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de Paula, J.J., & Costa, D.S. (in press). A entrevista clínica em neuropsicologia. Em Malloy-Diniz, L.F., Abreu, N.

, Mattos, P., &


Fuentes, D. (2015, in press). Neuropsicologia na Prática Clínica (1ed). Porto Alegre, Artmed.

A ENTREVISTA CLÍNICA EM NEUROPSICOLOGIA

Jonas Jardim de Paula (de Paula, J.J.)1,2

Danielle de Souza Costa (Costa, D.S.)1

1 - Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Molecular, UFMG


2 - Departamento de Psicologia, Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais

Jonas Jardim de Paula, Ph.D. Psicólogo, mestre em neurociências e doutor em medicina (UFMG). Pós-doutorando do Instituto Nacional
de Ciência e Tecnologia em Medicina Molecular (INCT-MM-UFMG). Professor do curso de graduação em psicologia e do curso de
pós-graduação em Neuropsicologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.

Danielle de Souza Costa, Ms.C. Psicóloga, mestre e doutoranda em medicina molecular (UFMG). Clínica e consultora na prática provada
em neuropsicologia, psicologia infantil e transtornos do neurodesenvolvimento. Neuropsicóloga do Núcleo de Investigação da
Impulsividade e da Atenção (UFMG).

Introdução acompanhamento do caso. Embora não exista consenso sobre a


melhor estruturação desse processo, a entrevista clínica deve
A entrevista clínica é o componente mais importante contemplar aspectos relacionados às queixas e sintomas atuais
de um exame neuropsicológico. Ela é o “cérebro” desse do paciente, o curso clínico de tais sintomas, suas repercussões
procedimento clínico. Junto às observações coletadas ao longo sociais e funcionais, o histórico de desenvolvimento e histórico
do exame e à correção/interpretação de instrumentos de de saúde do paciente, aspectos sociodemográficos, familiares e
avaliação objetiva, a entrevista clínica compõe o tripé culturais (Strauss et al., 2006; Lezak, Howieson, Bigler &
necessário ao julgamento clínico e à tomada de decisões acerca Tranel, 2012). O enfoque da entrevista depende de
de um paciente (Mitrushina, Boone & D’Elia, 1999). A características do paciente. Por exemplo, a forma como as
entrevista clínica é fundamental para a definição das hipóteses perguntas são realizadas, o direcionamento da entrevista e a
clínicas que serão testadas no exame neuropsicológico, do profundidade com que cada tópico deve ser abordado varia em
melhor delineamento para essa testagem e dos fatores que serão função da idade do paciente. Para crianças, informações sobre
relevantes para o prognóstico do caso (Strauss, Sherman & a gestação, parto e primeiros anos de vida são muitas vezes
Spreen, 2006). determinantes para o julgamento clínico, enquanto na avaliação
de idosos essas informações costumam ser escassas e não
A entrevista clínica é um processo com objetivo necessariamente associadas aos transtornos e síndromes mais
específico e deve ser planejada e estruturada com antecedência. comuns nesse estrato etário (Baddeley, Kopelman & Wilson,
Antes de iniciar a entrevista, o neuropsicólogo deve ter em 2005). O Quadro 1 sintetiza os tópicos centrais da entrevista
mente quais são os principais pontos a serem abordados e quais clínica e as principais observações a serem realizadas pelo
conjuntos de informações serão essenciais para o diagnóstico e neuropsicólogo.
Quadro 1: Aspectos centrais da entrevista clínica em neuropsicologia

Tópico Sugestões de aspectos a serem abordados

Identificação Correto cadastro do paciente e cuidadores se for o caso, profissional ou instituição que realizou o encaminhamento, registro de a quem o
laudo ou relatório será encaminhado.

Motivo da consulta Qual solicitação deve ser atendida com o exame neuropsicológico, em qual contexto ela foi solicitada, quais sintomas ou características do
paciente levou ao encaminhamento

Histórico e Quais são os sintomas cognitivos, sensoriais, motores, comunicacionais, comportamentais ou funcionais. Classificar como eles surgiram,
progressão dos como se desenvolveram, em quais contextos são mais proeminentes, como comprometem ou limitam a adaptação do sujeito à vida diária,
sintomas histórico de tratamento farmacológico ou não farmacológico dos sintomas, sucesso das intervenções

Histórico do Gravidez, parto, história neonatal, desenvolvimento sensorial, desenvolvimento da linguagem, desenvolvimento motor, desenvolvimento
desenvolvimento intelectual, desenvolvimento social.

Histórico de saúde Presença de doenças ou outros transtornos ao longo da vida. Tipo de tratamento, propósito, duração e resposta terapêutica. Quais são as
geral doenças ou transtornos atuais ou que ocorrem associados aos sintomas centrais que trouxeram o paciente à consulta.

Histórico familiar Principais doenças ou transtornos comuns na família do indivíduo, sobretudo em parentes de primeiro grau. Essa avaliação deve ter como
foco os transtornos comumente avaliados em neuropsicologia ou doenças que possam estar associadas à sua etiologia (Ex.: doenças
cardiovasculares e acidente vascular encefálico; transtornos psiquiátricos etc)

Vida escolar Escolaridade atual, escolas nas quais estudou, desempenho geral por ano estudado desde o início da educação formal, histórico detalhado
de repetências (quais séries/anos, em quais domínios, em quais bimestres/trimestres etc), necessidade de educação especial ou apoio
extraclasse e sucesso das intervenções; histórico de alfabetização (leitura/escrita), habilidades matemáticas, atenção, comportamento,
motivação para os estudos e adaptação social; desenvolvimento de habilidades escolares primárias

Vida profissional Quais as atividades profissionais o paciente desempenha ou já desempenhou. Como seus sintomas interferem na vida profissional e em quais
processos ou ambientes específicos essa dificuldade ocorre. Qual a provável aptidão do paciente em realizar essas atividades.

Vida social Quais aspectos da vida social do indivíduo são afetados pelos sintomas. Como é o relacionamento do paciente com a família, amigos,
colegas, figuras de autoridade ou subordinados. Quais mudanças sociais ocorreram antes, durante ou depois do início dos sintomas. Empatia
e adequação social.

Memória Esquecimentos cotidianos como a perda de objetos e compromissos, dificuldade em memória prospectiva, déficits no aprendizado de
conteúdo novo, desorientação temporal e espacial (memória episódica), comprometimento dos hábitos, perícias e rotinas fortemente
consolidadas (memória não-declarativa).

