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PROJETO DE

PAISAGISMO II

Rafaela Borsato Belo


Projeto dos espaços
livres do urbanismo
na escala da cidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Relacionar forma e funções dos espaços livres públicos.


 Organizar relações entre os ambientes construído e natural.
 Ilustrar o dimensionamento e a composição dos ambientes livres na
escala da cidade.

Introdução
Neste capítulo, você irá estudar os espaços livres no urbanismo e a impor-
tância da compreensão desses espaços para um melhor entendimento
da composição da paisagem das cidades. Além disso, aprenderá sobre
a relação entre as formas e a função nos espaços livres públicos na or-
ganização dos ambientes construídos e naturais. Por fim, perceberá a
conformação dos ambientes livres na escala da cidade.

Forma e funções dos espaços livres públicos


Segundo Macedo (1995), os espaços livres são todos aqueles não contidos entre
paredes e tetos dos edifícios construídos pela sociedade para sua moradia e
trabalho. A partir da definição de espaços livres, é possível, ainda, determinar
sua presença física nas cidades, em suas diversas expressões.
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É importante que haja a compreensão e o reconhecimento dos espaços


livres urbanos, uma vez que essa premissa permite que os profissionais e
pesquisadores da área possam desenvolver análises, diagnósticos, projetos
e gestão corretos para esses espaços. Segundo Queiroga e Benfatti (2007,
documento on-line):

Ruas, largos, praças, páteos, quintais, jardins privados e públicos, parques,


avenidas, entre os mais freqüentes tipos de espaços livres, formam o sistema
de espaços livres de cada cidade, de cada metrópole ou dos novos territórios
urbanos, próprios da recente reestruturação produtiva, exópoles, megalópoles,
metápoles, ou, simplesmente, territórios de urbanização difusa.

Sendo os espaços livres públicos parte de um sistema urbano, suas fun-


ções são variáveis e, muitas vezes, eles são vistos como remanescentes das
áreas edificadas. Além disso, por muitas vezes, são vistos como espaços
verdes, áreas livres, áreas de circulação, áreas de lazer, etc. Segundo Macedo
(1995), esse equívoco se deve ao fato de que o imaginário popular associa,
na existência simples de áreas vegetadas ou ajardinadas dentro do urbano,
a possibilidade de seu uso exclusivo e imediato para o lazer. De acordo com
Queiroga e Benfatti (2007, documento on-line):

Os espaços livres urbanos formam um sistema, apresentando, sobretudo,


relações de conectividade, complementaridade e hierarquia. Entre seus
múltiplos papéis, por vezes sobrepostos, estão a circulação, a drenagem,
atividades do ócio, convívio público, marcos referenciais, memória, conforto
e conservação ambiental, etc. O sistema de espaços livres de cada cidade
apresenta um maior ou menor grau de planejamento e projeto prévio, um
maior ou menor interesse da gestão pública num ou noutro sub-sistema a
ele relacionado.

A forma dos espaços livres urbanos está diretamente relacionada com o


parcelamento do solo de cada cidade, estando, assim, sujeita a alterações,
limitações e até mesmo a espaços insuficientes. A conformação urbana e a
forma dos espaços livres depende da apropriação direta da população local,
uma vez que, quanto mais e melhor o espaço possa ser apropriado, desde que
convenientemente mantido, maior será a sua aceitação social e por mais tempo
será mantida sua identidade morfológica (MACEDO, 1995). Desse modo, os
espaços livres públicos são:
Projeto dos espaços livres do urbanismo na escala da cidade 3

[...] os espaços – não edificados – destinados ao conjunto da sociedade, de


livre acessibilidade, de livre manifestação e apropriação. Para que essas
condições ocorram, pode-se discutir a questão da propriedade e a condição
dos espaços para abrigarem as ações da esfera da vida pública (PRETO,
2009, documento on-line).

Para que a formalidade dos espaços livres públicos seja adequada, alguns
fatores devem sempre ser considerados. Segundo Macedo (2005), na avaliação
de qualquer espaço livre, é preciso considerar: a adequação funcional, que diz
respeito à conformação morfológica e dimensional; a adequação ambiental,
que permite ao usuário condições de salubridade para o desempenho de suas
atividades; e a adequação estética, que relaciona padrões que variam de acordo
com as expectativas sociais.
A respeito da adequação estética, é possível observar que mudanças nesse
caráter, tanto em nível de parcelamento quanto da estrutura tridimensional,
são constatadas com facilidade ao se observar os padrões das praças públicas
(MACEDO, 1995). Sobre as praças públicas, Macedo (1995, documento on-
-line) complementa que:

Estas formas de organização foram substituídas por outras, pelo menos


naqueles espaços que se pode considerar como projetos dentro de cânones
moderno ou contemporâneos. Estas privilegiam formas mais geometriza-
das, suprimem motivos pitorescos, como fontes e esculturas neoclássicas e
incorporam em sua configuração, por exemplo, os equipamentos esportivos
(em praças de bairro principalmente) e a idéia (sic) do plantio quase que
exclusivo de vegetação nativa. Deve lembrar, no caso, que durante toda a
“belle époque” era padrão no jardins de famílias da época, o ajardinamento
de influência européia, com a utilização de plantas importadas como buxo,
plátanos, etc.

A formalidade da Praça da Sé, na cidade de São Paulo (Figura 1), é um


exemplo de espaço livre urbano que seria impossível existir antes da consoli-
dação da importância de um bom projeto para esses espaços. Nesse exemplo, o
autor privilegiou os grandes pisos e planos em detrimento de um ajardinamento.
A vegetação, no caso, aparece como um elemento secundário, compondo
alguns planos verticais e tendo sua característica decorativa colocada em
segundo plano (MACEDO, 1995).
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Figura 1. Vista aérea da Praça da Sé, em São Paulo.


Fonte: Martini (2010, documento on-line).

Outro exemplo é o Largo da Carioca, no Rio de Janeiro (Figura 2), consi-


derado um dos projetos mais requintados de Burle Marx, sendo conformado
apenas por um grande mosaico de pedra portuguesa, com desenhos que apre-
sentam uma qualidade cênica e várias possibilidades de uso.

Figura 2. Largo da Carioca, Rio de Janeiro.


Fonte: 1° Festival... (2018, documento on-line).
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No Brasil, o tratamento dos espaços livres, de modo a harmonizá-los


com o espaço urbano e as edificações, se dá a partir dos anos 1950, quando
antigos padrões de projeto urbano são abandonados. Nesse contexto, a figura
de Roberto Burle Marx ganha destaque como paisagista oficial do País,
o qual desenvolve um outro padrão estético para o paisagismo brasileiro
(MACEDO, 1995).
Os projetos ligados ao paisagismo urbano e aos espaços livres conformam
a paisagem urbana, a qual está em constante processo de transformação e
adequação. A paisagem urbana é resultado dos processos sociais e naturais em
espaços entendidos como o lugar de vida de diferentes seres vivos, portanto
sua relevância varia de acordo com cada contexto social e ambiental.
É possível compreender que a forma dos espaços livres públicos define e
é definida por volumetrias e vazios, verdes e cimentados, ora com qualidade,
ora em falta. Sua função é proporcionar “respiros” na paisagem urbana e
qualificar a dinâmica nesse cenário.

A vegetação nem sempre estrutura os espaços. Em uma cidade, somente alguns


espaços, como grandes parques urbanos, podem ser considerados estruturados por
uma vegetação.

Relações entre os ambientes


construído e natural
O espaço urbano, comumente resumido às cidades, é conformado pela ocupação
de seu território, o que, em urbanismo, é expresso em mapas, chamados de
cheios e vazios (Figura 3). Esses mapas buscam facilitar a análise da ocupação
de cada região da cidade a partir do contraste entre os espaços edificados
(cheios) e os espaços não edificados (vazios).
A leitura morfológica da escala urbana não deve ser restrita ao plano hori-
zontal, e, como é possível perceber no estudo dos espaços livres, os “vazios”
têm importância estruturadora na conformação da paisagem urbana. Segundo
Tardin (2008, p. 43):
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Longe da proposta romântica de proximidade da natureza do séc. XIX, o sis-


tema de espaços livres, neste marco, desempenha um papel central enquanto
espaços que podem ser planificados com antecedência em relação às propostas
de ocupação urbana, ao mesmo tempo em que oferecem recursos em distintas
escalas e instâncias de análise para a ordenação física dos territórios.

