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Public space and urbanity: the open spaces system in the urban form of Uberlândia,
Minas Gerais
Resumo: Este artigo apresenta parte dos estudos da forma urbana em Uberlândia, no Brasil, com as
características morfológicas do bairro Fundinho. O local de fundação da cidade é agora um lugar valorizado
devido ao espaço configurado ao longo do século passado, onde praças, prédios históricos e modernos criam
uma atmosfera única na cidade. Dado a este cenário, o bairro oferece urbanidade, devido à sua escala,
localização e contexto urbano local e, especialmente pelo número de espaços livres de edificação (ou espaços
abertos) formados pelas praças antigas que deram origem ao núcleo urbano. Esses espaços se
transformaram, antigos largos viraram praças modernistas, o cemitério foi reconfigurado como praça, e a
Praça da Matriz perdeu o seu significado quando o lugar da igreja deu espaço à rodoviária e, depois,
biblioteca. O objetivo desse trabalho é discutir como essa urbanidade é fruto de um tecido urbano generoso
em pequenos espaços livres distribuídos pelo bairro e verificar como o sistema de espaços livres
remanescente da ocupação inicial estabeleceu uma condição qualitativa ao espaço urbano. Este estudo foi
realizado por análise morfológica do espaço urbano em duas escalas. A primeira é a escala da cidade, com
o objetivo de compreender a evolução dos espaços livres na forma urbana de Uberlândia; a outra é a escala
do bairro, a fim de analisar o papel do espaço livre em seu planejamento arquitetônico e urbano, analisando
os principais elementos morfológicos e diferentes modos de apropriação pela população.
Palavras-chave: Urbanidade. Forma urbana. Espaço livre. Espaço público. Paisagem Urbana.
Abstract: This article presents part of the urban form studies in Uberlândia, Brazil, with the morphological
characteristics of the Fundinho neighborhood. The city's founding place is now a valued place due to the space
set up over the last century, where squares, historic and modern buildings create a unique landscape in the
city. Due to this scenario, the neighborhood offers urbanity due to its scale, location and local urban context,
and especially by the number of free spaces (or open spaces) formed by the old squares that gave origin to
the urban nucleus. These spaces were transformed, old wide turned modernist squares, the cemetery was
reconfigured as a square, and the Matriz Square lost its meaning when the place of the church gave space to
the bus station and later, library. The objective of this work is to discuss how this urbanity is the fruit of a
generous urban fabric in small free spaces distributed by the neighborhood and to verify how the system of
free spaces remaining of the initial occupation established a qualitative condition to the urban space. This
study was carried out by morphological analysis of the urban space in two scales. The first is the scale of the
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http://lattes.cnpq.br/8147030081132631
city, with the purpose of understanding the evolution of free spaces in the urban form of Uberlândia; The other
is the scale of the neighborhood, in order to analyze the role of free space in its architectural and urban
planning, analyzing the main morphological elements and different modes of appropriation by the population.
Keywords: Urbanity, Urban Form, Open Space, Public Space, Urban Landscape.
INTRODUÇÃO
cultural das sociedades que imprimem no espaço as suas escritas – arquitetônicas, sociais,
econômicas – conformando as diferentes paisagens da cidade contemporânea.
Segundo Macedo (2011), a forma urbana se constitui enquanto sistema pela
somatória e relação entre os espaços livres e edificados, públicos e privados, legais e
ilegais, acolhedores ou excludentes. É produto social e, ao mesmo tempo, condição para o
processo social. Assim como afirma Huet (2001), os espaços públicos não funcionam de
modo isolado, eles são sempre parte de um complexo sistema contínuo e hierarquizado. É
pela continuidade da rede dos espaços públicos que a cidade vai tomando a sua forma, é
pela permanência no tempo dos espaços públicos que a cidade constitui sua memória.
A cidade de Uberlândia, principal centro urbano da região do Triângulo Mineiro em
Minas Gerais, é uma cidade que apresenta preservado alguns aspectos culturais, espaciais
e arquitetônicos construídos durante o processo de transformação urbana. A civilidade se
faz presente em diversos aspectos, seja nas expressões do cotidiano nas praças centrais
e nos eventos festivos, na gentileza de seu povo que marca culturalmente os mineiros, ou
nas diversas formas de apropriação do espaço público. Isso em parte pelos espaços livres
urbanos remanescentes da primeira fase de ocupação, que exerce um importante papel no
tecido urbano central, bairro este denominado Fundinho, pois originalmente estava voltado
para os fundos da Igreja Matriz.
O Bairro corresponde à área de formação inicial da cidade que se constituiu
em torno da antiga Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo. Sua implantação obedece
aos princípios de ordenamento vernaculares reconhecidos em muitos outros arraiais da
região em que a capela, construída na meia encosta de uma colina, ocupa o centro de um
espaço — o antigo adro, rodeado por casas que delimitam um quadrilátero regular.
Seguindo ainda o traçado vernacular, do Largo da Matriz partiam as demais ruas que o
ligavam aos outros espaços importantes: o Largo da Capela de Nossa Senhora do Rosário,
o Largo do Comércio, o Largo das Cavalhadas e o Cemitério. (ATTUX, 2008, p. 103)
O crescente esvaziamento das áreas centrais é um tema recorrente nas discussões
urbanísticas no Brasil e no Mundo. Esse problema também é uma grande preocupação dos
gestores e de alguns moradores do bairro Fundinho, principalmente pela transformação de
antigas residências em comércio, o crescente problema de mobilidade e a demolição de
casas que descrevem o passado arquitetônico da cidade para a construção de novos
empreendimentos de valor arquitetônico questionável.
diferentes tempos, com diferentes categorias de espaço e com diferentes relações com o
contexto natural. A figura [2] apresenta a evolução da cidade, onde se percebe como o
sistema se configurou ao longo desse desenvolvimento.
Essa rápida transformação, comum a muitas cidades médias brasileiras, não definiu
somente o desenho e função dos espaços livres no tecido urbano, mas o seu papel de
organização da vida cotidiana nos diferentes bairros da cidade. Embora existam bons
exemplos espaciais, como os jardins frontais do bairro Jardim Karaíba que se potencializam
espaços de recreação e lazer, o Parque do Sabiá que também apresenta uma função
ecológica, e algumas praças em bairros consolidados, o espaço livre público tem se tornado
cada vez mais uma fração, uma taxa, uma porcentagem deixada nos novos assentamentos
urbanos, geralmente implantados de forma a maximizar a ocupação de lotes unifamiliares.
Esses novos arranjos espaciais não privilegiam a urbanidade. Isso ocorre
principalmente na periferia da cidade, introduzindo modelos de loteamentos com grandes
quadras retangulares, grandes espaços vazios, baseada em ocupações residenciais
unifamiliares rarefeitas e com pouca ou nenhuma qualificação dos espaços públicos.
Somam-se a estes fatores as novas periferias cegas, provocadas pelo envolvimento total
dos lotes por muros e a presença cada vez mais marcante dos condomínios horizontais. A
pouca diversidade de usos do solo urbano em algumas regiões periféricas, principalmente
a de média e alta renda, promove a perda quantitativa dos traços da vida cotidiana, como
pedestres indo ao mercado, crianças indo à escola, entre outras práticas comuns em áreas
urbanas mais dinâmicas.
FIGURA 3 – Fundinho: primeira metade do Século XX. Vista aérea (costura Fundinho com Centro
novo); Capela N. S. do Rosário (atual Pç. Rui Barbosa); Praça Clarimundo Carneiro e Pç. Coronel
Carneiro.
Fonte: Arquivo Público, 2012.
Isso fez com que o Fundinho crescesse como um bairro “autônomo”, deslocado
desse crescimento da cidade na parte alta, porém, próximo ao novo centro, valorizado pela
estratégica localização. O bairro tem como herança residências com diferentes padrões,
com uma escala gregária característica de pequenos núcleos urbanos e uma legislação
que permitiu usos diversificados que geraram uma grande atratividade ao bairro.
Esse aspecto da sua transformação gerou diferentes atributos de sua urbanidade. O
primeiro aspecto que a potencializa no bairro é a Multifocalidade existente no local. A
predominância residencial foi gradativamente sendo transformada por espaços comerciais
ou de serviços (restaurantes, bares, lojas e galerias) e por espaços ligados a cultura e
educação (museus, biblioteca, centros culturais, escolas e faculdades). Assim se
configurou a vocação artística e cultural da área. A função residencial ainda se mantém
como predominante, conciliando casas antigas de moradores locais com edifícios de
média/alta renda.
A arquitetura da cidade reduziu-se a seu aspecto funcional, colocando em
crise a antiga aliança entre forma e desenvolvimento das práticas sociais que estabelecia
a localização de atividades. Configurando, juntamente com seus demais elementos
construtivos, a imagem das cidades, impregnada de caráter e singularidade, compondo a
história das sociedades urbanas. (KOHLSDORF, 1996, p. 24)
Essa diversidade de uso potencializa diferentes ações no cotidiano do bairro, desde
crianças que brincam na praça após a escola, jovens sentados nas mesas de bares, ou
idosos que caminham pelas ruas estreitas em direção ao centro da cidade, região
predominantemente de serviços, estudantes e pessoas ligadas à cena cultural. A múltipla
centralidade propicia urbanidade quando as tramas espaciais apresentam maior axialidade
e conectividade, contribuindo para a formação de um sistema de espaços com
permeabilidade e de uma rede de estruturas de movimentos no espaço urbano,
aumentando a sua capilaridade. Figura [4].
As praças, assim como as ruas, são os principais lugares desses Fluxos e
Permanências, outro caráter da urbanidade do bairro. Como o bairro liga algumas regiões
ao centro, ela acaba sendo local de intenso fluxo na sua rua principal – Rua XV de
Novembro - que se, por um lado, prejudica a sua qualidade ambiental, trazendo barulho e
FIGURA 4: Principais eixos de fluxos do Fundinho. Vermelho, mais intenso, azul escuro, menos
intenso. Os principais eixos de fluxos são as ruas que historicamente ligavam as praças da
cidade.
Elaboração: Autores, por meio do programa computacional XSPACE.
FIGURA 5: Carnaval na Praça Clarimundo Carneiro; Praça Rui Barbosa (popular Praça. da
Bicota); Praça. Cícero Macedo e Praça Dr. Duarte.
Fotos: O. Leão, P. Luciano, M. Correa, 2012.
rugosidades espaciais, combinando casas térreas com edifícios de pequeno e grande porte.
Figura [6]. Embora a legislação tenha proibido essa crescente verticalização, a paisagem
resultante desse processo definiu a sua qualidade espacial. As interfaces remetem à ideia
de troca, de contato, de interação, e principalmente de limites e potencialidades entre os
elementos que constituem a paisagem, as tramas urbanas e sociais de uma cidade.
FIGURA 6: Perfis dos espaços públicos. Praça Cícero Macedo e Rua Tiradentes.
Elaboração: Autores.
FIGURA 8 – Relação entre cheios e vazios no entorno da Praça Cícero Macedo, núcleo original
da cidade.
Fonte: PMU. Adaptação: Autores.
Na Figura [8] percebe-se em detalhe a relação entre cheios e vazios em uma área do
Fundinho. As pequenas praças caracterizadas pelas áreas brancas maiores se relacionam
diretamente com o entorno de casas e edifícios altos construídos em quadras de pequena
extensão, facilitando o deslocamento dos pedestres e conectando visualmente os espaços
através de sua estrutura urbana. Essa condição não ocorre em outros setores da cidade,
onde a padronização das quadras em dimensões máximas possíveis e a distribuição de
praças de forma não sistêmica, privilegiaram um tecnicismo que negligenciou a força que
os espaços livres têm na organização de um espaço urbano com maior qualidade.
Importante, ainda, afirmar que a especulação imobiliária, esvaziamento populacional e
problemas de infraestrutura ameaçam essa atmosfera urbana.
Considerações finais
A análise urbana do Bairro Fundinho comprova a forte relação entre forma urbana,
diversidade de usos, densidade de ocupação e urbanidade. A escala do Bairro, com
quadras em menor dimensão estimula o deslocamento de pedestres e, assim, contribui
para o aumento da interação entre espaços abertos e espaços fechados, isto é, pessoas
entrando e saindo das edificações voltadas para a rua.
Obviamente, a localização central do bairro promove a diversidade de meios de transporte,
como ônibus, automóveis, motociclistas, ciclistas e pedestres compartilhando as vias
estreitas. Mas, também, mostra ser possível a reprodução deste conceito em outras regiões
da cidade, onde ainda a monotonia e a pouca diversidade de usos do espaço urbano ainda
inibem a promoção da vitalidade. Projetos de qualificação para as regiões periféricas, que
envolvam a implantação de equipamentos comunitários, a diversidade de perfis sociais e o
compartilhamento dos meios de transporte se mostram fundamentais para a mudança
deste cenário. A urbanidade não se promove apenas com a qualificação do espaço público,
mas sim com a indução da sociedade à apropriação deste espaço.
REFERÊNCIAS
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ATTUX, Denise Elias. Et Al. Fundinho: um bairro histórico para Uberlândia. Inventário
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TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.