Linguagem Agramatismo, anomia, alexia, agrafia, dislexia. Dificuldade em localizar palavras, sensação de “ponta da língua”, parafasias semânticas e
fonêmicas, dificuldades de compreensão de ordens simples e complexas, dificuldades na articulação de palavras incomuns ou irregulares,
dificuldades de repetição.

Matemática Acalculia, discalculia. Dificuldade no aprendizado da tabuada (adição, subtração, multiplicação e divisão), dificuldade para resolver
problemas matemáticos, prejuízo na memorização de funções matemáticas, menor familiaridade com o vocabulário de matemática,
problemas para medir as coisas, dificuldades para estimar custos ao fazer compras, para aprender conceitos matemáticos mais complexos
(além dos fatos numéricos), menor habilidade no gerenciamento financeiro, problemas para estimar a passagem do tempo (o que pode levar
a problemas para seguir cronogramas ou estimar a duração das atividades), dificuldade para realizar cálculos mentais (sem auxílio de
calculadora ou lápis e papel), dificuldade para achar mais de uma solução para um mesmo problema ou na resolução de problemas complexos
(com muitas operações simultâneas, por exemplo), dificuldade para estimar com precisão velocidade ou julgar distâncias (p. ex., ao dirigir
ou praticar esportes).

Habilidades Desorientação espacial, dificuldade em aprender novas rotas e trajetos, episódicos de apagão, dificuldades em montar desenhos ou
Visioespaciais diagramas, dificuldades de percepção visual (agnosia).

Funções Executivas Comportamento perseverativo e estereotipado, impulsividade, tomada de decisões inadequadas, dificuldades na percepção e compreensão
de emoções e regras sociais, dificuldade na resolução de problemas e autorregulação.

Atenção e velocidade Baixa responsividade, passividade quanto ao ambiente, apatia, lentificação psicomotora, desatenção, dificuldades em manter o tônus
de processamento atencional por períodos prolongados, déficits em alternar o foco atencional em diferentes estímulos, redução da eficiência da busca visual e
auditiva, impulsividade atencional.
O formato mais comumente utilizado nas entrevistas e o conjunto de sintomas em uma hipótese diagnóstica - como
clínicas em neuropsicologia é o modelo semiestruturado, no o processo mais complexo e o maior limitador da prática clínica
qual o clínico parte de um conjunto predeterminado de em neuropsicologia. Em nossa experiência, observamos uma
perguntas e conduz a entrevista com a flexibilidade necessária tendência de cursos de formação em neuropsicologia e dos
para abordar outros tópicos ou questões que surgirem durante o alunos que os procuram pela busca do foco nos métodos de
processo. Entrevistas fechadas, questionários ou escalas testagem objetiva (questionários, escalas e testes), conhecendo
raramente contemplam o conjunto de sintomas, curso clínico, e investindo pouco nos campos de epidemiologia e semiologia
comprometimento funcional, sofrimento psicológico e clínica. Embora os métodos de testagem objetivos sejam
diagnósticos de exclusão necessários para a detecção correta importantes, os mesmos não são definidores da neuropsicologia
dos transtornos comumente atendidos pelo neuropsicológico. ou de sua aplicação clínica (Haase et al., 2012). Quando o
Por outro lado, entrevistas abertas, sem estruturação prévia ou profissional carece dessas habilidades, há uma tendência da
sem um roteiro de pergunta ou tópicos a serem abordados supervalorização dos resultados da avaliação quantitativa
devem ser reservadas a neuropsicólogos mais experientes, (geralmente feita por meio de testes) e o direcionamento das
tendo em conta a maior probabilidade de erro em sua condução. conclusões do processo de avaliação apenas pelo uso dessas
As entrevistas abertas, geralmente, são mais confortáveis tanto informações. Essa prática é problemática em neuropsicologia.
para o profissional quanto para o paciente e seus cuidadores, Efetivamente, os testes cognitivos são necessários para o
além de permitir grande flexibilidade em termos clínicos. No diagnóstico de poucas condições clínicas, a saber, deficiência
atendimento de crianças e adolescentes, recomenda-se que a intelectual, transtorno específico de aprendizagem, transtorno
entrevista clínica seja realizada primeiramente com os pais ou neurocognitivo maior e transtorno neurocognitivo leve,
responsáveis pelo paciente, sem a presença da criança, e deve segundo os critérios diagnósticos propostos no Manual de
ter como foco o desenvolvimento cognitivo, motor e Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais 5² edição
comportamental da criança, sua relação com os sintomas atuais (DSM-5, American Psychiatric Association, 2014). Embora
e quais os prejuízos decorrentes (Yeates, Ris, Taylor & certamente existam transtornos e síndromes não compreendidos
Pennington, 2009). A criança ou adolescente pode então ser de forma direta pelo DSM-5 e que dependem da avaliação
abordada em seções individuais de entrevista ou durante os objetiva das funções cognitivas para sua compreensão (como o
demais procedimentos do exame neuropsicológico. Para Transtorno Não-verbal de Aprendizagem, a variante sluggish
adultos e idosos a entrevista deve ser conduzida com o paciente cognitive tempo do Transtorno de Déficit de
em si, porém é altamente recomendado a consulta adicional de Atenção/Hiperatividade), o uso dos testes neuropsicológicos é,
outro informante (geralmente um familiar ou pessoa que em geral, secundário à observação clínica dos sintomas. A
conviva com o paciente no dia a dia) de forma a se obter um avaliação por meio de testes deve ser compreendida meramente
segundo relato, visto que, muitas vezes, o paciente pode como um método para testagem de hipóteses clínicas, e esse
apresentar dificuldades ou limitações em relatar os próprios processo deve conciliar tanto perspectivas de natureza
sintomas ou seu curso clínico (Anderson & Tranel, 1989). nomotética - comparação do paciente com o referencial
Durante a entrevista, é importante que o paciente seja normativo - quanto idiográfica - interpretação dos sintomas e
informado e tenha clareza do objetivo da avaliação, como ela particularidades do paciente em um contexto individual,
será realizada e como poderá beneficiá-lo, seja em termos de considerando suas particularidades e características específicas
diagnóstico ou prognóstico. Um bom acolhimento do paciente (Haase, Gauer & Gomes, 2010).
e seus cuidadores, assim como a formação de um bom
rapport/aliança terapêutica é de grande importância para a Nas próximas seções, detalhamos características,
condução do caso clínico. comportamentos e sintomas específicos a serem avaliados na
entrevista clínica e que podem ser úteis para o diagnóstico e
Durante a entrevista clínica, o profissional deve ser prognóstico nos contextos desenvolvimento
capaz de traduzir o relato informal, geralmente pouco infantil/aprendizagem, doenças e síndromes neurológicas,
estruturado e leigo do entrevistado em uma formulação clínica, transtornos mentais e demência/comprometimento cognitivo
como feito tradicionalmente em qualquer área da saúde, leve. Aspectos mais específicos associados à avaliação do
sobretudo as relacionadas à saúde mental (Berrios & Hauder, estado mental, funcionalidade e sinais neurológicos são
1988, Berrios, 1996). Em nossa prática como docentes e discutidos em outros capítulos desta obra, assim como em
supervisores em neuropsicologia clínica, percebemos essa manuais clínicos.
dificuldade - transformar o relato em um conjunto de sintomas

