalidade
dos reais ou ser enumerável, reafirmando a existência das duas classes (enumeráveis
e não-enumeráveis), mas haveria, então, uma classe intermediária?
Essa foi a chamada hipótese do continuum, na qual Cantor afirmava não existir
nenhum transfinito entre א0 e א1 = 2א0 . Contudo o matemático faleceu antes de ter a
prova de que a hipótese era verdadeira e até hoje não há uma demonstração que
prove sua validade, tampouco a refute.
Cantor, por ser uma pessoa com estreitas relações religiosas, trocava
correspondências com personalidades importantes da Igreja4, na tentativa de que sua
teoria obtivesse apoio dessa instituição tão influente na sociedade. Assim, Cantor
explicou sua distinção entre os infinitos, afastando um suposto panteísmo, uma vez
4
Ao termo “Igreja”, neste texto, nos referimos a Igreja Católica Apostólica Romana.
40 Concepções do Infinito ao longo da História
que o infinito absoluto estaria reservado a Deus, enquanto o transfinito atual seria uma
qualidade do Universo criado, uma prova da criação de Deus (SANTOS, 2008).
Embora a vida de Cantor tenha sido conturbada seus estudos foram elogiados
por um dos maiores matemáticos do século XX, o alemão David Hilbert (1862 – 1943)
Concepções do Infinito ao longo da História 41
que, na conferência de 1925, afirmou “Ninguém nos expulsará do paraíso que Cantor
criou para nós” (HILBERT, 1923, p.170).
Contando o Infinito5
A abordagem acerca dos conjuntos infinitos é feita por meio das relações
biunívocas que eles estabelecem ou não com outros conjuntos ou com suas partes
próprias.
Algumas noções intuitivas que são possíveis com conjuntos finitos deixam de
ter validade quando tratamos dos conjuntos infinitos, entre elas a máxima de que o
todo é maior que a parte.
5
Este capítulo tem como referência principal o livro Análise Real (LIMA, v.1, 8.ed. 2006).
6
Ver Apêndice B – A infinitude de ℕ.
44 Contando o Infinito
uma relação biunívoca entre o conjunto dos números naturais e o conjunto dos
números pares (o qual denotaremos por ℙ), subconjunto de ℕ, como segue:
𝑦 𝑦
𝑓 (𝑛 ) = 𝑓 ( ) = 2 ∙ = 𝑦
2 2
7
Observemos que o conjunto ℕ é enumerável, pois a função identidade 𝑓: ℕ ⟶ ℕ, definida
como 𝑓(𝑛) = 𝑛 é bijetiva.
Contando o Infinito 45
i. Sejam 𝑛1 , 𝑛2 ∈ ℙ, então:
𝑛1 𝑛2
𝑓 (𝑛1 ) = 𝑓 (𝑛2 ) ⇒ − = − ⟹ −𝑛1 = −𝑛2 ⟹ 𝑛1 = 𝑛2 .
2 2
Note que como 𝑛5 , 𝑛6 são números naturais, essa soma não é possível,
pois consideramos o conjunto dos naturais como
ℕ = {1,2,3, … }
De modo ainda mais contra intuitivo, é possível provar que o conjunto dos
números racionais ℚ também possui a mesma cardinalidade que os números naturais
e os números inteiros. Novamente, para determinar que o conjunto seja enumerável
recorremos à noção de relação biunívoca.
De acordo com Lima (2006), o conjunto dos números racionais pode ser escrito
do seguinte modo:
𝑚
ℚ={ , 𝑚, 𝑛 ∈ ℤ, 𝑛 ≠ 0}
𝑛
46 Contando o Infinito
8
Ver demonstrações em: Apêndice C - Enumeráveis
48 Contando o Infinito
Além desses conjuntos numéricos, todo conjunto que tenha uma relação de um
para um com os naturais possui cardinalidade א0 . Destacamos entre esses conjuntos
os números ímpares, quadrados e até mesmo os números primos, que, embora
pareçam existir em menor quantidade que os naturais, possuem a mesma
cardinalidade.
