Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

SERVIÇO SOCIAL

GIULIA DE ARAUJO DE SOUZA

ENSAIO DO TEXTO “ AGUDIZAÇÃO DA BARBÁRIE E DESAFIOS DO


SERVIÇO SOCIAL” DA IVANETE BOSCHETTI

SANTOS
2023
O Serviço Social brasileiro se forjou historicamente a partir de sua relação
com o enfrentamento das expressões da questão social, seja por meio das políticas
sociais e garantia de direitos, como também na articulação com os movimentos
sociais da classe trabalhadora em sua luta pela conquista de direitos e melhores
condições de vida. Nesse contexto, a autora Ivanete Boschetti destaca que a
possibilidade histórica da profissão está intrinsecamente relacionada ao movimento
da totalidade concreta e ao desenvolvimento do modo de produção capitalista.
Segundo a autora, o Serviço Social se insere na dinâmica da sociabilidade
capitalista, sendo indissociável dos processos que determinam sua possibilidade
histórica. Esses processos incluem a condição geral do trabalho assalariado,
subsumido ao capital, que busca extrair mais-valor para promover a acumulação; a
pauperização da classe trabalhadora e daqueles que estão fora do assalariamento,
constituindo um exército de reserva; e as lutas sociais da classe trabalhadora que
colocam em evidência a questão social em suas diversas manifestações.
A autora argumenta que as expressões da questão social têm se
intensificado no decorrer dos anos, revelando a barbárie cotidiana que assola
implacavelmente a classe trabalhadora. Isso ocorre devido aos processos
contemporâneos de acumulação capitalista, que buscam ampliar as taxas de lucro
às custas da brutalização das condições de vida e da destruição de direitos
conquistados. Esses processos de expropriação são caracterizados pela subtração
de direitos, como a mercantilização de serviços e bens públicos, que afetam a
reprodução da força de trabalho e comprometem as condições de vida dos
trabalhadores.
No Brasil, tem-se observado um aumento significativo desses processos por
meio da implementação de medidas contrarreformistas nas esferas trabalhista e
previdenciária. Essas alterações legislativas têm como objetivo primordial
flexibilizar as relações de trabalho, reduzir os direitos laborais e favorecer os
interesses do setor empresarial. Além disso, projetos de lei, como o Projeto de Lei
nº 4.330/2004 - amplamente conhecido como Projeto de Lei da Terceirização -
constituem mais uma afronta aos direitos da classe trabalhadora, ao permitirem a
precarização em setores essenciais como saúde e educação. A Proposta de
Emenda Constitucional (PEC) nº 241, igualmente conhecida como PEC do Teto de
Gastos ou Emenda Constitucional nº 95, aprovada em 2016, estabelece um novo
regime fiscal para o país, limitando o aumento dos gastos governamentais por um
período de 20 anos, o que afeta diretamente os investimentos nas áreas da saúde,
assistência social, educação, segurança pública e infraestrutura, tendo um impacto
direto na qualidade e disponibilidade desses serviços públicos.
Diante dessa realidade regida pelos ditames da acumulação do capital e o
avanço do conservadorismo na política brasileira, a autora destaca os desafios que
se apresentam ao/à profissional assistente social. Em primeiro lugar, é necessário
compreender e traduzir as implicações da crise para os direitos, as políticas sociais
e as condições de vida da classe trabalhadora. Isso envolve desmistificar
interpretações superficiais da crise, compreendendo suas causas estruturais
relacionadas ao modo de produção capitalista. Além disso, é fundamental
compreender e traduzir a condição e o significado dos direitos e das políticas
sociais, demonstrando que no Brasil essas políticas estão distantes da
universalidade e não reduzem a desigualdade estrutural. Os assistentes sociais
enfrentam também desafios como o desconhecimento de suas competências e
atribuições, a desvalorização e desqualificação profissional, a diluição das
particularidades e especificidades profissionais devido à fragmentação das tarefas,
e a demanda por realizar tarefas alheias à sua formação e titulação.
Após uma análise mais aprofundada do contexto, pude constatar a
