Você está na página 1de 62

Especi�cidades do psicodiagnóstico em alterações mentais

Profa. Alissandra Braga

Descrição Você conhecerá as especificidades no psicodiagnóstico de alterações mentais, tais como


transtorno de ansiedade e humor, transtorno do espectro autista, transtorno do déficit de atenção
com hiperatividade e uso de substâncias psicoativas, oportunizando o conhecimento acerca da
sintomatologia dos transtornos mentais e a escolha dos instrumentos de avaliação para o
psicodiagnóstico que auxiliem na identificação da intensidade de sinais/sintomas presentes no
funcionamento psicológico do paciente.

Propósito Compreender as especificidades do psicodiagnóstico nos transtornos mentais é de suma


importância para os alunos de psicologia, pois auxilia na escolha dos instrumentos mais
adequados para a organização de um plano de avaliação eficiente e, consequentemente, para
uma intervenção clínica assertiva que corrobore para a melhoria da qualidade de vida dos
pacientes.

Preparação Tenha acessível para consulta o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª
edição (DSM-V).

Objetivos

Módulo 1 Módulo 2

Psicodiagnóstico: TDAH e TEA Psicodiagnóstico: transtornos de


ansiedade, de humor e por uso de
Compreender as alterações mentais e suas especificidades
substâncias
no psicodiagnóstico do transtorno do déficit de atenção com
substâncias
hiperatividade (TDAH) e transtorno do espectro autista
(TEA). Identificar os instrumentos de avaliação utilizados no
psicodiagnóstico de transtornos de ansiedade, de humor e
por uso de substâncias, bem como as especificidades
desses instrumentos.

 Introdução
A psicologia busca uma consolidação científica desde seu nascimento e, a partir
do primeiro laboratório de psicologia experimental, vem se firmando cada vez
mais no campo das ciências e da saúde. Assim, vem sendo solicitada sua
inclusão em espaços onde a instabilidade psíquica e a comportamental precisam
ser mais profundamente investigadas. Nesse contexto, o psicodiagnóstico ganha
destaque perante os desafios do diagnóstico de transtornos mentais, que
apresentam sinais e sintomas que se correlacionam, dificultando a tomada de
decisão pautada apenas na visão de um único profissional.
Neste material, buscamos apresentar, além do conceito, os instrumentos, sua
aplicabilidade e os cuidados no momento de realizar o psicodiagnóstico, tentando
auxiliar na construção do raciocínio clínico para montagem de um protocolo de
avaliação.

Tanto no transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) quanto no


transtorno do espectro autista (TEA), são necessários cuidados no momento da
administração, seja com o setting terapêutico, seja na construção do vínculo com
paciente e família.

Ressalta-se ainda a importância de ter domínio acerca da aplicabilidade dos


instrumentos, bem como ter consciência do critério diagnóstico segundo DSM-V
ou similares, a fim de facilitar a observação clínica. Além disso, é necessário ter
conhecimento acerca dos parâmetros diagnósticos apresentados no Código
Internacional de Doenças em sua 11ª edição (CID-11).
1 - Psicodiagnóstico: TDAH e TEA
Ao �nal deste módulo, você será capaz de compreender as alterações mentais e suas especi�cidades no
psicodiagnóstico do transtorno do dé�cit de atenção com hiperatividade (TDAH) e transtorno do espectro autista
(TEA).

Critérios diagnósticos do TDAH


De acordo com pesquisas recentes, há
um aumento de casos de transtorno do
déficit de atenção com hiperatividade
(TDAH) e transtorno do espectro autista
(TEA). Esse fenômeno pode ser
explicado por mudanças nos critérios de
diagnóstico, possibilitando melhor
descrição de sintomas, especificando até
mesmo os casos leves, de acordo com
DSM-V. Além disso, existe atualmente
maior quantidade de profissionais
especializados, maior difusão de
conhecimento acerca de sinais e
sintomas por toda a sociedade, o que
facilita o encaminhamento precoce para
o psicodiagnóstico, em caso de suspeita
de alteração de comportamento.

O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento de causas genéticas, mas também


com impacto na vida socioafetiva. É caracterizado por sintomas como falta de
atenção, inquietação e impulsividade, que variam no grau da intensidade de acordo
com a fase da vida. Aparece na infância e pode acompanhar o indivíduo por toda a
vida. Com bases no DSM-V existem três tipos:

  
Dé�cit de atenção Hiperatividade e Tipo combinado
impulsividade
A seguir descreveremos melhor sobre essa questão.

Diagnóstico clínico do TDAH


É um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta crianças, adolescentes e adultos,
apresenta grau de inconsistência com o nível do desenvolvimento e gera prejuízos nos
campos psicossocial, acadêmico ou profissional. O psicodiagnóstico é complexo, seu
curso e intensidade correlacionam com fatores ambientais, traços de personalidade e
demais diagnósticos clínicos, exigindo treinamento e experiência por parte dos
profissionais de saúde que realizarão a avaliação.

Protocolo sugestivo para psicodiagnóstico em TDAH


Não há exames psicométricos que por si só possibilitem fazer o psicodiagnóstico.
Assim, sabe-se que os testes precisam ser associados à experiência clínica do
profissional. Existem baterias de testes e escalas de comportamento que, associadas
à observação clínica, entrevista psicológica e anamnese, compõem o
psicodiagnóstico. A seguir, forneceremos mais detalhes sobre o TDAH.
psicodiagnóstico. A seguir, forneceremos mais detalhes sobre o TDAH.

Caso clínico ilustrativo/queixa principal: P, 2016 

P tem 06 anos e apresenta comportamento agitado e impulsivo, mudanças


repentinas de humor, declínio no desempenho acadêmico e
heteroagressividade. Tais alterações aparecem tanto no contexto escolar
quanto no ambiente familiar. Este caso clínico P, 2016 é fictício, baseado em
experiência clínica e critérios do DSM-V, apresentado para auxiliar na
construção do raciocínio clínico em psicodiagnóstico. Confira a seguir uma
sugestão de plano de avaliação!

Rapport 

Duas sessões com objetivo de ambientação, desenvolvimento do vínculo com


o psicólogo e com o processo psicodiagnóstico. Nesse momento, sugere-se
utilizar uma técnica que auxilie a observação clínica, como parte da análise
qualitativa dessa avaliação. Sugere-se usar a técnica “a Hora do Jogo”.