Todo número real não nulo pode ser representado como decimal infinito, alguns
porque o são como a dízima 0,3333 …, mas mesmo os decimais finitos podem ser
representados de maneira infinita. Por exemplo, 0,25 pode ser representado por
0,24999 ⋯ ou o número 1 por 0,999 ⋯. Assim um número 𝑥 ∈ (0,1) tem representação
decimal 𝑎 = 0, 𝑥1 𝑥2 𝑥3 ⋯, sendo cada dígito 𝑥𝑖 ∈ {0,1, 2, ⋯ , 9}.
𝑎1 = 0,1234567 …
𝑎2 = 0,2535455 …
𝑎3 = 0,5556555 …
(∗) 𝑎4 = 0,3333333 …
⋮
𝑎𝑛 = 0, 𝑎𝑛1 𝑎𝑛2 𝑎𝑛3 …
{ ⋮
5, 𝑠𝑒 𝑎11 ≠ 5
𝑏1 = {
6, 𝑠𝑒 𝑎11 = 5
5, 𝑠𝑒 𝑎22 ≠ 5
𝑏2 = {
6, 𝑠𝑒 𝑎22 = 5
𝑏 = 0, 5665 …
9
Para mais detalhes, ver a obra Análise Real (LIMA, v.1, 8.ed. 2006).
50 Contando o Infinito
𝑎1 ≤ 𝑎2 ≤ ⋯ ≤ 𝑎𝑛 ≤ ⋯
𝑏1 ≥ 𝑏2 ≥ ⋯ ≥ 𝑏𝑛 ≥ ⋯
𝑎1 ≤ 𝑎2 ≤ ⋯ ≤ 𝑎𝑛 ≤ ⋯ ≤ 𝑏𝑛 ≤ ⋯ ≤ 𝑏2 ≤ 𝑏1 .
A ideia de provar a não enumerabilidade do conjunto dos reais por meio desse
teorema é a de mostrar, por contradição, que não existe uma função bijetiva que
relaciona os naturais aos números reais.
𝑏1 +𝑓(2)
iii. Se 𝑎1 = 𝑓 (2), tomamos 𝑏1 = 𝑏2 e 𝑎2 = , assim:
2
𝑏𝑛 +𝑓(𝑛+1)
iii. Se 𝑎𝑛 = 𝑓 (𝑛 + 1), tomamos 𝑏𝑛+1 = 𝑏𝑛 e 𝑎𝑛+1 = , e temos:
2
10
Ver demonstração em: Apêndice C - Enumeráveis
Contando o Infinito 53
Cantor, por meio desse resultado, formulou um teorema no qual enunciou que
se 𝐴 é um conjunto, finito ou infinito, então a cardinalidade de 𝐴 é (estritamente) menor
do que a cardinalidade do conjunto das partes 11 de 𝐴, ou seja, #𝐴 < #℘(𝐴) no texto
de Dourado (2015), podemos interpretar o teorema do seguinte modo:
Assim, existe um conjunto maior que o conjunto dos números reais, a saber
℘(ℝ), que por sua vez é menor que ℘(℘(ℝ)) e assim sucessivamente.
Sabendo que a cardinalidade do conjunto dos naturais foi denotada por Cantor
como #(ℕ) = א0, temos que א0 < ℘(ℕ), e assim, é possível exibir uma hierarquia entre
os infinitos:
א 2א0
א0 < 2א0 < 22 0 < 22 <⋯
Ressaltamos que Cantor, ao perceber que o conjunto dos reais não era
enumerável, estabeleceu quão maior é o infinito dos continuum em relação aos
11
Ver demonstração em: Apêndice D – Primeiro Teorema de Cantor
54 Contando o Infinito
haveria nenhum cardinal entre א0 e 2א0 . Como Cantor denotou א0 < א, tal hipótese
1
consiste no fato de que 2א0 = א1. Dessa forma, podemos imaginar duas situações,
sendo elas:
Contudo até os dias atuais tal hipótese não foi provada, embora também não
tenha sido refutada, uma vez que considerá-la verdadeira não contradiz à axiomática
da teoria dos conjuntos (DELAHAYE, 2006).
55
1 1 2 2
𝐼 = [0, ] ∪ ( , ) ∪ [ , 1]
3 3 3 3
1 2 1 2
E retiramos o intervalo central, aberto, (3 , 3). obtendo 𝐶1 = [0, 3] ∪ [3 , 1].
