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São Paulo
2019
1- Expliquem como C. Levi-Strauss entende a noção de estrutura, quais as
condições para um modelo ser considerado uma estrutura, e por que, para o autor,
a linguística, em sua vertente fonológica e estrutural, pode fornecer uma
importante inspiração metodológica para a antropologia.
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pode ter dentro de um sistema estruturado, que no caso, o mais básico, seria o de irmão,
irmã, pai, filho.
Outro ponto importante é a distinção que o autor faz em relação a duas noções
vizinhas que podem ser confundidas, a noção de “estrutura social” e a de “relações
sociais”. “As relações sociais são a matéria prima empregada para a construção dos
modelos que tornam manifesta a própria estrutura social” (p. 316). Para Lévi-Strauss, as
pesquisas de estrutura constituem um método que pode ser aplicado a diversos
problemas etnológicos. Nesta construção teórica a respeito da noção de estrutura, Lévi-
Strauss tenta desenvolver uma teoria do logicamente possível, construída a partir do real
concreto. Porém, esta busca está longe de ser algo simples:
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fim de que não me estenda tanto, posto que demandaria mais páginas, citarei a mais
importante dentro desta sucinta exposição.
A observação e a experimentação são níveis que sempre serão distinguidos. “A
observação dos fatos e a elaboração dos métodos que permitem utilizá-los para construir
modelos não se confundem nunca com a experimentação por meio dos próprios
modelos”. Esses dois pontos correspondem a duas etapas da pesquisa, mas têm íntima
relação entre a concretude etnográfica e a validade do modelo construído a partir dela.
Assim, o “modelo verdadeiro” será o melhor, o mais simples, o que conseguirá explicar
um grupo de fenômenos.
Estes estudos sobre a noção de estrutura têm sido bastante influenciados pelo
notável desenvolvimento da linguística enquanto metodologia de pesquisa, pois os
linguistas possuíam métodos de investigação mais rigorosos. Para Lévi-Strauss – autor
referência para o pensamento estruturalista - que teve acesso ao progresso da linguística
estruturalista de Saussure e a fonologia de N, Trubetzkoy, a relação entre a estrutura
metodológica empregada nos estudos da linguística e posteriormente da fonologia e os
estudos da sociologia e da antropologia, é digna de uma observação mais profunda e de
estreita intimidade, mas claro, guardadas as devidas diferenciações que o autor faz em
Antropologia Estrutural. “Os linguistas fornecem aos sociólogos etimologias que
permitem estabelecer entre certos termos de parentesco laços que não eram
imediatamente perceptíveis” (p. 46). Trubetzkoy, em seus estudos sobre fonologia,
introduz a noção de sistema, que visa à descoberta de leis gerais, mostrando sistemas
fonológicos concretos e evidenciando suas estruturas, se recusando a tratar os termos
como independentes. Nesta situação, ao se estudar, por exemplo, os termos de
parentesco, estes, por sua vez, se tornam elementos de significação que se integram a
sistemas, os “sistemas de parentesco”.
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Nos estudos dos problemas de parentesco há então uma semelhança com os
estudos do linguista fonólogo, pois assim como os fonemas exercem significação, pelo
fato integrarem um sistema, os termos de parentesco só adquirem significação sob a
condição de se integrarem a um “sistema de parentesco”. Essas estruturas, as quais
Lévi-Strauss também associou à estudos matemáticos, são encontradas também em
outros estudos, assim como na passagem de um mito ao outro, de uma classificação à
outra, etc. Interessante notar a que associação feita para que haja essa transposição entre
o modelo linguístico, é que o sistema de parentesco é tido como uma linguagem, daí, se
compara a língua, pois, justamente, entre na ordem da significação e do
discurso. Assim, fica claro que o estruturalismo aplicado á antropologia e as ciências
sociais, procede do modelo linguístico.
Lévi-Strauss não desconsidera totalmente o diacronismo presente no
historicismo e na linguística num sentido evolucionista, porém, para os fins
estruturalistas, os arranjos e as organizações sistemáticas são fatores base para que se
façam estudos em que se observe um estado inicialmente inteligível que esteja ao lado
da sincronicidade. Está analogia estrutural entre fenômenos sociais e a linguagem é
bastante complexa, tanto mais se considerada em sua estrutura fonológica. “Em que
sentido pode-se dizer que natureza une-se à mesma da linguagem” (LÉVI-STRAUSS
apud LIMA, 1970). Devido a complexidade com que Lévi-Strauss trabalha esses
conceitos, uma exposição mais qualificada e detalhada de sua obra demandaria muito
tempo. Concluo, no entanto, que o estruturalismo presente na obra de Lévi-Strauss,
tomou para si, em grande parte, não só a estrutura dos métodos de investigação
linguísticos – no que concerne à ideia de formação dos termos que compõem um
sistema – mas, principalmente, a fonologia de Trubetskoy, que, com suas
particularidades metodológicas de pesquisa, ao se transporem, aferem sentido às
pesquisas em ciências sociais e delineiam um campo lógico onde se consegue chegar a
estruturas possíveis de serem estudadas.
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2) Segundo Claude Lévi-Strauss "...na troca há algo mais que coisa trocadas". A luz desta
afirmação, explique a teoria sobre a reciprocidade proposta pelo autor.
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difere completamente de uma simples permuta de propriedades. “Não é porque
trocamos as coisas que damos sentido a elas, mas porque nós damos sentido a elas é
que as trocamos.” 1
Lévi-Strauss assume a reciprocidade como estrutura elementar das relações de
parentesco para compreender a troca em um aspecto mais amplo e complexo de suas
formas simbólicas. “Mauss julga ainda possível elaborar uma teoria sociológica do
simbolismo, quando é preciso evidentemente buscar uma origem simbólica da
sociedade”2. O autor demonstra a importância da função simbólica das “trocas” na
organização social, porque é o momento em que se estabelece a diferença e parceria
entre 'eu' e o 'outro'.
Nessas trocas os homens não só garantem alianças, mas também previnem
inimigos e guerras, é "um processo ininterrupto de dons recíprocos, que realiza a
passagem da hostilidade à aliança, da angústia a confiança, do medo à amizade"3. A
proibição do incesto exige uma organização social, pois o indivíduo necessita de
garantias que renunciar aos seus parentes lhe oferecerá os parentes do outro, em um
desapego mútuo e simétrico que revela a reciprocidade. Para que Lévi-Strauss possa
propor uma teoria geral dos fatores elementares do ser humano, ele trata de buscar essas
fórmulas circunscritas no espírito do homem, a fim de evidenciar este fenômeno como
essencial para construção e conservação das relações sociais.
1
M atrice “ e Mauss a laude vi-Strauss 50 anos depois: por uma ontologia Maori”
Cadernos de Campo [Online], 2006, (p. 37-56).
2
2. LÉVI-STRAUSS, Claude. “Introdução á obra de Marcel Mauss”. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e
Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003 (p. 22).
3
3. LÉVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco. Petrópolis: Vozes, 2003 ( p.107)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS