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Psicopatologia ...................................................................................................................................... 2
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Psicopatologia
• Ramo da Psicologia que estuda os estados psíquicos anormais ou da doença mental e
dos seus sintomas
• É a área que aborda a natureza essencial da doença mental – suas causas, mudanças
funcionais e estruturais e as suas formas de manifestação.
É um ramo da psicologia que estuda os estados psíquicos anormais (tem a ver com o que foge à norma / média /
distribuição normal). A doença mental e os seus sintomas.
• Termo de origem grega que, traduzido num sentido literal, significa “estudo da patologia
da alma / mente”
Explica o surgimento de uma determinada patologia (explica os fatores predisponentes, precipitantes, de manutenção
- psicologia mais dinâmica e TCC). Há diferentes exemplos explicativos para uma mesma perturbação.
Esta observação deve ser crítica (é aprender a ouvir o doente e a avaliá-lo e, tendo em conta um certo núcleo de
sintomas, identificar uma patologia). É esta a que nos vamos dedicar nesta unidade curricular. Aprender a ouvir o
paciente e observar o que está a sentir, assim como descrever e categorizar esse núcleo de sintomas que forma a
perturbação X. Uma descrição que deve ser o mais objetiva possível, sem julgamento crítico: apenas uma observação
e descrição dos fenómenos.
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A Psicopatologia Descritiva pode ser definida como um conjunto sistemático de princípios
gerais, enunciados descritivos e regras cuja função é identificar, descrever e classificar o
comportamento e a sintomatologia que resulta de uma perturbação psicopatológica. O
pensamento e a linguagem devem ser sistemáticos e rigorosamente conceptuais.
Como saber quando a timidez é normal (traço de personalidade) ou é patológica (uma perturbação)? Timidez é
diferente de fobia social.
Não é fácil estabelecer esta fronteira, pois existe sempre uma especificidade psicológica (uma dimensão própria) para
cada perturbação (cada perturbação é caracterizada por aquilo que é central, uma dimensão própria, todas as
perturbações têm algo que as distingue das outras), mas ao mesmo tempo existe sempre uma linha de continuidade
entre o normal e o patológico. Existem perturbações ansiosas, mas todos nós temos momentos de ansiedade. O que
importa considerar é a continuidade entre o que são os episódios comuns e o que é o extremo da psicopatologia.
A época, a hora, a data, a cultura, os valores. Isto é o que nos dá o cenário para considerar se o comportamento é
esperado ou não esperado (há fobias que só acontecem em conceitos muito específicos, como a fobia a cães). Deve-
se também ter em conta se o comportamento é sistemático/se se vai repetindo e intensificando e se existem outros
observadores para além de, por exemplo, uma mãe que leva a filha a uma consulta pois teme que a filha possua uma
patologia.
Ou seja, resumindo, a doença ou perturbação mental é um fenómeno marcado simultaneamente pela especificidade
psicopatológica e por uma linha de continuidade entre o que é normal e o que é patológico. O espaço social determina
a normalidade / anormalidade do comportamento.
Uma perturbação psicológica, para ser assim considerada, é definida através de 4 condições
que terão de acontecer em simultâneo:
1. Alteração ou quebra no funcionamento cognitivo, emocional e/ou comportamental do
indivíduo
2. Existência de sofrimento pessoal acentuado
3. Limitação no funcionamento do indivíduo
4. Resposta atípica ou não culturalmente esperada
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• A dimensão da disfunção deve ser avaliada através de outros critérios de sofrimento,
intensidade e limitações que indicam o grau de disfuncionalidade (ex: é a intensidade
do medo e os outros critérios, como o sofrimento e as limitações associadas, que nos
indicarão o grau de disfuncionalidade).
Timidez não é limitação, mas se for tão acentuada que se traduz no evitamento de várias situações como ir à faculdade
ou à escola, estar com amigos, conhecer pessoas novas, tendo repercussão na concretização de diferentes objetivos,
então a característica está associada a limitações significativas para o funcionamento pessoal.
CONCLUSÕES
• Nenhum dos critérios isoladamente nos permite falar de perturbação, só o seu
conjunto ou a combinação de diferentes condições;
• Por outro lado, todos os critérios assentam no quantitativo - no conceito de dimensão.
Com base nas hipóteses de diagnóstico devemos ser capazes de elaborar tratamentos.
Saber como vamos fazer a avaliação é muito importante, a relação terapêutica principalmente, uma vez que por vezes
os pacientes sentem que estão sozinhos naquela experiência, que mais ninguém os compreende.
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Classificação e avaliação em Psicopatologia
Contexto Clínico em Psicopatologia: A relação terapêutica
• Aceitação genuína do outro
• Atitude de não julgamento
• Compaixão. Conseguir sentir empatia pelo sofrimento do outro (ou nosso). Tem duas dimensões: da
sensibilidade (ficar sensibilizado) e motivacional (querer fazer algo para atenuar/ajudar). Escuta
compassiva. Essencial para conduzir uma entrevista sem julgamentos.
Para entender o doente não importa tanto a realidade objetiva, as coisas em si que ele vive ou
percebe, mas o modo como ele as vivencia, a sua vivência das coisas.
É conseguirmos ver aquela experiência pelos olhos do doente - “Humanidade comum” (colocar-se no lugar do outro
e tentar ver as coisas como ele as vê). Essencial na relação terapêutica para que o doente confie em nós. A
construção da relação terapêutica é difícil (porque muitas vezes o paciente chega com uma história que
muitas vezes inclui estar envergonhado pelo problema que tem) e precisa ser construído com o tempo, é um pilar
essencial.
Sequência normal: avaliar, diagnosticar, fazer a formulação do caso e depois desenhar um plano de intervenção. Na
prática, o processo de avaliação continua todo o tempo, assim como a intervenção já acontece desde o começo. Ou
seja, esta sequência lógica tem momentos que não são estanques. É um processo dinâmico.
Avaliação:
• Prontidão / motivação para a mudança
o Identificação do estádio de motivação para a mudança
o Reconhecer o padrão de espiral da mudança
o Aceitação das crenças do doente como genuínas
o Análise dos prós e contras da manutenção do padrão do comportamento
problemático
o Projetar o futuro
Quando recebemos um paciente e avaliamos o pedido, temos de avaliar qual o estado de motivação para a mudança
deste paciente (se está pronto ou não) e aceitar a mudança como uma espiral.
Mudança:
• Não deve ser pensada como um problema de personalidade ou como um traço, mas
antes como um estado.
• A motivação para a mudança é um estado de prontidão influenciado por diversos
fatores, que tem flutuações em determinados momentos ou em diferentes situações
• A motivação pode ser definida como uma caraterística dinâmica, ou seja, um estado
interno influenciado por diversos fatores
A pessoa pode não estar pronta para mudar num determinado momento, e num momento a seguir já estar… O
terapeuta pode ser um desses fatores externos para aumentar a motivação para a mudança. Por exemplo,
engravidar pode nos colocar em prontidão para mudar hábitos tabágicos.
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Modelo de Prochaska & DiClemente (inspirado/baseado no tratamento de comportamentos
aditivos)
• É representado por um círculo, que traduz um processo contínuo de mudança, que
percorre diferentes estádios motivacionais;
• O processo de mudança é gradual e sequencial;
• As pessoas mudam através de uma sequência definida de estádios qualitativamente
diferentes uns dos outros.
• Este modelo permitiu desenvolver e testar técnicas específicas destinadas à promoção
da motivação para a mudança.
Este modelo foi como um “divisor de águas”, pois o 1) terapeuta deixou de poder simplesmente dizer “esta pessoa
não pode ser ajudada porque não quer mudar” e passou a ser uma peça importante no ciclo. O papel do terapeuta
então mudou, passou a não mais desresponsabilizar-se, e ser responsável porque tem papel ativo na motivação para
a mudança. Além disso, 2) o modelo diz-nos que é completamente ineficaz tentar tratar da mesma maneira doentes
que estão em fases diferentes do ciclo. É preciso adaptar a intervenção ao estádio em que o paciente está. Alguém
que sabe que tem um problema e pede ajuda deve ser abordado de forma diferente de alguém que nega ter um
problema. Este modelo ensina justamente as estratégias de abordagens dependendo do estado de motivação em
que o doente se encontra. Assim, a primeira avaliação que o terapeuta faz é “em que estádio de motivação para a
mudança está este paciente?”.
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Estádio de Pré-Contemplação:
• O individuo não considera a possibilidade de mudança, porque não existe
consciência do problema;
• Os pré-contempladores podem não querer mudar, pois avaliam os prós do seu
comportamento problema como muito superiores aos contras, i.2., apenas
consideram os custos da mudança, ignorando as suas vantagens
Antes os psicólogos demitiam-se dos casos de pessoas que estavam em estado de pré-contemplação. Agora o
psicólogo compreende que é uma fase difícil, mas que nela tem de atuar. O objetivo é aumentar a consciencialização
do problema e facilitar o movimento para o estádio de contemplação.
Em situações de negação e até ofensivas ou de desafio, o que teremos de fazer é ter compaixão pelo cliente. Se o
terapeuta se colocar na vivência da pessoa, compreender que dificilmente a pessoa está recetiva e será amigável com
a terapeuta. É importante dispersar a tentativa de zanga. Na compaixão sentir-nos-emos sempre menos atacados.
“Consigo perceber que está assustada, e compreender isso. Perceber que há algumas áreas da sua vida que estão
afetadas, e que irá pensar que irei mandá-la etc etc etc amanhã. Nada disso, mas gostaria que me deixasse falar um
pouco… tom suave e pausado, amigável, positivo, mas assertivo, etc.” Uma forma de ajudar os pacientes neste estádio
é fazer uso da psicoeducação ao longo da avaliação, para que o paciente passe a conseguir perceber que o seu
comportamento está associado a outros aspetos problemáticos da sua vida (problemas na área social ou académica
ou familiar etc). Há uma estratégia sugerida para os doentes mais difíceis em estádio de pré-contemplação que é
quase paradoxal: ao invés de perguntar “o que é que o faz sofrer?”, fazemos o oposto: “quão bom é ter este
comportamento?”. Manter regras tão rígidas sobre a alimentação não é fácil, isto deve trazer muitos ganhos, quais
são? ah sim, então deve estar mais feliz”. Mas a psicopatologia é incompatível com a felicidade. Está lançada a
semente da perceção do problema.
O estádio de contemplação
• É caracterizado pela AMBIVALÊNCIA (analogia do baloiço):
• o indivíduo tem alguma consciência do problema, já considera a possibilidade de
mudança, avaliando os prós e os contras do comportamento problema e da
mudança; têm medo da mudança
• No discurso surgem razões de preocupação e motivações para a mudança e
justificações para o comportamento atual e racionalizações que minimizam a
preocupação.
• O contemplador é aquele que considera a mudança e que ao mesmo tempo a rejeita.
• O objetivo é promover o desequilíbrio entre os argumentos ambivalentes,
favorecendo as razões para a mudança e evidenciar as consequências de não mudar.
• a entrevista deve criar uma atmosfera positiva à mudança;
• a ambivalência é aceite como parte do processo de mudança;
• O valor da entrevista motivacional centra-se no fato da pessoa descobrir por si as
vantagens e desvantagens da mudança - É o próprio doente que apresenta os
argumentos para a mudança, o que reflete um aumento da motivação intrínseca.
O paciente tem noção do problema, mas ainda rejeita a mudança. Tem um discurso que simultaneamente apresenta
razões para mudar e para não mudar, e costuma ser uma situação que aflige imenso os familiares, que se sentem
enganados. É importante atuar a nível da Psicoeducação. Não são confrontados, mas vêm-se obrigados a se
questionar e a refletir sobre áreas da vida que ainda não tinham abordado. Estado muito típico dos doentes que vêm
à consulta, pois a mudança provoca muito medo. O objetivo da entrevista é o equilíbrio entre os argumentos
ambivalentes, favorecendo as razões para a mudança e evidenciar as consequências de não o fazer. Atmosfera
positiva na entrevista. Ambivalência faz parte do processo de mudança. É o próprio doente que apresenta os
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argumentos para a mudança, o que reflete um aumento da sua motivação intrínseca. Deve ser a pessoa a descobrir
por si as vantagens e desvantagens da mudança.
Estádio de Determinação
• Janela de oportunidade para a mudança
• Existe um compromisso com a mudança
• Os custos da manutenção do comportamento problema são conceptualizados como
superiores aos seus benefícios
• Se neste período o indivíduo entrar num estádio de ação. O processo de mudança
prossegue, caso contrário o sujeito regressa ao estádio de contemplação
• O objetivo do terapeuta é ajudar o paciente a encontrar uma estratégia de mudança
aceitável, acessível, apropriada e efetiva.
• Nesta fase, o terapeuta deverá avaliar os níveis de comprometimento para a
mudança, clarificar e definir objetivos terapêuticos realistas e acessíveis para o
paciente e promover a fase de ação ou mudança efetiva.
Estádio de Ação
• Definido como um período em que o indivíduo tem intenção de mudar e empenha-
se em ações particulares / específicas com vista à mudança
• No entanto, entrar num processo de mudança não é garantia que a mudança
persista e que a alteração do comportamento seja sistemática ou efetiva. Isto
significa que a recaída pode ocorrer neste estádio, assim como pode ocorrer em
qualquer estádio de mudança.
• Em termos terapêuticos, o objetivo é implementar estratégias de promoção de uma
mudança efetiva e estratégias de prevenção de recaídas.
o Implementação de estratégias de mudança específicas e apropriadas à
realização dos objetivos de mudança, que se traduzam em ganhos para o
indivíduo;
o Utilização de estratégias que aumentem a perceção de autoeficácia, reforço
e atribuição causal interna dos seus sucessos;
o Identificação dos fatores de risco de uma recaída.
Estádio de Manutenção
• A manutenção de um determinado comportamento ou de uma aprendizagem não
é um fim de um processo - envolve uma contínua mudança.
• Neste estádio, o desafio é:
o Manter as mudanças alcançadas;
o Estudar a perceção da mudança;
o Generalizar a novas áreas (tem a ver com outros padrões, como de rigidez ou
perfeccionismo, que precisam ser trabalhados)
o Prevenir recaídas.
Recaída
• O modelo de Prochaska e DiClemente considera a recaída como uma ocorrência
normal e que é inerente ao processo de mudança.
• No caso da ocorrência de recaída, o terapeuta deverá evitar o desencorajamento e
a desmoralização e promover o reinício do processo: voltar a contemplar a
mudança, preparar-se para a ação e ativar recursos, sem ficar “preso” perante a
recaída.
• Em termos terapêuticos, o racional é que alguns avanços e retrocessos no ciclo de
mudança são comuns antes de se solidificarem os novos padrões de
comportamento
o Cada recaída representa mais um passo em direção à mudança.
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É preciso prevenir o doente de que o processo de mudança é dinâmico, e que é natural que aconteçam recaídas.
Precisamos passar para o doente que é possível que venha a acontecer. Se não fizermos essa prevenção, o doente fica
muito frustrado e desesperançoso em relação ao processo quando tem a recaída, e mais facilmente desiste do
tratamento. Aqui, as recaídas são vistas como momentos de aprendizagem, pois vão nos dar informações de porque
aquilo aconteceu naquele momento e desenvolver novas estratégias para melhorar a prevenção de outras
recaídas. No entanto, após a recaída já não volta a entrar em estado de pré-contemplação, e muitas vezes entra
logo em estado de ação. Quanto mais recaídas houver mais curta se torna a espiral da mudança.
Em suma, a entrada num processo de mudança dá-se por um período de contemplação (eu primeiro tenho de ter a
capacidade de compreender que este meu comportamento é problemático, para depois estar pronta para mudar).
Isto significa que, na prática, podemos receber doentes em estado de pré-contemplação, levados à consulta contra a
vontade deles. Determinação: o que eu posso fazer para alterar isto? Ação: iniciar a mudança, atitudes e estratégias
que levam à mudança. Manutenção: ao longo do tempo manter a mudança, generalizar o comportamento para
outros contextos (quando corre bem). Recaída: saída do ciclo de manutenção, o comportamento antigo torna a
instalar-se e faz-se necessário recomeçar o ciclo.
COMPREENDER Vs EXPLICAR
• Compreender: ter empatia, compaixão, atribuir significação, sentir-se no lugar do
outro;
• Explicar: estabelecer relação entre fenômenos constantes; a ciência explica, nos
fornece modelos explicativos.
Compreensibilidade genética:
• Compreensão ao longo do tempo de génese, de onde veio (linha da vida/ do tempo);
relação temporal com os fatos, a história do indivíduo, leitura longitudinal dos
acontecimentos e das vivências do paciente
• Conceito de reação
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• Conceito de desenvolvimento
• Conceito de processo
No processo existe uma rotura absoluta entre as duas linhas, um rompimento brusco com o
desenvolvimento ou funcionamento prévio. É um fenómeno não compreensível, mas explicável,
e é um processo característico das psicoses/esquizofrenias. Não há um desenvolvimento claro (não tem
uma evolução no tempo). Indivíduo tem funcionamento X (normal), e num dado de tempo sem que seja compreensível
para nós, de repente aquela pessoa passa a ter um comportamento Y. Quadro psicótico. Não há um desenvolvimento
de forma que seja possível perceber como foi evoluindo o problema.
Compreensibilidade estática:
• Relação causal entre fenómenos simultâneos
• Resulta da psicopatologia descritiva, na qual se procura utilizar técnicas de
observação e descrição que sejam razoavelmente padronizadas. Sintomas,
características, tudo o que acontece naquele momento - tremer, a cara quente, palpitação, etc. Relação
causal entre sintomas que acontecem simultaneamente. Cognição (o que pensou) - emoção (o que
sentiu) - comportamento problemático.
• A utilização destas técnicas leva a que os psicopatologistas visem áreas de
fenómenos mentais razoavelmente independentes entre si, resultando em áreas a
explorar no seu conjunto por intermédio do EXAME MENTAL.
As técnicas e a linguagem são uniformizadas e é criado um “dicionário psicopatológico” que será usado no exame
mental: o que é afasia, dismnésia, alucinação, obsessão, compulsão, etc. Assim, qualquer técnico que faça o exame
de um doente pode fazê-lo com objetividade.
Exame Mental
• É um dos componentes da avaliação psiquiátrica que inclui a observação do
comportamento do doente e a sua descrição de uma forma objetiva e sem
crítica (sem qualquer tipo de julgamentos)
• Procura revelar os sinais e sintomas da doença
• É um corte transversal no estado e sintomatologia do doente
• Constitui a parte objetiva da avaliação do doente
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Exame Mental:
1. Apresentação do doente
2. Motricidade e linguagem
3. Contacto
4. Consciência e atenção
5. Humor, afetividade e ansiedade
6. Pensamento
7. Perceção
8. Alterações da estrutura do EU
9. Memória
10. Inteligência
11. Funções biológicas vitais
O diagnóstico é o ato final do exame mental, o que significa que nenhuma destas áreas
deste exame é suficiente para o diagnóstico.
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Estudo das Perturbações Psicológicas
Não podemos intervir sem um modelo de intervenção. Não podemos falar de intervenção sem o terapeuta, clínico,
psicólogo fazer uma avaliação, que tem várias formas. Nesta disciplina a palavra “anormal” quer dizer diferente
daquilo que é esperado quanto à distribuição normal das pessoas. A diferença entre normalidade e anormalidade é
uma diferença de GRAU. Porque ansiedade e tristeza todos temos um pouco. Ao contrário da Intervenção psiquiátrica,
de cariz médico, o psicólogo tem de saber os tipos de intervenção, as classificações das doenças mentais, conhecer o
manual e os diagnósticos. Hoje vamos falar da doença e dos modelos de compreensão da doença.
Psicopatologia Descritiva
Muitas vezes utilizamos na linguagem comum palavras como alucinado, obcecado, etc. Estes conceitos é necessário
aprofundarmos e conhecermos para realmente podermos utilizá-los de forma correta. Os psicólogos devem utilizar
uma linguagem COMUM, um mesmo idioma partilhado por todos os psicopatologistas no mundo, o que permite que
os profissionais atuem no mesmo sentido na sua prática clínica.
A perturbação ou distúrbio é uma palavra que vamos utilizar muitas vezes. A pessoa que sofre dessa patologia tem
uma disfunção associada a uma limitação, o que interfere com a sua área de vida (social, familiar, académica, laboral,
etc). Se tenho fobia a cobras não vou ter problemas ao viver na cidade. Mas se viver no campo, o grau de perturbação
e de desorganização em termos emocionais vai ser maior, o que irá provocar uma limitação acentuada. Quanto aos
distúrbios, para efetivar o diagnóstico, o mais importante é o GRAU de sofrimento!
Há fenómenos sociais e culturais precipitantes para a doença psicológica, mas é importante ter em atenção que a
doença não é determinada por um único fator. A doença psiquiátrica é multideterminada, há vários fatores que vão
coincidir em determinado momento e que vão provocar que a doença apareça. Uma anorexia e bulimia é provocada
por valores culturais, mas esta doença tem origem ocidental, não acontece em outros países.
Disfunção Psicológica
Ter em conta o GRAU e o TEMPO da disfunção, muito mais que a ausência e a presença. Aspeto dimensional e contínuo
tem de ser compreendido.
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Sofrimento Pessoal
¡ Este critério, que parece óbvio, está claramente preenchido quando o sofrimento é
acentuado.
¡ Contudo, por si mesmo não é suficiente para definir a presença de distúrbio psicológico.
Na condição humana o sofrimento é frequente (e inerente).
¡ Por outro lado, existem distúrbios psicológicos em que o sofrimento está ausente, como
no caso dos doentes com mania, por exemplo.
A ausência de sofrimento, integrado com um conjunto de sintomas é também uma perturbação. Vai haver doentes
que falam connosco como se o que está a acontecer não estivesse a acontecer, que não sofrem nem sentem nada,
onde a perturbação é extremamente grave. O terapeuta tem de fazer um trabalho de síntese, reunir um conjunto de
dados e perceber se estes fazem sentido. Na condição em que “somos” é impossível não sofrer.
O sofrimento é inerente ao ser humano. O ser humano envelhece, adoece, morre. A 4ª fonte do sofrimento humano
são os “outros”, lidar com outra mente humana. O sofrimento está associado a estes fenómenos, sempre, e quando
não há sofrimento existe perturbação pois a situação foge à distribuição normal da população. O sofrimento, no
sentido global, TODA A GENTE TEM.
Limitação no Funcionamento
¡ O conceito de limitações no funcionamento é útil, mas não inteiramente satisfatório.
¡ A dificuldade em traçar a fronteira entre o que é limitação e o que não é limitação
(timidez).
¡ Por outro lado, este aspeto também mostra como muitas perturbações psicológicas são
simplesmente expressões extremas de comportamentos, cognições e emoções
normais.
¡ Algumas perturbações originam sofrimento, mas não limitação (travestismo).
Perturbação Psicológica
• Podemos então considerar com alguma segurança que, uma disfunção cognitiva,
emocional ou comportamental que é inesperada no seu contexto cultural e está
associada a sofrimento pessoal ou acentuadas limitações funcionais, é anormal.
(Disfunção cognitiva: cérebro não conseguir processar informação. Aí surgem problemas graves de comunicação)
A disfunção emocional é muito importante: em que grau existe? Como o comportamento se manifesta? O
comportamento é orientado pelas emoções?
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Psicopatologia ensina o terapeuta a ouvir, a tomar conhecimento, a descrever.
• Promovendo o desenvolvimento de “ferramentas” para a:
• Avaliação
• Elaboração de hipóteses diagnósticas
• Construção de intervenções terapêuticas congruentes
• O objetivo é ajudar o doente e isso pressupõe que o terapeuta deva ser capaz de captar,
o mais objetivamente possível, as vivências e os comportamentos do indivíduo no seu
contexto biográfico, psicológico e sociocultural.
Não entram análises subjetivas e relativas. O “eu acho que” não pode existir, tem várias consequências.
Descrição Clínica
¡ É a combinação única de comportamentos, pensamentos e emoções que definem uma
perturbação psicológica específica.
¡ Uma das funções da descrição clínica é especificar aquilo que torna essa perturbação
diferente do comportamento normal ou de outras perturbações.
¡ São também úteis na descrição clínica:
¡ A prevalência e incidência dessa perturbação.
¡ O ratio por sexo.
¡ A idade de início.
¡ O curso ou evolução dessa perturbação.
¡ - curso crónico ou curso episódico.
¡ - curso ou evolução antecipada de uma doença chama-se prognóstico.
¡ A idade do doente.
Importante perceber a prevalência e incidência da perturbação para perceber o que é representativo da população
portuguesa e o que a distingue da espanhola ou da norueguesa, por exemplo. Todos os dados são essenciais para
avaliar a gravidade da condição ou sintomas.
Etiologia
• Tem a ver com a investigação acerca de como a perturbação se inicia, e inclui a
investigação das dimensões biológicas, psicológicas e sociais que contribuem para o
desenvolvimento dessa perturbação. Que fatores biológicos, sociais, culturais, etc. são causadores
do distúrbio?
Tratamento
¡ O tratamento e os seus resultados podem por vezes ser importante no estudo duma
perturbação psicológica.
Contudo …
¡ A noção de que o efeito não implica necessariamente a causa.
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Síntese:
Diagnóstico aos 16 anos é um problema. O cérebro não está maturado. Treino de competências muitas vezes é
complementar ao tratamento, sendo acompanhados no sentido de trabalhar a sua autonomia a diferentes níveis.
Modelos Explicativos
• Modelo Biomédico
• Modelos Psicológicos
• Modelo psicodinâmico
• Modelo comportamental
• Modelo cognitivo
• Modelos Sócio-culturais
Importante para o exame: Antes de falar de etiologia, temos de conhecer a história da psiquiatria. Estigma está
associada à autoestima, à vergonha, é extremamente tóxico. No sentido mais global, o mundo ocidental está povoado
de pessoas que se sentem envergonhadas e não gostam da pessoa que são.
Anteriormente qualquer comportamento anormal era considerado demonológico, mágico, de espíritos negros. Este
conceito levou durante muitos anos à eliminação destas pessoas. Pelo medo que desencadeiam e por consequência
da abordagem a esse comportamento (incluíam-se as pessoas que nasciam com deficiência, quando lhes era permitido
o nascimento). Hipócrates propôs que talvez a loucura pudesse ser compreendida como qualquer coisa como uma
disfunção, um problema de natureza orgânica.
Na idade Média
¡ Marcada por uma forte influência da igreja. Tendo em conta o Cristianismo acreditava-
se que o mundo era organizado de acordo com os desígnios de Deus.
¡ Os comportamentos anormais eram vistos como o resultado de forças malignas,
espíritos, demónios, bruxaria ou de pecados cometidos (a tortura era um dos métodos
utilizados para elicitar as confissões).
¡ Os “loucos” disfrutavam de relativa liberdade. Os seus comportamentos eram a
expressão da vontade de Deus. Muitas vezes eram submetidos a rituais de exorcismo e
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adorcismo. Doentes mais graves eram flagelados, acorrentados por estarem “possuídos
pelo demónio”.
Nesse período por influência do Cristianismo acreditava-se que todo o mundo era organizado de acordo com os
desígnios de Deus. Os insanos, assim como os retardados e os miseráveis, eram considerados parte da sociedade e o
principal alvo da caridade dos mais abastados, que assim procuravam expiar seus pecados. Os doentes mentais eram
chamados de insanos, “lunáticos” (do latim luna = Lua, pois acreditava-se que a mente das pessoas era influenciada
pelas fases da lua) ou “pecadores” (do latim peccatu = pecado, indicando a transgressão de qualquer preceito religioso
ou a existência de certos defeitos ou vícios nos indivíduos). A doença mental era decorrente de uma relação defeituosa
entre o homem e a divindade, um castigo por faltas morais e pecados cometidos, ou provocada pela penetração de
um espírito maligno no organismo do indivíduo ou, ainda, pela evasão da alma do corpo da pessoa.
Ainda assim, os loucos desfrutavam de relativa liberdade de ir e vir: suas famílias confiavam na caridade alheia para
garantir a sobrevivência de seus filhos e aceitavam seus impulsos e características peculiares como expressão da
vontade de Deus. Muitas vezes, esses insanos”, “lunáticos” ou “pecadores” eram submetidos a rituais religiosos de
exorcismo ou adorcismo. Os padres, beatos, “homens santos” e membros da nobreza que praticavam esses rituais
não agiam com crueldade física. Doentes com distúrbios mentais mais graves ou mais agressivos eram flagelados,
acorrentados, escorraçados, submetidos a jejuns prolongados, sob a alegação de estarem “possuídos pelos
demônios”. Podiam até ser queimados, por serem considerados feiticeiros. No final da Idade Média, vários indivíduos
de comportamento “desviante”, de loucos a contestadores, foram assim perseguidos, julgados e queimados vivos nas
fogueiras da Santa Inquisição.
Renascimento
¡ Doença mental como alienação, diminuição, depravação ou perda de função mental.
¡ Ressurgir do questionamento científico na Europa.
¡ Primeiros asilos e sanatórios.
¡ Reformas humanitárias.
¡ Mas esta época não trouxe benefícios para os doentes mentais, pelo contrário
exarcebou as práticas de perseguição e maus tratos.
A doença mental era entendida como uma perda da função mental. Construção de instituições dignas onde eram
garantidas as condições mínimas às pessoas: roupa, alimento e habitação. Os tratamentos eram muito pobres.
A loucura passou a ser concebida como fazendo parte de um processo mental que se traduzia em comportamentos.
Os cuidados prestados ao doente mental passavam invariavelmente pela exclusão social. Eram fechados em celas e
calabouços ou enviados para longe em embarcações marítimas, ou então mortos. Mais tarde iniciou-se o atendimento
em instituições especializadas, ainda que de uma forma segregativa.
Racionalismo
¡ Revolução francesa (ideias humanistas)
¡ Pinel: 1ª tentativa séria de classificação das doenças mentais (manias “delírios gerais ,
melancolias “delírios exclusivos”, demências e idiotias).
¡ William Cullen (1712-1790) psiquiatra que estabeleceu uma das primeiras classificações
das doenças psíquicas com alguma base científica. Foi o criador do termo neurose
(doença funcional ou sem patologia localizada).
¡ Charcot (1825-1893). Dedicou-se ao estudo da hipnose e da histeria, e que estas eram
devidas a uma debilidade orgânica do sistema nervoso. Janet (1859-1947) designou esta
debilidade de Psicastenia.
No séc. XVII os trabalhos de Copérnico, Leonardo da Vinci, Galileu, Descartes, Pascal e Newton revolucionaram o
pensamento humano e as ciências naturais. Estas descobertas influenciaram decisivamente a evolução científico-
natural da medicina e também da própria psiquiatria. Os doentes mentais continuavam a ser marginalizados.
Revolução francesa (ideias humanistas). Mudança radical quanto à forma como se tratava as pessoas,
independentemente se estavam na distribuição normal ou se eram outliers. Pinel foi genial, psiquiatra, primeira
pessoa conhecida que propôs a primeira classificação objetiva da doença mental: manias, delírios gerais, melancolias
(até 1994 esse diagnóstico foi utilizado), as demências... Cullen foi a primeira pessoa que falou de neurose. Diferenciou
a neurose da psicose. A doença neurótica é uma doença que não tem uma causa orgânica, é uma doença psicológica
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e funcional. Não são detetadas em fMRI, só mesmo funcionalmente. Um acrescento brilhante, o que permitiu
identificar melhor as pessoas e tratá-las de uma forma mais direcionada naquele tempo.
Charcot tratou imensas histerias naquela altura. Nunca há uma separação entre as doenças e o que culturalmente vai
acontecendo. Não é que o contexto sociocultural provoque diretamente isso. Mas é importante no estado de saúde
mental das pessoas. Charcot dedicou-se ao estudo de hipnose. Doenças físicas com interferência nas perturbações
mentais e, por outro lado, as perturbações acentuam a somatização das doenças.
A maioria dos psiquiatras da segunda metade do século XIX passou a procurar uma causa orgânica para as doenças
psíquicas. Kraepelin postulava que as doenças psiquiátricas tinham como causa desordens genéticas e biológicas. Foi
importante porque desenvolveu o novo sistema de diagnóstico. Fala pela 1ª vez em síndroma (conjunto de sintomas).
Classificou de duas formas distintas a psicose que até à altura era um conceito unitário: psicose maníaco-depressiva
e dementia praecox (esquizofrenia). Cada sintoma pode aparecer em qualquer uma das doenças.
Freud era um psiquiatra, contribuiu muito para a classificação e compreensão das perturbações psicológicas. Quanto
ao Kraeplin, foi a primeira pessoa que colocou o nome à esquizofrenia (chamou de demência precoce – estes doentes
têm ao longo do tempo alterações neuro-cognitivas; esta doença provoca alterações no cérebro e nas funções
cerebrais, ao longo do tempo há uma deterioração). Mesmo com alguma estigmatização, estas classificações levaram
ao surgimento de tratamentos farmacológicos, e por tal melhorou muito a qualidade de vida dos doentes.
Conceitos na Psicopatologia
¡ Somatogénese: alterações ou problemas no corpo produzem perturbação mental
¡ Psicogénese: as perturbações mentais têm uma origem psicológica
O corpo são as emoções, pensamentos, sentimentos e memórias. Não existe separação entre corpo e mente. O córtex
frontal esquerdo está associado ao raciocínio e planeamento e não funciona sem as emoções.
Modelos Etiológicos
Modelos em psicopatologia
¡ Existe uma série de perspetivas de conceptualização do comportamento disfuncional e
“anormal”
¡ Cada uma destas perspetivas tem em conta vários elementos:
¡ A etiologia (causas) do comportamento “anormal”
¡ Os objetivos do tratamento
¡ Os métodos e estratégias de tratamento
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É importante explicar aos doentes as propriedades das perturbações. Explicar o que levou à perturbação e o que
mantém a perturbação. Os modelos que iremos dar hoje, a professora explica aos doentes. Um terapeuta que não
sabe explicar uma doença psicológica na forma como esta se expressa é um mau terapeuta, sabe muito pouco.
Modelo Biomédico
¡ A doença mental é explicada pela existência de causas médicas ou biológicas
subjacentes.
¡ Introduziu o pensamento e método científico na compreensão da psicopatologia.
¡ Abordagem reducionista, na medida em que procura reduzir a complexidade das
características psicológicas e emocionais à simples biologia.
¡ Crença subjacente: a psicopatologia é causada “por alguma coisa que não funciona
apropriadamente”.