Desenvolvimento infantil e aprendizagem incluindo os tratamentos recomendados ou mais eficazes


(Baron, 2004; Lezak et al., 2012). Diversos problemas no
O desafio no contexto da infância e adolescência (0- desenvolvimento estão associados, por exemplo, aos
18 anos) é obter um retrato detalhado dos fatores de risco e transtornos psiquiátricos na infância e adolescência
vulnerabilidade, bem como os fatores de proteção associados ao (Kinsbourne, 2009): 1) Desenvolvimento imaturo (neurológico,
neurodesenvolvimento e suas consequências. O conjunto físico, social, cognitivo, linguagem/comunicação,
dessas informações permite ao clínico hipotetizar como os relacionamentos/apego); 2) Alteração do desenvolvimento
sintomas do paciente se organizam em um diagnóstico, quais os motor; 3) Atrasos no desenvolvimento sensório-motor; 4)
principais fatores etiológicos associados a um Impulsividade; 5) Problemas para sustentar a
neurodesenvolvimento atípico e que explicariam esse atenção/distraibilidade; 6) Prejuízos de percepção; 7)
diagnóstico, bem como o prognóstico provável do quadro, Problemas específicos de aprendizagem; 8) Desregulação
emocionar/de humor; 9) Alterações de durante a entrevista, com base nos estudos de Lecours (1975),
linguagem/comunicação; 10) Prejuízos de autorregulação Owens (1984), Kolby e Fantie (2009). O quadro foi traduzido e
(“funções executivas”). O Quadro 2 sintetiza alguns dos adaptado com base no material de Reynolds e Fletcher-Janzen
marcos do desenvolvimento infantil a serem investigados (2009).

Quadro 2: Marcos do desenvolvimento a serem investigados na entrevista clínica

Capacidade Visual e Motora Fase Funções Sociais Básicas e Linguagem


Reflexos de sucção, de preensão, de Moro; deglutição; Nascimento Conforto com a voz humana; sorriso por reflexo; os sons mais comuns emitidos
piscar em resposta à luz indicam fome e desconforto; tipos de choro diferentes no final do primeiro mês; sons
do "tipo-fala" durante a amamentação
Estica e vira o pescoço quando de bruços; segue objetos 6 semanas Contato visual com a mãe; sorriso espontâneo; responde à voz humana e ao ser
segurado para se acalmar; sorri a brincadeiras; emite arrulhos e sons prazerosos;
chora para ser atendido
Muda a preensão e a sucção voluntariamente; sustenta a 2-4 meses Diferencia algumas pessoas; reconhece a mãe; sorriso social seletivo; orienta a
cabeça acima da horizontal por mais tempo; segue objetos cabeça pelo som de vozes; vocaliza em resposta a fala de outras pessoas; balbucio-
colocados em seu campo visual; pode responder ao som produção espontânea de sons; atenção seletiva direcionada a faces; preferência por
faces felizes em detrimento de faces com raiva; sorri para outros bebês; variação na
tonalidade dos sons emitidos; imita tons
Segura os objetos com as duas mãos; coloca o peso nos 6 meses Ri alto; transmite prazer e desprazer na prosódia; ri para seu reflexo no espelho;
antebraços ou mãos quando de bruços; rola para ficar de ecolalia-imitação do sons emitidos por outras pessoas; imita prosódia (muito antes de
bruços; suporta quase todo peso nas pernas por períodos articular segmentos da fala)
bem curtos; senta brevemente
Senta bem e se coloca na posição de sentar; pega com 9 meses Acena dando "tchau"; padrões de entonação diferentes; gestos sociais
movimento de pinça; engatinha
Consegue jogar objetos; anda com apenas uma mão 1 ano Pode beijar quando requisitado a fazê-lo; sentenças, o progressivo e longo processo
apoiada; resposta flexora do reflexo plantar em 50% das de aprendizagem do significado dos sons da fala o que permite o entendimento e
crianças geração de palavras e frases com significado (capacidade máxima atingida em ±25
anos); vocabulário entre 5 a 10 palavras que deve dobrar nos próximos 6 meses
Sobe e desce escadas com os dois pés por degrau; se inclina 2 anos Vocabulário médio entre 200 a 300 palavras; nomeia objetos cotidianos comuns;
e pega objetos sem cair; roda botões; pode se vestir aspectos morfossintáticos- os enunciados até os 2 anos são basicamente unitários
parcialmente; resposta flexora do reflexo plantar em 100% (unidades linguísticas não associadas); os próximos 5-6 anos serão dedicados à
das crianças aquisição de estruturas mais complexas que compõem os aspectos morfossintáticos
da língua
Sobre escadas um pé por degrau; pedala triciclos; se veste 3 anos Vocabulário médio entre 900-1000 palavras; construção de sentenças simples com 3
completamente, exceto por cadarços, cintos e botões; a 4 palavras (sujeito-verbo); pode seguir comandos com 2 passos; pragueja, xinga; 3
acuidade visual normal (clareza e nitidez- 20/20 = 6 metros) a 4 anos: relação "causa-efeito"; "emergência" da consciência; empatia
(desenvolvimento moral); habilidades de interação social adquiridas brincando com
os pares
Salta; amarra os cadarços; copia um triângulo; fala a idade 5 anos Vocabulário entre 1500 a 2200 palavras; faz inúmeras perguntas (4 anos); sentenças
corretamente mais complexas; discute sentimentos; 5 a 7 anos: aquisição fluida, embora lenta, da
leitura e escrita; escrita fonética adequada; o sistema ortográfico evoluirá nos
próximos anos; 4 a 7 anos: teoria da mente- entendimento dos sentimentos e desejos
dos outros
6 anos Vocabulário expressivo médio de 2600 palavras; vocabulário receptivo de 20000 a
24000 palavras; discurso completo

12+ Vocabulário de 50000+ palavras por volta dos 12 anos; raciocínio formal, abstrato
(insight, julgamento, inferências)