Figura 3. Exemplo de mapa de cheios e vazios.


Fonte: Pantarotto (2018, documento on-line).

Para compreender as relações entre o ambiente construído e o ambiente


natural é preciso entender que os espaços livres podem ser definidos mor-
fologicamente por planos verticais e horizontais (paredes ou vedos, pisos e
tetos) (Figura 4) (MACEDO, 1995). De acordo com Macedo (1995, documento
on-line):
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[...] os tetos sempre são os mesmos, transparentes e permeáveis – seriam as


copas dos arvoredos – ou infinitos (o céu) e, nunca, telhados tradicionais.
Os planos verticais são as construções, edifícios e muros, taludes. Morros,
arvoredos e maciços de arbustos, enquanto os planos horizontais palpáveis
são sempre os pisos.

Dessa forma, é conveniente e mais fácil desenvolver projetos que valorizem


a ambiência natural de um determinado lugar, de modo a reforçar a origem
ambiental. Basta que haja interesse e investimento para isso.

Figura 4. Esquema da relação do homem em espaços fechados, abertos e livres formados


por elementos verticais e horizontais.
Fonte: Macedo (1995, documento on-line).
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Para que o ambiente urbano seja estruturado de maneira harmônica com o


meio ambiente natural é preciso estar atento para a presença de infraestruturas
básicas, como a viária, que pode ocasionar conflitos de ordem biofísica que
merecem ser considerados, como a probabilidade de provocar um “efeito
barreira”, ao impossibilitar o cruzamento de indivíduos de um ecossistema,
fragmentando um hábitat (TARDIN, 2008).
As vias também podem causar importantes conflitos visuais com a pai-
sagem, interceptando espaços de grande qualidade visual ou impedindo sua
visibilidade. Nesse sentido, também podem comprometer o movimento das
pessoas e funcionar mais como um obstáculo do que como um elemento de
conexão (TARDIN, 2008). Assim, para evitar esses problemas ou amplificar
aspectos positivos dos espaços livres:

[...] podem-se propor soluções de passagem para a fauna ou túneis, que tende-
riam a favorecer o desenvolvimento das comunidades bióticas; como também,
as intervenções nas vias poderiam envolver iniciativas que privilegiassem a
naturalização dos cursos de água com soluções de drenagem compatíveis; o
aproveitamento da vegetação local no seu desenho; os viadutos respeitosos
com as dinâmicas hídricas; o respeito pelas características do terreno a fim
de mitigar, entre outros problemas, a erosão; a potencialização das melhores
visadas (por exemplo, com a criação de mirantes); o respeito pelos elementos
de maior valor visual com a manutenção de sua diversidade e integridade
física, etc.; e, sobretudo em estradas e vias-expressas, a previsão de áreas de
serviços qualificadas e pistas e passarelas para a circulação de pedestres e
bicicletas (TARDIN, 2008, p. 202).

Portanto, as ações de projeto devem seguir metodologias específicas, de-


senvolvidas por pesquisadores da área que buscam minimizar esses impactos.
A determinação das ações de projeto requer a prévia identificação dos espaços
livres sobre os quais se deseja atuar, a fim de organizar o sistema e realizar a
caracterização de seu potencial estruturador (TARDIN, 2008).
Com isso, segundo Tardin (2008), as ações de projetos podem ser resumidas
em: acrescentar, demarcar, conectar, adequar, articular e enlaçar. Algumas
peças, apesar de apresentarem uma maior tendência em direção a uma ou
outra ação, podem admitir mais de uma modalidade de atuação, embora aqui
seja apontada a principal:

