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As cidades são

entidades que se
expressam
fisicamente em
determinados
pontos do território
e...
...caracterizam-se pela
concentração de pessoas e
de actividades, de infra
estruturas e edifícios, por
oposição a espaços rurais ou
rústicos em que a presença
humana se manifesta de
forma muito mais dispersa.
A forma física de uma cidade reflete a
complexidade da realidade social,
cultural, política e económica da
comunidade que a habita e é
igualmente determinante nos contornos
que essa complexidade assume.
Neste sentido as comunidades
cuidam do seu espaço vital,
procurando formas de resolver
problemas presentes,
ambicionando, por outro lado,
futuras formas de vida colectiva
mais equilibradas.

Cuidam, portanto, de elaborar um


“projecto” de cidade, projeto
esse que adquire diversas formas,
mas que na sua essência diz
respeito à configuração física da
cidade.
O projeto da cidade por tratar do
espaço físico de uma comunidade
concerne aspectos que dizem
respeito aos conjunto dos
cidadãos que a habitam.

Trata-se portanto de um projeto


político e nesse sentido envolve a
regulação jurídica e política dessa
comunidade.
Por outro lado, o projeto da cidade
perspectiva-se numa dimensão
temporal muito mais alargada
(10-20-30 anos) que o projecto
arquitectónico.

Deste modo envolve uma grau


muito grande de incerteza, perante
a qual se tem ajustar ao longo do
seu processo de construção,
possuindo um elevado grau de
flexibilidade.
Tem de se enquadrar na normativa jurídica que
regula a actividade de ordenamento do território.
Têm de possuir uma capacidade de síntese dos
múltiplos aspectos da complexidade do fenómeno
urbano.
Têm de possuir a capacidade de interpretação do
legado histórico com que a cidade se apresenta,
formatando as directrizes do seu desenvolvimento
futuro.
O planeamento urbano
é o campo disciplinar
no qual aportam as
técnicas provenientes
por sua vez de muitas
disciplinas, que
suportam a elaboração
do projecto de cidade.
Neste sentido, confluem na urbanística um
conjunto de saberes oriundos de distintos
campos disciplinares:
Direito
Economia
Sociologia
Geografia e Demografia
História e Arqueologia
Paisagismo e ambiente
Engenharia Civil e de transportes
Arquitectura
Público e Privado
no ordenamento urbanístico
O território está dividido em duas classes fundamentais de espaços

ESPAÇOS RURAIS e ESPAÇOS URBANOS

Jean-François Millet (1814-1875) "As Respigadoras do Trigo" Jogos infantis (1560), Pieter Bruegel
O processo de urbanizar - fazer cidade -
consiste na transformação de espaço rural em
espaço urbano.
Espaços públicos que permitem a circulação
das pessoas e bens, e que podem portanto
ser usufruídos livremente.

Espaços parcelados, que se destinam á


localização e satisfação das necessidades de
habitação e das atividades económicas e
sociais .
Estas categorias expressam-se com
intensidades distintas no território, em se
tratando de espaços rurais/rústicos ou de
espaços urbanos:

• De forma extensiva no espaço rural


• De forma intensiva no espaço urbano
O espaço urbano pressupõe uma divisão do
território (espaço rural) nas categorias de
espaço públicos e privados, em mais
unidades de parcelamento dispostas em
muito menor dimensão de território
Daqui decore que a percepção da
diferenciação entre espaços públicos e
privados em espaços urbanos ocorre de
forma muito mais clara e inequívoca do
que nos espaços rurais.
TERRITÓRIO

ESPAÇO RURAL ESPAÇO URBANO


TRANSFORMAÇÃO
PARCELAMENTO INTENSIVO

ESPAÇOS ESPAÇOS ESPAÇOS ESPAÇOS


PRIVADOS PÚBLICOS PÚBLICOS PRIVADOS
RELAÇÃO DE
CONTINUIDADE
Os espaços públicos e espaços privados
entretêm uma relação biunívoca:

• Para se poder utilizar as parcelas


privadas – e as edificações- necessitamos
de uma rede de espaços públicos.
• Por outro lado, só necessitamos de
implementar uma rede de espaços
públicos, na justa medida em que
precisamos de construir parcelas
privadas e edifícios.
Esta relação apresenta-se em diferentes
configurações que no seu conjunto
designamos como traçado da cidade.
O objectivo da regulação e o
planeamento urbanísticos é
precisamente o de estabelecer uma
relação equilibrada entre espaços
públicos e espaços privados.
Actuar no traçado da cidade de modo a
configurar quer a cidade existente quer as novas
áreas a criar, determinando como se há de
manter , criar ou reformar o traçado da cidade.
Os espaços públicos
O parcelamento do território que configura a criação de espaços públicos
urbanos visa um conjunto de funções fundamentais:

• A ligação do espaço urbano com o seu entorno rural e com outros


espaços urbanos.
• Os canais de circulação interna que proporcionam acesso dos diversos
espaços privados.
• Estabelecem o referencial morfológico de parcelamento dos espaços
parcelados - os quarteirões-.
• Estruturam a expressão e percepção da forma da cidade – a imagem da
cidade, constituindo igualmente um referencial de orientação.
• Providenciam espaços de representação, encontro e lazer da comunidade
• Como espaços de canalização das infra estruturas de serventia aos
espaços privados.
A ligação do espaço urbano (da cidade) com o seu entorno
rural e com outros espaços urbanos (com outras cidades)
Os canais de circulação interna que proporcionam acesso dos
diversos espaços privados e a distintas áreas da cidade.
Estabelecem o referencial morfológico de parcelamento (a
forma) dos espaços parcelados - os quarteirões-.
Estruturam a expressão e percepção da forma da cidade
constituindo igualmente um referencial de orientação.
Espaços de representação, encontro e lazer da comunidade
São espaços de canalização das infra estruturas
Os espaços públicos materializam-se
através de diferentes elementos físicos :
ruas; avenidas, praças, alamedas, parques
e jardins...
Este conjunto de elementos configura uma
rede disposta e pressupõe continuidade
entre os seus elementos.
A morfologia – a forma- desta rede acaba por
marcar decisivamente aquilo a que se designa por
carácter da cidade.
O traçado da rede de espaço públicos
possui uma perenidade que
transcende em muito a que se associa
aos edifícios _ é muito mais fácil
transformar os edifícios de uma cidade
do que o traçado da sua rede de
espaços públicos.
Os espaços privados
A característica fundamental dos espaços
privados é a sua compartimentação que
torna possível a utilização individual e
independente de cada parcela.

As parcelas visam fundamentalmente


suportar a edificação.
As edificações possuem características
diferentes : casas isoladas, edifícios de
habitação colectiva, equipamentos públicos,
naves industriais, etc.

A formatação e dimensionamento dessa


compartimentação deve portanto adequar-se
aos tipos de edifício que vão suportar.
Do mesmo modo, os espaços públicos
que os servem, devem-se dimensionar
e formalizar-se em concordância com o
tipo de edifícios que as parcelas
privadas vão albergar.
Do ponto de vista da posse , há que ter
presente que os espaços parcelados tanto
podem ser do domínio privado- a maioria -
como de posse pública, ao contrário do que
sucede com os espaços públicos que apenas
integram esta última categoria.
Tipos ou Tipologias edificatórias, são
conjuntos de edifícios que possuem
características semelhantes.
Existem vários caracteres tipológicos:

• Ocupação/Implantação: diz respeito a forma como ocupa o


espaço parcelado e a relação que estabelece com o espaço
público.
• Programática/Uso: diz respeito ao uso que terá (residencial,
comercial, escritórios/serviços, equipamentos, infra
estrutural/instalações especiais; etc.).
• Funcional: ao seu dimensionamento e à forma como se
articulam internamente os seus diversos elementos por
forma a dar resposta às necessidades de uso.
• Construtiva: aos elementos construtivos que o compõem:
os materiais.
As tipologias de ocupação, programática e
funcional constituem o cerne das
preocupações do ordenamento urbanístico.
As tipologias construtivas podem ser
objecto ou não em determinadas situações.
Tal como nos espaço públicos, o objecto
do ordenamento urbanístico é
precisamente estabelecer as directrizes
de como se devem manter, reformar ou
criar os espaços parcelados, mas
igualmente a forma como deverão ser
edificados e usados.
Ou seja:
• Morfologicamente: Normas quanto ao carácter
que a arquitectura dos edifícios deve obedecer e
a sua relação com a parcela e o espaço público.
• Quantitativamente: normas quanto ao
dimensionamento dos edifícios e sua capacidade
construtiva – o designado aproveitamento
urbanístico ou capacidade construtiva.
• Programaticamente: os usos que os edifícios e
as parcelas podem albergar.
A regulação jurídica dos
instrumentos de planeamento
urbanístico
O planeamento urbanístico tem por objecto todo
o espaço da cidade e o seu hinterland. Dito de
outra forma, tem por objecto todo o solo do
município (nota).

Existem espaços que já formam parte da rede de


espaços públicos, mas na maior parte das vezes o
solo sobre o qual vai incidir o instrumento de
planeamento é de propriedade privada (nota).
Nas áreas urbanas (solo urbano) a
regulação urbanística vai
determinar que edifícios se podem
construir nas parcelas privadas e
que usos poderão ter, assim como
determinar as parcelas destinadas a
equipamentos públicos.
Nas áreas rústicas (solo rural),
determina quais as que poderão
ser convertidas em áreas urbanas
(solo urbanizável) através de
processos de urbanização e quais
hão-de preservar a sua condição
rural (solo rural).
A regulação urbanística afecta portanto de forma muito
significativa todos os proprietários.

O ordenamento urbanístico possui também importância para


a actuação de outras administrações distintas da municipal
(local) que intervém no espaço do município, como as que
são responsáveis pela construção de estradas, caminhos de
ferro, escolas, hospitais, etc.

Afecta ainda, os municípios vizinhos em temas como as


possibilidades de crescimento, a proximidade de
determinados usos ou elementos de infraestrutura, etc.
Ao contrário do que sucede com
os projectos de construção de
edifícios, que por muito grandes
que sejam estão sempre assentes
numa parcela cuja propriedade (os
os direitos de propriedade)
pertence ao promotor, o
ordenamento urbanístico têm um
alcance muito mais amplo.
Desde a sua origem (nota) foi necessário dar cobertura legal
aos projectos de ordenamento urbanístico – os planos - ,
nomeadamente:

• Como e em que medida o ordenamento urbanístico pode


afectar as condições de utilização do solo pelos seus
proprietários.
• Como se deve proceder para garantir que na elaboração
do ordenamento urbanístico a participação de todos os
interessados – proprietários ou não, entidades privadas
ou públicas.
• Como devem ser aprovados os instrumentos de
ordenação urbanística dos municípios para garantir a
coerência do desenvolvimento urbano.
Deste modo, desde o séc. XIX, que a regulação
jurídica do ordenamento urbanístico se tornou
num aspecto importante do direito administrativo,
plasmando-se em diversas leis do regime de solo e
de ordenamento urbanístico, as quais visam
basicamente:
• As obrigações e direitos dos proprietários de
terrenos e de edifícios.
• As diversas figuras e instrumentos de
ordenamento urbanístico.
• Os procedimentos para a formulaçãoo e
execução dos planos urbanísticos.
Legislação:

• Constituição da República de Angola


• Código Civil

• Lei das Terras – Lei nº09/04 de 9 Novembro

• Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo - Lei nº 3/04


de 25 de Junho
• Regulamento Geral dos Planos Territoriais, Urbanísticos e Rurais
– decreto nº2/06 de 23 de Janeiro

• Regulamento de Licenciamento das Operações de Loteamento,


Obras de Urbanização e Obras de Construção – Decreto nº80/06
de 30 de Outubro

• Código de Expropriações

• Lei de Bases do Ambiente


Os direitos e deveres da
propriedade
O estabelecimento de determinados deveres
pela legislação é imprescindível para tornar
efetivo o cumprimento por parte dos
proprietários das disposições dos instrumentos
de planeamento- os planos-, e para executar as
ações necessárias à sua materialização.
Por outro lado o reconhecimento de
determinados direitos estabelece os
limites de atuação da administração
pública – e também aos privados- no
que diz respeito à afectação da
propriedade.
Os deveres e direitos dos
proprietários do solo variam
consoante a situação dos terrenos na
sua relação com a cidade, e em
função do projeto de
desenvolvimento urbano plasmado
pelo planeamento urbanístico, que
estabelece para o efeito diversos
regimes de solo.
O processo de (re) construção da
cidade implica a transformação de
solo rural em solo urbano (ou no
casos de reconstrução em
remodelação do solo urbano).

