1) O documento é um caderno de campo de uma estagiária da disciplina de Ação Pedagógica Integrada sobre suas observações em uma escola pública.
2) No primeiro dia, a estagiária observou uma aula de português com dificuldades dos alunos em escrever devido ao ensino remoto.
3) Ela também observou uma aula de artes autoritária e sem criatividade, o que a decepcionou, mas a motivou a melhorar.
1) O documento é um caderno de campo de uma estagiária da disciplina de Ação Pedagógica Integrada sobre suas observações em uma escola pública.
2) No primeiro dia, a estagiária observou uma aula de português com dificuldades dos alunos em escrever devido ao ensino remoto.
3) Ela também observou uma aula de artes autoritária e sem criatividade, o que a decepcionou, mas a motivou a melhorar.
1) O documento é um caderno de campo de uma estagiária da disciplina de Ação Pedagógica Integrada sobre suas observações em uma escola pública.
2) No primeiro dia, a estagiária observou uma aula de português com dificuldades dos alunos em escrever devido ao ensino remoto.
3) Ela também observou uma aula de artes autoritária e sem criatividade, o que a decepcionou, mas a motivou a melhorar.
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
Departamento de Educação, Informação e Comunicação Curso de Pedagogia
Isabela Martins Cazula
Caderno de campo apresentado à
disciplina de Ação Pedagógica Integrada: Ensino Fundamental I: Língua Portuguesa e Matemática como requisito de avaliação da aprendizagem.
Docentes: Prof.a Dr.a Elaine
Sampaio Araújo e Prof.a Dr.a Soraya Maria Romano Pacifico. Educadora: Prof.a Dr.a Delma Bezerra.
Ribeirão Preto 2022 CADERNO DE CAMPO – Estágio de Metodologia do Ensino de Matemática e Português - E. E. Antonio Palocci – CAIC
23/05/2022 – Primeiras impressões
No primeiro dia de estágio, chegamos na sala combinada anteriormente
com a vice-diretora, e notamos que a professora responsável pela turma voltava de licença maternidade, então não sabia muito bem em que nível alfabético os alunos estavam. Estávamos tendo o primeiro contato com os alunos ao mesmo tempo que ela. A professora conversou muito conosco nesse primeiro momento, nos explicando a situação de estar voltando ao ambiente escolar e em todos os momentos voltando-se para o fundo da sala (onde estávamos) para dizer o que ela estava propondo para a sala e os motivos de estar propondo. Mencionamos nossos objetivos e também explicamos que realizaríamos horas de observação, para que no futuro pudéssemos aplicar um projeto para os alunos. Ela nos deixou muito à vontade e nesse momento também conhecemos a professora auxiliar da sala, que a ajudou a preparar as atividades. Ela iniciou a aula com uma sondagem, entregando uma folha sulfite para que cada aluno escrevesse seu nome e em seguida dando início a um ditado de palavras e frases. Ela também deixou claro para os alunos que poderiam escrever da maneira que preferissem, sem necessariamente saber a grafia correta das palavras, mas se concentrando em escrever da forma que podiam. Se destacou o fato de que ela se referia às crianças com um tom muito calmo e tranquilo, o que acabou nos tranquilizando muito também. A realização da atividade demonstrou que muitos estavam com dificuldades para escrever as sílabas e com a sequência do alfabeto, o que provavelmente se deve às consequências da pandemia e as implicações do ensino remoto. O primeiro ano deles foi realizado inteiramente no ensino remoto, o que pode ser o cerne dessa problemática. É importante mencionar também que assim que chegamos no ambiente escolar o diretor foi bastante receptivo, mostrando a organização de toda a escola e apresentando todos os ambientes, inclusive a horta e o sistema de compostagem que está sendo desenvolvido pela escola, envolvendo um ciclo do qual os alunos participarão ativamente, o que achei muito interessante. Uma crítica que pode ser feita é devido ao tempo que as crianças passam dentro da sala de aula, que é muito extenso. Observamos que elas entram as 7h da manhã e saem apenas as 12h, nas segundas feiras é ainda mais exaustivo por serem cinco horas consecutivas apenas sentados nas cadeiras, já que o cronograma marca 5 aulas de Língua Portuguesa nesse dia da semana. Assim que as crianças retornaram do intervalo, a professora deu início à algumas atividades a partir do livro didático, as quais abordavam algumas brincadeiras típicas de alguns lugares do mundo. O esforço da professora para chamar a atenção dos alunos e ler junto com eles as perguntas era nítido, mas as crianças estavam eufóricas e dispersas, e pensamos em alguns prováveis motivos para isso. Um deles pode estar relacionado com o tempo exaustivo que passam na sala de aula e o outro foi explicitado pela própria professora: a organização mecânica do livro didático. As perguntas muitas vezes repetitivas e pouco relevantes, repetiam o que já havia sido perguntado anteriormente para o aluno, tema que a professora nos destacou e conversamos sobre esse empecilho, que não cativa as crianças e faz com que eles fiquem ainda mais dispersos, dado o cronograma de segunda-feira. Recebemos alguns bilhetinhos das crianças logo em nosso primeiro dia e fiquei muito emocionada, pois era meu primeiro contato com a sala de aula nessas condições. Saí da escola muito feliz e realizada com as relações estabelecidas tão brevemente e extremamente ansiosa para o próximo dia.
