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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS

UNIDADE CURVELO
Departamento de Engenharia Civil e Meio Ambiente
Curso de Graduação em Engenharia Civil

GLEISON BRUNO DA COSTA


LARISSA MENDES FERNANDES BARRETO
VICTÓRIA STORINO DAS CHAGAS

DIREITO À CIDADE: PARQUES, PRAÇAS E ESPAÇOS DE LAZER

CURVELO – MG
2022
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GLEISON BRUNO DA COSTA


LARISSA MENDES FERNANDES BARRETO
VICTÓRIA STORINO DAS CHAGAS

DIREITO À CIDADE: PARQUES, PRAÇAS E ESPAÇOS DE LAZER

Seminário apresentado ao Curso de Engenharia


Civil do Centro Federal de Educação Tecnológica
de Minas Gerais, Unidade Curvelo, como requisito
parcial para aprovação na disciplina de Introdução
ao Direito.

CURVELO – MG
2022
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SUMÁRIO

1 DIREITO À CIDADE ....................................................................................................... 4


2 ESPAÇOS PÚBLICOS URBANOS - PRAÇAS E PARQUES ..................................... 5
3 CIDADANIA ...................................................................................................................... 6
4 PLANEJAMENTO URBANO ......................................................................................... 7
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 9
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 10
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1 DIREITO À CIDADE

Todos nós contribuímos diariamente para o desenvolvimento da cidade, indo de


ônibus para o trabalho, construindo nossas casas, elegendo prefeitos e vereadores, participando
de mobilizações pelo nosso bairro. Se produzimos uma cidade coletivamente, também temos o
direito de viver, usar, produzir, produzir, administrar e desfrutar igualmente das cidades. Direito
coletivo e humano, o direito à cidade expressa o respeito tanto para os que nela vivem quanto
para as gerações futuras. É um compromisso ético e político de lutar por um direito humano
fundamental necessário para uma vida plena e digna, contra a exploração das pessoas, do meio
ambiente e dos territórios.
A expressão “direito à cidade” foi originalmente cunhada pelo filósofo e
sociólogo francês Henri Lefebvre em 1968, ano que ficou marcado pelo potente movimento
iniciado pelas juventudes engajadas na luta por direitos civis, liberação sexual, oposição ao
conservadorismo, crítica à guerra no Vietnã, entre outras. Lefebvre estava sensível às vozes e
aos movimentos que irrompiam nas ruas, percebendo que as cidades haviam se convertido no
lócus de reprodução das relações capitalistas, mas também onde a resistência poderia constituir
formas de superação criativa desse modelo.
Concebido como homenagem ao centenário da obra de Karl Marx “O capital” o
livro-manifesto “O direito à cidade” pode ser considerada um tradutor desse período de
efervescência, já que faz críticas à mesma estrutura opressora amplamente questionada pelos
protestos: a vida urbana regulada pelo cotidiano, despolitizada e monótona, sentida mais
intensamente pela classe operária, que tem o seu tempo consumido pelo trajeto casa-trabalho,
sem possibilidade de lazer, encontros e manifestações de desejos. Nas palavras de Lefebvre,
“[o direito à cidade] significa o direito dos cidadãos-citadinos e dos grupos que eles constituem
(sobre a base das relações sociais) de figurar sobre todas as redes e circuitos de comunicação,
de informação, de trocas”. É um apelo e uma exigência que “só pode ser formulado como direito
à vida urbana, transformada, renovada”.
No Brasil, as ideias de Lefebvre foram logo difundidas graças à rápida tradução para a
língua portuguesa ainda na década de 1970 e ocorreu uma ressignificação da noção de direito à
cidade a partir das demandas concretas por habitação, equipamentos urbanos, infraestrutura e
transporte, posto que uma grande parte da população urbana do país vivia em condições urbanas
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muito precárias. Além disso, a década de 1980 foi marcada por um contexto de reivindicação
pela ampliação da cidadania e da participação política nas cidades, fruto do processo de
redemocratização. Dessa maneira, o ideário do direito à cidade sofreu uma simbiose com o
ideário da reforma urbana que focava suas reivindicações no tripé: a) acesso à terra e à moradia;
b) função social da propriedade e combate à especulação imobiliária; etc) gestão democrática
das cidades.

