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Estruturalismo, uma visao de

mundo
O estruturalismo é uma corrente teórica que Posteriormente, essa teoria linguística, foi enciando a forma como os pesquisadores
emergiu no campo da linguística na primeira adotada para outras áreas do conhecimento, abordam o estudo das estruturas sociais, cul-
década do século XX, sobretudo na França. como a antropologia, a psicologia, a semióti- turais e linguísticas. Além disso, o estrutural-
No entanto, foi Jakobson que propôs o ter- ca e a crítica literária. Essa abordagem met- ismo também foi importante na arte con-
mo estruturalismo pela primeira vez, em odológica destaca a importância das estrutu- temporânea, influenciando a forma como
1929, “para definir uma abordagem estrutu- ras subjacentes às práticas sociais, culturais e artistas e críticos de arte compreendem a
ro-funcional de investigação científica dos linguísticas, ao considerar que tais estruturas estrutura e a organização da obra de arte.
fenômenos, cuja tarefa básica consiste em são as responsáveis pela organização e pelo Ferdinand de Saussure (1857-1913) foi um
revelar as leis internas de um sistema deter- funcionamento de determinados sistemas linguista suíço, estudou na Universidade
minado” (Peters, 2000, p. 22). culturais. de Leipzig e na École des Hautes Études
Para reiterar esse conceito, Jakobson es- Dentre os principais autores associados ao em Paris, e mais tarde tornou-se professor
clarece: estruturalismo, estão incluídos o linguista de línguas e literatura na Universidade de
Ferdinand de Saussure, que cunhou o termo Genebra. Saussure inovou ao enfatizar a im-
Se tivermos que escolher um termo que sin-
“linguística estrutural” e enfatizou a ideia de portância das relações entre os signos na
tetize a ideia central da ciência atual, em suas
mais variadas manifestações, dificilmente poder- que a língua é um sistema de signos cujo determinação do significado, em sua obra
emos encontrar uma designação mais apropria- significado é determinado somente quando “Curso de Linguística Geral”.
da que a de estruturalismo. Qualquer conjunto sua análise é construída em relação a outros
de fenômenos analisados pela ciência contem- signos no sistema; Claude Lévi-Strauss, que A contribuição dada por Saussure se pautou em
porânea é tratado não como um aglomerado aplicou a abordagem estruturalista à antro- mostrar que tal referencial não existia de forma
mecânico, mas como um todo estrutural, e sua pologia, destacou a importância dos mitos e absoluta, mas sim de forma arbitrária dentro de
tarefa básica consiste em revelar as leis internas - das relações de parentesco na organização um sistema de relações que conferia a ele sen-
sejam elas estáticas, sejam elas dinâmicas - desse tido. Para Saussure, um signo só recebe sentido
social; e Roland Barthes, que usou a semióti-
sistema. O que parece ser o foco das preocu- dentro de um sistema, e não importa a quali-
ca estrutural para analisar a linguagem e o dade de semelhança do referencial em si, mas
pações científicas não é mais o estímulo exterior,
fenômeno da cultura popular. o lugar que o ele ocupa dentro de um sistema
mas as premissas internas do desenvolvimento:
a concepção mecânica dos processos cede lugar, O estruturalismo teve um impacto significa- pré-fixado; o linguista define esse sistema como
agora, à pergunta sobre suas funções tivo nas ciências humanas e sociais, influ- língua (CHROMIEC, 2020).
(Jakobson apud Peters, 2000, p. 22).
Wassily-Kandinsky-Composition-VII-1913

