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CID -11 MUDANÇAS NO DIAGNÓSTICO DO

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados


com a Saúde – CID, é uma das principais ferramentas epidemiológicas do
cotidiano da saúde e entrou em vigor a nova versão CID-11 em 1º de janeiro de
2022.

A principal função da CID é monitorar a incidência e prevalência de doenças,


através de uma padronização universal das doenças, problemas de saúde
pública, sinais e sintomas, queixas, causas externas para ferimentos e
circunstâncias sociais, apresentando um panorama amplo da situação em
saúde dos países e suas populações.

A nova classificação internacional de doenças, a CID-11, traz novidades na


publicação, estão a inclusão do distúrbio de games como um dos problemas de
saúde mental, mudanças no diagnóstico do transtorno do espectro autista, além
de capítulos inéditos sobre medicina tradicional e saúde sexual.

Entre as principais novidades, está a inclusão dos Transtornos em Games. A


OMS define a desordem como um “padrão de comportamento persistente ou
recorrente”, de gravidade suficiente para “resultar em comprometimento
significativo nas áreas de funcionamento pessoal, familiar, social, educacional,
ocupacional ou outras”.

Outra mudança importante é na quantidade de termos diagnósticos para


transtorno do estresse pós-traumático; eles foram reduzidos e simplificados
para permitir um diagnóstico mais fácil.

A Resistência antimicrobiana, os códigos relativos à resistência antimicrobiana


estão mais alinhados ao sistema global de vigilância, o que permitirá mapear
melhor a resistência ao redor do mundo.

A CID-11 conta também com novos capítulos, entre eles sobre saúde sexual, que
engloba condições que eram categorizadas de maneira desatualizada, como,
por exemplo, incongruência de gênero, que na versão anterior se enquadrava em
saúde mental.

Para que serve um diagnóstico?

Diagnósticos objetivos e confiáveis são essenciais para orientar discussões e


recomendações de intervenções terapêuticas na prática clínica, identificar taxas
de prevalência e incidência de um determinado transtorno para planejamento de
serviços de saúde mental. Além disso, ajuda a incluir, ou excluir, grupos de
pacientes para pesquisas básicas e clínicas e documentar informações
relevantes sobre a saúde pública, como taxas de mortalidade e morbidade, por
exemplo.

Classificação CID – 11 – Transtorno do Espectro Autista:

Transtornos mentais, comportamentais ou de desenvolvimento neurológico

Transtornos do neurodesenvolvimento

6A00 Transtornos do desenvolvimento intelectual

6A01 Distúrbios do desenvolvimento da fala ou da linguagem

6A02 Transtorno do espectro do autismo

6A02.0 Transtorno do espectro do autismo sem distúrbio do desenvolvimento


intelectual e com leve ou nenhum comprometimento da linguagem funcional

6A02.1 Transtorno do espectro do autismo com transtorno do desenvolvimento


intelectual e com leve ou nenhum comprometimento da linguagem funcional

6A02.2 Transtorno do espectro do autismo sem distúrbio do desenvolvimento


intelectual e com linguagem funcional prejudicada

6A02.3 Transtorno do espectro do autismo com transtorno do desenvolvimento


intelectual e linguagem funcional prejudicada

6A02.5 Transtorno do espectro do autismo com transtorno do desenvolvimento


intelectual e com ausência de linguagem funcional

6A02.Y Outro transtorno do espectro do autismo especificado

6A02.Z Transtorno do espectro do autismo, não especificado

6A03 Transtorno de aprendizagem do desenvolvimento

6A04 Transtorno do desenvolvimento da coordenação motora

6A05 Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade

6A06 Transtorno de movimento estereotipado

Antes a Classificação CID -10 do Transtorno do Espectro Autista – não é mais


válida a partir de janeiro/2022:

F84 – Transtornos globais do desenvolvimento (TGD)

F84.0 – Autismo infantil


F84.1 – Autismo atípico

F84.2 – Síndrome de Rett

F84.3 – Outro transtorno desintegrativo da infância

F84.4 – Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a


movimentos estereotipados

F84.5 – Síndrome de Asperger

F84.8 – Outros transtornos globais do desenvolvimento

F84.9 – Transtornos globais não especificados do desenvolvimento

Classificação no DSM – 5 Transtorno do Espectro Autista:

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, sigla em


inglês para Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders). Publicado pela
Associação Americana de Psiquiatria (APA, na sigla em inglês). A primeira
versão, DSM-1, foi publicada em 1952, e a mais recente, DSM-5, em 2013.