Acrescentar: A ação acrescentar equivale à possibilidade de somar espaços


livres àqueles já sob proteção de instrumentos específicos, contíguos entre
si, de maneira que se ampliaria o limite da área protegida. [...]. Em geral, as
peças que podem “somar-se” aos espaços protegidos correspondem a espaços
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âncora (espaços de oportunidade projetual que possuem uma qualificação


final média-alta e alta).
Demarcar: Demarcar como ação de projeto significa colocar limite onde não
existe um limite estabelecido e, além disso, onde não existem referências de
espaços protegidos ao redor.
Conectar: A ação conectar representa a possibilidade de unir, em termos
biofísicos e perceptivos, espaços já protegidos e acrescentados aos espaços
a demarcar, através de uma superfície contínua.
Adequar: Adequar os espaços livres significa adaptar as suas condições a
favor da integridade e da diversidade de seus atributos biofísicos e perceptivos
diante de possíveis ocupações urbanas. Os espaços a adequar estão represen-
tados por espaços referência e demais espaços livres.
Articular: A ação articular representa a possibilidade de atuar nos espaços
livres que relacionariam tecidos urbanos sem interação entre si, ou que seriam
pontos de articulação dentro dos próprios tecidos, juntando partes destes,
o que pode ser um fato muito importante, sobretudo em contextos urbanos
fragmentados.
Enlaçar: Enlaçar é a ação de projeto a ser adotada sobre os espaços livres
que se encontram em superfícies descontínuas devido à presença de algum
elemento de interrupção, como, por exemplo, as vias, e que poderiam atuar
favoravelmente no enlace de algumas peças do sistema, especialmente aquelas
com alta significação visual e biofísica, que pudessem ser desfrutadas para o
lazer, através da criação de caminhos com um entorno aprazível (TARDIN,
2008, p. 205)

A ordenação correta e harmônica dos espaços livres públicos permite al-


cançar uma boa relação entre as principais peças urbanas, a fim de reestruturar
o território. De acordo com Tardin (2008, p. 220):

Entre as intervenções propostas neste âmbito podem ser destacadas as


possíveis conexões entre os maciços, as lagoas e a praia; a ligação entre
as peças menores, e muito valorizadas, com outras do sistema igualmente
qualificadas; a conquista das continuidades da água; a requalificação de
alguns espaços, quando necessário; e uma maior relação entre espaços
livres e ocupados.

Portanto, as relações estabelecidas entre o ambiente construído e o ambiente


natural podem ser harmônicas e valorizar ambas as existências. Para tanto,
faz-se necessária a conscientização por parte dos profissionais que elaborarão
os projetos e as diretrizes de gestão.
10 Projeto dos espaços livres do urbanismo na escala da cidade

Dimensões e composição: os espaços livres


na escala da cidade
A existência de planos horizontais e verticais e sua utilização como referência
construtiva de espaços livres é muito importante, porém não é claramente
percebida pelo leigo (MACEDO, 1995). Muitas vezes, a população não asso-
cia os espaços livres a algo, de fato, construído, mas sim a algo amplo, sem
dimensões definidas ou preestabelecidas (Figura 5).

Figura 5. Esquema da construção e da presença dos espaços livres na malha urbana.


Fonte: Macedo (1995, documento on-line).
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A percepção das dimensões dos espaços livres na escala das cidades evoluiu
ao longo dos anos. No Brasil, na década de 50, surgiram e se consolidaram as
primeiras linhas do projeto paisagístico contemporâneo (MACEDO, 1995).
As ideias do urbanismo moderno previam como ideal um cenário urbano
de prédios isolados, imersos em um verde contínuo. A criação de Brasília
consubstancia no urbanismo brasileiro esse ideário, que é adotado como
padrão em projetos urbanísticos no País (MACEDO, 1995). No entanto, o
que se percebeu foi que, com o passar dos anos, as fórmulas do urbanismo
e do paisagismo moderno se mostraram relativamente eficazes em cidades
planejadas, como Brasília, porém, quando aplicadas em cidades tradicionais,
foram um fracasso. De acordo com Macedo (1995 documento on-line):

Na cidade convencionai estes padrões, quando aplicados, praticamente obriga-


ram a população a uma intervenção drástica para adequá-las ao seu cotidiano.
Este é um fato perceptível em qualquer cidade do país, que possua um conjunto
habitacional construído por cooperativas ou companhias de habitação estatais
(as conhecidas Cohabs). Nestes lugares, na medida do possível projetados
dentro de cânones modernos, os primitivos espaços livres foram ocupados e
re-hierarquizados, transformando a antiga configuração, de caráter modernista,
em um espaço urbano, cuja configuração é similar ao da cidade tradicional.

