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Embora, em geral, tenha como re- Há análises que simplesmente não fazem
ferência autoras e autores franceses, o qualquer distinção entre os dois. Embora
pós-estruturalismo, como categoria des- partilhem certos elementos, como, por
critiva, foi, provavelmente, inventado na exemplo, a crítica do sujeito centrado
universidade estadunidense. Trata-se de e autônomo do modernismo e do hu-
uma categoria bastante ambígua e indefi- manismo, o pós-estruturalismo e o
nida, servindo para classificar um número pós-modernismo pertencem a campos
sempre variável de autores e autoras, bem epistemológicos diferentes. Diferente-
como urna série também variável de teo- mente do pós-estruturalismo, o pós-mo-
rias e perspectivas. A lista invariavelmente dernismo define-se relativamente a uma
inclui, é verdade, Foucault e Derrida. A par- mudança de época. Além disso, enquanto
tir daí, entretanto, há pouca unanimidade, o pós-estruturalismo limita-se a teorizar
cada analista fazendo a sua própria lista que sobre a linguagem e o processo de signi-
pode incluir Deleuze, Guattari, Kristeva, ficação, o pós-modernismo abrange um
lacan, entre outros. É igualmente variável campo bem mais extenso de objetos e
a genealogia que lhe é atribuída: algumas preocupações. Talvez a fo r ma mais útil
análises tomam como referência o próprio de caracterizar essas distinções seja
estruturalismo, principalmente Saussure; pensar nos termos aos quais se refe-
outras preferem remeter sua gênese a rem os dois "pós", isto é, modernismo
Nietzche e Heiddeger. Neste último caso, e estruturalismo. Na medida em que o
0 pós-estruturalismo, além de uma reação termo "modernismo", que constitui a
ao estruturalismo, constitui-se numa rejei- referência de "pós-modernismo", remete
ção da dialética - tanto a hegeliana quanto às características de toda uma época, ele
a marxista. é muito mais abrangente que "estruturalis-
O pós-estruturalismo é frequentemen- mo", que se refere de forma muito parti-
te confundido com o pós-modernismo. cular a um gênero de teorização social. O
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b
e
l.
-
Embora Foucault tenha rejeitado, de diferença de pronúncia entre as palavras
forma explícita, o rótulo de "pós-estrutu- différance e différence.Além disso, a palavra
ralista", as consignas que ele esboçava no différance remete à ideia de "diferir", de
prefácio à edição americana do livro de "adiar". Ao combinar numa só palavra os
Deleuze e Guattari,Anti-Édipo, constituíam significados de "diferença" e "adiamento",
uma espécie de "manifesto mínimo do pós- Derrida aceita a proposição de Saussure
-estruturalismo", ao qual não faltava nem de que a existência de um determinado
mesmo o tom de convocação da segunda significante depende da diferença que ele
pessoa do plural do Manifesto Comunista: estabelece relativamente a outros sig-
"liberai a ação política de toda forma de nificantes. Mas ele vai além: o significado
paranoia unitária e totalizante; desenvolvei não é nunca, definitiva e univocamente,
a ação, o pensamento e os desejos por apreendido pelo significante. O significado
não está nunca definitivamente presente
proliferação, justaposição e disjunção,
no significante. A presença do significado
antes que por subdivisão e hierarquização
no significante é incessantemente adiada,
piramidal; livrai-vos das velhas categorias
diferida. O exemplo mais definitivo desse
do Negativo. Preferi o que é positivo e
processo é dado pelo dicionário. Nós
múltiplo: a diferença à uniformidade, os
temos a ilusão de que a definição de uma
fluxos às unidades, os agendamentos mó- determinada palavra (significante) é cons-
veis aos sistemas. O que é produtivo não tituída por um significado, "o significado
é sedentário mas nômade; não exijais da da palavra", mas, na verdade, ela é sempre
política que ela restabeleça os "direitos" do definida por uma outra palavra (um outro
indivíduo tais como a filosofia os definiu. O significante). Aquele significante que cons-
indivíduo é o produto do poder". titui a definição da palavra e que supomos
Já a contribuição de Derrida pode ser seu "significado" será definido, por sua
ser sintetizada através do conceito de vez, por outro significante, e assim por
différance. Derrida cunhou esse termo diante, num processo sem fim. Ou seja,
precisamente para estender e radicalizar o significado está sempre mais além, mais
o alcance do conceito de diferença que, adiante, mas esse além, evidentemente,
como vimos, é tão central no estrutura- nunca chega. Em outras palavras, nunca
lismo. Não existe, em francês, nenhuma saímos do domínio do significante.
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Mas com a indistinção, na linguagem escrita que é vista como forma de registro,
oral, entre différance e différence, Derrida Derrida resolve utilizar o termo "escrita"
quer chamar a atenção para uma outra coi- para abranger também a linguagem oral,
sa muito importante. Na tradição filosófica precisamente para chamar a atenção para
ocidental, faz-se uma oposição fundamental seu caráter de inscrição. Com essa análise,
entre a linguagem oral e a linguagem escrita. Derrida efetua, por vias diferentes das de
Nessa tradição, a escrita é, de certa forma, Foucault, um ataque importante à noção
desvalorizada relativamente à linguagem de sujeito do humanismo e da filosofia da
oral, por se constituir numa espécie de consciência. Nessas tradições, a voz é a
forma secundária, derivada, relativamente expressão suprema da autonomia e da pre-
a essa última.A linguagem oral é aquela que sença do sujeito. Na medida em que a voz é
está próxima, colada à nossa interioridade. vista como sendo já inscrição e linguagem,
Ela é a expressão imediata de nosso eu, de ela é externa ao sujeito. O sujeito, tal como
nossa subjetividade.A escrita seria apenas concebido no humanismo e na filosofia da
uma forma degradada de registro desse consciência, deixa, pois, de existir.
momento privilegiado em que existe, na Não se pode falar propriamente de
oralidade, uma identidade entre nossa uma teoria pós-estruturalista do currículo,
consciência e a linguagem. Nossa consciência mesmo porque o pós-estruturalismo, tal
é, na linguagem oral, uma presença. Derrida como o pós-modernismo, rejeita qualquer
questiona esse pressuposto da identidade tipo de sistematização. Mas há certamente
entre a consciência e a linguagem oral. Para uma "atitude" pós-estruturalista em muitas
ele, a linguagem oral não é a consciência em das perspectivas atuais sobre currículo.
estado puro: a linguagem oral é já e sempre, Nos Estados Unidos, Cleo Cherryholmes
exatamente tal como a escrita, significante. foi um dos primeiros a desenvolver de
Não existe nenhuma diferença ontológica forma explícita uma perspectiva pós-estru-
essencial entre o sinal com que registra- turalista na área dos estudos sobre currículo.
mos no papel a palavra "maçã" e a forma Thomas Popkewitz vem se dedicando há
com a qual a pronunciamos. Constituem, alguns anos ao desenvolvimento de uma
ambos, formas de registro, de inscrição: análise do currículo fundamentada na
são ambos significantes. Uma vez que é a teorização de Michel Foucault. Em geral,
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que efetivamente constrói o objeto do poder estabelecidas no contínuo processo
qual fala. Mais do que um interesse sim- da história de dominação colonial.
plesmente científico ou epistemológico, o Tal como ocorre, de forma mais ge-
que move essa narrativa é a curiosidade e ral, nos Estudos Culturais, o conceito de
a fascinação pelo Outro, visto como es- "representação" ocupa um lugar central
tranho e exótico, e o impulso para fixá-lo na teorização pós-colonial. O conceito
e dominá-lo como objeto de saber e de de "representação" é, aqui, fundamental-
poder. O Outro é, pois, menos um dado mente, pós-estruturalista, isto é, a repre-
objetivo e mais uma criatura imaginária sentação é compreendida como aquelas
do poder. formas de inscrição através das quais o
A análise pós-colonial junta-se, assim, às Outro é representado. Diferentemente
análises pós-moderna e pós-estruturalista, das concepções psicologistas de repre-
para questionar as relações de poder e as sentação, a análise pós-colonial adota uma
formas de conhecimento que colocaram concepção materialista de representação,
o sujeito imperial europeu na sua posição na qual se focaliza o discurso, a linguagem,
atual de privilégio. Diferentemente das ou- o significante, e não a imagem mental, a
tras análises "pós", entretanto, a ênfase da ideia, o sign ificado. A representação é
teorização pós-colonial está nas relações aquilo que se expressa num texto literá-
de poder entre nações. O pós-colonialis- rio, numa pintura, numa fotografia, num
mo concentra-se no questionamento das filme, numa peça publicitária. A teoria
narrativas sobre nacionalidade e sobre pós-colonial considera a representação
"raça" que estão no centro da construção como um processo central na formação e
imaginária que o Ocidente fez - e faz - do produção da identidade cultural e social.