¡ Assume que as alterações Bioquímicas são a Causa
¡ no todo ou em parte
¡ análogas a outros problemas médicos
¡ Assume que está provavelmente presente desde o nascimento
¡ pode ser o resultado de problemas genéticos
¡ Marcadores biológicos
¡ Resposta à medicação
¡ Anti-depressivos, Anti-psicóticos (neurolépticos)
¡ Relação com outros conhecimentos na área
¡ Doenças/Tratamentos
¡ Dopamina/Esquizofrenia/Parkinson
A emoção no corpo dura apenas 90 segundos (seja positiva, felicidade, excitação ou negativa (emoções da defesa)
como o medo). As emoções são algoritmos neuroquímicos. Então o que acontece com pessoas que andam meses
tristes? Défices de dopamina, neurotransmissor responsável pela proatividade das pessoas. É uma explicação
reducionista porque não integra os processos mentais, não há lobos e regiões cerebrais a serem incluídos na equação
da intervenção. No fundo, as alterações bioquímicas derivam de substâncias neuroquímicas e neuroendócrinas. O
cortisol é profundamente tóxico, por exemplo. É sob este modelo que são explicadas as perturbações mentais. A
definição genética também importante. O modelo biomédico propõe marcadores bioquímicos que estão alterados nas
doenças psicológicas (níveis que estão a mais e a menos). Fazem compensação farmacológica procurando primeiro
perceber a resposta à medicação desses marcadores bioquímicos. Antidepressivos, Antipsicóticos (Neurolépticos).
Deriva do modelo médico. Faz sentido explicar aos doentes com alguma vulnerabilidade genética ou biológica. O
temperamento é uma variável individual e genética. Geneticamente há pessoas que nascem com uma maior tendência
para responder mais intensamente às alterações do contexto que outras. É biológico e temperamental –
vulnerabilidade somática. Experiências da vida vão acentuar o efeito, outras vão diminuir. Toda a gente entra em
stress quando a exigência do contexto exige recursos que as pessoas não têm para oferecer. Há pessoas que a forma
como entram em stress é intensa para estímulos pequenos de stress. Por exemplo, furar um pneu para algumas
pessoas pode levar a um ataque de pânico, em situação de não haver recursos para resolver a situação. Doentes com
Doença Mental Crónica (esquizofrenia, por exemplo) têm uma vulnerabilidade maior ao stress. Pequenas coisas
provocam respostas desadequadas. Deriva do modelo médico porque tem uma interação da parte biológica com as
exigências do contexto (grupo de pares, ginásio, qualquer tipo de áreas de vida).
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Modelos Psicológicos
¡ Ênfase nas causas psicológicas. Existem 4 razões/fatores/causas comprovados que são responsáveis
pelo eclodir/aparecimento e a manutenção das doenças psiquiátricas/mentais.
¡ Experiências precoces. Sabemos que experiências precoces negativas/traumáticas, que têm
que ver particularmente com memórias emocionais na infância e que se prendem com a relação
que as pessoas podem ter com a figura de vinculação, desencadeiam psicopatologias.
Exemplos: Um dos mais estudados e que se sabe que tem um impacto muito negativo é a
experiência de abuso sexual na infância, mas também o facto de figuras de vinculação serem frias,
antipáticas, distantes, não calorosas, sem capacidade de expressar e socializar os filhos nas
emoções, pais demasiado protetores; ou subprotetores, muito críticos (intrusividade parental)...
esse tipo de experiência desenvolve uma particular vulnerabilidade das pessoas desenvolverem
perturbação ou distúrbio psicológico.
¡ Acontecimentos traumáticos. Um acidente de carro, algo violento e abrupto, abuso
traumático – violação (por exemplo em contexto de festas universitárias) ... ou até mesmo uma
pessoa ser filmada e ser colocada na rede social.... é também um acontecimento traumático e
aversivo.
¡ Experiências de aprendizagem disfuncionais. Estilos parentais disfuncionais podem ser
a causa da pessoa aprender a ter determinadas respostas emocionalmente aprendidas por
paradigmas de aprendizagem provenientes dos pais.
¡ Pensamento irracional ou ilógico. A doença mental (mesmo a psicótica) é mantida por
crenças e ideias distorcidas, crenças disfuncionais cognitivas e erros de processamento de
informação
Estas quatro causas podem estar e estão juntas e explicam EM CONJUNTO quase todas as perturbações psicológicas,
mesmo a doença mental crónica, como a perturbações psicóticas ou a doença bipolar (a esquizofrenia é uma doença
crónica).
Os modelos psicológicos fazem todo o sentido porque apesar de haver muitas vezes um acompanhamento com o
psiquiatra, estas pessoas melhoram imenso com as intervenções psicológicas. Informação genética altera-se ao longo
das experiências de vida (existem predisposições que não se efetivam e vice-versa). Experiências moldam a informação
genética. Experiências precoces vulnerabilizam qualquer pessoa para a psicopatologia (Experiências de Bowlby, baixo
afecto positivo, etc). Podem provocar trauma. Tudo isto comprovado cientificamente. No entanto, os acontecimentos
traumáticos podem acontecer em todas as etapas desenvolvimentais, em todas as épocas: assalto, consumo de
substâncias, outras. Outra causa psicológica são os estilos de aprendizagem disfuncionais, como por exemplo
aprender o medo por condicionamento (muitas fobias neste sentido). (Anorexia é um conjunto de ideias disfuncionais
de que a magreza da competência).
Se virmos bem, para a maior parte das doenças de que vamos falar é necessário saber analisar o doente e fazer o
diagnóstico e, sendo estas perturbações causadas por variáveis psicológicas, a intervenção das perturbações será
também psicológica. Esta intervenção psicológica é diferente do aconselhamento clínico. Psicoterapia é uma
especialidade da Psicologia (tal como o é a Psiquiatria para a Medicina). Um Psicólogo Clínico NÃO é um
psicoterapeuta (esse tem que fazer formações extra).
A Terapia cognitivo-comportamental é uma das terapias destes tratamentos psicológicos e a recomendada pela
OMS, sendo recomendada para todas as perturbações psicológicas pois é a mais empiricamente validada e estudada
por ensaios clínicos, podendo ser usada para toda e qualquer perturbação psicológica.
A Psicanálise
Freud, austríaco, viveu nos anos 20 e teve uma grande contribuição para a Psicologia no século
XX. A maior parte dos doentes que ele via eram mulheres e uma das maiores críticas ao modelo
dele foi precisamente porque ele estudava muito a histeria feminina, como gravidez e paralisia
histéricas (não havia alteração orgânica que justificasse a perda da marcha). Agora tem-se muito
mais perturbações graves da personalidade do que quadros fóbicos. Estas doenças mais graves
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da identidade levam mais tempo a resolver e são muito mais impeditivas na vida das pessoas que ter uma fobia
específica por exemplo animal ou uma perturbação de pânico (que se resolve bem com medicação). O contributo
grande do Freud foi genial, pois este veio dizer que os nossos comportamentos (alguns eles disruptivos) no fundo
aconteciam porque existiam tensões /pulsões / conflitos no inconsciente. Temos muitos comportamentos que fazemos
sem saber porquê, com completo desconhecimento de onde vem determinada emoção. Freud veio propor uma teoria
da personalidade que, na cabeça dele, veio construir a raiz da explicação das doenças, daquilo que ele propõe como
psicopatologia.
Freud foi genial em algumas coisas. Outras não, sem sentido e carente de comprovação. A forma como desenvolveu
a teoria da personalidade com base no desenvolvimento sexual é questionável. No entanto, a parte genial é: “muitos
dos nossos comportamentos acontecem sem termos consciência deles ou da razão”.
Paradigma Psicanalítico
¡ Assumpção nuclear: Os comportamentos “anormais” são o reflexo da existência de
conflitos no inconsciente
¡ Este paradigma deriva das Teorias da Personalidade desenvolvidas por S. Freud
É criticável porque o modelo dele tem a mente dividida em 3 partes (a primeira relacionada com o evolucionismo –
cérebro bebé na história da evolução, reptiliano e com comportamentos reptilianos, territoriais, primitivos). Freud
vem dizer que temos motivações inatas (como ligar-me a alguém, fazer sexo, manter o parceiro, etc.) como pulsões
do inconsciente, assim como procurar alimento e ter descendência. Uma perturbação de pânico e uma fobia animal
são completamente diferentes. O grande contributo do Freud foi esse. Há muitos mecanismos tácitos (nós só
conhecemos cerca de 10% do cérebro).
¡ EGO: parte consciente da mente – lida com a realidade. Conseguimos fazer síntese da
informação que nos chega pelos sentidos (dou conta do que penso, outros nem tanto)
• SUPEREGO: última parte da mente que emerge. É similar à consciência. Arbitra o que
acontece na consciência que muita vez é orientada pelas pulsões ou o que acontece no inconsciente (espécie
de entidade superior que arbitra o que acontece na parte da consciência que muitas vezes é orientada pelas
pulsões e pelo inconsciente)
Desenvolvimento Psicossexual
Mais tarde, Freud propôs um conjunto de etapas psicossexuais e defendeu que as doenças provinham de repressão
sexual (conflitos sexuais no inconsciente) e que quem tinha sintomas psicopatológicos ficava preso/agarrado a cada
uma destas fases. Mas a verdade é que quando somos pequenos passamos por todas estas fases.
A Personalidade desenvolve-se por fases/etapas. Em cada uma das etapas o ID fornece prazer a
partir de partes distintas do corpo:
¡ Oral (0-18 meses): a criança tem prazer comendo e mordendo
¡ Anal (18 meses-3 anos): o foco do prazer localiza-se no ânus
¡ Fálica (3-6 anos): os genitais são o foco do prazer
¡ Latente (6-12 anos): os impulsos do ID estão dormentes. (energia libidinosa relacionada com a
excitação direcionada à área sexual é adormecida e explode na puberdade)
Até à explosão da adolescência há uma latência. A energia libidinosa fica adormecida e vai tudo “explodir” na fase
menstrual das mulheres e na ejaculação no homem. Freud foi revolucionário em muitos domínios, mas o que não faz
sentido em Freud é, por exemplo, dizer que uma depressão se deve à repressão sexual. Esta explosão é fundamental
para o cérebro ficar maturado e haver pensamento formal na adolescência e essa pessoa passa a conseguir
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estabelecer mais relações com os pais. Por isso, na adolescência, se as experiências são traumáticas, isto é tão
impactante quanto ter um pai prejudicial ao desenvolvimento (ausente, crítico ou superprotetor). Os comportamentos
são sintomas. Este psicanalista veio dizer também que é importante tornar explícito o que está implícito (conflitos
inconscientes) e a importância das experiências precoces. Freud propôs que as pessoas que tinham distúrbio ansioso
eram resultados de tensões e conflitos no inconsciente. *O aspeto importante em Freud foi ter dado importância às
experiências precoces!
Mecanismos de defesa
Freud identificou muitíssimo bem estratégias disfuncionais para lidar com ansiedade (negar que o que estou a sentir
é péssimo, reprimir/suprimir uma emoção negativa é péssimo porque ao longo do tempo a emoção em vez de descer
vai aumentando; por exemplo deslocar ou sublimar é fazer ao contrário, é ter comportamentos compensatórios ao
contrário daquilo que é a emoção, o que agrava e prende mais as emoções negativas; ou racionalização (estratégia
do cérebro para não ter que lidar com emoções, memórias negativas, sentimentos que eu não queira lidar,
pensamentos acerca dos outros ou do self, etc. Ex: “as pessoas com fome em África têm mais problemas do que eu”).
Estes mecanismos estão presentes em todos os quadros clínicos, e são fatores causais. O terapeuta tem de saber
identificar estes mecanismos e saber explicar à pessoa o que elas usam.
• Repressão
• Negação
• Projecção
• Deslocamento
• Formação de reacção
• Regressão
• Racionalização
• Sublimação
Suprimir a ansiedade é a pior coisa que se pode fazer, pois ela pode continuar até ao fim da vida se não for tratada.
As pessoas que racionalizam oferecem resistência para mudar a forma como lidam com as coisas, ex: “eu racionalizo
muito” (pode ter no futuro problemas na parte da expressão emocional). Ou seja, quem usa estes mecanismos (que
não são aprendidos, são cerebralmente autónomos, mecanismos defensivos do cérebro para a pessoa não ter
sofrimento) vai ficar com maiores problemas no longo prazo. Há pessoas que estão 20 anos a suprimir coisas, e depois
aos 40 anos é muito mais difícil haver libertação do que se tivesse apenas 15, por exemplo. Todas as emoções estão
presentes em todos os quadros clínicos. A depressão é uma perturbação do afecto, por exemplo.
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– Associação livre
– Interpretações
– Análise e interpretação de sonhos
– Resistência
–Transferência
– Contra-transferência
O legado de S. Freud
(Temos mais emoções negativas que positivas, pois o cérebro não foi desenhado para ser feliz mas para lidar com a
ameaça. Na verdade, os nossos ancestrais tiveram de lidar com muita adversidade, condições de vida e ambientes
extremamente perigosos, aos quais teve de saber adaptar-se e responder emocionalmente como forma de defesa e
salvaguarda da vida). Nota: o conceito do inconsciente coletivo de Jung é muito interessante e toca o aspeto
evolucionista do Freud, que diz que nós temos um arquétipo global que orienta os humanos, sendo um deles o herói:
todos queremos ser um herói ou salvos, o que faz parte da consciência coletiva da humanidade e que terá que ver com
a origem da espécie. A espécie teve uma origem muito dura e havia muitos perigos daquela altura, daí que tenhamos
muito mais emoções de defesa do que de felicidade porque o cérebro não foi desenhado para ser feliz, mas para lidar
com a ameaça.
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Paradigma Comportamental e Cognitivo
(NOTA EXTRA: não é preciso saber ao detalhe, vai sair 2 ou 3 perguntas no máximo)
Paradigma Comportamental
• Pessoas-chave
• Pavlov - cond. clássico
• Watson - pai do behaviorismo
• Thordinke
• Skinner - cond. operante
Este paradigma apareceu nos anos 20. Estas pessoas-chave vieram dizer, cada um à sua maneira, que os humanos
podem aprender a ter respostas de medo aprendidas por associação de estímulos ou pelo papel das consequências.
Há muitas fobias, distúrbios de pânico, perturbação de ansiedade social, hipocondria, TOC, aprendidos por
condicionamento clássico (associação de estímulos - a causa de a doença ser uma causa psicológica). Watson diz que
pode induzir uma resposta de medo em alguém que não a tem porque ficou fechado no elevador. (exemplo da
professora ao resolver o problema do aluno na aula – claustrofobia. O aluno tinha sido fechado muitas vezes na
infância).
Notas da professora: Existe uma operacionalização e Objetivismo: necessidade de traduzir o comportamento humano
em unidades discretas, objectivas e observáveis; Regulação da Aprendizagem: o comportamento funcional ou
disfuncional pode ser explicado com base nos princípios e leis da aprendizagem que, uma vez identificados, podem ser
generalizados para vários indivíduos, contextos e situações; Determinismo Externo: o comportamento está pouco
dependente das características inatas e internas do organismo – grande parte do que somos e do que fazemos é
determinado pelas circunstâncias da nossa interacção com o meio. A manipulação das contingências do meio é
central em qualquer programa de modificação do comportamento.
Em relação às consequências aprendemos comportamentos muito bons (como estudar e receber o reforço positivo
pelas notas). Sabemos que quando apresentamos uma recompensa reforçadora, o comportamento aumenta. E se
retirarmos o reforço, o comportamento tende a ser extinto.
Paradigmas de aprendizagem
Os humanos podem aprender a ter respostas de medo por associação de estímulos (condicionamento
clássico). Aprendemos comportamentos muito bons como estudar que são feitos por reforço positivo (Ex: se
tiveres boas notas dou-te brinquedos).
• Estímulo Incondicionado
• Estímulo Condicionado
• Resposta Incondicionada
• Resposta Condicionada
• Generalização do Estímulo
• Generalização da Resposta
• Discriminação
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• Extinção
• Reforço
• Escalas de reforço
• Punição
• Extinção operante
• Controle de estímulo
Medo generalizado/generalização do estímulo -> exemplo em que a pessoa ficou fechada numa nave em exposição
na feira durante 9 horas e depois nunca mais entrou em espaços similares – snc ativado, sintomatologia.
Generalização da resposta, alargamento da mesma resposta para mais estímulos e um agravamento ao longo do
tempo. O método terapêutico que deriva do condicionamento clássico e da terapia comportamental é a exposição
(que ainda hoje se utiliza e que é eficaz. Se for bem feita e aplicada resolve muita coisa). A terapia de exposição, se
for bem feita, é eficaz. "Convido as pessoas a serem corajosas e se exporem àquilo de que têm medo"
Experiência de Pavlov
Se acionarmos uma campainha o cão orientará a cabeça e as orelhas para o local de onde vem
o som, mas não salivará. O som da campainha é um US para a UR de orientação – reflexo de
orientação. O som da campainha é um ESTÍMULO NEUTRO (NS) para a resposta de salivação.
• O processo que consiste em associar dois estímulos S1 e S2, em que o S2 provoca uma
resposta R e S1 é um estímulo neutro em relação à resposta R, de modo a que S1 passe
a desencadear a resposta R denomina-se Condicionamento.
• Aprendizagem Passiva: o indivíduo aprende a responder de certa forma a determinados
estímulos em resultado de associações S-S, em que um dos estímulos é o desencadeador
incondicional da resposta. Sem o US não é possível a aprendizagem respondente ou
pavloviana.
Assim…
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• Talvez fosse possível, por recurso aos métodos de aprendizagem, tratar fobias,
depressões, obsessões e compulsões, e outras disfunções do comportamento humano.
• Os estudos de Watson e Mary Cover Jones representam as primeiras investigações da
aplicação do CC para induzir e extinguir medos em humanos.
• As neuroses resultariam da ocorrência de um acontecimento traumático (US) produtor
de respostas emocionais de medo (UR). Estímulos neutros acidental/ presentes ficarão
condicionados pela contiguidade (CS), sendo que a partir daí passarão a evocar uma
resposta emocional semelhante (CR), na sua natureza à resposta incondicionada
(medo/dor).
• Reforço
• Escalas de reforço
• Punição
• Extinção operante (é o que se faz muitas vezes e que é eficaz, que é não reforçar os
comportamentos)
• Controlo de estímulo
Para além do reforço e do facto de um terapeuta comportamental fazer escalas de reforço pode-se usar estratégias
para terminar com o mau comportamento do aluno na sala de aula. Aprendemos muitos comportamentos errados
por reforço negativo (como fumar e beber álcool ou uma paciente bulímica que vomita). Reforço negativo é
introduzir/fazer alguma coisa que no momento que é introduzido em nós o desconforto diminui (Ex: quando temos
medo de alguém e usamos álcool sistematicamente para estar descontraído para falar com essa pessoa é um reforço
negativo), e isto é muito difícil de largar.
Pressupostos-chave
Nestas experiências via-se que, por exemplo, os animais podem aprender a carregar na alavanca para obterem o
queijo com uma série de sequências e depois de perceberem esse reforço são rápidos a carregar na alavanca. Foi isso
que levou Skinner a compreender que nos humanos as respostas dos comportamentos são experimentais
(aprendemos através das consequências).
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Conceitos
• EXTINÇÃO OPERANTE
o “diz-se que há extinção quando uma relação de contingência diminui a
frequência, duração ou a intensidade de uma resposta em virtude da resposta
deixar de ser seguida por uma consequência reforçadora”.
• PUNIÇÃO
o “diz-se que há punição numa relação de contingência em que a consequência é
um estímulo aversivo ou a remoção de um estímulo previamente reforçador, e
diminui a frequência, a duração ou a intensidade (aumento do tempo de
latência da resposta) de uma resposta.
o Só poderemos falar de Punição quando:
§ a. há diminuição da frequência, duração ou intensidade do
comportamento (ou aumento do tempo de latência)
§ b. se for devido ao facto de a consequência ser um estímulo aversivo
(punição positiva) ou a remoção de algo previamente reforçador
(punição negativa ou custo de resposta)
• REFORÇO POSITIVO
o Qualquer acontecimento cuja apresentação contingente aumenta a frequência
de desempenho de uma resposta. Neste caso, a consequência é um ganho,
obtenção de qualquer coisa.
• REFORÇO NEGATIVO
o Qualquer acontecimento cuja retirada contingente aumenta a frequência de
desempenho de uma resposta. Neste caso, a consequência é a eliminação de
uma situação aversiva prévia.
O que dizem as experiências de Skinner? Os animais conseguem ganhar reforço. O que diz Bandura com o seu
paradigma da aprendizagem social? Como é possível aprender um comportamento que não foi reforçado por nada?
Como é que é possível aprender um comportamento agora que só vou usar 6 meses depois?
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Este paradigma surge como resposta a certas questões:
Aprendemos por observação. Há muitos comportamentos adaptativos e desadaptativos que as pessoas aprendem
por observação/modelamento. Nos adolescentes, há muitos comportamentos aprendidos por contágio,
nomeadamente comportamentos de auto-dano... vamos aprender o comportamento por modulação, a motivação é
minha e tenho variabilidades da minha personalidade, e passo a ser uma variante do modelo que observei, não uma
repetição. Tenho de ter atenção ao modelo, memorizar e reproduzir, mas a reprodução nunca será igual ao modelo
(as reproduções não são cópias), porque a pessoa não é igual à pessoa do modelo. E é isso que na terapia devemos
fazer: usar algumas competências para modular algumas competências no doente. Atenção, retenção, reprodução e
motivação. Bandura disse que aprendemos por modelação: quer dizer que eu tenho variáveis minhas, a minha
motivação é minha, as minhas variáveis individuais como a personalidade vão interagir com aquilo que eu vou
observar (somos uma variante do modelo que observamos). Um terapeuta tem que ser um bom modelo para o
doente. Temos de ser capazes de observar o modelo, reter a informação e codificá-la na memória para a poder
reproduzir. Mas a reprodução nunca é igual ao modelo inicial (não é uma cópia) - é afetada pela individualidade.
Conceitos fundamentais dos modelos de Bandura Importante): Estes processos cognitivos são
fundamentais para a aprendizagem por modelamento. A antecipação do reforço funcionaria como um factor
motivacional que determina a expressão dos comportamentos previamente aprendidos.
Deriva daqui a exposição, técnicas terapêuticas, depois o manejo de contingências são processos de reforço.
Características
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B. Tipo de comportamento do modelo (Complexidade, tipo de resposta, padrão de auto-
reforço (boa ou má execução))
C. Consequências do comportamento do modelo (Aumento da probabilidade dos
comportamentos aprendidos por observação serem executados quando o
comportamento do modelo é reforçado).
D. Motivação fornecida ao observador (Reforço)
E. Características do observador (Capacidade para processar e reter a informação e nível
de ansiedade)
• Para haver modelamento são necessárias condições que maximizem a
atenção do observador e a retenção do comportamento observado
(importância do uso de instruções preliminares que apontem os aspectos
principais do comportamento).
Notas extra da professora: Mimetização: reprodução topográfica do comportamento Modelamento: inclui para além
da aprendizagem de uma resposta motora, o modelamento de um discurso interno e de uma regra. Ênfase na
interacção entre a situação observada e os processos cognitivos do observador
Estes paradigmas vêm dizer que as causas são psicológicas, os comportamentos são mantidos por consequências (Ex:
reforço negativo).
Terapia comportamental
o Exposição
o Dessensibilização Sistemática (é uma técnica de exposição)
o Manejo de contingências (são programas de reforço com base no paradigma operante- é
um plano de intervenção com reforços positivos, técnicas operantes e elimina reforços negativos)
o Aprendizagem por observação (usa-se os terapeutas para ensinar competências)
O importante de se reter acerca destes paradigmas é que as causas das perturbações são psicológicas, que no
condicionamento clássico há uma associação de estímulos e por isso temos de expor o doente aos estímulos fóbicos
para a ansiedade descer, que os comportamentos são mantidos por consequências, como reforços negativos (então
temos de retirar todas as estratégias de reforço negativo senão o doente continua com o problema), e depois sob a
luz da aprendizagem de Bandura, se o doente tem um comportamento aprendido por um mau modelo observado e
carece de competências, o terapeuta tem que as ensinar (ex: competências sociais). Muitos pacientes não têm
competências porque não as aprenderam, ninguém ensinou, ou conviveram só com pessoas que também não tinham,
com os mesmos problemas que elas.
Pressupostos
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Este paradigma vem dizer o óbvio: o cérebro é um contador de histórias. A mente conta histórias e tem narrativas,
ou seja, na maior parte do nosso comportamento respondemos àquilo que a mente diz que está a acontecer - e não
à realidade. Isso que a mente diz que está a acontecer gera emoções, e são as duas coisas que dão origem aos
comportamentos. A cognição e linguagem tem que ser enquadrada para conseguir compreender os comportamentos.
Só podemos compreender os comportamentos se tivermos em conta a interpretação que a pessoa dá às situações:
não as podemos compreender sem esse fator. Exemplo que 1/3 de humanos têm: “sou burro, sou incompetente, sou
um bluff, um impostor/fraude, não faço falta a ninguém e nada vai mudar” (estas são ideias depressivogénicas, que
podem dar origem à depressão).
Reestruturação cognitiva
TCC de Meichenbaum
Este paradigma levou a que surgissem muitas terapias, como a psicoterapia cognitiva comportamental: (isto foi
revolucionário e ainda hoje em 20 sessões é eficaz para a depressão) o doente deve identificar os pensamentos, de
onde vem a ideia de que “eu não presto e que não tenho ninguém que verdadeiramente me ama” (alguns pacientes
não admitem que têm esta ideia, e é importante ajudar as pessoas a perceber que há uma relação entre a experiência
e a formação de uma ideia). O cérebro é um processador de informação e por vezes acrescenta dados às histórias
que não estão lá e que acrescentam erros gravíssimos. Isto determina os comportamentos das pessoas, que podem
ficar com as ideias que criam acerca das pessoas até ao fim. Devemos questionar as nossas interpretações e ver se a
nossa mente está a criar ideias. Os terapeutas cognitivos identificam os pensamentos disfuncionais errados e
ajudam os pacientes a substituí-los.
• Não são os acontecimentos em si (A) que determinam as reações dos sujeitos (C), mas
sim as crenças que têm acerca desses acontecimentos
• Cognições como variáveis mediadoras
• Interação entre crenças irracionais, emoções inapropriadas e comportamentos
inapropriados
• Implicações terapêuticas
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O objetivo é identificar e mudar crenças irracionais através da disputa racional (substituição de
um modo de pensar absolutista num mais relativista)
“precisamos de processar informação para sobrevivermos" (os seres humanos não conseguem
sobreviver sem teorias)
• Estruturas Cognitivas
• Processos Cognitivos
• Produtos Cognitivos
Terapia Cognitivo-Comportamental
¡ Mistura do Paradigma Comportamental e do Paradigma Cognitivo
¡ Pensamentos, emoções e comportamentos causal/ interligados
¡ Intervenção combinada
¡ Empiricismo colaborativo: esforço interactivo entre terapeuta e doente
Modelo Sócio-Cultural
Nenhum modelo separado explica nada. Todos os quadros clínicos são biopsicossociais, é como se o contexto social
por si só fosse um fator de stress. Por exemplo, o facto de muitas vezes termos valores e princípios que aprendemos
dentro da família (que é uma variável social), mas que no país em que vivem são diferentes. Exemplo: pessoas que
vivem em países ditatoriais têm muitos problemas psicológicos, ou seja, há doenças que não podem ser explicadas
pela neuroquímica, nem apenas contexto social, nem etc. mas pelo todo. O facto de muitas vezes termos valores e
princípios que aprendemos com a família (podendo crescer depois e adotar outros princípios) e vivermos influência
das variáveis culturais, afeta imenso o comportamento das pessoas e pode criar quadros psicopatológicos graves. É
importante para o terapeuta observar todo o contexto de referência da pessoa, onde vive, onde trabalha, todo o
contexto, etc. todos os fatores causais fazem parte do quadro psicopatológico: biológicos, psicológicos e
socioculturais. Tudo isto é importante ser recolhido pelo terapeuta.
30
Sub-culturas podem ter impacto no ajustamento
• Criar stress através de valores que podem entrar em conflito com os existentes na
sociedade
• Esperando (expetativas) e comportamentos de reforço que os “outsiders” podem ver
como “anormais”
• A família de Origem
o Podem ter uma dinâmica que pode nao ser entendida ao nível individual
o Pode ser fonte de stress ou suporte
o Pode ter um impacto diferencial em cada membro
o Pode encorajar a existência de PI
o Pode não encorajar a mudança num dos membros
o Necessidade de observação do seu funcionamento para uma melhor
compreensão
o A família pode necessitar ser alvo da intervenção
o Importante fonte de suporte e de trocas positivas
• Casais Adultos
• Podem ter características sistémicas que podem não ser compreendidas ao nível
individual
• Sistema que pode ser fonte de stress e suporte
• Pode ser tratado como um sistema para otimizar o impacto da terapia nos
indivíduos, assim como nas relações
o Dinheiro= felicidade
Isto influencia estes valores e o ajustamento psicológico, o bem estar, a felicidade ou não, a satisfação...
Fenomenologia
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• Ao ter de me colocar no lugar do outro, se ele for diferente de mim, tenho de me superar
ou transcender, transcendência.
Compreender ≠ Explicar
Compreensibilidade
• Reação
• Desenvolvimento
• Processo
Nota extra da professora: No Desenvolvimento os fenómenos são de um modo geral compreensíveis, mas menos
compreensíveis numa fase mais adiantada. Aqui será mais fácil recorrer à Explicação. Processo: Alguns sintomas são
compreensíveis pelos outros (o delírio é compreensível pelas vozes), mas o seu estado não é geneticamente
compreensível. Há pois uma perda de continuidade entre a sua personalidade prévia e a sua perturbação. Os sintomas
que não são redutíveis pela compreensão são sintomas processuais ou primários.
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Avaliação do Problema - Entrevista
“Com o que se relaciona” - vamos ver qual o impacto que as dificuldades vão ter no indivíduo. Vê-se o impacto na
relação com os outros, com o trabalho… ou seja, quais as interferências que este problema vai tendo. Precisamos de
saber quais foram as estratégias que o doente utilizou para tentar resolver o problema e os resultados dessas
estratégias. Estes resultados têm sempre 2 dimensões: o resultado a curto prazo e o resultado a longo prazo. Exemplo:
Uma pessoa com ansiedade em exames começa a ficar muito ansioso, nas vésperas de uma determinada prova
(padrão cognitivo emocional que implica um enorme sofrimento pessoal. Na véspera é dito assim: “já decidi não vou
de todo, é melhor nem ir”. Qual é o resultado/impacto a curto prazo? Normalmente em situações de grande ansiedade
é um alívio. Ao dizer “eu não vou” isto retira ansiedade, pois permite-nos “fugir da situação”. A médio/longo prazo o
paciente vai indicar um outro impacto que não é tão positivo. As estratégias de evitamento a curto prazo têm um
efeito positivo, de alívio, retirando a dor e o sofrimento. Sendo assim, em processos em que o indivíduo tentou vários
métodos vai-se estudar o impacto curto e a longo prazo. Enquanto o terapeuta está a avaliar a pessoa está também
a intervir um bocadinho, pois já está a ver que estratégias e o resultado (isto é avaliação e permite também que o
paciente entre em contacto com a ideia de que às vezes as experiências causam uma sensação positiva naquele
momento, mas paga uma “fatura” mais tarde). Normalmente, em situações de grande ansiedade, fugir às
responsabilidades é um alívio (resultado a curto prazo).
As estratégias de evitamento (de situações que provocam emoções negativas) têm, assim, no
curto prazo um resultado positivo, mas a médio-longo prazo um resultado negativo e
prejudicial.
[Enquanto estou a avaliar, na recolha de informação, ao mesmo tempo estou a permitir que o meu paciente entre em
contacto com a realidade. Ao avaliar já o psicólogo dá a possibilidade de o doente ir organizando as coisas e
compreendendo novas estratégias.]
Entrevista Clínica
Nota: A entrevista clínica não sai no exame, mas é para ter uma visão de como se faz a recolha de um caso.
Na aula passada falou-se de 2 formas, entre elas compreender o caso ao longo do tempo (na história de vida do
indivíduo, o seu desenvolvimento, as suas experiências precoces, etc.). Isto faz-se através de entrevista clínica e do
exame mental (neste preciso momento quais são os sintomas, em que áreas…?) .
Normalmente faz-se uma consulta de triagem onde são recolhidos os dados Biográficos e o Motivo da Consulta. No
motivo da consulta, a forma como o doente surge é muito importante. Dados da apresentação do doente: se vem
limpo, se vem arranjado, cor do cabelo (se tem muitas cores), se tem uma roupa exuberante e excêntrica. Estes dados
devem ser relevantes! Por exemplo, se uma pessoa está vestida de uma maneira muito comum isso não é digno de
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nota. Ver também se o doente veio acompanhado ou sozinho, se procurou ajuda por vontade própria ou foi o serviço
de justiça, escolas, médico de família...
É importante recolher muitas fontes de informação pois, no conjunto dos muitos dados, algum sinal mais atípico pode
fazer a diferença na determinação dos quadros clínicos.
Em psicologia / psicopatologia nunca podemos mencionar relações de causa – efeito (relações lineares), pois o ser
humano é muito mais complexo do que isso. O que pretendemos é ter múltiplas fontes de informação de forma a
combiná-las na determinação do quadro clínico.
É também importante o objetivo da terapia para a doente (o que a doente espera da terapia e da ajuda que esta irá
dar na resolução do problema).
Dificuldades Atuais: é uma descrição dos comportamentos problema nas suas dimensões
comportamental, motora, cognitiva (pensamentos), fisiológica e emocional. Isto deve permitir
a quem leia a nossa história clínica ter uma boa compreensão do problema, como este afeta as
áreas de vida do indivíduo e qual o impacto que este problema tem tido nos diversos contextos
sociais do indivíduo.
No entanto, só metemos os pesos dos doentes na apresentação se estes forem importantes para o motivo da consulta.
Não é comum colocar. Alguns destes doentes que vão recorrer a cirurgias bariátricas são encaminhados para a
consulta de psiquiatria e de psicologia para ver se estes possuem a capacidade de cumprir um plano alimentar rigoroso
pós-cirurgia.
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Descrição o mais objetiva possível e o mais descritiva possível.
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Colocar verbalizações da doente para contextualizar. É importante mencionar qual a
interferência das dificuldades nas áreas de vida e funcionamento social da doente (Exemplo:
neste último exemplo da imagem vemos que interfere com a capacidade para estabelecer novas
relações e relações já existentes). Deve também ser descrito o impacto que as dificuldades que
a doente apresenta têm nas áreas principais do seu dia a dia:
Neste momento já temos conhecimento do motivo da doente ter vindo à nossa procura, os problemas principais nas
várias esferas, o impacto que isto tem e o sofrimento que provoca. Passa-se depois para o momento em que isto surgiu
e como se foi desenvolvendo. A maior parte dos doentes não consegue estabelecer um ponto específico para dizer
onde as coisas começaram. Quando isto acontece o terapeuta deverá ajudar a lembrar de uma primeira situação que
a pessoa se recorde em que os comportamentos tenham começado a acontecer e explorar em termos cronológicos os
acontecimentos, reconstruindo a história. Tudo isto tem um propósito para a intervenção. Neste exemplo A. pode
dizer que antes de ir para o restaurante já se estava a sentir mal e ansiosa, e isso é um processamento antecipatório
(antes de irmos para as situações já estamos a pensar em como vai correr).
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Depois de reportar o primeiro episódio deve-se também narrar episódios posteriores ao longo da vida da doente.
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Formulação é quando nós interpretamos e organizamos os dados em secções e depois
queremos dar uma lógica à história, ou seja, porque é que aquela pessoa, naquele momento,
sofre daquelas dificuldades e porque é que aquelas dificuldades surgiram. Devemos ver quais
foram os predisponentes: fatores que tornaram a pessoa mais vulnerável àquelas dificuldades;
Quais foram os precipitantes – gatilhos – que desencadeiam os episódios. E quais os fatores que
fazem com que aquelas dificuldades se mantenham – fatores de manutenção. E é aqui que
entram os modelos teóricos (cognitivo – comportamental, psicoterapia dinâmica, psicologia
sistémica, etc.) que permitem perceber quais os fatores que justificam o comportamento.
5. Formulação
Hipótese diagnóstica - Os dados recolhidos até ao momento parecem indicar a presença de um
diagnóstico principal de Perturbação de Ansiedade Social, de acordo com os critérios de
diagnóstico do DSM-5 (APA, 2013).
Esta hipótese é construída com a verificação de que estes sintomas preenchem os critérios para
uma determinada perturbação de acordo com o manual DSM-5. Há ainda a explicação de cada
critério (Ex: preenche o critério D porque as situações são enfrentadas com intenso medo e
ansiedade).
A partir daqui pode-se fazer uma proposta de intervenção terapêutica, pois temos o diagnóstico
e a compreensão de como aquilo surgiu e a partir daí faz-se uma proposta terapêutica. Faz-se
também o diagnóstico diferencial para explicar porque é que é uma perturbação de ansiedade
e não outra perturbação que não essa. Depois a partir daí pode-se fazer uma proposta de
intervenção terapêutica.
Isto relaciona-se com a compreensibilidade genética.Nesta unidade curricular vamos
dedicar-nos à compreensibilidade estática.
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Compreensibilidade Estática
É ao que nos dedicamos nesta unidade curricular. Um dos instrumentos mais usados é o Exame Mental: A utilização
destas técnicas levou a que os psicopatologistas vissem que áreas de fenómenos mentais eram razoavelmente
independentes entre si, resultando assim áreas a explorar que no seu conjunto formam o EXAME MENTAL. Isto
permite-nos observar o comportamento do utente e dá-nos ferramentas para fazer um diagnóstico sem crítica,
objetivo, sem julgamento. Neste exame vamos procurar os sintomas da doença e tentar registá-los nas 11
funções/componentes/secções que temos. O terapeuta regista todo o tipo de alterações dentro destas componentes.
EXAME MENTAL:
(1) apresentação do doente
(2) motricidade e linguagem
(3) contacto
(4) consciência e atenção
(5) humor, afetividade e ansiedade
(6) pensamento
(7) perceção
(8) alterações da estrutura do EU
(9) memória
(10) inteligência
(11) funções biológicas vitais
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Perturbações de Personalidade
Traços de Personalidade e Perturbações de Personalidade
Perturbações de Personalidade são diferentes de outras perturbações psiquiátricas que já falámos: TOC, Depressão,
perturbações de ansiedade, do comportamento alimentar, etc. Estas últimas são perturbações sintomáticas: a partir
de um determinado momento aparecem determinados sintomas. As Perturbações de Personalidade são não
sintomáticas. Estas perturbações são basicamente traços de personalidade que se tornaram rígidos, inflexíveis e
muito marcados. Traços de personalidade são caraterísticas amplas, duráveis que nos permitem descrever uns aos
outros: x é muito espontânea, muito introvertida, calminha, etc. São duráveis e tornam o nosso comportamento
relativamente consistente em diferentes situações. Há flexibilidade (diferentes contextos invocam comportamentos
um pouco diferentes). No entanto existe um núcleo que permite que as outras pessoas nos identifiquem: permite a
compreensão do outro como se fosse uma personalidade singular. Estes traços constituem-se como perturbações
de personalidade quando são mal adaptativos, não se ajustam ao contexto, provocam sofrimento e têm impacto
negativo na vida da pessoa.
Exemplo da Estudante de mestrado em bioquímica que não conseguia terminar o curso porque estava sempre a ser
expulsa de diferentes laboratórios: “Teve sempre um traço de rigor, de verificação, cuidado, responsabilidade assume
uma caraterística de tal forma rígida que em vez de se tornar adaptativo (porque fazia tudo certinho), é tão rígido que
não permite que faça nada. Uma perturbação de personalidade é isto: determinadas caraterísticas da personalidade
se tornam tão rígidas, que passam a ser não adaptativas, que passam a ter impacto negativo na vida das pessoas e
que causma um sofrimento grande.”
Padrão difuso (não é um sintoma, não é só marcado para determinada área). São visíveis durante a adolescência e
estão presentes no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e tem de provocar um sofrimento significativo.
A grande diferença entre estas doenças e as sintomáticas: nas sintomáticas conseguimos perceber a iniciação
(precipitante) dos sintomas em determinado momento.
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• Desenvolvimento e curso: costumam tornar-se reconhecíveis durante a adolescência
ou no início da vida adulta.
o As perturbações de personalidade podem ser aplicadas em crianças ou
adolescentes, mas em casos relativamente raros, em que os traços
maladaptativos de personalidade são difusos, persistentes e não estão
associados a um período determinado de desenvolvimento ou a uma
perturbação mental.
§ Para que uma perturbação de personalidade seja diagnosticada em um
indivíduo com menos de 18 anos de idade, as caraterísticas devem
estar presentes pelo menos há um ano. Devem estar presentes durante um
ano, para podermos excluir o que são caraterísticas transitórias. Para diagnóstico só
mesmo com caraterísticas persistentes.
Diagnóstico
O diagnostico de uma PP é sempre difícil de fazer. Porque não é sintomático. Porque é mais difuso. Por outro lado, a
própria pessoa não identifica a maior parte das vezes como uma perturbação, pois está habituada a ser assim: “eu
sempre fui assim, não sei funcionar de outra maneira”. As pessoas descrevem isso como um feitio, uma caraterística.
Numa perturbação sintomática, as pessoas têm um discurso diferente “já não aguento isso, há um ano que ando
assim, não quero viver assim...” para ajudar a superar esta dificuldade em termos de diagnóstico, muitas vezes o
terapeuta pode recorrer a outros informadores: pessoas que vivem com essas pessoas. Ajudam-nos a perceber de que
forma é que as situações são mal adaptativas.
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• O Grupo C inclui as PP evitante, dependente e obsessivo-compulsiva. Indivíduos com
estas PPs parecem excessivamente ansiosos ou medrosos.
Nota da Professora: No exame não sai a descrição dos critérios de diagnóstico... mas é necessário reconhecer as
perturbações de personalidades e a que cluster estão ligadas.
B. O padrão é persistente, inflexível e abrange uma ampla faixa de situações pessoais e sociais
C. O padrão persistente provoca sofrimento clinicamente significativo e prejuízo no
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
D. O padrão é estável e de longa duração, e seu surgimento ocorre pelo menos a partir da
adolescência ou do início da fase adulta.
E. O padrão persistente não é melhor explicado como uma manifestação ou consequência de
outra perturbação mental.
F. O padrão persistente não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (e.g., droga
de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (e.g., traumatismo)
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Cluster A – Perturbações de Personalidade Paranoide
Caraterísticas Clínicas:
• Padrão de desconfiança e suspeição em relação aos outros, traduzindo-se por uma
constante interpretação das motivações ou ações dos outros como malévolas e
perigosas
• Este padrão começa no início da vida adulta e está presente em contextos variados.
Padrão de desconfiança e suspeição. Indivíduos que estão constantemente a suspeitar e a desconfiar de tudo o que
os outros fazem. O que acontece é que todo o comportamento do outro é interpretado de uma forma negativa, como
se fosse abusar de nós. Motivações e ações dos outros são sempre interpretadas como maldade ou perigo para nós,
de forma automática.
A base do comportamento deles, em termos cognição e emocional é a desconfiança constante, sem que haja
objetivamente uma pista observável pelos outros que também diriam que desconfiariam disso. Questionam a
lealdade, confiança, na ausência de evidências que suportem essa desconfiança: com amigos, família, sócios, etc.
examinam minuciosamente tudo o que os outros dizem, o que fazem, as suas expressões, mas na base desse exame
já há a crença que os outros fizeram por maldade – viés dessa crença condiciona o julgamento). Tendem a interpretar
significados ocultos, ameaçadores, mesmo que sejam de comentários neutros ou positivos.
Paranoides têm muitas vezes um ciúme patológico. Numa relação, a vida dos companheiros é um inferno, interpretam
tudo como suspeitas que o seu companheiro é infiel e nessa suspeita vão construindo narrativas / histórias baseadas
em evidências. Desejam manter controlo total das relações íntimas, passam a vida questionar as ações, fidelidade do
cônjuge ou do parceiro. Estamos a falar de um padrão cognitivo, que têm uma carga evidentemente emocional. Se
sentem que estão a ser traídos, vivem emoções de raiva e, portanto, em termos comportamentais há um impulso para
o contra-ataque e para a vingança: esta pode ser através de insultos, hostilidade, indiferenças; mas também podem
ter comportamentos de agressividade.
Para diagnóstico tenho de sinalizar um padrão de desconfiança difuso, ou seja, todas as motivações dos outros são
interpretadas como malévolas. Este padrão surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos... tem
de ter pelo menos 4 dos sintomas do DSM (lógica do diagnóstico).
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Critérios de Diagnóstico DSM-5
A. Um padrão de desconfiança e suspeita difusa em relação aos outros, de modo que suas
motivações são interpretadas como malévolas, que surge no início da vida adulta e está presente
em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes:
Depois temos de verificar que esta perturbação não ocorre concomitantemente com outras perturbações
psiquiátricas: esquizofrenia, perturbação bipolar, perturbação depressiva com sintomas psicóticas, ou outros
transtornos, e que também não é explicável pelo uso de substâncias ou condição médica (condição neurológica).
Características Clínicas
• A característica essencial da Perturbação de Personalidade Esquizoide é um padrão
difuso de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão de
emoções em contextos interpessoais.
• Estes indivíduos tendem a parecer ser socialmente isolados ou "solitários“, preferindo
ficar sozinhos e demonstrando pouco desejo de intimidade ou em fazer parte de uma
família ou de outro grupo social. Frequentemente estes indivíduos não têm amigos
próximos ou confidentes, exceto um possível parente de primeiro grau.
Esquizoide: o que está sempre em autofócus no seu próprio mundo, e o seu comportamento e atitude é de desligado
do mundo exterior. A caraterística essencial é o padrão difuso (generalizado) em termos do distanciamento das suas
relações sociais. Apresenta uma faixa restrita em termos da sua expressividade emocional nos contextos interpessoais
(limitada). Estes indivíduos tendem a aparecer como solitários, completamente isolados. Não são isolados por terem
ansiedade social (estes da ansiedade querem ter relação com os outros e até pedem ajuda para isso). No entanto o
esquizoide não quer estar com os outros, não sente essa necessidade. Preferem estar sozinhos. Demonstram pouco
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interesse de terem relações de proximidade / intimidade: de fazerem parte de um grupo, de uma família. Não têm
amigos próximos, normalmente (presença de apenas um ou dois elementos do núcleo familiar). O resto das suas
relações interpessoais é praticamente inexistente.
Costumam manifestar uma completa indiferença tanto pelos comentários positivos quanto pelas críticas negativas.
Em manifestações de elogio, não há resposta emocional da outra parte, o que também acontece quando são alvos de
crítica ou de gozo. É como se não os atingisse, é completamente indiferente. Não estão minimamente preocupados
com a avaliação externa – esta é uma caraterística completamente diferenciadora, pois todos nós temos de forma
inata uma preocupação de coimo os outros nossa valiam, nos perceciona, a imagem que os outros têm de nós.
Demonstram um baixo nível de reatividade emocional. Raramente respondem de forma recíproca a expressões
emocionais (sorrisos, gestos, acenos, etc). tendem a demonstrar uma resposta muito fria e muito distante. O individuo
esquizoide é aquele indivíduo isolado, que pode ser nosso colega na faculdade, que está quase sempre sozinha e
dizemos bom dia, e muitas vezes nem somos correspondidos. A manifestação da outra pessoa é sempre em termos
de resposta emocional muito restrita e muito fria. Como são indiferentes à aprovação ou desaprovação dos outros, o
comportamento mostra a pouca importância que os outros têm na vida dele: tendem a reagir de forma passiva a
circunstâncias adversas ou negativas e apresentam uma dificuldade de reagir adequadamente a acontecimentos.
Podem ter dificuldades em expressão raiva, mesmo em resposta a uma provocação direta. Apresentam uma resposta
praticamente inexistente quando insultados ou provocados.
A. Um padrão difuso de distanciamento das relações sociais e uma gama restrita de expressão
de emoções em contextos interpessoais que surgem no início da vida adulta e estão presentes
em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes:
1. Não deseja nem desfruta de relações íntimas, inclusive ser parte de uma família;
2. Quase sempre opta por atividades solitárias;
3. Manifesta pouco/nenhum interesse em ter exper. sexuais com outra pessoa;
4. Tem prazer em poucas atividades, por vezes em nenhuma;
5. Não tem amigos próximos ou confidentes que não sejam os familiares de primeiro grau;
6. Mostra-se indiferente ao elogio ou à crítica de outros;
7. Demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo
Habitualmente nas perturbações de personalidade, como as pessoas têm um padrão longo já escolhem atividades
profissionais que se adequam ao seu estilo de funcionamento. Os esquizoides não vão escolher um trabalho que
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envolva grandes parcerias. Se tiverem de ter algum envolvimento, o trabalho será prejudicado. Quando a atividade
profissional é isolada, podem ser muito bem-sucedidos (programação de computadores, por exemplo). A grande
dificuldade é quando há um envolvimento a nível interpessoal.
Temos de confirmar que não ocorre dentro de uma perturbação do espectro da esquizofrenia, bipolar, depressiva com
sintomas psicóticos ou do espectro do autismo, assim como não está associado ao consumo de substâncias ou a uma
qualquer outra condição médica (neurológica, por exemplo). Esta perturbação esquizoide é considerada incomum,
muito pouco prevalente em contextos clínicos: se fizermos um estudo baseado nos pedidos de determinado hospital
a nível de consultas, encontraremos uma percentagem mínima de doentes com perturbação esquizoide. Eles não
procuram ajuda.
Diagnóstico:
• Indivíduos com PP Esquizoide podem, às vezes, desenvolver Perturbação Depressiva.
• A Perturbação de Personalidade Esquizoide ocorre com frequência concomitantemente
com as Perturbações de Personalidade Paranoide, Esquizotípica e Evitante.
• Diagnóstico Diferencial:
o A PP Esquizoide não deve ser diagnosticado se o padrão de comportamento
ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, perturbação bipolar
ou depressiva com sintomas psicóticos, outra perturbação psicótica ou
perturbação do espectro autista ou se é atribuível aos efeitos fisiológicos de
uma condição médica neurológica (p. ex., epilepsia do lobo temporal) ou a outra
condição médica.
• Incomum em contextos clínicos
Parecida com a esquizóide pois a caraterística também tem a ver com o padrão difuso de défice de competências
sociais e interpessoais, mas é marcada por um desconforto agudo e uma capacidade de reduzir de manter um
relacionamento íntimo, mas para além disso estes indivíduos apresentam um comportamento ou uma aparência
excêntrica, estranha ou “anormal” de acordo com os padrões culturais do grupo.
• Esse padrão surge no começo da vida adulta e está presente em vários contextos.
• Indivíduos com PP Esquizotípica apresentam com frequência ideias autorreferenciais
(i.e., interpretações incorretas de incidentes casuais e eventos externos como tendo um
sentido particular e incomum especificamente para a pessoa).
Estas devem ser
distinguidas de delírios de referência, nos quais as crenças são mantidas com convicção
delirante. Esses indivíduos podem ser supersticiosos ou preocupados com fenómenos
paranormais que fogem das normas de sua cultura.
Muitas vezes esta personalidade Esquizotípica apresenta ideias autorreferencias: interpretações incorretas de
acontecimentos causais como tendo um sentido particular e incomum e especificamente para aquela pessoa: algo a
ver com sinais enviados, interpretações autorreferencias: referenciadas a eles próprias. Estas interpretações não são
propriamente delírios, aparecem sob a forma de superstição crenças paranormais que não são delírios, mas fogem
das normas da nossa cultura. Explicam tudo autorreferenciando-se em crenças supersticiosas.
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• Estes doentes são frequentemente desconfiados e podem apresentar ideias
paranoides (p. ex., acreditar que os colegas estão a planear esquemas de diminuição do
seu estatuto/reputação).
Também apresentam algumas caraterísticas clínicas como desconfiança ou ideias paranoides: por exemplo acreditar
que os colegas estão a planear um esquema para diminuir o seu estatuto ou reputação. Em geral são incapazes de
compreender sinais interpessoais (baixas competências interpessoais: muita dificuldade em compreender os sinais
externos interpessoais e também de ligar com o afeto, que são necessários nos relacionamentos interpessoais. O que
faz com que interajam com os outros de uma forma formal e desadequada (os esquizoides são formas, mas distantes).
São normalmente considerados esquisitos e excêntricos devido à sua apresentação e comportamento: por exemplo,
não fazem contacto visual, podem usar as roupas sujas, manchadas, etc. Podem usar roupa que fica muito pequena:
olhamos para eles e sentimos que é um individuo estranho, esquisito, excêntrico.
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• Indivíduos com PP Esquizotípica costumam procurar tratamento mais devido à sua
sintomatologia ansiosa ou depressiva, do que devido às caraterísticas da sua
perturbação de personalidade.
• Cerca de 30 a 50% dos indivíduos diagnosticados com esta PP têm um
diagnóstico
simultâneo de Perturbação Depressiva.
• Existe considerável concomitância de Perturbação da Personalidade Esquizoide,
Paranoide, Evitante e Borderline.
Procuram procurar tratamento para a ansiedade ou depressão, mas não propriamente por apresentar como problema
a sua perturbação de personalidade. Ou seja, na base da perturbação sintomática pode estar uma perturbação de
personalidade. Cerca de 30 a 50% dos indivíduos têm um diagnostico simultâneo de perturbação depressiva. Existe
concomitância considerável com personalidade esquizoide, paranoide, evitante e borderline (comum esta
concomitância). A população clínica são estudos de prevalência recorrendo aos pedidos que chegam ao hospital. Na
população geral são feitas seleções aleatórias. Este dado significa que estes indivíduos procuram raramente ajuda
terapêutica.
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Resposta: Perturbação Paranoide da Personalidade
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O cluster B das PP é caracterizado por doentes que se apresentam como erráticos ou
emocionais, demonstrando muitas vezes impulsividade ou instabilidade.
• Estas perturbações normalmente apresentam início precoce, durante a adolescência,
estimando-se que cerca de 50% dos doentes manifestem sintomas antes dos 15 anos
de idade, mantendo-se estável durante a idade adulta.
É caraterizado por doentes que se apresentam extremamente emocionais (diferente do esquizoide e do Esquizotípico).
Caraterística principal é a grande emocionalidade e a grande impulsividade (é tudo muito instantâneo).
Há uns anos havia um rapaz em Coimbra que atacava grupos à noite. Em discotecas por exemplo. Uma das vezes que
foi preso, esfaqueou uma pessoa no Macdrive. Alguém que percecionou que lhe tinha passado à frente. Também
bateu no empregado do Mac. Isto foi muito falado porque foi tudo filmado. A propósito disto, quase todas as pessoas
em Coimbra apareceram a dizer que tinham histórias com este homem. É o típico caso de personalidade antissocial.
Caraterísticas Clínicas
• A característica principal da Perturbação de Personalidade Antissocial é um padrão
difuso de indiferença e violação dos direitos dos outros, o qual surge na infância ou no
início da adolescência e continua na vida adulta.
• Este padrão também já foi referido como psicopatia e sociopatia. A mentira, o
desrespeito, a falsidade e a manipulação são características centrais desta PP.
A caraterística principal é um padrão difuso de indiferença e de violação dos direitos de todos. Completo desrespeito
por isso. Normalmente é um padrão com um longo historial. Aquilo a que chamamos psicopatas, sociopatas. O
desrespeito, a desonestidade, uso da mentira, manipulação, etc.
Um destes senhores dizia que quando era adolescente, o entretenimento dele era matar gatos contra a parede. É uma
insensibilidade e desrespeito pelo outro, seja ser humano ou animal. São pessoas que conduzem a alta velocidade,
sentem-se com permissão para violar todo o tipo de normas.
Resposta pela impulsividade, não respeito, quebra de normas por coisas que são banais (exemplo de estacionar em
cima da passadeira). Vemos muitas vezes na CMTV. Vão somando penas e penas. Não conseguem ter controlo dos
impulsos. Estas pessoas têm uma enorme dificuldade em manter o foco. Por causa da impulsividade estragam sempre
os projetos. Tendem a associar-se a negócios ilícitos.
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com PP Antissocial tendem a ser irritáveis e agressivos e podem envolver-se
repetidamente em lutas corporais ou cometer atos de agressão física.
Pode levar a mudanças repentinas de emprego, relacionamentos, são indivíduos normalmente muito temperamentais
e agressivos. Envolvem-se com muita facilidade em lutas físicas corporais, e estão muito associados a
comportamentos de agressão física. Tendem a envolver-se em comportamentos de risco: comportamento sexual de
risco, uso de substâncias, sem atender ao risco que correm – padrão da impulsividade. Nunca contrabalanceiam
questionando os riscos que correm.
Tendem sempre a minimizar o comportamento, não atribuem gravidade ao que fizeram. Desculpabilizam-se muito.
Tendem a minimizar a gravidade do seu ato. Demonstram completa indiferença pelo outro, e justificam o seu
comportamento com razões fúteis.
Critério A: Um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas
que decorre desde os 15 anos de idade, conforme indicado por 3 ou mais dos seguintes:
Critério C: Tem de haver evidências de perturbação de conduta com surgimento anterior aos
15 anos de idade. Tenha sido expulso das escolas, fugido de casa e envolvido em brigas: dá para perceber a
perturbação de conduta antes dos 15 anos.
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Caraterísticas Clínicas Associadas:
• Os indivíduos com PP Antissocial podem concomitantemente apresentar disforia,
perturbações ansiosas ou depressivas, perturbações associadas ao uso de substância,
ao jogo e ao controlo de impulsos. Apresentam também, com frequência, aspetos de
personalidade que correspondem a critérios para outras perturbações da
Personalidade, tais como borderline, histriónica e narcisista.
• A probabilidade de desenvolvimento de uma PP Antissocial na idade adulta aumenta se
tiver ocorrido uma perturbação do comportamento do indivíduo durante a infância
(antes dos 10 anos) e se houve défice de atenção / hiperatividade associado. Abuso ou
negligência infantil, vinculação insegura ou comportamento parental inconsistente (por
vezes negligente e por vezes ultra controlador) podem aumentar a probabilidade da
perturbação do comportamento / conduta evoluir para uma PP Antissocial e
efetivamente percebe-se muito nos pacientes este histórico de infância em ambiente
negligente.
Comportamento parental inconsistente: hás vezes controlador, outras vezes demasiado permissivo. Crianças que
apresentam perturbação de comportamento, mas ao mesmo tempo em contextos sociais e familiares muito
problemáticos, sem estabelecer uma vinculação segura, é a mistura perfeita para o desenvolvimento de uma
perturbação antissocial. Quando estamos com estes individuo na idade adulta e recolhemos a sua história,
habitualmente o contexto familiar e social deste adulto é um contexto a este nível: descontrolo, agressividade,
abandono, rejeição, vinculações inseguras.
Muito difícil para os terapeutas, mas também para os colegas e famílias. Efetivamente existem comportamentos de
dano próprio como queimar-se, tentativas de suicídio. Casos muito complicados. Caraterística central é a instabilidade
nas relações interpessoais, mas também na auto-imagem, em termos do afecto, e uma impulsividade acentuada. A
fonte do seu maior sofrimento é o medo intenso que os outros os abandonem. E vivenciam uma raiva extrema por
qualquer separação que seja, mesmo que por um espaço de tempo muito curto (quando os amigos se atrasam,
quando cancelam coisas, etc.).
Caraterísticas Clínicas
• Especialmente a INSTABILIDADE.
• A característica principal da PP Borderline é um padrão difuso de instabilidade das
relações interpessoais, da autoimagem e de afetos e de impulsividade acentuada que
surge no começo da vida adulta e está presente em vários contextos.
• Indivíduos com PP Borderline experienciam um medo intenso de abandono e vivenciam
uma raiva inadequada perante qualquer separação, mesmo de curto prazo, ou quando
ocorrem alterações inevitáveis de planos (e.g., pânico, raiva ou fúria quando alguém
importante para eles se atrasa alguns minutos ou precisa cancelar um compromisso).
• O medo do abandono associa-se à:
• intolerância a ficar só;
• necessidade de ter outras pessoas ao redor.
Há um medo intenso de rutura, de abandono, de separação. Este medo associa-se a uma intolerância para ficar só e
a necessidade de reter pessoas à sua volta. A nível de colegas é muito exigente. Colegas diziam à professor que “não
conseguiam corresponder às necessidades dela”. Exigências de apoio demasiado extremas, muito difíceis de
corresponder. Pessoas com borderline fazem esforços ilimitados para evitar o abandono, para que os outros não o
deixem (no caso dos namorados: não deixar ir às aulas, jogar futebol, entre outros). Para evitar este abandono, mesmo
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que momentâneo, fazem todos os esforços, chantagem emocional: ações impulsivas, auto-mutilização, tentativas de
suicídio, entre outros.
• Os esforços desesperados para evitar o abandono mesmo que seja num curto período
de tempo podem incluir ações impulsivas como automutilação ou comportamentos
suicidas.
• Indivíduos com PP Borderline apresentam um padrão de relacionamentos instável e
intenso. Assim, estes indivíduos tendem a num primeiro momento (1ª ou 2ª encontro)
a idealizar cuidadores ou companheiros potenciais, a exigir ficar muito tempo juntos e
partilhar os detalhes pessoais mais íntimos logo no início de um relacionamento (dar a
password para o email, etc.). No entanto, este padrão tende a mudar rapidamente da
idealização à desvalorização, sentindo que a outra pessoa não se importa ou não gosta
o suficiente, não dá o suficiente à relação ou não está "presente" o suficiente. Não há
amigos de infância, por exemplo, porque não mantêm as amizades.
Tipo de pessoas que quando conhecem alguém, em um primeiro e segundo momentos tendem a idealizar-nos (“és a
pessoa mais incrível, quem me dera ter uma pessoa na minha vida como tu, és a irmã que eu nunca tive”, etc). No
primeiro momento há uma idealização dos companheiros potenciais. Depois começam a exigir cada vez mais tempo
juntos e a partilhar os detalhes mais íntimos. Normalmente estas pessoas surpreendem os outros evoluindo numa
relação muito rapidamente (amizade ou amorosa). Vão depositando toda a confiança em nós. São capazes de dar
logo as passwords para as redes sociais, email, etc. Normalmente quando fazem isso, é a aguardar que haja uma
retribuição. Partilha de detalhes mais pessoais e mais íntimos logo no início. No entanto este padrão de idealização
tende a mudar muito rapidamente para a desvalorização: “sinto que a outra pessoa não se importa, não gosta o
suficiente, não dá o suficiente na relação”. As exigências são tantas, a carga a nível de tempo e disponibilidade é tanta
que depois o outro não é capaz de responder na medida que a pessoa borderline precisa. E assim passa de uma forma
idealizada para uma desvalorização. Pessoas com perturbação borderline são capazes de fazer tudo por outra pessoa,
porque querem a retribuição dessa pessoa da mesma forma. Não existem, por isso, nesta perturbação, amizades de
longo tempo.
Apresentam mudanças dramáticas repentinas na forma como percebem e avaliam os outros, passando do melhor das
opiniões para as piores.
Cuidador: amigos, colegas, professores, etc. A estratégia vai sempre em crescendo, à medida que o desespero vai
sendo cada vez maior, para chegar às pessoas que acabam por abandoná-lo porque não toleram este tipo de
comportamentos (borderline tenta tudo para evitar o abandono). “Não estou a aguentar porque me estás a fazer isto,
estou com uma faca na mão e vou cortar o meu braço”. Até que acaba por desistir, se não se suicidar entretanto.
Em relacionamentos amorosos, nos primeiros encontros fazem a outra pessoa sentir-se mesmo
especial. É uma dedicação enorme.
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É muito frequente vermos estas pessoas a tirar vários cursos, que vão para parâmetros diferentes. E sempre quando
escolhem, é de uma devoção extrema. Mas rapidamente esta instabilidade é também caraterizada pelos próprios
caminhos.
Não consigo viver com a raiva que estou a sentir – comportamentos de automutilação. Estes comportamentos
autodestrutivos têm um fator precipitante: perceções de ameaça, rejeição, a perceção de que o outro não gosta tanto
dela como deveria gostar, etc. sentem-se abandonadas mesmo que seja por motivos que mesmo por outra lógica não
sejam compreensíveis: eu ligava para o namorado e ele tinha que sair mesmo que fosse no meio da aula. Se ele
demorasse, ou não saísse, era percebido como um abandono, que não percebia o que estava a sofrer.
1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado. (Nota: Não incluir
comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5);
2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela
alternância entre extremos de idealização e desvalorização;
3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da
perceção de si mesmo; (sou má, agressiva ou não? Etc.) Instabilidade em relação a ele, ao
mundo, aos outros. O que é um dia, no outro já é diferente. Dificuldade em fazer a história clínica, pois
depende do dia em que apanhamos o doente.
4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (p. ex.,
gastos, sexo, abuso de substância, condução irresponsável, compulsão alimentar).
(Nota: Não incluir comportamento suicida ou automutilação coberto pelo Critério 5);
5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento
auto-mutilação.
6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (por ex., disforia
episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas
e apenas raramente de mais de alguns dias);
7. Sentimentos crónicos de vazio (“é como se estivesse oca”);
8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (por ex., mostras frequentes
de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes);
9. Ideação paranoide transitória associada a stress ou sintomas dissociativos intensos.
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****A PP Borderline é diagnosticada predominantemente (cerca de 75%) em indivíduos do
sexo feminino.
A prevalência média estimada da Perturbação de Personalidade Borderline na
população geral é de 1,6%, embora possa chegar a 5,9%.
Desenvolvimento e curso:
• Existe uma variação considerável no curso da PP Borderline.
• O padrão mais comum é o de instabilidade crónica, com episódios graves de
descontrolo afetivo e impulsivo e recursos sistemático a serviços de saúde mental. No
entanto, o impacto negativo associado à PP Borderline e o risco de suicídio associado
tende a diminuir com a idade.
• Embora a tendência para emoções intensas, impulsividade e intensidade nos
relacionamentos normalmente perdura a vida toda, indivíduos em intervenções
terapêuticas tendem a demonstrar uma melhoria significativa no seu padrão de
funcionamento.
Diagnóstico Diferencial:
• A PP Borderline ocorre frequentemente de forma concomitante com perturbações
depressivas ou bipolares, e, quando atendidos critérios para ambos, as duas condições
podem ser diagnosticadas. No entanto, e visto que a apresentação momentânea da PP
Borderline pode ser mimetizada por um episódio depressivo ou bipolar, o clínico deve
evitar realizar um diagnóstico adicional de Perturbação Borderline com base apenas na
apresentação momentânea, sem ter documentado que o padrão teve começo precoce
e curso prolongado.
• Se um indivíduo apresenta características de personalidade que atendem aos critérios
para um ou mais de uma Perturbação de Personalidade, para além da Perturbação
Borderline, todos podem ser diagnosticados. Ainda que a PP Histriónica possa ser
também caracterizada por busca de atenção, comportamento manipulativo e por
mudanças rápidas nas emoções, a Perturbação de Personalidade Borderline distingue-
se por ser autodestrutiva, ataques de raiva nos relacionamentos íntimos e sentimentos
crónicos de vazio profundo e solidão.
O padrão mais comum é a instabilidade crónica, e é um desafio para quem está a fazer a história clínica da paciente
(pois descrevem a mesma pessoa ou situação de maneira oposta em diferentes ocasiões). Conseguimos flexibilizar os
sintomas (tirar-lhes a rigidez excessiva que caracteriza a perturbação) para que deixem de ter a perturbação e
permaneçam apenas como traços de personalidade. Podemos ensinar as doentes a identificar os próprios padrões de
pensamento e levarem uma vida funcional. Notas: são as doentes que mais fazem “dropout” nas consultas e por vezes
é um verdadeiro inferno para quem cuida delas, porque são coisas como ligar a meio da noite a dizer “se não me
falares eu mato-me”. A tendência de se relacionar com terapeuta é como um espelho do modo como se vai relacionar
com as outras pessoas e isto ajuda o terapeuta a poder ajudá-la. O terapeuta deve ter consciência do que é que o
paciente está a fazê-la sentir e conseguir organizar o comportamento que se tem com o paciente deixando um pouco
a carga excessiva da emocionalidade
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o O comportamento de procura de atenção social —tem a capacidade de captar
a nossa atenção, procura ganhar a nossa simpatia através de elogios excessivos
e proximidade falsa, pode até apresentar um comportamento e aparência
sedutores, ver sexualizado, que pode ser totalmente desadequado para o
contexto.
• Este padrão disfuncional surge no início da vida adulta e está presente em vários
contextos.
José Castelo Branco – necessidade patológica de ser o centro das atenções. Emocionalidade difusa de chorar e rir, a
forma como se veste, a teatralização, tudo é motivo para que olhem para ele. Há uma necessidade de atrair esta
atenção e, quando não o conseguem, sofrem muito.
Indivíduos histriónicos são pessoas muito simpáticas que captam a nossa atenção, pessoas de que se gosta à partida.
São pessoas cheias de vida que num primeiro momento nos cativam. Conseguem captar a atenção de uma forma
positiva pelo entusiasmo, expressividade, comportamento atrativo.
• Caso não sejam o centro das atenções, podem apresentar comportamentos excessivos
e manifestações mais dramáticas (ex.: inventar histórias, criar uma cena) para atrair o
foco da atenção para si.