Esse processo compreende três


etapas fundamentais
(re) Parcelar
(re) Urbanizar
(re) Edificar
Nas áreas em que já se produziu o processo de urbanização e as
parcelas tenham alcançado o carácter de lotes edificáveis – cidade
consolidada – os proprietários têm direito a edificar de acordo com
as condições e limites estabelecidos pela normativa urbanística e
edificatória.

Nas áreas em que as parcelas não alcançaram ainda as condições de


lote por faltar-lhes parte da urbanização necessária – cidade não
consolidada ou área de expansão-, os proprietários têm a obrigação
de custear essa urbanização, que deverá ser executada prévia- ou
em alguns casos- simultaneamente à edificação.

No caso em os terrenos do proprietário se encontram num solo que


o instrumento de planeamento destine a uso público incompatível
com a sua edificação privada, o proprietário terá direito a ser
expropriado e a ser pago pelo justo preço estes terrenos.
Nestes casos as leis que têm vindo a estabelecer a
obrigação solidária de todos os proprietários que formem
parte de uma área de solo que se transforma, de ceder
todo o solo necessário para configurar a rede de espaços
públicos e também o correspondente às parcelas para
determinados edifícios de interesse público e colectivo. É
ainda, sua obrigação, custear a urbanização e os serviços
necessários.