A avaliação clínica de fatores genéticos, neurodesenvolvimento como o Transtorno de Déficit de


socioambientais e familiares são primários. É surpreendente Atenção/Hiperatividade, Transtornos Específicos da
como características da infância (observadas bem cedo mesmo, Aprendizagem, Deficiência Intelectual, Transtorno do Espectro
muitas vezes antes do primeiro ano de vida) podem acabar Autista e os Transtornos da Comunicação, assim como outros
sendo a própria fundação e o catalisador do transtornos psiquiátricos, síndromes genéticas e metabólicas
neurodesenvolvimento ao longo dos anos (Bornstein, 2014; (Síndrome de Down, Neurofibromatoses, Síndrome de Turner,
veja o Quadro 3). Historicamente, a neuropsicologia inicia seu Síndrome de Williams, Fenilcetonúria etc), exposição pré natal
interesse e utilidade em relação à infância e adolescência a drogas (p.ex., Síndrome Alcoólica Fetal etc), condições
através dos programas de identificação, descrição e tratamento neurológicas diversas (Epilepsia, Hidrocefalia etc), bem como
dos problemas de aprendizagem com envolvimento crescente outras condições que alteram o neurodesenvolvimento como
da neuropsicologia na avaliação de crianças excepcionais traumatismo cranioencefálico, lesão hipóxico-isquêmica
(Hartlage & Long, 2009). Atualmente, os transtornos do (asfixia neonatal) e consequências como a leucomalácia
periventricular; paralisia cerebral, doenças cerebrovasculares consistente parece o autorrelato (Kuijpers, Otten & Vermulst,
(isquemia etc), exposição a substâncias tóxicas (chumbo, 2013). Isso pode se dar devido à baixa eficiência da memória
mercúrio, irradiação, drogas da quimioterapia etc) e outras autobiográfica, por exemplo, ainda incapaz de registrar de
anomalias congênitas por deficiências nutricionais, certos tipos forma precisa e temporalmente ordenada as experiências da
de infecção e outras doenças da mãe, traumatismos e outros criança (Fivush, 2009). Uma entrevista mais completa deveria
transtornos hereditários são os alvos da neuropsicologia da contemplar entrevista com os pais, entrevista com a criança,
infância e adolescência (Gouvier, Baumeister & Ijaola, 2009). questionários e uma revisão direta de registros de consultas e
Doenças sistêmicas que afetam funções cerebrais como tratamentos prévios de saúde e educação, mas nem sempre isso
meningite, HIV/AIDS e encefalite também são avaliadas, além é possível (Baron, 2004). De toda forma, os pais serão as fontes
de problemas cardíacos, renais, hepáticos e pulmonares que mais fidedignas de uma série de informações que devem ser
afetem o funcionamento encefálico. Em suma, o obtidas. De forma complementar à entrevista clínica, o
neuropsicólogo será chamado a identificar os mais diversos neuropsicólogo pode adotar questionários, escalas e entrevistas
problemas que afetam o Sistema Nervoso Central em estruturadas para a avaliação dos sintomas. O Inventário de
desenvolvimento, bem como a magnitude de suas Comportamentos para Crianças e Adolescentes entre 6 e 18
consequências do ponto de vista cognitivo, comportamental e anos (Bordin, Mari & Caeiro, 1995) pode ser utilizado na
funcional. Isso significa que a avaliação neuropsicológica de caracterização de sintomas psicológicos e comportamentais
crianças e adolescentes exige um conhecimento e treino muito mais específicos na criança, com a vantagem de ter aplicação
específicos, visto que as técnicas e problemas nessa fase do relativamente breve e considerar a idade/sexo do paciente nos
desenvolvimento não podem simplesmente ser inferidos do que parâmetros de interpretação. O questionário, contudo, não se
conhecemos sobre adultos (Hartlage & Long, 2009). A preza ao diagnóstico de transtornos mentais ou outras condições
entrevista é a etapa da avaliação neuropsicológica que leva a na infância, sendo apenas um instrumento para quantificação
aplicação desses conhecimentos ao seu ápice. dos sintomas e que não contempla critérios diagnósticos
relacionados ao curso clínico, prejuízo funcional ou sofrimento
No contexto infantil, o mais comum é que a entrevista associado. A entrevista K-SADS-PL (Brasil & Bordin, 2010),
seja realizada com os pais/cuidadores. No caso específico da por sua vez, contempla boa parte dos diagnósticos de
saúde mental, o relato da criança tem sido considerado transtornos mentais na infância, sendo utilizada tanto com a
essencial, embora complicado. A confiabilidade do autorrelato criança quanto com os pais ou cuidadores.
pode ser adequada para sintomas internalizantes, contudo,
quanto mais nova a criança (±10 anos ou menos), menos

Quadro 3: Desfechos Cognitivos e Comportamentais associados a preditores precoces do desenvolvimento


DESENVOLVIMENTO BIOLÓGICO, FÍSICO E MOTOR
Preditor (0 a 12 meses) Desfecho Associado
Ansiedade e depressão
Problemas motores
Menor QI e problemas do neurodesenvolvimento
Baixo peso (<2000g; crítico ≤1500g) e/ou comprimento Resposta aumentada ao estresse
pequeno;
Problemas de atenção e cognitivos
Nascimento prematuro (crítico: <33 semanas)
Atraso na linguagem
Problemas sociais e acadêmicos
Menor escolaridade e renda
Menores chances de estabelecer família
Problemas de comportamento e emocionais
Não sustentar as atividades (mudar de uma atividade para outra com frequência)
Toxinas (bifenilos policlorados, drogas etc)
Retraimento social e sintomas depressivos
Agressividade
Reatividade emocional

Malnutrição Prejuízos no crescimento


Prejuízos no desenvolvimento social e cognitivo
Privação de renda Pior saúde geral (obesidade, hipertensão, diabetes, asma, doenças cardiovasculares)
Desenvolvimento motor

Coordenação/Atividade Motora Desenvolvimento cognitivo


Desatenção
Desempenho acadêmico
DESENVOLVIMENTO PERCEPTUAL, COGNITIVO E DA COMUNICAÇÃO
Preditor (0 a 12 meses) Desfecho Associado
Fixação do olhar Atenção seletiva
Comportamento visual exploratório Busca de novidades
Perceber uma face única em contexto social não familiar Reconhecimento de faces
Experiências sensoriais precoces Conexões de redes perceptuais e memória
Desempenho em tarefas de interpretação de ações Teoria da mente
Linguagem e funções executivas
Desempenho acadêmico
Atenção, velocidade de processamento e memória
Memória de curto-prazo e inteligência
QI e desempenho acadêmico
Exposição aos fonemas de uma segunda língua Aprendizagem mais rápida de segunda língua
Percepção da fala Linguagem
Discriminação de sons da fala Consciência fonológica
Segmentação das palavras Linguagem
Discriminação de vogais Linguagem
Vocabulário Inteligência verbal
Vocalização específica com as mães Desempenho cognitivo e acadêmico