Instrumentos de avaliação para psicodiagnóstico 


Instrumentos de avaliação para psicodiagnóstico

Em média, cinco sessões divididas para investigar aspectos psicológicos e


cognitivos bem como identificar perfil psicológico e prejuízos em funções
executivas e atencionais. Nessa etapa, sugere-se utilizar instrumentos de
avaliação de traços de personalidade, além de testes e escalas utilizadas para
identificar aspectos cognitivos e disfuncionais no caso clínico P, 2016. Sugere-
se adotar um protocolo investigativo que possibilite evidenciar aspectos
psicológicos e capacidade intelectual global, visando evidenciar prejuízos
atencionais.

Instrumentos para identificação de perfil psicológico 

Hora do Jogo

Objetiva a fixação da atenção do paciente para o processo psicodiagnóstico,


isso possibilitou que a criança despertasse o interesse nas brincadeiras
lúdicas, projetando suas demandas psicoemocionais dentro do ambiente
terapêutico.

Teste HTP

Utiliza-se para obter informações sobre como a criança experiencia sua


individualidade em relação ao ambiente e às pessoas, além de possibilitar a
individualidade em relação ao ambiente e às pessoas, além de possibilitar a
identificação de projeção de elementos da personalidade e de áreas de conflito
dentro da situação terapêutica (BUCK, 2009, p. 1).

 TDAH: diagnóstico e plano de avaliação


Neste vídeo, abordaremos o psicodiagnóstico do TDAH e uma sugestão de plano de
avaliação.

Avaliação do funcionamento cognitivo


A seguir, vamos conhecer instrumentos para identificação do funcionamento cognitivo
A seguir, vamos conhecer instrumentos para identificação do funcionamento cognitivo
global.

Escala Wechsler de inteligência para crianças – 4ª edição (WISC-IV) 

Criada por David Wechsler, tem como objetivo avaliar a capacidade intelectual
e o processo de resolução de problemas do paciente, além da obtenção de
construtos específicos do paciente, como:

• Índice de compreensão verbal (ICV).


• Índice de organização perceptual (IOP).
• Índice de memória operacional (IMO).
• Índice de velocidade de processamento (IVP).

Esses índices auxiliarão na investigação do quadro sintomático do paciente,


conforme as recomendações contidas no manual técnico do WISC-IV
(WECHSLER, 2013).

SNAP-IV 

Tomando por base a sintomatologia descrita no DSM-V, da American


Psychological Association (APA), foi desenvolvido para avaliação
complementar no transtorno do déficit de atenção/hiperatividade em crianças
e adolescentes, adaptado para o Brasil (MATTOS et al., 2006, p. 296). A
aplicação dirige-se aos pais e professores. Sugere-se solicitar três professores
diferentes para responder, preferencialmente, das áreas de exatas, linguagem e
ciências humanas. Apesar de não ser um teste psicológico, é uma escala
amplamente estudada e recomendada pela Associação Brasileira do Déficit de
Atenção (ABDA), objetivando identificar sinais e sintomas de alterações
comportamentais tanto no ambiente escolar quanto familiar.

Bateria psicológica para avaliação da atenção (BPA) 

Avalia a capacidade geral de atenção, assim como os tipos específicos, ou


seja, atenção concentrada, dividida e alternada. É utilizada para identificar
prejuízos atencionais, permitindo evidenciar o tipo de atenção mais
comprometido.

Alguns cuidados são muito importantes na aplicação do protocolo de avaliação do


TDAH. É fundamental criar um setting terapêutico que não interfira no resultado dos
instrumentos, de modo que o teste apresente o resultado mais próximo possível do
funcionamento do indivíduo. Assim, cada protocolo apresenta suas particularidades
na organização do setting.
Em se tratando do TDAH, é importante que o ambiente tenha:

 Poucas informações visuais

 Um mínimo de ruídos

 Boa iluminação

 Cadeiras e mesa confortáveis para minimizar o cansaço com a postura


Acerca do processo, deve-se respeitar intervalos para descanso, pois manter-se
concentrado por períodos longos gera cansaço e compromete o resultado. Antes de
iniciar a testagem, também deve-se investigar como o paciente está se sentindo, se
dormiu bem, se está alimentado, entre outras questões que possam gerar incômodos
durante a execução dos testes. Faça um roteiro/checklist para não se perder na
sequência da aplicação e alterne a aplicação de testes que medem funções da área de
lógica e de linguagem. Sempre pergunte ao paciente se está cansado e, se você
perceber sinais de cansaço, interrompa a aplicação.

Instrumentos de identi�cação do
 funcionamento cognitivo global
Neste vídeo, abordaremos a avaliação do funcionamento cognitivo e dos prejuízos em
funções executivas e atencionais.
Transtorno do espectro autista (TEA)
Para desenvolver um plano de avaliação psicodiagnóstica, objetivando identificar
sinais do TEA, leva-se em consideração que existe uma variabilidade de perfis, no que
diz respeito à comunicação, cognição, adaptabilidade, sociabilidade e padrões de
comportamento variados, dificultando a compreensão do transtorno.

Diagnóstico clínico do TEA


O DSM-V classifica o TEA como um transtorno do neurodesenvolvimento, com as
principais alterações relacionadas a dificuldades de comunicação e interação social,
bem como a comportamentos restritos e repetitivos. Considerado uma síndrome
comportamental, possui etiologias múltiplas, que afetam áreas importantes no
desenvolvimento.

Protocolo sugestivo para o psicodiagnóstico em TEA


Realizar um psicodiagnóstico de TEA é um processo complexo devido à diversidade
de manifestações de sintomas, com intensidade e curso diferentes para cada criança.
Assim, pode-se dizer que cada criança TEA é única, pois a combinação de sintomas
pode variar de criança para criança. Confira a seguir uma sugestão de plano de
avaliação!

Rapport 

Duas sessões com objetivo de ambientação, desenvolvimento do vínculo com


o psicólogo e com o processo psicodiagnóstico. Nesse momento, sugere-se
utilizar uma técnica que auxilie a observação clínica, como parte da análise
qualitativa dessa avaliação. Nessa etapa, utilizam-se técnicas para
compreender a dinâmica familiar.

Caso clínico ilustrativo/queixa principal: ED 

O paciente ED de 3 anos, compareceu ao ambulatório infantil acompanhado de


sua mãe. A queixa principal foi atraso na fala, dificuldades significativas na
alimentação, evitando alimentos mais consistentes, além de apresentar sono
fragmentado e irritabilidade em ambientes com barulho. O caso descrito é
fictício, baseado em experiência clínica e critérios do DSM-V e do CID -11,
fictício, baseado em experiência clínica e critérios do DSM-V e do CID -11,
apresentado para auxiliar na construção do raciocínio clínico em
psicodiagnóstico.