2 ESPAÇOS PÚBLICOS URBANOS - PRAÇAS E PARQUES

Os espaços públicos tradicionais nas cidades modernas incluem praças e parques. A


praça pode ser descrita como um espaço destinado ao convívio humano, aos encontros fortuitos
e ao exercício da vida pública (de moradores ou não), em um cenário urbano livre de estruturas
convencionais.
Em seus estudos sobre as práticas contemporâneas no Brasil, Robba e Macedo
identificam duas premissas fundamentais para conceituar tais espaços: o uso e a acessibilidade,
conceituando-os como "espaços livres urbanos destinados ao lazer e ao convívio da população,
acessíveis aos cidadãos e livre de veículos". (ROBBA; MACEDO, 2002). Esse tipo de projeto
mantém o caráter social que integra as funções da praça, excluindo algumas realizações públicas
que são adequadamente posicionadas como tal e concluindo que nada mais existe do que
canteiros centrais, estruturas rotativas e resquícios de gramática veicular sistemas que não
proporcionem condições mínimas adequadas ao exercício do lazer ou acessibilidade da
população.
O potencial de centralidade dessas áreas em planos simbólicos e lógicos aumenta com
o aumento da concentração prática, diversidade de usos e significados e interesse pelas histórias
individuais e coletivas. Assim, no caso das ruas do bairro, ao apresentarem tamanha diversidade
de significados e aplicações, elas se consolidam como um componente definidor e afirmador
da identidade local e assumem um papel central.
O parque urbano, por outro lado, é um subproduto da era industrial da cidade e foi criado
para desafogar a nova demanda social, que é o lazer e o entretenimento. Uma cidade com mais
áreas de lazer teria um estilo urbano mais agradável. Mas o que seria um parque público urbano?
É possível pensá-lo como todo espaço público destinado à criação em massa que possa incluir
diretrizes de conservação.
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O parque se destaca como um lugar especial para estar e criar uma cidade, um lugar para
descobrir conexões emocionais entre o corpo, o espaço público e a urbanidade a partir de
fantasias que o vinculam à urbanização, ao relaxamento, à natureza e à diversão.
No que tange às variáveis ambientais dos índices de qualidade de vida, a arborização de
parques e praças incorpora importantes fatores de estabilização ecológica e ambiental. Reduz
os efeitos da poluição e de rigores microclimáticos causadores de desconforto (grande
amplitude térmica durante o dia com altas temperaturas) e ajuda a regular a umidade relativa
do ar (todos esses fatores trazem prejuízos à saúde). Pesquisas sobre ilhas de calor revelam que
a temperatura pode oscilar entre 7 e 10 graus comparativamente a áreas com grande quantidade
de vegetação arbórea (CALOR, 2009, p.31). O potencial do parque urbano estaria
principalmente nos serviços ambientais que presta ao seu entorno imediato (manutenção da
biodiversidade, drenagem de águas pluviais, regulação microclimática, equilíbrio ecológico,
qualidade do ar) (MACHADO, 2009, p.91). Fato é que a qualidade ambiental urbana angaria
cada vez maior destaque nas discussões acadêmicas, políticas e sociais, sobretudo se
relacionadas aos conceitos de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade urbana.
Não obstante, é relevante ponderar que além da quantidade desses espaços em uma
cidade - fato analisado neste artigo quando se fala da distribuição dos espaços públicos de lazer
em Belo Horizonte - importa também a qualidade, a frequência de usuários nesses espaços, a
permanência das pessoas no local e as trocas, principalmente entre grupos heterogêneos.