1 2 1 2 7 8
Então, temos que 𝐶2 = [0, 9] ∪ [9 , 3] ∪ [3 , 9] ∪ [9 , 1].
56 Conjunto de Cantor e suas notáveis propriedades
1 2 1 2 7 8 1 2 19 20 7 8 25 26
𝐶3 = [0, ]∪[ , ]∪[ , ]∪[ , ]∪[ , ]∪[ ] ∪ [ , ] ∪ [ , 1]
27 27 9 9 27 27 3 3 27 27 9 9 27 27
Κ = ⋂ 𝐶𝑛
𝑛=1
2 1
= 2 ∙ = (0,2)3
3 3
17 1 1 1
= 1 ∙ + 2 ∙ 2 + 2 ∙ 3 = (0,122)3
27 3 3 3
1 1 1 1 1
= 0 ∙ + 2 ∙ 2 + 0 ∙ 3 + 2 ∙ 4 + ⋯ = (0,02020 … )3
4 3 3 3 3
Conjunto de Cantor e suas notáveis propriedades 57
intervalo a esquerda.
𝑘1 = 𝐷𝐷𝐸𝐷𝐷𝐸𝐷𝐸𝐷𝐷𝐷 …
𝑘2 = 𝐸𝐸𝐸𝐷𝐷𝐸𝐷𝐷𝐸𝐸𝐸 …
𝑘3 = 𝐸𝐸𝐸𝐷𝐷𝐸𝐷𝐸𝐷𝐷𝐷 … (∗∗)
𝑘4 = 𝐷𝐸𝐷𝐸𝐷𝐸𝐷𝐸𝐷𝐸𝐷 …
𝑘3 = 𝐸𝐸𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐸𝐸𝐸 …
⋮
Utilizando o argumento da diagonal de Cantor, escrevemos os elementos do
conjunto conforme sua representação, assim todo elemento de K é uma sequência de
E’s e D’s todas as sequências dessa forma estão no conjunto:
1
3 1 3
𝑠𝑛 = = ∙ =1
2 3 1
1−3
12
Ver o capítulo 11 do livro Cálculo (STEWART, v.2, 7.ed., 2013).
60 Conjunto de Cantor e suas notáveis propriedades
de 𝑖𝑛𝑡 (𝐴), temos que um conjunto é aberto quando 𝐴 = 𝑖𝑛𝑡 (𝐴). E um ponto a é dito
interior do conjunto 𝐴 ⊂ ℝ, quando existe um número ℰ > 0, de modo que o intervalo
]a − ℰ, 𝑎 + ℰ[ ⊂ 𝐴.
Teorema 3.1: Seja (𝑋𝜆 )𝜆∈𝐿 uma família de conjuntos abertos, a reunião
∞
𝑋 = ⋃ 𝑋𝜆
𝜆∈𝐿
é um conjunto aberto.
𝑉𝑎 =]a − ℰ, 𝑎 + ℰ[
𝑎∈𝐹 (1)
{ 𝑜𝑢
𝑎∉𝐹 (2)
∎
62 Conjunto de Cantor e suas notáveis propriedades
Teorema 3.3: Se (𝐹𝜆 )𝜆∈𝐿 é uma família qualquer de conjuntos fechados, então
a intersecção
∞
𝐹 = ⋂ 𝐹𝜆
𝜆∈𝐿
é um conjunto fechado.
𝐴 = ⋃ 𝐹𝜆𝐶
𝜆∈𝐿
𝐴 = ℝ − ⋂ 𝐹𝜆 ⇒ 𝐴 = ℝ − 𝐹
𝜆∈𝐿
𝐴 = ⋃ I𝑛
𝑛=1
(b).
13
Neste texto, a notação lim(𝑥𝑛 ) equivale a lim (𝑥𝑛 ).
𝑛⟶∞
14
Sendo 𝑎 = lim(𝑥𝑛 ), então para todo número real ℰ > 0, é possível obter 𝑛0 ∈ ℕ tal que todos
os termos 𝑥𝑛 com índice 𝑛 > 𝑛0 , cumprem a condição de |𝑥𝑛 − 𝑎| < ℰ, isto é, 𝑎 − ℰ < 𝑥𝑛 < 𝑎 + ℰ, ou
ainda 𝑥𝑛 pertence ao intervalo aberto (𝑎 − ℰ, 𝑎 + ℰ) (LIMA, 2006, p.23).