Claude Lévi-Strauss, antropólogo e etnólogo O estruturalismo surgiu como uma resposta duais se relacionam com as estruturas mais
francês, aplicou a abordagem estruturalista às abordagens mais tradicionalistas das ciên- amplas, ao moldarem o contexto artístico e
ao estudo das culturas humanas. Estudou cias humanas e sociais, que frequentemente cultural de uma determinada época ou lugar.
na Universidade de Paris, onde obteve seu se concentram em aspectos isolados dos Isso inclui não apenas as relações formais
doutorado em 1948, e depois lecionou em fenômenos culturais, linguísticos e sociais. entre os elementos visuais, mas também as
diversas universidades, incluindo a École des Neste cenário, a teoria estruturalista bus- conexões conceituais e simbólicas que as
Hautes Études e o Collège de France. Em sua cou superar essa limitação, propondo uma obras de arte estabelecem com outras mani-
obra, examinou as estruturas subjacentes análise mais sistemática e integrada das es- festações culturais, como a literatura, a músi-
das relações de parentesco em diferentes truturas subjacentes que governam os siste- ca e a filosofia.
culturas, bem como as relações simbólicas mas culturais, sociais e linguísticos. A relação
que compõem os mitos e a formação do entre o todo e o particular no estruturalismo,
pensamento abstrato. portanto, tornou-se um tema de discussão
Roland Barthes (1915-1980) foi um teórico crucial, especialmente à medida que a teo-
literário, crítico e semiólogo francês que ria estruturalista evoluiu e encontrou novas
aplicou a abordagem estruturalista ao estu- aplicações em outras disciplinas.
do da linguagem e da cultura popular. Ele No campo das artes visuais e da história
estudou na Sorbonne e depois lecionou em da arte, a abordagem estruturalista pas-
várias instituições, incluindo o Collège de sou não apenas a oferecer uma perspectiva
France. Barthes é conhecido por suas aná- valiosa para a análise de obras e de movi-
lises de textos culturais, como “Mitologias” mentos artísticos, mas também influenciar
(1957), onde explora os mitos e significados
diretamente no modo de produção.
subjacentes às mensagens culturais. Seu
trabalho teve um impacto significativo no Ao considerar a relação entre o todo e o
desenvolvimento da teoria da semiótica e particular, os estudiosos e críticos de arte
na crítica cultural e artística. puderam investigar como as obras indivi- Ferdinand Sausuure
A abordagem de Ellen Lupton, importante Na área do design gráfico, uma análise estru- Lupton considera o olhar crítico como uma
teórica no campo do design gráfico, enfati- tural de um layout pode envolver a divisão ferramenta essencial para analisar as estru-
za, em consonância com a tradição estru- da obra em elementos individuais, como tex- turas no design, permitindo aos profissionais
turalista, a importância de adotar uma per- to, imagens e cores. Ao analisar como esses e acadêmicos uma maior compreensão dos
spectiva crítica em relação às estruturas que elementos se relacionam entre si e com o de- sistemas e processos em jogo. Ao desen-
permeiam nosso cotidiano. Em suas obras sign como um todo, os artistas podem tomar volver essa perspectiva crítica, os designers
notáveis, como “Pensar com Tipos” e “Design decisões conscientes e respaldadas teorica- podem desafiar as convenções existentes e
as Storytelling”, Lupton sublinha a relevân- mente sobre a hierarquia das informações, o explorar novas abordagens criativas para re-
cia de identificar e entender as estruturas uso do espaço - o cheio e o vazio - e o impac- solver problemas conceituais.
subjacentes, com o objetivo de fomentar a to visual que o design provoca.
inovação e o pensamento crítico no design.
De acordo com a autora, a análise estrutural
de um sistema complexo, que consiste em
dividir o sistema em suas partes individu-
ais, pode fornecer aos designers valiosas in-
formações sobre os padrões subjacentes às
relações e as restrições do sistema de design.
Ao compreender a estrutura de um design,
os designers podem criar soluções mais efi-
cazes e significativas que sejam funcionais,
expressivas e impactantes.