Em geral, as cidades brasileiras apresentam modelos muito parecidos de


espaços livres. Os padrões construtivos desses espaços partem de elementos
físicos definidores, como construções, edifícios, muros, escadarias, árvores
isoladas, arbustos, águas, seres vivos, veículos, homens, entre outros (MA-
CEDO, 1995).
A composição dos espaços é constituída por planos, paredes e pisos,
os quais conformam lugares de vivência, contemplação, estar e encontro.
As formas de apropriação, de parcelamento do suporte físico, condicionam
toda a constituição morfológica urbana, principalmente no que diz respeito à
escala do espaço livre público. A morfologia da paisagem varia de acordo com
o extrato social que a implementa, de modo que as paisagens se diferenciam,
ao menos sutilmente, entre si (MACEDO, 1995).
Dessa forma, os espaços livres de edificação brasileiros se estruturam
basicamente em função de uma forma quase única de parcelamento do solo,
que privilegia os lotes alinhados lado a lado, tendendo a formas retangulares e
laterais maiores, perpendiculares às vias públicas, como o esquema apresentado
na Figura 6 (MACEDO, 1995).
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Figura 6. Esquema de implantação de edificações centradas nos lotes, gerado no fim do


século passado, com o palacete implementado no início deste século e consolidado como
espaço ideal para a moradia.
Fonte: Macedo (1995, documento on-line).

A escala dos equipamentos livres públicos fica resignada à conformação


imposta pelo planejamento urbano e pelo zoneamento de cada munícipio,
portanto variará de acordo com cada localidade. Contudo, de modo geral, as
cidades brasileiras contam com praças principais que, a princípio, estavam
vinculadas ao uso de igrejas católicas. Apesar de não terem sido projetadas
com o conceito de espaços livres públicos, essas praças são utilizadas como
tal desde suas origens (Figura 7). Mesmo com o declínio das atividades de
caráter religioso, os espaços livres em frente aos templos permanecem como
local de convívio social e de reunião cívica, mantendo sua importância na
malha urbana, que se adensa e cresce (BELO, 2017).
Projeto dos espaços livres do urbanismo na escala da cidade 13

Figura 7. Praça XV de Novembro, conhecida como Praça da Matriz, localizada


no Centro Histórico de Manaus – AM, que começou a se conformar no ano
de 1695, logo após a construção da Capela Nossa Senhora da Conceição.
Fonte: Nunes (2017, documento on-line).

No fim do século XIX e no início do século XX, a preocupação com a


higiene das cidades brasileiras fez as reformas e os planejamentos urbanos
inserirem nas cidades os chamados jardins públicos (Figura 8). Os recentes
estudos a respeito da influência do ambiente natural para a saúde do homem
foram determinantes na inserção desses projetos.

Figura 8. Jardim da Luz, na cidade de São Paulo – SP, que originalmente


era um Jardim Botânico e depois, no século XIX, passa a ser considerado
um jardim público.
Fonte: Jardim Botânico de São Paulo (2019, documento on-line).
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Entre as décadas de 1950 e 1960, muitas praças passaram por um processo


de “renovação” (Figura 9), por meio de reformas que buscavam torná-las jardins
públicos. O objetivo era “higienizar” os ares das cidades e trazer o frescor de
um paisagismo, muito em voga na Europa.

Figura 9. Praça Rui Barbosa, em Curitiba – PR, na década de 1960, após algumas
reformas.
Fonte: Rodrigues (2018, documento on-line).

Há, ainda, a escala da dimensão vertical dos espaços livres. A priori, seguiu-
-se padrões diferentes dos horizontais, com base em uma forma urbanística
derivada do urbanismo francês (MACEDO, 1995). Atualmente, é possível
encontrar tal exemplo nos chamados bairros-jardins verticais (Figura 10), que
possuem ruas margeadas por prédios isolados em relação aos muros dos lotes,
entremeados por jardins e cercados por grades de ferro (MACEDO, 1995).
Segundo Macedo (1995, documento on-line):

Diversas outras formas morfológicas foram geradas se contrapondo aos


esquemas clássicos do Império e da Primeira República [...]. Destes todos,
os que melhor se adaptaram à realidade urbana foram aqueles enquadrados
dentro dos padrões tradicionais da rua corredor e da rua jardim, que apenas
de questionados e discutidos por décadas, continuam sendo paradigmas
projetuais.
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Figura 10. Exemplo de bairro-jardim vertical.