Oriente e de si próprio. A teoria pós-co- É fundamentalmente através da repre-
1 • 1 sentação que construímos a identidade
onia focaliza, sobretudo, as complexas
relações entre, de um lado, a exploração do Outro e, ao mesmo tempo, a nossa
econômica e a ocupação militar e, de própria identidade. Foi através da repre-
outro, a dominação cultural. Em termos sentação que o Ocidente, ao longo da
foucaultianos, questionam-se as comple- trajetória de sua expansão colonial, cons-
xas conexões entre saber, subjetividade e truiu um "outro" como supostamente
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b
irracional, inferior e como possuído por A dimensão epistemológica e cultural
uma sexualidade selvagem e irrefreada. do processo de dominação colonial não
Vista como uma forma de conhecimento se limitava, entretanto, à produção de
do Outro, a representação está no centro conhecimento sobre o sujeito colonizado
da conexão saber-poder. e seu ambiente. O processo de domina-
É precisamente essa conexão saber- ção, na medida em que ia além da fase de
-poder que é particularmente importante exterminação e subjugação física, precisava
para uma teorização curricular crítica ou afirmar-se culturalmente. Aqui, o que se
pós-crítica. Essa conexão aparece de forma tornava importante era a transmissão, ao
bastante óbvia ao longo de toda a história Outro subjugado, de uma determinada
da dominação colonial europeia. O saber forma de conhecimento. A cosmovisão
e o conhecimento estiveram estreita- "primitiva" dos povos nativos precisava ser
mente ligados aos objetivos de poder das convertida à visão europeia e "civilizada"
potências coloniais europeias desde o seu de mundo, expressa através da religião,
início. Antes de tudo, eram as próprias da ciência, das artes e da linguagem e
populações nativas que se tornavam objeto convenientemente adaptada ao estágio
central de conhecimento. O Outro colonial de "desenvolvimento" das populações
tornava-se, na sua estranheza e no seu exo- submetidas ao poder colonial. O projeto
tismo, um importante ponto de referência colonial teve, desde o início, uma impor-
para a definição e redefinição do próprio
tante dimensão educacional e pedagógica.
sujeito imperial. O projeto epistemológico
Era através dessa dimensão pedagógica
colonial abrangia, também, obviamente, a
e cultural que o conhecimento se ligava,
descrição e análise dos recursos naturais e
mais uma vez, ao complexo das relações
do ambiente das terras ocupadas. O impul-
so que deu origem à ciência moderna está coloniais de poder.
ligado, em grande parte, ao conhecimento A teoria pós-colonial evita formas
, . que conce bam o Precesso de
de analise _
produzido no contexto dos interesses de
dominação cultural como uma vi
·a de mao
exploração econômica do empreendimento L • ao
colonial. O conhecimento do Outro e da única. A crítica pós-colonial eniatiza,
·bridism 0 ,
terra era, pois, central aos objetivos de invés disso conceitos como h1
' ermitem
conquista dos poderes coloniais. tradução, mestiçagem, que P
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conceber as culturas dos espaços coloniais sujeito imperial europeu? Como, nessas
ou pós-coloniais como o resultado de uma narrativas, são construídas concepções
complexa relação de poder em que tanto sobre "raça", gênero e sexualidade que se
a cultura dominante quanto a dominada combinam para marginalizar identidades
se veem profundamente modificadas. que não se conformam às definições da
Conceitos como esses permitem focalizar identidade considerada "normal"? Uma
tanto processos de dominação cultural análise pós-colonial do currículo deveria
quanto processos de resistência cultural, também buscar analisar as formas con-
bem como sua interação. Obviamente, temporâneas de imperialismo econômico
o resultado final é favorável ao poder, e cultural. Como as formas culturais que
mas nunca tão cristalinamente, nunca tão estão no centro da sociedade de consumo
completamente, nunca tão definitivamente contemporânea expressam novas formas
quanto o desejado. O híbrido carrega as de imperialismo cultural? Qual o papel
marcas do poder, mas também as marcas dessas novas formas de imperialismo
da resistência. cultural na formação de uma identidade
Éna análise do legado colonial que uma cultural hegemônica e uniforme? Como
teoria pós-colonial do currículo deveria se o currículo, considerado como um local
concentrar. Em que medida o currículo de conhecimento e poder, reflete e, ao
contemporâneo, apesar de todas as suas mesmo tempo, questiona, formas culturais
transformações e metamorfoses, é ainda que podem ser vistas como manifestações
moldado pela herança epistemológica de um poder neocolonial ou pós-colonial?