64 Conjunto de Cantor e suas notáveis propriedades
1 1
Por fim, sendo (c) verdade, consideremos o intervalo aberto (𝑎 − 𝑛 , 𝑎 + 𝑛) de
Vamos supor que 𝑐 ∈ K não seja extremo de algum intervalo retirado de [0,1]
na construção de K. Assim, para cada 𝑛 ∈ ℕ, 𝑐 pertence ao interior de um intervalo
[𝑥𝑛 , 𝑦𝑛 ] que restou depois da enésima iteração para construir K.
1
Desse modo, temos 𝑥𝑛 < 𝑐 < 𝑦𝑛, com 𝑥𝑛 , 𝑦𝑛 ∈ K e ainda, 𝑦𝑛 − 𝑥𝑛 = 3𝑛.
Fica então demonstrado que todos os pontos do Conjunto de Cantor são pontos
de acumulação.
15
Um conjunto é dito perfeito se é fechado e se todo ponto do conjunto é ponto de acumulação
(RUDIN, 1971, p.33).
66
67
Considerações Finais
conjuntos por meio de teoremas utilizados hoje no estudo de Análise Real, sendo,
portanto, essencial para o norteamento deste trabalho.
Embora a cronologia histórica tenha sido feita a partir dos gregos e tenha
permeado a Europa, ressaltamos que outras sociedades em épocas distintas também
inferiram acerca do infinito de acordo com as suas realidades. O estudo do infinito a
partir da ótica de outras culturas relaciona-se com a Etnomatemática compondo um
campo rico de conhecimento, não só pelo modo como é interpretado um conceito,
mas como as diversas culturas lidam e lidavam com esse saber.
69
Referências
LIMA, Elon Lages. Análise real – Vol.1. 8. ed. Rio de Janeiro: Associação
Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2006. p.189.
LIMA, Elon Lages. Curso de análise – Vol.1. 7. ed. Rio de Janeiro: Associação
Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 1976. p.344.
MADEIRA, Marta Augusta da C. Ramires; COSTA, João Paulo Pita da. História
do conceito de infinito. 2014. Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias – ULHT Disponível em:
<https://edmatematica1.files.wordpress.com/2014/07/oinfinitoemmatematica1.pdf>
Acesso em: 03 de setembro de 2017.
RUCKER, Rudy. Infinity. In: ______. Infinity and the mind: the science and
philosophy of the infinite. Princeton: Princeton University Press, 2005. p. 1-52.
Uma vez que a função pode ser expressa por meio da soma de senos e
cossenos, esta representação é única, tal unicidade foi demonstrada por Georg Cantor
em 1870.
16
Ver Magalhães (2013) para informações detalhadas.
74
75
Apêndice B – A infinitude de ℕ
𝐼𝑛 = {𝑛 ∈ ℕ| 𝑝 ≤ 𝑛}
Vamos supor que o conjunto dos números naturais ℕ seja um conjunto finito.
17
Ver a construção de ℕ por meio dos axiomas de Peano em LIMA (2006)
76
77
Apêndice C – Enumeráveis
Dessa forma, temos que 𝑥𝑚 = 𝑓 (𝑚) ∉ 𝐴𝑛−1 . Como 𝑥𝑛 ∈ 𝐴𝑛−1 , temos que
𝑓(𝑚) ≠ 𝑓(𝑛), portanto a função é injetiva.
18
No texto de LIMA (2006, p.4), o Corolário 2 do Teorema 2 enuncia: “Um subconjunto 𝑋 ⊂ ℕ
é finito se, e somente se, é limitado.” E ainda define que “Um subconjunto 𝑋 ⊂ ℕ diz-se limitado quando
existe 𝑝 ∈ ℕ tal que 𝑥 ≤ 𝑝 para todo 𝑥 ∈ 𝑋.”