EMOÇÃO, TEMPERAMENTO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL


Preditor (0 a 12 meses) Desfecho Associado

Comportamentos internalizantes

Inibição Comportamental (estresse em contextos de novidade, Retraimento social


não familiares)
Vulnerabilidade para Transtorno de Ansiedade Social
Timidez/ Inibição comportamental

Nível de atividade, sorriso e gargalhadas, frustração com Adequação/Ajuste comportamental


limitações, medo
Emoção positiva, raiva/frustração, menor capacidade de se acalmar

Temperamento exuberante (atividade motora vigorosa, Comportamentos externalizantes


balbuciar, sorrir)
Sociabilidade e impulsividade

Alta reatividade à estímulos sensoriais (atividade motora ou


Medo do novo, retraimento social, ansiedade
estresse)

Agressão física Agressão física (estabilidade)

Temperamento difícil somado à experiências com mães


Comportamento externalizante
negativas e intrusivas

Temperamento difícil somado à estilo parental autoritário Comportamento externalizante


Tipo de apego (vínculo de segurança com o cuidador principal) Tipo de apego/ Relações sociais com irmãos e pares

Acurácia na percepção de faces/ Resolução de problemas sob estresse


Apego seguro (afetivo, amável, cuidadoso, provedor,
responsivo, consistente) Cooperatividade/ Popularidade entre colegas
Apego seguro com parceiro romântico

Apego inseguro (*tipo


Comportamento antissocial/ TEPT (estresse pós-traumático), comportamento externalizante
desorganizado/desorientado=inconsistente)

Apego inseguro (*tipo frio/ rejeição elevada) Autopercepção de insegurança

Interação mãe-filho (bidirecional=filho estimula acolhimento


Inteligência
emocional)

Mães com responsividade positiva em relação ao filho Inteligência


Vocabulário diversificado dos pais para com o filho Habilidades de comunicação

Mães que brincam de modos diferentes com os brinquedos das


Brincadeira simbólica
crianças

Atitude democrática dos pais Ideologias liberais

Número de horas por semana na "creche" Problemas de comportamento


Impulsividade
Intensidade de sintomas depressivos maternos Comportamento antissocial, agressividade

Apego inseguro ou desinibido (não diferenciação entre adultos familiares e não familiares)
Privação social igual ou superior a 12 meses (p.ex., tempo com
famílias desestruturadas antes da adoção) Traços de autismo, maior taxa de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
Baixo desempenho acadêmico
Menor desempenho em Funções Executivas
Cuidado institucionalizado superior aos primeiros 12 meses Prejuízo na identificação e nomeação de emoções
Percepção de intencionalidade Teoria da mente

Doenças e Síndromes Neurológicas procedimentos neurocirúrgicos (Braun, 2009). Nos casos de


epilepsia é importante caracterizar as habilidades pré-mórbidas,
O percurso histórico da neuropsicologia clínica é o tipo e frequência de crises, medicações em uso e como esses
fortemente associado à neurologia. As primeiras dupla- fatores se manifestam, atualmente, sobre a cognição e o
dissociações e modelos de correlações anátomo-clínicas foram comportamento.
produzidos no contexto da neurologia clínica, sendo esse, ainda Aspectos mais específicos à demência e ao
hoje, um dos contextos mais produtivos da neuropsicologia comprometimento cognitivo leve serão discutidos adiante.
(Haase et al., 2012; Lezak et al., 2012). As doenças, síndromes
e transtornos neurológicos são extremamente heterogêneos.
Uma forma de sistematizar sua divisão é a distinção entre Transtornos Mentais
transtornos/doenças cerebrovasculares, demências,
comprometimento cognitivo leve, transtornos do movimento, O neuropsicólogo, frente a sintomas possivelmente
epilepsia, lesão cerebral traumática e neoplasias (Braun, 2009). associados aos transtornos mentais deve realizar esses
Em cada um desses contextos, a entrevista clínica deve ser diagnósticos por meio dos manuais específicos para esse fim,
combinada a outros procedimentos para um diagnóstico como o DSM-5 e a Classificação Internacional das Doenças
correto. No contexto da neurologia, a neuropsicologia se (CID). Isso reduz de forma significativa erros na comunicação
preocupada principalmente em documentar alterações do diagnóstico tanto para o paciente quanto para os demais
cognitivas e comportamentais frente a um nível prévio de profissionais de saúde que o acompanham. Esse cuidado é de
funcionamento e documentar aspectos clínicos que podem particular importância no contexto brasileiro, visto que os
acarretar um melhor ou pior prognóstico. cursos superiores na área de saúde, sobretudo nos de Psicologia,
comumente adotam critérios para psicodiagnóstico distintos
Na avaliação das doenças cerebrovasculares, a dos utilizados como consenso pelos demais profissionais
entrevista clínica deve ter por foco a identificação de como os (Nakash, Nagar & Kanat-Maymon, 2015). Pacientes com
sintomas cognitivos se associam temporalmente aos insultos transtornos mentais, a despeito dos sintomas característicos ou
cerebrovasculares. Nos casos de acidente vascular encefálico, é centrais a cada transtorno, podem apresentar alterações
esperado que os sintomas cognitivos acompanhem o curso da cognitivas significativas, muitas vezes passíveis de
lesão, mostrando-se mais intensos logo após o problema e documentação pelo uso de testes neuropsicológicos, tendo em
apresentando alguma melhora à medida em que o paciente se vista que os sintomas psiquiátricos e o funcionamento cognitivo
recupera. É importante ainda caracterizar o nível cognitivo pré- partilham bases neurobiológicas muitas vezes sobrepostas
mórbido do paciente. As lesões acarretam perda ou piora frente (Etkin, Gyurak, & O'Hara, 2013).
a um nível prévio. É raro um paciente possuir alguma avaliação
objetiva do funcionamento cognitivo antes da lesão, O Quadro 4 apresenta uma síntese breve dos principais
impossibilitando uma comparação psicométrica entre a grupos de transtornos mentais representados no DSM-5.
avaliação atual e a linha de base. Sendo assim, na entrevista Excluímos desse registro os transtornos neurocognitivos, que
clínica, é necessário abordar o paciente ou cuidador sobre as serão abordados no próximo tópico. Com base no DSM-5
habilidades cognitivas pré-mórbidas, utilizando referenciais apenas três tipos de transtornos mentais requerem avaliação
como o tipo de profissão exercida, capacidade com a qual cognitiva padronizada, por meio de testes
resolvia problemas de dia a dia, percurso escolar/acadêmico e psicológicos/neuropsicológicos, para seu diagnóstico:
como qualitativamente se compara com os pares (Lezak et al., deficiência intelectual, transtorno específico de aprendizagem
2012). Os mesmos procedimentos são importantes na avaliação (compreendidos na categoria transtornos do
de pacientes com diagnóstico ou suspeita de epilepsia, casos neurodesenvolvimento) e os transtornos neurocognitivos (que
onde há neoplasias ou quando o paciente passará por englobam as demências e o comprometimento cognitivo leve).
Para o diagnóstico dos demais transtornos mentais o uso de O Quadro 4 não apresenta os critérios diagnósticos de
testes não é necessário para o diagnóstico, mas seu uso pode ser cada transtorno mental, mas basicamente um resumo dos
adotado como medida complementar a esse processo ou sintomas mais típicos de cada grupo de transtornos a ser
utilizados como marcadores da gravidade dos sintomas e de sua investigado na entrevista clínica. De forma complementar, o
repercussão funcional ou ainda como fatores preditivos de um neuropsicólogo pode ainda utilizar entrevistas diagnósticas
determinado curso clínico ou prognóstico - como exemplificado estruturadas para o diagnóstico dos transtornos mentais, como
no Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade por a MINI International Neuropsychiatric Interview (Amorim,
Pritchard, Nigro, Jacobson, & Mahone (2012). Sendo assim, na 2000) ou a Structured Clinical Interview for DSM-IV (Del-Ben
maior parte dos encaminhamentos realizados pela psiquiatria et al. 2001). Sugerimos, contudo, que essas entrevistas sejam
para avaliação neuropsicológica, o diagnóstico é feito usadas, de fato, como medidas complementares, visto que não
eminentemente pela entrevista clínica (que pode ser abordam todos os transtornos e nesses casos específicos foram
complementada pelo uso de entrevistas estruturadas, desenvolvidas com foco no DSM-IV e não no DSM-5.
questionários ou escalas), enquanto os testes neuropsicológicos
têm papel mais importante no prognóstico.