2.1 CIDADANIA

Na tradição do pensamento político continental, há uma relação controversa entre


cidadania e pertencimento a uma cidade; no entanto, nota - se que o grau em que cada pessoa
ou grupo é responsável pelo desenvolvimento da cidade varia. Os direitos e obrigações de
cidadania e participação estão mais profundamente enraizados em alguns grupos do que em
outros? Ou o planejamento e a construção da cidade favoreceriam alguns segmentos da
população? Na realidade, descobriu - se que essas variáveis estão interligadas.
Ser cidadão implica ter direitos e obrigações, ser honesto e ser soberano. Essa situação
é descrita na Declaração dos Direitos das Nações Unidas de 1948, que tem seus princípios
fundadores nas Declarações dos Direitos dos Estados Unidos da América e na Revolução
Francesa de 1798. (COVRE, 1995, p.9). No entanto, é importante considerar que se o
nascimento não for acompanhado de igualdade de dignidade e direitos, então a cidadania não
incluiria o direito à posse de direitos (ARENDT, 1989). O exercício da cidadania seria
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“construído com base na convivência cooperativa, que exige o acesso a um espaço comum, e é
esse acesso ao espaço comum que permite a construção de um mundo comum por meio do
exercício dos direitos humanos” (LAFER, 1988)
As evidências de hoje apontam para uma mudança crescente no exercício da cidadania:
para além dos meios tradicionais (voto, partidos políticos, sindicatos, cooperativas, igrejas e
associações), existem outros modos de engajamento mais flexíveis e multifacetados (não formal
organizações, protestos, debates online, e petições) que também pressionam por maior
engajamento cognitivo, ou seja, maior convicção política individual.
A supercidadania e a subcidadania seriam variáveis dependendo do meio social em que
a pessoa se encontra. Assim, segundo este autor (DAMATTA, 1997, p.30 e ss), existem três
perspectivas distintas no âmbito espacial: a casa privada, mais conservadora; o público, aberto
ao legalismo jurídico e comercial; e o outro mundo. As atitudes, gestos, tópicos e normas sociais
que são específicos de cada espaço seriam então associados a esse espaço, e cada evento seria
sempre interpretado pelas lentes do código social correspondente. Em outras palavras, o
relacionamento desempenharia um papel crucial papel na concepção e na dinâmica da ordem
social.
A casa ou rua oposta seria animada e próxima. Segundo o autor, os segmentos
"dominadas" destinam - se a serem lidos a partir do código da rua, enquanto os segmentos
dominantes destinam - se a utilizar o código da casa como fonte de interpretação. Além disso,
segundo DaMatta, o espaço público seria perigoso e geralmente visto como negativo porque
estaria fundado na dissecação e na linguagem da lei, que da mesma forma o subordinaria e
exploraria ao mesmo tempo em que criaria deveres e obrigações. Dessa forma, segundo
DaMatta, ainda que a ideia de ética pública e o exercício da cidadania estejam consagrados em
lei (a rua), a rede de relações interpessoais para a mediação convencional ainda se mostra
bastante forte.

2.2 PLANEJAMENTO URBANO

Levando em conta a relação entre a vida na cidade, os espaços públicos urbanos e o


direito à cidade, ainda é necessário refletir sobre as responsabilidades do poder público, uma
vez que o Estado ocupa uma posição de decisão no que diz respeito à provisão de recursos para
a implementação de políticas públicas, projetos e obras de uma cidade. O objetivo da política
pública contemporânea deve ser diminuir a injustiça social. As ideias de Corbus antes
ignoravam as diferenças sociais, mas os conflitos de hoje são abertamente reconhecidos e levam
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a novas formas de viver na cidade. É óbvio que dentro de uma mesma cidade existem diferenças
perceptíveis que refletem a desigualdade socio étnica. Devem ser feitas tentativas para diminuir
a injustiça social. No passado, as ideias associadas ao Corbus ignoravam as diferenças sociais,
mas os conflitos de hoje são mais evidentes e levam a alternativas viáveis de estilo de vida
urbano.
Em uma sociedade socialmente desigual, formada por cidades espacialmente desiguais,
a distribuição dos espaços abertos e verdes (parques e praças) é extremamente desigual, e a
qualidade ambiental de cada um deles está diretamente relacionada à renda familiar. Discutir
política e planejamento público nessas situações requer um conhecimento íntimo do território
local, caracterizado pela situação urbana única, pelo envolvimento de diversos agentes na
implementação e gestão dos sistemas, sua configuração e oportunidades de uso e apropriação
que apresenta (PRETO, 2009). Além disso, o governo deve se preparar para ouvir e fazer uma
leitura subliminar de algumas demandas que vão além das metas protegidas, pois muitas delas,
como as de criação de parques e espaços públicos, decorrem de preocupações com o futuro.
Portanto, para fazer um bom diagnóstico e embasar a proposição de políticas públicas,
a análise urbana deve ser sensível a diversos motivos, objetos, contextos geográficos,
significados simbólicos e temporalidades práticas excludentes e segregadoras existentes nos
espaços públicos (ALVARES, VAINER, QUEIROGA, 2008). Os diferentes também devem
ter direito à cidade. Além de ser um direito legal, a reivindicação de todos os espaços da cidade
constitui uma afirmação da condição de cidade.
Fato: Devido à propriedade privada do terreno e aos altos custos de despejo, a margem
de manobra do público depois que a urbanização já está instalada é reduzida. Por outro lado, os
terrenos baldios urbanos podem desempenhar um papel fundamental nas políticas públicas
destinadas a melhorar ambiente urbano. Além de entregar uma melhor experiência estética para
a cidade, isso também valoriza o bem comum. De qualquer forma, o direito à cidade não pode
ser restrito a uma área específica, a um grupo específico, ou ser exercido apenas nas áreas
centrais. A par da acessibilidade, esta “centralidade” deveria ser alargada a todas as zonas da
cidade.
A história, definições e conexões das cidades e seus arredores se sobrepõem ao
urbanismo moderno. Há segregação espacial na cidade baseada na renda individual, e a
reprodução do capital indica os modos de uso do espaço e, em última análise, a configuração
do espaço urbano. As pessoas com maior renda tendem a residir em bairros amplos, bem
iluminados e com infraestrutura completa, onde o custo do terreno é maior e gastam menos
tempo viajando. Pessoas com renda mais baixa tendem a viver na periferia, que normalmente é
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vista como uma área densamente povoada, sem infraestrutura e com preços de moradia mais
acessíveis, onde as autoconstruções se tornaram mais comuns. Como resultado, eles gastam
muito mais tempo viajando. As favelas ficam para aqueles para quem mesmo nem isso é
possível.
A distribuição dos espaços públicos, como parques e praças, é evidentemente desigual
na cidade. Como resultado, por um lado, pode-se dizer que os moradores de áreas periféricas
têm seu acesso à cidade mais restrito, pois há menos espaços públicos abertos próximos a suas
residências, o que implica em menores oportunidades de lazer acessíveis e irrestritos .Têm
menor renda familiar, menos vegetação ao seu redor e nas estradas e avenidas, o que diminui a
qualidade de vida porque essas áreas acabam se transformando em focos de calor. Além disso,
constatou - se por meio de pesquisas sobre transporte que as pessoas gastam muito tempo se
deslocando, o que reduz a probabilidade de utilização dos espaços disponíveis. Esse fato
também pode estimular maior adesão à vida cívica, participação e dever cívico.
Com relação ao uso de parques e praças como locais de encontro, lazer e entretenimento,
observou-se que, apesar de sua distribuição desigual por Belo Horizonte, tanto no centro da
cidade quanto na periferia recebem um grande fluxo de visitantes, especialmente na parques da
última área. Entretanto, a proximidade da residência parece ser um fator muito importante nas
entrevistas realizadas, o que faz com que os frequentadores do local pertençam a grupos
bastante homogêneos.

