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EDUCAÇÃO POPULAR e PODER POPULAR sobre a natureza, do progresso, do avanço incessante das forças

“Quem trabalha e mata a fome, não come o pão de produtivas e da luta de classes como motor da história.
ninguém. Quem não ganha o pão que come, come
sempre o pão de alguém”
Antônio F. Aleixo (1899-1949), repentista português.
A educação popular é um processo que visa contribuir para
que os trabalhadores se tornem protagonistas da sua ação política;
processo fundamental que se desenvolve na prática de luta e
organização dos trabalhadores.
A necessidade concreta e a possibilidade de ter conquistas e
o esforço para não perder direitos, levam a classe trabalhadora a
mobilizar-se. Nesse movimento começa a vislumbrar a raiz da
exploração e a sentir a necessidade de participar e de assumir-se
como protagonista.
É preciso lutar pelo poder com garra e coragem...
A vontade, o entusiasmo, a coragem e a garra para lutar são
qualidades imprescindíveis a todo militante, sem as quais não se é
revolucionário. Mas, não são suficientes. É preciso ser científico,
não no sentido do intelectual distante da prática transformadora,
mas, ao contrário, fazer revolução cientificamente. Por isso, todo
militante deve conhecer e assimilar as leis mais gerais do
desenvolvimento social e as categorias de análise que utiliza o
materialismo histórico e dialético, sem os quais não podemos
conhecer a realidade em que vivemos, nem apontar cientificamente
sua transformação.
Sem a caracterização objetiva da realidade social, com as
forças e contradições internas que lhe dão movimento, não
poderemos construir e consolidar as ferramentas de luta e traçar A análise do funcionamento do capitalismo, a história da
políticas adequadas a cada situação. luta de classes no Brasil e no mundo, o papel da organização da
Nesse sentido, é tarefa da educação popular orientar a classe trabalhadora no processo de transformação social, as
formação ideológica e política dos trabalhadores, que possibilite experiências de luta e organização, o estudo dos processos
dotá-los dos elementos fundamentais para a prática da atividade revolucionários na história e na atualidade, a análise permanente
política. É necessário desenvolver a capacidade de teorizar sobre a da conjuntura, e uma visão crítica da realidade são alguns
prática social e conhecer em linhas gerais o desenvolvimento da aspectos importantes na formação do militante e dirigente.
humanidade, para captar a ideia do crescente domínio do homem Mas, a formação política não se dá somente com o estudo,
mas fundamentalmente com a prática, a crítica e a autocrítica, a prática política dos trabalhadores, podemos cair no desvio de
permanente inter-relação entre teoria e prática. Por isso não pode fazer formação como se fosse uma receita, com enunciados
ser um estudo formal, acadêmico; se assim for não adianta nada. É teóricos que não servem para resolver os caminhos concretos de
um processo permanente e contínuo na vida do militante. modificação da realidade; de ficar apenas nos detalhes estudando
Deve estar presente na preocupação do educador e do cada caso isolado sem poder aplicar o geral em cada caso
educando, na direção das organizações dos trabalhadores e em particular e de não articular a ação política com o processo
cada um de seus militantes, não só no que se refere à sua própria organizativo.
formação, mas buscando expandi-la a todos os participantes, Formação está intrinsecamente ligada com organização.
considerando o nível de conhecimento e as tarefas que cada um São partes do mesmo processo. Sem formação a organização
deve realizar. não se consolida; sem organização a formação não encontra
Deve significar, em cada um, uma mudança qualitativa na espaço para a ação. A teoria deve se ligar à prática dos
visão do mundo e na prática cotidiana: na família, no trabalho, na trabalhadores orientando-os nas suas tarefas concretas. É
disciplina, na solidariedade, nas relações entre os gêneros, contra necessário que o educador analise com os movimentos sociais
a discriminação, na luta. Como disse Agostinho Neto1 “Não basta como se podem expressar no concreto as orientações gerais.
que seja pura e justa a nossa causa. É necessário que a pureza e Se nas suas lutas específicas os trabalhadores conseguem
a justiça existam dentro de nós”. conquistar seus objetivos, devemos entender e ajudá-los a
A educação que recebemos nas instituições capitalistas se entender que foi uma experiência setorizada de poder. Se não
orienta pela ideologia e pela lógica capitalista, fundamentada na conseguem totalmente, mas avançam no nível da organização e
competição, no individualismo, na discriminação, na dominação, na da consciência das possibilidades e limitações e da correlação de
exploração e na opressão. forças, devemos entender e ajudá-los a entender que foi uma
A educação popular se refere ao trabalhador na sua experiência de luta setorizada pelo poder.
totalidade e na sua relação humana e social: no trabalho, na Educação Popular não é neutra; sempre tem uma
família, nas relações de gênero, na luta... intencionalidade. Na concepção do CEPIS ela deve estar
Mas as mudanças não são automáticas na conduta da comprometida como a causa popular, com um papel específico, e
gente; elas se dão como resultado de acúmulos quantitativos. Não deve ser dirigida para a realização do projeto político de tomada
acontecem também em todas as esferas da nossa vida ao mesmo do poder pela classe trabalhadora e construção do socialismo.
tempo, nem de uma vez para sempre. Daí a necessidade Negar isso é afastar os trabalhadores do seu objetivo histórico. É
permanente de avaliação na formação, como um processo de necessário que as ações políticas das classes populares se
fortalecimento político-ideológico, para corrigir erros e caminhos. orientem em direção da conquista do poder de Estado, da
A formação dos trabalhadores só tem sentido se estiver democracia popular, do socialismo, da formação do homem novo.
ligada à luta incessante contra a sociedade baseada na Na prática educativa e da luta popular vamos descobrindo
exploração. Se não encararmos dialeticamente os problemas da o caminho concreto para a construção de uma sociedade
socialista, evitando prejuízos e falsas expectativas, organizando-
1
Agostinho Neto, médico, poeta, primeiro presidente de Angola – 1975-1979 – e nos para a luta e somando forças ao mesmo tempo em que
dirigente do MPLA- Movimento pela libertação de Angola.
avançamos.
E essa, embora não seja uma tarefa simples, é uma tarefa
necessária, que não pode ser monopolizada, mas efetuada por
todos aqueles e aquelas que realmente acreditam no protagonismo
da classe trabalhadora e na sua força social como construtora da
sociedade socialista.
É preciso lutar pelo poder com garra, coragem e:
estratégias, táticas, organização, alianças, estudo...
CEPIS, SP,

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