Uma conceituacao filosofica


pertinente
Os conceitos de epistemologia e ontologia assumem uma posição De acordo com Lévi-Strauss, a discussão proposta pelo estru-
central no estruturalismo. Como destacado por Saussure, a onto- turalismo, trouxe para esses conceitos uma ruptura inovadora,
logia, lida com questões relacionadas à natureza da realidade e já que deslocou o foco do sujeito para as estruturas subjacentes
existência; a epistemologia por sua vez, se aos fenômenos. Nesse sentido, o autor afir-
concentra na investigação da natureza, ori- ma que a realidade e o conhecimento são
gem e limites do conhecimento humano. O estruturalismo inaugurou uma nova maneira construídos por meio de sistemas de signos,
de pensar a realidade, que subverteu o paradig- responsáveis por determinar a forma como
Ao teorizar a respeito da ontologia e da epis-
ma do sujeito cartesiano e colocou em seu lugar
temologia, Saussure estabeleceu a base para percebemos, compreendemos e nos rela-
a estrutura como a chave para a compreensão
o estruturalismo, que tem como objetivo dos fenômenos sociais, culturais e linguísticos cionamos com o mundo.
desvendar as estruturas ocultas que organi- (OLIVEIRA, 2018, p. 25). Pensadores desde Platão, têm se dedicado a
zam e dão sentido ao mundo social e cultural. explorar essas questões ao longo da história
Ao compreender a importância desses con- da filosofia, buscando compreender a na-
ceitos para a teoria de Saussure, os leitores podem alcançar uma tureza da realidade e como os seres humanos podem alcançar o
compreensão mais profunda do estruturalismo e de seu impacto conhecimento verdadeiro - assim como por ele nomeado.
nas ciências humanas e sociais. A análise de ambos os conceitos A Ontologia refere-se ao estudo do ser, da realidade e da existên-
permite que nos aproximemos das questões fundamentais que cia das coisas. Platão, propôs a teoria das Formas (ou Ideias), se-
permeiam a linguagem, a cultura e a sociedade e, assim, ampliar gundo a qual haveria um domínio eterno, imutável e perfeito que
nossa compreensão do mundo em que vivemos. abriga as Formas, das quais as coisas do mundo sensível são ape-
nas cópias imperfeitas e temporárias.
A Epistemologia, por outro lado, investiga a natureza, a origem e
os limites do conhecimento humano. Platão acreditava que o con-
hecimento verdadeiro só poderia ser obtido por meio da razão,
e não dos sentidos, já que estes são enganosos e apresentam
apenas as aparências das coisas. De acordo com ele, apenas os
filósofos, que contemplam o mundo das Ideias, podem alcançar o
verdadeiro conhecimento.
A alegoria da caverna,
Platao

O mito fala sobre prisioneiros (desde o nascimento) que


vivem presos em correntes numa caverna e que passam
todo tempo olhando para a parede do fundo que é ilumi-
nada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são
projetadas sombras de estátuas representando pessoas,
animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do
dia-a-dia. Os prisioneiros ficam dando nomes às imagens
(sombras), analisando e julgando as situações.

Vamos imaginar que um dos prisioneiros fosse forçado a


sair das correntes para poder explorar o interior da caverna
e o mundo externo. Entraria em contato com a realidade e
perceberia que passou a vida toda analisando e julgando
apenas imagens projetadas por estátuas. Ao sair da caverna
e entrar em contato com o mundo real ficaria encantado
com os seres de verdade, com a natureza, com os animais e
etc. Voltaria para a caverna para passar todo conhecimento
adquirido fora da caverna para seus colegas ainda presos.
Porém, seria ridicularizado ao contar tudo o que viu e sentiu,
pois seus colegas só conseguem acreditar na realidade que
enxergam na parede iluminada da caverna. Os prisioneiros
vão o chamar de louco, ameaçando-o de morte caso não
pare de falar daquelas ideias consideradas absurdas. O Mito
da caverna, Platão

O mito da caverna, de autoria de Platão, é uma alegoria


que trata da relação entre o mundo sensível, o mundo das
aparências, e o mundo inteligível, o mundo das ideias e dos
conceitos verdadeiros. Na alegoria, os prisioneiros repre-
sentam a humanidade que vive imersa no mundo sensível,
presa às aparências e às ilusões produzidas pelas sombras
projetadas na parede da caverna. O prisioneiro que con-
segue sair da caverna e contemplar a luz do sol representa
aquele que consegue transcender o mundo sensível e alca-
nçar o mundo inteligível.
A ontologia, ramo que estuda a natureza do ser, a existência
e a realidade é defendida no mito da caverna de Platão de
uma maneira dualista, em que o mundo sensível é apenas
uma cópia imperfeita do mundo inteligível, que é o mundo
das ideias verdadeiras e perfeitas. Para Platão, a realidade
verdadeira não está no mundo sensível, mas sim no mundo
inteligível.
Platão propõe uma epistemologia que valoriza o conhec-
imento verdadeiro e crítica o conhecimento baseado nas
aparências e nas ilusões produzidas pelas sombras na pare-
de da caverna. O prisioneiro que consegue sair da caverna
e contemplar o mundo real passa a ter acesso a um conhe-
cimento verdadeiro e superior ao conhecimento dos outros
prisioneiros que ainda estão presos.
Assim, podemos ver como o mito da caverna propõe sua Representacao visual da Caverna de Platao
visão da ontologia, que valoriza o mundo inteligível em
detrimento do mundo sensível, e uma epistemologia que
valoriza o conhecimento verdadeiro em detrimento do con-
hecimento baseado nas aparências.
Levi Strauss e a analise mitologica
Lévi-Strauss, em obras como “As Estruturas Elementa-
res do Parentesco”, “Antropologia Estrutural”, e “Tristes
Tropiques”, aplicou o estruturalismo ao estudo da an-
tropologia, investigando as estruturas subjacentes às
culturas humanas, como os mitos, as regras de parente-
sco e as trocas simbólicas. O conceito de estruturação
da cultura proposto por ele é baseado na ideia de que a
cultura é organizada e estruturada por meio de relações
binárias entre elementos culturais. Essa abordagem
teórica, permite analisar os signos e símbolos que a com-
põem e entender as relações que estabelecem entre si.

