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CRISE DO SINDICALISMO DOS TRABALHADORES EM SERVIÇO

PÚBLICO FEDERAL: O CASO DO SINTESPB

Welington Barros Cantalice1


Roberto Véras de Oliveira2

INTRODUÇÃO

O mundo do trabalho vem passando, há mais de três décadas, por importantes


mudanças que alteraram substancialmente as relações entre capital/Trabalho e,
conseqüentemente, com repercussões profundas sobre as organizações de trabalhadores,
especificamente, as sindicais.
Num cenário em que a competitividade capitalista torna-se selvagem, as
empresas buscam se reestruturar para poderem concorrer num mercado, agora não mais
nacional, mas, global, onde padrões, processos e tempos específicos, são quase que
instantaneamente – na velocidade virtual – alterados, para poderem servir ao processo
de acumulação capitalista de maneira, a que se possa produzir mais e melhor, de
preferência, com menos gente trabalhando.
Em virtude disto, a crise instalou-se no mundo do trabalho/emprego que, sob o
influxo das mudanças nos padrões produtivos e na gestão do trabalho, com a crescente
introdução de um regime flexível de acumulação, alterara as condições objetivas e
subjetivas do trabalhador, tendo repercussões diretas sobre os organismos
representativos de classe – os sindicatos.
Este processo foi tão avassalador que levou ANTUNES (2007, p. 15) a tratá-lo,
nas suas analises, de “desertificação neoliberal”, em virtude do conteúdo destrutivo de
tais medidas (desregulamentação, precarização das Relações de Trabalho, desemprego
estrutural, informalização do mercado de trabalho, etc.). Além de tudo isto, deu-se um
amplo e sistemático desmonte do Estado (que culminaria aqui no Brasil com uma
reforma Administrativa do aparelho de Estado).
É justamente na Reforma do Estado que se reconfiguram as relações de trabalho
na Administração pública, em virtude do imperativo de mudanças exigidas pela
globalização econômica (COSTA, 2004). A reestruturação produtiva é um elemento
cultural na análise das mudanças, no mundo do trabalho. No entanto, esta centralidade é
desfocada do seu ponto, quando se trata de serviço público, pois, as relações de trabalho
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – PPGCS da UFCG – E-mail: welingtoncantalice@gmail.com
2
Orientador – Professor Doutor em Sociologia do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – PPGCS da UFCG E-mail:
rbveras@uol.com.br

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no serviço público são tributárias da cultura política e do enraizamento de práticas
cidadãs.
Nesse sentido, a profundidade e tipo de Reforma do Estado tem a ver com
relações tecidas entre Estado, mercado, comunidade (COSTA, 2004).
A partir da década de 1990, o movimento sindical de servidores públicos passa a
se ver premido por uma onda de reformas ( Administrativa, da Previdência, etc) e por
pressões nacionais/internacionais no afã de “subjugar” a esfera do mundo do trabalho no
Brasil e o Estado na direção do projeto neoliberal que previa, entre outros “remédios” a
privatização de órgão públicos do Estado Brasileiro.
Neste ínterim, o sindicalismo no serviço público sentiu o impacto das medidas
de ajuste neoliberal, com o processo de desmonte de órgãos/instituições (ALVES, G.
1998, p.127 – 133). Com o desmonte viria a precarização das condições de trabalho e
dos servidores e, como decorrência lógica, a privatização deste patrimônio Estatal
(como de fato ocorreu durante o governo FHC I e II). Os sindicatos de servidores
públicos buscaram contrapor-se a esta política “privatista” do governo FHC (iniciada no
Governo Collor de Mello) como também fazer frente a uma “reforma do Estado” que
tinha como objetivo, entre outros, a “desresponsabilização” do Estado na condução de
política social (Educação, Saúde, Previdência Social, etc.), com inevitáveis impactos
nos organismos de representação dos servidores públicos – seus sindicatos.
Enfim, tudo isto tem contribuído para que a classe trabalhadora, no dizer de
ANTUNES (2008, p. 198), sofresse um efeito de fragmentação, de heterogeinização e
complexificando-se. Essa dinâmica alterou a subjetividade do trabalhador, minando a
coesão e a solidariedade de classe, dificultando a atividade sindical no exercício do seu
papel de representante de classe.
Este Projeto de pesquisa tem como escopo estudar e analisar a crise do
sindicalismo e os seus reflexos no sindicalismo de servidores públicos, notadamente
servidores federais, trabalhadores ligados ao Sindicato de trabalhadores em Ensino
Superior na Paraíba – SINTESPB.
Para alguns o sindicalismo viveria ou um declínio terminal ou uma crise
momentânea. Qual o futuro do sindicato na sociedade contemporânea? Haveria opção
para ele nesta sociedade? Que questões o sindicalismo se defronta num mundo
globalizado? Como enfrenta-las? E o sindicalismo do Setor Público, quais as suas
perspectivas para o futuro? Como aglutinar, organizar e mobilizar uma prática sindical

