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Autismo em adultos

• Os Transtornos do Espectro Autista (TEA) são transtornos do neurodesenvolvimento que


apresentam prevalência de 1:160 indivíduos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os
sintomas manifestam-se precocemente e seguem o curso de vida do indivíduo gerando prejuízos
funcionais importantes. O espectro autista é definido por dois grandes conjuntos de sintomas,
sendo eles: déficits na sociabilidade e padrões restritos, estereotipados e rígidos de interesses,
comportamentos ou atividades (American Psychiatric Association - APA, 2013). Estes sintomas
podem se manifestar através da presença de alterações no desenvolvimento da linguagem,
déficits na comunicação verbal e não verbal, prejuízos na habilidade social, possível déficit
intelectual, déficits cognitivos e dificuldades motoras.
• As manifestações do TEA são múltiplas e a combinação dos sintomas característicos do autismo
junto a outras comorbidades, perfis cognitivos, comportamentais e funcionais, resulta em um dos
transtornos mais heterogêneos associados ao neurodesenvolvimento (Foss-Feig et al., 2015;
Doernberg & Hollander, 2016). Dessa forma, indivíduos com a mesma condição nosológica podem
apresentar sintomas que variam em termos de quantidade, intensidade e, consequentemente,
prejuízos.
• A Síndrome de Asperger e o Autismo de alto funcionamento compreendem as manifestações mais
leves dentro do espectro autista, sendo que a partir da 5ª Edição do Manual Diagnóstico e Estatístico
dos transtornos Mentais (DSM-V), a Síndrome de Asperger (SA) passou a ser considerada um
transtorno pertencente ao espectro autista. Os indivíduos com essa síndrome apresentam os sintomas
comuns aos demais indivíduos com TEA, porém não possuem deficiência intelectual ou na linguagem,
o que lhes possibilita uma adaptação funcional consideravelmente superior aos indivíduos com
autismo clássico (Barahona-Corrêa & Filipe, 2016). Embora apresentem mais dificuldades se
comparados a indivíduos com desenvolvimento típico, muitos adultos com a Síndrome de Asperger são
capazes de exercer atividades laborais e intelectuais com bom desempenho (Hurlbutt & Chalmers,
2004). Estes aspectos lhes conferem melhor qualidade de vida, e por consequência, melhora do quadro
clínico (Howlin et al., 2005). Apesar disso, esses indivíduos relatam prejuízos relacionados
principalmente a interação social, como dificuldades para desenvolver ou manter relacionamentos
afetivos, compartilhar interesses, compreender e descrever expressões faciais e sentimentos próprios e
de outras pessoas (Hill et al., 2004). Esses prejuízos são observados principalmente quando é exigido
deles habilidade social e flexibilidade cognitiva (Engstrom et al., 2003)
• Atualmente, segundo a Classificação Internacional das Doenças (CID), a versão, as TEA enquadram-se
na categoria das chamadas perturbações pervasivas do desenvolvimento. Esta denominação resulta
do fato destas patologias afetarem a aquisição de múltiplas competências durante o desenvolvimento,
desde os primeiros anos de vida, mas com repercussões duradouras. As patologias que pertencem a
esta categoria tem em comum a presença de atrasos no domínio das interações sociais reciprocas e da
comunicação, e a presença de um repertorio restrito, estereotipado e repetitivo de interesses e
atividades. As principais perturbações desta categoria são o autismo infantil e a síndrome de Asperger.
Atualmente, a distinção entre a síndrome de Asperger e o autismo de elevado funcionamento e foco
de controvérsia.
Epidemiologia das TEA nos adultos não tem recebido particular atenção. Sublinha-se como exceção o
recente o estudo de Brugha e colaboradores, em que foi pesquisada a prevalência destas patologias
numa larga amostra da população inglesa com idade igual ou superior a 16 anos. Os autores
verificaram que a prevalência nos adultos (9,8 por 1000 habitantes) não só era semelhante a
encontrada nos últimos anos nas crianças, mas também que não existia evidencia para uma
diminuição estatisticamente significativa em função da idade. Concluíram que os adultos com TEA a
residir na comunidade eram socialmente desfavorecidos, havendo uma maior prevalência de recurso a
habitação social e menores qualificações educativas.
Alterações da Interação Social
• Défices na utilização da linguagem não-verbal (p.ex., evitamento do contato visual ou olhar fixo
durante longos períodos)
• Incapacidade de estabelecer relações sociais adequadas ao nível do desenvolvimento.
• Incapacidade de partilhar interesses ou atividades (p.ex., crianças que brincam sempre sozinhas,
não partilhando brincadeiras com outras)
• Ausência de reciprocidade social ou emocional (p.ex., desconhecer gostos de familiares)
Alterações da Comunicação/Linguagem

• Atraso ou ausência no desenvolvimento da linguagem;