“Structuralism is based on the idea that human


culture is a complex system of signification that can
be analyzed through the study of structures and
relationships. The structures of culture are made up
of binary oppositions, which create meaning through
difference and contrast. These oppositions are not
static or fixed, but rather are part of a dynamic system
of relationships that continually evolve and change.
By analyzing the structures and relationships of
culture, structuralism provides a powerful tool for
understanding the processes of meaning-making and
the ways in which cultural systems are constructed
and maintained.”
(LOTMAN)

A lógica binária, conforme aplicada por “Os mitos falam por meio de oposições binárias e Levi-Strauss escreve, “Os mitos
Lévi-Strauss, é uma ferramenta de análise combinatórias, mas seu significado não reside sim- revelam essencialmente duas car-
estrutural que busca identificar pares de plesmente na soma dessas oposições. Ele é construído acterísticas fundamentais: são
oposição nos elementos culturais, tais através de uma estrutura que organiza as oposições respostas a questões profundas
como cru/cozido, natureza/cultura, vida/ em relações significativas e coerentes, formando uma as mais graves recônditas que os
lógica própria e específica do mito.”
morte, entre outros. Essa lógica permite humanos experimentam (da sua
Lévi-Strauss
compreender as relações que se estabele- origem, do seu destino, da gênese
cem entre os símbolos e signos e como cósmica, do sentido da existên-
eles se organizam na cultura. cia, do além, dos poderes transcendentes); por outro
Ao aplicar a lógica binária na análise de elementos culturais, é lado, são resultado de intuições singulares que des-
possível identificar e compreender as relações entre os símbolos vendam conexões insuspeitadas entre realidades
e signos. Essa abordagem ajuda a perceber como as oposições com um significado metaempírico”, ainda segundo o
binárias são fundamentais para a construção de significados e a autor, “A atitude filosófica, pelo modo como conside-
organização da cultura. ra o objecto em totalidade e ultimidade, aproxima-se
A utilização dessa lógica, permite compreender a dinâmica da da atitude mítica, distinguindo-se claramente do sa-
cultura e as transformações sociais. Ao identificar as oposições e ber científico:a ciência manifesta um horizonte, mas
relações entre os símbolos e signos, é possível perceber como a não o horizonte de todos os horizontes. Contudo, no
cultura se adapta e se transforma ao longo do tempo, refletindo mito subsiste um saber essencial, de índole sapien-
as mudanças sociais e os desafios enfrentados pela sociedade. cial, das conexões profundas das realidades e da ex-
istência, como o mostram a afinidade trans geográfi-
ca e a constância estrutural dos mitos.”
O cientificismo na arte e a crítica
ao estruturalismo
Como abordado anteriormente, o estru- No entanto, essa abordagem na análise Nesse sentido da interpretação objetiva e
turalismo surgiu no contexto das ciências artística, implica que ela se torna um siste- racionalista na análise simbólica da obra, a
humanas, principalmente no estudo da ma fechado, nos quais os símbolos são in- abordagem estruturalista, sendo assim, re-
sociologia e da linguagem, focando-se na terpretados apenas de maneira objetiva e stringe não apenas a compreensão das mais
análise das estruturas subjacentes que re- descontextualizada, na tentativa de uma múltiplas camadas que constituem o signifi-
gem os fenômenos culturais e sociais. Con- abordagem analítico-científica. Portanto, tal cado de determinada obra, como também
tudo, logo este poderoso método de análise perspectiva implica em diversas problemáti- a capacidade do espectador de estabelecer
encontrou fertil terreno no campo da arte cas e limitações em sua análise, que não conexões mais profundas com ela. Autores
para a aplicação de sua metodologia analíti- possibilita uma compreensão mais aprofun- como Stuart Hall, criticam essa análise e ar-
ca. dada, na qual descarta integralmente a sub- gumentam que tal ênfase na objetividade e
Roland Barthes, foi um dos grandes pensa- jetividade na concepção do objeto artístico. nas estruturas subjacentes, limitam a com-