existência de desafios e tensões significativas dentro do meu campo de estágio no
CAPS Centro. O CAPS desempenha um papel crucial no atendimento e cuidado de
indivíduos com transtornos mentais graves e persistentes, buscando promover sua
reintegração social e fortalecimento. No entanto, é evidente que as políticas de
saúde mental estão sendo desmanteladas, o que fragiliza tanto as condições de
trabalho quanto às relações dentro do CAPS. Ao me deparar com o campo de
estágio, percebo o quão preocupante é a escassez de profissionais na unidade,
resultando em uma sobrecarga para aqueles que lidam com uma demanda diária
extremamente alta. Isso compromete diretamente a qualidade do atendimento
prestado aos usuários. Além disso, fiquei surpresa ao saber que os próprios
profissionais da rede CAPS precisam tirar dinheiro do próprio bolso para realizar
visitas domiciliares, uma vez que a prefeitura disponibiliza apenas um carro para
todas as unidades CAPS do município de Santos. Recentemente, as unidades
também enfrentam falta de profissionais copeiras para servir alimentos aos
usuários. Em vez de chamar mais profissionais por meio de concurso público, a
prefeitura colocou essa responsabilidade sobre assistentes sociais, enfermeiros e
psicólogos, mostrando falta de respeito pela formação e titulação desses
profissionais. Diante dessa situação, os profissionais optaram por se recusar a
realizar essa função e explicaram aos usuários, por meio de assembleias, o motivo
de não ser mais distribuída a comida no CAPS. É importante que os usuários
entendam que essa não é uma função dos profissionais e que eles também fazem
parte da classe trabalhadora, sendo explorados. Deve-se pressionar a prefeitura e
o Estado para melhorar o serviço, que é um direito de todos os cidadãos
brasileiros.
Essa conscientização dos usuários levou à participação ativa durante a
Semana da Luta Antimanicomial, em 18/05, em que eles tomaram a iniciativa de
criar cartazes e fazer pronunciamentos em público, em frente à prefeitura, sobre a
instituição e possíveis melhorias na saúde mental. Trabalhando com a emancipação
dos usuários e a construção do pensamento crítico, levantaram-se diversas
demandas, não se limitando apenas no Caps. Foram levantadas questões como
direito à moradia, melhores salários para os funcionários públicos, mais
profissionais na área de saúde mental, um carro para cada Caps, mais passeios e
ocupações na cidade como atividade terapêutica, entre outras.
Com base no texto “Agudização da Barbárie e Desafios do Serviço Social”,
trabalhado em sala de aula, podemos concluir que o Serviço Social é um campo de
atuação que se posiciona como uma resistência à barbárie e à lógica da
acumulação de capital. Os assistentes sociais são agentes que devem
compreender as contradições inerentes ao sistema capitalista e desmistificar a
conjuntura atual, buscando promover justiça social e contribuir para a construção de
uma sociedade mais igualitária. Para enfrentar os desafios impostos, é necessário
que os profissionais do Serviço Social incorporem os princípios ético-políticos
construídos ao longo das últimas décadas, utilizando-os como base para suas
ações e intervenções. Além disso, é fundamental compreender as estruturas sociais
que perpetuam a desigualdade, desenvolver estratégias eficazes de intervenção
social e resistir às políticas neoliberais que podem agravar ainda mais as
condições sociais. Essa superação de desafios requer a mobilização não apenas
dos assistentes sociais, mas também de pesquisadores e movimentos sociais que
compartilham o objetivo de promover transformações profundas e duradouras na
sociedade. Somente por meio desse engajamento coletivo e da luta incansável
pelos direitos da classe trabalhadora é possível contribuir para a construção de um
futuro mais justo e igualitário. Portanto, o Serviço Social desempenha um papel
crucial como campo de resistência e luta por justiça social, buscando enfrentar as
demandas e desafios da atual conjuntura, e contribuindo para a construção de uma
sociedade mais igualitária e justa.

Você também pode gostar