Ou seja, o primeiro impacto é positivo, mas depois são muito dramáticos. Quando não são o centro das apresentações
vão aumentando as estratégias e podem fazer uma cena, sendo capazes de inventar uma história muito mais
dramática… Exemplo: se alguém teve um acidente, está num grupo e o narra e a pessoa que o teve passa a ser o
centro das atenções, o indivíduo histriónico é capaz de inventar cenas e dramatizar para voltar a ser o centro das
atenções (porque o foco foi desviado dele), exemplo: “Ai tiveste um acidente? O meu foi bem pior, a minha filha ia
atrás no caro…”. Sentem bastante necessidade de estar com outras pessoas, para sentir que os outros o estão a ver e
a aplaudir.
Exemplo da professora: a sua paciente levava uma caixa de pastéis de nata, seduzia-a, dizia: “eu sei que é estagiária,
mas queria o seu contacto, porque com a competência da doutora eu nunca conheci nenhuma, e vou para onde a
doutora for”, havendo elogios e captação da atenção, e podem aumentar e dramatizar as queixas: cada consulta
aparece uma queixa nova (a relação com o terapeuta acaba por ser uma pequena amostra do que é o seu
comportamento nas relações pessoais e deve ser estabelecido um limite da relação entre paciente e terapeuta, como,
por exemplo, não deixar que haja afetividade excessiva nem tratamento por “tu”). Têm uma forma excêntrica de se
comportarem, e isto é mais um dado que pode apoiar o diagnóstico. O modo como se vestem muitas vezes tem um
forte cariz sedutor, como usarem decotes excessivamente pronunciados, saias muito curtas… Seduz os colegas,
maridos das colegas, os chefes...
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quem a doente tem interesse romântico ou sexual, mas pode também ocorrer numa
grande variedade de relacionamentos sociais, ocupacionais e profissionais.
• Os indivíduos com perturbação de personalidade Histriónica tendem a demonstrar
opiniões fortes e extremadas, com um discurso impressionista, mas que carece de
detalhes, associada a uma expressão teatralizada das emoções (p.e. chorar de forma
inconsolável em ocasiões sentimentais de importância menor, ter ataques de raiva
repentinos…)
(É uma argumentação pobre em termos formais, não havendo debate, mas exibição de argumentos da sua parte, não
deixando espaço para os outros reclamarem ou comentarem, sendo muito poucas vezes confrontados, pois não há
lugar para isso. A tonalidade das emoções varia de forma súbita, por exemplo: pode estar numa festa a chorar e a
dizer que se sente terrível e no momento seguinte aparece um amigo e grita de felicidade. Para esta pessoa temos
que encontrar um padrão em termos de emocionabilidade e procura de atenção em excesso (todos os humanos
querem ter a atenção do outro, mas aqui é claramente excessivo).
São as pessoas que têm que ter atenção (é uma necessidade patológica) centrada em si. Há procura de atenção social.
É impressionável: os seus sentimentos e humor são facilmente influenciados pelos que estão à sua volta e pelas
circunstâncias e são o tipo de indivíduos que dizem “conheci a pessoa ontem, mas fiquei deslumbrado com ela, é uma
pessoa magnífica" – parece que para eles as relações são sempre mais íntimas e profundas que na realidade. Às
vezes estes indivíduos dizem mentiras sem terem um ganho óbvio, sem ser para enganar o outro, o que faz com que
os outros à sua volta até pensem: “mas porquê que ele está a inventar isto, a querer ser sempre o protagonista?” (isto
faz com que estes pacientes não sintam culpa nem remorso, porque o fazem apenas por atenção).
Sugestionável: discurso e humor influenciado pelos outros e pelas circunstâncias. “Se há um drama então eu passei
por um drama muito maior”. Indivíduos de personalidade histriónica são aquelas pessoas que nos conheceram ontem,
mas hoje já dizem que somos amicíssimos, que somos super íntimos.
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das atenções e a dramatização faz com que as pessoas se queiram afastar para não terem que
lidar com aquilo tudo. Não existe algo como “agora não posso falar, depois conto-te” porque é
algo que estes pacientes não aceitam, pois têm que ter satisfação imediata em tudo, ser
reforçados de uma forma imediata)
• Não costumam tolerar situações que envolvem atraso de gratificação, sendo as
suas ações costumeiramente voltadas à obtenção de satisfação imediata
• Com frequência, a PP Borderline, Narcisista, Antissocial e Dependente ocorrem de
forma concomitante ao diagnóstico de PP Histriónica.
• Muitos indivíduos podem exibir traços da personalidade histriónica. Estes traços apenas
constituem perturbação de personalidade quando são inflexíveis, mal adaptativos e
persistentes, e causam prejuízo funcional ou sofrimento subjetivo significativos.
Prevalência:
• Dados de 2001-2002 estimam uma prevalência de PP histriónica de 1.84%
AS MULHERES PARECEM PROCURAR MAIS AJUDA POR ISTO, pois nos registos hospitalares a taxa de prevalência é
maior para elas.
Nota para todas as perturbações de personalidade: Tendência de relacionamento com o terapeuta é como um
espelho da relação com as outras pessoas. Quando sentimos a forma como o paciente se relaciona connosco,
percebemos como as outras pessoas se sentem e o seu comportamento (de afastamento, frustração, impotência,
entre outros).
A nossa relação dentro daquele contexto permite-nos avaliar muito e perceber os sentimentos que uma borderline
provoca em mim, por exemplo, e assim percebemos também o que provoca nos outros. Ajuda-nos a ajudar a paciente
a regular o comportamento para ter um impacto diferente nos outros. Nós estamos aqui num contexto em que não
somos amigos. Eu estou aqui para ajudá-la e para isso é necessário que a relação se mantenha assim. Talvez um dia,
depois de ter alta, possamos ser amigos, beber um café, etc., mas não agora. Forma simpática e não agressiva, que
permite estabelecer os limites da relação
Há uma baixa consideração dos desempenhos dos outros: tudo o que é dos outros é desconsiderado, para enaltecer
os seus comportamentos. Há uma diminuição do outro, exceto quando este está numa hierarquia social mais alta;
Apresentam uma dificuldade em se colocar no lugar do outro.
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Acreditam ao mesmo tempo que são especiais e que as suas necessidades são especiais e superiores em relação às
outras pessoas comuns. Numa fila do supermercado podem sentir que não têm de estar na fila, porque as urgências
dele são mais importantes que as urgências dos outros, e são capazes de pedir às outras pessoas se podem passar à
frente. Não têm empatia para com as necessidades dos outros.
No discurso destas pessoas que se veem como especiais, eles claramente nos dizem que são os melhores.
Normalmente anunciam e divulgam as suas ligações a outros que consideram também do seu estatuto (pessoas de
alto poder com os quais gostam de estar associados). São atendidos por pessoas que eles consideram as melhores: o
melhor medico, instrutor, etc. Mas se essas pessoas não lhe dão o tratamento que eles acham que deveria ter, passam
a ser desvalorizadas e desacreditas, pois para eles é uma desvalorização por não estarem a ser tratados de forma
superior, por serem tratados como um cliente qualquer. Assim vêm o seu advogado, médico ou cabeleireiro com
desvalorização e desacreditação na mensagem que passam aos outros. Geralmente estes sujeitos exigem admiração
excessiva, e acreditam ter direito a tratamento especial e favorável.
• Podem sentir que só são compreendidas por outras pessoas especiais ou de condição
elevada, e apenas com elas se devem associar, podendo atribuir qualidades como
“únicas”, “perfeitas” e “dotadas” àquelas com quem se associam.
Claramente dizem que são os melhores e claramente anunciam o seu relacionamento com graus a que
pensam se associar, como a pessoas de alto nível como presidentes (Ex: “eu já estive com um Ministro a
conversar”).
• Tendem a insistir em ser atendidas apenas por pessoas “top” (melhor médico,
advogado, cabeleireiro, instrutor…), mas podem desvalorizar essas mesmas pessoas ou
instituições caso não os atendam com as referências diferenciais, às quais consideram
ter direito, ou se os desapontam.
Estas pessoas passam a ser para eles desconsiderados que eles acharem que estas não lhes deram a vénia e o
tratamento a que eles consideram que têm direito (Ex: se o cabeleireiro não atende quando a pessoa quer então
coloca essa pessoa na lista “negra”. Isto para o paciente é uma desvalorização, porque não está a ser tratado como
especial). Assim pode desacreditá-las quando essas pessoas não sentem os elogios.
Esta exploração não é mal-intencionada, mas tem que ver com o exacerbar das suas emoções, com a sua
autovalorização (Ex: “não lhe vou dar crédito pelo trabalho, ele devia era estar contente por ter tido o privilégio de o
ter feito comigo).
• Perante a crítica dos outros, tendem a reagir com desdém, fúria ou contra-ataque
desafiador
(o paciente ignora a opinião das pessoas ou contra-ataca de modo desafiador, como ir às nossas características
pessoais e dizer algo como “lá estás tu com o teu julgamento dos outros e críticas”, atacando-as).
(Ex: normalmente estas pessoas são bem-sucedidas, porque acreditam muito nelas, mas depois não sabem lidar com
todos os obstáculos. Há rigidez: se a pessoa se sente muito competente, quando lhe é dada uma crítica diz que o outro
não percebe nada, e isto acontece mesmo no contexto académico ou profissional – exemplo: “este mundo é tramado,
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porque está tudo comprado” (acontece muito dizerem isto quando não têm sucesso e atribuem as culpas todas aos
outros), “o problema não é do meu trabalho, mas do outro que o julgou).
Autovalorização deles pode criar exploração das outras pessoas, de forma involuntária. Quando não se concorda com
eles, ou ignoram ou contra-atacam de forma desafiador, apontando as caraterísticas pessoais dos outros ao invés de
contra-argumentar. Estas pessoas não sabem lidar com os obstáculos. Os professores universitários, para além de dar
aulas têm de fazer um trabalho paralelo de investigação e divulgação de ciência. O processo de divulgação é
frustrante, pois a maior parte das vezes o artigo é rejeitado. Perante esses argumentos o artigo tem de ser
reformulado... pede-se a correção de constituintes. É necessária humildade para aceitar este tipo de coisas. Na
personalidade narcísica não existe esta flexibilidade. Existe rigidez, como em todas as perturbações de personalidade.
Mas nesta especificamente, a critica é vista como “aquele tipo não percebeu nada”. O problema não é do meu trabalho
mas do outro que julgou. A falta de capacidade, flexibilidade e abertura para ouvir as sugestões dos outros pode fazer
com que essa pessoa não tenha um percurso tao bem sucedido como deveria ter.
Prevalência:
• As estimativas de prevalência da PP Narcísica, com base nas definições do DSM4 (agora
estamos no DSM5) variam de 0 a 6.2% em distintas amostras de comunidades.
Desenvolvimento e curso:
• Traços de personalidade narcisistas podem ser particularmente comuns em
adolescentes e não indicam necessariamente que a pessoa vai desenvolver uma
perturbação de personalidade Narcísica
(são apenas traços de personalidade narcísica). Temos que determinar quais as características transitórias que fazem
parte do desenvolvimento e que depois vão evoluir e quais são as permanente / patológicas e algumas fases do
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desenvolvimento que podem apresentar determinadas características que não devemos confundir com
perturbações).
Em alguns contextos um discurso narcísico é adaptativo, com uma função e não uma conduta.
Ex: José Sócrates que pensa no seu discurso que é uma pessoa especial com direitos especiais e que pode dizer tudo,
por mais absurdo: “não importa os outros, eu estou bem, eu sou a exceção à regra”. Podemos dizer que “tem traços
de”.
Este cluster descreve três tipos de perturbação de personalidade caraterizados pela ansiedade e pelo medo.
Personalidade evitante, por medo e ansiedade. Personalidade dependente, em que os indivíduos são dependentes do
outro para tudo (nas tomadas de decisão, até para escolher um casaco). Mesmo para situações e decisões triviais,
depende da decisão do outro pelo medo de falhar, ansiedade em falhar. Não se dão ao direito de errar, têm um
comportamento muito rígido com medo do erro, e por isso não conseguem gerir a dúvida. As dúvidas que têm são as
que normalmente todos têm, mas as pessoas normalmente passam à frente porque aceitam que podem errar
naquelas situações. Perturbação obsessiva-compulsiva: ansiedade e necessidade de controlar tudo, ter tudo sob
controlo: indivíduos que têm uma lista de coisas por fazer e vão riscando e acrescentando pontos à lista... tudo tem
que ter a mesma ordem, o mesmo formato, o mesmo ritual, pois é a necessidade de ter tudo controlado e previsível.
Todos nós fazemos isto, mas para uma perturbação de personalidade depende o grau com que fazemos.
Estes indivíduos têm um comportamento restrito / são inibidos no contacto com os outros. ATENÇÃO: não como no
cluster A, pois aqui os pacientes não evitam os outros e querem muito estar com essas pessoas, ter amigos e falar
mais… só que se sentem sempre diferentes pela negativa (é um sentimento de inadequação).
Isto relaciona-se com a vergonha interna e vergonha externa. Vergonha é diferente de embaraço (sentimos embaraço
se estamos a ser muito expansivos e abertos e caímos sem querer, mas na vergonha sentimos como qualquer coisa
que diminui o nosso valor). Embaraço é qualquer coisa que nos acontece e que depois até contamos logo a alguém o
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que foi, mas vergonha é algo que temos muita dificuldade em dizer pois achamos que nos reduz como pessoa. Estes
pacientes sentem vergonha porque sentem-se inferiores aos outros, inadequados e únicos pela negativa (daí a
hipersensibilidade à avaliação negativa dos outros). Têm, assim, dificuldade em manter contatos pessoais pois
sentem-se diferentes e que não têm as mesmas competências que os outros, mesmo que isto não seja traduzido por
nada objetivo.
• Estas perturbações de personalidade têm habitualmente um impacto negativo mais
significativo nas áreas de funcionamento social e profissional.
• Indivíduos com esta perturbação Evitante tendem a evitar atividades no trabalho que
envolvam contacto interpessoal significativo devido a medo de crítica, desaprovação
ou rejeição.
• Ofertas de promoções na vida profissional podem não ser aceites pelo fato de novas
responsabilidades poderem resultar em críticas de colegas (para estas pessoas ofertas
de cargos novos são altamente ativadoras porque têm medo de falhar e de ser
criticados. Tendem a evitar novas relações interpessoais, por medo das críticas e
julgamentos dos outros).
• Apesar do seu forte desejo de participação na vida social, estes indivíduos tendem a
evitar novas relações interpessoais. Este comportamento de evitamento social deve-se
à perceção das outras pessoas como extremamente críticas, julgadoras e
desaprovadoras. (existe a crença de que os outros não nos perdoam nada).
• Estes pacientes não participam de atividades em grupo, a não ser que tenham sinais e
provas repetidas de apoio, atenção e aceitação.
• A intimidade interpessoal costuma ser difícil, embora consigam estabelecer
relacionamentos íntimos quando há certeza de aceitação sem críticas. Podem agir de
forma reservada, ter dificuldades de conversar sobre si mesmos e conter os sentimentos
íntimos por medo de exposição, do ridículo ou de sentirem vergonha.
(Embora consigam ir estabelecendo sentimentos do tipo: “aquela pessoa conhece-me e não me critica por isso”).
Normalmente comportam-se de forma reservada e fogem de ser o foco da atenção dos outros e têm muita dificuldade
em falar sobre si (RETIRA O FOCO DE SI - MUITO DIFERENTE DO CLUSTER B!!).
Avaliação externa: interpretam sempre como que vá ser negativa, que irão ser humilhados e magoados. Adotam um
comportamento de segurança: ter uma atitude o mais invisível possível: “se eu pudesse ter um superpoder seria o da
invisibilidade”. Há sempre a expectativa de que irão ser avaliados negativamente. Uma outra estratégia é também
uma de automonitorização: estou sempre atenta ao que estou a fazer, ao que estou a dizer, ao tom de voz, defender-
me ao máximo do que acho que posso ser criticado. É um sofrimento constante ter a expetativa de que tudo o que
faço será avaliado negativamente pelos outros. Medem tudo o que fazem, antes de falar medem o que vão dizer e
como, e até acabam por não falar – automonitorização – controlo; estratégia da invisibilidade – tentar por tudo fugir
da avaliação do outro.
Desenvolvimento e Curso
• O comportamento evitante habitualmente inicia-se na infância pré-verbal ou verbal por
meio de timidez, isolamento e medo de estranhos e de novas situações. Embora a
timidez em crianças seja um precursor comum da Perturbação de Personalidade
Evitante, na maior parte dos indivíduos este comportamento de timidez tende a
desaparecer lentamente com o passar dos anos.
(As crianças têm oportunidade de desenvolverem as suas competências sociais e ter um desenvolvimento
perfeitamente normal, pois o processo de desenvolvimento vai atenuando isso mesmo, com experiências diferentes,
como a educadora de infância mostrar que gosta dela e que a aceita, etc.).
Inicia-se na infância, mesmo nos primeiros anos de vida: timidez, isolamento, medo de estranhos e de novas situações.
Muitas crianças são assim: em casa expansivas e quando vão para outros contextos ficam imóveis e sempre agarradas
à mãe. Mas na maior parte dos casos, ter este comportamento de maior evitamento na infância não obriga a maior
desenvolvimento, pois irão ter oportunidades para desenvolver as suas competências sociais. Ou seja, ter determinado
comportamento na infância pode levar a no futuro ter uma perturbação de personalidade evitante, mas na maior
parte das vezes o processo de socialização faz a retificação da situação. As experiências da vida demonstram o
contrário das primeiras experiências da infância.
(normalmente em fases em que é especialmente importante virarmo-nos para fora, como na adolescência. Na
adolescência há a necessidade de estabelecer novas relações que implicam novas regras).
A adolescência é uma fase em que idealmente o jovem deve criar novas relações. Com novas regras comparativamente
às anteriores. É uma fase mais difícil pelo facto de nada estar definido. Há uma fase na adolescência em que se parece
que se vestem todos da mesma maneira, cortam o cabelo da mesma maneira, porque não há uma identidade ainda
bem definida e essa pertença ao grupo é feita por coisas mais visíveis: roupa, cabelo, comportamento. E depois tudo
se vai diversificando ao longo da vida. Quanto à personalidade evitante, esta fase da adolescência é muito difícil
porque a pessoa sente que nunca será capaz, vai ser sempre julgada de forma crítica e negativa. Se há esta perspetiva
na infância, na adolescência vai agravar.
• Esse diagnóstico deve ser usado com muita cautela em crianças e adolescentes, para os
quais a timidez e o evitamento podem ser adequadas do ponto de vista do
desenvolvimento. Os psicólogos devem ter bastante cuidado para não patologizar e categorizar tudo.
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Nós todos, psicólogos, temos uma tendência muito mal adaptativa de patologizar tudo. Temos de lutar um pouco
contra esta tendência. Para não rotular sem necessidade. Timidez e comportamentos de evitamento em crianças e
adolescentes podem ser normativos, não devem ser considerados logo como perturbação de comportamento.
1) Evita atividades profissionais que envolvam ou exigem contacto interpessoal significativo, por
medo de crítica, desaprovação ou rejeição (não porque não goste de estar com pessoas!)
2) Não se dispõe a envolver-se com pessoas, a menos que tenha certeza de que será recebido
de forma positiva (normalmente dão-se bem e são amigos de pessoas que já conhecem há
muitos anos)
3) Mostra-se reservado nos relacionamentos íntimos devido a medo de passar por experiências
de vergonha ou de ser ridicularizado (para eles é uma surpresa gigantesca se os convidarmos
para um jantar “porque é que a pessoa me quer no jantar?!”).
4) Preocupa-se com críticas ou rejeição em situações sociais (pois consideram que não tem
competência para isso)
5) Inibe-se em situações interpessoais novas devido a sentimentos de inadequação
6) Vê-se a si mesmo como socialmente incapaz, sem atrativos pessoais ou inferior aos outros
7) Reluta de forma incomum em assumir riscos pessoais, ou em se envolver em quaisquer novas
atividades, pois estas podem ser constrangedoras
Nestas perturbações há um padrão submisso, as relações de namoro costumam surgir na procura de alguém que
complemente e estas pessoas têm tendência a escolher alguém que decida por elas, a procurar ter relações com
pessoas extremamente dominantes: a pessoa submissa gosta do facto de não ter que decidir as coisas, mas não gosta
de ser mandada. Não conseguem superar a dúvida e querem que alguém o faça por ela.
Exemplo da professora: A professora da paciente tinha um namorado que decidia o que ela vestia e os iogurtes que
ela comia. Estes tipos de relações assumem contornos muito feios. Pessoas com esta perturbação muitas vezes têm
tendência para ter relacionamentos de uma violência psicológica terrível.
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É como se para eles a vida dele não lhes permitisse falhar em nada, então é necessário esperar a validação dos outros,
quase como para dividir a responsabilidade, pois a decisão passa a ser dela e da outra pessoa. Isto está relacionado
com relações ABUSIVAS.
Ou seja, quando a paciente lhe contava estas coisas (como o namorado dela atirar-lhe os iogurtes para o chão porque
a marca não era boa para ela) dizia também que não gostava do que estava a acontecer, ou seja, não perde a lógica,
mas responde na mesma de forma submissa e não se tentam enfurecer ou zangar, porque não quer perder a pessoa
e ficar sozinha.
Não se enfurecem ou zangam justificadamente com outros de cujo apoio e cuidados necessitam, por medo de estes
se afastarem deles.
Esta paciente teve alta depois de conseguir alugar o seu apartamento, terminar a relação que tinha e de conseguir
viver sozinha.
A lista de contactos é muito restrita (tendo a ver com essa dependência). A decisão baseia-se sempre nas opiniões dos
outros, mesmo que não se concorde.
Desenvolvimento e Curso:
• Este diagnóstico deve ser usado com cuidado, ou até não ser usado, em crianças e
adolescentes, para os quais um comportamento dependente pode ser apropriado do
ponto de vista do desenvolvimento.
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1. Tem dificuldades em tomar decisões quotidianas sem uma quantidade
excessiva de conselhos e opiniões de tranquilização de outros
(Exemplo: “Esta manhã perguntei à minha mãe que camisola devia levar, mas apetecia-me levar a branca. Mas a
minha mãe disse a cinzenta, e eu levei a cinzenta. A minha vida é sempre assim, baseio-me muito na opinião dos
outros mesmo que contrária à minha opinião”)
2. Precisa que outros assumam responsabilidades pela maior parte das principais
áreas da sua vida
(Eu quero que alguém escolha a área do meu curso por mim. É uma decisão importante e não quero assumir esta
responsabilidade tão importante)
(devido mais a falta de confiando no seu julgamento ou nas suas capacidades, do que falta de motivação ou energia)
(É uma perturbação que inclui alguns traços que também estão presentes em nós!!, que a maior parte de nós tem. É
difícil entrarmos na faculdade com boas notas se não tivermos alguns traços obsessivos)
Características clínicas:
• A característica essencial da Perturbação Obsessivo-compulsiva é uma preocupação
com ordem, perfecionismo e controlo mental e interpessoal à custa de flexibilidade,
abertura e eficiência (às vezes são tão rígidos que não permitem à pessoa aguentar e
prejudicam a eficácia).
• Este padrão surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos.
As nossas regras devem corresponder a funções e ser adaptativas!Estes doentes são inflexíveis.
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• Indivíduos com Perturbação Obsessivo-compulsiva tentam manter uma sensação de
controlo por meio de atenção cuidadosa a regras, pequenos detalhes, procedimentos,
listas, cronogramas ou forma, a ponto de o objetivo principal da atividade ser perdido.
(Ex: faz-se um cronograma, mas o tempo que se faz e a que se dedica ao cronograma já está a roubar tempo de
estudo).
Ver exemplo que a professora já deu sobre a paciente que perdia demasiado tempo a usar os materiais do laboratório,
estragando o horário às outras pessoas) e com as inconveniências que resultam desse comportamento.
• Por exemplo, quando estes indivíduos esquecem onde colocaram uma lista de coisas a
fazer, gastam tempo demais a procurar pela lista, em vez de gastar alguns instantes a
fazer a lista de novo, ou passaram à execução das tarefas (essa lista deixou de ter a sua função
original e essencial). Indivíduos com um standard muito elevado, um padrão de perfeição.
• O perfecionismo e padrões elevados de desempenho autoimpostos causam disfunção e
sofrimento significativo nestes indivíduos. Podem ficar de tal forma envolvidos em
tomar cada detalhe de um projeto absolutamente perfeito que jamais é concluído.
• Indivíduos com esta perturbação demonstram dedicação excessiva ao trabalho e à
produtividade, ao ponto de excluírem atividades de lazer e amizades
(quando se falam de férias com os pacientes eles ficam meio perdidos, e nas férias são capazes de terem já uma lista
de cursos já a preparar para o próximo ano).
• Podem procrastinar atividades agradáveis, como férias, de modo que estas jamais
ocorram. Quando realmente dedicam algum tempo ao lazer ou férias, sentem-se
bastante desconfortáveis, a não ser que tenham consigo algum tipo de trabalho, de
modo a terem a perceção de não estarem a “desperdiçar o seu tempo” (não sabem não
fazer nada).
• Igualmente, os passatempos e atividades de entretenimento são encaradas como
tarefas sérias (preparam uma festa ou piquenique com tanto rigor que é mais uma
tarefa, com ansiedade) que exigem organização criteriosa e trabalho duro para serem
dominadas.
• Transformam o jogo e brincadeiras em tarefas estruturadas e rigorosas
(Exemplo: Preparam a festa com tanta regra, que acaba por ser mais uma tarefa e um foco de ansiedade. Nada é
deixado ao acaso).
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que eles guardaram. São muitas vezes caracterizados como “acumuladores de coisas
inúteis ou ferro-velho”.
• Estes indivíduos apresentam dificuldades significativas em trabalhos de grupo. Nestes
contextos, tendem a manifestar as suas ideias de forma teimosa e injustificada, insistem
que tudo precisa de ser feito do seu modo. Com frequência, dão instruções bastantes
detalhadas sobre como tudo deve ser feito (a forma exata como se lava os pratos, como
se metem na máquina…), e manifestam grandes dificuldades em concordar com as
ideias de outra pessoa, ficando irritados quando estes sugerem alternativas criativas.
• Geralmente manifestam as suas emoções/afetos de forma altamente controlada ou
artificial, e podem sentir grande desconforto na presença de outros que se expressem
com emocionalidade. As relações quotidianas são sérias e formais, e estes sujeitos
tendem a parecer sisudos em situações em que outros sorririam e ficariam alegres
(como ao saudar um namorado no aeroporto…)
Diagnóstico Diferencial
• Apesar dos nomes semelhantes, a Perturbação Obsessivo-compulsivo (POC) pode ser
distinguida da PP Obsessivo-compulsiva pela presença, no primeiro, de obsessões e
compulsões verdadeiras, isto é, sintomas.
• Quando atendidos os critérios para Perturbação Obsessivo-compulsivo e PP Obsessivo-
compulsiva, ambos devem ser registadas/diagnosticadas.
As P. de personalidade são assintomáticas, nas quais vemos uma evolução muito estável e existe um padrão, mas não
existem obsessões e compulsões (sintomas). Mas uma pessoa com perturbação de personalidade obsessivo
compulsiva pode vir a desenvolver uma perturbação obsessivo compulsiva POC.
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3. É excessivamente dedicado ao trabalho e à produtividade, em detrimento de
atividades de lazer e amizades — o que não é explicado por necessidades
financeiras
4. É excessivamente consciencioso, escrupuloso e inflexível quanto a assuntos de
moralidade, ética ou valores — o que não é explicado pela identificação cultural
ou religiosa
5. É incapaz de libertar-se ou livrar-se de objetos usados ou sem valor, mesmo
quando não têm valor sentimental (São as pessoas que não se interessam pelos contextos,
é regra é para se cumprir SEMPRE)
6. Dificuldade ou relutância em delegar tarefas, ou em trabalhar com outras
pessoas, a menos que estas se submetam à sua forma exata de fazer as coisas
(é muito difícil trabalhar com um perfecionista tendo em conta que eles querem tudo à sua
maneira)
7. Adota um estilo miserável de gastos em relação a si e a outros — o dinheiro é
visto como algo a ser acumulado para futuras catástrofes
8. Exibe rigidez e teimosia
Exemplo de paciente: Não pára nas rotundas (poupar combustível e caixa de velocidades), compra iogurtes mais
baratos e intragáveis que ninguém consegue comer, acumula roupa das amigas para não gastar dinheiro. Chega a
um ponto que não tem lógica nenhuma. O irmão diz que não anda com ela no carro porque toda a gente buzina (anda
sempre a 20 kms/h para não gastar combustível).
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Perturbação de Personalidade Obsessivo-Compulsiva.
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Perturbação Evitante da Personalidade
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Perturbação Evitante da Personalidade
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Perturbações Psicóticas
Dentro das perturbações psicóticas há um conjunto delas com as quais devemos fazer o diagnóstico diferencial, isto
é, há perturbações que são comórbidas (possuem uma relação entre si) e às vezes a relação funcional entre as
perturbações tem a ver com o facto de uma ser primária e as outras serem secundárias e por isso é que é importante
perceber o contexto da ocorrência e o início, para que o terapeuta possa compreender
diagnosticamente/categorialmente aquilo que aconteceu primeiro. Isto porque há perturbações que podem surgir
secundariamente (comorbidamente), como a Perturbação Depressiva major/episódio depressivo major, que é uma
perturbação que para muitas pessoas é primária, mas que muitas vezes vem ligada a outras, ou seja, como uma
resposta para lidar com a perturbação primária. Ou seja, temos que saber diagnosticar um doente com esquizofrenia
e depois temos que fazer o diagnóstico diferencial se não o for (“se não é esquizofrenia então é o quê…?). Aviso da
professora: Apesar de o exame Mental ser, no que diz respeito à doença psiquiátrica, o exame mental primário exigido
(o primeiro a fazer pois é objetivo) isso não significa que seja uma avaliação diagnóstica. É uma avaliação do estado
mental que permite identificar sintomas e os terapeutas devem conhecer os critérios para fazerem as questões
necessárias para a confirmação (ou não) daquele conjunto de critérios e depois de acordo com o que está na DSM-V.
A professora vai falar das perturbações com as quais a esquizofrenia tem que fazer o diagnóstico diferencial.
ATENÇÃO: a professora não vai ensinar o que é que cada uma destas perturbações tem como características clínicas.
Mas temos que saber que para colocar o diagnóstico de esquizofrenia a um paciente temos que estabelecer
diferencialmente que ele para ter este problema não pode ter perturbação esquizoafetiva, nem perturbação bipolar
1 nem 2 (e para isso temos que conhecer os critérios destas perturbações). Por vezes quando o paciente faz um surto
psicótico não se sabe bem a evolução que aquilo vai ter, pois poderá ser um surto induzido por uma substância, que é
algo que acontece a maior parte das vezes e tem o nome de “Perturbação Psicótica induzida por substâncias”, ou seja,
os sintomas psicóticos como delírios ou alucinações ocorrem durante o período de consumo. Embora que alguém que
faz uma perturbação induzida por uma substância e faz um surto psicótico aquilo que se verifica é que tem que se
atuar: não quer dizer que a pessoa só surte no decorrer da substância mas muitas vezes o seu consumo abre as portas
da vulnerabilidade cerebral que aquela pessoa já tem (não esquecer que a esquizofrenia, perturbações psicóticas e
bipolares têm um compromisso genético, e há vulnerabilidades cerebrais que potenciam a possibilidade, face a certos
fatores, da ocorrência da perturbação).
Deste modo, vão rever-se alguns sintomas e fazer um role play (perante o que o doente faz, fazemos o exame mental,
identificando os sintomas que o paciente tem e justificar).
Esquizofrenia
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(4) comportamento marcadamente desorganizado ou catatónico (relaciona-se com as alterações
motoras e psicóticas. Na esquizofrenia pode haver flexibilidade cérea, imobilidade cérea - catalepsia - ambitendência,
obstrução… );
(5) Sintomas negativos, isto é, embotamento afetivo (relacionado com o tipo de humor),
alogia ou avolição. Exemplo: Anedonia (perda do prazer, perda da vontade, sem motivação para fazer as coisas-
às vezes confunde-se isto com a depressão, porque o sintoma típico da depressão é a Anedonia. Se isto acontecer na
maior parte dos dias é o primeiro critério para dizer que alguém pode vir a ter um episódio depressivo Major).
Recorde-se que há vários tipos de humor: depressivo, disfórico, eutímico (humor normal), ilação de humor (que ocorre
na mania ou na fase bipolar da mania, no período maníaco), no humor delirante e alterações afetivas (como a
alexitimia, que os doentes psicóticos têm e que é dificuldade em identificar emoções neles próprios e nos outros),
arrefecimento, dificuldades na ressonância empática (expressão embotada, psicótica)...
Alguns destes sintomas são considerados sintomas positivos (que aparecem a mais), como delírios e alucinações.
É possível estes pacientes terem todos estes critérios (ou pelo menos dois).
As alterações motoras muitas vezes acompanham as linguísticas (ecolalia, logocolonia…). Provavelmente isto
altera de forma bastante grave a comunicação e portanto não vamos aceder ao que é a atividade delirante.
B. Tem que haver interferência neste critério: Desde o início da perturbação e por um período
significativo de tempo, uma ou mais áreas principais de funcionamento, tais como o trabalho
(se acontece na vida académica o cumprimento dos objetivos académicos ficam bastante comprometidos durante
algum tempo. Nota: pode haver surtos psicóticos com delírios paranóides a partir da terceira idade devido ao
envelhecimento, por exemplo), o relacionamento interpessoal (na comunicação com os outros, onde se nota mais)
ou o cuidado com o próprio (Ex: higiene, cuidado com a roupa e com a própria casa, pagar contas, gerir
autonomamente aquilo que os adultos aprendem a fazer… há uma profunda desorganização no cérebro, então isso
altera significativamente a comunicação com os outros), estão marcadamente abaixo do nível atingido antes do início
(ou quando se inicia na infância ou na adolescência, a incapacidade para atingir o nível interpessoal, académico ou
ocupacional esperado). - saber isto de cor, pois existe em qualquer perturbação. Tem que existir esta interferência
e mudança a partir do momento que surge o caso clínico, pois isso completa o diagnóstico. Aqui é impossível não
encontrar invalidação em todas estas áreas principais de funcionamento.
Atenção: tem que haver pelo menos no mínimo por um mês aqueles sintomas. Por isso é que o terapeuta vê a pessoa
a fazer um surto e tem que ver a evolução desse surto e ver se nesse período os sintomas estão lá, assim como olhar
para a situação clínica e ver se vai ou não evoluir. Deste modo, desde o início, temos que ver se aquele conjunto de
sintomas alteram a capacidade funcional da pessoa, e em que áreas. Como a esquizofrenia é uma “avalanche”
raramente há doentes que não tenham consequências em que o problema não interfira em todas as áreas da sua
vida, particularmente na área interpessoal (isto faz todo o sentido, pois sabemos que o surto psicótico no cérebro é
uma profunda desorganização nos mecanismos verbais e no processamento emocional, o que altera
significativamente a comunicação com os outros, que é algo ancestralmente implantado no nosso cérebro). Se a
mente não se organiza ninguém consegue funcionar: funcionamos melhor com uma doença oncológica do que
quando a mente se desorganiza. Devemos investir no convívio e nas partilhas: revelamo-nos e temos equilíbrio
quando estamos com pessoas equilibradas, em trocas sociais. Continuamos a regular-nos quando estamos com
pessoas que vamos conhecendo, pois não se pode alterar o comportamento social que a mãe Natureza definiu para
nós.