Os direitos consistem na atribuição de um determinado


potencial edificatório proporcional à extensão da
propriedade, que se distribuirá entre os lotes edificáveis
resultantes da transformação urbanística.
Finalmente os proprietários de terrenos
rústicos que a ordenação urbanística não
prevê que no futuro sejam objecto de
urbanização, têm o direito a desfrutar das
suas parcelas conforme a sua condição
rústica, observando as normas relativas à
conservação da paisagem e dos elementos
naturais. Estes ficam no entanto excluídos
da definição legal de terreno urbano.
Os agentes urbanísticos e
territoriais
Na elaboração e desenvolvimento de
planos urbanísticos intervêm agentes
privados e públicos.
Como atrás vimos, o processo de (re)
construção da cidade implica a
transformação de solo rural em solo
urbano.
Esse processo compreende três etapas
fundamentais
(re) Parcelar
(re) Urbanizar
(re) Edificar
Nestas etapas intervém distintos agentes
privados:
O(s) proprietário(s) do solo rural (ou nos
casos de solos urbanos que se pretendem
transformar) que irão disponibilizar o
terreno necessário à operação urbanística
.
O promotor urbanizador que procede ao
seu parcelamento e posteriormente à sua
urbanização e que irá disponibilizar lotes
urbanizados ao .
O promotor construtor que neles irá
construir edifícios e os disponibilizá-los ao
Administração Central , que para além da formulação de
todo aparato jurídico regulatório, exerce competências
directas no desenvolvimento de determinadas políticas
sectoriais: estradas nacionais, caminho de ferro, portos,
aeroportos, etc. Deste modo tem uma capacidade de
intervir directamente na configuração do território e das
áreas urbanas afectadas por estas infraestruturas e têm
portanto, por vezes um papel determinante na definição
e no desenvolvimento de alguns projectos urbanísticos
que podem ser de grande importância numa cidade.
Convirá assinalar o valor juridicamente
prevalecente que têm os projectos dos
departamentos sectoriais da Administração
Central, sobre a regulação urbanística vigente, a
qual deverá ser adaptada pelo município com a
incorporação do projecto sectorial em causa.
Não obstante, será sempre desejável uma
colaboração e articulação entre as
administrações que facilite a coerência entre os
objectivos sectoriais e os locais.
Administração Regional (provincial) tem como objectivo
principal preservar a coerência do desenvolvimento
territorial e de fomentar atividades e proteger espaços
do ponto de vista do interesse territorial provincial. Por
este motivo exerce um lógico controle sobre os projetos
de ordenamento urbanístico dos municípios mediante
aprovação dos plano diretores.
Por outro lado, a administração provincial tem uma
importância muito importante no desenvolvimento
urbanístico dos municípios, como agente na criação de
equipamentos básicos e na provisão de infra estruturas
territoriais. Podem inclusive intervir diretamente na
formação de novas áreas urbanas.
As administrações municipais, que têm os
mandatos mais directos e determinantes
no que diz respeito ao espaço da
cidade/município, na medida em que são
quem formula a ordenação urbanística
geral e leva a cabo as acções necessárias
ao seu desenvolvimento e vela através das
suas estruturas de gestão urbanística para
que as acções dos agentes – em especial
os privados- se ajustem à regulação
aprovada.
De referia ainda, os agentes privados a
quem a legislação de carácter urbanístico
reconhece a capacidade de promover
projectos de criação ou remodelação de
áreas coerentes com o ordenamento
urbanístico geral em vigor. Para tanto os
agentes privados podem propor projectos
às administrações, os quais têm de
aprovados se se ajustam à normativa de
ordem geral
O Poder Local e o projecto de
cidade
O Município é geralmente considerado
como o espaço básico para o
ordenamento urbanístico.
O território municipal, como âmbito
claramente delimitado, e o município,
como órgão de governo e representação
da colectividade, são institutos de larga
tradição histórica.
A formulação do ordenamento urbanístico no âmbito municipal
possui sólidos argumentos:
• Os municípios são unidades territoriais polarizadas – salvo
algumas exceções – numa área ou núcleo urbano, relativamente
à qual o restante território constituía fundamentalmente um
espaço funcionalmente associado destinado a atividades rurais e
por sua vez constituía uma reserva para expansão do espaço
urbano.
• Os municípios são normalmente o âmbito em que uma
colectividade vive e maioritariamente trabalha, assim como o
topónimo que lhe dá uma referencia geográfica e um sinal claro
de identificação como grupo humano.
• O órgão municipal é uma instituição claramente emanada da
colectividade residente e portanto aquele que tem a capacidade
de exercer um governo com mais proximidade e atenção aos
interesses dos cidadãos que vivem no município.
No entanto temos hoje de aceitar que estes argumentos terão
perdido alguma da sua força:
• O espaço municipal por vezes não está configurado de forma
tão clara. Apenas nos casos de povoações mais pequenas se
mantém uma configuração polarizada núcleo urbano-hinterland.
Os municípios que sofreram crescimentos importantes, as áreas
urbanas são pouco unitárias e em muitos casos estabelecem
continuidades com os municípios vizinhos, difíceis de destrinçar.
• A colectividade municipal unicamente mantém o significado de
comunidade residente, já que actividades laborais, docentes ou
de ócio de uma boa parte da população ocorrem em municípios
vizinhos e em âmbitos muito mais amplos.
• O Município, ainda que não tenha perdido nenhuma
legitimidade, antes pelo contrário, encontra-se muito mais
implicado numa rede complexa de decisões administrativas
sectoriais e de iniciativas de agentes privados, que sem dúvida
afectam o seu projecto urbanístico.
Deduziríamos destas considerações uma certa
relativização em muitos casos da identificação entre
município e cidade, na medida em que esta pode abarcar
na realidade âmbitos muito mais alargados e complexos.

O que significa, relativamente ao que estamos


abordando, a conveniência de prestar uma especial
atenção a outros níveis de projecto.