Quadro 4: Sintomas psicológicos e comportamentais associados aos grupos de transtornos do DSM-5.

Transtornos do Dificuldades cognitivas globais associadas ao desenvolvimento, atraso ou complicações no desenvolvimento neuropsicomotor,
Neurodesenvolvimento presença de desatenção ou hiperatividade, problemas de aprendizagem de grande magnitude, alterações no desenvolvimento da
linguagem, fala ou comunicação, problemas na percepção e julgamento social, presença de traços autísticos, alterações no
desenvolvimento da coordenação motora fina e grossa, tiques, estereotipias. Curso de sintomas associado ao desenvolvimento, com
início na infância/adolescência.

Esquizofrenia e outros Presença de alucinações (visuais, auditivas, gustativas, olfativas, táteis ou mistas), presença de delírios (ciúmes, ruína, persecutório,
transtornos psicóticos somático, paranoia), presença de conteúdo bizarro nas alucinações ou delírios, discurso e comportamento desorganizado, catatonia e
sintomas associados, sintomas negativos.

Transtorno Bipolar e Sintomas associados à mania ou hipomania (humor expansível, irritável, euforia, elação, aumento da energia e da autoestima,
transtornos relacionados grandiosidade, redução no sono, verborragia, distratibilidade), sintomas associados à depressão (humor deprimido, diminuição do
prazer, alterações no peso, alterações no sono, agitação ou retardo psicomotor, problemas de concentração, pensamentos recorrentes
de morte, sentimentos de inutilidade ou culpa). Mudanças súbitas, cíclicas e bem caracterizadas entre esses dois polos.

Transtornos depressivos Humor deprimido, perda de prazer com atividades antes prazerosas, apatia, retardo ou lentificação psicomotora, esquecimentos,
fadiga, dificuldades de concentração, alterações de sono, mudança no padrão alimentar, pensamentos recorrentes de morte,
sentimentos de inutilidade ou culpa, explosões de raiva ou agressividade, sintomas de humor intensos associados à semana anterior à
menstruação,

Transtornos de ansiedade Sensações de medo ou ansiedade exacerbadas e incompatíveis com o contexto, preocupação persistente e excessiva com eventos
indesejados, pesadelos recorrentes, dificuldades em se separar da figura materna/paterna ou afetiva, dificuldades intensas em falar em
público, medo excessivo de um objeto ou situação específica, dificuldades intensas nos relacionamentos sociais por ansiedade ou
preocupação, medo excessivo em situações de avaliação por outras pessoas, episódios de pânico.

Transtorno obsessivo- Obsessões (pensamentos, imagens ou impulsos intrusivos, recorrentes e persistentes que causam ansiedade ou sofrimento),
compulsivo e transtornos compulsões (comportamentos repetitivos ou atos mentais realizados em resposta a uma obsessão, seguindo regras rígidas, de forma a
relacionados aliviar o desconforto das obsessões), preocupação excessiva com o próprio corpo ou imagem corporal, comportamento acumulativo,
escoriação, tricotilomania, automutilação.

Transtornos relacionados a Mudanças na afetividade, comportamento e emoções frente aos cuidadores e figuras de apego na presença de cuidado insuficiente
trauma e estressores pelos cuidadores, desinibição acentuada (tanto física, quanto verbal, afetiva e social), exposição a evento traumático seguido de
pensamentos, sonhos e lembranças intrusivas e angustiantes associadas ao trauma, reações dissociativas ou comportamento de evitação
associado ao trauma, problemas associados ao humor ou ansiedade após o trauma, dificuldades cognitivas, problemas ou dificuldades
excessivas de adaptação a novos contextos.

Transtornos dicossiativos Alterações na identidade ou self ou presença/sensação de múltiplas personalidades, lacunas ou lapsos de memória autobiográfica,
problemas na recordação de eventos traumáticos ou estressantes, sensações de despersonalização ou irrealidade (percepção e reações
sensoriais atípicas).

Transtornos somáticos e Presença de sintomas somáticos seguidos de aflição ou perturbação do dia a dia, percebidos de forma mais intensa do que realmente
transtornos relacionados o são e seguidos de ansiedade. Presença de dor intensa ou descontextualizada, hipocondria, preocupação excessiva com a saúde,
sintomas de conversão sem etiologia neurológica clara (fraqueza, paralisia, movimento anormal, deglutição, fala, convulsões/ataques,
perda sensorial), simulação ou exacerbação dos próprios sintomas.