O DSM-5 foi produzido por centenas de experts internacionais ao longo de um


processo que durou 12 anos. A atualização envolveu diversos grupos da área da
saúde, tanto profissionais práticos quanto oriundos da academia. Ao todo, mais
de mil pessoas participaram do projeto, entre médicos, psicólogos, assistentes
sociais, enfermeiros, consultores, epidemiologistas, estatísticos e
neurocientistas.

Segundo o Dr. Cavalcante Passos, professor do Departamento de Psiquiatria e


Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as
ciências relacionadas à saúde estão em constante evolução e quem não busca
se atualizar corre o risco de tornar sua prática obsoleta. Com relação à saúde
mental, por exemplo, as modificações de paradigmas ocorrem não apenas no
tratamento, mas também na nosologia. Recentemente, o progresso no campo
da psiquiatria molecular e da neurociência trouxe a psiquiatria ao grupo das
ciências emergentes com maior potencial de inovação e mudanças de
paradigma, exigindo uma constante atualização de seus praticantes. Avanços
no entendimento da patofisiologia dos transtornos mentais podem levar, no
futuro, a modificações ainda maiores na nosologia e no tratamento dessas
condições. Além disso, o diálogo com outras áreas do conhecimento, como a
matemática e a engenharia, também pode trazer grande inovação ao campo.
Pesquisas utilizando big data e técnicas de machine learning estão cada vez
mais comuns na psiquiatria. Elas provavelmente irão ajudar a digerir a
heterogeneidade dos transtornos mentais bem como individualizar a evidência
para um determinado tratamento.
A abordagem dimensional de alguns transtornos mentais, bem como o
reconhecimento de que os limites entre eles são mais permeáveis do que se
percebia anteriormente, constituíram-se avanços importantes. Embora alguns
transtornos mentais possam exibir limites bem definidos, demarcando grupos
de sintomas, a evidência científica recente já demonstrava que vários deles
faziam parte de um espectro e apresentavam sintomas, fatores de risco
ambientais e genéticos e possivelmente substratos neuronais compartilhados.
Além de digerir melhor as observações científicas, uma abordagem dimensional
também captura melhor a sutileza da prática clínica.

Nesse sentido, ocorreu, por exemplo, a fusão de transtorno autista, transtorno


de Asperger e do transtorno global do desenvolvimento no transtorno do
espectro autista. Em vez de constituir transtornos distintos, os sintomas
relacionados a esses transtornos representam um contínuo único de prejuízos
com intensidades que vão de leve a grave nos domínios de comunicação social
e de comportamentos restritivos e repetitivos.

Utiliza-se o diagnóstico DSM-5 299.00 – Transtorno do Espectro Autista.

Transtorno do Espectro Autista (TEA) – Critérios Diagnósticos do Autismo

Critérios Diagnósticos do Autismo – A

A. Déficits persistentes na comunicação social e interação por meio de múltiplos


contextos, conforme manifestados a seguir, atualmente ou pela história
(exemplos são ilustrativos, não exaustivos, ver texto):

• Déficits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de


abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa
normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, e
dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais.
• Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para
interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não
verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem
corporal, ou déficits na compreensão e uso gestos a ausência total de
expressões faciais e comunicação não verbal.
• Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos,
variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para
se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar
brincadeiras imaginativas, ou em fazer amigos a ausência de interesse
por pares.
Critérios Diagnósticos do Autismo – B

B. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades,


manifestados por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou pela história
(os exemplos são ilustrativos, não exaustivos; ver texto):
• Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou
repetitivos (por exemplo, estereotipias motoras simples, alinhar
brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas).
• Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões
ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (como sofrimento
extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições,
padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de
fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente).
• Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade
ou foco (por exemplo, forte apego a ou preocupação com objetos
incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos).
• Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum
por aspectos sensoriais do ambiente (como indiferença aparente a
dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar
ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou
movimento).
Critérios Diagnósticos do Autismo – C, D e E

C. Os sintomas devem estar presentes no período inicial do desenvolvimento


(mas podem não se manifestar completamente até que as demandas sociais
excedam as capacidades limitadas ou possam ser mascaradas pelas
estratégias aprendidas na vida adulta).

D. Os sintomas causam prejuízos clinicamente significativos em áreas ou


sociais, ou ocupacionais ou outras áreas importantes do funcionamento atual.

E. Esses distúrbios não são melhor explicados pela deficiência intelectual


(distúrbio intelectual do desenvolvimento) ou pelo atraso global no
desenvolvimento. Deficiência intelectual e transtorno do espectro autista
frequentemente podem ser concomitantes. Para identificar comorbidades
diagnósticas do transtorno do espectro do autismo e da deficiência intelectual,
a comunicação social deve estar abaixo da esperada para o nível geral de
desenvolvimento.

Nota: Indivíduos com um diagnóstico bem estabelecido de DSM-IV de transtorno


autista, transtorno de Asperger ou transtorno invasivo do desenvolvimento sem
outra especificação devem receber o diagnóstico de transtorno do espectro do
autismo. Indivíduos que têm déficits acentuados na comunicação social, mas
cujos sintomas não satisfazem os critérios para o transtorno do espectro do
autismo, devem ser avaliados quanto ao transtorno de comunicação social
(pragmático).

Especifique se:

– Com ou sem acompanhamento de deficiência intelectual;

– Com ou sem acompanhamento de problemas de linguagem;


– Associado com uma condição médica ou genética conhecida ou fator
ambiental;

(Nota de codificação: use código adicional para identificar a condição médica ou


genética associada.)

– Associado a outro transtorno do neurodesenvolvimento, mental ou


comportamental;

(Nota de codificação: Use código adicional[s] para identificar o distúrbio


neurológico, mental ou comportamental associado.

– Com catatonia.

Níveis de Funcionamento para o Transtorno do Espectro do Autismo

Nível 1 LEVE – “Necessidade de pouco apoio”

Sem suportes, os déficits na comunicação social causam deficiências visíveis.


Dificuldade em iniciar interações sociais e exemplos claros de resposta atípica
ou malsucedida à aberturas sociais de outros. Pode parecer ter diminuído o
interesse em interações sociais.

Por exemplo, uma pessoa que é capaz de falar em frases completas e se engajar
em comunicação. Mas cuja conversa para frente e para trás com os outros
falham, e cujas tentativas de fazer amigos são estranhas e normalmente
malsucedidas.

A inflexibilidade do comportamento causa interferência significativa no


funcionamento em um ou mais contextos. Dificuldade de alternar entre
atividades. Problemas de organização e planejamento dificultam a
independência.

Nível 2 MODERADO – “Necessidade de apoio substancial”

Déficits acentuados nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal;


deficiências sociais aparentes mesmo com suportes no local; iniciação limitada
de interações sociais; e respostas reduzidas ou anormais à aberturas sociais de
outros.

Por exemplo, uma pessoa que fala frases simples, cuja interação é limitada a
interesses especiais restritos e que tem uma comunicação não verbal
marcadamente estranha.

A inflexibilidade do comportamento, a dificuldade em lidar com a mudança ou


outros comportamentos restritos/ repetitivos aparecem com frequência
suficiente para serem óbvios para o observador casual e interferir no
funcionamento em uma variedade de contextos. Aflição e/ ou dificuldade em
mudar o foco ou a ação.

Nível 3 SEVERO– “Necessidade de apoio muito substancial”

Os déficits severos nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal


causam graves prejuízos no funcionamento, iniciação muito limitada das
interações sociais e resposta mínima às aberturas sociais de outros. Por
exemplo, uma pessoa com poucas palavras de fala inteligível que raramente
inicia interação e, quando o faz, faz abordagens incomuns para atender apenas
às necessidades e responde apenas às abordagens sociais muito diretas.

A inflexibilidade do comportamento, a extrema dificuldade em lidar com a


mudança ou outros comportamentos restritos/ repetitivos interferem de
maneira marcante no funcionamento de todas as esferas. Grande aflição/
dificuldade mudando o foco ou a ação.

Referências:

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de


transtornos mentais – DSM-5. 5. ed. Washington, 2013.

SILVA, Micheline and MULICK, James A. Diagnosticando o transtorno autista:


aspectos fundamentais e considerações práticas. Psicol. cienc. prof. [online].
2009, vol.29, n.1 [cited 2020-10-01], pp.116-131.

Transtorno do Espectro do Autismo. Manual de Orientação Departamento


Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento.

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