24/05/2022 – Quebra de Expectativas
No segundo dia, observamos a aula de Educação Física, primeiro na sala e depois descendo com os alunos para a quadra. A professora da disciplina nos recebeu muito bem também, nos deu boas vindas e conversou conosco por alguns momentos. Observei que ela estava meio desmotivada, cansada. Mas nunca perdia a paciência com as crianças e sempre as tratava com um carinho imenso durante toda a aula. A brincadeira “Quem sou eu?” realizada em sala de aula nos chamou a atenção por instigar a imaginação das crianças e a dinâmica da sala. Um aluno ia para a frente da lousa e a professora escrevia uma palavra em cima de sua cabeça, em seguida os demais alunos da classe poderiam responder às perguntas do colega, para que ele tentasse adivinhar o que ele era. Foi um momento muito legal e descontraído para a sala, que antecipou a ida das crianças à quadra, onde ficaram eufóricas com as brincadeiras propostas pela professora e gastaram bastante energia. É memorável que um dos alunos recorria à nos a todo momento, tanto no primeiro dia como nesse segundo contato, na quadra da escola durante a aula de Educação Física, vinha até nós pedindo que elaborássemos contas de soma e subtração para ele, a partir do simples dizer “Matemática!” ao se aproximar de nós. Conforme íamos propondo contas simples para ele, cada vez mais ele pedia mais complexas, pois aquelas estavam “muito fáceis”. Após o intervalo, observamos a aula que eu estava mais ansiosa para ver: a de Artes. No entanto, toda a minha empolgação foi substituída por uma decepção iminente assim que a professora adentrou a sala, pois fingiu que nem estávamos ali e manteve a expressão fechada. A aula começou com ordens para que as crianças desenhassem, especificamente, legumes. Nas palavras da professora: “não quero mar, sol, céu, nem árvores, apenas legumes! E que tenham cor de legumes, sem inventar”. Estar como espectadora de um momento como esse mexeu muito comigo de modo negativo, pois é a área que me dedico a estudar muito para seguir futuramente. Uma aula onde a criatividade deveria reinar e as crianças deveriam ser mais autoras do que nunca, de repente se demonstrou cinzenta e pouco imaginativa. Importante mencionar que as crianças nem olharam para os lados nessa aula, e as produções foram recolhidas sem ao menos serem vistas pela docente, que juntou suas coisas rapidamente e saiu da sala do mesmo modo que entrou. Apesar de ter tido uma quebra de expectativa muito grande com a aula de Artes, isso me motivou a aprimorar meus conhecimentos e fazer de tudo para não cair nos braços de uma prática limitativa e autoritária de um ensino que é para ser mais libertador e imaginativo do que qualquer outro. A aula de Matemática foi a que sucedeu a de Artes, e as professoras da classe conduziram estas atividades. É incrível o fato de que as crianças da sala têm uma preferência tão grande pela Matemática que se mantiveram extremamente concentradas nas atividades com numerais, operações básicas e números vizinhos. Elas competiram para ver quem acabava as tarefas primeiro e se empolgavam muito com os números, algo que se destaca bastante ao lembrar dessa aula.
