Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
geografias
267
1 “The Turkish policymakers´ new geographic imagination of bordering regions cast aside the former ‘bad
neighborhood’ atmosphere and made Turkey a more active regional participant and partner’”.
268
uma nã̧o é imaginada porque os membros mesmo da menor nã̧o nunca co
nhecer̃o a maior parte de seus companheiros, encontrar com eles, ou mesmo
ouvir falar deles, ainda assim nas mentes de cada um vive a imagem de sua
comunh̃o.2
Esta compreens̃o buscaremos adaptar para o contexto regional. Sendo uma co
munidade de páses um espa̧o grande o suficiente para necessitar de seus membros a
intuĩ̧o a respeito do todo, ela também pode ser compreendida como uma comunidade
imaginada. Se a proposta de Anderson ao formular este conceito foi resgatar a histori
cidade do nacionalismo, neste estudo também defendemos que foŗas sociais atuam
na formã̧o de identidades regionais, das quais os Estados nacionais s̃o agentes pri
vilegiados e que, nos casos analisados, Brasil e Turquia creem poder operar de modo a
contribuir para seus respectivos projetos de lideraņa regional.
A educã̧o e as trocas culturais s̃o oportunidades singulares para a alterã̧o
dos padr̃es de participã̧o dos indiv́duos em comunidades. (LAVE; WENGER, 1991;
WENGER, 1998) Kanno e Norton (2003, p. 246, tradũ̧o nossa) estudaram como
as diferentes percep̧̃es de comunidades foram capazes de estimular indiv́duos em
processos educativos, em especial na aprendizagem de idiomas. “Para vislumbrar uma
identidade imaginada dentro do contexto de uma comunidade imaginada pode impactar
o engajamento dos estudantes durante as pŕticas de ensino”.3
Esta pesquisa buscaŕ apontar as estratégias presentes em alguns projetos de coo
perã̧o de Brasil e Turquia na creņa de que parte dos objetivos dos formuladores em
2 “a nation is imagined because the members of even the smallest nation will never know most of their
fellowmembers, meet them, or even hear of them, yet in the minds of each lives the image of their
communion.”
3 “To envision an imagined identity within the context of an imagined community can impact a learner’s
engagement with educational practices”.
269
270
271
Cooperação oficial
4 “the foundation stones for the common cause” e “the architects of the great Turkish world”.
272
5 “These children, during their education, will get the chance to know their Turkish friends closely and thus
will become the foundation stones for the common cause. Furthermore, when they return to their coun
tries after finishing their education, they will become the architects of the great Turkish world”.
6 Turkic é o termo utilizado para os páses que possuem inflûncia da antiga cultura turca. Ressaltese que
esta identidade além de cultural é étnica. Por toda a Ásia é posśvel se perceber a preseņa pulverizada
desses grupos.
273
7 Tal movimento foi idealizado pelo télogo sunita Said Nursi, que pregava a import̂ncia do conhecimento
para a ascens̃o religiosa. Sua morte resultou na divis̃o de seus seguidores em diversos grupos, sendo o
liderado por Fethullah o mais influente.
8 Afirmase que o mais importante jornal do pás faria parte do movimento.
274
275
276
277
O Brasil apresenta, por sua vez, uma estratégia de inseŗ̃o internacional que cada
vez mais também vem fazendo uso da diplomacia educacional como ferramenta para
atingir seus objetivos. Como veremos, no geral, suas ofertas de cooperã̧o técnica na
́rea de educã̧o t̂m se esfoŗado em desenvolver uma cultura de cordialidade com
seus parceiros regionais mais pŕximos e uma posĩ̧o de hegemonia na Comunidade
de Páses de Ĺngua Portuguesa. No caso dos páses africanos, em que muitos possuem
uma poĺtica pública educacional deficiente, o Brasil se esfoŗa para que o idioma portu
gûs ainda tenha relev̂ncia em sua populã̧o e que assim o pás ainda consiga manter
uma aproximã̧o e inflûncia cultural.
Mercosul Educacional
Escolas de Fronteira
278
Toda frontera entre páses que hablan lenguas diferentes se caracteriza por ser
una zona de inestabilidad y contactoconflicto sociolingǘstico. Esta interaccín se
produce, entre otros factores, por la influencia de los medios de comunicacín; en
particular de la radio y la televisín de un lado y otro de la frontera. (MERCOSUL,
Ca.2012, p. 1)
9 “[...] se considera que el fortalecimiento de la identidad regional es un tema prioritario y, de ese modo,
se promueve el conocimiento mutuo, la cultura de integracín y la promocín de poĺticas regionales de
formacín de recursos humanos con vista a la mejora de la calidad de educacín”
279
A idéia é essa, que as professoras passem pelo mesmo processo que as criaņas
passam, aprender na imers̃o e na cultura dentro da escola, em conjunto, explica.