Fonte: Bradesco Seguros ([201-?], documento on-line).

Os espaços livres na escala da cidade podem, portanto, alcançar escalas


variadas, de acordo com cada projeto e realidade. Como observado, eles têm
papel estruturador na escala das cidades e qualificam extensas regiões nestas.
As cidades devem planejar seus espaços livres públicos, bem como devem
realizar as diretrizes do planejamento urbano, a fim de garantir que a cidade
seja harmônica, sustentável e que forneça qualidade de vida aos seus cidadãos.

1° FESTIVAL SESC de economia criativa no Largo da Carioca. In: AGENDA BAFAFÁ. Rio
de Janeiro: [S. n.], 2018. Disponível em: https://bafafa.com.br/arte-e-cultura/evento/1-
-festival-sesc-de-economia-criativa-no-largo-da-carioca. Acesso em: 24 nov. 2019.
BELO, R. B. R As praças na conformação urbana de Araguari: do início do século XIX
à metade do século XX. Revista Horizonte Científico, v. 11, n. 1, 2017. Disponível em:
http://www.seer.ufu.br/index.php/horizontecientifico/article/view/33304. Acesso
em: 24 nov. 2019.
BRADESCO SEGUROS. Conheça o maior jardim vertical do mundo. In: MOVIMENTO
CONVIVA. [S. l.: s. n., 201-?]. Disponível em: http://movimentoconviva.com.br/conheca-
-o-maior-jardim-vertical-do-mundo/. Acesso em: 24 nov. 2019.
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JARDIM BOTÂNICO DE SÃO PAULO. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2019. Disponível em: ht-
tps://pt.wikipedia.org/wiki/Jardim_Bot%C3%A2nico_de_S%C3%A3o_Paulo. Acesso
em: 24 nov. 2019.
MACEDO, S. S. Espaços livres. Paisagem Ambiente: Ensaio, n. 7, jun. 1995. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/paam/article/view/133811/129684. Acesso em: 24 nov. 2019.
MARTINI, A. O que vejo pelo caminho: a Praça da Sé, em São Paulo. In: MARTINI, A. A
simplicidade das coisas. São Paulo: [S. n.], 2010. Disponível em: https://asimplicidade-
dascoisas.wordpress.com/2010/09/27/o-que-vejo-pelo-caminho-a-praca-da-se-em-
-sao-paulo/. Acesso em: 24 nov. 2019.
NUNES, P. A. Inacabada: Praça da Matriz será entregue à população sem conclusão
da reforma. In: A CRITICA. [S. l.: s. n.], 2017. Disponível em: https://www.acritica.com/
channels/manaus/news/inacabada-reforma-da-praca-da-matriz-sera-entregue-sem-
-conclusao. Acesso em: 24 nov. 2019.
QUEIROGA, E. F.; BENFATTI, D. M. Sistemas de espaços livres e urbanos: construindo um
referencial teórico. Paisagem Ambiente: Ensaio, n. 24, 2007. Disponível em: http://www.
revistas.usp.br/paam/article/view/85699/88459. Acesso em: 24 nov. 2019.
PANTAROTTO, N. Cidade: mobilidade e velocidade. In: URBANISMO MAX. [S. l.: s. n.], 2018.
Disponível em: https://urbanismomax.wordpress.com/2018/06/16/cidade-mobilidade-
-e-velocidade/. Acesso em: 24 nov. 2019.
PRETO, M. H. Sistema de espaços livres públicos: uma contribuição ao planejamento
local. 2009, 273 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: https://www.teses.usp.
br/teses/disponiveis/16/16135/tde-03052010-164003/publico/Maria_Helena_Preto_
FAUUSP_2009.pdf. Acesso em: 24 nov. 2019.
RODRIGUES, G. Praça Rui Barbosa em Curitiba antigamente. In: CURITIBA ANTIGA.
Curitiba: [S. n.], 2018. Disponível em: http://www.curitibaantiga.com/fotos-antigas/393/
Pra%C3%A7a-Rui-Barbosa-em-Curitiba-Antigamente.html. Acesso em: 24 nov. 2019.
TARDIN, R. Espaços livres: sistema e projeto territorial. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008.

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