26/05 - Oficina de Projetos - exemplos de dinâmicas interdisciplinares em
sala de aula
Nesse dia, presenciamos pela primeira vez a aula de Oficina de Projetos e
conhecemos também a professora que a ministra. A docente nos recebeu extremamente bem e nos explicou do que se tratava aquela aula, que ela contextualizava conteúdos nos quais os alunos possuíam mais dificuldades, entre todas as disciplinas e montava atividades interdisciplinares, com o intuito de ajudá-los. Achamos interessante toda a organização dessa dinâmica, ainda mais quando a professora conversou conosco e disse que gostava de utilizar autores diferentes que as crianças ainda não tiveram contato, para ampliar o repertório e conhecimento delas sobre literatura infantil. Nessa aula, especificamente, os alunos retomaram o que haviam aprendido na aula anterior, um livro chamado “A Lenda do Macaco e do Tambor”, sobre um conto africano. Ela chegou, inclusive, a nos mostrar todas as produções que os alunos haviam feito na última aula, com a ficha técnica do personagem e suas características físicas, o que ele gostava de comer e em seguida uma ilustração. Vimos os trabalhos de todos os alunos, e ficamos impressionadas com o capricho e dedicação que tiveram para esta atividade. Na continuação da aula, a professora falou um pouco com as crianças sobre o país de origem do macaco; a Guiné Bissau. Ela apresentou a bandeira do país e fez comparações com a bandeira do Brasil, sobre cores e outras características. Ela analisou a bandeira do Brasil com a sala e pediu que os alunos a desenhassem, refletindo sobre as formas geométricas que a compõem. Observar essa aula foi uma surpresa incrível, não esperávamos dinâmicas como essa e a abordagem da professora, que nos demonstrou como deve ser uma aula interdisciplinar e como ela tem a capacidade de cativar os alunos muito mais do que uma aula restrita a apenas um tipo de tema ou conteúdo. O respeito ao nível de letramento de cada criança também esteve muito presente, pois a professora os incentivava a produzir do jeito que sabiam, sem se importar se estava “correto” ou não. Ela também ouvia as contribuições dos alunos e interligava o repertório cultural que eles já possuiam com novos, interligando História com Matemática, Português com Geografia, entre outras relações de extrema relevância. De todas as aulas que vimos, essa foi a que mais cativou os alunos e a que eles mais se envolveram, felizes com a história e com as atividades que eram propostas de modo totalmente lúdico e interessante.
27/05 - Conteúdos didáticos (ou não?) dos livros
Foi possível presenciar a aula de história pela primeira vez nesse dia. O decorrer da aula foi semelhante às aulas de Língua Portuguesa, em que os alunos trabalharam com atividades do livro. Eles até se perderam na hora de procurar o caderno de história, pois não sabiam em que parte estava devido à pouca frequência com que utilizam. Após o termino das atividades do livro, que eram igualmente repetitivas e faziam com que os alunos respondessem mecanicamente, se limitando a quase “sim” ou “não” para a maioria das questões, eles iniciaram a aula de inglês. Essa aula foi conduzida de modo muito legal e participativo, porém com os mesmos temas de sempre nas atividades, se tratando de materiais escolares em inglês. A professora perguntava o nome de determinado material e as crianças pegavam no estojo ou na carteira, levantavam mostrando para ela e falavam a palavra que correspondia à tradução em inglês. A professora era extremamente doce e carinhosa com os alunos, e era perceptível que ela seguia os devidos temas das apostilas. Em certo momento, um dos alunos questionou em voz alta: “professora, por que a gente sempre estuda a mesma coisa de novo e de novo?” o que foi respondido por ela, que disse que eles não haviam terminado todos os materiais escolares ainda. Esse acontecimento denuncia a mecanicidade dos conteúdos apostilados, que as professoras seguem à risca e que não atinge os alunos de forma efetiva, os distanciando dos aprendizados realmente relevantes e fazendo com que percam o interesse gradativamente pelas aulas e pela instituição escolar.