Talvez seja um pouco sofrido no comȩo porque o professor tem uma ideia de que
ele precisa levar tudo pronto e estar absolutamente seguro do que vai fazer ĺ, tudo
muito planejadinho. As orientã̧es ser̃o apenas a respeito da linha pedaǵgica do
projeto. (PROFESSORES..., 2008)
280
Em meados dos anos 1990, houve o laņamento de um projeto que tinha por
objetivo produzir materiais pedaǵgicos, acad̂micos e did́ticos a fim de contribuir no
ensino da hist́ria e geografia no Mercosul. A proposta seria de alterar o quadro edu
cacional dos páses do bloco, marcado por forte nacionalismo, para a constrũ̧o de
uma conscîncia social mais favoŕvel ao processo de integrã̧o. Afirmam Beshara e
Pinheiro (2012, p. 163):
281
Percebiase que o ensino realizado nos páses carregava valores distintos uns dos
outros, o que influenciaria decisivamente na formulã̧o das poĺticas externas dos pá
ses. A compreens̃o do espa̧o geogŕfico ou do processo hist́rico afetariam a maneira
como estes páses realizariam suas ã̧es internacionais, ao estimular percep̧̃es de
amizades e inimizades, ou fora e intrarregionais. A possibilidade de se repensar uma
hist́ria e geografia comuns era uma tentativa de, em longo prazo, ser capaz de interferir
positivamente no processo de integrã̧o regional.
O processo educacional é permeado por pŕticas de poder. J́ nos lembrava Paulo
Freire (1983) que todo ato pedaǵgico é um ato poĺtico. Marc Ferro refoŗa a percep̧̃o
da import̂ncia poĺtica da educã̧o: “Ño nos enganemos: a imagem que fazemos de
outros povos, e de ńs mesmos, est́ associada à hist́ria que nos ensinaram quando
éramos criaņas [...] enxertamse depois opinĩes, ideias fugazes ou duradouras, como
um amor”. (FERRO, 1983 apud BESHARA; PINHEIRO, 2012, p. 164165)
Pinheiro e Beshara comentam as raz̃es porque este projeto ño foi bemsucedido.
A ideia de reconstruir uma hist́ria e uma geografia em comum ño conseguiu se so
brepor à constatã̧o de que tais disciplinas s̃o marcadas pelas difereņas nacionais.
Ainda assim, houve a aprendizagem de que
282
283
10 O projeto est́ voltado para os páses africanos. Apesar de em alguns documentos apontar a vontade de
aproximã̧o universit́ria com Portugal, este pás ño é visto como prioridade pela Unilab.
284
Conclusão
285
Referências
AKPINAR, P.; ARAS, B. The relations between Turkey and the Caucasus. Perceptions,
v. 16, n. 3, p. 5368, 2011.
ANDERSON, B. Imagined Communities: reflections on the origin and the spread of
nationalism. Londres: Verso, 1991.
ARAS, B.; FIDAN, H. Turkey and Eurasia: Frontiers of a new geographic imagination.
New Perspectives on Turkey, n. 40, p. 195217, 2009.
ARSU, S.; BILEFSKY, D. Turquia sente inflûncia de ĺder religioso que vive nos
Estados Unidos. Zero Hora, Porto Alegre, 11 maio 2012. Dispońvel em: <http://
zerohora.clicrbs.com.br/rs/mundo/noticia/2012/05/turquiasenteinfluenciadelider
religiosoquevivenosestadosunidos3755293.html>. Acesso em: 29 maio 2012.
BESHARA, G.; PINHEIRO, L. Poĺtica externa e educã̧o: conflûncias e perspectivas
no marco da integrã̧o regional. In: MILANI, C. R. S.; PINHEIRO, L. (Org.). Política
externa brasileira: as pŕticas da poĺtica e a poĺtica das pŕticas. Rio de Janeiro:
FGV, 2012.
BILEFSKY, D. Turkey feels sway of reclusive cleric in the U.S. The New York Times. 12
Apr. 2012. Dispońvel em: <http://www.nytimes.com/>. Acesso em: 10 fev. 2014.
CAÑETE, L. R.; KERSCH, D. F. Representã̧es sociais de envolvidos na
implementã̧o do PEIBF: Um exemplo do rio grande do sul. Cadernos de Linguagem
e Sociedade, v. 13, n. 1, 2012.
COMISSÃO DE IMPLANTAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO
LATINOAMERICANA. A Unila em construção. Foz do Igua̧u: Imea, 2009.
COSTA, M. T. da. Acusado por Erdogan de tramar golpe, movimento Hizmet diz temer
por liberdade na Turquia. Jornal Extra, Rio de Janeiro, 20 jan. 2014. Dispońvel em:
<http://extra.globo.com/>. Acesso em: 10 fev. 2014.
286
287
288
289