Os que abordam a ordenação urbanística num âmbito


territorial mais extenso, mas também alguns projectos
sectoriais, podem ser especialmente decisivos para
estruturar urbanisticamente a extensa e pouco
vertebrada ocupação urbana que temos no território.
O Plano Director Municipal ou
Plano Geral de Urbanização
como “ Projecto de Cidade”
A lei angolana (Lei do Ordenamento
do Território e do Urbanismo - Lei nº
3/04 de 25 de Junho- LOTU-artigo
28º) tipifica os planos de
ordenamento do território em função:
• Do âmbito territorial,
• Do seu objecto especifíco
• Da natureza dos espaços
1. ….
2. Os planos territoriais, em função do âmbito territorial,
classificam-se em:

a) Planos nacionais que abrangem todo o território


nacional;

b) Planos provinciais ou inter-provinciais de


ordenamento do território que abrangem o território de
uma província ou de duas ou mais províncias;

c) Planos municipais que abrangem o território de um


município ou de dois ou mais municípios.
3.Os planos territoriais, em razão do objecto específico ou sectorial
das matérias que abrangem, classificam-se em:

a) Planos especiais: os que abrangem áreas determinadas em


função de fins específicos de ordenamento do território,
designadamente as áreas agrícolas, áreas de turismo, áreas de
indústria, áreas ecológicas de reserva natural, de repovoamento, de
defesa e segurança, recuperação, reconversão, requalificação,
revitalização, reabilitação de centros históricos, remodelação de
infra-estruturas especiais como portos e aeroportos;

b) Planos sectoriais: os que designadamente abrangem sectores de


infraestruturas colectivas; como redes viárias de âmbito nacional,
provincial ou municipal, redes de transportes, de abastecimentos de
água e energia, de estações de tratamento de fluentes.
4. Os planos territoriais, em razão da natureza dos espaços,
classificam-se em:

a) Planos de ordenamento rural: os que têm por objecto a


ordenação dos espaços rurais situados fora dos perímetros urbanos,
incluindo os das povoações das comunidades rurais e os das demais
povoações classificadas como rurais;

b) Planos urbanísticos: os que têm por objecto os espaços dos


centros urbanos fixados pelos respectivos perímetros ou pelos forais
relativamente aos centros com estatuto de cidade.
Para o âmbito do nosso estudo, ou
seja o projecto de cidade, interessam
os Planos municipais (no que diz
respeito à sua abrangência
geográfica) e dentro destes o Plano
Director Municipal e os Planos
Urbanísticos (no que diz respeito à
natureza dos espaços).
Artigo 31o (Planos municipais)
1. Os planos municipais classificam-
se em globais ou parciais, consoante
abranjam o todo ou apenas parte
área territorial municipal e os parciais
classificam-se em planos urbanísticos
e planos de ordenamento rural, os
que abrangem, por seu turno, as
espécies previstas na presente lei, em
razão dos objectos sectoriais
respectivos.
2. O plano director municipal representa o tipo central
e fundamental de planos globais municipais que,
contendo directrizes de natureza estratégica e carácter
genérico, representam o quadro global de referência,
podendo estabelecer a classificação dos terrenos rurais
e dos terrenos urbanos de um município, bem como
elementos fundamentais da estrutura geral do território
e que sirvam designadamente de combate das
assimetrias intra municipais, entre a cidade e o campo,
integrando as opções de âmbito nacional e regional com
incidência no território municipal.
4. Os Planos urbanísticos têm natureza
regulamentar, fixando as regras de conduta de
ocupação, uso e aproveitamento do terreno
urbano e urbanizável, contido adentro dos
perímetros dos centros - urbanos integrados na
área territorial municipal, em ordem a garantir
e melhorar a qualidade de vida urbana dos
cidadãos, nos termos adiante especialmente
previstos.
5. Os planos de ordenamento rural têm
natureza regulamentar e fixando as regras de
conduta de ocupação e de uso dos terrenos
rurais contido na área territorial municipal, em
ordem a preservar os valores ambientais
naturais e os culturais, rurais, bem como a
melhorar a qualidade de vida rural dos cidadãos,
nos termos adiante especialmente previstos.
PDM
Plano para a globalidade do
município que estabelece a
distinção básica entre solo
rural e solo urbano

POR PU
procede ao ordenamento do procede ao ordenamento do
solo rural. solo urbano.
Deste modo, e frisando de novo que o nosso
âmbito é o projecto de cidade, os instrumentos
mais relevantes são:

Os PDM porque procedem à classificação do


solo urbano existente (solo urbano) e das áreas
destinadas à sua ampliação (solo urbanizável).

