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Exame do Estado Mental

MSc. Priscila Tomasi Torres


Exame do Estado Mental

A caracterização fenomenológica dos diferentes processos mentais de um paciente é


uma etapa fundamental.
Assim como a anamnese, a observação da forma como o paciente se apresenta,
comunica, percebe a realidade e chega a conclusões sobre questões do seu dia a dia pode
ser útil na formulação de hipóteses diagnósticas e na compreensão global do caso.
Observar questões relacionadas à motivação, ao afeto e ao pensamento pode ajudar a
elencar alvos terapêuticos e a identificar obstáculos à adesão a tratamentos diversos.
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O exame do estado mental é um recurso empregado por áreas como a neurologia


(Strub & Black, 2000) e a psiquiatria (Martin, 1990), sendo frequentemente referido, na
última, como súmula psicopatológica.
Longe de ser propriedade de um campo específico do conhecimento, a boa realização
de um exame do estado mental requer conhecimentos aprofundados sobre processos
psicológicos básicos, psicopatologia, semiologia das grandes síndromes neurológicas,
desenvolvimento psicológico e nosologia psiquiátrica. Sinais e sintomas podem ser
identificados nessa etapa do exame e avaliados posteriormente por métodos específicos,
como testes e escalas.
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O que observar:

De acordo com Rozemblatt (2011), o clínico deve estar atento a:


aparência/apresentação, orientação, fala, pensamento, atenção, concentração, memória,
funcionamento cognitivo global, emoções, insight, julgamento e preocupações específicas.
Outros autores incluem, ainda: outras habilidades construtivas, outros componentes
da linguagem (Martin, 1990), motricidade, aspectos sensoriais e perceptivos (Snyderman &
Rovner, 2009), sensopercepção, afeto e humor (Velloso, 1990).
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Aparência e conduta:

Desde o primeiro contato com o paciente em uma consulta, informações sobre sua
apresentação e aparência são facilmente percebidas.
O paciente apresenta interesse por cuidados ou higiene pessoal? Quais vestimentas ele usa
durante a entrevista? Tem cicatrizes ou tatuagens? Como é o contato visual? Quais são as
expressões faciais e posturais predominantes? Sua conduta é apropriada, cooperativa,
desafiadora, desinibida, expansiva, hostil, desconfiada ou sedutora? O paciente é passivo/não
toma iniciativas durante a consulta? Apresenta comportamentos ecopráxicos (p. ex., imita gestos
ou posturas do examinador) e utilização (p. ex., pega instrumentos que estão na mesa de exame
sem que seja solicitado ou que o uso seja apropriado para o momento)?
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Orientação:

Na etapa do exame do estado mental que busca informações sobre orientação, o


examinador deverá avaliar se o paciente está orientado quanto a pessoa (autopsíquica –
reconhece sua identidade), aos outros (alopsíquica – reconhece acuradamente outras
pessoas ao seu redor), ao espaço (onde está no momento da entrevista: local, rua, cidade,
estado, país) e ao tempo (hora, dia, mês e ano).
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Atividade Motora:

Durante todo o contato com o paciente é importante avaliar como ele se movimenta
(velocidade, coordenação motora fina e grossa), seu equilíbrio (estático e dinâmico), tônus
postural (p. ex., hipotonia e hipertonia), marcha, nível de atividade motora (p. ex.,
hiperatividade ou hipoatividade), tiques e tremor. Pedir para que o paciente caminhe pela
sala, suba uma escada, faça um desenho ou realize gestos simples pode ser necessário para
que as informações mencionadas sejam mais facilmente observadas.
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Atividade Motora:

A agitação psicomotora pode ocorrer em diversas condições clínicas e psiquiátricas, como


transtorno do déficit de atenção/hiperatividade, mania, delirium, quadros de
intoxicação/abstinência de drogas, entre outras.
É importante inquirir se o paciente apresenta lentificação ou aceleração do pensamento,
pois, em algumas situações, pode não haver simetria entre a quantidade de atividade motora e a
quantidade de atividade psíquica em função do tempo. Por exemplo, no contexto do exame clínico,
um paciente com elevação do humor pode ter apenas aceleração do pensamento
(taquipsiquismo), sem alterações perceptíveis na motricidade.
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Atividade Motora:

A lentificação ou a hipoatividade psicomotora podem ocorrer nos quadros depressivos graves, no delirium
hipoativo, na catatonia e em diversas doenças neurológicas. A bradicinesia, ou lentificação, ocorre
predominantemente na atividade motora. A combinação de bradicinesia, rigidez muscular e tremores é
frequentemente observada em quadros neurodegenerativos, como a doença de Parkinson e a intoxicação por
antipsicóticos (agentes bloqueadores do neurotransmissor dopamina, geralmente prescritos para o controle das
esquizofrenias). No último caso, observam-se efeitos extrapiramidais, como distonia aguda (espasmos dolorosos
na língua, no pescoço, na musculatura mandibular e nos membros), acatisia (dificuldade ou incapacidade de se
manter em repouso) e discinesia tardia (movimentos involuntários que ocorrem principalmente nas musculaturas
da boca, da face e da língua em pacientes que usam antipsicóticos há muitos anos). Nas síndromes frontais, pode
ocorrer hipoatividade, hiperatividade e desinibição. A sintomatologia predominante depende da região do córtex
pré-frontal acometida. Em psiquiatria, a hipoatividade é um sintoma frequente na depressão grave, nos
transtornos dissociativos e no transtorno estresse pós-traumático.
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Linguagem:

A linguagem pode ser definida como a capacidade de transmitir e captar mensagens com
significado (Damasio & Damasio, 1990). Com relação à expressão oral, devem ser observados iniciativa,
volume, fluência, prosódia, capacidade de articulação dos sons, parafasias semânticas e fonéticas e
neologismos. Em transtornos psiquiátricos, alterações do humor podem afetar a fala do paciente. Por
exemplo, enquanto a fala de pacientes depressivos tende a ser lentificada, a de pacientes em quadros
maníacos pode ser acelerada.
Diversos são os transtornos que comprometem a capacidade de compreensão da linguagem, como
a afasia de Wernicke e a afasia transcortical sensorial. Comprometimentos em outras funções cognitivas
podem afetar a compreensão da linguagem. Por exemplo, pacientes com quadros demenciais ou
deficiência intelectual também podem apresentar dificuldades para compreender mensagens complexas
que exijam capacidade de abstração.
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Humor:

A observação do comportamento do paciente e de suas queixas pode ser útil para que
o clínico trace inferências sobre seu estado emocional predominante ou seu humor. A
distinção entre traço e estado é fundamental nessa etapa do exame. O humor do paciente
durante a consulta pode não refletir seu quadro de humor em sentido amplo no período em
que é avaliado.
Perguntar ao paciente e a outros informantes sobre como ele tem reagido a
diferentes situações cotidianas, seus interesses, interpretações de fatos e eventos
vivenciados recentemente é fundamental para compreender seu humor atual.
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Alguns quadros de humor incluem:

➔ Astenia/adinamia (depressão) – falta de energia, motivação, interesse em lidar com


atividades do dia a dia.
➔ Disforia (estados mistos) – sintomas de humor caracterizados por um espectro de reações
que vão de tristeza, falta de esperança, pessimismo, culpa, alterações somáticas (p. ex., sono
ou apetite) e, em alguns casos, ideação suicida a irritabilidade e agressividade em quadros
maniformes.
➔ Euforia (mania) – sintomas de humor caracterizados por grandiosidade na interpretação de
fatos e eventos e por alegria intensa e muitas vezes desproporcional, levando a
comportamentos descontextualizados, desinibidos e socialmente inadequados.
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Pensamento:

Ao avaliar o pensamento do paciente, é importante entender a diferenciação entre processo


e conteúdo.
Enquanto o processo de pensamento refere-se ao fluxo, à organização, à velocidade e ao
concatenamento de ideias, o conteúdo refere-se àquilo que o paciente pensa.Em termos de
processo ou forma, o pensamento pode ser fluente, lento, acelerado, organizado, desorganizado,
direcionado de forma objetiva, vago, vazio, tangencial, incoerente, com fuga de ideias/pouca
associação entre elementos. Já o conteúdo pode ser diversificado ou, em alguns casos
psiquiátricos, obsessivo. Pacientes podem apresentar ideias delirantes plausíveis (como na
erotomania) ou implausíveis e bizarras (como em vários quadros psicóticos).
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Outros pontos a serem avaliados:

➔ Sensopercepção;
➔ Atenção;
➔ Memória;
➔ Consciência;
➔ Julgamento e Insight;
➔ Funções executivas;
Referências

MALLOY-DINIZ, Leandro F.; MATTOS, Paulo; ABREU, Neander; et al. Neuropsicologia.


Porto Alegre, Artmed: Grupo A, 2016. E-book. ISBN 9788582712917. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582712917/.

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