colonial? Em que medida as definições de Uma perspectiva pós-colonial de currí-
nacionalidade e "raça", forjadas no contex- culo deveria estar particularmente atenta
t~ da conquista e expansão colonial, con- às formas aparentemente benignas de
tinuam predominantes nos mecanismos de representação do Outro que estão em
~armação da identidade cultural e da sub- toda parte nos currículos contemporâne-
~tividade embutidos no currículo oficial? os. Nessas formas superficialmente vistas
e que forma as narrativas que constituem como multiculturais, o Outro é "visitado"
o ,
nucleo do currículo contemporâneo de uma perspectiva que se poderia chamar t'
continuam celebrando a soberania do de"perspectiva do turista",a qual estimula
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uma abordagem superficial e voyeurística Leituras
das culturas alheias. Uma perspectiva BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte:
pós-colonial questionaria as experiências Editora da UFMG, 1999.
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Os Estudos Culturais e o currículo
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campo contestado de significação. O que encontrada nas análises feitas nos Estudos
., está centralmente envolvido nesse jogo é a Culturais pode ser sintetizada na fórmula
' definição da identidade cultural e social dos "x é uma invenção", na qual "x" pode ser
diferentes grupos. A cultura é um campo uma instituição, uma prática, um objeto,
onde se define não apenas a forma que um conceito ... A análise consiste, então,
o mundo deve ter, mas também a forma em mostrar as origens dessa invenção e
como as pessoas e os grupos devem ser. os processos pelos quais ela se tornou
A cultura é um jogo de poder. Os Estudos "naturalizada".
Culturais são particularmente sensíveis às O que distingue os Estudos Culturais
relações de poder que definem o campo de disciplinas acadêmicas tradicionais é
cultural. Numa definição sintética, poder- seu envolvimento explicitamente político.
se-ia dizer que os Estudos Culturais estão As análises feitas nos Estudos Culturais
preocupados com questões que se situam não pretendem nunca ser neutras ou
na conexão entre cultura, significação, imparciais. Na crítica que fazem das rela-
identidade e poder. ções de poder numa situação cultural ou
De alguma forma, a ideia de "cons- social determinada, os Estudos Culturais
trução social" tem funcionado como um tomam claramente o partido dos grupos
conceito unificador dos Estudos Culturais. em desvantagem nessas relações. Os Estu-
Em muitas das análises feitas nos Estudos dos Culturais pretendem que suas análises
Culturais, busca-se, fundamentalmente, funcionem como uma intervenção na vida
caracterizar o objeto sob análise como um política e social.
artefato cultural, isto é, como o resultado Quais são as implicações dos Estudos
de um processo de construção social. A Culturais para a análise do currículo e
análise cultural parte da concepção de para o currículo? Em primeiro lugar, os
que o mundo cultural e social torna- Estudos Culturais permitem-nos conceber
se, na interação social, naturalizado: sua o currículo como um campo de luta em
origem social é esquecida. A tarefa da torno da significação e da identidade. A
análise cultural consiste em desconstruir, partir dos Estudos Culturais, podemos ver
em expor esse processo de naturaliza- o conhecimento e o currículo como campos
ção. Uma proposição frequentemente • ·
cu 1turais, como campos su1e1tos à disputa
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1
e à interpretação, nos quais os diferentes curso nesse processo de construção.Além
grupos tentam estabelecer sua hegemonia. disso, essa análise provavelmente adotaria
Nessa perspectiva, o currículo é um artefato uma concepção menos estrutural, menos
cultural em pelo menos dois sentidos: 1) a centralizada, menos polarizada de poder.