dores estruturalistas na década de 60. No Ao tratar da arte como um sistema fechado, preensão das dinâmicas culturais e das dif-
entanto, ao longo de sua carreira, adotou Barthes desconsiderou a vasta diversidade erenças entre as diversas tradições artísticas.
uma postura mais crítica ao estruturalismo, e complexidade fatorial que é responsável Foucault, como um grande crítico da te-
direcionando sua narrativa em uma per- pela criação e recepção da obra artística. oria estruturalista, também apontou que
spectiva pós estruturalista. Ao tratá la de maneira impessoal, objetiva o apego à objetividade e a cientificidade
Ele foi responsável por aplicar o conceito e descontextualizada, acaba por negligen- contribui para indispensaveis limitações.
saussuriano da semiologia - signo, significa- ciar aspectos fundamentais, tais como os Segundo ele, a análise da obra artística não
do e significante - na análise das mais varia- contextos: culturais, sociais e históricos de deve e nem pode ser reduzida a um método
das expressões artísticas. Em seus estudos, determinada obra, que são de suma im- universal e constante, tratado de maneira
buscou evidenciar as relações e mecanis- portância na compreensão aprofundada descontextualizada, pois para o autor, isso
mos que compõem as estruturas que regem da simbologia que ela exprime, bem como é ignorar a complexidade e diversidade de
uma obra artística. a relação e intenção na qual o artista a pro- sua criação e apreciação.
A análise estruturalista busca interpretar e duz e suas relações pessoais e experiências Em sua obra, A arqueologia do saber, Fou-
identificar os diversos signos e os sistemas individuais. cault propôs uma nova abordagem alterna-
que regem as mais diferentes manifestações De maneira análoga, tal abordagem descon- tiva à análise do campo artístico, na qual o
culturais de um povo, estendendo-se da lin- sidera o receptor da obra artística, ignoran- contexto histórico social em que a obra foi
guagem às artes. Tal método, quando apli- do assim sua subjetividade e experiência in- elaborada se sobrepõe. Nele, o autor argu-
cado na análise artística, entende que ela se dividual do ser. Pois, a arte como sendo uma menta que os críticos, a priori, devem levan-
desdobra como produtos culturais que es- manifestação humana, envolve intrinseca- tar questões sobre as condições discursivas
pelham regras e convenções da sociedade, mente uma relação dinâmica entre a obra que moldam a produção e interpretação das
sendo vista assim, como um sistema de lin- e o espectador, na qual essa relação entre a obras. Este conceito, descrito por ele como,
guagem, no qual o fonema pode ser enten- subjetividade e comunicação possui um pa- “formações discursivas”, busca compreender
dido como os elementos visuais, sonoros e pel crucial na construção da simbologia e do a relação entre a linguagem, o conheci-
até mesmo textuais, que interagem de ma- significado das obras e movimentos artísti- mento e o poder nas sociedades humanas.
neira específica e com regras subjacentes. cos, bem como sua apreciação. Portanto, as formações discursivas determi-
nam-se como um conjunto de regras e práti-
cas responsáveis por governar a produção e
a circulação dos discursos em determinado
contexto histórico e social. Portanto, esta-
belecem um limite do que é e pode ser dito
ou pensado, como também as formas nas
quais o conhecimento é construído e legit-
imado pelas instituições de poder.
Assim sendo, Foucault propõe uma perspec-
tiva que evidencia a historicidade e contexto
das obras de arte, de tal maneira que recon-
hece que elas são produtos de contextos es-
pecíficos; em sua análise, esclarece como a
interpretação e valoração do objeto artístico
estão sujeitos às transformações histórico-
culturais. Dessa maneira, o autor estabelece
uma nova e dinâmica abordagem que evi-
dencia que enfoca no contexto, permitindo
assim uma compreensão mais profunda e
abrangente das diversas expressões artísti-
Michel Foucault cas e sua relação com as sociedades.
O rigor estrutural da tipografia
internacional
O International Typographic Style, conhecido também como Swiss
Style, surgiu em meados do século XX na Suíça, ganhou destaque in-
ternacional por seu rigor e objetividade, bem como o uso da tipogra-
fia como elemento principal do design.