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quando se tem um contexto em que o mundo do trabalho passa a ser cada vez mais
fragmentado, complexificado e heterogeneizado?

OBJETO

O SINTESPB – SINDICATO DOS TRABALHADORES EM ENSINO


SUPERIOR DA PARAÍBA é uma entidade que congrega os servidores técnico-
administrativos da UFPB (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA), UEPB
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA) e UFCG (UNIVERSIDADE
FEDERAL DE CAMPINA GRANDE), com sede na Capital do Estado da Paraíba –
João Pessoa, tendo na sua base social atualmente cerca de 7.000 (sete mil) servidores,
incluindo aposentados e pensionistas, distribuídos nos diversos campi destas três
instituições de ensino superior. Entidade de base estadual, conta ainda com 06
secretarias sindicais localizadas nos Municípios de Areia, Bananeiras, Patos, Souza,
Cajazeiras, Campina Grande.
A entidade tem nos seus quadros de filiados servidores de nível médio,
servidores de nível superior e atualmente conta com uma diretoria composta por um
presidente e secretários distribuídos nas diversas secretarias sindicais.
A entidade é filiada à FASUBRA – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE
SERVIDORES DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS.
O SINTESPB luta por um projeto de Universidade Cidadã, comprometido com
os anseios do Estado da Paraíba, da região Nordeste e do País, tendo ainda em mente à
conquista de espaços coletivos de construção de saberes.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Analisar a crise do sindicalismo de Trabalhadores do Setor Público, tendo como pano


de fundo as repercussões da crise do Trabalho/Emprego no Mundo do trabalho e suas
implicações particularmente para o setor público e de que forma essa crise vem sendo
tratada nos seus rebatimentos no âmbito do sindicalismo e na pratica sindical do
SINTESPB no período compreendido entre 1990 e 2006.

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OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Tecer um quadro panorâmico das atuais transformações pelos quais vem passando o
mundo do trabalho mundialmente e suas implicações para o sindicalismo.

- Identificar as repercussões dessas mudanças no mundo do trabalho e no sindicalismo


no Brasil, com particular ênfase para o setor público.

- Retomar a trajetória do SINTESPB, sob tal contexto, buscando identificar sua


dinâmica, disputas, estratégias e expectativas.

DA METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa empírica, descritiva e teórico-reflexiva, que utilizará,


entre outros, os seguintes instrumentos: levantamento bibliográfico, com as análises
particularmente voltadas para o debate atual a respeito dos temas do trabalho,
enfrentamento coletivo, sindicalismo e crise do sindicalismo; análise documental,
abrangendo documentos, tanto nacionais, quanto locais, técnicos e institucionais do
SINTESPB; pesquisa de campo com a aplicação de entrevistas estruturadas e/ou semi-
estruturadas com lideranças sindicais atuais e passadas e os demais atores sociais e
políticos coadjuvantes do processo ( membros da direção atual do sindicato, ex-
dirigentes sindicais, filiados e ex-filiados, trabalhadores públicos federais que compõem
a base social do SINTESPB, como também outros agentes sociais que interagem o
fazer sindical).

RESULTADOS OBTIDOS
A pesquisa em questão ainda está em andamento, não tendo sido concluída.

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