Os PU porque visam a estruturação do solo


urbano, quer da cidade existente quer as áreas
de expansão.
No que diz respeito aos Planos Urbanísticos, a lei
angolana (tal como a portuguesa mas ao contrário da
espanhola), não estabelece a obrigatoriedade de
elaboração de um Plano Geral de Urbanização, isto é,
de um plano que abranja a totalidade do perímetro
urbano do município.

É prática corrente em Portugal o PDM definir a


normativa urbanística da área urbana de forma
genérica, recorrendo-se a PU parcelares nas áreas em
que se justifica maior detalhe e parece ser esse esta a
tendência em Angola.
É neste sentido que a LOTU prevê:

Artigo 32o (Planos urbanísticos)

2. Os planos urbanísticos podem compreender os seguintes tipos:


a) Plano Director municipal (PDM), enquanto plano global que, representa a
nível do planeamento municipal urbanístico, o quadro de referência
urbanística global, com uma dupla função geral e regulamentar aplicável
aos centros urbanos;
b)Plano de urbanização que visa regulamentar e fixar as regras de conduta de
ocupação, uso e aproveitamento dos terrenos urbanos e urbanizáveis;
c) Plano de pormenor que visa regulamentar a ocupação, uso ou preservação
de determinados aspectos ou elementos urbanos;
d) Plano especial de recuperação ou de reconversão de áreas urbanas
degradadas ou de ocupação ilegal.
Somos no entanto da opinião que o projecto de
cidade se deve fazer através de um instrumento
específico que abranja a totalidade do
perímetro urbano, sem prejuízo de posterior
recurso a instrumentos de maior detalhe (p.e.
Planos de Pormenor) nas áreas que assim o
justifiquem, por se tratar do instrumento por
excelência de estruturação do espaço urbano
numa perspectiva global e abrangente.
Por outro lado, há que ter presente, que por
vezes o PDM pode assumir características que o
aproximam conceptualmente do Plano Geral
de Urbanização, nos casos em que incidam em
municípios em cujo território que não existe
solo rural ou este é pouco expressivo.
É neste sentido que a LOTU prevê:

Artigo 31o (Planos municipais)


1. ...
2. ...
3. Os planos directores municipais sendo aplicáveis
aos municípios cuja área territorial abranja solos rurais
e urbanos, podem ser, com as devidas adaptações,
também aplicáveis aos municípios integrados nas
grandes cidades que tenham apenas solo urbano e
urbanizável, nos termos das disposições que se
seguem.
Acresce ainda que a LOTU prevê uma modalidade de PDM
intermunicipal:
Artigo 32o (Planos urbanísticos)
1…..
2....
3. As grandes cidades que integram vários municípios adopta,
para o seu planeamento urbanístico geral de todo o seu
perímetro urbano, planos directores gerais que assegurem a
compatibilização intermunicipal com os planos directores de
cada município integrante, bem, como com as directivas, quer
dos Planos Provinciais de ordenamento do Território em que se
integram, quer com as das Principais Opções do Ordenamento
do Território Nacional.
4. ....
Trata-se da figura do Plano Geral Director,
claramente vocacionado para a cidade de
Luanda, cujo realidade urbana do ponto de vista
funcional e físico integra vários municípios em
contiguidade e continuidade.
Mas independentemente da figura legalmente
aplicável o importante será possuir um
instrumento de ordenamento adequado às
circunstâncias especificas da realidade urbana
com que nos deparamos e que se assuma como
Projeto de Cidade que em síntese deverá
proceder:
• À diferenciação entre do território municipal em três classes (ou
regimes) básicas : urbano, urbanizável e rural, o que comporta a
atribuição de diferentes direitos e deveres aos seus proprietários e ao
estabelecimento de diferentes tipos de regulação quanto aos usos e
edificações.

• À definição da estrutura urbana, composta por elementos dos sistemas


de comunicação, de equipamentos e espaços livres públicos.

• À programação das ações, em especial às relativas ao solo urbanizável.