Instrumentos de avaliação para psicodiagnóstico em TEA 

O diagnóstico é estritamente clínico (DSM-V, 2013), sendo o psicodiagnóstico


indicado para descartar possibilidades de outros diagnósticos. Sugere-se, além
da observação clínica minuciosa, a aplicação de protocolo investigativo, com
instrumentos para rastreio de sinais, severidade e comprometimento do
paciente com hipótese diagnóstica de TEA:

Lista de checagem de comportamento autístico (ABC)

É utilizada para identificação dos casos mais graves. Composta por 57 itens,
com uma divisão comportamental previamente estipulada para cada item. A
pontuação média para crianças com autismo é 78 pontos, enquanto casos de
crianças com retardo mental grave é de 44 pontos.

Escala para rastreamento de autismo revisada (M-CHAT-R/F)

Bastante utilizada no Brasil, é obrigatória na rede de saúde pública. Foi


elaborada para triagem do autismo com o objetivo de encaminhar para um
especialista, caso preencha os requisitos. Ela aponta três riscos definidos:
baixo (pontuação 0-2), moderado (pontuação 3-7) e alto risco (pontuação
baixo (pontuação 0-2), moderado (pontuação 3-7) e alto risco (pontuação
8-20). A partir da classificação moderado, é encaminhado para sequenciar a
avaliação.

Escala de avaliação para autismo infantil (CARS)

Uma das escalas mais utilizadas para identificar o espectro do autismo nas
crianças. Nela são avaliados três aspectos principais: desenvolvimento social;
distúrbio da linguagem e habilidades cognitivas. Possibilita investigar início
precoce, antes de 30 meses de idade. É composta por 15 itens que são
utilizados para avaliar a condição das crianças. A pontuação varia de 15 a 60
pontos; caso a criança atinja uma pontuação maior que 37,5, é considerado
que ela possui o autismo de forma grave.

Sistema de avaliação do transtorno do espectro autista (PROTEA-R)

É uma avaliação de autismo ocorrida por meio de brincadeiras com as


crianças, buscando identificar se esses pacientes possuem ou não o
transtorno do espectro autista. Tem padronização brasileira e é destinado para
crianças entre 24 e 60 meses de idade que não se comunicam de forma
natural.

Aplicação do protocolo de avaliação do TEA


Aplicação do protocolo de avaliação do TEA
Em se tratando de aplicação de testes, é
muito importante adequar-se à demanda
e buscar criar um setting terapêutico que
não interfira no resultado dos
instrumentos. Com o objetivo de
apresentar o resultado mais próximo
possível do funcionamento do indivíduo,
nesse caso em especial, o vínculo com o
profissional é fundamental. Quanto mais
severo o quadro, mais difícil construir um
acesso do profissional com a criança ou
adolescente; por isso, estabelecer uma
ponte de acesso é crucial para o bom
desempenho e para a realização do
psicodiagnóstico.

Cada protocolo apresenta suas particularidades na organização do setting e na


condução do atendimento/avaliação, mas, em se tratando do TEA, normalmente a
avaliação é dividida em duas etapas principais, vejamos a seguir.

Primeira fase 
É mais centrada na entrevista e na aplicação de instrumentos aos pais. É
importante que o profissional tenha habilidade na aplicação dos instrumentos,
que normalmente são extensos. A entrevista psicológica com a família, quase
sempre, é longa e difícil, pois estamos lidando com pais assustados e
cansados, já que as particularidades do comportamento da criança autista
demandam participação intensa dos pais. Alguns, além do cansaço,
apresentam dificuldades em aceitar a diferença do comportamento dos filhos.
Assim, é importante que o profissional demonstre empatia e acolhimento,
buscando minimizar a angústia gerada pela busca do resultado.

Numa tentativa de evitar respostas automáticas, sem muita análise, orienta-se


os pais acerca da importância de suas respostas no processo de investigação
das alterações apresentadas por seus filhos. Os formulários mais extensos
podem ser respondidos em casa, junto com o cônjuge ou familiar de apoio.
Indica-se que, mesmo quando respondido em casa, seja feito um checklist com
os pais, para verificar se responderam a todas as perguntas e se há dúvida em
algumas respostas. Qualquer alteração é anotada como fonte de investigação.
As respostas servem de base para comparar com os critérios do DSM-V ou
similar.

Pode-se também ir à escola para acompanhar o comportamento da criança em


outros ambientes.
Segunda fase 

É composta pela avaliação propriamente dita. Nesta etapa de atendimento, o


primeiro passo é estabelecer vínculo com a criança e/ou adolescente. A
observação clínica livre pode auxiliar tanto a expressão do comportamento
quanto o estabelecimento de vínculo e contato. Alguns instrumentos já
apresentam um protocolo pronto descrito no manual, guiando a atuação. Em
se tratando do PROTEA-R, é necessário montar o setting terapêutico antes da
chegada da criança, lembrando que são três dias em que se observa o
comportamento dela no cenário, interagindo ou não com brinquedos e com o
aplicador. Nele, pode-se verificar se o mesmo comportamento se repete
durante as três sessões, examinando quais são predominantes e se existe um
atraso no desenvolvimento, averiguando se há encaixe no critério diagnóstico,
estabelecido pelo DSM-V ou similar.

É importante verificar o estado emocional da criança, se há sono, fome ou


sede, no intuito de minimizar qualquer desconforto que atrapalhe o momento
da avaliação.

Nos casos de psicodiagnóstico de TEA, é bem possível a ocorrência de


imprevistos, por isso é necessário que o planejamento seja flexível. Nos casos
de muita irritabilidade, sono, choro intenso, deve-se anotar o comportamento e
as reações, mas em seguida interromper a avaliação, visto que a prioridade é
acolher e confortar a criança.
Cuidados importantes na aplicação do
 protocolo de avaliação do TEA
Neste vídeo, abordaremos o psicodiagnóstico do transtorno do espectro autista, com
destaque para os cuidados importantes na aplicação do protocolo de avaliação.

Falta pouco para atingir seus objetivos.


Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Com relação ao psicodiagnóstico do TDAH, pode-se dizer que

basta investigar a atenção, pois nesse caso somente essa habilidade


A
é afetada.

é feito por meio de uma investigação acerca dos prejuízos


B
atencionais, utilizando apenas os testes de memória de trabalho.

são utilizadas baterias de testes e escalas de comportamento que,


C associadas à observação clínica, entrevista psicológica e anamnese,
compõem o psicodiagnóstico, pois o diagnóstico é clínico.

D basta uma entrevista clínica para perceber o prejuízo atencional.