Transtornos alimentares Ingestão compulsiva recorrente de alimentos, ingestão de substâncias não-alimentares, ruminação alimentar, mudança radical
(restritiva/evitativa) no padrão alimentar, medo e preocupação excessivo com o próprio peso, perda ou ganho de peso significativos,
deficiência nutricional, amenorréia, compulsão alimentar purgativa (vômitos, diuréticos, laxantes...).

Transtornos da eliminação Enurese (eliminação repetida e involuntária de urina) ou encoprese (eliminação repetida e involuntária de fezes) recorrentes com início
após ous 5 ou 4 anos de idade respectivamente sem desencadeante claro.
Transtornos do sono-vigília Dificuldades para iniciar ou manter o sono, sonolência excessiva durante o dia, dificuldades em permanecer acordado ou vigil mesmo
após um sono reparador ou despertar abrupto, narcolepsia, cataplexia, apneia, hipopneia, problemas na respiração noturna,
sonambulismo, terror noturno, pesadelos recorrentes e intensamente disfóricos, movimentação excessiva durante o sono, pernas
inquietas.

Disfunções sexuais Ejaculação precoce/prematura ou retardada, dificuldades acentuadas em obter ou manter uma ereção, ausência ou dificuldades intensas
em atingir o orgasmo, redução nas sensações orgásmicas, ausência ou redução expressiva da atividade sexual ou pensamentos/fantasias
de conteúdo sexual, dificuldades/medo/dor persistente durante a penetração vaginal.

Disforia de gênero Incongruência acentuada entre o gênero experimentado/expresso e o gênero designado associada a sofrimento psicológico ou prejuízo
funcional importante.

Transtornos disruptivos, do Humor raivoso ou irritável, comportamento questionador ou desafiante frente a figuras de autoridade, índole vingativa, explosões
controle de impulsos e da comportamentais recorrentes decorrentes da incapacidade ou falha em controlar a raiva ou os impulsos, reações desproporcionais ao
conduta contexto e incompatíveis com o nível de desenvolvimento, violação de regras sociais, agressão a pessoas e animais, provocações ou
brigas físicas, destruição de propriedade, falsidade, furto, crueldade, piromania, cleptomania.

Transtornos relacionados à Ocorrência de padrões problemáticos, abusivos ou com pouco controle clinicamente significativos associados ao uso de álcool,
substâncias e transtornos cafeína, cannabis, alucinógenos, inalantes, opioides, sedativos, ansiolíticos, hipnóticos, estimulantes, tabaco ou outras substâncias.
aditivos Jogo (apostas ou equivalente) patológico.

Transtornos da personalidade Padrões persistentes tanto internos quanto comportamentais muito diferentes dos padrões típicos para a cultura associados à cognição,
afetividade, funcionamento ou controle de impulsos, a ponto de abranger várias áreas da vida do sujeito, levarem a sofrimento
significativo e não serem associados a outro transtorno mental ou condição médica. Transtornos: paranoide, esquizoide, esquizotípica,
antissocial, borderline, histriônica, narcisista, evitativa, dependente e obsessivo-compulsiva.

Transtornos parafílicos Presença de comportamento parafílico (exibicionismo, frotteurismo, masoquismo, sadismo, pedofilia, fetichismo, transvestismo) por
período de tempo prolongado, colocado em prática sem o consentimento de outras pessoas, durante a vida adulta e com prejuízo
funcional ou sofrimento psicológico associado.

Demência e Comprometimento Cognitivo Leve prejuízo funcional expressivo se faz o diagnóstico de demência.
Ressaltamos que os diagnósticos ‘comprometimento cognitivo
O DSM-5 mudou a nomenclatura mais consensual na leve’ ou ‘demência’ são sindrômicos e sua etiologia deve ser
literatura de demência/comprometimento cognitivo leve para investigada. Os critérios diagnósticos mais recentes incorporam
transtorno neurocognitivo maior/leve. As definições são em biomarcadores para o diagnóstico etiológico (American
grande medida sobrepostas, embora os novos critérios do DSM- Psychiatric Association, 2014). A Figura 1 apresenta os
5 limitem a caracterização de subtipos mais específicos do sintomas clínicos mais comumente associados a diferentes tipos
comprometimento cognitivo leve (Petersen et al., 2014). Essa de demência como revisados em duas coletâneas recentes
mudança propõe ainda um termo inadequado, dado que um (Malloy-Diniz et al., 2013; Caixeta & Teixeira, 2014). Nesse
transtorno de natureza neurocognitiva permitiria a ocorrência contexto, salienta-se a importância do curso clínico dos
de transtornos cognitivos não associados a um aspecto “neuro”, sintomas. Um mesmo comprometimento cognitivo, por
o que implicaria uma perspectiva dualista, inacurada (Lilienfeld exemplo, da memória episódica, pode ocorrer de forma
et al., 2015). A despeito de tais mudanças os procedimentos relativamente semelhante e em mesma intensidade em dois
para entrevista permanecem relativamente semelhantes. A tipos diferentes de demência (Alzheimer e Vascular). Os testes
entrevista clínica em casos onde há suspeita de demência ou seriam pouco precisos na distinção de ambas, assim como na
comprometimento cognitivo leve deve ter como foco distinção entre estágios iniciais ou avançados do
caracterizar o perfil de habilidades cognitivas, comportamentais comprometimento cognitivo (de Paula et al., 2013). Contudo, o
e funcionais que o paciente apresentava antes dos sintomas e curso clínico dos sintomas e sua progressão são, em geral,
como eles se apresentam atualmente (de Paula, Diniz & distintos nas duas condições (Salmon & Bondi, 2009).
Malloy-Diniz, 2014).

O diagnóstico de ambas as condições envolve a Nos casos de demência e do comprometimento