• Incapacidade em iniciar ou manter um dialogo;
• Uso estereotipado ou idiossincrático da linguagem (p.ex., trocar pronomes [“nos” em vez de
“eu”]; ecolalia; repetição de trechos de diálogos de filmes ou series de televisão, de forma
descontextualizada [p.ex., “Bond, James Bond”])
• Utilização literal e concreta da linguagem;
• Alterações da prosódia (p.ex., voz “robotizada” ou a prosódia)
Comportamentos Restritivos e Repetitivos

• Interesses restritos e anormais quanto ao foco e intensidade (capacidade para falar de temas
muitos específicos (aspiradores, p.ex.), durante longos períodos, independentemente do
interesse do interlocutor);
• Adesão inflexível a rotinas e rituais (com a sua interrupção a desencadear marcada irritabilidade);
• Maneirismos motores (p.ex., balanceamento do tronco, andar nas pontas dos pês, andar em
círculos, bater palmas);
• Preocupação persistente com partes de objetos (p.ex., gostar mais de ver a roda de um carro de
brincar a girar do que brincar com o carro em si).
É importante não perder de vista que existem vários desafios no diagnostico de PEA no adulto. O
diagnostico no adulto frequentemente e feito quando o individuo tem um filho que recebe o
diagnostico de autismo ou de outra perturbação do espectro e as manifestações clinicas são
reconhecidas como semelhantes as que ele próprio apresentou a infância. Alternativamente,
adultos com historia arrastada de dificuldades sociais e comportamentos “problemáticos” podem
vir a receber este diagnostico, apos uma avaliação correta.
Alternativamente, adultos com história arrastada de dificuldades sociais e comportamentos
“problemáticos” podem vir a receber este diagnostico, apos uma avaliação correta. Contudo, o
diagnostico torna-se difícil quando não é possível apurar adequadamente a historia pessoal do
desenvolvimento e os padrões sintomáticos precoces. A ausência de informação colateral (relato
dos pais inacessível ou registos médicos indisponíveis) ou as limitações inerentes a memória são
também dificuldades adicionais a realização do diagnostico de TEA no adulto.
As dificuldades na linguagem e comunicação ou a debilidade mental (comorbidade relativamente
frequente) são outros fatores que podem dificultar o fornecimento de dados da historia pessoal.
Nazeer e Ghaziudin afirmam que o diagnostico do autismo “se baseia na obtenção de uma história
detalhada do desenvolvimento e em uma observação sistemática. Escalas ou entrevistas
estruturadas são comumente usadas para reforçar o processo diagnostico.
COMORBIDADES PSIQUIÁTRICAS EM PESSOAS COM TRANSTORNO DO
ESPECTRO DO AUTISMO
• Depressão
-Apesar de estudos epidemiológicos de larga escala não terem sido realizados, estudos baseados na clinica
sugerem que a perturbação depressiva e talvez a comorbidade psiquiátrica mais frequente nos indivíduos com
TEA. Estimativas de comorbidade depressiva nos TEA variam amplamente: desde 4 a 38%. Os episódios
depressivos são com frequência recorrentes, prolongados e graves.
• Transtorno bipolar
- Apresentação da perturbação afetiva bipolar em indivíduos com TEA tende a ser semelhante a da população
em geral, sendo caracterizada por episódios de hipomancia ou mania com irritabilidade, comportamentos
disruptivos e agressivos, diminuição do sono, verborreia e aumento de atividade. A prevalência da doença
afetiva bipolar em pessoas com TEA e desconhecida, embora uma pequena amostra de 44 pacientes com
autismo de elevado funcionamento tenha mostrado que em 36% de pacientes diagnosticados com uma
perturbação. No estudo retrospectivo de Munesue (2008), foram avaliadas as comorbidades de perturbações
do humor em adolescentes e jovens adultos com TEA de elevado funcionamento. O estudo continha 44
doentes, dos quais 16 (36,4%) apresentaram perturbações do humor antes ou durante o estudo. Os resultados
desse estudo sugerem que a doença afetiva bipolar foi a principal comorbidade das perturbações do humor
em adolescentes e jovens adultos com TEA de elevado funcionamento o do humor, 75% tinha doença bipolar.
• Ansiedade
- Alguns autores tem descrito os pacientes com TEA como vulneráveis ao stress, devido ao seu restrito repertorio
de mecanismos de coping apropriados No estudo de Hofvander et al., acerca das comorbidades em pacientes
com TEA com inteligência normal, a segunda categoria mais frequente de comorbidades encontradas foi a das
perturbações de ansiedade. A perturbação de ansiedade generalizada foi frequentemente encontrada,
ocorrendo em 15% dos indivíduos, tal como a fobia social que ocorreu em 13% dos casos. Cerca de 11% dos
doentes cumpriam critérios para perturbação de pânico e/ou agorafobia e 6% cumpriam criterios para fobia
especifica.
• TDAH