"instituição" do currículo é uma invenção Finalmente, uma análise cultural não deixa-
social como qualquer outra; 2) o "conteú- ria de destacar as estreitas conexões entre
do" do currículo é uma construção social. a natureza construída do currículo e a
Como toda construção social, o currículo produção de identidades culturais e sociais.
não pode ser compreendido sem uma No segundo sentido, uma perspectiva
análise das relações de poder que fizeram culturalista sobre currículo também pro-
e fazem com que tenhamos esta definição curaria descrever as diversas formas de
determinada de currículo e não outra, que conhecimento corporificadas no currículo
fizeram e fazem com que o currículo inclua como o resultado de um processo de cons-
um tipo determinado de conhecimento e trução social. Essa perspectiva procuraria
não outro. incorporar ao currículo as diversas pesquisas
No primeiro sentido, uma análise da e teorizações feitas no âmbito mais amplo
instituição "currículo" inspirada nos Es- dos Estudos Culturais - pesquisas que
tudos Culturais descreveria o currículo, buscam focalizar as diversas formas de co-
de modo geral, como o resultado de um nhecimento como "epistemologias sociais".
processo de construção social. Não esta- Nessa visão, o conhecimento não é uma
mos muito longe aqui da ideia que era revelação ou um reflexo da natureza ou da
central à "Nova Sociologia da Educação", realidade, mas o resultado de um processo
de que o currículo é um artefato social de criação e interpretação social. Não se
corno qualquer outro. Com os Estudos separa o conhecimento supostamente mais
Cultura·1 ~ ,
s, essa compreensao e entretanto, objetivo das Ciências Naturais e o conhe-
rn Od.fi
I '
d icada e, ao mesmo tempo, radicaliza- cimento supostamente mais interpretativo
a. Sob a infl uenc,a
" · do pos-estruturalismo,
, das Ciências Sociais ou das Artes. Todas as
urna análise do caráter construído do formas de conhecimento são vistas como o
currícul O b
ee aseada nos Estudos Culturais resultado dos aparatos - discursos, práticas,
n,atizar·1
ª o papel da linguagem e do dis- instituições, instrumentos, paradigmas - que
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.-
fizeram com que fossem construídas como ambos os tipos de conhecimento estão
tais. As implicações dessa perspectiva não envolvidos numa economia do afeto que
devem ficar restritas à análise. É possível busca produzir certo tipo de subjetividade
pensar num currículo que enfatizasse precisa- e identidade social.
mente o caráter construído e interpretativo Assim como ocorre com o pós-moder-
do conhecimento. nismo, o pós-estruturalismo e o pós-colo-
Uma vantagem de uma concepção de nialismo, a influência dos Estudos Culturais
currículo inspirada nos Estudos Culturais na elaboração de políticas de currículo
é que as diversas formas de conhecimento e no currículo do cotidiano das salas de
são, de certa forma, equiparadas. Assim aula é mínima. A concepção de currículo
como não há uma separação estrita entre, implicada na ideia dos Estudos Culturais
de um lado, Ciências Naturais e, de outro, choca-se tanto com a compreensão de
Ciências Sociais e Artes, também não senso comum quanto com as concepçoes
há uma separação rígida entre o conhe- filosóficas sobre conhecimento dominan-
cimento tradicionalmente considerado tes no campo educacional. A epistemo-
como escolar e o conhecimento cotidiano logia dominante é fundamentalmente
das pessoas envolvidas no currículo. Ao realista: o conhecimento é algo dado,
ver todo conhecimento como um objeto natural. O conhecimento é um objeto
cultural, uma concepção de currículo ins- pré-existente: ele já está lá; a tarefa da
pirada nos Estudos Culturais equipararia, pedagogia e do currículo consiste em sim-
de certa forma, o conhecimento pro- plesmente revelá-lo. Num mundo social e
priamente escolar com, por exemplo, o cultural cada vez mais complexo, no qual a
conhecimento explícita ou implicitamente característica mais saliente é a incerteza e a
transmitido através de anúncio publi- instabilidade; num mundo atravessado pelo
citário. Do ponto de vista dos Estudos conflito e pelo confronto; num mundo em
Culturais, ambos expressam significados que as questões da diferença e da identidade
social e culturalmente construídos, ambos se tornam tão centrais, é de se esperar que
buscam influenciar e modificar as pessoas, a ideia central dos Estudos Culturais possa
estão ambos envolvidos em complexas encontrar um espaço importante no campo
relações de poder. Em outras palavras, das perspectivas sobre currículo.
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Leituras
IROUX, Henry. "Praticando Estudos Culturais
G nas faculdades de e d ucaçao - ... 1,.
n ,omaz Tadeu
da Silva (org.). Alienígenas na sala de aula. Uma
introdução aos estudos culturais em educação. Rio:
Vozes, 1995: p.85-103.
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