é investigada apenas a linguagem, pois, segundo o DSM-V, o atraso
E
ou as alterações na fala são indicativos de TDAH.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Embora o diagnóstico seja clínico, esses instrumentos auxiliam a identificação dos


sintomas descritos no DSM-V e em similares, sendo um facilitador no
psicodiagnóstico.

Questão 2

Em se tratando do TEA, existe uma variabilidade de perfis no que diz respeito à


comunicação, cognição, adaptabilidade, sociabilidade e padrões de comportamento.
Por isso, é importante criar um protocolo

que investigue o aspecto comportamental, tomando por base a


A
queixa familiar apenas.

que envolva apenas a observação clínica em uma ou duas sessões,


que envolva apenas a observação clínica em uma ou duas sessões,
B
suficientes para diagnosticar alterações psíquicas no TEA.

investigativo, tomando por base o DSM-V ou CID 11, que envolva,


além da observação clínica minuciosa, instrumentos para rastreio de
C
sinais, severidade e comprometimento do paciente com hipótese
diagnóstica de TEA, sendo um dos instrumentos o PROTEA-R.

D tomando por base apenas o DSM-V.

que considere apenas o relato da escola associado ao da família


E
como suficientes para o diagnóstico do TEA.

Parabéns! A alternativa C está correta.

O PROTEA-R pode ser usado como um instrumento que fornece um guia sobre o que
observar nas sessões com a criança. Assim, complementa os questionários e
inventários direcionados à família e à observação clínica do profissional.
2 - Psicodiagnóstico: transtornos de ansiedade, de humor e por uso
de substâncias
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os instrumentos de avaliação utilizados no psicodiagnóstico
de transtornos de ansiedade, de humor e por uso de substâncias, bem como as especi�cidades desses
instrumentos.

Avaliação dos transtornos de ansiedade


De acordo com o Código Internacional
das Doenças, 11ª edição (CID-11), o
transtorno de ansiedade é definido como
um mal-estar físico e psíquico decorrente
de sintomas que englobam medo e
preocupação excessiva e persistente,
insegurança, ameaça iminente de perigo,
o que provoca um estado de
preocupação e alerta contínuo, gerando
tensão muscular, taquicardia, respiração
curta. É considerada patológica quando
esses sintomas se apresentam de forma
desproporcional, interferindo na
qualidade de vida do sujeito e
impedindo-o de praticar seus hábitos
cotidianos.
A literatura nos mostra que a ansiedade nem sempre é patológica, mas há
instrumentos com os quais podemos nos respaldar para investigar os sintomas e
classificá-los de acordo com sua intensidade. O psicodiagnóstico é feito por meio da
correlação entre critérios estabelecidos no DSM-V ou CID-11 e a aplicação de
instrumentos de avaliação psicológica. No contexto clínico, para investigar a
ansiedade, os instrumentos são escolhidos com base na queixa principal.

No contexto hospitalar, a ideia principal é medir o nível de ansiedade perante a


internação. Assim, sugere-se utilizar na avaliação psicodiagnóstica para investigar a
ansiedade os seguintes instrumentos:

Inventário de ansiedade (BAI) 

Compõe a escala Beck e seu objetivo é medir a intensidade da ansiedade por


meio da avaliação dos sintomas numa escala de zero a quatro pontos,
evidenciando níveis de gravidade crescentes de cada sintoma. Indicado para
pessoas de 17 a 80 anos. No Brasil foi adaptado por Cunha (2001).

Mini-inventário de fobia social (SPIN) 

Instrumento breve, autoaplicável e de fácil administração, composto por três


Instrumento breve, autoaplicável e de fácil administração, composto por três
itens, capaz de detectar sintomas fisiológicos de medo e de evitação. O
indivíduo usa como parâmetro como se sentiu durante a última semana, e as
respostas seguem o padrão medidas de escala tipo Likert, que variam de nada
a extremamente, com pontuação de 0 a 4, respectivamente.

Escala hospitalar de ansiedade e depressão (HADS) 

Inicialmente criada para verificar sintomas de ansiedade e de depressão em


pacientes em hospitais e clínicas não psiquiátricas, mais tarde passou a ser
utilizada em pacientes não internados e em indivíduos teoricamente livres de
transtornos. A HADS foi limitada em 14 itens, divididos em subescalas de
ansiedade e de depressão. Utiliza-se como parâmetro dois pontos de corte, em
ambas:

1. Casos possíveis: pontuação maior que 8.


2. Casos prováveis: pontuação maior que 11 pontos.

Foi sugerido um terceiro ponto de corte em relação a distúrbios graves:


pontuação acima de 15 pontos.

Cuidados importantes na aplicação do


Cuidados importantes na aplicação do
protocolo de avaliação de ansiedade
Em se tratando de investigar ansiedade, é fundamental elaborar uma entrevista clínica
que auxilie a compreender de que modo a ansiedade tem gerado prejuízo na vida
funcional do indivíduo. Assim, a queixa principal serve de parâmetro para aprofundar a
investigação no intuito de compreender melhor quais instrumentos utilizar. A
ansiedade, quando se torna patológica, pode apresentar uma variabilidade de
sintomas. Assim, para escolher qual instrumento de avaliação se deve usar, é preciso
identificar os sintomas que se deseja aferir a fim de conhecer sua intensidade e
prejuízos.

Partindo do princípio de que o


diagnóstico é clínico, as escalas de
investigação buscam conhecer quais
sintomas predominam, servindo de base
para correlacionar com os critérios do
CID-11. Desse modo, se a queixa
principal do paciente transcorrer acerca
de pensamento recorrente e
preocupantes, que impedem sua
concentração nas atividades diárias,
investiga-se transtorno de ansiedade
generalizada (TAG); na contramão, se a
queixa persiste em alterações
fisiológicas diante de exposição pública,
como estar num ambiente cheio ou ter
que apresentar um trabalho na escola,
utiliza-se outro instrumento de avaliação
nas entrevistas.

As escalas trazem em seu constructo situações ou sintomas fisiológicos para que o


indivíduo aponte se os sente e em que grau sente. É importante estabelecer um
vínculo para que o paciente se sinta confortável diante de você, sentindo-se seguro
para falar sobre seus medos, mesmo que pareçam sem sentido. Aliás, quanto mais
sem sentido ou intenso for o medo, maior o grau de ansiedade.

Instrumentos para avaliação dos transtornos


 de ansiedade
Neste vídeo, abordaremos o psicodiagnóstico do transtorno de ansiedade, com
destaque para os instrumentos utilizados e os cuidados importantes na aplicação do
protocolo.
Avaliação do transtorno de humor bipolar
Quando são avaliados transtornos de humor, toma-se como parâmetro diagnóstico a
intensidade da tristeza e da euforia, acompanhadas por determinados sintomas
típicos que acabam por comprometer a capacidade funcional do sujeito, nas
dimensões física, social e profissional.