• Esquizofrenia
Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGDs) e
Transtornos do Espectro do Autismo (TEA).
• De acordo com o CID-10, o termo Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGDs) representa um
grupo de transtornos que apresentam como característica alterações qualitativas nas interações
sociais recíprocas e na comunicação e apresentação de interesses restritos e estereotipados.
Dentre os transtornos incluídos nessa qualificação estão (OMS, 2012):
➢ Autismo infantil;
➢ Autismo Atípico;
➢ Síndrome de Rett;
➢ Outros Transtornos desintegrativos da infância;
➢ Transtorno com hipercinética associada e retardo mental e a movimentos estereotipados;
➢ Síndrome de Asperger
• Segundo o CID-10 (OMS, 2012), o Autismo infantil é caracterizado pela apresentação de
anormalidades ou alterações no desenvolvimento, anteriormente aos três anos de idade, que
afetem as áreas de interação social, comunicação e a apresentação de comportamentos
repetitivos e estereotipados, bem como a apresentação de outras manifestações como fobias,
perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade (auto agressividade).
• Segundo o CID-10 (OMS, 2012), a Síndrome de Asperger é caracterizada por alterações
qualitativas em interações sociais recíprocas e repertório de interesses restritos, estereotipados e
repetitivos, sendo diferenciado do Autismo infantil por não estar acompanhado de deficiências no
desenvolvimento intelectual, linguagem e cognição.
• O CID-10 (OMS, 2012) apresenta a definição de Autismo Atípico, como sendo um transtorno que
ocorre após a idade dos três anos de idade, não respondendo a todos os critérios diagnósticos do
Autismo Infantil, ocorrendo habitualmente em crianças que apresentam um transtorno específico
grave no desenvolvimento da linguagem e deficiência intelectual grave.
• A publicação da nova versão do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, o DSM-V, apresentou
mudanças nos critérios diagnósticos; o Termo “Transtornos do Espectro do Autismo” passa a ser o termo
diagnóstico utilizado formalmente, para designar os Transtornos: Autista, Asperger e Transtorno Global do
Desenvolvimento sem Outra Especificação; sendo que as variações passam a ser denominadas conforme o
nível de gravidade (Grau Leve, Moderado e Severo). No DSM V, o Transtorno de Rett deixa de fazer parte dos
Transtornos do Espectro do Autismo, passando a se tornar uma entidade própria (APA, 2013)
• Segundo o DSM V, são critérios para o Diagnóstico dos Transtornos do Espectro do Autismo:
➢ Déficits persistentes na comunicação social e na interação social, englobando déficits na reciprocidade
sócio emocional; déficits na comunicação não verbal e déficits no desenvolvimento, manutenção e
entendimento acerca dos relacionamentos;
➢ Presença de comportamentos, atividades e interesses restritos e repetitivos, como exemplo a presença
de estereotipias motoras, através de movimentos ou uso de objetos, insistência e monotonia, ou
inflexibilidade com rotinas, presença de padrões ritualizados, interesses fixos e a presença de hipo ou
hipersensibilidade sensorial à estímulos ambientais. (APA, 2013)
• Segundo o DSM V, o Transtorno Autista segue um curso contínuo, podendo haver progressos na
infância e adolescência. Alguns indivíduos apresentam perdas e outros apresentam melhora em
seus comportamentos durante a adolescência, sendo que as habilidades de linguagem e o nível
intelectual geral se apresentam como os mais poderosos fatores relacionados ao prognóstico.
Estudos disponíveis relatam que apenas uma pequena porcentagem de indivíduos com Autismo
chegam a viver e trabalhar de forma independente na idade adulta, sendo que mesmo pessoas
com o mais alto nível de funcionamento, ainda apresentam problemas na interação social,
comunicação e apresentação de interesses restritos nesta faixa etária (APA, 2013).
• Casos de Síndrome de Asperger, também apresentam um curso contínuo durante a vida, e
quando adultos podem ter problemas em suas interações sociais, como dificuldades na empatia e
modulação (APA, 2002). Segundo o CID-10 as anomalias persistem na adolescência e na vida
adulta, sendo possível a aparição de episódios psicóticos no início da vida adulta (OMS, 2012).
• Um estudo realizado por Fombonne (2009) teve como objetivo conduzir a análise dos resultados
obtidos em 43 estudos internacionais que fornecem estimativas de prevalência para Transtornos
Invasivos do Desenvolvimento (TID), estes estudos foram realizados a partir do ano de 1966. No
geral, a maioria dos estudos iniciais de prevalência teve como foco a prevalência de TID no
período da infância, observou-se que estes estudos apresentaram grande variabilidade no
tamanho das amostras e também critérios de triagem muito variáveis. As avaliações eram
realizadas com o uso de diversos instrumentos diagnósticos como, por exemplo, instrumentos
padronizados como o Autism Diagnostic Interview-Revised (ADI-R) ou o Autism Diagnostic
Observation Schedule (ADOS).
• Os estudos de prevalência realizados a partir de 1990 utilizam como critérios diagnósticos os
critérios apresentados pelo CID-10 e o DSM-IV, mas ainda apresentam amostras de população
reduzida e avaliações não padronizadas. Os resultados obtidos a partir destes estudos trazem
uma grande variabilidade nas taxas de prevalência, variabilidade que pode estar ligada aos
métodos não padronizados utilizados nestes estudos (Fombonne, 2009)

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