78 Apêndice C - Enumeráveis
contradição, pois ser limitado implica em ser finito, no conjunto dos naturais, e o
conjunto 𝑋 = 𝐴0 é infinito, dessa contradição temos que 𝑓 é sobrejetiva.
𝑓 𝑔−1
𝑋→ 𝑌→ ℕ
Existem 𝑋1 = {𝑥11 , 𝑥12 , 𝑥13 , ⋯ } e 𝑋2 = {𝑥21 , 𝑥22 , 𝑥23 , ⋯ }, tais que 𝑓 (𝑥1𝑖 ) = 𝑦1 e
𝑓(𝑥2𝑗 ) = 𝑦2 , ∀ 𝑖, 𝑗, sendo 𝑋 = 𝑋1 ∪ 𝑋2 . Conforme a ilustração a seguir:
𝑓 (𝑥 ) = 𝑦1 , 𝑝𝑜𝑖𝑠 𝑥 ∈ 𝑋
(∗∗∗) {
𝑓 (𝑥 ) = 𝑦2 , 𝑝𝑜𝑖𝑠 𝑥 ∈ 𝑌
Tendo em vista (∗∗∗) temos que um único elemento do domínio possui duas
imagens distintas, o que implica em 𝑓 não ser função, o que contraria a hipótese de
que 𝑓 é função sobrejetiva.
Assim, temos 𝑔(𝑦1 ) = 𝑥1𝑝 , para algum 𝑝 fixo e 𝑔(𝑦2 ) = 𝑥2𝑞 , para algum 𝑞 fixo.
Sendo 𝑋1 ∩ 𝑋2 = ∅, como 𝑔(𝑦1 ) ∈ 𝑋1 e 𝑔(𝑦2 ) ∈ 𝑋2, então 𝑔(𝑦1) ≠ 𝑔(𝑦2 ). Logo, 𝑔 é
injetiva.
𝜑(𝑚, 𝑛) = 2𝑚 ∙ 3𝑛
A função ℎ é sobrejetiva, pois: seja 𝑦 ∈ 𝑋 × 𝑌, tal que 𝑦 = (ℎ1 (𝑎), ℎ2 (𝑏)), então
existe 𝑎, 𝑏 ∈ ℕ, tais que (𝑎, 𝑏) ∈ ℕ × ℕ. Assim podemos aplicar a função ℎ.
i. 𝑋∩𝑌 = ∅
Como 𝑋 é enumerável, então existe uma função 𝑓: 𝑋 → ℕ bijetiva.
Chamemos o conjunto dos números pares positivos de ℙ, então existe
𝑔: ℕ → ℙ, tal que 𝑔(𝑛) = 2𝑛, ∀ 𝑛 ∈ ℕ que também é bijetiva (ver
demonstração no capítulo 2 Contando o Infinito). Logo, existe a
composta ℎ1 : 𝑔 ∘ 𝑓 bijetiva.
E ainda, 𝑌 é enumerável, então existe uma função 𝑣: 𝑌 → ℕ bijetiva.
Chamemos o conjunto dos números ímpares positivos de ℕ − ℙ, então
existe 𝜑: ℕ → (ℕ − ℙ), definida como 𝜑(𝑛) = 2𝑛 − 1, ∀ 𝑛 ∈ ℕ bijetiva,
pois sejam 𝑚, 𝑛 ∈ ℕ, tais que 𝜑(𝑚) = 𝜑(𝑛) ⇒ 2𝑚 − 1 = 2𝑛 − 1, logo,
𝑦+1
𝑚 = 𝑛. E ainda, seja 𝑦 ∈ ℕ − ℙ, então existe 𝑛 = ∈ ℕ, tal que 𝑓 (𝑛) =
2
𝑦+1
2∙( ) − 1 = (𝑦 + 1) − 1 = 𝑦. Desse modo, existe ℎ2 : 𝜑 ∘ 𝑣 bijetiva.
2
∎
83
#𝐴 < #℘(𝐴)
𝑓: 𝐴 → ℘(𝐴)
𝑥 ↦ 𝑓 (𝑥 )
Desse modo, concluímos que nem todos os elementos de ℘(𝐴) serão imagens
de algum 𝑥 ∈ 𝐴. Portanto, 𝑓 não é bijetiva e #𝐴 ≠ #℘(𝐴).