De acordo com o Código Internacional das Doenças, 11ª edição (CID-11):

O transtorno de humor bipolar (THB) é definido como um distúrbio


psiquiátrico complexo marcado por episódios de depressão e
euforia (hipomania e mania), às vezes súbitos, com períodos
assintomáticos entre eles. As crises podem variar de intensidade
(leve, moderada e grave), frequência e duração.
(leve, moderada e grave), frequência e duração.

Na depressão também ocorrem flutuações usuais no humor e nas respostas


emocionais de curta duração, relacionadas aos desafios da vida cotidiana. Há casos
em que essas alterações se tornam mais longas, com intensidade variando de
moderada a grave. Com isso, tornam-se críticas as condições de saúde mental e, na
pior das hipóteses, pode levar ao suicídio.

A diferença entre depressão e


bipolaridade é a variação do humor. Na
depressão, o transtorno é unipolar, ou
seja, o sujeito apresenta apenas o humor
deprimido; já na bipolaridade apresenta
variação nos dois polos, com quadros de
humor eufórico.

O diagnóstico do transtorno bipolar é


clínico, baseado no levantamento da
história e no relato dos sintomas pelo
próprio paciente ou por um familiar,
sintomas esses que devem ser
relacionadas aos critérios estabelecidos
pelo DSM-V e pelo CID-11.

No psicodiagnóstico, existem alguns instrumentos que servem de base para


verificação de sintomas presentes no indivíduo com suspeita de THB, mas vale
verificação de sintomas presentes no indivíduo com suspeita de THB, mas vale
ressaltar que alguns servem apenas de parâmetro de investigação. O protocolo
investigativo deve ser elaborado por profissional que saiba investigar a subjetividade
dos sintomas manifestos no THB, a partir dos sintomas relatados pelo paciente ou
familiar ou pela aplicação de instrumentos de avaliação que verifiquem alterações no
humor e na intensidade de emoções sintomáticas no THB. Confira a seguir os
instrumentos recomendados para o psicodiagnóstico do THB!

Escala administrada pelo clínico para avaliação de mania (EACAM) 

Desenvolvida por Altman et al. (1994) com versão em português adaptada por
Shansis et al. (2003), cuja finalidade é rastrear sinais e sintomas de alterações
do humor com intuito de identificar THB.

Inventário de expressão de raiva como traço e estado (STAXI-2) 

Composto por 12 medidas distribuídas em 3 grupos: estado de raiva, traço de


raiva e expressão e controle da raiva. Isso forma um índice de expressão de
raiva que fornece uma medida completa da expressão e controle da raiva.
Avalia-se que existe uma estreita relação entre o controle da raiva e do
impulso, nos critérios diagnósticos do THB. Esse instrumento possibilita
investigar tanto a intensidade dos sentimentos de raiva quanto a frequência em
investigar tanto a intensidade dos sentimentos de raiva quanto a frequência em
que são experenciados. A dificuldade do controle da raiva é um dos sintomas
que se manifesta no THB como agressividade e irritabilidade com
comportamento explosivo.

Escala de depressão Beck (BDI II e BAI) 

Com o objetivo de avaliar sintomas afetivos e do humor, como:

• Pessimismo
• Sentimento de culpa e/ou de punição
• Autodesprezo
• Autocrítica
• Pensamentos e desejos suicidas

Além de sintomas somáticos, como, por exemplo:

• Tristeza
• Alteração do apetite
• Perda do prazer
• Choro
• Agitação
• Cansaço ou fadiga
• Indecisão
• Perda de energia
• Alterações no padrão de sono
• Irritabilidades
• Dificuldades de concentração
• Diminuição da libido

Esses sintomas auxiliam a investigar diagnóstico diferencial de hipomania e


distimia, além de níveis de ansiedade elevado.

Com base no DSM-V, é possível identificar sinais e sintomas depressivos que


sinalizam a importância de um psicodiagnóstico que auxilie mais detalhadamente a
compreensão do caso. Na entrevista inicial, ao ouvir a queixa do paciente, já se pode
estabelecer o roteiro da entrevista psicológica acerca dos aspectos nosológicos.
Nesse roteiro, pode-se investigar:

 Desânimo acentuado

 Redução ou aumento do apetite, com ganho ou perda de peso


 Alterações do sono

 Pessimismo e sentimento de culpa

 Baixa autoestima

A seguir, falaremos mais sobre a avaliação nessa questão.

Instrumentos para avaliação do transtorno



 de humor bipolar
Neste vídeo, abordaremos o psicodiagnóstico do transtorno de humor bipolar, com
destaque para os instrumentos utilizados.

Avaliação do transtorno depressivo


Para auxiliar na investigação do transtorno depressivo, sugere-se o uso dos seguintes
instrumentos:

Escala de Beck (BDI II, BHS e BSI) 

A fim de investigar os níveis da intensidade da depressão e dos prejuízos que


A fim de investigar os níveis da intensidade da depressão e dos prejuízos que
esta tem causado na vida social, profissional e escolar do indivíduo, sugere-se
aplicar a escala completa. Assim, verifica-se por meio do BDI II a intensidade
do quadro e pela escala BHS os índices de desesperança e pessimismo.
Alterações acima de 9 pontos nessa escala apontam para a necessidade de
aplicar a BSI, com o objetivo de compreender a gravidade dos sintomas
relacionados à ideação suicida e seu potencial para execução.

Escala Baptista de depressão (EBADEP-A, versão adulto) 

Instrumento autoaplicável que tem como objetivo avaliar a intensidade da


depressão em adolescentes e adultos. A escala é dividida em sete categorias:

1. Humor
2. Sintomas vegetativos
3. Sintomas motores
4. Sintomas sociais
5. Sintomas cognitivos
�. Ansiedade
7. Irritabilidade

Seu uso é possível em diversas áreas de atuação do psicólogo, como:

• Neuropsicologia
• Psicologia clínica/saúde /hospitalar
• Psicologia forense
• Psicologia do trabalho e das organizações
• Psicologia do esporte
• Psicologia social
• Psicologia comunitária
• Psicologia do trânsito

Pode auxiliar também o diagnóstico diferencial entre depressão e THB.