Pode haver esquizofrenia na infância e na adolescência é muito mau prognóstico, pois aparece num cérebro que está
ainda em maturação. Há mais probabilidade de a pessoa recuperar melhor e não haver deterioração ao longo do
tempo com a doença se for um ciclo psicótico a partir dos 23~25 anos (pois é aos 25 anos que o cérebro fica
completamente maturado).
A medicação é bastante eficaz na retirada dos sintomas positivos e na regulação dos sintomas negativos, embora a
medicação não se mostre muito útil nestes sintomas (é mais a psicoterapia e outras abordagens complementares que
ajudam o paciente a resolver os sintomas negativos, que são muito duros de lidar, coo não ter vontade de tomar
banho, latência na resposta e dificuldade no pensamento).
O critério C é MUITO importante: (saber de cor: a professora pode pedir no teste para explicar que é uma esquizofrenia,
e temos que explicar quais os critérios presentes. Exemplo: “está presente o critério x, y… ” e dizer o que decorámos).
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C. O surto aparece pelo menos num mês, com aqueles 5 sintomas, mas depois para haver esquizofrenia tem que
existir continuidade dos sintomas pelo menos durante 6 meses (e nestes 6 meses está incluído aquele primeiro mês
em que a doença aparece). Os sinais contínuos da perturbação persistem pelo menos durante seis
meses. Neste período de seis meses deve estar incluído pelo menos um mês de sintomas (ou
menos, se tratamento tiver êxito) que preencham o Critério A (isto é, sintomas de fase ativa) e
podem estar incluídos períodos de sintomas prodrómicos ou residuais.
Os sintomas também podem estar incluídos nos períodos prodrómicos: período entre o aparecimento do conjunto
de sintomas num mês, o doente é internado, intervencionado com medicação, há melhoria, deixa de ter os sintomas
parcialmente, desapareceram as alucinações mas continua com uma ideia delirante (desapareceram todos os
outros sintomas menos a tonalidade delirante). E não podemos dizer que o paciente recuperou. Se ainda tem
sintomas prodrómicos ou residuais ainda há a presença de algum sintoma psicótico e por isso temos que seguir a
pessoa durante algum tempo: mesmo com a medicação não se pode dizer que a pessoa não tem esquizofrenia. Pode
acontecer que se eu retirar a medicação ao doente este recaia e volte a ter o conjunto de sintomas: é muito
importante, por isso, ver durante quanto tempo está na fase ativa (estão os sintomas presentes) e o período de tempo
(mesmo com intervenção farmacológica) que o paciente diminuiu. Por exemplo, mesmo que não haja sintomas da
fase do critério A temos que ir ver melhor porque a manifestação da doença pode ser com sintomas negativos. Devido
a estes factos é que o paciente tem que ser acompanhado, para dizermos que efetivamente tem esquizofrenia (isto
deve ser comunicado aos familiares, pois há que esperar aqueles 6 meses para dar um diagnóstico conclusivo E mesmo
quando o doente responde positivamente à medicação apenas 20% deixam de ter os sintomas e que nunca mais
recaem. E mesmo assim de 5 a 10 anos tomam a medicação. 60% vai ter mais que um surto e vai ter fases prodrómicas
e residuais… às vezes não tem sintomas positivos como os delírios, as alterações do pensamento ou da perceção MAS
TEM sintomas negativos. Se tiver estes sintomas negativos e mais alguma coisa do critério A então ao fim de 6 meses
mantendo isto mesmo com a intervenção farmacológica colocamos “Tendo os 3 critérios A, B e C é possível que seja
uma esquizofrenia”).
Nota: Neste critério D A professora só quer que nós decoremos este diagnóstico diferencial. Ou seja, não vai pedir que
saibamos o que é a doença esquizoafetiva ou a perturbação de humor com características psicóticas.
Quando falámos das alterações da perceção a professora salientou que há pacientes com alucinações auditivas
verbais e quando a alucinação é formulada na 2ª pessoa do singular (“tu”) é típico da perturbação depressiva
psicótica. Mas se for na 3ª pessoa é típico da esquizofrenia.
Neste critério D temos que ter em conta que na perturbação esquizoafetiva e na perturbação do humor com
características psicóticas os sintomas psicóticos aparecem associados às alterações do estado de humor. Por isso é
que é preciso ver com o doente se os sintomas psicóticos ocorrem na fase em que o humor se altera (Exemplo: passa
de eutímico - humor normal - para disfórico). Quando há estas alterações isto é acompanhado de sintomas psicóticos:
delírios, como o delírio de ruína (alteração do conteúdo típico da depressão psicótica) ou alucinações auditivas.
Por estes motivos é que muitas vezes é necessário tempo para se apurar se o doente tem uma esquizofrenia, uma
perturbação bipolar 1 ou 2, uma perturbação de humor psicótica ou borderline. E o terapeuta leva tempo a perceber,
embora, para a maior parte deles, a intervenção farmacológica seja muito idêntica (Ex: há doentes com perturbação
borderline a tomarem antipsicóticos). Deste modo, o diagnóstico é importante, mas tem pouca validade preditiva,
porque doentes diferentes muitas vezes respondem muito bem à mesma medicação tendo eles coisas diferentes (os
antipsicóticos têm várias funções).
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No critério D temos que excluir a hipótese de esquizofrenia se aquele conjunto de sintomas que vimos até agora
(delírios, alucinações…) forem melhor explicados por alterações de humor. Se assim for temos que colocar a hipótese
de o diagnóstico ser uma perturbação de humor psicótica ou esquizoafetiva, e não esquizofrenia. Por isso, devemos
fazer um gráfico de como tem estado o estado de humor do paciente. A maior parte das perturbações têm
comorbidamente a depressão associada. Por isso temos que ver se esses episódios e humor ocorreram também
durante a fase ativa. Exemplo: se o doente ficou deprimido no momento em que andava delirante e isto for mais curto
do que 6 meses posso colocar a hipótese de ser perturbação esquizoafetiva, pois na esquizofrenia percebemos que
quando o doente faz o surto não tem nenhuma alteração de humor prévia, mas sim humor delirante (a tonalidade
é sempre autoreferenciada).
Os critérios E e F estão presentes em todas as perturbações conhecidas. Temos que excluir se a doença que está ali a
aparecer é claramente explicável por um consumo de uma substância e se a substância é responsável pelo
aparecimento de um certo conjunto de sintomas ou se existe um estado físico geral, ou seja, haver um tumor ou outras
alterações físicas responsáveis por aquele conjunto de sintomas. Por isso é que é necessário perguntar à pessoa o que
esta consome, se tem outras doenças, que doenças tem a família ou exames laboratoriais complementares para ver
se consome substâncias, pois estas podem provocar experiências percetivas de engano e a pessoa pode ter uma
alucinação visual, olfativa, gustativa, cénica… que não devem ser confundidas com o facto de possuir uma
esquizofrenia, por exemplo. Isto não significa que o tratamento para resolver os sintomas não seja o mesmo
(medicação antipsicótica que pode causar adição).
Nos pacientes com esquizofrenia, por causa da ativação e do stress elevadíssimo que é fazer um surto psicótico, muitos
deles fumam muito (têm um craving enorme para o tabaco), mas depois muitos deles consomem álcool, o que é
gravíssimo para o cérebro, pois este,a partir de um determinado nível, potencia a desorganização mental. Também
consomem cannabis, o que é péssimo pois apesar de muitas vezes amortecer as alucinações de comando,
paradoxalmente o cérebro fica cada vez mais desorganizado (não quer dizer que alguém que consome tem
esquizofrenia induzida por isso! A esquizofrenia está antes, o consumo é posterior).
Temos que perceber se existe uma história desenvolvimental de traços autistas ou de uma perturbação global de
desenvolvimento. A partir dos 2-3 anos já se consegue diagnosticar o autismo, e há uma falha gravíssima no cérebro
na função comunicacional (nos mecanismos verbais e da teoria da mente e do funcionamento afetivo) e percebe-se
que estes têm um aspeto funcional (aspeto neurocortical funcional da plasticidade) muito semelhante. Por isso é que
é preciso ver a história do paciente desde o nascimento para ver se já estavam presentes alguns critérios para
perturbação autista ou para a síndrome de Asperger. Assim, só dizemos que o paciente tem esquizofrenia se
estiverem presentes as alucinações e os delírios. Embora os doentes autistas tenham às vezes comportamentos
estereotipados (estereotipias, balanceamentos) e por vezes tenham comportamentos muito repetitivos que às vezes
podem enganar o terapeuta e este ficar a pensar que o doente é obsessivo pela repetição de um conjunto de fatores.
Mas à partida quando o paciente tem esquizofrenia a maior parte das vezes é apenas esquizofrenia, sem mais.
Em resumo, os sintomas são: interferência na fase ativa, interferência na qualidade de vida nas diferentes áreas das
pessoas, ver se as alterações ocorrem devido a alteração do estado de humor (se forem não é apenas esquizofrenia),
ver se a doença não é melhor explicada por outra doença orgânica ou ser resultado de um conjunto de sintomas que
resultam de consumo de substâncias.
Diagnóstico diferencial
(As perturbações mais comuns relacionadas com a esquizofrenia. SABER OS NOMES, mas sem ser preciso saber os
sintomas de cada uma. Devemos dizer “em termos de comorbilidade e de diagnóstico diferencial temos que o fazer
com a perturbação esquizoafetiva, delirante, breve, induzida por substâncias…). Tem também que diferenciar tendo
em conta a duração dos sintomas: se a perturbação psicótica é breve é muito mais curta do que aquilo que se passa
na esquizofrenia (embora tenhamos que esperar pelo menos meio ano para dar esse diagnóstico).
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• Perturbações relacionadas: perturbação esquizofreniforme, perturbação esquizo-
afectiva, perturbação delirante (aqui também há delírio, mas não há alucinações. Há
doentes com esquizofrenia que só têm delírios, sem atividade alucinatória, daí termos
que recolher informação*), perturbação psicótica breve. Diferenciam-se da
esquizofrenia pela natureza e duração dos sintomas psicóticos (Hirsch & Weinberger,
1995; Mckenna, 1997).
*A recolha de informação é com o próprio ou com outros, porque às vezes o doente não quer falar sobre si ou quando
surtou foi tão complicado que quando recupera apenas tem uma ideia vaga vaga das coisas. Quando se recusam a
procurar ajuda tem que haver um internamento compulsivo, devido à perda do teste crítico da realidade que todos os
pacientes com doença psicótica têm (perda de insight).
Sintomas Nucleares
• Alucinações Auditivas: percepções falsas na maior parte das vezes sob a forma de sons
ou vozes dialogadas, comentadoras das ações do indivíduo ou da sua pessoa ou de
comando.
Há então 5 aspetos centrais para que o paciente seja assim diagnosticado. É importante saber a distinção da
esquizofrenia e de outras doenças onde o estado de humor também está alterado. Às vezes os delírios relacionam-se
com alterações de humor e isso pode indicar o problema da pessoa.
Há uma relação estreita entre os sintomas afetivos e depressivos.
Quantas pessoas podem vir a ter esquizofrenia?
• Delírios: crenças falsas pessoais acerca do mundo que resistem ao confronto com a
lógica, e que podem ter várias formas. Os delírios de referência são crenças de que o
comportamento e as observações dos outros estão de alguma forma relacionadas
connosco (na rua, na TV, na rádio, etc.)
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Avaliação Diagnóstica
• Uma das dificuldades na avaliação das perturbações psiquiátricas (esquizofrenia) é a
colocação dos doentes em categorias que não são sempre mutua/ exclusivas
(esquizofrenia e perturbação bipolar).
• A distinção entre esquizofrenia e as perturbações afetivas depende do grau e
persistência da perturbação do humor e da relação dos sintomas psicóticos
(alucinações e delírios) e o estado de humor (Gelder, Gath & Mayou, 1989).
Isto é que faz com que discriminemos melhor a forma como tudo está cruzado e é por isso que é difícil avaliar a
esquizofrenia se o terapeuta quiser colocar os sintomas em categorias mutuamente exclusivas, pois estes às vezes
“migram”, mas não se deve fazer isso porque muitas vezes vai haver uma evolução de sintomas para sintomas.
Se há uma relação com o estado de humor, então em vez de ser esquizofrenia ou perturbação psicótica talvez seja
uma perturbação de humor com características psicóticas. Por esta razão deve-se fazer ao doente todas as perguntas
possíveis porque se não o fizermos cometemos erros graves no diagnóstico.
Esta tem melhor prognóstico do que por exemplo uma esquizofrenia que aparece aos 17 anos. Os sintomas afetivos
vão sempre variar na depressão (maníacos e depressivos).
Epidemiologia
• Prevalência entre os adultos – 0.5 a 1.5 % (podem vir a ter uma perturbação psicótica,
esquizofrenia).
• Início – Agudo ou Insidioso, na maioria dos casos, com sintomas prodrómicos.
(muitas vezes já há alterações no funcionamento do indivíduo mas que não são perceptíveis. Ex: o doente sente que
não está bem, os outros percebem que em termos de funcionamento interpessoal a pessoa não está bem, mas não
sabem o que é e às vezes é nessa fase prodrómica insidiosa que às vezes começam a existir as alterações
autorreferenciais, o aparecimento do humor e há um determinado dia em que tem uma revelação completa do surto.
Às vezes a depressão também tem um início insidioso, quando as pessoas têm sintomas físicos muito tempo e depois
se apercebem que não era algo físico, mas psicológico)
• Factores de Bom Prognóstico – Boa adaptação pré-mórbida (ter amigos, socializar, ter uma
capacidade cognitiva normal), início agudo, idade de início mais tardio, ausência de
anosognosia (ausência de alterações verbais linguísticas de articulação), sexo feminino (pois aparece
mais no sexo masculino), acontecimentos precipitantes, perturbação de humor associada,
tratamento logo após o início da doença, duração breve da fase ativa, ausência de
alterações estruturais cerebrais, história familiar de perturbação de humor e ausência
de história familiar de esquizofrenia (se houver familiares diretos há mais tendência, mas os genes
podem não se manifestar se os fatores contextuais assim o definirem: o gene pode não se expressar perante
situações positivas).
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Curso e Evolução
• O curso e a evolução da esquizofrenia é determinado por uma variedade de factores
biológicos, psicológicos e sociais, tais como: condições de vida, género, estatuto sócio-
económico, personalidade pré-mórbida, etc. O curso é heterogéneo.
• Os resultados de diversos estudos efectuados mostraram que a esquizofrenia se
distribui equitativa/ ao longo de diferentes grupos culturais (Birchwood & Jackson,
2001). - embora no contexto africano haja muito poucos distúrbios alimentares e questões depressivas,
mas há grande incidência de doença mental crónica. No ocidente as perturbações de ansiedade e
alimentares têm uma expressão muito maior por causa dos valores culturais vigentes no ocidente.
Há solução: o curso é heterogéneo e depende muito do contexto familiar e das condições de vida.
Sintomas Negativos
• Embotamento Afectivo
• Expressão facial invariável (aparência imóvel e sem resposta da face do sujeito,
monotonia) - há uma monotonia no rosto. Quando falamos fazemos várias inflexões e
variações na voz que acompanha o que dizemos - tonalidade afetiva no discurso. Mas aqui isto
não acontece - não estão acinéticos mas o rosto é monótono
• Reduzido contacto ocular e reduzida expressão corporal (o olhar é extraordinário
para a comunicação)
• Diminuição dos movimentos espontâneos (corpo embotado - se não está na mente não
está no corpo, porque há uma ligação estreita)
• Ausência de gestos expressivos
• Ausência de inflexões vocais
(Um indivíduo deprimido tem latência no discurso com alteração do curso do pensamento, com inibição do mesmo.
MAS um indivíduo com alogia psicótica tem mais do que estes sintomas)
• Apatia (abulia)
• Descuido no arranjo pessoal e na higiene (não é só sujidade, mas também uma forma
de apresentação bizarra que acompanha muitas vezes os sintomas positivos)
• Pouco empenho a nível do trabalho (há perda da vontade, motivação e da persistência -
muita dificuldade no começo das tarefas e uma total avolição sem nenhum objetivo). Isto não
acontece num deprimido: este pode sentir perda de energia em relação àquilo que queria fazer,
pode dizer que está confuso e que não sabe o que quer da vida mas isso não significa que não
estabeleça objetivos mínimos e que não os consiga concretizar. Neste caso nem as coisas mais
concretas como fazer a cama o doente faz. Não vê qual a finalidade para fazer algo e não persiste,
mesmo quando é convidado a fazer as coisas.
• Falta de energia
• Avolição
• Incapacidade de iniciar e persistir em atividades com objetivo
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• Anedonia e Associabilidade
(Anedonia - algumas destas coisas aparecem na depressão, como a perda do interesse e do prazer: não apetece
dançar, sair, falar, ouvir música… Associabilidade - incapacidade para sentir intimidade, não sente ligação a nada,
não quer criar amigos. Atenção que alguns esquizotípicos também têm isto: não gostam de estar com pessoas. Nos
indivíduos deprimidos e ansiosos apesar de muitas vezes não estarem com as pessoas por causa da pressão, gostam
das pessoas e de conversar com elas e esse estado acontece durante um determinado período. Mas aqui é uma coisa
mais funda)
Muitas vezes os sintomas negativos não estão e aquilo de que o paciente continua a sofrer é dos sintomas
negativos.
Pintura muito apreciada pela professora (de Goya) e que mostra as alucinações
auditivas de comando: uma figura parece um anjo e a outra demoníaca. Nas
alucinações auditivo verbais as alucinações de comando são imperativas: muito
assustadoras, de ordem. As outras alucinações são auditivas e comentadoras (na
3ª pessoa) das ações do doente, e sempre depreciativas. Embora haja doente que
possam ter vozes benévolas: o doente pode considerar que a função da voz é
benévola, que é protetora (“tenho aqui o meu anjinho da guarda, o arcanjo
Gabriel”), e isto acontece com outras pessoas que não têm a doença mental e há
uma comunidade internacional chamada “Os ouvidores de Vozes” e não têm uma
relação necessariamente psicopatológica com a voz, daí termos que ver o contexto.
Isto porque qualquer cérebro em certas condições alucina, como na total ausência
de estimulação sensorial.
Uma das piores torturas que se pode fazer é não permitir que a pessoa durma,
porque desorganiza completamente a cabeça da vítima, pois esta produz
internamente o que a pessoa não vê. A alucinação não é só da esquizofrenia ou da
doença mental. Isto também é dito aos doentes e ajuda imenso as pessoas que têm
esquizofrenia a compreenderem que a alucinação não é só um fenómeno da
doença mental.
Nota da professora: Este quadro do Goya pode ilustrar a psicose alucinatória
crónica de uma mulher idosa, sob a forma de alucinações auditivas de conteúdo
injurioso
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(Watteau, Gilles) Embotamento afetivo e ausência de movimentos,
linguagem, perplexidade, pálpebras cerradas, (esquizofrenia catatónica): É
gravíssimo na recuperação e quanto mais o doente envelhece os sintomas vão
piorando e as funções cognitivo verbais também.
(expressão robotizada, ausência de expressão do doente).
Notas da professora: O Gilles pode retratar a dissociação esquizofrénica pela sua
atitude que contrasta com a dos outros personagens. Somos surpreendidos pela
estranheza e bizarria deste ser lunar. O olhar fixo, vazio de toda a expressão
traduziria as alterações do curso do pensamento, do tipo bloqueio. A hipokinésia,
simbolizada pelos braços pendentes e a posição fixa, poderiam corresponder a
alterações motoras tipo catatónico. Orientar-nos-iamos para uma esquizofrenia
deficitária do tipo hebefreno-catatónica (já não se chama assim, diz-se apenas
“esquizofrenia catatónica”).
Desenhos de Picasso que mostram a loucura dos maneirismos psicóticos, com gestos estilizados e maneiristas que
também podem aparecer noutras condições que não apenas na esquizofrenia, como os artistas:
Nota da professora: Esta aguarela de Picasso ilustra provavelmente um indivíduo esquizofrénico (deteriorado),
correspondendo à ideia popular da loucura. Além do vestuário e do cabelo, marcas da sua deterioração e
desintegração social, a postura geral é marcada pela bizarria e estranheza dos gestos e olhar. O Maneirismo exprime-
se aqui pela posição das mãos e pela hiper-expressividade do olhar que reflete uma produção delirante subjacente.
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Repare-se nos olhares destes doentes.
Nota da professora: O indivíduo de cócoras,
agitando as mãos no vazio, apresenta uma
estereotipia frequente nos atrasados mentais e
nas psicoses infantis. À esquerda está um
violinista que podemos imaginar facilmente
como repetindo infinitamente o mesmo som,
acompanhando a mesma frase cantada, este
movimento mais complexo é mais típico das
estereotipias da esquizofrenia. As atividades de
mastigação são mais características dos
estados demenciais. Ao fundo exemplo de
paracinésias que são simulacros de movimentos
normais, que se tornam anormais pela sua
repetição e a sua realização na ausência de
necessidade e contexto.
Nota da professora: Traduz o que acontecia num hospital psiquiátrico naquela altura: como se entende que a
doença mental era a pedra do diabo faziam-se lobotomias. O quadro retrata a litotomia, extracção da pedra da
loucura que fazia parte da actividade dos charlatãos. A operação era simulada e pretendia-se que o doente ficava
curado da loucura.
Os personagens parecem agitados de movimentos anormais tal como se observa na esquiz. Catatónica, nos doentes
com atraso mental ou psicoses infantis. Trata-se de estereotipias de balanceamento, invariáveis e repetitivas.
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Exercício 2 em aula (role play): (20 min. de consulta)
A aluna deve ver o que a professora (paciente) está a fazer, vê o que é e toma notas. Deve-se ter
cuidado com o modo como se escreve e relata o que se vê.
O paciente mostrou:
• insónias (funções biológicas vitais)
• alterações do conteúdo do pensamento (ideias delirantes e discurso confuso)
• Pensamento tangencial - não respondia diretamente às questões e sobre inclusivo,
porque não há delimitação dos conceitos entre os conteúdos (alteração da forma do
pensamento). Não tem fugas de ideias nem descarrilamento
• Perceção delirante: sinal de primeira linha para a esquizofrenia (observação de um
objeto: esteve o tempo todo no telemóvel e começou a fazer elaborações acerca dos
traços da rede e das horas. Interpretou uma coisa nova com base no que se passa com
os traços da rede do telemóvel. Podia ter-se dito: “Qual a relação entre os traços da rede
o telemóvel e as instituições bancárias?” “Foi a primeira vez que descobriu algo a
controlar a conta bancária?” “Como é que a rede nos telemóveis é feita?” - o paciente
não vai saber explicar, pois não é engenheiro informático e vai andar por ali a sobrepôr
conceitos. O paciente ia dizer que havia uma relação: na instituição bancária onde tinha
o dinheiro e todas as instituições controlam os néons - isto é claramente algo delirante).
O delírio é persecutório, o que se nota perfeitamente se dissermos ao doente: “Então
mas eu tenho os traços todos. Quer dizer que me vão tirar o dinheiro da conta?” , ao
que o paciente responde: “ponha-se a pau, que vai ser enganado como eu”. O doente
estabeleceu uma relação sobreinclusiva mas delirante sobre o estômago, panças e
pombos. Deve-se questionar se é a primeira vez que está a acontecer aquilo e se aquele
significado que a pessoa está a dar faz sentido e se os dados o comprovam, se os traços
no telemóvel indicam para as pessoas que estas vão ser assaltadas. Perguntar se o
doente conhece sistemas de segurança bancários. Estas perguntas permitem aceder ao
caráter inabalável ou não inabalável, verossímil ou errado da crença.
• contacto hostil muito ofensivo de resistência o que está a acontecer (nunca fez contacto
visual) - traduz a atividade delirante de que o paciente estava sempre a sentir que estava
a ser perseguido.
• a consciência/orientação está mantida no espaço e no tempo (disse a data de
nascimento e onde estava)
• negativismo (contacto)
• Alteração de humor delirante - de tonalidade autorreferencial (está tudo relacionado
com ele), não sente ansiedade no corpo. O paciente não sente emoções - embotamento
afetivo (alexitimia) - dificuldade em identificar e reconhecer os afetos, os sentimentos e
as emoções (pertence ao estado de humor e ansiedade do exame mental). Pergunta
certa: “Você vê ansiedade nas outras pessoas?”. Este tipo de doentes não conseguem
sentir essas emoções: o paciente estava tenso mas sem identificar que tem essa tensão.
• Ficaram alguns critérios por avaliar e para estabelecer diagnóstico tinha que passar o
período de 6 meses.
Nota extra: O surto psicótico é o fenómeno que separa o antes e o depois: rutura.
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Perturbações Afetivas
Atenção: temos que saber os critérios de diagnóstico da perturbação bipolar 1 e 2!!! O resto é informação
extra (não vai fazer questões sobre o tratamento)
Bipolar
Dois conjuntos de sintomas que é possível ter: aquilo que distingue a depressão (episódio depressivo Major), da mania,
dos sintomas mistos e hipomania (isto é o estado de humor). Depois estes sintomas vão-se “arrumar” na depressão
Major, na bipolar, na distimia e na ciclotimia.
O estado normal é a partir do meio (em que está a maior parte de nós). Isto não significa que em determinados
períodos não tenhamos um abaixamento do estado de humor. O que distingue os diferentes tipos de depressão
representados é a gravidade e severidade dos sintomas. A depressão grave é com intenção suicida. Há muitos doentes
com depressão moderada com pensamentos de suicídio, mas isso é diferente de um plano de suicídio como uma ação
possível de cometer. Quando há ideação suicida na depressão severa interna-se imediatamente a pessoa, pois o
doente perde o instinto de conservação (perde a vontade de permanecer vivo). O que distingue alguém em distimia
de depressão ligeira é o tempo: os sintomas na distimia são mais leves mas têm uma duração de pelo menos 2 anos.
Há muitas pessoas distímicas, pois referem que têm na maior parte dos dias/um número considerável de dias
dificuldades em se sentirem motivados e terem prazer nas coisas mas é mais ligeiro. Os distímicos têm mais tempo
disto pelo menos 2 anos e há muitas pessoas assim, mesmo que tomem alguma medicação ou ansiolíticos:
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permanecem neste estado de humor disfórico mais leve que a depressão, mas mais durável (e é isto que distingue os
dois estados).
A pessoa pode fazer mais do que um episódio depressivo Major e há pessoas que, ao longo do tempo, fizeram 2 ou 3
e a recorrência da depressão é enorme, no sentido da recaída. A depressão reincidente NÃO é sempre explicada por
acontecimentos de vida negativos. A depressão não acontece porque apenas existem emoções negativas: acontece
também porque baixam as emoções positivas e o sistema motivacional de reforços (alegria, satisfação, vitalidade,
felicidade, contentamento…). Às vezes as pessoas deprimem e voltam a recair mesmo com acontecimentos de vida
positivos. A perturbação bipolar abrange tudo isto, pois implica duas fases: maníaca/hipomaníaca e
psicotímica/depressiva. Deste modo vai incluir sintomas depressivos mas também inclui sintomas como a ilação e
euforia (a alteração básica na mania). Há doentes bipolares que têm sintomas psicóticos e para além das alterações
típicas da mania podem ter delírios de grandiosidade (que são típicos da mania), ou persecutórios (que são formas de
lidar com os delírios de grandiosidade). Podem também ter alterações do pensamento e alucinações (sintomas
psicóticos). Se as alucinações aparecerem no contexto da alteração de um estado de humor normal não vamos pôr
diagnóstico de esquizofrenia, mas sim: diagnóstico bipolar (1 ou 2) com sintomas psicóticos. Existe tanta variabilidade
e isto é tão heterogéneo que é um desafio fazer um diagnóstico (Exemplo da professora: tem um paciente que ao
fim de 5 anos ainda não tem um diagnóstico claro).
Só temos que saber os sintomas e critérios. O que é normal é “triste”, “eutimia” e “alegria” (na alegria não há
necessariamente ilação de humor. Podemos estar muito contentes e isso não ter nada mórbido por detrás). Depois
para a direita vem a hipomania e a perda de função que é a invalidação: as pessoas deixam de funcionar nas suas
áreas de vida (social, académica, familiar …). A distimia está sempre entre a tristeza (que é uma emoção
frequentemente associada ao abaixamento do humor) e a depressão. A distimia/perturbação distímica, como vimos,
leva mais tempo (pelo menos 2 anos). Se o estado de espírito da pessoa se agrava poderemos vir a colocá-la como
tendo depressão Major Severa. A bipolar 2 tem mais sintomas depressivos e menos hipomania (não existe mania
previamente) e a bipolar 1, que às vezes também entra a esquizoafetiva se tiver sintomas psicóticos. Os terapeutas
têm que dominar muito bem esta heterogeneidade. A bipolar 2 tem melhor prognóstico e na bipolar 1 há sempre um
episódio maníaco primário, muitos episódios maníacos e fases depressivas às vezes muito severas.
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Na depressão severa há ideação suicida ou total incapacidade, para além de um profundo desinteresse pela vida, com
um nível muito elevado de sofrimento.
O que é a bipolaridade?
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• As perturbações bipolares constituem perturbações afetivas cujo principal sintoma é a
alteração no estado de humor – ELAÇÃO DE HUMOR
(e NÃO o humor depressivo). Se não existe elação de humor, não existe perturbação bipolar. Se só existe estado de
humor é depressão unipolar, porque quando é bipolar o doente oscila entre disforia e euforia.
(em português de portugal não usamos a palavra “transtorno”, dizemos perturbação ou distúrbio). Ver no esquema:
pensamentos acelerados é taquipsiquia. Pode haver assim alterações do curso do pensamento ou haver fuga de ideias.
A insónia tem a ver com a elação. Pode haver delírios de grandiosidade, erotomania…
Todo o terapeuta deve fazer gráficos para perceber as variações, para isso pede-se ao doente
para registar as flutuações do seu estado de humor (“quantas vezes o seu estado de humor
desce? quanto dura?”). Labilidade de humor: as pessoas choram e riem ao mesmo tempo e
quando é muito rápido não é hipomaníaco, nem bipolar e provavelmente faz parte de um
sintoma da perturbação borderline do cluster D. Vemos que na perturbação bipolar temos
períodos intensos de hipomania/mania que depois acompanham períodos moderados ou
severos depressivos.
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Perturbação Bipolar I
Episódio Maníaco (critérios)
A. Período distinto de humor anormal ou persistentemente elevado, expansivo ou irritável
é uma atividade ou energia dirigida a objetivos anormal, com uma duração de pelo menos uma
semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias; (tem a ver com a ilação de humor e
atividade ou energia a mais que a pessoa tem que ter presente pelo menos na maior parte dos dias, se não todos os
dias).
B. Durante o período de alteração de humor e aumento da energia ou atividade estão
presentes num grau de sofrimento e representam uma alteração notória do comportamento
habitual, 3 (ou mais) dos seguintes sintomas (4 se o humor é apenas irritável): (tem que ser
acompanhado de sofrimento, mesmo que o doente diga que não sofre. Uma pessoa com euforia não se queixa de que
está mal, mas vemos que ela está mal pois esta euforia surge acompanhada de alguns sintomas como irritabilidade,
reatividade… SABER ESTES SINTOMAS (estes 7) DE COR
Tudo o que aqui está é associado à elação de humor e tem que haver pelo menos 4 destes sintomas.
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Episódio Hipomaníaco
(é igual ao maníaco só que é menos tempo e não é todos os dias consecutivos. A diferença está na duração dos
sintomas: no episódio maníaco é o dia todo e no hipomaníaco é 4 dias consecutivos, no máximo). Este episódio não é
propriamente disfuncional (não interfere gravemente na vida da pessoa), embora haja consumos e gastos).
C. O episódio está associado com uma mudança inequívoca do funcionamento que não é
característica da pessoa quando não está sintomática;
D. A perturbação do humor e a mudança são observáveis pelos outros;
E. O episódio não é suficientemente grave para provocar um défice marcado no funcionamento
social ou ocupacional ou para necessitar de hospitalização:
F. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (droga de abuso) ou
secundário a uma condição médica.
A. Estão presentes 5 (ou mais) dos seguintes sintomas durante o mesmo período de 2
semanas e representam uma alteração relativamente ao funcionamento prévio; pelo menos um
dos sintomas é (1) humor disfórico/depressivo, e (2) perda do interesse/motivação/vontade
ou prazer (anedonia) - não confundir, pois podemos ter vontade e não ter prazer.
(a distimia é pelo menos 2 anos - mesmo com medicação - e não se tem uma distimia sem uma
depressão primeiro, sendo que os sintomas são mais leves, em que a pessoa pode andar, por
exemplo, triste alguns dias, mas não todos os dias)
1. Humor depressivo durante a maior parte do dia, quase todos os dias, indicados ou pelo relato
subjetivo (por ex., sente-se triste ou vazio) ou pela observação dos outros (por ex., parece
choroso); Nota: Em crianças e adolescentes o humor pode ser irritável. Há isolamento e solidão e isso
cria condições para a manutenção da vivência do episódio depressivo major.
2. Diminuição clara do interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as actividades durante a
maior parte do dia, quase todos os dias (indicado pelo relato subjectivo ou pela observação); não
apenas em atividades de trabalho
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3. Perda de peso, quando não está a fazer dieta, ou aumento de peso significativo (por exemplo,
uma alteração de mais de 5% do peso corporal num mês), ou diminuição ou aumento do apetite
quase todos os dias; diminuição da função biológica vital
4. Insónia ou hipersónia quase todos os dias;
5. Agitação ou inibição psicomotora quase todos os dias (observável por outros, e não
meramente pelo relato subjectivo de se sentir agitado ou lentificado)
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias (ex.: a pessoa pode sentir-se fatigada sem
esforço físico; as tarefas mais pequenas requerem um esforço substancial); mesmo quando a pessoa
faz exercício e consegue dormir continua cansada.
7. Sentimentos de desvalorização ou culpa excessiva ou inapropriada (que pode ser delirante: o
indivíduo que está convencido que é responsável pela pobreza no mundo) quase todos os dias
(não meramente autocensura ou sentimentos de culpa por estar doente); ruminação e sentimentos
de que não vale a pena, não presto, sou culpado, não vale a pena porque a responsabilidade é minha.