presença de queixas subjetivas, sensação de piora, lentificação cognitivo leve os sintomas cognitivos, comportamentais e
ou maior dificuldade no processamento cognitivo. Esses funcionais são determinantes para o diagnóstico. Os fatores
sintomas devem ser, preferencialmente, corroborados por um cognitivos e comportamentais interagem entre si, acarretando
segundo informante. Desse ponto em diante, caso o paciente parte do declínio funcional nesses pacientes (de Paula et al.,
apresente comprometimento cognitivo em apenas um aspecto 2015). Sugerimos que o neuropsicólogo, em sua entrevista
cognitivo e mantenha sua funcionalidade relativamente clínica, enfatize as perguntas associadas aos aspectos
preservada, atribui-se o diagnóstico de comprometimento cognitivos (sintetizados no quadro 1) e detalhe com esmero as
cognitivo leve de domínio único. Caso ocorra déficits em mais queixas funcionais em atividades de vida diária básicas
de um aspecto cognitivo, comprometimento cognitivo leve de (autocuidado), instrumentais simples (manejo do lar, uso de
múltiplos domínios. Esses dois quadros são ainda divididos em instrumentos, tarefas mais simples...) e instrumentais
amnésticos e não-amnésticos, com base na presença de complexas (controle financeiro, trabalho, hobbies...). Escalas e
comprometimento da memória. Caso o paciente apresenta questionários podem ajudar a caracterizar as mudanças
comprometimento em pelo menos dois domínios, seguido de funcionais exibidas pelo paciente. O índice de Pfeffer é a escala
de avaliação funcional breve, composta por apenas 10 e diretas que o índice de Pfeffer e documenta o funcionamento
perguntas direcionadas aos aspectos instrumentais das nas atividades de vida diária de autocuidado, instrumentais-
atividades de vida diária. Ela é a escala mais comumente simples e instrumentais-complexas, sendo útil na caracterização
utilizada no Brasil, e os estudos nesse contexto (incluindo as de déficits funcionais mais proeminentes. Escalas que permitam
adaptações, validação e pontos de corte) foram recentemente uma avaliação de sintomas psiquiátricos podem também ser
revisados por Assis, Assis, de Paula e Malloy-Diniz (2015). O adotadas na entrevista clínica de forma a caracterizar sintomas
uso do índice oferece uma caracterização complementar das psicológicos e comportamentais nas demências. Duas escalas
queixas funcionais do paciente. de Paula e colaboradores (2014) com esse propósito utilizadas, no contexto brasileiro, são o
apresentam a G-ADL, uma escala que unifica dois outros Inventário Neuropsiquiátrico (Camozzato et al., 2008) e o
questionários de atividades de vida diária comumente utilizados Inventário de Comportamentos Frontais (Bahia et al., 2008).
no Brasil. A escala possui questões relativamente mais simples

Figura 1: sintomas característicos da demência, do comprometimento cognitivo leve e especificidades associadas às etiologias
mais comuns

ALZHEIMER FRONTOTEMPORAL CORPOS (CORPÚSCULOS) DE LEWY


Sintomas com início insidioso, progressão Sintomas com início insidioso e progressão Sintomas com início insidioso e progressão
gradual, problemas cognitivos geralmente gradual, problemas comportamentais gradual, cognição oscilante (varia estado de
associados à memória e aprendizagem, associados à desinibição, apatia, perda de alerta), alucinações visuais recorrentes (bem
declínio progressivo sem platôs prolongados. empatia/simpatia, perseveraçõe,s, formadas e detalhadas), parkinsonismo
Queixas de esquecimento na memória recente, estereotipias, hiperoralidade, (tremor, hipocinesia, instabilidade postural),
desorientação temporal e espacial, erros em comprometimento da cognição social e das problemas no sono, hipersensibilidade
atividades rotineiras, dificuldades e tomar funções executivas. Relativa preservação da neuroléptica grave, desorientação espacial e
decisões e lapsos na memória. Idade >60 anos memória e percepção. Início geralmente <65 temporal intensa, déficits no processamento
e prevalência fortemente associada à idade. anos. espacial.

LESÃO CEREBRAL TRAUMÁTICA


VASCULAR COMPROMETIMENTO COGNITIVO
Evidências de lesão cerebral traumática –
Sintomas cognitivos associados a um evento LEVE (TRANSTORNO
presença de acidentes ou ferimentos no
cerebrovascular, déficits intensos no NEUROCOGNITIVO LEVE)
crânio, com perda de consciência, amnésia
processamento atencional e no controle Queixa cognitiva subjetiva corroborada
pós-traumática, desorientação, confusão
executivo, início associado a possíveis preferencialmente por testes objetivos
mental, sintomas neurológicos como
eventos vasculares (desmaios, crises (memória, funções executivas, linguagem,
convulsões, hemiparesia, heminegligência,
convulsivas, infarto, cefaleia intensa) e com atenção, processamento espacial, cognição
anosmia, déficits atencionais graves. Os
progressão variada, alterações no exame social). Déficits funcionais discretos ou
sintomas cognitivos e funcionais tem início
neurológico, mais frequente em pacientes com restritos à atividades mais complexas. Não
após a lesão e permanecem após o período
síndrome metabólica e doenças associadas. preenche critérios para demência.
agudo.

INDUZIDO POR SUBSTÂNCIA DEMÊNCIA DOENÇA DE PARKINSON


A substância em uso ou utilizada pelo (TRANTORNO NEUROCOGNITIVO Diagnóstico estabelecido da doença de
paciente é associada a sintomas cognitivos, o MAIOR) Parkinson, sintomas com início insidioso e
curso temporal dos sintomas é consistente progressivo, a doença de Parkinson antecede
com o período de uso ou abstinência da Queixa cognitiva subjetiva corroborada de forma clara os sintomas cognitivos,
substância. No caso do álcool as síndromes de preferencialmente por testes objetivos em ao problemas importantes na regulação da
Korsakoff (amnésia grave, confuabulação) e menos dois domínios (memória, funções atenção e no controle executivo,
Wernicke (ataxia, nistagmo, confusão mental, executivas, linguagem, atenção, desorientação espacial, relativa preservação
mudança nos movimentos oculares) podem processamento espacial, cognição social). da memória. Sintomas de depressão, apatia,
estar presentes. Déficits funcionais proeminentes. ansiedade e delírios são comuns.

em sintomas e estrutura esses sintomas em uma hipótese


Conclusão diagnóstica. As entrevistas mais comumente utilizadas são do
tipo semiestruturado e podem envolver o paciente, os
A entrevista clínica é o fator central e estruturante do exame cuidadores ou ambos. Salientamos que a entrevista clínica
neuropsicológico. Com base na entrevista o neuropsicólogo antecede os demais procedimentos da avaliação como o uso de
clínico transforma as queixas do paciente ou seus cuidadores testes, escalas ou questionários. O neuropsicólogo clínico é o
especialista que realiza o diagnóstico de prejuízos cognitivos e
é capaz de inferir, por sua extensão, os prejuízos encefálicos Camozzato, A. L., Kochhann, R., Simeoni, C., Konrath, C.
subjacentes. O clínico em neuropsicologia deve ser capaz de A., Pedro Franz, A., Carvalho, A., & Chaves, M. L. (2008).
definir e identificar os prováveis prejuízos cognitivos e Reliability of the Brazilian Portuguese version of the
comportamentais subjacentes às queixas do paciente ou de seus Neuropsychiatric Inventory (NPI) for patients with
cuidadores, guiando o exame neuropsicológico ao esgotamento Alzheimer's disease and their caregivers. International
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