Escala Baptista de depressão (EBADEP-IJ, versão infanto-juvenil) 

Escala de autorrelato com o objetivo de auxiliar o diagnóstico da depressão


infanto-juvenil. Avalia sintomas depressivos e mensura uma gama de
características saudáveis, uma vez que é constituída de itens negativos e
positivos. Desse modo, facilita avaliar sintomatologia depressiva em crianças,
com normas por faixa etária e sexo, evidenciando comportamento positivo e
três faixas de sintomatologia:

1. Leve
2. Moderada
3. Severa
Cuidados importantes na aplicação do
protocolo de avaliação do humor
Na investigação do humor, é importante compreender o curso dessas alterações.
Assim, na entrevista psicológica, pode-se incluir perguntas que evidenciem o curso
das alterações de humor. Para escolher o instrumento de avaliação adequado, é
necessário distinguir a hipótese diagnóstica.

Existem particularidades nas alterações de humor. Na depressão, por exemplo, o


sujeito apresenta alterações de humor e os principais sintomas são:

• Sensação persistente de tristeza ou perda de interesse.

• Alterações do sono e do apetite.

• Sensação de cansaço constante.

• Baixa concentração.

• Apatia.

• Culpa.
• Descontentamento e desesperança.

• Perda do interesse ou prazer nas atividades que realizava com gosto antes.

Caso na investigação clínica consiga-se perceber um padrão continuado dessa baixa


no humor, a escala de Beck completa traz dados importantes para elucidar no
psicodiagnóstico. Mas quando a queixa apresentada relata dificuldades de controle da
raiva, agindo com impulsividade, agressividade diante das adversidades, humor
variando entre muito animado ou muito desanimado, deve ser estabelecida a hipótese
diagnóstica para transtorno de humor bipolar. Nesse caso, comumente ouvimos
relatos sobre:

• Irritabilidade

• Hiperatividade

• Insônia

• Impulsividade

• Psicose

• Euforia

• Dificuldade para dormir

• Perda de contato com a realidade

• Automutilação
• Comportamento de risco

Existem pontos de interseção, porém o que faz diferenciar uma alteração de humor da
outra é a intensidade tanto da melancolia quanto da euforia, com um intervalo de
tempo curto entre uma fase e outra, ou seja, apresenta mudanças extremas do humor,
indo de um polo a outro facilmente. Nesses casos, é importante avaliar a intensidade
dos sintomas da raiva, mania e hipomania.

O inventário de expressão de raiva como traço e estado (STAXI-2) pode auxiliar na


identificação dos traços de personalidade, mais diretamente da expressão da raiva,
possibilitando avaliar não só a intensidade dos sentimentos de raiva, mas a
frequência em que são experienciados. A dificuldade no manejo da raiva pode ter
estreita relação com THB, resultando numa medida completa da expressão e
controle da raiva.

O setting terapêutico precisa ser acolhedor, mas a habilidade do profissional em


perceber as sutis diferenças nas alterações de humor é bastante importante.
Aconselha-se usar a escala de Beck completa e os instrumentos voltados para
investigar THB, como STAXI-2 e a escala de mania de Altman (EACAM). Desse modo,
obtém-se um panorama mais completo acerca dos sintomas que o paciente
apresenta, podendo ter mais visibilidade no psicodiagnóstico.
Instrumentos para avaliação do transtorno
 depressivo
Neste vídeo, abordaremos o psicodiagnóstico do transtorno depressivo, com destaque
para os instrumentos e cuidados importantes na aplicação do protocolo de avaliação.

Uso de substância psicoativa


De acordo com o Código Internacional das Doenças, 11ª edição (CID-11), transtornos
mentais e comportamentais devidos ao uso de múltiplas drogas e ao uso de outras
substâncias psicoativas são classificados como F-19. Tais substâncias ativam
diretamente o sistema de recompensa do cérebro e produzem sensações de prazer. A
ativação pode ser tão intensa que os pacientes cada vez mais anseiam pela
ativação pode ser tão intensa que os pacientes cada vez mais anseiam pela
substância e negligenciam as atividades normais para obtê-la e usá-la. Essas
substâncias também têm efeitos fisiológicos diretos tais como:

 Intoxicação

 Abstinência

 Transtornos psiquiátricos induzidos por substâncias

Tais manifestações variam de acordo com a substância e sua classe, assim como
variam os tratamentos específicos da intoxicação e abstinência.

Elaborar um psicodiagnóstico de pacientes que fazem uso de substância psicoativa


requer prática e a facilidade para o trabalho multidisciplinar, pois a investigação gira
em torno de prejuízos no aspecto cognitivo por alterações de memória e
impulsividade, além das mudanças de traços de personalidade, alterações psíquicas e
emocionais.

Instrumentos de avaliação para uso de


substância psicoativa (SPA)
Existe insuficiência de instrumentos de avaliação tanto psicológica como
neuropsicológica para dependentes de substâncias psicoativas, o que evidencia a
necessidade de validação de mais escalas e testes psicológicos para esse público,
além da adequação de outras técnicas para sujeitos dependentes.

No psicodiagnóstico, objetiva-se identificar os possíveis prejuízos na capacidade


cognitiva e no desenvolvimento das habilidades sociais dos indivíduos que fazem uso
de substâncias psicoativas. Confira a seguir os instrumentos de avaliação sugeridos
para casos desse tipo!

Mini international neuropsychiatric interview – Plus 

Entrevista diagnóstica fundamentada nos critérios do DSM-V e no CID-11, cujo


objetivo é avaliar os transtornos mentais ao longo da vida. No
psicodiagnóstico, auxilia a compreensão de alterações psíquicas que podem
estar associadas ao uso de substâncias psicoativas.

Teste de personalidade das pirâmides de Pfister 

Método projetivo, é um instrumento que avalia aspectos da personalidade,


destacando principalmente a dinâmica afetiva e indicadores relativos a
habilidades cognitivas do indivíduo. Baseia-se na relação entre cores e
emoção, utilizando-se ainda da forma geométrica de uma pirâmide, por julgar
que assim possibilitaria a composição de variadas configurações que
expressem melhor a dinâmica emocional e o nível de estruturação da
personalidade. Assim, o modo como constroem suas pirâmides podem ser
indicativos de desorganização/desadaptação psíquica.

Bateria de Beck para ansiedade (BAI), bateria de depressão (Beck II),


bateria de Beck habilidades sociais (BHS) e escala de ideação suicida 
(BSI)

Mede a intensidade da depressão (BDI II) e intensidade da ansiedade (BAI). A


BHS é uma medida de pessimismo e oferece indícios sugestivos de risco de
suicídio em sujeitos deprimidos ou que tenham história de tentativa de
suicídio, enquanto a BSI detecta a presença de ideação suicida, medindo a
extensão da motivação e o planejamento de um comportamento suicida. No
psicodiagnóstico, são usadas no contexto clínico a fim de investigar os níveis
de alterações psíquicas.