8. Diminuição da capacidade de pensamento ou concentração, ou indecisão, quase todos os dias
(ou pelo relato ou pela observação de outros);
9. Pensamentos recorrentes acerca da morte (não somente acerca do medo de morrer; ex.
crença de que os outros estariam melhor se a pessoa estivesse morta), ideação suicida
recorrente sem um plano específico ou uma tentativa de suicídio ou um plano específico para
cometer suicídio. A gravidade começa aqui: depressão severa. Interna-se a pessoa.
Subtipos de Bipolaridade
Bipolaridade I: é considerado o “clássico”, caracterizado por episódios completos e profundos
de mania e por episódios depressivos graves e invalidantes. Também podem ter fases de
episódios de hipomania.
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Perturbação Bipolar II
A. Preenchimento dos critérios para pelo menos 1 episódio hipomaníaco, e pelo menos um
episódio depressivo major;
B. Inexistência de episódio maníaco prévio;
C. Os episódios maníaco ou depressivo major não são mais bem explicados por uma
perturbação esquizoafectiva, esquizofrenia, perturbação esquizofreniforme, perturbação
delirante, outra perturbação de espectro da esquizofrenia com outra especificação ou não
especificada, ou outra perturbação psicótica.
Bipolaridade II: é o estado mais leve de euforia e excitação. Consiste em episódios de hipomania
caracterizados por um humor persistente e interruptamente mais elevado que o normal.
Distinção entre bipolar 1 e 2: na bipolar 2 os episódios são mais depressivos. Na bipolar 2 é algo mais ligeiro, mais leve
na mania e às vezes até começa como algo depressivo e depois se é ligeiro é hipomaníaco porque é 4 dias pelo menos.
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Não sai no exame:
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Exame Mental
• Componente de avaliação psiquiátrica
• Observação do doente e a sua descrição o mais objetiva possível
• Revela sinais e sintomas da doença
• Corte transversal no estado e sintomatologia do doente
• Implica uma abordagem clínica
1. Apresentação:
• Aspeto, atitude, atividade e teste crítico da realidade
• Aspeto:
o Aparência (idade, Vestuário). A primeira coisa que se pode ver na aparência é a idade
das pessoas (esta não diz nada sobre a doença mental, mas é um indicador importante do estado
do humor – se está ansiosa, abatida, triste). Pode ser adequada ou não. Pessoas deprimidas
costumam ter um ar mais velho. Na maior parte das vezes os doentes têm uma apresentação
compatível com a idade, estatuto e atividade socioeconómica. O vestuário é moda e cultural
(comum). O que escrevo no processo clínico: “vestuário de acordo com a idade sem alterações na
aparência”.
o Postura e posição entre o corpo e o espaço (sentado, decúbito ventral,
inibida). Como estão as diferentes partes do corpo entre si. Doente sentado, ou de cócaras, ou
deitou-se na consulta. A posição é descrever tal e qual como está o doente. Estes também dão
informação sobre o estado de humor. Postura retraída, inibida, ansiosa, hostil, colaborativa
(simpáticos, sorriem, prestam atenção e respondem às perguntas), outros não estabelecem
contacto visual, outros não falam (atitude de resistência). Não é uma hostilidade expressa, mas
reprimida (como diz o Freud). Atitude não colaborante, postura ansiosa, postura hostil.
o Nível de Arousal (nível de consciência). Acordados, estamos vígeis, atentes vivos e a
responder aos estímulos. Os que bocejam, não têm estado vígil muito ativo. Quando estamos bem
não temos sono e estamos enérgicos. O estado de vigília é estar acordado e responsivo. Mas em
momentos o nosso estado é um pouco sonolento (hipoarousal)... Mas alguns até adormecem às
vezes (pode ter a ver com ansiedade até). Depois ainda há letargia (profundos períodos de
sonolência e não resposta aos estímulos – arousal baixíssimo). Estuporoso: doente não responde
a estímulo nenhum (doente só responde a gritos – sinais sonoros e intensos). O último estado é o
COMA. Dentro destes temos 4 estados, o último, morte cerebral. Para o lado da agitação, estado
de elevado arousal – mais ativadas (quadros de ansiedade e até na depressão). Depois temos
hiperatividade (nível quase máximo de ativação Hiperarousal). Depois ainda temos a
hipercinésia. Aqui os doentes gritam, gesticulam, puxam os cabelos, fazem muitas coisas. Têm de
ser internados porque se isso não acontece podem colapsar.
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• Atitude (relação com o terapeuta)
o Agressiva
o Resistente
o Responsiva
o Retraída
o Inibida
o Hostil
o Colaborativa
o Amigável
o Ansiosa
• Atividade:
o Energia, capacidade motora, motricidade. Há pessoas muito paradas, como os
deprimidos (lentificação motora, muitas vezes acompanhada com lentificação dos pensamentos).
Vemos a motricidade, o comportamento motor dos doentes. Dá-nos indicador sobre a tonalidade
afetiva dos doentes.
• Teste crítico da realidade (Insight)
o Psicóticos não fazem teste crítico da realidade. Insight do Doente: forma grosseira de
separar as perturbações psicológicas / neuroses das psicoses: porque quando o doente faz um
surto psicótico não faz teste crítico da realidade, não acha que está doente, “doentes estão os
outros”. Há doentes que, por outro lado também não querem estar ali (doentes com distúrbios
alimentares) e nesses casos não perdeu insight, apenas não colabora.
O exame mental não começa quando o doente entra no consultório. Vou buscá-lo à sala de espera e apercebo-me
como ele entra. O EM começa na sala de espera. E o EM é feito na entrevista clínica. É importante iniciar por observar
o aspeto, a atitude e a aparência doente. Se o doente vem com unhas compridas, com lixo, com maus odores, não
posso colocar no processo que o doente surge “porco”. Porque temos de respeitar o que estamos a ver (a
psicopatologia diz-nos que temos de descrever de forma objetiva de uma forma digna). Na 1ª consulta devemos
observar e discriminar a partir da forma como o doente responde a perguntas abertas. À medida que o doente se vai
sentindo mais à vontade vamos fechando as perguntas, afunilando, ser mais objetivos e diretos. Há um código ético
(confidencialidade). ESTA É QUEBRADA QUANDO HÁ RISCO IMINENTE DE SUICÍDIO (CASO DOS ADOLESCENTES) OU
QUANDO VAO AGREDIR ALGUÉM. Uma das soluções é internamento compulsivo do doente (principalmente quando
o doente não tem insight) por uma questão de proteção. Muitas vezes os homicídios são porque as pessoas têm
doença psiquiátrica grave e estão internados.
2. Motricidade e Linguagem
Conjuntos de alterações motoras
• Alterações Motoras Compreensíveis Psicologicamente (mais comuns)
• Alterações Motoras e da Linguagem Psicóticas
• Alterações Motoras e da Linguagem Neurológicas
Tiques: Contrações repetidas de determinados grupos musculares, principalmente à volta dos olhos e na boca
(faciais), involuntários. Movimentos repetidos, algumas vezes acompanhados de vocalizações. Não é a ansiedade que
provoca os tiques. Os tiques podem acontecer por diversas razões, algumas vezes por sustos, e se a ansiedade estiver
presente faz com que a pessoa intensifique os tiques. “Alteração motora, tique” é o que se coloca no EM.
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Maneirismo: postura estilizada repetitiva. Muito importantes. Podem surgir na esquizofrenia. Podem existir
maneirismos em pessoas que pertencem a determinados grupos (atores, músicos, etc.): na forma de falar, nas
inflexões vocais. Tia de cascais / flexão: maneirismo. Repetição estilizada de gestos, inflexões, posturas associadas a
determinado grupo. LGBT: algumas pessoas que pertencem ao grupo de homossexuais masculinos (chamados
“Bichonas”): comportamentos histriónicos repetitivos “Ohaahhah”. Não quer dizer que tenham doença mental.
Comportamento motor. As ações que fazemos têm um objetivo e um fim. Vou pegar no isqueiro e acender o cigarro.
O comportamento só termina quando atinge a finalidade. Nestes doentes, e não são só nos psicóticos, depois de
atingida a sua finalidade, o movimento continua a repetir-se de forma persistente e desnecessária (continuar a clicar
no isqueiro sem necessidade, depois de acender o cigarro). No aperto de mão, por exemplo, depois do cumprimento
o doente continua a repetir o movimento. O doente não sabe porque o faz quando lhe questionado.
Muitos doentes em Portugal têm. Faz parte da TOC. Covid veio impulsionar tudo isto. Temos de fazer perguntas ao
doente para confirmar que é uma compulsão e não uma impulsão ou perseveração. Comportamento motor,
estereotipado (feito de determinada forma, de uma forma e não de outra), que tem como função diminuir a
ansiedade. (Lavar as mãos por causa dos germes, por exemplo). Doente reconhece que não consegue deixar de fazer
o ritual. “Tenho de fazer para a ansiedade baixar, então repito o comportamento”. Verificação dezenas de vezes se
fechou a porta. Doente reconhece que é excessivo, não consegue deixar de fazer, e fá-lo para que a ansiedade desça.
Há pessoas com armário milimetricamente alinhado, o que demora horas a fazer e a manter. Compulsão implica
alteração do comportamento.
Ato abrupto, repentino, impulsivo, em que o doente escapa completamente ao controlo. Pode ser auto ou
heteroagressivo, associado a pessoas com sociopatia, psicopatia (comportamentos impulsivos como abuso, violação,
exercer poder e controlo sobre o sexo ou manipular as pessoas e subjugá-las). Impulsão associa-se a estes quadros
clínicos / personalidades: a pessoa não consegue deixar de fazer, a função do comportamento é que dá prazer e poder.
A compulsão é um comportamento deliberado, em que a pessoa tem dificuldade em deixar de fazer, tem de fazer
para reduzir a ansiedade, é diferente. A impulsão vou fazer determinadas coisas (violar, manipular, subjugar) por
prazer, é instintivo. O preenchimento de instintos com o comportamento impulsivo. Há agressores de violência
doméstica que são impulsivos, psicopáticos. A violência não é só bater, é também sexual: abuso ou violação. Escapa
ao controlo, e vai repetir sempre os impulsos. Pedofilia: impulsiva, meio “psicopatado”. Pedófilos voltam a fazer e
por isso têm de ser castrados, sujeitarem-se a esse procedimento cirúrgico. Impulsão escapa ao controlo, satisfação
instintiva, reptiliana (a nível de cérebro): Répteis não têm cérebro para fazer ligações, comem as crias, e o
comportamento do réptil é em função do sexo e do território, pois. não têm sistema límbico. Mamíferos têm sistema
límbico, cuidam das crias, não as comem...
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Alterações Motoras e da Linguagem Psicóticas Objetivas
• Estados acinéticos (cinéticos quer dizer movimento. O prefixo “a” quer dizer ausência). Em todos os
estados acinéticos, os utentes estão imóveis.
o Tensão muscular (nesta situação, as maxilas do doente estão firmemente
contraídas, as mãos enclavinhadas (apertadas e entrelaçadas), as pálpebras
espasmodicamente cerradas, a cabeça rígida e, por vezes, sem tocar no
travesseiro durante horas – almofada psicológica. Se se tentar movimentar,
passivamente um membro, nota-se a diferença)
Os indivíduos estão contraídos, os olhos estão espasmodicamente contraídos (parece que saltam das órbitras: aquele
olhar psicótico). Tensão é tão grande que a cabeça nem deita bem na almofada. Acontece na catatonia ou na
esquizofrenia catatónica, a tensão muscular. Se não for internado ou medicado, o doente não sai desta posição, não
se alimenta nem bebe (catatonia – pertence ao grande guarda-chuva das perturbações psicóticas – conceito amplo –
ou na esquizofrenia catatónica). Catatonia é a doença que tem mais alterações motoras e linguísticas psicóticas.
Aparece na catatonia e na esquizofrenia catatónica: o doente tem o corpo como se não tivesse nenhuma ou quase
nenhuma tonicidade muscular. Posso por o doente numa posição que eu quiser (pode ser movimentado) e fica horas
a fio naquela posição, não se mexe mais. São incómodas as posições e ele não se mexe. Muito grave, doentes não se
cuidam. Se não houver intervenção, morrem. Estes doentes surgem no Sobral Cid e outros hospitais psiquiátricos onde
estão muito tempo internados. Aqui o psicólogo não faz nada. Este sintoma também é chamado de catalepsia! A
intervenção é farmacológica. (ATENÇÃO: Catalepxia, com X, é completamente diferente, é um sintoma que aparece
num distúrbio de sono chamada Narcolepsia. O sintoma é o doente estar acordado e de repente cai, por perder o
tónus muscular repentinamente (deixa de ser capaz de se mexer). Quando isto acontece a pessoa tem de ser vista
imediatamente em consulta de sono por ter Narcolepsia.
Aqui, o doente está imóvel também. Deixa mover os membros (podemos mexê-lo, mudá-lo de local) mas quando
queremos que ele fique em determinada posição, sentado por exemplo, ele cai para o lado. Não consegue manter o
peso. É o contrário da flexibilidade cérea, em que o corpo também pode ser mexido, mas depois fica rigidamente numa
posição e não se mexe. Imobilidade flácida é o oposto da flexibilidade cérea.
Nota: Todos estes sintomas, posição (ou seja, a almofada psicológica que é a tensão muscular), a catalepsia, a
imobilidade flácida, estes três aparecem na catatonia e na esquizofrenia catatónica, assim como os estados
acinéticos.
Todos quando eramos crianças brincámos às estátuas. E aqui os joelhos parecem estátuas petrificadas. A cara do
doente parece um robot, parece pedra. Não têm qualquer expressão no rosto, como se estivessem petrificados.
Linguagem mecânica, sem variações no ritmo e na cadência, não têm inflexão. Quando há linguagem... Há momentos
em que têm ausência de linguagem. Diagnóstico em utentes com alterações motoras psicóticas objetivas acinéticas
podem oscilar entre imobilidade flácida a posições estatuárias bizarras (polos opostos), ou à catalepsia! Sem insight
crítico.
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Nota de curiosidade: Uma doença psicótica faz com que sejam comprometidos brutalmente os processos verbais.
Alguns destes doentes necessitam de institucionalização e pessoas que prestem os cuidados básicos: alimentação
higiene, roupa lavada, entre outros. Défices cognitivos mais acentuados, processo de envelhecimento acelerado, níveis
de stress interferem com sistema neurológico e tornam-se mais sensíveis às patologias.
Estes doentes oscilam: podem estar períodos em catalepsia e períodos em hipercinésia. Por isso é grave. Por vezes
estes doentes catatónicos têm períodos de imobilidade (acinesia) e depois noutras fases hipercinéticas (sem estar
quietos, sempre a gritar a gesticular – tanto uma coisa como outra pode levar ao colapso se não forem internados).
As funções biológicas vitais ficam todas comprometidas. Não dormem, por exemplo.
Aqui o doente está a fazer um movimento qualquer que sabe fazer, como acender o isqueiro, movimento aprendido,
implica motricidade fina, mas a obstrução é repentina, e de uma forma abrupta o doente deixar de saber fazer o
movimento. E deixa de o fazer, sem mais nem menos. Perde a competência motoramente. Este comportamento,
normalmente é acompanhado por alteração no pensamento. Doente não consegue explicar o que se passou.
Nota: Tudo isto implica sempre medicação. Não há doente nenhum psicótico, sem medicação psicoterapia vai ajudar
em algumas coisas, mas não é tratamento central. Há muitas funções no cérebro que têm de ser recuperadas com
medicação. Se a mente for um quadro elétrico, um surto é como estoirar todos os fusíveis desse quadro elétrico. É de
facto algo brutal, às vezes o doente demora um ano a recuperar desse shutdown, com medicação. Só 20% destes
doentes que fazem surto psicótico não voltam a fazer outro. A maior parte dos surtos psicóticos são induzidos por
substâncias psicoativas como o charro. Existe uma perturbação com o nome perturbação psicótica induzida por
substâncias. Estes doentes são muitos, cada vez mais. As pessoas não sabem que têm comorbilidade para aquilo.
Há uma iniciação do movimento para cumprimentar, por exemplo, mas o doente fica ambivalente (anda para trás,
anda para a frente) não executa o movimento. Não conclui o movimento. Ambitendência é o movimento não se
realizar porque o doente fica hesitante, se o faz ou se o inibe. No ato de vestir, por exemplo, vai para fazer o
movimento, mas não consegue, evita, inibe, tornam-se pessoas dependentes, que exigem cuidados e auxílio. Não
funcionam autonomamente e só recuperam com intervenção psiquiátrica.
É automático e redundante, ausente de finalidade, mas momentos de maior ansiedade podem potenciar o
aumento): diferente de Ambitendência pois a Ambitendência é volitiva, resulta da vontade. Nas Estereotipias, o
movimento mais conhecido são os balanceamentos (doentes catatónicos; doentes com esquizofrenia catatónica;
pessoas com deficiência mental severa ou grave; pessoas autistas mais comprometidas). O comportamento motor
não tem qualquer validade, sem propósito, é apenas executado de forma automático e repetitivo, e feito sempre de
99
uma maneira muito uniforme. Diferente de preservação (fazer mais, praticar mais de forma desnecessariamente;
mas há uma finalidade sempre), que quer dizer redundante, mas que aqui há uma finalidade na execução do
movimento, mas que o doente continua a repetir desnecessariamente). A única coisa comum entre estereotipia a
preservação é que se repetem.
Também motor. Vamos encontrar em doença cerebral orgânica, alterações neurológicas, doenças neurológicas.
Por exemplo Parkinson. Movimentos espasmódicas (descarga abrupta de contração muscular), completamente
involuntária, repentino e brusco, e completamente descoordenado. O doente quando está a fazer, não reconhece que
o movimento é executado por si próprio, é um movimento estranho para a pessoa. Típico nos lares: língua para fora
da boca descoordenadamente de forma abrupta, mas a pessoanão tem consciência do que está a fazer.
Comportamento grave, profunda alteração em termos neurológicos. Completamente diferente dos tiques, que não
são sentidos como comportamentos estranhos e que se consegue controlar no curto prazo (com prática), porque se
sente.
• (Estes últimos 4 que falámos são aspetos chave)
Todos temo, mas em grau menor. Uma tremedeira no lábio ou nos olhos que leva tempo a passar. Há uma consciência,
de que é a minha boca ou as pestanas. Mas no doente com esquizofrenia ou catatonia tem o mesmo sintoma, mas
não o reconhece. o movimento é estranho ao corpo.
Ações verbais e não verbais, conjunto global. Doente repete todos os movimentos da pessoa que observa (doente
com esquizofrenia ou catatonia). Na esquizofrenia catatónica todos os doentes têm imensas alterações motoras e
linguísticas psicóticas, desde as objetivas até às subjetivas. Na esquizofrenia que não é catatónica, nós não
encontramos esta riqueza que aqui está de alterações motoras. Mas têm outras que falaremos mais à frente.
• Ecopraxia (é a imitação de ações simples como, por exemplo, bater palmas, estalar os
dedos)
Doente repete ações simples como bater palmas. No mimetismo é TODO o movimento, movimentos complexos,
estando aí a diferença.
• Ecolália (o doente ecoa uma parte ou tudo o que se lhe diz, repetidas vezes, quer
perceba ou não o que lhe foi dito)
Vai repetir tudo o que digo ou partes do que eu digo, quer perceba quer não perceba. Catatonia, esquizofrenia
catatónica. Também encontramos em pessoas sem doença mental, mas com doença desenvolvimental. Sem
compreensão verbal, repetir partes da frase ou totalmente.
• Palilália (é repetida uma palavra completa com velocidade cada vez maior e
audiobilidade cada vez menor – esquizofrenia catatónica ou catatonia)
100
• Estereotipia verbal (é a repetição monótona de uma palavra ou frase desnecessária
ou absurda. Aparece, por exemplo, na esquizofrenia catatónica)
É a mesma coisa que a motora. Repetição completamente monótona e automática, sem qualquer tonalidade, de uma
palavra ou frase absurda e sem nexo, incompreensível em termos verbais. É como se não houvesse coordenação
verbal – esquizofrenia catatónica ou catatonia. Normalmente quem tem estereotipias verbais, tem estereotipias
motoras.
• Neologismo: palavras novas inventadas pelo doente (que não existe no dicionário), ou
palavras vulgares utilizadas com um sentido diferente.
Frequente em esquizofrénicos. Relação estreita entre neologismos e delírios. “Estou friado”. Discurso continua a ser
compreensível, as inventa palavras.
• Estupor: estado em que o doente fica mudo e imóvel, como que paralisado.
• Movimentos mímicos automáticos (riso compulsivo, que se pode confundir com o riso
imotivado) são característicos da paralisia bulbar)
Riso compulsivo desenquadrado de contexto, que até pode ser confundido com riso motivado. Sem qualquer tipo de
ressonância afetiva (psicóticos não têm), é um riso psicótico. Expressão facial e emocional ausente, embotada.
(“Morre um cão e estou às gargalhadas, completamente desenquadrado, não ressonante, dessincronizado, psicose”)
– Paralisa Bulbar – alteração motora, pessoa não consegue deixar de rir quando se pergunta.
Pessoas não conseguem fazer movimentos simples. Diferente de obstrução em que o doente DEIXOU repentinamente
de conseguir fazer. Nas apraxias nunca conseguiu fazer (efeito degenerativo da doença de Parkinson)
• Tremor estático (tremor que aparece quando o indivíduo está em repouso. Pode surgir
no parkinsonismo, na tireotoxicose, no alcoolismo, no abuso de drogas e em
síndromes de privação. Pode aparecer também em pessoas idosas e em
personalidades ansiosas. Por vezes pode ser um sintoma histérico).
Tremor que aparece quando o indivíduo não faz movimentos, está em repouso. Não faz tremor estático se estiver a
comer, ou a colocar os talheres em cima da mesa ou quando está a fazer alguma atividade. Acontece também na 3ª
idade.
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Sacudidelas que fazem lembrar fragmentos de um movimento completo. Parece que as pessoas se estão a sacudir.
Doentes têm consciência dos movimentos. Se não tivessem, seria um automatismo.
Doença motora, neurológica, deriva de lesões do córtex pré-frontal esquerdo. Toco na mão de um doente com um
objeto qualquer ele tem imediatamente o reflexo de apertar e depois não abre. A pessoa tem o estado de consciência
conservado. O doente aperta e agarrar todos os objetos que lhe tocam na mãe. Diferente de reação magnética.
A pessoa não é capaz de nomear os objetos, embora possa reconhecê-los. Alteração neurológica na área verbal,
responsável pela nomeação dos objetos, e a pessoa fica muito ansiosa por não conseguir nomear os objetos. Não é
perda de memória. O doente perde a capacidade de reconhecer os objetos, apesar de saber a função deles. Perifrasia:
doente consegue dizer para que servem os objetos. Não perde a noção da função.
• Afasia: alteração da fala que resulta das conexões transcorticais das áreas da fala
sensitivas e/ou motoras. Há dois tipos:
o 1. Afasisa sensorial (afasia de Wernicke): o doente é incapaz de compreender
o que se lhe diz, apresentando, muitas vezes, logorreia sem sentido. Dificuldade
na recepção da informação. A lesão localiza-se na 1ª circunvalação temporal.
o 2. Afasia motora (afasia de Broca): o doente compreende o que se lhe diz mas
não é capaz de responder. Pode apresentar estereotipias verbais. A lesão
localiza-se na 3ª circunvalação frontal ascendente do hemisfério cerebral
dominante, geralmente o esquerdo.
3 – Contacto
Que tipo de contacto estabelece o doente com o clínico?
• Exuberante (mania, alcoolismo)
• Amigável / cooperante)
• Frio
• Hostil
• Deprimido (lentificado, triste, com grandes pausas no discurso)
• Negativista (resistência, aparentemente desmotivado a qualquer interferência; ex
esquizofrenia, atraso mental, demências)
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• Pode também acontecer que não se possa estabelecer qualquer
contacto com o doente, neste caso poderemos registar no exame
mental “Autismo”.
Entre o clínico e o doente. O que é saliente? O doente pode ter uma aproximação
exuberante (risos, gritos, gestos teatralizados de simpatia ou exuberância, excêntrico; ou
pela negativa – hostilidade, aborrecimento). Pode haver um contacto amigável, mas
exuberante ou por outro lado um contacto hostil e também exuberante. Dá-nos mais
uma pista para o diagnóstico. Tudo são argumentos que utilizamos para validar o nosso
diagnóstico (ou questionar).
Quando vejo uma pessoa com anorexia, mas de contacto exuberante (ou não é anorexia
ou para além da anorexia pode ter uma outra coisa, porque pessoas com anorexia não
costumam ser exuberantes).
4 - Consciência e Atenção
Um mesmo sintoma em um doente que tem a consciência alterada ou um doente com a consciência clara tem duas
leituras COMPLETAMENTE DIFERENTES. No estado de consciência claro, exige-se que a pessoa tenha consciência do
ambiente e do eu. Aqui temos de avaliar a consciência do ambiente (se tem orientação alopsíquica – no tempo e no
espaço – avalia-se com questões simples: “onde está, que oras são, como veio aqui parar, etc.” e a consciência do eu
(se tem orientação Autopsíquica – “podes dizer o teu nome, que idade tens?”). Pessoas bêbadas em estado grave–
alteração da orientação alopsíquica ou Autopsíquica.
A Atenção também é importante avaliar – Quando não consegue prestar atenção e não responde às questões
colocadas.
103
Outras situações em que a consciência está alterada:
• Lipotímia: ou desmaio
• Hipnose
• Estados crepusculares (acontece em certas situações de epilepsia)
• Estado de Estupir: estado que antecede ao estado de coma, pois o indivíduo só reage a
estímulos fortes
• Coma.
Se um dos amigos estiver com uma intoxicação por substâncias ou álcool e disser que tem os caixotes do lixo a
perseguir, mas se não souber quem é nem onde estava... tem um significado diferente e um diagnóstico diferente
comparativamente a se tivesse sóbrio com essas alucinações. Alucinações são fruto do estado fisiológico em que a
pessoa se encontra, então se está com alteração do estado de consciência induzido por substância não pode ser
diagnosticado com esquizofrenia.
Atenção:
• Representa a síntese que um determinado indivíduo faz num determinado momento de
todos os processos cognitivos
• Quando os mecanismos de atenção estão perturbados, isso significa que há sofrimento.
As alterações dos processos de atenção traduzem alterações cerebrais.
• Atenção pode ser ativa ou Passiva
o Ativa: quando o indivíduo foca a atenção em algum acontecimento interno ou
externo: quando foco a minha atenção em algo. Passiva – quando há um acontecimento que
atrai a minha atenção.
o Passiva: quando é o acontecimento, interno ou externo, que atrai a atenção do
indivíduo sem nenhum esforço da sua parte.
o As duas formas estão intimamente relacionadas pois quanto maior for a
atenção ativa, tanto menor será a passiva, ou seja, para que esta entre em
ação a intensidade dos estímulos tem que ser maior.
• As alterações da atenção ativa, sob forma de distratibilidade ocorrem em várias
situações: fadiga, ansiedade, depressão, mania, esquizofrenia, estados orgânicos, entre
outras.
o Por exemplo, nos doentes deprimidos e ansiosos, a atenção ativa está prejudicada ou
diminuída; porque os doentes se focam demasiado nas suas preocupações e problemas, não
prestando a atenção habitual ao que o rodeia. Daí ser frequente estes doentes apresentarem
queixas de dificuldade de concentração e de memória que são de carácter subjetivo, não
traduzindo lesões orgânicas.
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5 - Humor, afetividade e ansiedade
• O estado de Humor será o estado emocional que dura já há algum tempo, constituindo
uma disposição permanente reativa ou endógena para reagir aos acontecimentos com
uma determinada espécie de emoção que dá colorido à vida total do indivíduo.
Endógeno – sem derivar de algum acontecimento específico. Reativo, resultante de uma situação.
O Humor tem uma variabilidade de grau. Desde um polo de tristeza a um polo de euforia. No polo de tristeza, é um
polo caraterizado pela visão negra (sou desadequado, insuficiente, incompetente, os outros são maus críticos e
punitivos). Visão negra de mim, dos outros e do futuro. O humor depressivo traduz-se em termos comportamentais
num estado de apatia, de desmotivação completa e de perda de prazer em todas as atividades, mesmo nas que
anteriormente nos davam prazer. Humor depressivo causa perda de prazer. No polo da euforia há
uma elação de humor (aumento do humor). Excitação. Neste polo da euforia há o oposto do polo
da depressão. Excesso de confiança, taquipsiquia (ideias surgem muito rapidamente; ideias
acabam por fugir rapidamente), motivação para tudo e autoconfiança exagerada). Porém, no
estado depressivo também pode haver fuga de ideias, por razões opostas ao estado de euforia.
105
Humor eutímico, Humor disfórico, etc. – Em psicopatologia é importante ter em atenção a proporcionalidade e os
diversos graus. Temos de observar sempre o estímulo e a intensidade da resposta, comparando o grau de
disfuncionalidade / desregulação da resposta. Sempre que estamos ansiosos é porque a nossa mente processou
alguma ameaça, algum medo. Muitas vezes nem temos uma perceção clara do que está a induzir o medo. Humor lábil
– passa do riso ao choro muito rapidamente. Pode surgir em quadros orgânicos e alguns quadros de psicopatologia.
Humor delirante – típico da esquizofrenia.
Reações de Humor
• Existem reações ou respostas maladaptativas em que há uma variação da quantidade,
e não da qualidade, da carga emocional (exemplo, estados emocionais exacerbados)
Estas são:
o Reações depressivas: É a reação emocional à frustração crónica e ao
desapontamento. A emoção típica é a tristeza, que pode ser considerada
normal quando se segue a uma perda significativa. É, no entanto, considerada
anormal ou patológica, constituindo a depressão neurótica, quando se prolonga
no tempo. Pode também ser gravemente patológica, depressão endógena,
quando existe um humor triste mórbido, associado a sentimentos de
desespero, infelicidade e preocupações excessivas, podendo atingir uma
intensidade delirante.
o Euforia: Pode ocorrer como forma reativa normal, mas geralmente é
patológica, por exemplo, pode aparecer associadas a lesões do lobo frontal,
esclerose e esquizofrenia hebefrénica.
o Estados ansiosos: A perceção de ameaça é um antecedente cognitivo da
ansiedade.
Ansiedade
• A ansiedade representa um padrão complexo de respostas que envolve alterações
cognitivas, afetivas, fisiológicas, comportamentais e motivacionais.
• É uma reação, ou resposta, emocional global que apresenta sintomas a 3 níveis
diferentes, embora interligados:
o Vegetativo — manifestação orgânica da ansiedade
o Motor — manifestações de ansiedade visíveis a nível do comportamento
o Cognitivo — os pensamentos do doente, uma preocupação constituída por uma
sucessão de pensamentos dolorosos, desagradáveis que se traduzem,
geralmente, num medo difuso perante perigos reais ou imaginários
COMPONENTES DA ANSIEDADE: Na resposta de ansiedade dos nossos doentes, aquilo que temos de ver são 3 níveis:
nível vegetativo, motor e o nível cognitivo. Todos estes níveis estão interligados na resposta de ansiedade.
Tem sempre como precedente a perceção de uma ameaça. Temos de vê-la como uma linha contínua, percebendo que
todos nós a temos. Não existe ansiedade nível 0 e se existe, morremos. A ansiedade é algo que fomos herdando dos
nossos antepassados. Quando percebemos um perigo, o nosso organismo reage com ume estado ansioso e este
estado ativa o nosso organismo fisiologicamente, em termos emocionais, e isso faz-nos responder mais rapidamente
ao perigo, e é isso que tem nos feito sobreviver ao longo de milhares de anos. Organismo responde de uma forma
completamente automática. Permite-nos responder em fração de segundos a tudo o que é ameaçador. Tem
definitivamente função de sobrevivência. A Ansiedade representa um padrão de respostas complexas e que envolve
no mesmo momento alterações cognitivas, afetivas, fisiológicas, comportamentais e motivacionais. A Ansiedade
tem uma componente de experiência subjetiva das emoções, uma vez que deriva de diversos aspetos de acordo
com a vivência e experiência do indivíduo.
106
Se o traço horizontal significar os níveis de ansiedade e se o Y estiver desempenhado com o nosso desempenho,
dizemos que quando a ansiedade é baixa o nosso desempenho também é baixo, pois não estamos motivados para a
tarefa. Então é importante saber que um nível de ansiedade moderado é importante para ter um desempenho mais
alto. Mas quando a ansiedade é extrema, atinge níveis exagerados, começa a influenciar negativamente o
desempenho. Para cada tarefa a que nos propomos, existe sempre um nível de ativação (parcela de ansiedade)
direcionado ao foco da concretização dos objetivos dessa tarefa. A Ansiedade em níveis adaptativos aumenta o
desempenho da tarefa, mas em exagero prejudica. Existe uma interligação, embora indireta entre níveis adaptativos
de ansiedade e motivação.
A ansiedade deve ser concetualizada como uma dimensão com uma variação de grau:
Nós não dizemos tem ansiedade ou não tem, porque todos temos, mas devemos definir o grau de ansiedade em
determinada situação ou contexto. Vou regulando o meu comportamento em função dos sinais que o outro me vai
dando e é isso que vai medindo a intensidade da minha ativação (grau ligeiro ou moderado). A patologia deriva da
adequação da resposta ansiosa (biopsicofisiológica / emocional) face ao perigo. Se não é adequado face à situação
(tendo em conta o comportamento da maioria das pessoas), então é percetível psicopatologia.
Concluindo
107
• A diferença reside essencialmente em que na ansiedade patológica há uma perceção
enviesada e sobreavaliada de ameaça ou perigo, enquanto que na ansiedade normal
há uma correspondência mais estreita entre a avaliação de ameaça e os perigos
objetivos do meio.
Uma pessoa com uma perturbação de ansiedade presta atenção a estímulos que muitas vezes para nós são
insignificantes (unhas dos pombos, bico do pombo, etc.). Já o nível de atenção é diferente das pessoas que têm medo
dos pombos). Normalmente as pessoas com fobia social têm um nível de atenção extremo a tudo o que são estímulos
de interação (principalmente o que percecionam como estímulos de rejeição social). Esse nível de atenção extremo
dá-lhes também um nível de interpretação diferente, com armazenamento na memória diferente, condicionando
dessa forma o presente e o futuro face ao estímulo ameaçador. O nosso organismo está programado para nos
proteger de tudo o que é ameaçador. Sempre que percecionamos uma situação como ameaçadora a nossa tendência
é evitá-la ou fuga. É uma forma desadaptativa de lidar, o medo é real e imaginário (do ponto de vista clínico). Se o
medo for real, é adaptativo tentar proteger-me e evitar situações em que me depara com a situação, como a presença
de um leão. Quando o medo é subjetivo, da imaginação, se não desconfirmá-lo, experienciar a situação não vou ter a
hipótese de perceber que o medo não é real e que nada me irá acontecer. Quanto mais as pessoas fogem dos estímulos
maior a dificuldade em perceber que os medos subjetivos não representam nenhum perigo. O papel do psicólogo é
promover a aproximação dos estímulos fóbicos (por graus) de forma que, em cada episódio, a pessoa consiga atingir
o pico de ansiedade e posteriormente voltar ao normal. Isto de forma gradual vai criar uma dessensibilização
sistemática da resposta de medo. Quando está relacionado com trauma também dá para utilizar este método. A
experiência mais ameaçadora do trauma é a memória, o flashback, os sons. Através da imaginação podemos ter
acesso a isso. A dessensibilização não é direcionada exclusivamente ao acontecimento em si, mas podemos fazê-lo
relativamente a outros estímulos. A dessensibilização inicia-se com o promover da compreensão da pessoa no que diz
respeito à resposta de medo que esta tem neste momento que, embora anteriormente tenha sido adequada, no
presente é descontextualizada. E só depois se inicia o trabalho de exposição gradual.