31/05 - Matemática tradicional
A aula prevista no cronograma era Matemática, então os alunos estavam atentos e empolgados. Nesse dia, a professora que ministrou a aula foi a auxiliar, cuja prática se distingue um pouco da outra professora responsável pela sala. A dinâmica seguida por elas, aparentemente era a de que uma ministraria as aulas de Língua Portuguesa enquanto a outra, as de Matemática. As atividades passadas na lousa tinham como pressuposto principal a “decoreba” para que os alunos aprendessem a grafia correta dos números e também sua sequência. Observamos que sempre nessas aulas conduzidas pela auxiliar, eram passados os mesmos tipos de atividade, como: “Escreva os números abaixo por extenso” ou “Coloque em sequência correta”, se tornando algo que as crianças faziam de modo automático e mecânico, sem dinamizar esses conteúdos e aprendizados. Quando as aulas eram conduzidas pela professora auxiliar especificamente, as crianças eram ordenadas a todo momento a permanecerem em silêncio, não podiam emprestar materiais aos colegas e nem atrapalharem a aula com “conversinhas”, o que os mantinha sentados fixamente nas cadeiras sem desobedecer a figura tradicional fa professora. Eles não eram convidados a interagirem com os conteúdos e não usufruíam de espaço para desenvolver o pensamento matemático e muito menos crítico-reflexivo. Notamos que, a todo momento essa professora se queixava dos alunos para nós, fazendo observações em voz alta sobre como aquela sala era desobediente e os alunos mal-comportados.
02/06 - Observações breves
Devido a alguns compromissos pessoais pude presenciar apenas duas aulas nesse dia, que foram de Inglês e Artes. As aulas de inglês decorreram da exata mesma maneira que a anterior, mas a professora deu um tempo livre para que os alunos desenhassem e ficassem conversando um pouco entre si na aula. Eles sempre demonstram o carinho que têm por nós e nesse dia conversaram bastante conosco, vindo nos contar sobre o que fizeram na semana, com a família, amigos e quais são seus desenhos favoritos. Desenhamos um pouco com eles e tivemos momentos muito bons, em que nossa relação foi se fortificando e ficamos cada vez mais ansiosas pela experiência prática que a intervenção nos traria. A aula de artes foi na sala de mídias, com a exibição de um vídeo sobre instrumentos musicais. As crianças assistiram caladas, mas em alguns momentos tomavam broncas pelos comentários que faziam ou por alguma breve fala durante a “aula”. Nos vídeos, os instrumentos eram mostrados visualmente e em seguida aparecia seu efeito sonoro. As crianças estavam dispersas e faziam comentários baixinho enquanto olhavam para nós, do tipo “elas devem estar achando muito chato também”, entre outros. A professora parecia não se importar com a falta de atenção dos alunos ao que estava sendo proposto, mas queria que o silêncio reinasse na sala, por isso falava em tom autoritário com os alunos. Em minha concepção, essa aula, entre todas, foi a mais limitante e restritiva que pude observar, pois haviam muitas possibilidades para trabalhar com os instrumentos junto às crianças e isso não foi feito, mas existem vários planos de fundos e possíveis motivos para isso.
08/06 - Último dia antes das intervenções!
No último momento de observação, presenciei aulas de Educação Física, em que os alunos estavam muito ansiosos para descer para a quadra. Durante o período em que a professora esperava para descer com eles, uma das alunas veio me solicitar ajuda com a escrita de uma palavra, o que fez com que os demais a repreendessem de prontidão, dizendo que uma das professoras disse para que eles não nos incomodassem, porque não éramos professoras e desse modo, não era pra ajudá-los. Me senti um pouco chateada, porque já nutria uma grande afeição por eles e vê-los se referirem daquela maneira me deixou um pouco triste. Mas esse sentimento logo passou, porque um dos alunos (que sempre insistia em me chamar de professora) se referiu a mim com esse termo novamente, como um acalento. Me abraçando com a pronúncia de uma única palavra. Isso me fez ficar firme e restituiu minha ansiedade para aplicar os projetos. A aula de Matemática foi semelhante às realizadas anteriormente. Os alunos copiaram os conteúdos da lousa e permaneceram quietos enquanto a professora anotava na lousa e os induzia a manter o silêncio absoluto. As atividade como “Coloque os vizinhos dos números” e “Escreva por extenso” apareceram novamente, marcando presença fixa nas aulas. Na aula de inglês, recebi muitas cartinhas e desenhos dos alunos, o que aqueceu meu coração. O conteúdo abordado foi materiais escolares novamente e dessa vez, eles fizeram ilustrações. Esse dia foi de grandes aprendizados e pensamentos, assim como todos os outros que o sucederam, contribuindo fortemente para a minha preparação de aplicação dos projetos. Pensar na despedida enquanto observava a sala foi muito difícil, dado o apego que desenvolvi com os alunos. Naquele momento eu soube quanta falta fariam e o quanto foi necessário ter os conhecido e vivido junto a eles na sala de aula por alguns dias, mesmo que poucos. Deixei a sala com uma visão de mundo completamente diferente e com o coração um pouco mais completo.