Escala de inteligência Wechsler para adultos (WAIS III) 

Instrumento usado para avaliação clínica da capacidade intelectual, para


mensurar rendimento escolar, problemas de aprendizagem e identificação de
indivíduos excepcionais e superdotados, além de diagnóstico diferencial de
transtornos neurológicos e psiquiátricos que afetam o funcionamento mental.
Sabemos que o uso de substâncias psicoativas pode gerar prejuízos em várias
habilidades, entre elas, no sistema de recompensa cerebral, caracterizado por
seus componentes centrais (núcleo accumbens, área tegmentar ventral e
córtex pré-frontal) e sua associação tanto com o sistema límbico (associado
às emoções) quanto com os principais centros responsáveis pela memória
(amígdala e hipocampo). A bateria WAIS III possibilita derivar os resultados
quantitativos de quatro domínios cognitivos: compreensão verbal, memória
operacional, organização perceptual e velocidade de processamento. Assim,
possibilita gerar conclusões acerca do funcionamento cognitivo do paciente,
visando compreender os comprometimentos pelo uso de substância
psicoativa em seu funcionamento cerebral.

Protocolo de avaliação do uso de substância


psicoativa
Em se tratando do psicodiagnóstico de pacientes que fazem uso de substâncias
psicoativas, há de se levar em consideração os seguintes aspectos:

  
O tipo de substância Os objetivos e a Os prejuízos
usada motivação para o uso cognitivos e sociais
Essas substâncias químicas atuam no sistema nervoso central (SNC), causando
alterações no padrão de funcionamento do comportamento; da percepção; do humor;
da consciência; da memória, da atenção, entre outras habilidades. Esses impactos
variam de acordo com o tipo e a quantidade de uso. Há ainda prejuízo nas relações
interpessoais, profissionais e sociais, pois muitas substâncias são ilícitas.
O primeiro passo no psicodiagnóstico é uma entrevista psicológica que auxilie na
investigação das informações acerca da história de vida, início e curso do consumo de
substâncias, identificando qual ou quais o indivíduo faz uso. Nesse sentido, a
entrevista diagnóstica mini international neuropsychiatric interview plus, pode
contribuir, visto que é fundamentada no CID 11 e tem como meta investigar os
transtornos mentais ao longo da vida, corroborando para a compreensão de
alterações psíquicas que podem estar correlacionadas ao uso de substâncias
psicoativas.

Além de investigar aspectos psíquicos e


biológicos, é preciso compreender os
aspectos psicossociais. Portanto, é
preciso contato com a família para
compreender a dinâmica familiar, ouvir
relatos que poderão descrever
detalhadamente fatos que o paciente não
se recorda e verificar possíveis redes de
apoio para as crises.

Um próximo passo é identificar os


prejuízos causados pelo uso das
substâncias psicoativas. Esse prejuízo
engloba alterações cognitivas e
psíquicas.
Para o rastreio cognitivo, pode-se utilizar a bateria WAIS III, que elucida acerca da
memória, da atenção e das funções executivas, áreas comumente afetadas com o
consumo de drogas. Trata-se de uma bateria completa que possibilita investigar se a
capacidade intelectual está dentro dos padrões esperados para idade e escolaridade,
sendo um importante instrumento para o diagnóstico diferencial de transtornos
neurológicos e psiquiátricos. Com essa bateria, obtêm-se os resultados quantitativos
de quatro domínios:

 Compreensão verbal

 Memória operacional

 Organização perceptual
 Velocidade de processamento

Assim, é possível avaliar e acompanhar detalhadamente os prejuízos cognitivos de


adolescentes e adultos que fazem uso de substâncias psicoativas.

Para conhecer um pouco mais acerca dos aspectos psíquicos, testes de


personalidade são indicados. A definição de um perfil de personalidade auxiliará não
só na elaboração do psicodiagnóstico, mas também na estruturação das intervenções
psicológicas e encaminhamentos. Nesse contexto, o teste pirâmides de Pfister pode
ser um facilitador para compreender que o modo como constroem suas pirâmides
pode ser indicativo de desorganização/desadaptação psíquica. Pode-se utilizar
também o STAXI-2 a fim de investigar mais especificamente a expressão da raiva
como estado e traço, tanto sobre a intensidade dos sentimentos de raiva como acerca
da frequência em que são experienciados. Desse modo, auxilia na compreensão dos
efeitos da substância psicoativa nos traços de personalidade e no manejo da raiva
diante de frustrações, visto que algumas substâncias psicoativas são facilitadores
para explosões de raiva e agressividade.

Atenção!

É fundamental que o paciente compreenda o processo do psicodiagnóstico e a importância de sua


participação, pois alguns testes, principalmente os de investigação cognitiva, sofrem interferência caso o
paciente esteja sob efeito das substâncias psicoativas. Assim, no contrato terapêutico, é importante
estabelecer um vínculo e um pacto de confiança com o psicólogo, de modo que o paciente se sinta seguro
em relatar o uso de substâncias psicoativas antes da aplicação do teste. Desse modo, o psicólogo pode
avaliar a possibilidade de manter ou reestruturar a aplicação do protocolo de avaliação planejado para o dia.

Cuidados importantes na aplicação do


 protocolo de avaliação do uso de substância
psicoativa
Neste vídeo, abordaremos o uso de substância psicoativa, com destaque para os
cuidados importantes na aplicação do protocolo de avaliação.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Quando se trata de transtorno de humor, toma-se como parâmetro diagnóstico a


intensidade da tristeza e da euforia, acompanhadas por determinados sintomas
típicos que acabam por comprometer a capacidade funcional do sujeito, nas
dimensões física, social e profissional. Assinale a alternativa que indica o que o
psicodiagnóstico deve investigar no caso de transtornos de humor.

A Somente sintomas de depressão e ideação suicida.

Somente níveis de ansiedade, pois o maior risco é a euforia, que leva


B ao uso de substâncias psicoativas, responsáveis pela alteração do
humor.
Sinais e sintomas de alterações do humor com intuito de identificar
THB com base no CID 11, podendo utilizar testes e escalas que
C
identifiquem controle de raiva (STAXI), bem como níveis de
ansiedade e depressão (BAI e BDI II), por exemplo.

Variações de humor, por meio do WAIS III, a fim de verificar prejuízo


D
cognitivo que justifique o descontrole da raiva.

E Variações de comportamento por meio da escala ABC.

Parabéns! A alternativa C está correta.

É uma investigação minuciosa que requer instrumentos e técnicas que auxiliem a


compreender o funcionamento do paciente, visto que não existe um teste
psicométrico específico para esse fim.