• À adopção de medidas de proteção do meio ambiente, conservação da


natureza, paisagem e dos elementos e conjuntos de interesse histórico e
artístico.
Planos urbanísticos, planos
territoriais e planeamento
estratégico
Os planos urbanísticos, os planos
territoriais e também os planos
estratégicos tem como objectivo
comum o projecto do espaço social ,
mas a partir de abordagens diferentes.
Os planos urbanísticos são os que tem
uma maior trajectória histórica e uma
metodologia mais sedimentada. São
planos que estão directamente
vocacionados para o ordenamento da
cidade, ou mais genericamente do espaço
urbano. São instrumentos que estão desde
o século XIX regulados por legislação
específica.
Na acepção de territorial como qualificativo que
expressa um alcance global dos diversos
aspectos compreendidos no âmbito de um
território, frente ao significado de sectorial
como expressão que se refere só a uma
componente da realidade física, pode-se dizer a
que os planos urbanísticos têm também um
carácter territorial.
No entanto, quando utilizamos o conceito de
plano territorial, estamos a remeter para um
instrumento de escala superior, que tem por
objecto regular uma ampla extensão do
território e enquadrar a elaboração dos planos
urbanísticos.

É neste sentido que a LOTU prevê a elaboração


de planos de carácter pluri-municipal, provincial
e nacional.
Este tipo de planos tem sido profusamente aplicado nos países
mais desenvolvidos sobretudo nas área metropolitanas mais
dinâmicas, cuja realidade urbana envolve múltiplos municípios.
Historicamente são exemplos paradigmáticos, os Planos da
Grande Londres, de Copenhague, Milão, elaborados após a
segunda guerra mundial.

Este tipo de planeamento estrutural que busca no território as


soluções que não se podem resolver no âmbito das cidades,
recebeu nos Estados Unidos, o nome de Regional Planning, e foi
em Nova Iorque um dos primeiros lugares em que se ensaiou.
O denominado planeamento estratégico
consistia inicialmente em planos de que
dotavam as grandes empresas privadas para
orientar a sua política de produção e mercado.
A filosofia destes planos – formulação
participativa e propostas sintéticas começou a
ser utilizada a partir dos anos 80 em algumas
cidades norte-americanas, tendo se estendido
às cidades europeias durante os anos 90.
Por exemplo o Plano de Barcelona 2000,
elaborado em 1990, introduziu uma
metodologia de elaboração destes
instrumentos, em que cabe destacar a
provisão de fórmulas de participação de
diversas entidades representativas da
cidade, num processo que compreende a
definição de objetivos para a cidade, as
linhas de ação, e as medidas concretas
necessárias para as alcançar.
No entanto, há que ter presente que o
planos estratégicos têm uma abordagem
muita mais ampla que os planos
urbanísticos e territoriais na medida em
que incluem numerosos aspectos de
carácter económico e social que não têm
uma concretização directa nas propostas
de utilização física dos espaços.
Os planos estratégicos também não estão regulados
juridicamente e as suas propostas não são vinculantes, mas
têm o valor de expressar os objectivos e propostas de uma
colectividade urbana ou territorial, o que dependerá do peso
político das instituições públicas e privadas participantes na
elaboração do plano.

Por esta razão, o planeamento estratégico pode ter uma boa


relação de complementaridade com o planeamento
urbanístico e territorial, sem prejuízo de estes se devem
elaborar com
apurado sentido estratégico.
Um plano estratégico prévio à elaboração do Plano Director,
fornecerá os objectivos e os critérios expressados pelas
instituições e pela sociedade civil, que deverão ser tidos em
conta na sua elaboração.

Um plano estratégico elaborado simultaneamente ao Plano


Director providenciará os mecanismos necessários de
participação das entidades representativas das cidades, de
maneira a que se possa alcançar o desejável coerência dos
instrumentos.

Um plano estratégico posterior à elaboração do plano director,


assinalará as prioridades que se devem ter em conta durante a
sua execução.
É falso o dilema entre planeamento
estratégico e planeamento urbanístico.

A posição correta seria a que propõe os


planos urbanísticos- imprescindíveis- os
planos estratégicos – muito convenientes,
e também os planos territoriais, muito
urgentes, como necessários para assegurar
um mínimo nível de coerência do território
a longo prazo.

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