6 - Pensamento:
Os nossos pensamentos têm um curso (uma velocidade), têm uma estrutural formal (como se tivessem margens,
espaçamento e referências bibliográficas), têm subjacente a propriedade (há um sentido de posse) e têm um conteúdo
(relacionado com o tipo de frase, ideia e mensagem subjacente).
Pensamento:
§ Alterações do Curso do Pensamento
§ Alterações da Forma do Pensamento
§ Alterações da Posse do Pensamento
§ Alterações do Conteúdo do Pensamento
Vem com a depressão / polo depressivo da doença afectiva bipolar. Vemos que o doente tem uma grande
latência na resposta. (não tem a ver com a quantidade de pensamentos, mas com a velocidade).
Maníacos (fase maníaca da bipolaridade 1 e 2), esquizofrénicos excitados. Não aparece na catatonia, mas sim
na esquizofrenia. Doente tem hipercinese, hiperatividade – tem relação com taquipsiquia. Não tem direção
nenhuma. No meio do discurso conta anedotas, conta sketches do Herman José e do Gato Fedorento, Bruno
108
Nogueira, etc... no discurso rápido surgem estas informações ocasionais que não têm anda a ver com a ideia que
está a transmitir sobre a sua história... muitas vezes é tão rápida que existe um descarrilamento do pensamento.
Informação que mistura que compromete a alteração do curso.
Gradiente mais grave da bradipsiquia. Doente está bloqueado, não consegue ver televisão, acompanhar uma
tarefa, etc.- depressão moderada / severa, muitas vezes acompanhada por ideação suicida. Diminuição clara
no processamento de informação, em dar significado às coisas. – Típica da depressão inibida.
Versão cognitiva da obstrução! Quem tem obstrução, tem bloqueio do pensamento. Acontece com o pensamento
o que acontece com o movimento. Curso do pensamento é completamente interrompido, subitamente, não
voltando ao ponto de paragem, podendo surgir depois um outro pensamento totalmente novo. Pessoa não
retoma raciocínio anterior. Típico da esquizofrenia.
Tem a ver com a sua organização, como está estruturado. Não tem a ver com a velocidade nem com aspetos ligados
à posse nem ao conteúdo. São conhecidas como alterações formais do pensamento.
Pensamento mais comum da depressão. Todos os deprimidos têm pensamento perseverante. Ideia que se
sobrepõe a todas as outras, ideia sobrevalorizada. Uma interpretação que a pessoa faz que se sobrepõe a todas
as outras, que está subjacente e que se repete. Que se destaca de todas as outras ideias. Ideia depressinogénica:
não presto; não tenho valor; não faço cá falta; nada vai mudar. Este conjunto de ideias sobrepõe-se a todas as
outras. Ideia perseverante, mesmo quando os dados mostram que é falsa. Tem a ver com uma ideia perseverante
de derrota, que se sobrepõe a todas as outras. Também existem ideias perseverantes em quadros ansiosos. Muito
comum.
Típico das perturbações obsessões. Podem ser Obsessivo-compulsivas da personalidade, cluster C. Também pode
aparecer em algumas pessoas com POC. Também acontece com pessoas com traços altivos, snobs, orgulhosos.
Mesmo o snobismo e pedantismo são estratégias compensatórias de inferioridade. Pensamento muito detalhado em
termos formais, cheio de detalhes irrelevantes, atinge o objetivo. A pessoa perde-se em detalhes pormenorizadas (não
é a trivialidades). Os outros apanham uma seca brutal e viram a cara, apanham uma seca enorme. Vê-se em alguns
alunos nos testes: é tão detalhado que se desfocam do essencial. Não discriminam a informação relevante da
acessória. Tendência obsessora. Muito comum.
109
Tipicamente dos esquizofrénicos negativistas (mais resistentes, do contra). Não percebemos no discurso do doente
qual é formalmente a finalidade da mensagem. Não tem a ver com a mensagem em si (a mensagem em si tem a ver
com o conteúdo do pensamento). O terapeuta acaba por conseguir perceber o que o doente está a dizer porque infere
de acordo com as respostas tangenciais. Respondem completamente ao lado, não atinge o objetivo. Respondem às
questões, sobre as questões, mas não respondem diretamente ao assunto. Dão uma resposta ligada. No fim o
terapeuta tem de estar atento para conseguir compreender e recolher informação. Terapeuta vê-se obrigado a alargar
a conversa para conseguir obter a informação.
Há doentes que pode ter vários tipos de pensamento: tangencial, Sobreinclusivo, circunstancial...
O doente não estabelece limites dos conceitos. Estabelece ligação com todos os conceitos. Discurso vago, mas os
conceitos estão todos relacionados e a sobreporem-se uns aos outros. Terapeuta não consegue compreender qual é
de facto a mensagem que ele quer passar, pois ele mistura tudo. Típico de esquizofrénicos. Todos com esquizofrenia
têm, a não ser que estejam compensadas. Torna impossível a funcionalidade do trabalho ou académica.
Sem finalidade, desarticulado, sem nexo. Neste tipo de alteração pode ser acompanhado com alterações motoras e
linguísticas até. Esquizofrenia.
Número de ideias por minuto a passar na cabeça. Dizem que a cabeça está a estoirar porque o número de
pensamentos é muito grande. Pergunta-se “quantos pensamentos tem por dia? Mas vem com uma rapidez TGV ou
regional? Os doentes deprimidos vêm de regional...”. Típico de esquizofrenia. Não confundir com a velocidade.
Grande número de produção de pensamentos. Queixam-se que têm dores de cabeça. Dificuldades a dormir e no
apetite. Vivência de terror, de pânico implícito na pressão do pensamento e nas seguintes que iremos falar.
Nota da professora (curiosidade): 20% das pessoas que fazem surto psicótico podem não voltar
a fazer mais nenhum surto. Mas têm de ser acompanhadas de 5 a 10 anos a nível psiquiátrico,
com psicofármacos (dose subclínica), para garantir que a pessoa não recai. A partir do momento
em que há mais uma recaída, depois é difícil recuperar.
No sentido clássico, nos livros é considerado que uma alteração da posse é obsessão. Mas a professora diz que não é.
Para a professora, a alteração da posse reflete que o pensamento é minha propriedade e que sou eu o autor do
pensamento. Quando não conseguimos manter esta ideia (não sinto estranheza por aquilo que penso, porque é meu),
quando estes fenómenos acontecem e os doentes perdem o sentido da propriedade do pensamento, é tipicamente
psicótico. A professora não considera que a obsessão seja isso, no entanto teremos de estudar como estão nos livros
110
clássicos. Obsessão: pensamentos, impulsos ou imagens, repetidas (perseverante) produzida pelo eu meu, apesar
de ser intrusivo (vem contra a minha vontade), provoca um grande desconforto, luta interna.
Dissonância com o eu – egodistonia – o que acontece com os pensamentos obsessivos. Provocam ansiedade,
desconforto, medo e, nalguns utentes, até repugnância: desencadeia mal-estar o pensamento intrusivo, que pode ser
na forma de ideias, vejo as imagens ou nos impulsos. Como é intrusivo, não quero pensar sobre aquilo. E depois quando
pensamento vem, que é completamente absurdo, imoral, aversivo, cria desconforto. Congruência com o eu –
egossintonia (doente não coloca em questão estes sentimentos egossintónicos, mantendo a postura crítica da
realidade. Ou seja, situações de anorexia em que a pessoa não compreende que se encontra mal, nãos e coloca em
causa)
Há uma ligação estreita entre os pensamentos obsessivos e as compulsões. Se os pensamentos são de contaminação,
os rituais são de lavagem, por exemplo. Se o pensamento é na forma de dúvida, as ritualizações são de verificação.
Quer o pensamento obsessivo quer a ritualização geram ansiedade, se bem que esta última serve para reduzir a
ansiedade. Perguntas importantes no exame mental “o que aconteceria se não ritualizasse?”. Diagnóstico: Típico
da POC. Mas há deprimidos que têm alguns rituais ou alguns pensamentos obsessivos, mas sem critérios para POC.
E algumas pessoas com esquizofrenia que têm pensamentos obsessivos. POC é extremamente grave e pode levar a
surtos psicóticos. Há pessoas que já nem saem da cama por ritualizam tudo.
Há uma rutura na perceção de que o pensamento é meu e experimenta os pensamentos que a mente produz como
sendo controlados de fora por outros. É o doente entender que o que está a pensar não é dele, mas que forças
exteriores lhe colocaram aquilo na cabeça, ou ter a sensação que os outros participam nos seus pensamentos.
Conteúdo tem a ver com “o quê” da mensagem. Aqui surgem as ideias delirantes. Todos nós temos pensamentos
automáticos transitórios. Que criam um pouco de preocupação e desaparecem. Pensamentos automáticos negativos,
com psicoterapia, o doente aprende a lidar com eles. São egossintónicos. Que distorcem a realidade, mas que podem
ser desconfirmados. Existem vários tipos. No delírio isso não acontece. É uma crença inabalável. E não há nada que
conste para o doente que ela falsa. Crença inabalável que resiste ao confronto com a lógica. No delírio estás a
processar uma coisa, a interpretar (não é visual, não há delírios visuais – a isso dá-se o nome de alucinações e é outro
tema que abordaremos mais à frente). O delírio é sempre linguístico, que está completamente em desacordo com o
passado, com o contexto, e que se faz completamente verdadeiro, mas na verdade é 100% falso. “Passo aqui no
111
corredor e as pessoas estão a murmurar... de certeza que é contra mim, que me vão fazer coisas, e isso é muito
perigoso e estou em perigo”. Quando se lhe pergunta (ao doente) que dados tem para identificar isso, que o murmurar
é sobre si, na verdade não há dados confirmatórios. Exs: Delírio de ruína: acham que são completamente arruinados
a nível financeiro, crença inabalável mesmo perante os dados. Delírio de erotomania: doente apaixonou-se por um
professor, deu cabo da vida dele e este teve de se divorciar. Chega a casa dele e fala com a mulher, escreve coisas,
escreve coisas por ele, completamente delirante. Espera pelo fim da aula para persegui-lo. Processos em tribunais: diz
que ele a violou, fez isto e aquilo e até no gabinete. Mas não é real, não está com ela. Acredita que é amada
loucamente e os comportamentos são orientados por falsas crenças.
Pode haver delírios primários ou secundários. Os primários são os mais preocupantes, são os que aparecem sem
explicação prévia para os compreender. Típico da esquizofrenia, da perturbação psicótica. Todas as perturbações
psicóticas têm atividade delirante.
Delírios: Temos uma série de pensamentos. Uns são mais transitórios, outros mais permanentes, negativos, temos
ideias sobrevalorizadas. No fim deste contínuo de severidade, a crença mais grave e perturbadora é a crença delirante
(completamente errada e distorcida, em que não há qualquer forma de demonstrar que é errada, não é suscetível e
argumentação). A palavra de resistência ou confronto lógico quer dizer que os dados da realidade não são
suficientemente claros para questionar e demonstrar de uma forma inequívoca a falsidade da crença, a distorção e o
quanto a crença é errada. Estas crenças não estão de acordo com as lógicas culturais do indivíduo. Estes delírios
cortam completamente com o esquema cultural relativamente à forma como vemos o mundo, entram em
desacordo com o passado cultural e social do doente, e não há forma sequer de mostrar de uma forma
confrontativa que a crença é falsa sem sentido e isso pode até potenciar a crise (medo e ansiedade sempre presente
e pode aumentar). O que é normalmente eficaz e regula os processos verbais do pensamento do doente é a medicação
/ fármacos e os antipsicóticos / neurolépticos. Alguns doentes mesmo fazendo medicação mantêm uma tonalidade
autorreferente (dirigido ao próprio). Os delírios, implicitamente são todos autorreferentes (tudo está relacionado
comigo, não interessa se são os outros ou os objetos ou o que seja, mesmo que dos / nos outros, tudo tem a ver
comigo).
Mesmo antes do aparecer o delírio, fase prodrómica (2 a 12 meses antes), já há algum comportamento diferente no
doente que por vezes escapa aos familiares e aos amigos. Doente já vai manifestando que sente que as coisas estão
a acontecer em torno dele, que tudo acontece por causa dele ou para ele, ideia autorreferencial, e há de facto um
momento, quando a crise acontece, quando o surto psicótico se dá, surge uma epifania (revelação) do que esteve ali
implícito prodromicamente durante algum tempo, há um eclodir, os sintomas são tipo pipocas a estalar no micro-
ondas e um desses sintomas do surto poderá ser (e muitas vezes é), o delírio.
Este delírio, ideia delirante, cognição delirante, ou pensamento delirante, no que diz respeito
à esquizofrenia e às perturbações psicóticas, as ideias delirantes não são explicadas por outro
fenómeno, são completamente primárias, ou seja, surgem sem qualquer causa que as
explique os as provoque.
• O que não acontece em outras perturbações que iremos observar, em que os delírios
são secundários a outros sintomas: alcoolismo crónico (dependência e sintomas de
abstinência em relação ao álcool, ou seja, alcoolismo considerado grave em que os
indivíduos poderão ter secundariamente delírios. Por exemplo o delírio tremens, que é um
sintoma muito agregado ao alcoolismo, mas os alcoólicos têm outro tipo de delírios secundários (a causa
destes é o consumo excessivo e intenso regular de álcool).
• Na perturbação psicótica induzida por substâncias, há pessoas que fazem surtos por
consequência dos consumos, e os delírios são secundários.
Como se fazem as perguntas para detetar o delírio: Pergunta central: “Tendo em conta as
ideias que tem, quais são os dados nos quais se fundamentam as suas ideias? Que garantias
tem que isso acontece mesmo assim? Quais são os comportamentos dos outros que
demonstram que realmente o querem matar? Que faz o seu padrão de forma clara para que
acredita em 100% que mandou alguém vigiá-lo. Perguntas que promovam o confronto com a
lógica.
É importante perguntar também se surgiu alguma coisa no passado (sintoma) que esteja na base desta
interpretação. Para sabermos identificar se o delírio é primário ou é secundário. Pois, o delírio secundário vem
112
sempre no seguimento de um sintoma prévio, e por isso podemos perguntar ao doente que “mesmo parecendo que
o que diz não é muito confirmável com os dados, qual será a relação com isso e os sintomas anteriores?”. Pois
provavelmente poderemos estar presentes a delírios secundários.
Perceção Delirante
• É uma experiência, sempre primária, que consiste na atribuição de um novo significado,
geralmente no sentido de auto-referência, a um objecto percebido normalmente. É um
sinal de primeira linha para o diagnóstico de esquizofrenia.
§ Diferente da interpretação delirante
É uma alteração do pensamento, à qual os autores consideraram ser uma perceção delirante porque, na verdade, a
perceção não está alterada, o doente é capaz de ver o que está a acontecer, e o que está a ver está a acontecer. Por
exemplo diz que ouve um ruído, ouve um elevador no prédio e a perceção está correta porque de facto há barulho no
prédio, e aquilo que o doente vai fazer é atribuir um significado novo a um estímulo que é correto, a partir de uma
perspetiva autorreferencial. Os delírios aparecem a partir da perceção delirante, sempre, pois o primeiro fenómeno
que surge, primário e sem qualquer explicação, é a perceção delirante. A partir daí, toda a interpretação que o
doente fizer, é delirante. No fundo a ideia delirante contém dentro dela a interpretação delirante. Todos os
pensamentos que temos são interpretações, leituras do mundo, interpretações dos dados. É como a avaliação que os
alunos têm a psicopatologia, varia consoante a interpretação de cada um relativamente à matéria. Se assim não fosse,
todos teriam as mesmas notas. Perceção é a síntese que a mente faz de uma série de dados dos órgãos dos sentidos,
está relacionada com a modalidade sensorial e o doente, neste sintoma, vê as coisas como elas são, elas estão lá a
acontecer do ponto de vista sensorial. Depois a interpretação e o significado que ele vai dar a essa síntese dos
dados sensoriais pode ser delirante na medida em que pode dizer que determinada coisa que é observada está ali
daquela maneira para sinalizar a pessoa que vai ser eliminada, por exemplo – é uma interpretação que não tem
nada a ver com os dados obtidos pelos sentidos.
A partir do momento em que a perceção delirante acontece, tudo o que o doente vai dizer sobre os dados, histórias e
acontecimentos, será delirante. Serão interpretações delirantes.
Ex: Alguém que está num bar a tomar café, e observa o copo da pessoa que está à frente e observa que este está meio
cheio de cerveja. Mas a partir do momento em que vê que aquela pessoa levantou o copo com cerveja para beber,
começa a compreender que aquela pessoa faz parte de uma conspiração para matá-lo com remédio dos ratos. Isto é
uma perceção delirante, o doente descreve realmente o que está a acontecer só que lhe atribui uma interpretação
nova. Outro exemplo: Estudante universitário, a tirar um curso de línguas. Antes da pandemia, ele entra na aula e
senta-se. Já andava ansioso desde o ano anterior e já tinha tido esta professora noutra disciplina. Pelas dificuldades
que tinha em dormir sentou-se no anfiteatro muito perto da porta. Se não se sentisse bem podia levantar e sair sem
constrangimentos para os outros. Uma professora de 60 anos, alta, loira e de cabelo comprido. Explica bem a matéria,
mas, por causa do cabelo, passa o tempo todo a ajeitar o cabelo, de acordo com o aluno (como que um tique). Ela faz
mais uma vez o tique de ajeitar o cabelo e o rapaz fica a saber convictamente que ela sabe que ele é gay e que todas
as 6as feiras, num determinado campus da universidade, presta alguns serviços sexuais por 10 euros a outros gays
– Perceção Delirante. Teve uma crise, desatou a correr da aula, deixando os objetos pessoais dele. Quando surge essa
perceção delirante, ele estava corretamente a perceber o estímulo tal e qual como tudo estava a acontecer, mas tem
uma convicção delirante autorreferencial. A partir daí, toda a elaboração que voltou a fazer acerca da perceção dos
colegas, de outras pessoas, da família e inclusive de outros professores da universidade, e até do reitor da
universidade, é que todos sabiam que era gay e que tinha estes comportamentos ilícitos (que na cabeça dele são
ilícitos) de ganhar dinheiro com serviços sexuais. Este é um exemplo muito claro do que é uma perceção delirante.
Apesar de causar muita ansiedade, nos dias a seguir a ansiedade baixa, quando o doente recupera o insight (o doente
com perceção delirante perde completamente o insight ou teste crítico da realidade).
Interpretação Delirante: vivo num prédio velho com outros estudantes. Sozinho numa casa. Havia um elevador antigo.
A partir do episodio que aconteceu na aula de francês, ele começou a ouvir ruídos no elevador e a ter a interpretação
delirante que os vizinhos / colegas / estudantes universitários, apesar de serem de outros cursos todos sabiam que ele
era gay e que fazia aqueles serviços, e que no fundo o iriam expulsar da universidade, e que nunca teria a hipótese de
ter um emprego e que iria ficar completamente na sargeta. Os ruídos do elevador eram ouvidos e tudo o que passou
a interpretar a partir daí era delirante. O primeiro fenómeno que aparece é a perceção delirante e depois vem o
delírio organizado.
113
Delírios
Vamos falar agora dos diversos tipos de delírios. O primeiro fenómeno que acontece é a perceção delirante, a partir
do qual há uma construção de significado delirante.
• Sistematizados
o Delírios Persecutórios
Delírio mais frequente: persecutório, também conhecido como paranoide (também está correta esta nomenclatura).
Muito comum até em pessoas sem psicopatologia, pois a paranoia é uma estratégia de coping inata, já nascemos
com ela, que nos permite defendermo-nos de ameaças ao self. Qualquer pessoa pode desconfiar da intenção dos
outros, mesmo percebendo que não há razões para isso. Ainda assim isso acontece. A ideia paranoide surge num
continuum que culmina no delírio paranoide. O que carateriza a mente paranoide: mente desconfiada da
intencionalidade dos outros (ações dos outros). É hostil, agressiva que pode ser verbal ou física (insultos, críticas
verbais, bater e empurrar). Suspeição: todos os paranoides são desconfiados, hostis e suspeitam. Estas caraterísticas
estão implícitas no delírio persecutório. Estes são delírios que incluem perigo e ameaça no conteúdo dos pensamentos
delirantes persecutórios. Encontramos na esquizofrenia, perturbações psicóticas, perturbação delirante, perturbação
psicótica induzida por substâncias, e em outros doentes com demência (aqui o delírio não é primário, é secundário).
Neste último caso, normalmente, o doente em lar queixa-se aos familiares que lhe andam a roubar o dinheiro que
estava escondido nas cuecas na gaveta, e roubam os meus objetos e o meu ouro. Percebe-se que é um delírio porque
não há base de sustentação, nem sequer há dinheiro ali nem objetos valiosos. Nem provas de roubo. Mas é frequente.
E muitas vezes até acontece contra os próprios filhos o que costuma provocar crises familiares terríveis. Na
esquizofrenia, os delírios persecutórios são de primeira ordem, não há outra explicação ou causa que o justifique.
Inicia-se com a perceção delirante, que no fundo é dar um significado diferente e autorreferencial ao que se está a
observar.
o Delírios de Grandiosidade
Muitos autores consideram que estes relacionam-se com os paranoides. Na verdade, os doentes que têm delírio de
grandiosidade desenvolvem o raciocínio paranoide por causa do delírio de grandiosidade. Convicção falsa em que o
sujeito acredita erradamente que tem talentos extraordinários, é genial, que tem extremo talento ou que é muito
importante e grandioso. “vou começar a trabalhar diretamente com o novo primeiro-ministro. Já sei qual é, mas não
posso dizer, porque é segredo. Sou muito importante. Mas vou construir com ele um manual de economia para tirar
Portugal da situação em que se encontra e para tirar os impostos às pessoas.” Entretanto percebemo-nos que este
doente não tem competências para isso a partir dos dados, por exemplo, tem apenas o 9º ano de escolaridade, não
tem capacidade para escrever um livro sobre microeconomia ou macroeconomia. “Vou ganhar o prémio nobel da
literatura”. Este diz que a partir de uma escrita autodenominada “prosolix” (neologismo) que sugere a ideia de
energia, que é uma prosa mais em verso, vai ganhar esse prémio e reformular o paradigma da literatura. Delírio de
grandiosidade Missiónico: limpar o lixo das florestas e vendê-lo para com esse dinheiro e fama abrir um projeto de
reflorestação e assim salvar o mundo. Também pode estar relacionado com facto de o doente dizer que é sobredotado
para alguma atividade como tocar instrumentos musicais muito mais que o Mozart, por exemplo. Também que
frequentam a casa de atores famosos como a Angelina Jolie, e sabem qual vai ser a próxima tranche financeira que
irá dar aos países pobres e qual o próximo filho que irá adotar. Encontramos na esquizofrenia ou na psicose, mas
também na mania mas também na perturbação bipolar 1 ou 2 na fase maníaca. Muitas vezes é difícil haver adesão à
medicação porque os doentes adoram a forma como se sentem o sentir da grandiosidade. E por isso muitas vezes faz
raciocínios paranoides quanto a implementação da medicação: “tu queres é tirar o poder que é meu”. Há uma grande
dificuldade em ajudá-los.
o Delírios de Ruína
Oposto ao de grandiosidade. Doente insiste de uma forma inabalável, falsa e errada, de que esta arruinado,
completamente falido, economicamente nas lonas. Não tem bens nenhuns, alguns até dizem que nem roupa têm.
Encontramos na depressão, mas particularmente na depressão psicótica. Deprimido, mesmo que sinta que a vida vai
correr mal, que quer desistir, que as coisas não correm bem, isso não é propriamente delirante. se se tornarem
delirantes, resistirem ao confronto da lógica, então encontramo-nos no espetro da perturbação psicótica. Na
demência também encontramos isso. Também pode acontecer com epiléticos do lobo temporal: doença que tem
alterações e sintomas psiquiátricos.
114
o Erotomania
Doente que anda a perseguir um dos professores. Eros (deus do sexo). É uma convicção falsa, inabalável, infundada
que uma outra pessoa (habitualmente influente e inatingível – não faz parte do ciclo de relações do doente - muito
dominante) que essa tal pessoa está perdidamente apaixonada por si. O que faz com que faça coisas como mensagens,
emails, perseguições nas redes sociais, vai ao serviço e a casa dele, deixa-lhes bilhetes relacionados com o amor
escondido que ambos têm. Mensagens que normalmente estão encriptados (letras ao contrário, tipo um código que
só eles entendem e que são trocas de amor). Super constrangedor e prejudicial a outros casais. Pode ser com um
apresentador de TV, ou um artista de cinema, ou um CEO altamente dominante e culto, conhecido na sociedade e a
pessoa pensa que tudo o que ele diz na televisão é tudo mensagens para ela, que são códigos direcionados para ela a
dizer que é a mulher da sua vida, entre outros. Mesmo estando internados por delegação judicial após acusação dos
ofendidos, durante anos, continuam a acreditar na mesma coisa.
o Delírios de ciúme
Oposto do delírio de erotomania. Aqui, há a convicção inabalável que o cônjuge ou amante ou namorado é
completamente infiel. Muitas vezes considerado um delírio persecutório: na base da ideia de ciúme está uma ideia de
desconfiança, de hostilidade e suspeição. Por isso é um subtítulo do delírio paranoide. Ciúme excessivo muitas pessoas
têm, sintoma que surge em muitos outros quadros clínicos (depressão, consumo de álcool que provoca atitudes
agressivas e de suspeição de infidelidades (delírio secundário)). Neste continuum de gravidade, quando a
argumentação de ciúme deixa de corresponder ao confronto com a lógica, não há dados, delírio de ciúme. Ciúme
mórbido é persecutório. Delitos e crimes passionais em Portugal são imensos (alguns nem são premeditados e surgem
na consequência de ataques de fúria), e judicialmente, por terem a doença psiquiátrica, são de certa forma protegidos
não indo presos, mas sendo internados permanentemente em instituições psiquiátricas. Muitos dos homicídios
(heteroagressão) são consequências dos sintomas psicóticos. E o delírio é um sintoma grave. Ciúme mórbido /
patológico / persecutório acontece muitas vezes em indivíduos com perturbação paranoide da personalidade ou em
indivíduos que tenham outros quadros clínicos mas tenham de facto um ciúme excessivo e irracional.
o Delírios somáticos
Ideias delirantes falsas, em que o doente está convicto que está doente quando não está, de forma completamente
delirante. ou que tem uma caraterística física prejudicial fora do normal. Ex: doente que diz que tem no ventrículo
esquerdo um buraco / espaço onde estão um casulo de larvas de baratas microscópicas. Delírio somático, porque tem
a ver com uma crença inabalável de que se está doente sem estar, ou que se tem uma caraterística física fora do
normal em si. Ou ter cobras de água nos rins. Ou dizer que não sabe o que aconteceu, mas que não tem cérebro neste
momento porque este desapareceu. Ou dizer que os sinais que tem na cara são detritos ed um carcinoma gravíssimo,
mas controlado por pessoas que estão no algarve. É um delírio somático com uma pitada de delírio persecutório à
mistura, o que é bastante comum. Ou dizer que não toma o psicofármaco antipsicótico para os delírios somáticos
porque desconfia que este gangrena-lhe o pénis. E tem medo da amputação do pénis. As perguntas do profissional
vão no sentido de desconfirmar a falsa convicção pedindo para mostrar o pénis ou tirar foto, para perceber se a cor
está realmente rosada ou negra da necrose, mas o doente recusa-se e diz que não quer entrar mais em tratamentos
porque qualquer dia “cai-lhe o pénis”. Aparece na esquizofrenia, na perturbação psicótica, mas secundariamente na
demência e na mania. Assim como na perturbação delirante, que é diferente da esquizofrenia. São várias perturbações
psicóticas (ver DSM para distinguir esquizofrenia catatónica de catatonia; perturbação delirante de esquizofrenia).
o Delírios niilistas
Aparece muito agregado à síndroma (conjunto de sintomas) de Cotard. Cotard foi um psiquiatra francês que deu nome
a este conjunto de sintomas: acreditam de forma infundada que estão mortos. E que necessitam de ser enterrados.
Alguns ate acreditam que já estão em putrefação, que não têm órgãos internos, que estão de decomposição e que no
fundo o mundo exterior já não existe. Encontram este delírio na síndrome de COTARD e não na depressão.
• Não sistematizados
Agora vamos falar da organização dos delírios, uma vez que já falámos dos tipos. E a organização vem de acordo
com a sua sistematização. Os sistematizados são delírios que têm uma articulação entre si, e cujas ideias são
sistematizadas, interligadas e estáveis. Pessoa acrescentar coisas para corroborar e dar consistência ao pensamento
que é completamente falso, e percebemos que a articulação das ideias é estável e sistematizada. E percebemos que
estes acontecem na esquizofrenia e perturbações psicóticas. Delírios não sistematizados são instáveis. A pessoa
muda rapidamente de conteúdo e não conseguimos perceber a organização das ideias. Estas não têm qualquer
ligação ou organização / articulação. Pode acontecer na perturbação delirante, assim como no alcoolismo. Má
115
organização das ideias. Nestes doentes vamos encontrar habitualmente alterações formais do pensamento:
pensamento desorganizado, incoerente, sem lógica e que não sem compreende as mensagens. Até temos dificuldade
em perceber que tipo de delírio é, por que os sistematizados existe uma articulação bem estruturada.
7- Perceção
Uma pessoa que se vê suja, quando não está, isso não é um delírio. Porque um delírio é percecionar a realidade e dar-
lhe uma diferente interpretação, uma interpretação autorreferencial. O que a pessoa poderá ter é uma alteração da
perceção, o que é muito comum nas idades mais avançadas.
Perceção é considerada uma função básica, intelectualmente superior como a atenção e a memória, entre outros,
associada à forma como o cérebro funciona. Está relacionada com a nossa capacidade percetiva, capacidade de
integração dos dados. Processo o input bruto do exterior (através dos órgãos dos sentidos), e faço depois a síntese.
Está assim relacionada com a modalidade sensorial (audição, visão, tato, olfato, aparelho gustativo e cinestesia).
Distorções sensoriais: tem a ver com erros na interpretação. Temos dois tipos de alterações relacionadas com
a intensidade da perceção (do som, da cor, do cheiro, do gosto, do paladar, do toque).
Quando estamos bem e temos um estado de humor normal (e sabemos que a hiperestesia e hipostesia estão
associados a estados de ansiedade e depressivos) notamos ainda assim alterações na forma como funcionamos e
percecionamos. Encontramos pessoas próximas que nos dizem de vez em quando, em alguns momentos, que não
aguentam com o barulho, quando sabemos que o barulho que está a acontecer é o normal, que não é incomodativo
para ninguém a não ser para aquela pessoa. A intensidade do som perturba e isso tem a ver com a hiperestesia: não
aguento este som, dá-me cabo da cabeça, não aguento tantas cores e estímulos, faz-me confusão. Muitas vezes as
pessoas quando andam mais em baixo, gostam mais de cores menos estimulantes, mais neutras... o que notamos
quando há um aumento da intensidade da modelada sensorial, é hiperestesia. Muitos doentes deprimidos vivem isto.
Também pode acontecer quando dormimos pouco, estamos em privação de sono, ou estamos cansados por estudar
na época de exames, etc. Hipersensibilidade do aparelho sensorial. É uma hiperestesia, perfeitamente comum e
acontecer na intensidade. Também pode acontecer o contrário, alguns doentes deprimidos terem uma diminuição
da intensidade: não sentem, perdem paladar, não percecionam devidamente os resultados das modalidades dos
sentidos. Diminuição da quantidade do que é percecionado (hipoestesia). Também comum.
Implica a maior parte das vezes consumo de substâncias. Só modifico a minha experiência percetiva a nível de
qualidade se de facto tomar alguma substância. As cores passam a ter outro formato, o desenho também, a nível de
audições também e no tato, etc.
Enganos sensoriais (Muito Importante): existem dois tipos de alterações: ilusões e alucinações
Não é propriamente patológica. Há muitas pessoas que têm este sintoma e acontece pontualmente. É
diferente do significado clínico da alucinação. A ilusão é uma distorção exagerada relativamente a um
estímulo físico real. Para haver esta falsa distorção, existe uma combinação que acontece entre um
estímulo físico real e um estado mental prévio. Ex: imaginamos que a Margarida e o Miguel vão jantar
116
fora. O Miguel decide ir para casa de Uber e a Margarida a pé. Esta começa o caminho a pé e depois chega
a uma rua mais escura, com poucas pessoas. Muitas vezes acontece que quando nos encontramos em ruas
escuras de noite, há sempre um estado mental prévio, uma pequena apreensão, sensação de algum perigo
(defesa do corpo). Depois pode ter a sensação, quando se vira para trás que está a ser perseguida, que vê
sombras e isto é um fenómeno ilusório: uma distorção da perceção que há um estímulo físico real. A
combinação do estímulo (escuro da rua) com o estado mental prévio (apreensão por estar isolada, sozinha
e de poder ser perseguida). Miragens dos oásis são também ilusões visuais, que derivam de um estado
mental prévio de sede / fome, precisar de descanso e de sombra, e associa-se a uma distorção porque a
pessoa vê um oásis numa pedra ou num monte de areia ao fundo. Ou ouvir ser chamado o nome no soprar
do vento e no barulho das árvores, ou então na praia. É também ilusório, e tem a ver com o estado mental
prévio de que estou sozinho ou que estou à espera de que alguém chegue, ou à espera de que alguém me
chame que depois se vai combinar com o estímulo que está ali: ondulação do mar, vento, brisa, etc. Não
é patológico. No entanto há doentes com perturbação delirante que podem ter fenómenos ilusórios,
descrever sintomas típicos da ilusão. Mas é importante saber que este fenómeno é menos patológico,
não acontece na psicopatologia.
Estes sim, têm significado clínico completamente diferente. Experiência alucinatória pode ser comum, todos nós
podemos experienciar, porque é uma experiência que acontece de dentro do cérebro, vem de dentro, e qualquer
pessoa pode de facto alucinar face a certas circunstâncias (sob certas condições que fazem com que o cérebro produza
informação que não está lá). Alucinação é uma perceção sem objeto. Estou a ouvir vozes, conversas dirigidas a mim,
e não está ninguém a falar para mim. Não tem qualquer objeto. A alucinação vem de dentro e a pessoa responde a
ele como se viesse de frente (alucinação auditiva, como se alguém estivesse a falar para os ouvidos). É ausente do
estímulo auditivo. Se for uma alucinação visual, uma perceção sem haver informação sensorial concreta que aponte
naquele sentido, e é completamente de dentro da cabeça. A pergunta que se tem de fazer, para a alucinação auditiva:
O que você está a ouvir vem de dentro da cabeça ou está a ouvir como se alguém de fora estivesse a falar consigo?
Pergunta lógica. O doente habitualmente responde que está sozinho, que não está lá ninguém. Alucinações
olfativas: doente tem cheiros particulares, sempre bizarros e desagradáveis, mas não há cheiro nenhum presente
porque se houvesse o terapeuta também cheiraria. Portanto não existe nenhuma informação olfativa. Paladar: tem
um paladar horrível na boca, não há dados nenhuns nem justificação para ter aquele paladar, a informação não está
lá. Definição de alucinação: perceção da modalidade sensorial sem objeto! Como de facto a perceção tem a ver com
o aparelho dos sentidos, há diversos tipos e alucinações de acordo com a modalidade sensorial.
No entanto há determinadas alucinações que acontecem em pessoas sem psicopatologia, embora se se torna
repetitivo já é sugestivo da presença de alguma doença orgânica. São alucinações Hipnagógicas e Hipnopômpicas.
As primeiras ocorrem entre o estar acordado e o dormir (nessa fase de transição). A segunda ocorre quando estamos
a dormir e começamos a acordar (na fase em que estamos a acordar, mas ainda estamos no sonho – como por
exemplo vermos o cenário com o qual estávamos a sonhar e ouvirmos alguém a chamar o nosso nome). São
alucinações sempre visuais e às vezes podem acompanhar com sons (que normalmente está relacionado com o
chamar o nosso nome). Mas a maior parte das vezes são visuais. Quer as primeiras quer as segundas. Elas não são
indicadoras de psicopatologia, mas se houver queixa que estão a ser repetitivas, podemos perceber que aparecem
em algumas doenças orgânicas como a doença do sono (que já falámos) – narcolepsia, onde acontece a catalepxia
(perda repentina do tónus muscular durante o dia e a pessoa cai e adormece mesmo quando está em estado de
vigília). Doentes com narcolepsia para além de terem catalepxia têm alucinações hipnagógicas e hipnopômpicas-
verem coisas que não estão lá, quando estão a acordar, a sair do sonho, e associado ao que estão a ver podem ouvir
o nome). Nota importante: Estas alucinações não são de facto indicadoras de psicopatologia e de seguida vamos falar
das que são indicadoras de doença psiquiátrica.
Podem ser de vários tipos (embora saibamos que elas acontecem nas modalidades sensoriais,
mas estão divididas neste tipo de organização):
Alucinações:
• Elementares: constituídas por flashes de luz
Alucinações básicas (não tem a ver com problemas oftalmológicos) tem a ver com flash e luz, feixes de luz coloridos e
flashes, tipo cauda do cometa. Logico que mais ninguém vê. A explicação dos doentes para a experiência alucinatória
é sempre delirante. muitas vezes os delírios são utilizados para dar um sentido de organização à experiência
117
alucinatória, quando os doentes não sabem muito bem o porquê de acontecer. Acontece no surto psicótico. Muitas
vezes o primeiro sintoma é a alucinação e não é propriamente a perceção delirante. Os doentes com esquizofrenia
têm as duas coisas: perceção delirante e alucinações.
Alucinação pode conter desenhos, imagens, sem sentido e ilógicos associados à música por exemplo. e o doente pode
ouvir o conteúdo da melodia (não as vozes, senão seria organizada) e pode ouvir excertos daquela música (o que é
diferente de andar com aquela música na cabeça durante alguns dias, o q acontece com todos). E o doente pode ouvir
aqueles excertos da música quando mais ninguém está a ouvir, associada ao desenho. Ou pode ser a melodia de uma
nota musical por exemplo. Pode haver também o ruído de uma nota associado com o desenho. Ou o ruido da corneta.
E o doente ouve esse ruido da corneta associada a um desenho e mais ninguém ouve a corneta nem vê o desenho.
Aparece nas perturbações psicóticos, como na epilepsia (do lobo temporal). Nas epilepsias temporais os doentes
podem ter alucinações elementares ou parcialmente organizadas.
Há vozes, há imagens, animais, movimento. É quase como se fosse montada uma história, é completa. Pode acontecer
na esquizofrenia (aqui as alucinações são organizadas, não são elementares) ou nas perturbações delirantes
(porque é psicótica) ou na perturbação psicótica induzida por cannabis (doente pode alucinar e ter alucinações
organizadas).
São as responsáveis por 10% dos doentes cometerem suicídio. O doente vê-se obrigado a fazer o que voz o manda
fazer. Representa uma perigosidade, resistir à voz é muito difícil. São completamente assustadoras, às vezes tentam
tapar os ouvidos para não ouvir. E o que também pode acontecer é comportamentos de auto-agressão em relação
aos outros. E por isso muitas vezes tem de ser internado compulsivamente, para não se ferir a si nem aos outros. Por
isso alguns bebem álcool ou consomem substâncias para amolecer as vozes de comando. Típico da esquizofrenia as
vozes dialogadas e as vozes comentadoras (na 3ª pessoa). Quando a voz é ouvida e formulada em voz de comando
no tu (2ª pessoa) é típico da alucinação psicótica. Atenção que não se deve fazer perguntas diretas ao doente do
tipo: “Você ouve vozes?” obviamente que o doente vai dizer que não. Mas temos de perguntar se alguma vez ouvi
alguma coisa ou surgiu nos ouvidos sem haver um estímulo auditivo. Tem de ser uma pergunta genérica porque
este doente não tem insights e não é fácil que colaborem nas questões no sentido de nos dar as respostas que o
terapeuta necessita de ter.
Também é possível alguns doentes com esquizofrenia terem o eco do pensamento. O doente ouve em eco os seus
pensamentos repetidos. Mas ouve-os como se fosse de fora, por isso é que é uma alucinação. É diferente de alteração
da posse do pensamento e divulgação do pensamento (aqui o doente sente que os seus pensamentos são divulgados
na televisão).
118
Alucinações visuais (estados orgânicos agudos e esquizofrenia)
Muitas vezes acontecem em conjugação com alucinações auditivas (alucinações visuais na demência de alzheimer:
alguns doentes descrevem pessoas – descrevem pessoas que não estão lá, algumas delas até já estão mortas, falam
com elas inclusivamente). Alucinações visuais mais comuns e que surgem em estados orgânicos como a demência,
o consumo de substâncias e alcoolismo:
Não é tão comum, mas pode acontecer na esquizofrenia; é muito comum em estados orgânicos e depressões
psicóticas). Raramente são agradáveis. São aversivas, repelentes, horríveis. Borracha queimada, terra mistura com
fezes, rolhas queimadas, pele queimada. Alucinação porque não está ninguém a queimar nada.
Alguns doentes com esquizofrenia podem ter alucinações gustativas mas elas são mais típicas da epilepsia temporal
(temos de saber isto). É um estado orgânico. Epilepsia é uma doença neurológica. Por exemplo sabor a aço na boca.
Sensação muito aversiva com a alucinação gustativa. “Sabe-me a rolhas queimadas da inquisição”. “Peles queimadas
e emulação.” O doente acrescente que sente e sabor e que vai ser emulado na praça pública (surge o delírio
persecutório).
Muitas vezes estão inseridas nas alucinações somáticas, fazem parte das alucinações somáticas. Surgem na psicose
por cocaína (estes doentes veem animais a rastejar nas paredes e no chão, mas também pode sentir que os animais
podem circular na sua pele, por dentro ou por fora). Surgem na esquizofrenia e em estados orgânicos. Pertencem às
alucinações somáticas.
Alucinações somáticas
• Torções ou dores violentas que os doentes descrevem de forma bizarra
Falsas perceções sem objetos: podem ser sensações corporais, de coisas que não estão lá (sinto que autocarros
elétricos circulam nas minhas veias – sente eletricidade nas veias é o que quer dizer). Doentes com delírio tremens
têm a sensação de formicação (alucinação secundária), formigas a percorrer o corpo – diferente de formigueiro,
que acontece a todos nas pernas algumas vezes. E também há doentes que para além de ver as formigas a formigar
na pele, também as vê a fornicar. Outros exemplos de alucinações somáticos: sente que tem buracos no coração,
porque os casulos das larvas fizeram isso. Cobras nos intestinos. Mas como distinguir alucinação somática de delírio
somático? Pela causa. O delírio encontra-se quando o doente tem uma explicação causal: “São larvas que se
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depositaram no ventrículo”. Alucinação não tem causa. Mas há doentes que têm alucinações somáticas e delírios
somáticos. último exemplo: doente que tinha delírio persecutório por ser gay, e tinha alucinação somática de sentir
o ânus a abrir quando algum homem olhava para ele. É violento e provoca dor, os doentes têm dores violentas e
mesmo que não estejam lá as situações explicativas para a dor, ela existe.
Alucinações extracampinas:
• O doente tem alucinações que estão fora do campo sensorial (e.g., doente que olha ao
longe e diz ver alguém atrás de si).
Alucinação típica da epilepsia temporal. Exemplo: o doente tem a alucinação (vem de dentro da cabeça) que está fora
do campo sensorial. Ele olha ao longe e diz que está alguém atrás de si. Não é comum em outras PERTURBAÇÕES.
Alucinações funcionais:
• Há um estímulo real que causa a alucinação sendo experimentado ao mesmo tempo
que esta.
Na psicose na esquizofrenia. Ex: Doente Moisés: para além de ter a alucinação cénica, faz os rituais do Moisés, muitas
vezes pela manhã reza: abre a janela e coloca-se seminu para sentir o sol. A alucinação funcional acontece ao mesmo
tempo que o estímulo real: no preciso momento em que sente o sol no peito e ouve os pássaros da árvore em frente
à janela (estímulo real), ouve a voz de Deus a falar com ele.
Alucinações reflexas:
• um estímulo num campo sensitivo produz alucinação noutro (e.g., doente que ao ouvir
um espirro sente dor de cabeça estando convencido que é o espirro que provoca a dor
de cabeça).
O doente ouve um estímulo (espirro) e sente no imediato que teve impacto noutro campo sensorial. Ouve o espirro e
tem dor de cabeça e convence-se que tem dor de cabeça por causa do espirro. Um estímulo no campo sensitivo produz
a alucinação. Tem uma alucinação somática que na Cabeça dele é provocada pelo espirro que ele ouviu, mas ninguém
ouviu o espirro. É tudo dentro da cabeça dele. Há ume estímulo sensorial dentro da cabeça, que por si só não existe,
que vai provocar reflexamente que a alucinação apareça noutro campo sensorial. Acontece na esquizofrenia,
demência e epilepsia do lobo temporal.
8- Alterações da Estrutura do Eu
• Desrealização
Sintoma de ansiedade. É um sintoma vegetativo da resposta de ansiedade. Implica uma resposta intensa de
ansiedade, muitas vezes acompanha as crises de pânico, que crises abruptas (repentinamente intensas num espaço
de 10 minutos, sensações intensas vegetativas de ansiedade seguidas de fuga e desastre eminente: “doente sente que
vai morrer, ou vai enlouquecer, ou que se vai descontrolar, que é o que acontece na crise de pânico). Muitos doentes
com estas respostas vegetativas intensas de ansiedade desrealizam-se (sensação de irrealidade à volta / exterior).
Doente sabe que está no fórum, mas perde a noção do espaço onde está. Desrealiza a sensação da realidade. Sei onde
estou, mas não sei propriamente o que estou a ver. Informação sensorial espacial desaparece. Doente sente-se irreal
no espaço. – Aparece nos distúrbios de ansiedade, perturbação de pânico, fobias, nos estados ansiosos. Também
pode aparecer em pessoas com depressão (esta é acompanhada de muitos sintomas ansiosos sempre).
• Despersonalização
Também acontece nos estados ansiosos. Muito associado às memorias traumáticas que despoletam uma resposta de
medo brutal. As pessoas podem despersonalizar. Doentes psicóticos também podem despersonalizar pois nesses
quadros a ansiedade está ao rubro. Despersonalização é um sentimento, dificuldade de reconhecer que “sou eu quer
lá estou”. Uma sensação de irrealidade em relação a mim. De que eu / o meu corpo é irreal, não sou que lá estou.
Estou a ver-me de fora e apesar de ser eu que lá estou, não sou. É acompanhada de uma sensação de fora do corpo.
Os meus gestos não têm significado, não é enquadrado no contexto. Não sou eu que estou a falar, não sou eu que
estou a agir. O doente vê-se de fora. Não há uma sensação de estranheza. É apenas uma dificuldade no
reconhecimento, mas não há sensação de estranheza, porque se houvesse já não seria uma despersonalização. Dá-se
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geralmente nos estados ansiosos ou na disforia (humor deprimido). Nos casos mais graves, os doentes de
despersonalização e desrealização têm sensação de total irrealidade. Às vezes estes dois sintomas juntam-se (espaço
e self).
• Deja vu
Sensação de já ter vivido uma determinada sensação. Sensação muito típica dos quadros de ansiedade, ou privação
de sono, cansaço. Não psicopatologia. O contrário do Deja Vu é o Jamais Vu: sensação que algo familiar é
completamente estranho. São ambos sintomas que surgem nas alterações da estrutura do eu.
• Dissociação
Surge muito em trauma, PTSD, quadros ansiosos com ansiedade elevadíssima. O cérebro faz um shut down. A pessoa
não consegue fazer a síntese dos dados e é como se não estivesse lá. Um curto-circuito na mente e a pessoa não dá
conta do que está a acontecer fora dela ou dentro dela. Acontece em situações de PTSD, traumas agudos, situações
associadas a emoções negativas, o medo está sempre presente, mas também pode ser o nojo (eu ter repugnância e
nojo e isso fazer com que eu dissocie). Aparece numa série de perturbações. Aparece muito nas personalidades do
cluster B. muitos destes doentes têm elevados níveis de dissociação. Mecanismo de defesa do eu: se é uma situação
muito dolorosa, faz-se um shut down e tu não sentes nada.
A imobilização dos movimentos. Pessoa não conseguir movimentar a mão, por exemplo, como se fosse rígida. Há
doentes que deixam de andar. Ex: situação da mulher que se agarrou ao marido da professora, pensando ser o filho
que faleceu. Quando entrou no consultório da professora, saiu de lá de cadeira de rodas: sintoma conversivo. Elevada
emocionalidade. Há pessoas que vão a Fátima, 13 de Maio e às vezes com elevada emocionalidade, há pessoas que
ficam estigmatizadas com as chagas de cristo, purgam sangue... é uma doença psiquiátrica que tem a ver com uma
grande excitação na área cerebral no momento de revelação intensa de espiritualidade e há uma grande inibição no
cérebro, e de facto havia muitas pessoas que eram consideradas santas por terem as chagas de cristo, não se
esvaziavam em sangue mas não conseguiam trabalhar, e de facto essa alteração terminava, desaparecia a doença
quando eles morriam, quando não tinham atividade cerebral. Aqui, também pode acontecer um sintoma conversivo,
de elevada situação extrema de emoção e a pessoa ver-se incapacitada de movimentar-se.
• Negação:
Pessoa nega que está viva. Diz que está morta. Acontece no delírio niilista e na síndroma de cotard. A negação é algo
extremado: “Eu não existo”. Eu não tenho forma.
9 – Memória
Normalmente há muitas queixas em relação à memória. A maior parte dos doentes faz algumas queixas sobre
problemas de memória. O que temos de perceber é se são alterações efetivamente relacionadas com a memória, ou
se tem a ver com ansiedade / distratibilidade, maior foco nos pensamentos e menos atenção aos eventos externos
que a rodeiam e depois não tem tanta capacidade de prestar atenção, adquirir aquelas informações e retê-las.
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Para avaliação:
• Memória recente:
o Pode dizer-me o seu nome?
o Para que horário estava agendada a nossa consulta hoje?
• Memória remota:
o Onde estava no 25 de Abril?
o Onde e em que ano casou / licenciou?
• Memória imediata ou de novas aprendizagens:
o Vou dizer lhe 3 cores e daqui a 5 minutos vou pedir-lhe para repetir essas cores.
O que temos de fazer em termos de exame mental é tentar avaliar, de forma quase informal, a memória recente,
remota e de novas aprendizagens. Esta última só avaliamos quando estamos desconfiados de algo mais. A memória
recente, apesar do terapeuta ter a ficha de identificação, este procura colocar questões sobre os dados biográficos,
também para quebrar o gelo e perceber coisas da memória recente do doente.
• Amnésia: incapacidade total ou parcial para recordar experiências passadas e pode ser
de origem orgânica ou emocional;
• Podem ser orgânicas e psicogénicas podendo as últimas ser catatímicas,
histéricas e ansiosas. Relacionam-se com situações com grande carga
emocional. Nas catatímicas o indivíduo reprime memórias para evitar o
sentimento desagradável que elas produziriam. São mais frequentes em
indivíduos que sofrem patologia neurótica mas também podem ocorrer em
pessoas saudáveis, correspondendo geralmente a uma amnésia parcial
• As amnésias orgânicas devem-se a alterações da perceção e atenção e também
à incapacidade de um registo permanente.
• Por exemplo no traumatismo craniano, a amnésia quando abrange
acontecimentos anteriores designa-se por amnésia retrógrada.
• A amnésia anterógrada resulta da incapacidade de fazer registos permanentes
o que acontece em muitos estados orgânicos agudos. O doente parece estar em
plena consciência mas não recorda os factos que vão ocorrendo.
Amnésia relacionam se com situações com grande carga emocional. Muito frequentes em indivíduos que sofrem de
patologia neurótica, mas também podem ser detetadas em pessoas saudáveis, normalmente uma amnésia parcial e
não uma amnésia total. As amnésias orgânicas, mais frequentes, devem-se a alterações na capacidade de prestar
atenção ou de reter / fazer o registo mais permanente. Quando há traumatismos cranianos, normalmente, a amnésia
quando abrange acontecimentos anteriores chamamos amnésia retrógrada. As anterógradas resultam de capacidade
de memória após o traumatismo craniano, ou seja, da incapacidade de registar de forma permanente os
acontecimentos que se vão sucedendo. O doente parece estar plenamente consciente, mas na verdade não consegue
recordar os factos que vão acontecendo posteriormente.
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• As distorções de memória são alterações qualitativas.
Memória que quando é recordada não é recordada exatamente como aconteceu, mas que está distorcida.
Caraterizada quando o sujeito vai confundir simples recordações coma s recordações autenticas. As falsas recordações
subsistem aos factos reais que não são recordados. Não recorda algo, mas recorda a sua representação construída.
Não tem acesso ao facto real mas sim à representação construída. Tem a ver com uma alteração qualitativa. Não
recorda a memoria original, mas recorda a representação essa memória.
As principais alterações de memória, normalmente tem origem orgânica e raramente emocional. Quando observamos
alguma alteração, devemos reencaminhar para as consultas de neuro para fazer uma avaliação mais detalhada.
Assim, na memória, podemos detetar alterações qualitativas e quantitativas. Na demência há perda de memória
para acontecimentos recentes e só mais tarde é que se vão atingindo acontecimentos mais remotos. Ouvimos as
pessoas dizer “é engraçado que aquela pessoa consegue recordar quando era pequenina, mas não sabe o que jantou
há pouco”. Normalmente há uma perda de acontecimentos mais recentes, e só mais tarde é que atinge os
acontecimentos prévios. Aqui as alterações são quantitativas, há uma perda de capacidade de memória. Vamos
perdendo as capacidades pelo número de recordações. As dismnésias (ou distorções de memórias) são qualitativas,
pois existem as confabulações que são falsas memórias. Os doentes vão preenchendo algumas lacunas de memória
com a construção de falsas memorias.
10 – Inteligência
Item muito frequentemente avaliado. A inteligência refere-se à tonalidade das habilidades cognitivas do indivíduo
como pensar e agir, é como uma representação da eficiência global das capacidades cognitivas.
Demências:
Na demência o défice intelectual (QI abaixo do esperado) é alcançado num determinado nível de desenvolvimento, ou
seja, o que é típico é a demência iniciar em pessoas com mais de 65 anos, embora saibamos que existem casos de
demência precoce (quadros de demência quando as capacidades cognitivas estão completamente normais), ou seja´,
há um nível de desenvolvimento e a pessoa desempenha as funções dentro dos parâmetros normais, e a partir dessa
fase de desenvolvimento começa a dar-se um défice progressivo das suas capacidades intelectuais. O que é mais típico
é os quadros estarem associados à idade (comum a partir dos 65 anos). Está também associado ao Alzheimer, mas
também pode surgir em indivíduos mais jovens.
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Oligofrenia
• Ocorre pela interrupção do processo de desenvolvimento
• Enquanto a média do Quociente de Inteligência (QI) de uma pessoa com normalidade
intelectual varia entre 90 e 110, o nível de uma pessoa com oligofrenia oscila entre 0 e
90.
o Os portadores de oligofrenia leve apresentam uma deficiência pequena, quase
normal, sem grandes prejuízos na aprendizagem.
o Nas pessoas com oligofrenia moderada o comportamento intelectual chega a
incapacitar o indivíduo para aprendizagem.
o As pessoas com oligofrenia profunda além da dificuldade total de
aprendizagem apresentam outras dificuldades, entre elas a fala.
Na oligofrenia, ocorre uma interrupção do processo de desenvolvimento. A pessoa nunca chega a desenvolver-se
intelectualmente até um nível normal. Ao longo do desenvolvimento vai ficando sempre abaixo dos níveis normais
considerados de QI. Podemos ter diferentes intensidades de oligofrenia. Oligrofenia leve, exige maior esforço na
aprendizagem. Olig. Moderada – o comportamento intelectual chega a incapacitar o indivíduo.
Avaliação
A avaliação é realizada por uma bateria de testes (muito desenvolvida) que vai sendo atualizada... os testes tentam
perceber a capacidade do indivíduo de resolver problemas. Este teste vai tendo provas verbais, não verbais, resolução
de problemas, puzzles, usar palavras, números, memória, sequências, etc.
Apetite / fome: esta ocorre muito frequentemente, tem graus, pode estar ligeiramente alterada ou marcadamente.
Esta alteração pode ser diminuição ou aumento do apetite, ou só mesmo a alteração do padrão do apetite que não é
culturalmente esperado (apetite por substâncias não comestíveis, bizarrias alimentares que pode surgir). A diminuição
ou perda de apetite é um sintoma frequente em quadros de depressão. No caso da anorexia é diferente, há uma
restrição alimentar, a pessoa pode ter apetite e não comer. Nos casos em que a restrição ou perda de apetite é
clinicamente significativa é quando há uma perda significativa de peso. Em alguns casos, tanto de perturbação do
comportamento alimentar, assim como depressões, há um aumento de forma exagerada do apetite. Chama-se
colifagia (comer muito) ou casos existem uma alimentação normal / restrita e de repete o que surge são episódios de
ingestão alimentar compulsiva. Nestes casos há um aumento significativo do peso. Depois há alguns doentes que têm
caprichos alimentares (peaky eaters). Por exemplo têm arroz com ervilhas, e ele come as ervilhas e deixa o resto. Ou
aberrações alimentares – perturbação chamada PICA, muitas vezes associada a grávidas, comem terra dos vasos,
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giz, papel, tecido. Surge no DSM V. Estas aberrações surgem em vários contextos como a gravidez (episódico,
transitório). Houve um caso de internamento pelo facto de uma pessoa comer detergente da roupa. Estas aberrações
alimentares podem não estar associada a psicopatologias, mas também podem estar. Acontece muito na demência,
esquizofrenia, podendo também acontecer com anoréticas (Pert comportamento alimentar). A mais conhecida é a
copofragia (comer próprias fezes).
Alteração da sede:
• São, com mais frequência, de origem orgânica mas também pode existir polidipsia
isolada em alterações psiquiátricas
• Polidipsia consiste em apresentar sede em demasia e, como consequência, uma
tendência incontrolável de ingerir líquidos, geralmente água;
Os pacientes com essa condição podem chegar a beber dez litros de líquido por dia e
podem desenvolver hiponatremia (deficiência orgânica de sódio), em que a
concentração de sódio no sangue fica muito baixa.
• Existe uma polidipsia psicogénica (potomania), na qual os pacientes têm um desejo
compulsivo de beber quantidades excessivas de água. A potomania resulta sempre de
alguma desordem mental, tais como esquizofrenia, anorexia nervosa, perturbação
bipolar ou depressão. A razão pela qual esses pacientes desenvolvem uma sede
insaciável ainda não é bem conhecida, mas pode resultar de desequilíbrios neuro
químicos associados a essas doenças.
Pode haver alterações da sede (défices orgânicos que podem existir devido a outras doenças biológicas e que não
estão associadas a alterações psiquiátricas). Mas também podem estar associados a quadros de psicopatologia. Esta
polidipsia consiste em apresentar uma sede em demasia e em consequência uma tendência incontrolada em ingerir
líquidos, nomeadamente água. Beber água em desequilíbrio é super-prejudicial, pois a nossa batida cardíaca faz-se
pelo equilíbrio de sódio e potássio, algo que a água influencia. Gestão excessiva de água pode provocar morte súbita.
Tudo o que tem a ver com água é fator para internamento, principalmente com as doentes anoréticas, que têm metas
de beber água para perder o apetite. Edemas nas pernas (bolhas) porque corpo não consegue libertar-se de tanta
água. Ingestão exagerada de água ou que há privação de água (água alarga estômago – anorexia), dentro de um
quadro psicopatológico efetivamente são situações para internamento. Razão pode estar associada a um
desequilíbrio neuroquímico ou, por outro lado, ser apenas um comportamento com um objetivo determinado, como
no caso da anorexia e das suas estratégias.
Alteração do sono
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• ritmo de sono invertido (frequente no síndrome cerebral orgânico; os
doentes dormem de dia e agitam-se a noite).
O sono é um sintoma universal. Em todas as perturbações psiquiátricas, o sono é algo que está invariavelmente
alterado. O sono é uma das principais queixas da psicopatologia. Temos a insónia (dificuldade em conciliar ou manter
o sono), existe uma alteração do padrão sono que leva ao despertar e perceção que o sono foi insuficiente. Este
despertar pode acontecer em diferentes alturas do sono: inicial quando temos alguma preocupação ou decisão, os
nosso níveis de ansiedade aumentam, e o que sentimos mais é dificuldades em iniciar o sono. Adormecemos quando
nos deitamos e o nosso ritmo de atividade vai diminuindo até entrarmos em repouso... quando estamos preocupados,
deitamos e ficamos sem atividade, a nossa mente chama as decisões que temos para tomar, problemas para resolver.
Pessoas com perturbações ansiosas ou obsessiva a principal queixa é que passam muito tempo para conseguir
adormecer. Diminuir atividade, ficam mais atentas à mente e ficam mais despertas, menos tranquilas.
Depois temos a insónia terminal, aquela que a meio da noite acordou e depois ficou várias horas até conseguir dormir.
Típica quando há grande perda de peso, perturbações alimentares. Quando o nosso organismo não deixa dormir mais,
muitas vezes é fome. Organismo não deixa descansar porque não é possível descansar no estado em que se encontra
o organismo, em sofrimento. Insónia terminal tem função evolutiva (acordar para ir comer). Nosso organismo não
tolera o sono quando está em privação. Hipersónia (doente queixar-se que está sempre a dormir). Existem consultas
só para o sono. É como uma especialidade dentro da psicologia.
Alteração da Líbido
• A líbido pode estar aumentada nos doentes maníacos e diminuída ou ausente nos
doentes deprimidos.
• Para além destes quadros clinicamente mais frequentes a libido encontra-se alterada,
em grau variável, em muitas outras situações, como por exemplo, em certos síndromes
cerebrais orgânicos e neuroses.
• Podem existir também alterações da pragmática sexual - ejaculação precoce, disfunção
erétil e orgástica, entre outras - o que ocorre com mais frequência em indivíduos com
problemas de natureza ansiosa, devendo sempre pesquisar-se patologia orgânica,
principalmente em casos de impotência primária.
Líbido: pode estar aumentada (impulso e desejo sexual muito aumentado), típico nos doentes maníacos. Ou pode
estar diminuída / ausente, típica dos doentes deprimidos. Estas alterações da líbido têm de ser clinicamente
significativas, com impacto, e depois podem ser associados a diferentes quadros clínicos. Podem existir também
alteraç~pes de pragmática sexual. Para tal devemos ter sempre em atenção para perceber se há algo orgânico de
base (fazer triagem e pedir exames para perceber que a sintomatologia associada à memória (ansiedade) é algo que
existe ou não neurologicamente) em situações de disfunção eréctil, ejaculação precoce entre outros.
Temos tendência a justificar tudo pela ansiedade, porque efetivamente isso dá uma sintomatologia muito física (mal-
estar, aperto, tremor, etc). na maior parte das vezes é mesmo ansiedade. Mas devemos fazer sempre tudo o que sirva
para prevenir, como encaminhar para especialista, análises / exames, ECG principalmente). Descartar a origem mais
biológica do problema. Só depois de ser descartado o problema orgânico, podemos diagnosticar a mente.
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Exercício
1. “Não há razão nenhuma para estar aqui, o meu problema não se resolve num
hospital”
ÁREA: APRESENTAÇÃO DO DOENTE
SINTOMA: sem insight / crítica adequada em relação à sua doença (indicador de
Patologia psicótica: não sente que tem uma doença)
4. “completamente sem motivação; não faço nada, não tenho forças para reagir e
nem TV me apetece ver”
ÁREA: Humor, afetividade e ansiedade
SINTOMA: apatia/humor depressivo (mais correto é o humor depressivo)
5. “tenho poucos pensamentos, e em certas alturas parece que não tenho nenhum.
Acho que alguém me rouba os meus pensamentos… já não são meus”
ÁREA: Pensamento
SINTOMA:
Alteração do curso do pensamento - inibição do pensamento; Bradipsiquia
também estaria bem!
Alteração da posse do pensamento: alienação / roubo do pensamento;
Em termos do pensamento a doente tem poucos pensamentos, e por outro lado parece que há alguém que
lhe rouba os pensamentos, então dizemos que no desenvolvimento existe uma inibição do pensamento e
depois uma diminuição da posse (alienação do roubo do pensamento). Durante a entrevista procura-se que
o doente fale espontaneamente, e avaliar assim o seu discurso (velocidade, forma como se expressa, como
as ideias se interligam., a forma como a ideia e o discurso atinge o seu objetivo...). relativamente à posse (
à minha autoria dos pensamentos, o meu sentimento de possuir os meus pensamentos) e ao conteúdo
(qual é o conteúdo do meu pensamento). Taquipsiquia: sucessão rápida de pensamentos. Bradipsiquia:
sucessão muito lenta dos pensamentos). é na Bradipsiquia que temos a inibição do pensamento. Em
relação ao curso (desenvolvimento) do pensamento, essa é a área mais difícil. Temos a fuga de ideias
(quando há uma sucessão muito rápida dos pensamentos sem direção, feito ocasionalmente e no meio do
discurso - a meio da frase aparece provérbios, ditados, discursos direcionado pelas semelhanças do
discurso dos outros, material completamente dispensável e descontextualizado no desenvolvimento do
discurso); nos casos mais graves torna-se mesmo incompreensível), inibição (doente exprime-se com mais
dificuldade, dificuldade em prestar atenção, típico da depressão, lentificação total) e bloqueio (lentificação
do pensamento mais drástico; desenrolar do pensamento é completa e subitamente interrompido, não há
regresso ao ponto de partida e surge um pensamento novo a seguir). Descarrilamento de Ideias:
interrupções súbitas e sucessivas - Típico da esquizofrenia.
Alterações da posse de pensamento: alienação do pensamento (inserção, roubo ou divulgação do
pensamento - tem a sensação que os outros participam naquilo que ele pensa: que lhe roubaram
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pensamentos, ou inseriram, a partir de um microchip por exemplo); Obsessão; Fobia (últimos 2 têm
maior insight).
7. “vi o isqueiro e as cigarrilhas e tive a certeza que era ele, o meu eleito… ele foi-
me destinado e se não ficarmos juntos eles o irão esventrar e matar”
ÁREA: pensamento
SINTOMA: alterações do conteúdo, perceção delirante
(a perceção delirante é uma experiência que é sempre primária, que consiste na atribuição de um novo
significado, geralmente no sentido de autorreferência, a um objeto percebido normalmente. Temos uma
perceção correta de um objeto mas automaticamente depois tornamo-la delirante, atribuindo-se-lhe um
significado completamente diferente. Ex: “eu vi os meus chinelos ao lado da cama e tive a certeza absoluta
de que a minha mãe me queria matar”.É algo primário, sem justificação nenhuma, é uma alteração do
conteúdo). No delírio persecutório (espiam-no, vigiam-no...já na perceção delirante a perceção é
completamente diferente, o que é diferente de ter um delírio persecutório. Neste caso consegue-se associar
a interpretação dele ao estímulo e ao quadro da paciente, mas na perceção não).
8. “Não suporto mais ver a devassa que a TV faz à minha vida. Toda a gente fala
de mim na comunicação social.”
ÁREA:Pensamento; Alteração da Perceção - enganos sensoriais;
SINTOMA: divulgação do pensamento; alucinações auditivas
(o persecutório tem normalmente uma sensação de perigo, como “querem matar-me, querem fazer-me mal)
9. “tem sido apanhada a falar sozinha respondendo a insultos que lhe são dirigidos”
ÁREA: Alteração na Perceção
SINTOMA: alucinação auditiva (por vezes questiona-se que características devem ter as
alucinações auditivas para que se considere que a pessoa tem esquizofrenia. Uma alucinação auditiva
muito típica da esquizofrenia é quando parece que a cabeça faz eco)
Como saber se é uma alucinação auditiva?
1. Ouve vozes? (Ex: um paciente com obsessão ouve uma voz que diz “isso está contaminado!”)
2. Essas vozes vêm de dentro ou de fora da sua cabeça? (na alucinação as pessoas ouvem a voz
vinda de fora.
3. Pode-se perguntar: “acha que as pessoas que estão ao pé de si estão a ouvir as mesmas vozes?”.
O paciente pode responder que não, que só ele é que ouve.)
Se a pessoa sabe que aquilo é coisa da cabeça dela, é obsessão, não alucinação.
ATENÇÃO: só se assegurarmos que há clareza de consciência é que há indicadores de um possível
diagnóstico. A avaliação do estado de consciência é um dos aspetos mais importantes no exame
mental, uma vez que a valorização de toda a psicopatologia pode depender do estado de consciência
do doente.
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