Questão 2
Nos casos de pacientes que fazem uso de substâncias psicoativas, é necessário
fazer uma sondagem na entrevista inicial, buscando compreender seu histórico de
vida, a substância que usa e sua motivação. Deve-se elaborar um protocolo
investigativo para verificar alterações cognitivas e psíquicas. Assinale a alternativa
que melhor representa instrumentos para avaliação de alterações cognitivas e
psíquicas:

A BAI, BDI II e BHS.

B WAIS III, STAXI-2, teste de Pfister.

C WAIS III.

D STAXI-2 e BPA.

E Teste de Pfister e PROTEA-R.


Parabéns! A alternativa B está correta.

Sugere-se a aplicação de um protocolo investigativo, tomando por base o DSM-V ou


o CID 11, que envolva, além da observação clínica minuciosa, a investigação
cognitiva por meio do WAIS III, a definição dos traços de personalidade pelo teste de
Pfister e a investigação do manejo da raiva pelo STAXI-2.

Considerações �nais
Este material sobre especificidades no psicodiagnóstico de alterações mentais teve
como foco principal apontar caminhos que corroborassem para construções de um
raciocínio clínico tanto para a escolha dos instrumentos de avaliação quanto para a
interpretação dos resultados, com base não só nas análises quantitativas, mas
também qualitativas.

Com relação às alterações mentais que se correlacionam com transtornos do


neurodesenvolvimento, é possível encontrar mais facilmente pesquisas e
instrumentos de investigação que auxiliem o diagnóstico. Em contrapartida, nas
alterações mentais que se correlacionam mais diretamente com transtornos
psíquicos, é preciso construir um pensamento investigativo mais pautado nos critérios
diagnósticos preestabelecidos no DSM-V ou no CID-11, ou ainda em outros
parâmetros diagnósticos aceitáveis no meio científico, buscando instrumentos de
avaliação que auxiliem a verificação de presença e intensidade de tais sintomas.

Nesse contexto, buscou-se apresentar sugestões de instrumentos para investigação


de hipóteses diagnósticas das alterações mentais, com ênfase em TDAH, TEA,
ansiedade, depressão e uso de substâncias psicoativas. O objetivo foi salientar não só
os sinais e sintomas, mas também os caminhos de correlação entre a escolha do
instrumento e sua funcionalidade para cada alteração mental citada.

Compreende-se que, para os estudantes de psicologia, ter um roteiro, ainda que


sugestivo e flexível, é de grande valia na hora da prática, visto que o psicodiagnóstico
demanda um plano de avaliação adequado e de correlação das análises quantitativas
e qualitativas. Com esse plano, será possível estruturar um resultado que auxiliará
uma intervenção clínica assertiva para melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
Explore +
Assista ao documentário Em um mundo interior (Mariana Pamplona, Flávio Frederico,
2018). É o primeiro longa-metragem brasileiro que fala estritamente sobre o autismo.
Ele foi criado para desconstruir estereótipos sobre as nossas expectativas do que é
ser autista. A principal questão abordada é “eu queria que meu filho”, ou seja, como os
pais vivem um luto sobre o que idealizaram para seus filhos. O filme conta a história
de sete famílias com crianças e adolescentes entre 3 e 18 anos. Cada família vem de
diferentes classes sociais e regiões do país. Assim, conseguimos ter uma forte
perspectiva da inclusão e entender que cada pessoa com autismo é diferente da
outra.

Delicadeza é azul (Sandro Arieta, Yasmin Garcez, 2021) também é um documentário


sobre o autismo e proporciona reflexões a respeito do melhor tratamento e da
inclusão escolar. Nele, você verá entrevistas sobre diferentes níveis do espectro em
cada criança, com familiares, terapeutas, professores, médicos e artistas. Trata-se de
um novo olhar sobre o autismo com questionamentos acerca do que significa hoje
uma comunicação relevante pelos cinco sentidos. Esse documentário vai além das
dificuldades do autismo e apresenta a importância do respeito, do amor e da
delicadeza como meios transformadores, salientando a conscientização urgente, pois
ser diferente, de acordo com o documentário, é normal.

Visite os sites das mais importantes instituições que trabalham com a saúde mental e
os transtornos mencionados:
• Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP)

• Conselho Federal de Psicologia (CFP)

• Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)

• Academia Brasileira de Neurologia (ABN)

• Associação Brasileira do Déficit de Atenção

Referências
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. APA. Manual diagnóstico e estatístico
de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed; 2014.

ANZELER, M. L. A. Transtornos de ansiedade e avaliação psicológica: instrumentos


utilizados no Brasil. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, ano 5,
ed. 10, v. 13, p. 100-120, out. 2020.

ARAUJO, Á. C.; LOTUFO NETO, F. A nova classificação americana para os transtornos


mentais: o DSM-5. Revista Brasileira de Terapia Cognitivo Comportamental, v. 16, n.
1, p. 67-82, abr. 2014. Consultado na internet em: 22 fev. 2023.

BIAGGIO, A. M. B.; NATALÍCIO, L. Manual para o inventário de ansiedade Traço-Estado


(IDATE). Rio de Janeiro: CEPA, v. 15, 1979.
(IDATE). Rio de Janeiro: CEPA, v. 15, 1979.

BOSA, C. A.; SALLES, J. F. Sistema PROTEA-R de avaliação da suspeita de transtorno


do espectro autista. [S.l.]: Vetor, 2018.

BOTEGA, N. J. et al. Transtornos do humor em enfermaria de clínica médica e


validação de escala de medida (HAD) de ansiedade e depressão. Revista de Saúde
Pública, v. 29, p. 359-363, 1995.

CUNHA, J. A. et al. Manual da versão em português das escalas Beck. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2001.

FARIAS, A. A. R. B. et al. Como é feito o psicodiagnóstico em crianças transtorno do


espectro autista. In: Semana de Integração: Ensino, Pesquisa e Extensão da UFVJM,
Diamantina, 2021. Anais [...]. Diamantina, MG: UFVJM, 2021. Consultado na internet
em: 5 mar. 2023.

MATTOS, P. et al. A apresentação de uma versão em português para uso no Brasil do


instrumento MTA-SNAP-IV de avaliação de sintomas de transtorno do déficit de
atenção/hiperatividade e sintomas de transtorno desafiador e de oposição. Revista de
Psiquiatria do Rio Grande do Sul, v. 28, n. 3, p. 290-297, 2006.

Material para download


Material para download
Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato
PDF.

Download material

O que você achou do conteúdo? Relatar problema

Você também pode gostar