3 CONCLUSÃO

O acesso e a pertença à cidade e, consequentemente, o exercício da cidadania em todas


as suas formas, convencional ou não, por parte de grupos marginalizados e/ou suburbanos, pode
encontrar uma série de obstáculos à sua efetivação. Segundo pesquisa de campo realizada nos
parques e praças de Belo Horizonte, há menos espaços públicos que estimulem a interação e a
troca de bens e serviços nas áreas mais afastadas do centro da cidade. Estes espaços são também
menos apetecíveis em termos de qualidade e têm menos tipos diferentes de usuários. As pessoas
também têm menos tempo para passar nesses espaços porque se deslocar entre casas e empregos
ocupa uma parte significativa de seu tempo.
Além disso, essas pessoas tendem a ter menos capital econômico, cultural, social e
político, o que dificulta a luta por seus direitos e a inclusão na cidade; ou seja, esses fatores
tornam mais difícil para os cidadãos no exercício dos seus deveres cívicos. O Estado, porém,
nem sempre cumpre efetivamente seu papel de promotor da justiça social, estimulando o
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exercício da cidadania e a fruição da cidade por todos os cidadãos, pois, como se observou, o
Estado é em grande parte composto por grupos que já goza de certos privilégios e, na execução
de seus planos e ações, privilegia alguns fatores ou áreas em detrimento de outros, levando em
consideração a composição de interesses concorrentes, incluindo opções relacionadas à técnica,
à política e ao direito.

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos - um diálogo com o pensamento de


Hannah Arendt. São Paulo, Cia. Das Letras, 1988.

LEFEBVRE, Henri. The production of space. Oxford/Cambridge, Blackwell, 1991, pp


165 e 320. La significacion de la comuna, 1962.

ROBBA, F.; MACEDO, S.S. Praças brasileiras. São Paulo: Edusp/ Imprensa Oficial do
Estado, Coleção Quapá, 2002.

SILVA, Kelly. A distribuição dos espaços públicos em Belo Horizonte: uma análise sob a
ótica do direito à cidade e do planejamento urbano. Revista de Direito da Cidade, v. 9, n. 4, p.
1586-1605, 2017.

SENNET, Richard. Les Tyrannies de l’intimité. Paris:Seuil, 1974 apud SERPA, Angelo. O
espaço público na cidade contemporânea. 2ed.São Paulo: Contexto, 2014. SOUZA, Jessé.
A Tolice da Inteligência Brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite. São Paulo:
Leya, 2015.

VIEIRA, Monica Brito. O Espaço urbano e a arquitetura da cidadania. In.: CABRAL, Manuel
Villaverde; SILVA, Filipe Careira; SARAIVA, Tiago. Cidade e Cidadania. Governança
urbana e participação cidadã em perspectiva comparada. Lisboa: ICS, 2008.
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