O ITS ficou caracterizado pela sua rigidez no uso de grades, no uso


quase exclusivo da tipografia sans-serif e uma abordagem mini-
malista. Buscava comunicar as informações de maneira clara, concisa
e direta.

Este estilo, foi influenciado pelas ideias do estruturalismo, no qual se


manifesta uma grande preocupação com a organização, hierarquia e
legibilidade dos elementos visuais. Ellen Lupton, em seu livro Pensar
com Tipos, argumenta como a grade é um elemento fundamental
neste estilo. A autora explica que este nível de organização dos ele-
mentos visuais de maneira lógica e extremamente racional, facilita a
comunicação e legibilidade do design.

Segundo Meggs, os designers suicos que valorizavam a clareza e


objetividade e enfatizavam o rigoroso uso das grades, refletem a
preocupação estruturalista em seu modo de organização da estru-
tura subjacente aos elementos.

O International Typographic Style surgiu após a 2GM, em um mo-


mento de rápidas transformações sociais, culturais e tecnológicas.
Neste momento, a Europa buscava sua reconstrução, e a Suíça, que
permaneceu neutra durante o período, se tornou um terreno fertil
para o desenvolvimento de novas ideias e estilos no design.

Este estilo, foi fortemente influenciado pela escola alemã Bauhaus,


que defendia a integração de diversas áreas das artes e do design
com a tecnologia e a indústria, na busca de se criar objetos funcio-
nais e estéticamente elegantes. Tais princípios foram posteriormente
A imagem é um rótulo de pesticida da década
incorporados na abordagem do ITS, no qual se sobressai a qualidade
de 60 que exemplifica o estilo tipográfico inter-
da funcionalidade, simplicidade e objetividade no design. nacional. O rótulo apresenta uma composição
clara e objetiva, com uma tipografia sans-serif
em negrito, posicionada centralmente. A fonte
é claramente legível e de tamanho adequado
para facilitar a leitura.

Josef Müller-Brockmann
Conhecido como o principal expoente do ITS, foi responsável por Também foi o responsável por caracterizar a tipografia
uma vasta contribuição para o design gráfico, principalmente por sans-serif, utilizando principalmente fontes como a Helvetica e
seu trabalho na revista “Neue Grafik”, onde estabeleceu e promoveu a Grotesk, por sua clareza e neutralidade. Além dos cartazes, ele
características fundamentais desse estilo ao redor do mundo. também aplicou esses princípios aos seus projetos de identi-
dade visual, design editorial e sistemas de sinalização.
Brockmann em seu trabalho, enfatizou a simplicidade, legibilidade e
funcionalidade. Nos cartazes produzidos por ele, ficou clara sua abor-
dagem minimalista e geométrica, utilizando de formas geométricas
básicas e uma paleta de cores restrita para transmitir a mensagem.
Foi o pioneiro na utilização dos sistemas de grid e modulares na or-
ganização do layout, a fim de garantir uma estrutura harmoniosa
dos elementos.
Poster desenhado por Brockmann

O ITS no contexto contemporâneo


O International Typographic Style influencia até hoje, de ma- Sendo assim, nos últimos anos notou-se um crescente interes-
neira considerável, o design gráfico, especialmente no contex- se pelo estilo internacional, devido ao aumento da populari-
to digital, onde os princípios fundamentais como simplicidade, dade do minimalismo no design gráfico. A tipografia de fácil
legibilidade e hierarquia se demonstraram de suma importân- legibilidade e o eficiente uso das cores, se tornou fundamental
cia. A criação de layouts responsivos, foi o que permitiu a visu- para o design UI e UX, tornando-o mais intuitivo e funcional.
alização se adaptar a diferentes tamanhos e dispositivos ecrã,
proporcionando assim uma experiência mais harmoniosa para
o usuário.

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